Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
71Rev Bras Med Esporte – Vol. 25, No 1 – Jan/Fev, 2019 RESUMO Introdução: A prática de exercícios físicos tem sido associada à manutenção das habilidades físicas e redução do declínio cognitivo durante o envelhecimento, sendo considerada uma estratégia de prevenção primária de baixo custo, assim como tratamento não-farmacológico da disfunção cognitiva em idosos. Entretanto, a contribuição das diferentes modalidades de exercícios físicos sobre a saúde cognitiva da população idosa carece de investigação. Objetivo: O presente estudo investigou as possíveis influências da hidroginástica e musculação no desempenho cognitivo dos adultos idosos saudáveis em testes automatizados e qual(is) teste(s) seria o indicador mais sensível das diferenças de desempenho cognitivo. Métodos: Três grupos de idosos saudáveis, residentes na comunidade, praticantes de hidroginástica, musculação ou sedentários foram avaliados através de uma bateria automatizada de testes neuropsicológicos (CANTAB) e testes para avaliação da capacidade funcional ao exercício. Os resultados foram comparados através da análise de variância de 1 critério (ANOVA) e da correlação linear de Pearson. Resultados: O grupo de hidroginástica apresentou melhor capacidade funcional ao exercício e melhor desempenho na avaliação do tempo de reação (latências de resposta e de movimento). Os praticantes de musculação apresentaram menor latência de movimento do que os sedentários. A mobilidade funcional foi positivamente correlacionada às latências de resposta e de movimento. Conclusão: Considerados em conjunto, nossos resultados indicam que o exercício físico contribui para a preservação da função cognitiva em idosos saudáveis e que a hidroginástica apresenta melhores resultados do que a musculação em relação ao tempo de reação. Além disso, as mudanças relacionadas à função tempo de reação foram detectadas antes das mudanças nas funções de memória de trabalho, atenção sustentada e aprendizado nos participantes sedentários, sugerindo que essa variável pode ser um indicador sensível e precoce de sutis mudanças cognitivas associadas ao envelhecimento. Nível de Evidência II; Estudo retrospectivo. Descritores: Aptidão física; Testes neuropsicológicos; Tempo de reação; Prevenção primária; Disfunção cog- nitiva; Atividade física. ABSTRACT Introduction: Physical exercise has been associated with maintenance of physical abilities and the reduction of age-related cognitive decline, and is considered both a low-cost primary prevention strategy and a non-pharma- cological treatment of cognitive dysfunction in older people. However, the contribution of each type of physical exercise to the cognitive health of the elderly population has not yet been fully investigated. Objective: This study investigated the possible influences of water-based and resistance training exercises on the cognitive performance of healthy older adults in automated tests, and investigated which test(s) would be the most effective indicator of differences in aging cognitive performance. Methods: Three groups of community-dwelling healthy older adults: water-based exercise group, resistance training group and sedentary group, were assessed using an automated set of neuropsychological tests (CANTAB) and tests to assess functional exercise capacity. Results were compared by one-way analysis of variance (ANOVA) and Pearson linear correlation. Results: The water-based exercise group had the best functional exercise capacity scores and the best performance in the reaction time evaluation (response and movement latencies). The resistance training group had less movement latency than the sedentary group. Functional mobility was positively correlated with response and movement latency. Conclusions: Taken together our findings show that physical exercise contributes to the preservation of cognitive function in healthy older adults and that water-based exercise has better results than resistance training in terms of reaction time. Moreover, the changes related to reaction time function were detected before the changes in working