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História do ensino de Química no Brasil

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71 
Do período colonial aos nossos dias: 
uma breve história do Ensino de Química no Brasil 
JOSÉ OSSIAN GADELHA DE LIMA* 
 
 
Resumo 
Este trabalho apresenta uma breve discussão sobre a trajetória do Ensino de 
Química no Brasil. Através do levantamento sistemático e da análise de várias 
fontes fidedignas, foi realizado um estudo sobre o surgimento e o 
desenvolvimento do ensino da Química dentro do sistema educacional brasileiro. 
O que motivou a elaboração dessa pesquisa foi o fato de observarmos que nas 
escolas públicas de todo país os alunos adquirem uma imagem completamente 
distorcida sobre a Química, chegando ao ponto de considerá-la não fazer parte 
de seu cotidiano. Assim, o objetivo deste trabalho foi mostrar como a história do 
ensino dessa disciplina, ministrada nas escolas do ensino básico, pode 
possibilitar que o conhecimento científico se torne significativo para os 
estudantes e contribuir para a desmistificação do ensino da Química. O texto 
aborda desde as primeiras manifestações desse ensino no Brasil, passando pela 
sua implantação enquanto disciplina, até chegar às novas concepções 
apresentadas pelos PCN+. 
Palavras-chave: Ensino de Ciências; Disciplina de Química; D. Pedro II e a 
Química. 
 
From the colonial period to our days: a brief history of the chemistry 
teaching in Brazil 
Abstract 
This paper presents a brief discussion of the trajectory of Chemistry Teaching in 
Brazil. Through a systematic data collection and analysis of various reliable 
sources, a study about the emergence and development of Science and 
Chemistry teaching within the Brazilian educational system was accomplished. 
The reason for the elaboration of this research was the fact we observe that in the 
country's public schools the students acquire a completely distorted picture about 
Chemistry; they reach the point of considering it not part of their daily lives. 
Thus, the objective of this study was to show how the history of how the 
teaching of these subjects, taught in elementary schools, can enable scientific 
knowledge to become meaningful to students and to help the demystification of 
chemistry teaching. The text covers from the earliest manifestations of this 
teaching in Brazil, through its implementation as a discipline until the new 
concepts presented by PCN+. 
Key words: Science Teaching; Discipline of Chemistry; D. Pedro II and the 
Chemistry. 
 
 
* JOSÉ OSSIAN GADELHA DE LIMA é Coordenador do curso de Licenciatura Plena em Química da 
Faculdade de Educação de Crateús da Universidade Estadual do Ceará 
 
 
 
72 
Introdução 
Quando observamos a maneira como o 
ensino de Química se desenvolve nas 
escolas do ensino básico brasileiro, 
constatamos que existe uma 
disseminada e completa falta de 
interesse dos estudantes pelos conteúdos 
explorados nessa disciplina, sem contar 
que eles adquirem uma imagem 
completamente distorcida sobre a 
mesma, chegando ao ponto de 
considerá-la não fazer parte de seu 
cotidiano. 
Muitos estudiosos, debatedores e 
profissionais do Ensino têm discutido e 
apontado os inúmeros fatores que 
impedem a melhoria da prática 
educativa no Ensino de Química. 
Alguns pesquisadores têm sugerido uma 
abordagem epistemológica dos 
conteúdos químicos trabalhados nas 
escolas. Nesta concepção, a história da 
construção do conhecimento químico 
poderia fazer parte de uma proposta 
metodológica que explorasse o aspecto 
dinâmico dos fatos que possibilitaram a 
descoberta desse conhecimento ao 
longo da história. Essa abordagem 
poderia se tornar fundamental para que 
o estudante consiga atribuir significado 
ao estudo dos conteúdos dessa ciência 
(MORTIMER, 1992; LÔBO; 
MORADILLO, 2003). 
Com o objetivo de contribuir para essa 
discussão, apresentamos neste texto 
uma reflexão breve sobre a história do 
ensino de química no Brasil, desde as 
suas primeiras manifestações, passando 
pela sua implantação enquanto 
disciplina até as novas concepções 
apresentadas pelos PCN+. Nossa 
intensão foi mostrar que a historicidade 
do ensino da Química pode possibilitar 
a vinculação do conhecimento científico 
ao contexto em que é engendrado. 
Para a elaboração deste trabalho, foi 
realizado um estudo fundamentado em 
várias fontes de autores consagrados no 
estudo da História da Química e da 
História da Educação no Brasil, de 
maneira que ele expõe uma narrativa 
que trata do surgimento e do 
desenvolvimento do ensino das ciências 
e da química dentro do sistema 
educacional brasileiro. 
O Ensino de Química no Brasil antes 
da república 
Segundo Filgueiras (1990), o processo 
de institucionalização de um Ensino de 
Ciências estruturado no Brasil foi longo, 
difícil e levou muito tempo, de modo 
que foi estabelecido somente a partir do 
século XIX. 
Até o início dos anos de 1800, o 
progresso científico e tecnológico 
brasileiro era condicionado ao grau de 
desenvolvimento do ensino de Ciências 
no país. Durante o período colonial, 
muitos fatores impossibilitaram ao 
Brasil um avanço científico 
significativo. Dentre esses fatores 
destacou-se sobremaneira a 
dependência política, cultural e 
econômica que a colônia tinha de 
Portugal e, principalmente, a apatia 
portuguesa aos avanços tecnológicos e 
econômicos da Europa nos séculos 
XVII e XVIII. Dessa forma, um avanço 
científico no Brasil nessa época foi 
quase nulo (RHEINBOLT, 1953). 
O sistema escolar brasileiro teve origem 
somente a partir da chegada dos jesuítas 
ao Brasil, em 1549. Essa primeira ideia 
de educação formal no país seguia os 
moldes das escolas dirigidas por esses 
religiosos na metrópole. Conforme 
estabelecido pelo movimento da 
Contrarreforma, esse ensino 
privilegiava a formação humanista, de 
maneira que os colégios fundados 
dedicavam-se estritamente à formação 
 
