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Pessoas Naturais: Personalidade, Capacidade e Emancipação

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DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO DO TJDFT 
PROFESSOR LAURO ESCOBAR 
 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11 
 
AULA 02 
 
DAS PESSOAS NATURAIS 
 
 
��� Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula →→→ 2 
Pessoas naturais. 2.1 Existência. 2.2 Personalidade. 2.3 Capacidade. 2.4 Nome. 
2.5 Estado. 2.6 Domicílio. 2.7 Direitos da personalidade. 2.8 Ausência. 
Subitens →→→ Pessoa Natural. Conceito. Existência. Personalidade: Início 
(nascituro), Individualização (nome, estado e domicílio civil) e Extinção (morte e 
ausência). Direitos da Personalidade. Capacidade: classificação. Incapacidade. 
Emancipação. Registro e Averbação. 
���Legislação a ser consultada →→→ Código Civil: arts. 1° ao 39 (Pessoas 
Naturais) e 70 a 78 (Domicílio). 
ÍNDICE 
PERSONALIDADE DA PESSOA NATURAL ............................... 02 
Início .............................................................................. 02 
Nascituro .................................................................... 03 
Direito de Personalidade ........................................... 07 
Individualização ............................................................. 11 
Nome .......................................................................... 11 
Estado ......................................................................... 14 
Domicílio ..................................................................... 15 
Fim da Personalidade ...................................................... 18 
Morte Presumida .......................................................... 19 
Comoriência ................................................................. 22 
CAPACIDADE ......................................................................... 23 
 Absolutamente Incapazes ................................................ 25 
 Relativamente Incapazes ................................................. 26 
 Capacidade Plena ............................................................. 29 
EMANCIPAÇÃO ...................................................................... 30 
Registro e Averbação ............................................................ 33 
RESUMO DA AULA ................................................................. 34 
Bibliografia básica ................................................................ 37 
EXERCÍCIOS COMENTADOS ................................................... 38 
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Meus amigos e alunos. 
Após a análise da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (que 
não faz parte do Código Civil, mas está previsto em nosso edital), vamos 
analisar nesta aula o tema “Pessoas”, que é o primeiro ponto do Código Civil 
(Parte Geral). Lembrem-se que estamos às ordens no fórum para 
esclarecer eventuais dúvidas. OK? Então vamos então começar... 
Genericamente, podemos conceituar pessoa como sendo todo ente 
físico ou jurídico, suscetível de direitos e obrigações; é sinônimo de sujeito 
de direitos. No Brasil temos duas espécies de pessoas: as naturais e as 
jurídicas. Ambas possuem aptidão para adquirir direitos e contrair 
obrigações. Veremos hoje as Pessoas Naturais ou Físicas (a expressão 
pessoa natural é mais técnica), abordando, basicamente, três aspectos: 
personalidade, capacidade e emancipação. Na próxima aula analisaremos as 
Pessoas Jurídicas. 
PERSONALIDADE DA PESSOA NATURAL 
Personalidade é o conjunto de caracteres próprios da pessoa, 
reconhecida pela ordem jurídica a alguém, sendo a aptidão para adquirir 
direitos e contrair obrigações. É atributo da dignidade do homem. Prevê o art. 
1° do Código Civil que: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na 
ordem civil”. Assim, o conceito de pessoa inclui homens, mulheres e crianças. 
Ou seja, qualquer ser humano sem distinção de idade, saúde mental, sexo, 
cor, raça, credo, nacionalidade, etc. Por outro lado exclui os animais (que 
gozam de proteção legal, mas não são sujeitos de direito), os seres 
inanimados, etc. 
���Concluindo: pessoa natural (ou física) é o próprio ser humano. 
INÍCIO DA PERSONALIDADE 
Há muita polêmica doutrinária envolvendo o início da personalidade civil. 
São três as principais teorias sobre o tema: 
a) Teoria Concepcionista: a personalidade tem início com a concepção; 
ou seja, com a própria gravidez (momento em que o óvulo fecundado pelo 
espermatozoide se junta à parede do útero). 
b) Teoria Natalista: a personalidade se inicia a partir do nascimento da 
criança com vida. 
c) Teoria da Viabilidade: pressupõe a possibilidade de sobrevivência da 
criança. Países que adotam esta teoria entendem que se uma criança nasceu 
com uma doença que a levará a morte em poucos dias, não haverá a aquisição 
da personalidade. 
No Brasil a doutrina se manifesta de forma divergente, pois, se por um 
lado a lei estabelece que a personalidade civil tem início com o nascimento 
com vida, o mesmo dispositivo a seguir assegura ao nascituro direitos desde 
sua concepção. 
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No concurso como eu faço? Em uma prova objetiva o aluno deve se 
limitar ao texto expresso da lei. Na omissão da banca opte pela teoria 
natalista, que ainda é a mais aceita nos concursos. Em um prova dissertativa 
cite as três teorias, expondo que no Brasil há ferrenhos defensores da 
concepção e da natalidade, abordando os aspectos mais relevantes de cada 
uma. Lembrem-se: a tendência atual é proteger, cada vez mais, o nascituro e 
seus direitos desde a concepção. As principais bancas examinadoras (ESAF, 
FCC e CESPE) já perguntaram em provas se o nascituro possui “personalidade 
jurídica material”. E a resposta, pelo gabarito oficial foi negativa... ou seja, o 
nascituro possui apenas os requisitos formais da personalidade civil. Os 
requisitos materiais são adquiridos somente após o nascimento com vida. 
Analisando o texto legal, podemos afirmar que a personalidade da 
pessoa natural ou física inicia-se com o nascimento com vida, ainda que por 
poucos momentos. Esta é a primeira parte do art. 2° do CC. Se a criança 
nascer com vida, ainda que por um instante, já adquire a personalidade. 
Ocorre o nascimento quando a criança é separada do ventre materno 
(parto natural ou por intervenção cirúrgica), mesmo que ainda não tenha sido 
cortado o cordão umbilical. Além disso, é necessário que tenha respirado. Há 
nascimento e há parto quando a criança, deixando o útero materno, respira. 
Portanto... se o recém-nascido respirou... nasceu com vida. E é nesse 
momento que a personalidade civil terá início em sua plenitude, com todos os 
efeitos subsequentes, conforme veremos. 
E para se saber se nasceu viva e em seguida morreu, ou se já nasceu 
morta, é realizado um exame chamado de docimasia hidrostática de Galeno, 
que consiste em colocar o pulmão da criança morta em uma solução líquida; se 
flutuar é sinal que a criança chegou a dar pelo menos uma inspirada e, 
portanto, nasceu com vida; se afundar, é sinal que não chegou a respirar e, 
portanto, nasceu morta, não recebendo e nem transmitindo direitos. No 
entanto, atualmente a medicina dispõe de técnicas mais modernas e eficazes 
para tal constatação. 