memory functions, sustained attention and learning in the sedentary participants, suggesting that this variable could be an early sensitive indicator of subtle cognitive changes associated with aging. Level of Evidence II; Retrospective study. Keywords: Physical fitness; Neuropsychological tests; Reaction time; Primary prevention; Cognitive dysfunction; Physical activity. RESUMEN Introducción: La práctica de ejercicios físicos ha sido asociada al mantenimiento de las habilidades físicas y reducción de la disminución cognitiva durante el envejecimiento, siendo considerada una estrategia de prevención primaria de bajo costo, así como tratamiento no farmacológico de la disfunción cognitiva en personas de la tercera edad. Entretanto, la contribución de las diferentes modalidades de ejercicios físicos sobre la salud cognitiva de la población de la tercera edad carece de investigación. Objetivo: El presente estudio investigó las posibles influencias de la hidrogimnasia y musculación en el desempeño cognitivo de los adultos de la tercera edad saludables en tests automatizados y qué test(s) sería el indicador HIDROGINÁSTICA E TREINAMENTO RESISTIDO MELHORAM A COGNIÇÃO DE IDOSOS WATER-BASED EXERCISE AND RESISTANCE TRAINING IMPROVE COGNITION IN OLDER ADULTS HIDROGIMNASIA Y ENTRENAMIENTO RESISTIDO MEJORAN LA COGNICIÓN DE PERSONAS DE LA TERCERA EDAD Natáli Valim Oliver Bento-Torres1,2 (Fisioterapeuta) João Bento-Torres2,3 (Profissional de Educação Física) Alessandra Mendonça Tomás2 (Profissional de Educação Física) Luís Gustavo Torres de Souza2 (Profissional de Educação Física) Jéssica Oliveira de Freitas3 (Profissional de Educação Física) Jefferson Anderson dos Santos Pantoja3 (Profissional de Educação Física) Cristovam Wanderley Picanço-Diniz2,3 (Médico) 1. Universidade Federal do Pará, Faculdade de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Belém, PA, Brasil. 2. Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Biológicas, Laboratório de Neurodegeneração e Infecção, Belém, PA, Brasil. 3. Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Biológicas, Belém, PA, Brasil. Correspondência: Natáli Valim Oliver Bento- Torres. Hospital Universitário João de Barros Barreto, Laboratório de Investigações em Neurodegeneração e Infecção. Rua dos Mundurucus, 4487, Belém, PA, Brasil. 66073-005. natalivalim@yahoo.com.br Artigo originAl Original article artículO Original 72 Rev Bras Med Esporte – Vol. 25, No 1 – Jan/Fev, 2019 INTRODUÇÃO O estilo de vida ativo e adequada aptidão física são condições necessárias para a manutenção da independência e autonomia fun- cional de adultos idosos. De fato, o exercício físico tem sido associado a manutenção das habilidades físicas e redução do declínio cognitivo associado a idade como estratégia de prevenção primária de baixo custo.1,2 Em discussões sobre o processo de envelhecimento, outro fator chave é uso de testes sensíveis e acurados para a detecção precoce das sutis mudanças cognitivas no envelhecimento saudável e também para investigar possíveis relações entre aptidão física e cognição.3,4 Embora existam evidências que dão suporte aos benefícios dos exercí- cios resistidos e aeróbicos para a prevenção e tratamento não-farmacoló- gicoda disfunção cognitiva no envelhecimento,4 o tipo de exercício físico mais efetivo para a prevenção do declínio cognitivo associado a idade não é completamente conhecido.2 Por outro lado, as evidências publicadas a respeito dos benefícios advindos de atividades aeróbicas e da interação social associada torna esta a modalidade de escolha por muitos adultos idosos no Brasil, especialmente nas regiões de clima tropical. As funções cognitivas progressivamente declinam durante o enve- lhecimento normal. A avaliaçãodas adaptações funcionais através da avaliação da função cognitiva em adultos idosos saudáveis com diferentes estilos de vida precisa ser realizada para estabelecer testes objetivos, confiáveis e específicos como marcadores de mudanças sutis associadas ao envelhecimento no desempenho cognitivo. A este respeito, o uso de testes automatizados e estímulos não-verbais são boas escolhas para reduzir o viés de