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arrolamento dos bens

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2019 - 05 - 14 
Manual das
sucessões - Ed.
2018
Revista dos Tribunais
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58. ARROLAMENTO
2019 - 05 - 14 
Manual das sucessões - Ed. 2018
III - PROCESSO SUCESSÓRIO
58. ARROLAMENTO
58. ARROLAMENTO
SUMÁRIO: 58.1 Possibilidades – 58.2 Arrolamento sumário – 58.3 Arrolamento comum – Leitura
complementar.
Referências legais: CC 2.015; CPC 659 a 667.
58.1. Possibilidades
O Código Civil admite a partilha amigável por meio de escritura pública, termo nos autos do
inventário ou simples escrito particular homologado pelo juiz (CC 2.015). A lei processual oferece
duas modalidades de arrolamento judicial: o sumário, quando há concordância de todos os
herdeiros maiores e capazes (CPC 659 a 667); e o comum, condicionado somente ao valor da
herança (CPC 664).
Diante da possibilidade de o inventário e a partilha ser levados a efeito por escritura pública
(CPC 610 § 1º), dispensando a intervenção judicial, praticamente caiu em desuso o arrolamento. De
qualquer modo – e inexplicavelmente –, a forma extrajudicial é somente uma faculdade, podendo
as partes optar pela via judicial. Ora, sempre que há acordo entre os herdeiros sobre a partilha dos
bens, sendo todos maiores e capazes, é de todo injustificável admitir o uso da via judicial, o que
transforma o juiz em mero chancelador, atividade muito mais afeita aos notários. Mas como a lei
utiliza a expressão “poderão ser feitos por escritura pública”, descabe a extinção do procedimento
judicial para impor a via extrajudicial.
Do mesmo modo, somente o fato de existir testamento não deveria obrigar a abertura de
inventário judicial. Quando não existir dúvida ou divergência de interpretação sobre a vontade do
testador, poderia ser facultado que o inventário fosse extrajudicial, contanto que todos os
herdeiros sejam maiores, capazes e concordem sobre a partilha. Até porque pode ser que o
testamento não traga disposições de natureza patrimonial, ou o faça de maneira muito clara, sem
da margem a qualquer dúvida.
No caso de adjudicação, quando há um único herdeiro, por mais absurdo que possa ser, se
houver testamento, não há a possibilidade de ser feito o inventário por escritura pública.
Alguns juízes, quando procedem ao registro do testamento, têm autorizado que o inventário
seja levado a efeito extrajudicialmente. Tal não gera qualquer mácula na divisão dos bens e não há
a possibilidade de impugnação por ninguém. É só preciso uma dose de bom senso.
58.2. Arrolamento sumário
Sendo todos os herdeiros maiores e capazes e estando de acordo quanto à partilha, é possível o
uso do arrolamento sumário (CPC 659 a 667). Recebe esse nome da doutrina por ser a forma mais
breve de se proceder à partilha judicial. O arrolamento é um instituto autônomo, e não um rito
procedimental do processo de inventário. Trata-se de procedimento de jurisdição voluntária que
reduz atos e simplifica prazos. Visando rapidez e economia processual, é a forma simplificada de
inventário-partilha. Não dispensa intervenção judicial, em face dos interesses de terceiros na
liquidação da herança, mas agiliza o procedimento, com sua abreviação, em casos especiais.1
Quando os herdeiros são capazes e a partilha é amigável, seu uso só se justifica se houver
testamento; caso contrário, mais ágil e mais barata é a via extrajudicial.
O arrolamento sumário distingue-se do arrolamento comum, que está condicionado
unicamente ao valor dos bens do acervo hereditário. Havendo herdeiros incapazes, ausentes,
testamento ou dissenso entre os herdeiros, o rito é o do arrolamento comum (CPC 664).
O arrolamento sumário é promovido por todos os herdeiros. O meeiro, ainda que não seja
herdeiro, precisa comparecer para a individualização de sua meação. Todos podem ser
representados por um mesmo procurador, mas nada impede que alguns tenham advogado
próprio. De qualquer modo, todos precisam estar representados. Havendo herdeiro único, basta o
pedido de adjudicação (CPC 659 1º).
Na inicial, deve constar a declaração de bens com a atribuição de valores e a indicação da
forma da partilha. Também deve ser indicado o inventariante, que é de livre escolha entre os
herdeiros, sem necessidade de obediência à ordem legal. Como são dispensados termos de
qualquer espécie, o inventariante não precisa prestar compromisso (CPC 660).
O valor da causa deve corresponder ao montante do acervo partilhável. A meação do cônjuge
ou parceiro sobrevivente e as dívidas do espólio são excluídas da base de cálculo para o
recolhimento das custas processuais e taxa judiciária.
Mesmo que exista testamento, não há a intervenção do Ministério Público, que só participa do
inútil procedimento de registro do testamento (CPC 735 § 2º).
Mesmo que tenha havido adiantamento de legítima e exista a necessidade de herdeiros
trazerem à colação os bens recebidos por doação, é possível o uso do arrolamento.