 
 
73 
de uma elite letrada, a qual se constituía 
numa diminuta aristocracia de letrados, 
sacerdotes-mestres, juízes e magistrados 
da colônia. Em 1759, a estrutura 
educacional brasileira contava apenas 
com alguns colégios, seminários e 
internatos, que chegavam ao número de 
aproximadamente 33. Nesse mesmo 
ano, por iniciativa do Marquês de 
Pombal, os jesuítas foram expulsos do 
Brasil, trazendo ao processo educativo 
brasileiro momentos de incertezas 
(GILES, 2003). 
 
 
Pe. Manuel da Nóbrega e Pe. Anchieta: os principais educadores jesuítas do Brasil colônia. 
 
Com a reforma pombalina, promovida 
em 1771, e o advento do ensino das 
Ciências experimentais, muitos 
brasileiros, objetivando galgar uma 
carreira científica ou médica, 
ingressaram na Universidade de 
Coimbra. No entanto, os cursos de 
direito e letras ainda atraíam a grande 
maioria dos que buscavam uma 
formação superior. Isso provocava uma 
acentuada deficiência de mão-de-obra 
de nível superior no Brasil, além de não 
possibilitar o surgimento de espaços 
adequados para o desenvolvimento de 
carreiras científicas regulares, como já 
começavam a surgir na Europa. Nessa 
época, o incipiente ensino de Química 
era teórico e livresco, quase sempre 
associado a estudos mineralógicos e 
colocando a Química como uma porção 
apendicular da Física (CARNEIRO, 
2006). 
No ano seguinte, em 1772, o Vice-Rei 
Marquês de Lavradio instalou no Rio de 
Janeiro a Academia Científica, 
destinada ao estudo das ciências. Uma 
seção dedicada à Química existia entre 
as várias outras seções dessa instituição. 
Fazia parte da academia o português 
Manoel Joaquim Henriques de Paiva, 
autor de Elementos de Química e 
Farmácia, primeiro livro a ter no título 
a palavra Química (FILGUEIRAS, 
1998). 
Também dessa época destaca-se 
Vicente Coelho de Seabra Silva Telles, 
a quem alguns historiadores atribuem o 
título de um dos principais químicos do 
Brasil colonial.Vicente Telles cresceu 
 
 
 