interferência do experimentador na coleta de dados.5 Neste contexto, análise do Tempo de Reação tem sido reconhecida como medida de mudanças na função cognitiva no envelhecimento sau- dável e patológico.6-8 Os mecanismos subjacentes a esses achados têm sido associados à velocidade de condução nervosa, integridade da substância branca e ao gradiente do processo neurodegenerativo no envelhecimento e o exercício físico pode modular positivamente essas alterações.6,9-11 No presente estudo, investigamos as possíveis influências de duas modalidades de exercício físico (musculação e hidroginática) na função cognitiva de idosos saudáveis, utilizando testes selecionados de uma bateria de testes neuropsicológicos automatizados (CANTAB) e inves- tigamos qual(is) do(s) teste(s) seria(m) o(s) indicador(s)mais eficaz(es) para mensurar diferenças no desempenho cognitivo de adultos idosos. MÉTODOS Participantes Foi realizada avaliação cognitiva transversal de 47 idosos saudáveis residentes na comunidade, agrupados como praticantes de hidroginástica, más sensible de las diferencias de desempeño cognitivo. Métodos: Tres grupos de personas de la tercera edad saludables, residentes en la comunidad, practicantes de hidrogimnasia, musculación o sedentarios fueron evaluados a través de una batería automatizada de tests neuropsicológicos (CANTAB) y tests para evaluación de la capacidad funcional para el ejer- cicio. Los resultados fueron comparados a través del análisis de variancia de 1 criterio (ANOVA) y de la correlación lineal de Pearson. Resultados: El grupo de hidrogimnasia presentó mejor capacidad funcional para el ejercicio y mejor desempeño en la evaluación del tiempo de reacción (latencias de respuesta y de movimiento). Los practicantes de musculación presentaron menor latencia de movimiento que los sedentarios. La movilidad funcional fue positivamente correlacionada a las latencias de respuesta y de movimiento. Conclusión: Considerados en conjunto, nuestros resultados indican que el ejercicio físico contribuye para la preservación de la función cognitiva en personas de la tercera edad saludables y que la hidrogimnasia presenta mejores resultados que la musculación con relación al tiempo de reacción. Además, los cambios relacionados a la función tiempo de reacción fueron detectados antes que los cambios em las funciones de memoria de trabajo, atención sustentada y aprendizaje en los participantes sedentarios, sugiriendo que esa variable puede ser un indicador sensible y precoz de sutiles cambios cognitivos asociados al envejecimiento. Nivel de Evidencia II; Estudio retrospectivo. Descriptores: Aptitud física; Pruebas neuropsicológicas; Tiempo de reacción; Prevención primaria; Disfunción cognitiva; Actividad física. Artigo recebido em 23/01/2018 aprovado em 04/05/2018DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1517-869220192501190627 musculação ou sedentários.Os critérios de inclusão incluíram acuidade visual mínima de 20/20 (teste de Snellen); ausência de histórico de trauma crânio-encefálico, acidente vascular cerebral, alterações de linguagem, alcoolismo crônico ou doenças neurológicas; ausência de sintomas depres- sivos, avaliados pela Escala de Depressão Geriátrica e Manual Diagnóstico e Estatístico para Transtornos Mentais - Quinta Edição. Todos os participantes apresentaram pontuações normais do Mini-exame do Estado Mental, após ajustes por anos de escolaridade de acordo com os critérios para a população brasileira (analfabetos, 13 pontos; 1-7 anos de escolaridade, 18 pontos; ≥8 anos de escolaridade, 26 pontos). Os grupos exercitados incluíram participantes que realizaram pelo me- nos três sessões semanais supervisionadas de exercícios de treinamento de musculação ou hidroginástica, durante doze ou mais meses antes do estudo. O grupo sedentário foi composto por indivíduos que não realizaram nenhum exercício físico regular e sistematizado nos doze meses anteriores às avaliações. Todos os voluntários preencheram os critérios acima mencionados e realizaram avaliações de atenção visual sustentada, tempo de reação, aprendizado, memória visual, índice de massa corporal (IMC), relação