���Não caiam em pegadinhas ��� Apesar de polêmica, esta questão tem sido 
muito comum em concursos. Geralmente o examinador coloca uma alternativa 
dizendo que a personalidade se inicia somente com a concepção (gravidez) da 
mulher. Ou afirmando que a criança deva ter viabilidade (que é a perfeição 
orgânica suficiente para continuar com vida, ou seja, que o recém-nascido 
tenha perspectiva de sobrevivência). Outra situação que é colocadaé a de que 
a criança somente teria personalidade se nascer com “forma humana” (ou 
seja, não tenha anomalias ou deformidades). E até mesmo que a 
personalidade somente teria início com o “corte do cordão umbilical ou quando 
desprendida a placenta”. Estas hipóteses não foram aceitas pelo nosso Direito. 
NASCITURO 
O termo nascituro significa “aquele que há de nascer”. É o ente que já 
foi gerado ou concebido, mas ainda não nasceu, embora tenha vida 
intrauterina e natureza humana. Tecnicamente (teoria natalista), ele não tem 
personalidade, pois ainda não é pessoa sob o ponto de vista jurídico. Mas 
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apesar de não ter personalidade jurídica, a lei põe a salvo os direitos do 
nascituro desde a concepção. Trata-se da segunda parte do art. 2°, CC. Na 
realidade o nascituro tem uma expectativa de direito. Ex.: o nascituro tem o 
direito de nascer e de viver (o aborto é considerado como crime: arts. 124 a 
127 do Código Penal, salvo raríssimas exceções previstas em lei). 
 Proteção ao nascituro. Ele é titular de direitos personalíssimos: vida, 
honra, imagem, etc.; tem direito à filiação, direito de ser contemplado por 
doação ou por testamento (legado ou herança), sem prejuízo do recolhimento 
do imposto de transmissão, sendo nomeado um curador para a defesa de seus 
interesses, etc. Além disso, o art. 8° do Estatuto da Criança e do Adolescente 
(Lei n° 8.069/90 – ECA) determina que a gestante tem condições de obter 
judicialmente os alimentos para garantia do bom desenvolvimento do feto 
(alimentos gravídicos), adequada assistência pré-natal, como consultas 
médicas, remédios, etc. 
O principal direito do nascituro é o de ter direito à sucessão. Se ele já 
foi concebido no momento da abertura da sucessão (morte do de cujus) 
legitima-se a suceder de forma legítima (conferir arts. 1.784 e 1.798, CC). 
Também se legitimam a suceder por testamento “os filhos ainda não 
concebidos de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-
se a sucessão” (art. 1.799, I, CC). 
Por tal motivo, tendo já tantos “direitos”, é que está crescendo a teoria 
concepcionista, considerando o nascituro como sendo uma Pessoa Natural. 
Justifica-se esta posição porque somente uma pessoa pode ser titular de 
direitos... e o art. 2°, CC afirma que o nascituro tem direitos... logo, tendo 
direitos, ele já poderia ser considerado como tendo personalidade. A situação 
fica ainda mais definida (segundo os seguidores desta teoria) com o art. 542, 
CC que estabelece: “A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu 
representante legal”. Ainda assim, será uma “doação condicional”, pois 
somente se concretizará se o nascituro nascer com vida. Isso ocorrendo, 
receberá o direito, no entanto, as obrigações acompanham esse direito. Ou 
seja, ficará obrigado ao pagamento de impostos, como o da transmissão do 
bem (ITCMD, IPTU, etc.). Assim, mesmo sendo recém-nascido, houve o fato 
gerador (transmissão o bem), passando, a partir daí a ser sujeito passivo de 
obrigação tributária. 
Polêmicas à parte, o que se pode afirmar, sem medo de errar, é que o 
nascituro é titular de um direito eventual. Exemplo: homem falece 
deixando a esposa grávida. Não se pode concluir o processo de inventário e 
partilha enquanto a criança não nascer. O nascituro, nesta hipótese, tem 
direito ao resguardo à herança. Os direitos assegurados ao nascituro estão 
em estado potencial, sob condição suspensiva: só terão eficácia se nascer 
com vida. A representação do nascituro se dá por intermédio de seus pais. 
Nascendo com vida, as expectativas de direito se transformam em direitos 
subjetivos e a sua existência, no tocante aos seus interesses, retroage ao 
momento de sua concepção. 
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� Mas há um problema, de ordem filosófica, religiosa e jurídica envolvendo o 
nascituro. Isto devido ao avanço da medicina, com as técnicas de fertilização in 
vitro. Indaga-se: qual o momento em que podemos usar o termo nascituro de 
uma forma técnica? Uma corrente afirma que a vida tem início legal no 
momento da penetração do espermatozoide no óvulo, mesmo que fora do 
corpo da mulher. Para outra corrente a vida somente teria início com a 
concepção no ventre materno (embora ainda não se possa considerar como 
sendo uma pessoa). Isto porque é com a nidação (fixação do óvulo fecundado 
no útero) que se garante eventual gestação e o nascimento. Portanto somente 
será considerado como nascituro, o óvulo fecundado que for implantado no 
útero materno. Assim, o embrião humano congelado não poderia ser tido como 
nascituro, embora tenha proteção jurídica como pessoa virtual, com uma carga 
genética própria. 
Com o objetivo de regulamentar o art. 225, §1°, inciso II da CF/88, foi 
editada inicialmente a Lei n° 8.974/95, proibindo e considerando como crime a 
manipulação genética de células humanas, a intervenção em material genético 
humano e a produção, guarda e manipulação de embriões humanos destinados 
a servir como material biológico disponível. No entanto foi aprovada a Lei n° 
11.105/05, dividindo opiniões: trouxe esperança para alguns e indignação para 
outros. Pela nova lei é permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização 
de células-tronco embrionárias, obtidas de embriões humanos produzidos por 
fertilização in vitro, desde que: a) sejam inviáveis, ou estejam congelados há 
três anos ou mais; b) haja consentimento dos seus genitores. 
�Importância de se nascer com vida � 
Como vimos, o nascituro tem apenas expectativa de vida e é 
importante que nasça vivo, nem que seja por um segundo. Se nascer vivo, 
adquire personalidade. Será um sujeito de direitos e obrigações. No entanto, 
caso nasça morto, nenhum direito terá adquirido e/ou transmitido. Observem. 
 Demonstração Ordem de vocação hereditária 
1. Descendentes (em concorrência com o 
cônjuge sobrevivente): filhos, netos, bisnetos, 
etc. 