74 
num período de grande alvoroço 
iluminista, sendo que o início do seu 
curso em uma universidade da Europa 
foi marcado pelo desenvolvimento de 
estudos e publicações na área de 
Química, tendo escrito e publicado 
várias obras. Algumas se tornaram de 
extrema importância na sociedade 
química europeia. Dentre essas, e 
escrita em português, destaca-se o livro 
Elementos de Química, no qual ele trata 
de assuntos ligados à história da 
química desde a alquimia, além de 
discutir temas relacionados à 
nomenclatura de substâncias químicas e 
à ação do calor sobre as reações 
químicas. Durante sua vida, porém, 
nunca obteve reconhecimento, fama ou 
glória pelo seu trabalho (OLIVEIRA; 
CARVALHO, 2006). 
As atividades relacionadas às Ciências 
começaram a se estruturar no Brasil 
graças à invasão de Portugal por 
Napoleão, obrigando D. João VI e toda 
a corte real portuguesa a fugir para as 
terras brasileiras e a instaurar aqui o 
Reino Unido de Portugal, Brasil e 
Algarves. Isso levou à realização de 
vários eventos importantes para as 
Ciências no Brasil. Era o início do 
século XIX, considerado um dos 
períodos mais grandiosos para o 
estabelecimento do estudo das Ciências, 
pois seus conhecimentos promissores já 
se encontravam espalhados por todo o 
mundo civilizado da época (CHASSOT, 
1996). 
O primeiro grande feito de D. João VI a 
favor das Ciências e da Química no 
Brasil, foi a criação em 1808, do 
Colégio Médico-Cirúrgico da Bahia, em 
Salvador. Porém, não era o primeiro do 
país. Em 1801, no hospital de Vila Rica 
das Minas Gerais funcionava um 
colégio dessa natureza que foi fechado 
1848. Também em 1808, foi instalado 
no Rio de Janeiro outro colégio de 
medicina (ROSA; TOSTA, 2005). 
Com a assinatura do decreto que 
determinava a abertura dos portos 
brasileiros às nações amigas, D. João VI 
tirou o país do isolamento, 
possibilitando a instalação das primeiras 
indústrias de manufaturados e 
tipografias, e criando a Biblioteca 
Nacional e o Jardim Botânico 
(MATHIAS, 1979). 
O curso de engenharia da Academia 
Real Militar passou a ter Química no 
seu currículo, fazendo com que logo 
depois fosse criada uma cadeira de 
Química nesse curso. Isso levou a um 
aumento significativo do número de 
trabalhadores com mão-de-obra 
especializada nas áreas que 
necessitavam de um ensino mais 
voltado para as Ciências. Como 
resultado dessas mudanças, o Brasil 
passou a publicar livros impressos. 
Daniel Gardner foi o autor da primeira 
obra impressa no país e que tinha por 
título Syllabus, ou Compendio das 
Lições de Chymica (MOTOYAMA, 
2000). 
Graças ao início da exploração de ferro 
no país pelo alemão Willhelm Ludwig 
von Eschwege foram criados, em 1812, 
o Gabinete de Química e o Laboratório 
de Química Aplicada, ambos no Rio de 
Janeiro, tendo este último sido fechado 
em 1819. Em 1818 foi fundado o Museu 
Real cujas instalações contavam com 
um laboratório de química que sediava 
pesquisas relacionadas à refinação de 
metais preciosos (SANTOS, 2004). 
No entanto, o soberano brasileiro a se 
tornar um dos maiores incentivadores 
do progresso científico brasileiro foi, 
sem dúvida, o imperador D. Pedro II, 
que governou entre 1831 e 1898. Sua 
visão desenvolvimentista possibilitou a 
introdução de tecnologias que 
 
 
 
75 
favoreceram a industrialização e o 
crescimento econômico do Império. A 
influência de seus professores, José 
Bonifácio e Alexandre Vandelli, fez 
com que o soberano fosse um aluno 
dedicado aos estudos da Química, sendo 
quase constante sua presença em aulas, 
exames, encontros e discussões 
científicas. Sua casa ostentava um 
laboratório de Química no qual 
realizava experimentos e estudava obras 
de químicos da Europa, como Dalton e 
Laurent (FILGUEIRAS, 1988). 
Até essa época, porém, o ensino das 
Ciências era desprestigiado, pois se 
associava a formação de uma classe 
trabalhadora, o que o tornava muito 
pouco atrativo. Dessa forma, a 
memorização e a descrição eram as 
únicas formas metodológicas aplicadas 
no ensino das Ciências. Os 
conhecimentos químicos dessa época 
apenas se resumiam a fatos, princípios e 
leis que tivessem uma utilidade prática, 
mesmo aqueles que eram 
completamente desvinculados da 
realidade cotidiana do estudante. 
Contudo, alguns historiadores julgam 
que na história da disciplina de Química 
no Brasil havia uma verdadeira 
oscilação nos conteúdos abordados, de 
modo que ora os objetivos desse ensino 
eram voltados às questões utilitárias e 
cotidianas, ora eram centrados nos 
pressupostos científicos (LOPES, 
1998). 
Nesse clima de incertezas e 
autoafirmação da disciplina de Química 
no Brasil, foi criado em 1837 o Colégio 
Pedro II. Um dos grandes objetivos da 
criação dessa escola foi o de servir de 
modelo para os outros estabelecimentos 
de ensino e estruturar o ensino 
secundário brasileiro e, para isso, o 
currículo aí implantado contava com 
disciplinas científicas (ROSA; TOSTA, 
2005). 
 