cintura-quadril e capacidade funcional de exercício. Avaliação da capacidade functional ao exercício Todos os participantes realizaram avaliações de força muscular dos membros inferiores (Teste Sentar e Levantar) e mobilidade funcional (Teste 8-foot up-and-go) conforme descrito por Rikli e Jones.12 Os testes foram realizados duas vezes, com intervalo de 5 minutos entre repetições, e o melhor desempenho foi registrado para análise estatística. A avaliação da aptidão cardiorrespiratória foi realizada pelo teste de caminhada de seis minutos, seguindo as recomendações da American Thoracic Society. Avaliação Cognitiva A avaliação cognitiva foi realizada utilizando testes selecionados da Bateria Cambridge de Testes neuropsicológicos Automatizados (Cambridge Neurop- sychological Test Automated Battery - CANTAB®). Os testes foram administrados por pesquisadores treinados, em condições adequadas de iluminação mesópi- ca e controle de ruído, conforme o protocolo de administração descrito no ma- nual de instruções do programa. Os testes realizados no presente estudo foram: Processamento Rápido da Informação Visual (Rapid Visual Information Proces- sing - RVP), Tempo de Reação (Reaction Time- RTI), Aprendizagem Pareada (PAL) e Memória de Trabalho Espacial (Spatial Working Memory- SWM). A Tabela 1 mostra as descrições dos testes cognitivos e áreas encefálicas relacionadas. Todos os testes foram realizados em um único dia e completados dentro do intervalo de 2 horas, tendo sido oferecido breve descanso entre diferentes testes aos voluntários. 73Rev Bras Med Esporte – Vol. 25, No 1 – Jan/Fev, 2019 Análise Estatística Análise de variância 1-critério (ANOVA) foi realizada para comparar a capacidade funcional ao exercício e desempenho em avaliações cognitivas de idosos sedentários e que frequentam modalidades diferentes de exercício físico. Kruskal-Wallis foi aplicado em caso de variâncias desiguais. Os valores extremos (baseados em desvios) foram excluídos antes da análise estatística. Bonferroni foi usado como teste post hoc. Os resultados são apresentados em valores de média (± desvio padrão). Análise de Correlação Linear de Pearson foi realizada entre as variáveis de capacidade funcional de exercício e cognição. O nível de significância estatística foi estabelecido em valores de p <0,05. Considerações Éticas As recomendações éticas em pesquisas envolvendo seres humanos foram observadas e o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas institucional (No 3955/09). O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi assinado por todos os participantes. RESULTADOS Os grupos foram pareados por idade e escolaridade e todos os partici- pantes tiveram pontuações dentro dos limites da normalidade no Mini-Exa- me do Estado Mental, de acordo com os anos individuais de estudo (Anos de idade - Sedentário (n=19): 70,9 ± 5,2 anos, Musculação (n=14): 71,7 ± 4,6, Hidroginástica (n=14): 71,2 ± 4,4; Anos de escolaridade - sedentário: 9,3 ± 4,2 anos, musculação: 9,5 ± 3,4, hidroginástica: 10,9 ± 3,4; Mini-Exame do Estado Mental - Sedentário: 28,47 ± 1,35 pontos, Musculação: 28,50 ± 1,70, Hidroginástica: 27,79 ± 1,63). Os grupos também foram pareados em relação ao IMC (Hidroginástica: 27,9 ± 4,8; Musculação: 26,7 ± 3,3; Sedentário: 26,8 ± 4,6;p = 0,75) e relação cintura-quadril (Hidroginástica: 0,90 ± 0,1; Musculação: 0,93 ± 0,1; Sedentário: 0,93 ± 0,1; p = 0,53). Os idosos praticantes de hidroginástica apresentaram melhor desempe- nho na avaliação da força muscular de membros inferiores (Sedentário: 12,4 ± 4,2 repetições; Musculação: 12,8 ± 1,4 repetições; Hidroginástica: 18,4 ± 3,7 repetições) e mobilidade funcional (Sedentário: 7,7 ± 2,3 segundos; Mus- culação: 7,0 ± 1,1 segundos; Hidroginástica: 5,1 ± 0,8 segundos) quando comparados aos grupos musculação (p < 0,05)e sedentário (p < 0,01). O grupo hidroginástica apresentou melhor condicionamento cardiorrespi- ratório que o grupo Sedentário (p < 0,01) mas não apresentou diferença em relação ao grupo Musculação (Sedentário: 400,5 ± 79,3 metros; Musculação: 457,5 ± 64,8 metros; Hidroginástica: 568,8 ± 111,1 metros). Não foram de- tectadas