2. Ascendentes (em concorrência com o 
cônjuge sobrevivente): pais, avós, bisavós, 
etc. 
3. Cônjuge sobrevivente. 
4. Colaterais até o 4° grau: irmãos, sobrinhos, 
tios, primos, etc. 
Levando em consideração o quadro demonstrativo acima, suponhamos 
que X comprou um apartamento e a seguir se casou com Y pelo regime de 
separação parcial de bens. Faleceu um ano depois, deixando viúva grávida, 
pais vivos e apenas aquele apartamento para ser partilhado. Para saber quem 
será o proprietário do imóvel devemos aguardar o nascimento de Z. Não se 
A B 
X Y 
Z 
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pode fazer a partilha antes de seu nascimento. Vejamos as situações que 
podem ocorrer a partir daí. 
 Situações 
1) Se Z (filho de X - descendente) nascer morto, o apartamento irá para 
A e B, que são os pais (ascendentes) de X (observe o quadro da ordem de 
vocação hereditária). Neste caso Y (que é o cônjuge sobrevivente) também 
terá direitos sucessórios, pois atualmente é considerado herdeiro necessário e 
concorre com os ascendentes do falecido. 
2) Se Z (descendente) nascer vivo, herdará o imóvel, em concorrência 
com sua a mãe Y, pois como vimos atualmente o cônjuge é considerado 
herdeiro necessário e também concorre na herança com os descendentes do 
falecido. Observem que neste caso os pais de X nada herdarão. 
3) Se Z nascer vivo e logo depois morrer, os bens irão todos para sua 
mãe. Isto porque inicialmente Z herdará parte dos bens de seu pai; no 
instante em que nasceu vivo, ele foi um ‘sujeito de direito’. Morrendo a seguir, 
transmite tudo o que recebeua seus herdeiros. Como não tinha descendentes 
e nem cônjuge (até porque era recém-nascido) e seu pai já havia falecido, seu 
único herdeiro será o ascendente remanescente, ou seja, sua mãe. Neste caso 
A e B nada herdarão. 
É necessário dizer ainda, que todo nascimento deve ser registrado, 
mesmo que a criança tenha nascido morta ou morrido durante o parto. Se for 
natimorta, o assento será feito no “Livro C Auxiliar". Neste livro irá constar 
apenas: “o natimorto de Dona Fulana...”. Ou seja, pela nossa lei não se dá 
nome ao natimorto. No entanto, parte da doutrina entende que o “natimorto 
tem humanidade” e por isso teria direito a um nome. Sobre o tema, temos o 
Enunciado 01 da I Jornada de Direito Civil do STJ: “A proteção que o Código 
confere ao nascituro alcança o natimorto, no que concerne aos direito da 
personalidade, tais como o nome, imagem e sepultura”. 
Por outro lado, é inquestionável que se a criança nasceu viva e logo 
depois morreu (chegou a respirar), serão feitos dois registros: o do 
nascimento (constando o nome da criança, pois naqueles poucos segundos a 
criança teve personalidade) e logo depois o de óbito. 
 Observações 
01) Durante nosso curso, às vezes, vamos mencionar a expressão 
“Jornadas do STJ”. Na realidade estas “jornadas” foram encontros de 
pessoas ligadas ao Direito Civil, promovidas pelo Centro de Estudos Judiciários 
do Conselho da Justiça Federal, sob os auspícios do Superior Tribunal de 
Justiça em que foram aprovados alguns enunciados, que têm sido acolhidos 
pelo mundo jurídico. Quando nos referirmos a elas, vamos mencionar que 
jornada foi essa e o número do enunciado (como fizemos acima). 
02) Segundo a doutrina, nascituro é uma expressão mais ampla do que 
feto, pois este seria o nascituro somente depois que adquiriu a forma 
humana. 
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03) É importante salientar que a expressão natimorto não é considerada 
juridicamente técnica. O vocábulo é composto pelas palavras latinas natus 
(nascido) e mortus (morto), não tendo previsão no Código Civil. Possui um 
duplo sentido. Os dicionários jurídicos conceituam o natimorto como sendo 
"aquele que nasceu sem vida (morreu dentro do útero) OU aquele que veio à 
luz, com sinais de vida, mas, logo morreu (morreu durante o parto)". Portanto, 
qualquer uma dessas situações está correta para conceituar natimorto. 
DIREITOS DE PERSONALIDADE (arts. 11 a 21, CC) 
Os direitos de personalidade são atributos inerentes ao ser humano. 
Adquirindo personalidade (aptidão para adquirir direitos e contrair 
obrigações), o ser humano já adquire os chamados direitos de personalidade, 
ou seja, o direito de defender o que lhe é próprio, como sua integridade física 
ou corporal (vida, corpo, órgãos, voz, imagem, liberdade, identidade, 
alimentos, etc.), intelectual (liberdade de pensamento, autoria científica, 
artística e intelectual, etc.), moral (honra, segredo pessoal ou profissional, 
privacidade, imagem, opção religiosa, sexual, etc.). Os direitos de 
personalidade são subjetivos e seu titular pode exigir de todos que tais 
direitos lhe sejam respeitados. Por isso dizemos que eles são erga omnes 
(extensíveis a todos). 
Observem que a relação dos direitos de personalidade não é taxativa, 
mas apenas exemplificativa. Lembrem-se: a dignidade é um direito 
fundamental, previsto em nossa Constituição, que também prevê que são 
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, 
assegurando o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente 
dessa violação (confiram também o art. 5°, inciso X, CF/88). 
É interessante deixar claro uma leve nuance: os direitos fundamentais 
foram criados para proteger os indivíduos do Estado. Já os direitos de 
personalidade foram criados para proteger os indivíduos de si mesmos e de 
terceiros. 
Estabelece o art. 11, CC que com exceção dos casos previstos em lei, 
os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não 
podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. Assim, nem mesmo o 
agente pode renunciar a estes direitos, colocando-se em uma situação de risco 
e renunciando expressamente qualquer indenização futura decorrente de uma 
lesão a estes direitos. No entanto neste caso, levando-se em consideração o 
art. 945, CC, pode haver uma redução na indenização. 
Sobre o tema, vejamos o Enunciado 04 da I Jornada de Direito Civil do 
STJ: “Art. 11: o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação 
voluntária, desde que não seja permanente nem geral”. 
Apesar do Código fazer referência a apenas três características a respeito 
do direito de personalidade, a doutrina lhe dá maior extensão, afirmando que 
eles também são: 
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• Inatos: os direitos de personalidade já nascem com o seu titular e 
acompanham até sua morte; alguns direitos ultrapassam o evento morte 
(honra, memória, imagem, direitos autorais, etc.). 