 
Colégio D. Pedro II, em 1856. 
 
 
 
76 
No entanto, foi somente a partir de 1887 
que conhecimentos de Ciências Físicas 
e Naturais começaram a ser exigidas 
nos exames de acesso aos cursos 
superiores, principalmente ao de 
Medicina. Até esta data, as disciplinas 
que abordavam esses conhecimentos 
não eram procuradas, ainda mais que 
eram disciplinas avulsas (CHASSOT, 
1996). 
O Ensino de Química no Brasil depois 
do Império 
Apesar de D. Pedro II ter demonstrado 
grandes interesses pelos conhecimentos 
químicos, a primeira escola brasileira 
destinada a formar profissionais para a 
indústria química só foi criada no 
período republicano. Foi o Instituto de 
Química do Rio de Janeiro, no começo 
do século XX, em 1918. Nesse mesmo 
ano, na Escola Politécnica de São Paulo, 
foi criado o curso de Química e, 
paulatinamente, a pesquisa científica foi 
se desenvolvendo nessas instituições. 
Em 1920, foi criado o curso de Química 
Industrial Agrícola em associação à 
Escola Superior de Agricultura e 
Medicina Veterinária e, em 1933, esta 
deu origem à Escola Nacional de 
Química no Rio de Janeiro (SILVA et 
al., 2006). 
No ano de 1934, foi criado o 
Departamento de Química da Faculdade 
de Filosofia, Ciências e Letras da 
Universidade de São Paulo (USP), a 
primeira universidade do país e fundada 
no mesmo ano. Esse departamento é 
considerado a primeira instituição 
brasileira criada com objetivos 
explícitos de formar químicos 
cientificamente preparados. Ressalte-se 
que hoje, tendo se transformado no 
Instituto de Química da USP, é destaque 
internacional em pesquisas químicas 
(MATHIAS, 1979). 
 
 
Vista aérea do atual Instituto de Química da USP. 
 
No Ensino Secundário brasileiro, a 
Química começou a ser ministrada 
como disciplina regular somente a partir 
de 1931, com a reforma educacional 
Francisco Campos. Segundo 
documentos da época, o ensino de 
 
 
 
77 
Química tinha por objetivos dotar o 
aluno de conhecimentos específicos, 
despertar-lhe o interesse pela ciência e 
mostrar a relação desses conhecimentos 
com o cotidiano (MACEDO; LOPES, 
2002). 
No entanto, essa visão do científico 
relacionado ao cotidiano foi perdendo 
força ao longo dos tempos e, com a 
reforma da educação promovida pela 
Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
no 5.692 de 1971, pela qual foi criado o 
ensino médio profissionalizante, foi 
imposto ao ensino de Química um 
caráter exclusivamente técnico-
científico. Alguns estudiosos do campo 
do currículo afirmam que as disciplinas 
relacionadas às ciências só se 
constituíram definitivamente como 
componentes curriculares, quando se 
aproximaram das vertentes que deram 
origem aos seus saberes puramente 
científicos (SCHEFFER, 1997). 
Até o início dos anosde 1980 havia 
duas modalidades que regiam o ensino 
médio brasileiro. A modalidade 
humanístico-científica se constituía 
numa fase de transição para a 
universidade e preparava jovens para ter 
acesso a uma formação superior. A 
modalidade técnica visava uma 
formação profissional do estudante. 
Essas duas vertentes não conseguiram 
atender a demanda da sociedade e, por 
isso, agonizaram durante muito tempo, 
até praticamente se extinguirem nos 
últimos anos do século XX (MARTINS, 
2010). 
Os anos de 1990 são caracterizados por 
uma reforma profunda no Ensino Médio 
brasileiro. Com a LDB nº 9.394 de 
1996, o MEC (Ministério da Educação) 
lançou o Programa de Reforma do 
Ensino Profissionalizante, as Diretrizes 
Curriculares Nacionais para o Ensino 
Médio (DCNEM) e os Parâmetros 
Curriculares Nacionais para o Ensino 
Médio (PCNEM). Esses documentos 
atendiam a exigência de uma integração 
brasileira ao movimento mundial de 
reforma dos sistemas de ensino, que 
demandavam transformações culturais, 
sociais e econômicas exigidas pelo 
processo de globalização. Em se 
tratando de Ensino de Química e dos 
conhecimentos neles envolvidos, a 
proposta dos PCNEM é que sejam 
explicitados a multidimensionalidade, o 
dinamismo e o caráter epistemológico 
de seus conteúdos. Assim, severas 
modificações no currículo dos livros 
didáticos e nas diretrizes metodológicas 
estão sendo conduzidas, a fim de 
romper com o tradicionalismo que 
fortemente ainda se impõe (BRASIL, 
1999). 
Segundo a LDB, uma educação básica 
deve suprir os jovens que atingem o 
final do Ensino Médio de competências 
e habilidades adequadas, de modo que 
sua formação tenha permitido galgar os 
quatro pilares da educação do século 
XXI: aprender a conhecer, aprender a 
fazer, aprender a viver juntos e aprender 
a ser (MÁRCIO, 2011). 
Um Ensino Médio significativo exige 
que a Química assuma seu verdadeiro 
valor cultural enquanto instrumento 
fundamental numa educação humana de 
qualidade, constituindo-se num meio 
coadjuvante no conhecimento do 
universo, na interpretação do mundo e 
na responsabilidade ativa da realidade 
em que se vive. Com esta visão, em 
2002, foram divulgados os PCN+ 
(Orientações Educacionais 
Complementares aos Parâmetros 
Curriculares Nacionais) direcionados 
aos professores e aos gestores de 
escolas. Estes documentos apresentam 
diretrizes mais específicas sobre como 
utilizar os conteúdos estruturadores do 
currículo escolar, objetivando o 
 