diferenças na avaliação da capacidade funcional ao exercício entre os grupos de idosos praticantes de musculação e sedentários (Figura 1). A avaliação do Tempo de Reação apontou significativa diferença no desempenho entre os grupos, tanto no componente de latência de resposta, quanto na latência ao movimento (Figura 2). A latência de resposta a presença do estímulo visual foi menor no grupo de idosos praticantes de hidroginástica em comparação ao grupo composto por idosos sedentários (362,6 ± 69,4 ms vs 438,4 ± 77,3 ms; p < 0,05). Não foram detectadas diferenças significativas na latência de resposta entre os grupos Hidroginástica e Musculação (406,1 ± 58,5 ms) ou entre os grupos Musculação e Sedentário. A latência de movimento dos grupos Hidroginástica (651,8 ± 186,6 ms) e Musculação (689,2 ± 145,8 ms) foram significativamente menores quando comparados ao grupo Sedentário (922,0 ± 210,6 ms, p < 0,01) e não difeririam um em relação ao outro. A análise de variância das funções deatenção visual sustentada (teste RVP), aprendizado e memória visual (teste PAL) e memória de trabalho (teste SWM) não apontou diferenças significativas entre os desempenhos dos grupos (Sedentário - RVP Latência: 668,72 ± 150,31 ms; PAL Reconhe- cimento correto da localização de padrões na primeira tentativa: 10,32 ± 4,08 pontos; PAL Total de erros ajustados: 40,05 ± 24,99 pontos; SWM Total de Erros: 69,95 ± 10,57 pontos. Musculação - RVP Latência: 649,04 ± 146,53 ms; PAL Reconhecimento correto da localização de padrões na primeira tentativa: 9,50 ± 2,65 pontos; PAL Total de erros ajustados: 41,79 ± 18,99 pontos; SWM Total de Erros: 68,64 ± 7,85 pontos. Hidroginástica - RVP Latência: 688,8 ± 202,54 ms; PAL Reconhecimento correto da localização de padrões na primeira tentativa: 8,57 ± 3,06 pontos; PAL Total de erros ajustados: 54,79 ± 33,97 pontos; SWM Total de Erros: 69,57 ± 6.71 pontos) A Mobilidade Funcional foi positiva e significativamente correlacio- nada com a latência de resposta e de movimento do teste do Tempo de reação (Figura 3). DISCUSSÃO O exercício físico regular pode modular o declínio cognitivoassociado à idade por mecanismos associados ao aumento do fluxo sanguíneo cerebral, volume cerebral e preservação da microestrutura da substância branca.13-15 Alinhados com essas observações, nossos resultados demons- traram melhor desempenho na avaliação do Tempo de Reação de adultos idosos saudáveis fisicamente ativos. Os grupos analisados no presente trabalho foram compostos por voluntários sem disfunções cognitivas e pareados por idade e escolaridade, minimizando potenciais viéses. Tabela 1. Descrição de testes cognitivos e funções relacionadas. Testes Descrição Processamento Rápido da Informação Visual (RVP) Avaliação da atenção visual sustentada e memória de trabalho. Avalia as funçõesfrontoparietais. Tempo de Reação (RTI) Medida da velocidade de resposta e de movimento após a apresentação de um estímulo visual. O teste é caracterizado por exigir uma cadeia complexa de respostas e processos cognitivos que envolvem funções frontoparietais conectadas com áreas subcorticais que regulam o início, o planejamento e a execução da ação motora. Aprendizagem Pareada(PAL) Avalia o aprendizado e a memória visual. Avalia as funções dos lobos frontal, temporal e cingulado. Memória de Trabalho Espacial (SWM) Avalia a memória de trabalho e, portanto, a função do lóbulo frontal e temporal. Figura 1. A avaliação da Capacidade Funcional ao Exercício aponta que o grupo praticante de hidroginástica apresentou melhor desempenho em todos os testes se comparado ao grupo Sedentário e melhor desempenho em Mobilidade Funcional e Força muscular de membros inferiores quando comparado ao grupo Musculação. 1000 800 600 400 200 0 25 20 15 10 5 0 80000 60000 40000 20000 0 Te m po (s ) D ist âm ci a (m ) Re pe tiç õe s Mobilidade funcional Força muscular dos membros inferiores Aptidão Cardiorrespiratória Se de ntá rio Se de ntá rio Se de ntá rio Mu scu laç ão Mu scu laç ão Mu scu laç ão Hid rog iná sti ca Hid rog iná sti ca Hid rog iná sti ca ANOVA one-way: ** Hidroginástica vs Sedentário: p<0,01, * Hidroginásticavs Musculação p<0,05; Kruskal-Wallis - ## Hidroginástica vs Sedentário: p<0,01, # Hidroginástica vs Musculação: p<0,05. 