• Absolutos: são oponíveis contra todos (erga omnes), impondo à 
coletividade o dever de respeitá-los. 
• Intransmissíveis: pertencem de forma indissolúvel ao próprio titular. 
Neste tópico, cabe uma observação: embora estes direitos sejam 
intransmissíveis em sua essência, os efeitos patrimoniais dos direitos de 
personalidade podem ser transmitidos. Ex.: a autoria de uma obra 
literária é intransmissível; porém podem ser negociados os direitos 
autorais sobre esta obra. Outro exemplo: cessão da imagem mediante 
retribuição financeira. 
• Vitalícios: acompanham a pessoa desde seu nascimento até a morte. 
• Indisponíveis: não podem ser cedidos, a título oneroso ou gratuito a 
terceiros. 
• Irrenunciáveis: não podem ser abandonados nem abdicados; nem mesmo 
o seu titular pode abrir mão deles. 
• Imprescritíveis: valem durante toda vida, não correndo os prazos 
prescricionais; podem ser reclamados judicialmente a qualquer tempo; 
não se extinguem pelo não uso ou inércia de seu titular nem pelo decurso 
de tempo. 
• Impenhoráveis: se não podem ser objeto de cessão ou venda, também 
não pode recair penhora sobre os mesmos. 
• Inexpropriáveis: ninguém pode removê-los de uma pessoa, nem ser 
objeto de usucapião. 
���Atenção ��� Já vi provas de concursos em que foram colocadas algumas 
das expressões acima nas alternativas e a afirmação foi considerada como 
errada. Isto porque apesar de serem consideradas corretas pela doutrina, não 
estavam previstas expressamente na lei. Portanto, cuidado... leiam bem o 
cabeçalho da questão e comparem bem as alternativas. Se houver 
ambiguidade, fique com o texto expresso da lei. 
 Vamos acompanhar os próximos dispositivos a respeito 
O art. 12 e seu parágrafo, CC prevê a possibilidade de exigir que 
cesse a ameaça ou a lesão a direito da personalidade, por meio de ação 
própria, sem prejuízo da reparação de eventuais danos materiais e 
morais suportados pela pessoa. Observem: cessar a ameaça ou lesão e 
perdas e danos. 
A lei prevê também a possibilidade de defesa do direito do morto, por 
meio de ação promovida por seus sucessores, ou seja, pelo cônjuge 
sobrevivente (embora não mencionado na lei, estende-se esse direito também 
aos companheiros), parentes em linha reta (descendentes ou ascendentes) e 
os colaterais até quarto grau (irmãos, tios, sobrinhos, primos, etc.). Percebe-
se, assim, que os direitos de personalidade se estendem desde a 
concepção, para além da vida da pessoa natural, tutelando a 
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personalidade do morto. Os parentes dele podempedir indenização em 
nome próprio, se provarem que os efeitos do ato ilícito repercutiram também 
em suas pessoas. Ou seja, o ato envolve determinada pessoa (que no caso já 
faleceu), mas também pode causar sofrimento a outras pessoas a ela ligadas 
por estreitos laços de parentesco que não foram diretamente atingidas. É o 
que se chama de dano reflexo (ou por ricochete). 
O corpo, como projeção física da individualidade humana, é inalienável. 
O art. 13 e seu parágrafo único, CC prevê o direito de disposição de partes, 
separadas do próprio corpo em vida para fins de transplante, ao prescrever 
que, “salvo por exigência médica, é defeso (proibido) o ato de disposição do 
próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, 
ou contrariar os bons costumes. O ato previsto neste artigo será admitido para 
fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial” (conferir com o art. 
199, §4°, CF/88). Em hipótese alguma será admitida a disposição onerosa de 
órgãos, partes ou tecido do corpo humano. É possível, também, com objetivo 
científico ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em 
parte, para depois da morte, podendo essa disposição ser revogada a qualquer 
momento (art. 14 e seu parágrafo único, CC). 
 Resumindo. A disposição sobre o próprio corpo: a) é proibida quando 
importar diminuição permanente da integridade física (salvo por exigência 
médica), ou contrariar os bons costumes; b) é válida com o objetivo científico 
ou altruístico, para depois da morte, ou, em vida, para fins de transplante. O 
Código Civil adotou o chamado princípio do consenso afirmativo (termo 
usado pela doutrina e que caiu em alguns concursos), segundo o qual o titular 
do direito pode manifestar sua vontade em ser doador de órgãos, mas a 
qualquer tempo pode revogar esta intenção. 
���OBSERVAÇÃO��� A Lei 9.434/97 (regulamentada pelo Decreto 2.268/97 e 
posteriormente alterada pela Lei 10.211/01) trata do assunto, estabelecendo 
as regras para transplantes. Permite-se a doação voluntária nas seguintes 
hipóteses: a) órgãos duplos (rins) e b) partes recuperáveis de órgão (fígado) 
ou de tecido (pele, medula óssea), sem que sobrevenham mutilações ou 
deformações. 
O art. 15, CC trata do direito do paciente, proibindo que uma pessoa 
seja constrangida a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a 
intervenção cirúrgica. Trata-se do princípio da autonomia do paciente (ou 
consentimento esclarecido). Não há mais a chamada supremacia do interesse 
médico-científico, que se invocava em nome da coletividade, em face ao 
interesse individual. Atribui-se à pessoa a opção ao tratamento médico ou 
intervenção cirúrgica para corrigir ou atenuar determinado mal ou doença. 
Todo procedimento médico deve ser precedido de esclarecimentos e 
concordância do paciente. O direito não pertence ao médico, à ciência, ou à 
família, mas, exclusivamente, ao paciente que após ser informado do seu 
estado de saúde e das alternativas terapêuticas, decidirá se se submete ou não 
ao tratamento ou à intervenção cirúrgica. Mesmo que saiba ou tenha 
consciência de que isso abreviará a sua expectativa da vida. Excetuam-se 
algumas hipóteses (ex.: a pessoa não consegue expressar a sua vontade) em 
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que o direito se desloca para a família do enfermo. E em situações extremas, à 
presença do estado de necessidade, em evidente risco de vida, pode o médico 
realizar a intervenção necessária sem o consentimento de quem de direito. 
Notem agora que os artigos de 16 a 19 do Código Civil tutelam o 
direito ao nome (falaremos sobre ele logo adiante, em um item especial) e 
contra o atentado de terceiros, expondo-o ao desprezo público, ao ridículo, 
acarretando dano moral ou patrimonial. 