 
 
78 
aprofundamento das propostas dos 
PCNEM (BRASIL, 2002). 
Na estruturação das práticas de Ensino 
de Química, é de grande importância 
utilizar uma abordagem destacando a 
visão dos conhecimentos por ela 
desenvolvidos numa perspectiva de 
construção histórica da natureza 
humana. O conhecimento químico, 
constituído de processos sistemáticos 
que permeiam o contexto sociocultural 
da humanidade, deveria ser usado de 
forma contextualizada e significativa 
para o educando. Esta abordagem 
demanda o uso de uma linguagem 
própria e de modelos diversificados 
(LIMA, 2012). 
Considerações finais 
Atualmente no Brasil existe um grande 
número de cursos de Química, tanto de 
nível médio quanto de nível superior. 
Praticamente todas as universidades, 
sejam principalmente da esfera estadual 
ou federal e os institutos federais de 
educação, oferecem cursos de 
graduação em Química e/ou em áreas 
afins. Muitas dessas instituições já 
contam também com programas de pós-
graduação em Química, tendo o Ensino 
de Química como uma das áreas de 
concentração do mestrado e do 
doutorado. 
Práticas laboratoriais e oportunidades 
para a iniciação científica, além de uma 
razoável disponibilidade de periódicos, 
publicações científicas e de farto 
material em português, têm contribuído 
para a desmistificação do ensino da 
Química. 
O contexto do mundo globalizado exige 
do estudante a capacidade de analisar, 
julgar, se posicionar e tomar decisões 
pelas quais ele se sinta responsável e 
possa ser responsabilizado. Não é mais 
cabível um ensino de Química que 
apenas treina o aluno a dar respostas 
prontas e acabadas. Além disso, a 
grande complexidade do contexto 
mundial não admite mais um ensino que 
apenas prepara o aluno para um 
vestibular. 
Neste sentido, destacamos uma das mais 
importantes medidas estabelecidas pelo 
MEC para a formação de professores da 
Educação Básica. O artigo 7º da 
Resolução no 001/2002-CNE/CP/MEC 
determina que os Cursos de 
Licenciatura tenham identidade própria 
e, portanto, devem ser desatrelados dos 
seus respectivos bacharelados. 
Praticamente todas as instituições que 
oferecem cursos de formação de 
professores já se adequaram a esta 
exigência. Desse modo, esperamos que 
as Licenciaturas em Química espalhadas 
por todo país possam desempenhar 
verdadeiramente o seu papel: formar 
professores competentes e habilitados a 
dar significado ao aprendizado de 
Química para nossos estudantes do 
Ensino Básico. 
 
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79 
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Recebido: 2012-11-11 
Publicado: 2013-01-03

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