74 Rev Bras Med Esporte – Vol. 25, No 1 – Jan/Fev, 2019 Figura 2. A avaliação cognitiva apontou que os grupos Hidroginástica e Musculação apresentaram menor latência de movimento que o grupo Sedentário (A e C). O grupo de idosos praticantes de hidroginástica apresentou menor latência de resposta na avaliação do Tempo de Reação (B e D). Diferenças em relação ao grupo Sedentário: ANOVA one-way ** p<0,01, * p<0,05; ## Kruskal-Wallis p<0,01. 150000 100000 50000 0 100000 80000 60000 40000 20000 0 60000 40000 20000 0 60000 40000 20000 0 M ili se gu nd os M ili se gu nd os M ili se gu nd os M ili se gu nd os Latência de movimento simples (RTI-SMT) Latência de movimento de cinco escolhas (RTI-5CMT) Latência de resposta de cinco escolhas (RTI-5CMT) Latência de resposta simples (RTI-SRT) Se de ntá rio Se de ntá rio Se de ntá rio Se de ntá rio Mu scu laç ão Mu scu laç ão Mu scu laç ão Mu scu laç ão Hid rog iná sti ca Hid rog iná sti ca Hid rog iná sti ca Hid rog iná sti ca Figura 3. A avaliação neuropsicológica das latências de movimento (A e C) e resposta (B e D) são positivamente correlacionadas com a Mobilidade Funcional. 150000 100000 50000 0 150000 100000 50000 0 80000 60000 40000 20000 0 100000 80000 60000 40000 20000 0 La tê nc ia d e m ov im en to sim pl es (m s) La tê nc ia d e re sp os ta sim pl es (m s) 0 500 1000 1500 0 500 1000 1500 0 500 1000 1500 0 500 1000 1500 Mobilidade funcional (s) Mobilidade funcional (s) Mobilidade funcional (s) Mobilidade funcional (s) r = 0,463 p = 0,001 r = 0,358 p = 0,015 r = 0,356 p = 0,016 r = 0,445 p = 0,002 La tê nc ia d e m ov im en to d e ci nc o es co lh as (m s) La tê nc ia d e re sp os ta d e ci nc o es co lh as (m s) 75Rev Bras Med Esporte – Vol. 25, No 1 – Jan/Fev, 2019 O melhor desempenho do grupo Hidroginásticana avaliação da força muscular, mobilidade funcional e aptidão cardiovascular é indicativoque esta modalidade de exercício físico está contribuindo em maior propor- ção para a preservação da aptidão física dos adultos idosos incluídos no presente estudo. Estudos anteriores demonstraram que idosos que realizam exercícios físicos dedicados ao fortalecimento muscular tem melhor função executivaque idosos sedentários16 e também que a força do quadríceps foi associada a cognição.17 O Tempo de Reação foi influenciado pela modalidade de exercício físico e isso é confirmado pelas significativas diferenças entre os grupos exercitados e sedentário e entre os grupos de diferentes modalidades. O teste que avalia o Tempo de Reação requer uma sequência complexa de processamento cognitivo e respostas sensorimotoras que dependem da integridade de conexão entre as áreas frontoparietal e subcortical que regulam o planejamento, início e execução do ato motor.18 De fato, há evidências que indicam perda da capacidade funcional motora e cognitiva associada ao envelhecimento e estilo de vida sedentário.19 A latência de resposta é o componente do teste Tempo de Reação para avaliar a atenção e a velocidade do processamento cognitivo central necessários para identificar o estímulo visual, enquanto a latência de movimento é o componente do teste Tempo de Reação que envolve a execução do ato motor voluntário associado ao toque do dedo da tela. O grupo Hidroginástica apresentou melhor desempenho que o Sedentário nas latências de resposta e movimento, enquanto o grupo Musculação diferiu apenas do Sedentário em latência de movimento. Esses resultados podem estar relacionados às características do treina- mento resistido que levam em maior proporção às adaptações neuro- musculares periféricas.20,21 Se por um lado, melhorias no controle motor periférico são importantes para o melhor desempenho na avaliação da Latência de Movimento, por outro lado, sabe-se que a melhora da aptidão cardiovascular está associada ao melhor desempenho em testes cognitivos, incluindo a função de Atenção14,22,23 Estudos longitudinais futuros, de tamanho amostral maior, que investiguem os parâmetros de treinamento em diferentes modalidades podem melhorar a prescrição de