O art. 20, CC tutela, de forma autônoma, o direito à imagem e os 
direitos a ele conexos (art. 5°, XXVIII, letra “a”, CF/88). Dividem-se em a) 
imagem-retrato: é a representação física da pessoa, implicando o 
reconhecimento de seu titular por meio de fotografia, escultura, desenho, 
pintura, interpretação dramática, cinematográfica, televisiva, sites, etc.; b) 
imagem-atributo: refere-se ao conjunto de caracteres e qualidades 
cultivadas pela pessoa, como a habilidade, competência, lealdade, etc.; é a 
repercussão social da imagem. A redação do dispositivo é um pouco confusa. E 
os examinadores aproveitam isso para exigir questões sobre o tema. Por isso, 
vamos aprofundar. 
O direito à imagem se refere ao direito de ninguém ver seu rosto 
estampado em público ou comercializado sem seu consenso e o de não ter sua 
personalidade alterada, material ou intelectualmente, causando dano à sua 
reputação. Como normalmente ocorre, há certas limitações ao direito de 
imagem, com dispensa da anuência para sua divulgação. Vejamos algumas 
situações: a) pessoas famosas (ex.: artistas, políticos, etc.), pois elas têm 
sua imagem divulgada em razão de sua atividade; mas mesmo assim, não 
pode haver abusos, pois a sua vida íntima deve ser preservada; b) 
necessidade de divulgação da imagem por questões de segurança pública (ex.: 
publicação da fotografia de um perigoso marginal procurado pela polícia); c) 
quando se obtém uma imagem, mas a pessoa é tão somente parte do cenário, 
pois o que se pretende divulgar é o acontecimento em si (ex.: um congresso, 
uma exposição de objetos de arte, a inauguração de uma obra pública, um 
hotel ou um restaurante, reportagens sobre tumultos, enchentes, shows, etc.). 
Há diversas decisões de que não cabe direito de imagem em fotografia de 
acontecimento carnavalesco, pois a pessoa que dele participa, de certa forma, 
“renuncia a sua privacidade”. Na prática todas estas questões são delicadas. 
Caberá ao Juiz, diante de um caso concreto, decidir se houve abuso e se há 
direito à indenização. Recomendamos o aluno, para fins de concurso, 
novamente se ater ao texto legal. 
 O titular de um direito de personalidade, quando este for violado, 
poderá pleitear reparação de danos morais e patrimoniais. E se ele já for 
falecido o direito será exercido pelo cônjuge, ascendente ou descendente 
(trata-se do art. 20, parágrafo único, CC). Ficou famoso um caso em que 
uma empresa elaborou um “álbum de figurinhas” estampando a fotografia de 
jogadores de futebol. Como no caso havia o intuito de lucro da empresa e não 
houve o consentimento dos atletas, concluiu-se que foi uma prática ilícita, 
sujeita à indenização. A Súmula 221 do STJ estabelece que é cabível a 
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reparação do dano decorrente de publicação da imprensa, tanto do autor do 
escrito, quanto do proprietário do veículo de divulgação. 
Finalmente, no art. 21, CC, nossa legislação tutelou o direito à 
intimidade (art. 5°, X, CF/88), prescrevendo que a vida privada da pessoa 
natural é inviolável (ex.: inviolabilidade de domicílio, de correspondência, 
bancário, conversas telefônicas, etc.), prevendo a possibilidade de se requerer 
medidas visando a proteção (impedir ou fazer cessar) dessa inviolabilidade. 
���OBSERVAÇÕES��� 
01) Recomendamos o aluno uma atenção especial comparativa entre os 
arts. 12 e 20, CC. Observem que o art. 12 é mais genérico (direitos da 
personalidade em geral) e o art. 20 é específico em relação ao direito de 
imagem, sendo que neste os colaterais foram excluídos. Além disso, embora o 
dispositivo não especifique, entende a doutrina que o companheiro(a) também 
é parte legítima. 
02) O Código Civil não exauriu a matéria referente aos direitos de 
personalidade. O tratamento é bem genérico e a enumeração exposta é 
meramente exemplificativa, deixando margem para que seestenda a 
proteção a situações não previstas expressamente, acompanhando, assim, a 
rápida evolução dos costumes do mundo atual. 
03) Embora agora não seja o momento de aprofundar, mas é 
interessante deixar claro que a Pessoa Jurídica também pode ser titular de 
direitos de personalidade no tange à honra, imagem e nome, pois o art. 52, CC 
estabelece que “aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos 
direitos da personalidade”. 
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL 
Individualiza-se a pessoa natural de três formas: nome, estado e 
domicílio. Vejamos cada um deles. 
A) NOME 
Desde os primórdios da humanidade, o nome serve como sinal exterior 
identificador, pelo qual se designa e se reconhece uma pessoa, 
apresentando peculiaridades nos diferentes povos, influenciando diretamente a 
vida de cada pessoa desde seu nascimento até o fim da personalidade, 
inclusive com reflexos após a morte. É pelo nome que ela fica conhecida no 
seio da família e da comunidade em que vive. 
Prevê o art. 16, CC que toda pessoa tem o direito ao nome, nele 
compreendido o prenome e o sobrenome. Trata-se de direito inalienável (não 
pode ser vendido), imprescritível (não correm prazos prescricionais) e 
personalíssimo, essencial para o exercício de direitos e cumprimento das 
obrigações. Há uma proteção especial da lei em relação ao nome, mediante as 
ações judiciais. A lei protege a honra da pessoa, proibindo que o seu nome 
seja usado ou empregado em situações agressivas à intimidade de quem se vê 
exposto à veiculação pública que provoque depreciação ética, moral ou 
jurídica, mesmo que a intenção na publicação ou representação não revele 
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intuito difamatório (art. 17, CC). O nome é um direito da personalidade, 
que também é conferido às pessoas jurídicas, pois estas também têm direito 
ao nome. São elementos constitutivos do nome: 
• Prenome  é o nome individual, próprio da pessoa, que pode ser simples 
(ex.: João, José, Rodrigo, Laura, Aparecida, etc.) ou composto (ex.: José 
Carlos, Antônio Pedro, Ana Maria, etc.). Tratando-se de gêmeos com o mesmo 
nome, a lei de registros públicos exige que seja um prenome composto 
diferenciado. 
• Patronímico ou Sobrenome (nome de família ou apelido de família)  
identifica a procedência da pessoa, o tronco familiar do qual provém, indicando 
sua filiação ou estirpe, podendo também ser simples ou composto. 
Atualmente, pelo princípio constitucional da igualdade, não há uma ordem 
rigorosa na colocação do sobrenome (pode ser primeiro do pai ou da mãe). 
• Agnome  é o sinal distintivo entre pessoas da mesma família com 
nomes iguais, que se acrescenta ao nome completo (ex.: Júnior, Filho, Neto, 
Sobrinho, II, III, etc.). 