Nem mesmo a presença de credores inibe o rito breve. O crédito só precisa ser líquido e certo
mediante prova literal da dívida. Com isso, se processa a reserva de bens (CPC 663). Esta é a única
circunstância que pode ensejar a avaliação, não dos bens do espólio, mas daqueles a serem
reservados. Feita a reserva, cabe a partilha do restante do patrimônio. Basta todos os herdeiros
apresentarem a partilha respeitando a reserva feita.
Transitada em julgado a sentença, a Fazenda Pública é intimada para lançar
administrativamente o imposto de transmissão, sem ficar adstrita aos valores atribuídos pelos
herdeiros (CPC 659 § 2º). A lei processual excepciona a previsão do art. 192 do Código Tributário
Nacional, de que nenhuma sentença de julgamento de partilha ou adjudicação será proferida sem
prova da quitação de todos os tributos relativos aos bens do espólio ou às suas rendas.2 O não
pagamento dos tributos não impede a homologação da partilha, somente a expedição dos formais
ou de alvarás.
Reconhecida a existência de diferenças, deve a Fazenda Pública fazer uso de processo
administrativo para exigir eventual complementação do imposto como crédito tributário (CPC 662
§ 1.º).
Como a atividade do juiz é meramente homologatória, o processo é alvo de ação de anulação,
não de ação rescisória.3
58.3. Arrolamento comum
Outra forma de partilha é o chamado arrolamento comum (CPC 664). Quase um mini-
inventário, condicionado ao valor do espólio. Não pode ser superior a mil salários mínimos. Sua
adoção é de natureza cogente, pois é utilizado o verbo em sua forma futura “processar-se-á”.
Difere do arrolamento sumário, porque neste a condição básica é a concordância das partes
capazes, enquanto no comum basta ser reduzido o valor da herança. O procedimento não se
distancia do inventário solene, havendo a supressão de algumas solenidades.
Quando há interesse de incapaz, é possível sua utilização, contanto que haja a concordância de
todas as partes e do Ministério Público (CPC 665).
Na petição de abertura do arrolamento, deve haver a indicação do inventariante. Sua
nomeação independe de compromisso. Ao prestar as declarações, o inventariante deve atribuir
valor aos bens e já apresentar o plano de partilha.
Feita a citação dos herdeiros, havendo impugnação de qualquer das partes, deve ser procedida
a avaliação dos bens.
É dispensável a realização de audiência para que o juiz delibere sobre a partilha e determine o
pagamento das dívidas. Mas fica ao seu arbítrio decidir sobre a necessidade do ato.
Não são conhecidas ou apreciadas questões relativas ao lançamento, pagamento ou quitação da
taxa judiciária ou imposto de transmissão, não ficando a autoridade fazendária adstrita aos
valores atribuídos pelos herdeiros (CPC 662).
Reconhecida a existência de diferenças, deve a Fazenda Pública fazer uso de processo
administrativo para exigir eventual complementação do imposto como crédito tributário (CPC 662
§ 1.º).
Com a prova do pagamento dos encargos fiscais e do imposto de transmissão, o juiz julgaa
partilha (CPC 664 § 5.º).
Leitura complementar
OLIVEIRA, Euclides de; AMORIM, Sebastião. Inventário e partilha. 24 ed. São Paulo: Saraiva,
2017.
COSER, José Reinaldo. Direito das Sucessões: Do inventário e da partilha. Anotado. 4. ed. São
Paulo: CL Edijur, 2015.
OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Inventário e partilha. In: HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes
Novaes; PEREIRA, Rodrigo da Cunha (coords.). Direito das sucessões. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2007. p. 399-452.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Sucessões. 9. ed. São Paulo: Método, 2018. v. 6.
___. O novo CPC e o Direito Civil. Impactos, diálogo e interações. Rio de Janeiro: Forense, São
Paulo: Método, 2015.
FOOTNOTES
1
Euclides Benedito de Oliveira e Sebastião Amorim, Inventários e partilhas, 453.
2
Rodrigo Ramina de Lucca, Breves comentários ao novo CPC, 1.560.
3
© desta edição [2018]
Recurso especial. Processual civil e sucessões. Partilha amigável e partilha judicial. Arrolamento. Ação
anulatória de partilha. Possibilidade (CPC [de 1973], art. 1.031). Violação caracterizada. Recurso provido.
1. Analisando a sentença e o v. acórdão estadual, que divergem ao interpretar a forma de partilha, é
forçoso reconhecer a ocorrência de partilha amigável, pois presentes os seus requisitos. 2. A partilha
amigável (CC/1916, art. 1.773; CC/2002, art. 2.015) é passível de anulação, nos termos dos arts. 486, 1.029 e
1.031 do CPC [de 1973], enquanto a partilha judicial é rescindível, conforme preconizam os arts. 485 e
1.030 do CPC [de 1973]. 3. No caso em liça, ocorrida a partilha amigável, cabível é a ação de anulação da
partilha. Assim, o pedido posto na exordial não é juridicamente impossível, motivo pelo qual deve ser
reformado o v. acórdão estadual, reconhecendo-se não caracterizada a carência da ação. 4. Recurso
especial provido. (STJ, REsp 803.608/MG, 4ª T., Rel. Min. Raul Araújo, p. 25/03/2014).

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