exercícios baseada em evidências. A avaliação cognitiva dos grupos foi diferente apenas nos componentes do tempo de reação, mas não foram detectadas diferenças significativas na atenção visual sustentada, capacidade de aprendizado ou funções de memória visual. Esses resultados podem ser interpretados em vista das evidências que sugerem que o processo neurodegenerativo no en- velhecimento tem um impacto inicial na substância branca, afetando as vias corticais em gradiente fronto-occipital, levando a prejuízos na função executiva e na velocidade de processamento.13,24,25 Nossos achados estão em acordo com estudos anteriores que apontam as avaliações do tempo de reação como um marcador precoce sensível às mudanças sutis na cognição de idosos saudáveis e do envelhecimento patológico,6-8 indica- dor de qualidade de vida,26 assim como preditor do declínio funcional27 e morte precoce28 além de ser associado a mobilidade functional.29 A neuroproteção de neurônios motores alfa e placa motora encontrada em ratos idosos exercitados30 também pode dar suporte teórico a menor latência de movimento encontrada em grupos exercitados. CONCLUSÕES Em conjunto, nossos resultados mostram que o exercício físico con- tribui para a preservação da função cognitiva em idosos saudáveis e que a hidroginástica apresenta melhores resultados em comparação com a musculação na melhora do tempo de reação. É interesse observar que as alterações cognitivas relacionadas ao tempo de reação possam ser detectadas antes do comprometimento da memória de trabalho, atenção sustentada e aprendizagem em idosos sedentários saudáveis, sugerindo que seja um indicador sensível e precoce de alterações cognitivas sutis do envelhecimento. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem os voluntários que participaram do estudo. A pesquisa recebeu financiamento do MS/CNPq/FAPESPA/SESPA e Funda- ção Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo. REFERÊNCIAS 1. Shaffer J. Neuroplasticity and Clinical Practice: Building Brain Power for Health. Front Psychol. 2016;7:1118. 2. Nagamatsu LS, Flicker L, Kramer AF, Voss MW, Erickson KI, Hsu CL, et al. Exercise is medicine, for the body and the brain. Br J Sports Med. 2014;48(12):943-4. 3. Wild K, Howieson D, Webbe F, Seelye A, Kaye J. Status of computerized cognitive testing in aging: a systematic review. Alzheimers Dement. 2008;4(6):428-37. 4. Northey JM, Cherbuin N, Pumpa KL, Smee DJ, Rattray B. Exercise interventions for cognitive function in adults older than 50: a systematic review with meta-analysis. Br J Sports Med. 2018;52(3):154-60. 5. ahakian BJ, Owen AM. Computerized assessment in neuropsychiatry using CANTAB: discussion paper. J R Soc Med. 1992;85(7):399-402. 6. Jackson JD, Balota DA, Duchek JM, Head D. White matter integrity and reaction time intraindividual variability in healthy aging and early-stage Alzheimer disease. Neuropsychologia. 2012;50(3):357-66. 7. Jouvent E, Reyes S, De Guio F, Chabriat H. Reaction Time is a Marker of Early Cognitive and Behavioral Alterations in Pure Cerebral Small Vessel Disease. J Alzheimers Dis. 2015;47(2):413-9. 8. Zanchi D, Montandon ML, Sinanaj I, Rodriguez C, Depoorter A, Herrmann FR, et al. Decreased Fronto-Parietal and Increased Default Mode Network Activation is Associated with Subtle Cognitive Deficits in Elderly Controls. Neurosignals. 2017;25(1):127-38. 9. Haynes BI, Bunce D, Kochan NA, Wen W, Brodaty H, Sachdev PS. Associations between reaction time measures and white matter hyperintensities in very old age. Neuropsychologia. 2017;96:249-55. 10. Condello G, Forte R, Falbo S, Shea JB, Di Baldassarre A, Capranica L, et al. Steps to Health in Cognitive Aging: Effects of Physical Activity on Spatial Attention and Executive Control in the Elderly. Front Hum Neurosci. 2017;11:107. 11. Bauermeister S, Bunce D. Aerobic Fitness and Intraindividual Reaction Time Variability in Middle and Old Age. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2016;71(3):431-8. 12. Rikli RE, Jones CJ. Development and validation of a functional fitness test for community-resident older adults. Jornal of Aging and Physical Activity. 