O pseudônimo (que significa em latim “nome falso”) ou codinome 
consiste no nome atrás do qual se abriga um autor de obra cultural ou 
artística, para o exercício desta atividade específica (ex: cantor, ator, autor de 
um livro, etc.). O exemplo clássico é o de Malba Tahan, famoso escritor de 
contos, lendas e costumes árabes. Quem não leu “O Homem que Calculava”? E 
as “Lendas do Deserto”? ... Muitos pensavam que ele era árabe de tanto que 
conhecia e escrevia sobre o tema. Mas ele foi “brasileiríssimo”, um professor 
de matemática chamado Júlio César de Mello e Souza, que usava este 
pseudônimo. A lei de direitos autorais já consagrava o pseudônimo como um 
direito moral do autor. Agora consta, de forma expressa, como um direito 
inerente à personalidade do autor (art. 19, CC), gozando da mesma proteção 
que se dá ao nome, quando usado para finalidades lícitas. Lembrando, que 
no exercício livre da manifestação do pensamento, veda-se o anonimato (art. 
5°, inciso IV da CF/88). 
Questão interessando é a do heterônimo. Esta é uma palavra de origem 
grega que indica “outros nomes”. Conceitualmente é diferente de pseudônimo, 
pois o heterônimo indica diversas personalidades de uma mesma pessoa. O 
exemplo clássico é de Fernando Pessoa (Fernando Antônio Nogueira Pessoa), 
que usou diversos heterônimos, como Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de 
Campos, Alexander Search (que só escrevia em inglês) entre outros, cada um 
com uma espécie de abordagem e maneira de escrever, com tendências e 
características distintas e peculiares. Ele também chegou a criar semi-
heterônimos (quando o heterônimo tem características semelhantes ao seu 
próprio criador) como Bernardo Soares, Barão de Teive, Vicente Guedes, José 
Pacheco, Pero Botelho, Antônio Mora, entre outros. Um gênio... 
Em relação ao nome há outros elementos facultativos como: a) nome 
vocatório: designação pela qual a pessoa é conhecida (ex: Aghata Cristie no 
lugar de Dame Agatha Mary Clarissa Miller Cristie Mallowan; Pontes de Miranda 
no lugar de Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, etc.); b) axiônimo: 
designação que se dá à forma cortês de tratamento ou à expressão de 
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reverência (ex: Excelentíssimo, Professor, Doutor, ou que representam os 
títulos de nobreza ou eclesiásticos: Duque, Visconde, Bispo, Monsenhor, etc.); 
c) alcunha (ou epíteto) é o apelido, geralmente tirado de uma particularidade 
física, moral ou de uma atividade (ex.: Tiradentes, Zé do Caixão, etc.); d) 
hipocorístico: são os diminutivos (ex.: Zezinho, Glorinha, Cidinha, etc.). Não 
tenho visto estas expressões caírem em concursos. 
 Em regra o nome é imutável. No entanto o princípio da inalterabilidade 
do nome sofre diversas exceções em casos justificados. A lei e a 
jurisprudência admitem a retificação ou a alteração de qualquer dos seus 
elementos. No entanto na prática há um maior rigor quanto à modificação do 
prenome e um menor rigor em relação ao sobrenome. A propósito, vejam a 
alteração que a Lei n° 9.708/98 fez na Lei de Registros Públicos (LRP – Lei n° 
6.015/73), em especial no art. 58: “O prenome será definitivo, admitindo-se, 
todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios”. O parágrafo único 
deste mesmo dispositivo estabelece outra possibilidade: “A substituição do 
prenome será ainda admitida em razão de fundada coação ou ameaça 
decorrente da colaboração com a apuração de crime, por determinação, em 
sentença, de Juiz competente, ouvido o Ministério Público”. 
Outro exemplo é o previsto no art. 56 da própria LRP que permite que o 
interessado, no primeiro ano, após completar a maioridade civil, altere seu 
nome, desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a 
alteração que será publicada pela imprensa (trata-se da única hipótese legal 
em que a alteração do nome não precisa ser motivada). No entanto o art. 57 
determina que qualquer alteração posterior de nome, somente será feita por 
exceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público, e por 
sentença do Juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e 
publicando-se a alteração na imprensa. Vejamos outras situações: 
• quando expuser seu portador ao ridículo ou situações vexatórias. 
• quando houver evidente erro gráfico (ex.: Nerson, Osvardo, etc.). 
• quando causar embaraços comerciais e/ou morais  trata-se da 
homonímia (ou homônimo). 
• com uso prolongado e constante de um nome diverso do que figura no 
registro  admite-se a alteração do nome adicionando-se o apelido ou 
alcunha (ex.: Edson Pelé Arantes do Nascimento, Luiz Inácio Lula da 
Silva, etc.). 
• com o casamento – atualmente o art. 1.565, §1°, CC permite que 
qualquer dos nubentes acrescente ao seu, o sobrenome do outro. 
• com a união estável  a lei permite que os conviventes adotem o 
patronímico de seus parceiros, desde que haja concordância recíproca.• acréscimo de sobrenome de padrasto ou madrasta: Lei 11.924/09 (“Lei 
Clodovil”), que depende de autorização judicial. 
• adoção, reconhecimento de filho, divórcio, serviço de proteção de 
vítimas e testemunhas, tradução de nomes estrangeiros, etc. 
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Um fato muito interessante e atual tem sido o caso do transexual. Uma 
pessoa pode ter a forma de um sexo (ex: masculino), mas a mentalidade de 
outro (feminino). Notem que esta é uma situação diferente da do 
homossexual, pois este se sente atraído pela pessoa do mesmo sexo, mas não 
tem intenção de mudar de sexo. A jurisprudência vem acompanhando as 
modificações havidas nesta área. Atualmente há a possibilidade de cirurgia 
para a mudança de sexo em nosso País. Chama-se de transgenitalização a 
cirurgia para adaptar o corpo (sexo biológico) à mente (sexo psíquico) da 
pessoa. Atualmente há inúmeras decisões judiciais garantindo o direito dos 
transexuais de realizar a cirurgia de transgenitalização pelo SUS 
(Sistema Único de Saúde). O Conselho Federal de Medicina reconhece o 
transexualismo como um “transtorno de identidade sexual” e a cirurgia como 
uma solução terapêutica. Para tanto, editou a resolução 1652 autorizando as 
cirurgias de mudança de sexo, mas isto depende muito de caso para caso e de 
um acompanhamento médico e psicológico multidisciplinar. A cirurgia traz 
reflexos na possibilidade de retificação do assento de nascimento. Não só no 
que diz respeito ao nome (prenome), mas também no que concerne ao sexo 
(pois se trata de um estado individual, informado pelo gênero biológico). Em 
decisão recente, o Superior Tribunal de Justiça entendeu deve ser expedida 
uma nova certidão civil, sem que nela conste qualquer anotação sobre a 
decisão judicial e nem mesmo o termo “transexual”. Isto porque tais 
observações na certidão significariam na continuidade da exposição da pessoa 
a situações constrangedoras e discriminatórias. No entanto, a informação de 
que o nome e o sexo foram alterados judicialmente deve ser mantida nos 
livros cartorários, para não induzir terceiro de boa-fé em erro quando da 
habilitação de eventual e futuro casamento. Há quem sustente que nem esta 
informação deve ser mantida. Pergunta-se: e se o transexual casar sem 
revelar o fato de ser operado? O casamento será realizado da mesma forma, 
mas poderá ocorrer a anulação do casamento em razão do erro quanto à 
pessoa. Hipoteticamente falando, teríamos uma possibilidade de caracterização 
do erro quanto à pessoa do cônjuge. 
