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UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA Letícia Saldanha – D69AJG-0 Turma: 3°B TRABALHO DE DEPENDÊNCIA Processos Psicológicos Básicos SANTOS 2019 Letícia Saldanha – D69AJG-0 Turma: 3°B TRABALHO DE DEPENDÊNCIA Processos Psicológicos Básicos Trabalho para fins avaliativos da disciplina de APS (DP) da matéria de Processos Psicológicos Básicos, sob a orientação da Prof. Isabella. SANTOS 2019 Sumário 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4 2. PERSPECTIVA HISTÓRICA, SOCIAL E CULTURAL.................................... 5 3. MORTE, PERDA E PROCESSO DE LUTO ...................................................... 7 REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 9 4 1. INTRODUÇÃO O que pode haver de interessante em investigar um tema como a morte? Atualmente nos deparamos com uma negação acerca desse tema (SILVA, 2003). A sociedade, marcada por um ritmo alucinante, parece ter deixado de lado o fato de todos nós sermos seres finitos. Assim, o homem tende a não pensar sobre sua finitude e a das pessoas que o rodeiam. Nota-se um despreparo no que diz respeito ao enfrentamento dessa situação. Sendo a psicologia uma ciência que lida com seres humanos e suas vidas e, consequentemente, com a morte, tal assunto torna-se relevante. A maneira como a morte é compreendida é dinâmica ao longo do desenvolvimento humano. Desde a infância, as pessoas têm contato com perdas, mas é a partir da adolescência que realmente entendemos o significado da morte. Na idade adulta evidenciamos tal fato como algo possível de acontecer, mas é na velhice que sua possibilidade parece ser mais aceita, uma vez que tal etapa é encarada como última no ciclo de desenvolvimento humano. Além das variáveis relacionadas com o desenvolvimento humano, a cultura e as situações de perda que vivenciamos contribuem para que formemos nossa visão sobre a finitude humana. Para um melhor entendimento acerca do assunto, faz-se importante o estudo sobre a temática. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo abordar a temática morte. 5 2. PERSPECTIVA HISTÓRICA, SOCIAL E CULTURAL De acordo com Kastenbaum e Aisenberg (1983), na antiguidade, a sociedade egípcia, que era bastante desenvolvida, tinha o objetivo de ensinar cada indivíduo a pensar, a sentir e a agir em relação à morte, buscando uma maior aproximação com essa temática. Ariès (2003) destaca que, na Idade Média, a morte era algo esperado, existia uma familiaridade com a morte e todos participavam, inclusive as crianças. Havia com essa postura de aproximação diante da morte, uma atitude também de aceitação da ordem da natureza (p.46). E exatamente por existir uma familiaridade em relação à morte, esta recebia a denominação de “morte domada”, o que era temido era a morte súbita. A morte era esperada no leito em uma cerimônia pública e organizada. Contudo, havia um distanciamento, um temor com relação aos mortos e os rituais tinham o propósito de separar os vivos dos mortos, existia um temor quanto à decomposição dos corpos, a possível contaminação, existindo também o medo com relação a fantasmas e almas. A partir da segunda metade da Idade Média, séculos XI e XII, percebem- se sutis modificações a respeito da maneira como o homem lida com a morte. Gradualmente, foi-se instalando um sentido dramático e pessoal à familiaridade tradicional do homem com a morte. A partir do século XVIII, origina-se no homem um novo olhar, um novo sentido em relação à morte, passando esta a ser percebida como uma ruptura, começando a haver um espaço para a emoção, atingindo uma esfera mais dramática. A morte foi dividida em uma série de pequenas etapas dentre as quais, definitivamente, não se sabe qual a verdadeira morte, aquela em que se perdeu a consciência ou aquela em que se perdeu a respiração. Todas essas pequenas mortes silenciosas substituíram e apagaram a grande ação dramática da morte, e ninguém mais tem forças ou paciência de esperar durante semanas um momento que perdeu parte de seu sentido (Áries, 2003, p.86.) Nessa afirmação vê-se claramente a atitude de negação diante da morte, uma postura de não-enfrentamento da realidade. Podendo-se também pensar numa exigência de controle da emoção e de tentativa de controle da própria vida, na medida em que tudo fica muito monitorado e objetivo. 6 A morte passa a ser encarada como algo negativo, relacionado à dor, havendo uma tendência forte ao repúdio, a um afastamento e sobre isso Kübler- Ross (1998) afirma: Como a morte estava associada à dor, o assunto era evitado. Os adultos raramente faziam referência ou qualquer coisa que estivesse relacionada com a morte. As crianças eram despachadas para outros cômodos da casa quando o assunto era inevitável na conversa, mas fatos são fatos. A morte faz parte da vida, a parte mais importante da vida. Médicos brilhantes que sabiam como prolongar a vida, não compreendiam que a morte era parte dessa mesma vida. Quando não se tem uma boa vida, estando aí incluídos todos os momentos finais, não se pode ter uma boa morte. (p. 154). 