1999;7:129-61 13. Berchicci M, Lucci G, Di Russo F. Benefits of physical exercise on the aging brain: the role of the prefrontal cortex. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2013;68(11):1337-41. 14. Erickson KI, Voss MW, Prakash RS, Basak C, Szabo A, Chaddock L, et al. Exercise training increases size of hippocampus and improves memory. Proc Natl Acad Sci U S A. 2011;108(7):3017-22. 15. Hayes SM, Salat DH, Forman DE, Sperling RA, Verfaellie M. Cardiorespiratory fitness is associated with white matter integrity in aging. Ann Clin Transl Neurol. 2015;2(6):688-98. CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES: Cada autor fez contribuições individuais significativas para este manuscrito. NVOBT (0000-0003-0978-211X)*, JBT (0000-0002-9155-9445)* e CWPD (0000-0001-6611-6880)* participaram do desenho do estudo e redação do manuscrito, análise dos dados, análise estatística e interpretação dos dados. NVOBT, AMT (0000-0003-0767- 8474)*, LGTS (0000-0002-7756-4512)*, JOF (0000-0002-0558-5816)*, JASP (0000-0001-6480-5818)* realizaram os experimentos e participaram da análise dos dados. Todos os autores leram e aprovaram o manuscrito final. *ORCID (Open Researcher and Contributor ID). 16. Loprinzi PD. Epidemiological investigation of muscle-strengthening activities and cognitive function among older adults. Chronic Illn. 2016;12(2):157-62. 17. Chen WL, PengTC, Sun YS, Yang HF, Liaw FY, Wu LW, et al. Examining the Association Between Qua- driceps Strength and Cognitive Performance in the Elderly. Medicine (Baltimore). 2015;94(32):e1335. 18. Deiber MP, Ibañez V, Sadato N, Hallett M. Cerebral structures participating in motor preparation in humans: a positron emission tomography study. J Neurophysiol. 1996;75(1):233-47. 19. Sattelmair JR, Pertman JH, Forman DE. Effects of physical activity on cardiovascular and noncardiovascular outcomes in older adults. Clin Geriatr Med. 2009;25(4):677-702. 20. Gregory MA, Gill DP, Petrella RJ. Brain health and exercise in older adults. Curr Sports Med Rep. 2013;12(4):256-71. 21. Forte R, Boreham CA, Leite JC, De Vito G, Brennan L, Gibney ER, et al. Enhancing cognitive functioning in the elderly: multicomponent vs resistance training. Clin Interv Aging. 2013;8:19-27. 22. Iuliano E, di Cagno A, Aquino G, Fiorilli G, Mignogna P, Calcagno G, et al. Effects of different types of physical activity on the cognitive functions and attention in older people: A randomized controlled study. Exp Gerontol. 2015;70:105-10. 23. Hayes SM, Alosco ML, Forman DE. The Effects of Aerobic Exercise on Cognitive and Neural Decline in Aging and Cardiovascular Disease. Curr Geriatr Rep. 2014;3(4):282-90. 24. Sullivan EV, Rohlfing T, Pfefferbaum A. Quantitative fiber tracking of lateral and interhemispheric white matter systems in normal aging: relations to timed performance. Neurobiol Aging. 2010;31(3):464-81. 25. Bennett IJ, Madden DJ. Disconnected aging: cerebral white matter integrity and age-related differences in cognition. Neuroscience. 2014;276:187-205. 26. Jakobsen LH, Sorensen JM, Rask IK, Jensen BS, Kondrup J. Validation of reaction time as a measure of cognitive function and quality of life in healthy subjects and patients. Nutrition. 2011;27(5):561-70. 27. Kochan NA, Bunce D, Pont S, Crawford JD, Brodaty H, Sachdev PS. Reaction Time Measures Predict Incident Dementia in Community-Living Older Adults: The Sydney Memory and Ageing Study. Am J Geriatr Psychiatry. 2016;24(3):221-31. 28. Kochan NA, Bunce D, Pont S, Crawford JD, Brodaty H, Sachdev PS. Is intraindividual reaction time variability an independent cognitive predictor of mortality in old age? Findings from the Sydney Memory and Ageing Study. PLoS One. 2017;12(8):e0181719. 29. Donoghue OA, Horgan NF, Savva GM, Cronin H, O’Regan C, Kenny RA. Association between timed up-and-go and memory, executive function, and processing speed. J Am Geriatr Soc. 2012;60(9):1681-6. 30. Valdez G, Tapia JC, Kang H, Clemenson GD, Gage FH, Lichtman JW, et al. Attenuation of age-related changes in mouse neuromuscular synapses by caloric restriction and exercise. Proc Natl Acad Sci US A. 2010;107(33):14863-8.
Compartilhar