A propósito, sobre o tema, recentemente vi cair em um exame da OAB 
do Distrito Federal a seguinte assertiva, sendo a mesma considerada como 
verdadeira: “aquelas pessoas portadoras de uma incontrolável compulsão pela 
amputação de um membro específico de seu corpo, em razão do desconforto 
de estarem presos em um corpo que não corresponde à verdadeira identidade 
física que gostaria de ter, denominam-se wannabes”. Tenho para mim que esta 
expressão deve derivar do inglês “wanna” (to want = querer) e “be” (to be = 
ser). Ou seja, querer ser algo que não é. Confesso que nunca tinha visto ou 
ouvido esta expressão anteriormente. Aprendi resolvendo a questão. Vivendo e 
aprendendo... 
B) ESTADO 
O estado é definido como sendo o modo particular de existir, ou seja, a 
soma de qualificações de uma pessoa na sociedade. Apresenta três aspectos: 
 Individual (ou físico)  refere-se às características pessoais: idade, 
sexo, saúde mental e física, altura, peso, etc. 
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 Familiar  indica a situação que a pessoa ocupa na família: a) quanto 
ao matrimônio (solteiro, casado, viúvo, divorciado); b) quanto ao 
parentesco consanguíneo (pai, mãe, filho, avô, irmão, primo, tio, etc.); 
c) quanto à afinidade (sogro, sogra, genro, nora, cunhado, etc.). 
 Político  identifica a pessoa a partir do local em que nasceu ou de 
sua condição política dentro de um País: nacional (nato ou 
naturalizado), estrangeiro, apátrida. Obs.: já vi cair em concurso a 
expressão heimatlos (de origem alemã), que significa apátrida. 
O estado é regulado por normas de ordem pública. É irrenunciável, pois 
não se pode renunciar aquilo que é uma característica pessoal. É uno e 
indivisível, pois ninguém pode ser simultaneamente casado e solteiro; maior e 
menor, etc. Por ser um reflexo da personalidade, é inalienável, não podendo 
ser objeto de comércio. Trata-se de um direito indisponível (não se transferem 
as características pessoais) e imprescritível (o decurso de tempo não faz com 
que se percam as qualificações pessoais). As ações tendentes a afirmar, obter 
ou negar determinado estado, também chamadas de ações de estado (ex.: 
investigação de paternidade, divórcio, etc.). Estas ações são 
personalíssimas. 
C) DOMICÍLIO 
O conceito de domicílio (domus, em latim significa casa) surge da 
necessidade legal que se tem de fixar as pessoas em determinado ponto do 
território nacional, onde possam ser encontradas para responder por suas 
obrigações. Exemplo: vou ingressar com uma ação judicial! Onde essa ação 
será proposta? Resposta: em regra no domicílio do réu. E se uma pessoa 
morre, onde deve ser proposta a ação de inventário? Resposta: no último 
domicílio do “de cujus” (falecido). E assim por diante... O conceito de domicílio 
está sempre presente em nosso dia-a-dia, mesmo que não percebamos. 
Inicialmente, devemos fazer a seguinte distinção: 
a) Moradia ou habitação: é o local onde a pessoa se estabelece 
provisoriamente, sem ânimo de permanecer; é uma relação bem frágil entre 
uma pessoa e o local onde ela está (ex: alugar uma casa de praia por um mês, 
aluno que ganha uma bolsa de estudos por três meses na França, etc.). 
b) Residência: é o lugar em que o indivíduo se estabelece 
habitualmente, com a intenção de permanecer, mesmo que dele se ausente 
temporariamente; trata-se de uma situação de fato. 
c) Domicílio: é a sede da pessoa, tanto física como jurídica, onde se 
presume a sua presença para efeitos de direito e onde exerce ou pratica, 
habitualmente, seus atos e negócios jurídicos. É o lugar onde a pessoa 
estabelece sua residência com ânimo definitivo de permanecer, 
convertendo-o, em regra, em centro principal de seus negócios jurídicos ou de 
sua atividade pessoal; trata-se de um conceito jurídico. Por isso está 
previsto em diversos dispositivos esparsos em nossa legislação. Vejamos 
alguns: 
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 art. 7°, LINDB: A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as 
regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e 
os direitos de família. 
 art. 327, CC: o pagamento, de uma forma geral, deve ser feito no 
domicílio do devedor (se o contrário não estiver previsto no contrato). 
 art. 1.785, CC: a sucessão abre-se no lugar do último domicílio do 
falecido. 
 art. 94, Código de Processo Civil: a ação fundada em direito pessoal e a 
ação fundada em direito real sobre bens móveis serão propostas, em 
regra, no foro do domicílio do réu. 
O domicílio possui dois elementos 
a) Objetivo: é o estabelecimento físico da pessoa; a fixação da 
residência. 
b) Subjetivo: é a intenção, o ânimo de ali permanecer em definitivo (a 
doutrina chama isso de animus manendi). Se uma pessoa viajou de 
férias para a praia, evidentemente que seu domicílio não foi alterado, 
pois falta a intenção de permanecer definitivamente neste local. 
���Regra Básica: O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela 
estabelece a residência com ânimo definitivo(art. 70, CC). É também 
domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à 
profissão, o lugar onde esta é exercida (art. 72, CC). 
 Outras Regras 
A) Uma pessoa pode residir em mais de um local, tomando apenas 
um como sendo o centro principal de seus negócios; este local então será o 
seu domicílio. Mas se a pessoa tiver várias residências, onde alternadamente 
viva, sem que se possa considerar uma delas como sendo o seu centro 
principal, o domicílio pode ser qualquer delas →→→ o Brasil adotou o sistema da 
pluralidade domiciliar (art. 71, CC). 