7 3. MORTE, PERDA E PROCESSO DE LUTO A morte física não é suficiente para que qualquer sociedade considere um de seus membros completamente extinto imediatamente após sua morte (Hertz, 1907/2004; Van Gennep, 1909/1978; Bloch e Parry, 1982; Rodrigues, 2006). Isso porque a morte representa o desaparecimento de um ser social, a destruição de alguém que se relacionava com os outros e que era importante para a consciência coletiva (Hertz, 1907/2004; Rodrigues, 2006). Há, portanto, uma discrepância entre o evento físico da morte e seu reconhecimento social (Bloch e Parry, 1982). É o que Hertz expressa de maneira clara: “O simples fato da morte não é suficiente para consumá-la na mente das pessoas: a imagem daquele que faleceu recentemente ainda é parte do sistema de coisas desse mundo e se desvincula dele gradualmente, através de uma série de separações internas. Não conseguimos considerar o falecido como morto imediatamente: ele é parte de nós mesmos, botamos muito de nós mesmos nele e a participação na vida social cria laços que não podem ser desfeitos em um dia.” O tempo que transcorre até que a sociedade considere o morto como tal é o período durante o qual ocorre o luto. Sua duração é determinada pelos costumes de cada cultura e pode variar conforme o status do morto. A relação que havia com o morto também influi na duração do luto. Os familiares mais próximos geralmente permanecem enlutados por um período maior do que as demais pessoas. Assim, a morte tem um significado específico para a consciência social; ela é objeto de uma representação coletiva. Essa representação não é nem simples nem imutável (Hertz, 1907/2004, p.197). Durkheim (1912/1996) foi um dos primeiros a mencionar o fato de a expressão de sentimentos nos ritos funerários não ser espontânea como parece, mas determinada socialmente. Para ele, “as pessoas se lamentam, não simplesmente porque estejam tristes, mas porque são obrigadas a se lamentar. É uma atitude ritual que se deve adotar por respeito ao costume, mas que em larga medida é independente do estado afetivo dos indivíduos” (Durkheim, 1912/1996, p. 435). O fato de os sentimentos demonstrados serem determinados socialmente não significa, no entanto, que os enlutados estejam apenas simulando, não 8 sentindo efetivamente o que expressam: “Tudo é, ao mesmo tempo, social, obrigatório e, todavia, violento e natural; rebuscamento e expressão da dor vão juntas” (Mauss, 1921/2001, p.330). Por fim, o luto pode ser visto como um processo social e processo individual. O processo social corresponde ao que foi abordado nesta seção, que diz respeito à maneira como os membros de uma determinada cultura “devem” reagir quando da morte de uma pessoa e aos sentimentos despertados pelo falecimento. O processo individual corresponde ao que se passa internamente, no psiquismo de cada indivíduo. Ambos os processos se inter-relacionam. 9 4. CONCLUSÃO Conforme já foi dito anteriormente, a morte em diferentes culturas e em épocas diferentes foi abominada pelo homem. A morte ainda constitui um acontecimento pavoroso nos dias de hoje. É considerada um tabu, causadora de medo, pânico e negação. A morte, além de gerar uma grande angústia, coloca o homem diante da questão de sua própria finitude. Considerando a sociedade contemporânea, a vida humana é reafirmada através da confirmação de suas potencialidades, o homem de grandes realizações, de grandes construções e feitos extraordinários, ao mesmo tempo em que alimenta a sua autoestima e consequentemente a vida, coloca a morte num lugar distante. Diante do exposto, podemos refletir sobre a dificuldade que se sente hoje, na sociedade, de vivenciar a dor da perda, uma vez que ela não é acolhida como algo natural, sendo o indivíduo interditado para expressar seu pesar, o que dificulta a possibilidade de compartilhar com o outro a sua dor. Antes, preferia-se morrer devagar e perto dos familiares, existindo com isso a possibilidade de se despedir. Diferentemente de hoje, quando é frequente as pessoas afirmarem que preferem morrer instantaneamente. Sendo assim, conclui-se que nossa cultura não incorpora a morte como parte da vida, mas sim como castigo, algo ruim e punitivo. 10 REFERÊNCIAS ALVES, R. Variações sobre a vida e a morte. São Paulo: Edições Paulinas, 1982. HAYASIDAI, N. M. D. A. et al. Morte e luto: competências dos profissionais, 2014. Disponivel em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808- 56872014000200007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20 Abril 2019. KOVÁCS, M. J. Atitudes diante da morte: visão histórica, social e cultural. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992. SILVA, H. S. D.; ZEMUNER, M. N.; RODRIGUES, P. H. D. S. As representações da morte e do luto. Revistas PUC-SP, 2012. Disponivel em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/kairos/article/viewFile/10100/12634>. Acesso em: 20 Abril 2019.
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