B) Pode ocorrer que uma pessoa não tenha uma residência habitual; ela 
não tem um ponto central de negócios. O exemplo clássico é o dos circenses e 
ciganos que a cada momento estão em uma localidade diferente (a doutrina os 
chama de adômidas). O domicílio destas pessoas então será o lugar onde elas 
forem encontradas (art. 73, CC). É o chamado domicílio aparente ou 
ocasional. Trata-se de uma ficção jurídica, uma hipótese de aplicação da 
Teoria da Aparência, pois todo sujeito necessita de um local para ser 
encontrado e ter um domicílio. 
Espécies de Domicílio 
1) Domicílio Voluntário  escolhido livremente pela própria vontade do 
indivíduo e por ele pode ser modificado (geral: art. 70, CC) ou estabelecido 
conforme interesses das partes em um contrato (especial: art. 78, CC). 
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2) Domicílio Legal (ou necessário)  é a lei que determina o domicílio, 
em razão da condição ou situação de certas pessoas. Deixa de existir a 
liberdade de escolha do domicílio. Observem o art. 76, CC. Assim: 
 Incapazes (qualquer tipo de incapacidade): os incapazes têm por 
domicílio o de seus representantes legais (pais, tutores ou curadores). A 
doutrina costuma chamar de domicílio de origem aquele que o filho 
adquire ao nascer ou enquanto ele estiver sob o poder familiar. 
 Servidor Público: seu domicílio é o lugar onde exerce 
permanentemente sua função. 
 Militar em serviço ativo: o domicílio do militar do Exército é o lugar 
onde está servindo; o da Marinha ou da Aeronáutica é a sede do 
comando a que se encontra imediatamente subordinado. Aplica-se este 
dispositivo, por analogia, também aos Policiais Militares estaduais. O 
militar reformado (aposentado) não tem mais este domicílio. 
 Preso: é o lugar onde a pessoa cumpre a sentença (não se aplica ao 
preso provisório; é necessário que haja uma decisão condenatória). 
 Marítimos (são os oficiais e tripulantes da marinha mercante): marinha 
mercante é a que se ocupa do transporte de passageiros e mercadorias. 
O domicílio legal é no lugar onde estiver matriculado o navio. 
��� Observação. O art. 77, CC ainda traz uma situação especial para o 
Agente Diplomático do Brasil que, citado no estrangeiro, alega 
extraterritorialidade, sem indicar seu domicílio no país. Neste caso poderá ser 
demandado no Distrito Federal ou no seu último domicílio. 
O domicílio voluntário especial merece um destaque à parte. 
Segundo a doutrina ele pode ser subdividido: a) domicílio contratual (art. 
78, CC): local especificado no contrato para o cumprimento das obrigações 
dele resultantes; b) domicílio (ou foro) de eleição ou cláusula de eleição de 
foro (previsto no art. 111 do Código de Processo Civil): escolhido pelas partes 
para a propositura de ações relativas às obrigações. Quando se tratar de ação 
que verse sobre imóveis a competência é a da situação da coisa. Há uma forte 
corrente jurisprudencial negando o foro de eleição nos contratos de 
adesão, “quando constitui um obstáculo à parte aderente, dificultando-lhe o 
comparecimento em juízo”. Trata-se de uma orientação do STJ, que entende 
ser cláusula abusiva, pois ela prejudica o consumidor, uma vez que o obriga 
a responder ação judicial em local diverso de seu domicílio (“é nula a cláusula 
que não fixar o domicílio do consumidor”). Lembrando que contrato de adesão 
(ou por adesão) é aquele que já está pronto, elaborado de forma unilateral. Ou 
você assina (adere) o contrato da forma como que ele foi redigido ou o mesmo 
não sai. Não é possível ficar discutindo cláusulas contratuais. Por tal motivo a 
tendência é não ser possível colocar o foro ou domicílio de eleição no contrato 
(até porque ele não foi eleito; foi imposto por uma das partes). 
Domicílio Pessoa Natural – Resumo 
Regra = lugar onde estabelecer residência com ânimo definitivo 
(muda-se o domicílio transferindo a residência). 
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Quando possui diversas residências = qualquer delas será o domicílio. 
Quanto às relações concernentes à profissão = lugar onde a profissão 
é exercida. 
Quanto às relações concernentes à profissão em lugares diversos = 
cada um deles constituirá domicílio. 
Sem residência habitual = lugar onde for encontrada. 
Agente diplomático do Brasil citado no estrangeiro = poderá ser 
demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território 
brasileiro onde o teve. 
Domicílio Necessário 
Incapaz = representante ou assistente. 
Servidor público = onde exercer permanentemente suas funções. 
Militar (em geral) = onde servir. 
Militar da Marinha ou Aeronáutica = sede do comando a que se 
encontrar imediatamente subordinado. 
Marítimo = onde o navio estiver matriculado. 
Preso = onde estiver cumprindo a sentença. 
FIM DA PERSONALIDADE DA PESSOA NATURAL 
Como vimos o início da personalidade se dá com o nascimento com vida, 
acompanhando o indivíduo durante toda a sua vida. E termina com o fim da 
existência da pessoa natural, ou seja, com a morte (art. 6°, CC). Verificada a 
morte de uma pessoa, desaparecem, como regra, os direitos e as obrigações 
de natureza personalíssima (ex.: dissolução do vínculo matrimonial, relação de 
parentesco, etc.). Já os direitos não personalíssimos (em especial os de 
natureza patrimonial) são transmitidos aos seus sucessores. 
Num sentido genérico podemos dizer que há três espécies de morte: 
a) real; b) civil; c) presumida. A doutrina acrescenta também a hipótese da 
Lei n° 9.140/95 que reconheceu como mortos, para todos os efeitos legais 
(morte legal), os “desaparecidos políticos”. 
MORTE REAL  A personalidade civil termina com a morte física, deixando o 
indivíduo de ser sujeito de direitos e obrigações. A morte, portanto, é o 
momento extintivo dos direitos da personalidade. A morte real se dá com o 
óbito comprovado da pessoa natural e o critério jurídico de morte no Brasil é a 
morte encefálica (Lei 9.434/97 – Lei de Transplantes). A regra geral é que 
inicialmente se exige um atestado de óbito (para isso é necessário o corpo), 
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que irá comprovar a certeza do evento morte, devendo o mesmo ser lavrado 
por profissional registrado no Conselho Regional de Medicina. Com este 
documento é lavrada a certidão de óbito, por ato do oficial do registro civil 
de pessoa natural, sendo esta a condição para o sepultamento. Na falta do 
corpo, recorre-se aos meios indiretos de comprovação morte real (também 
chamada de justificação judicial de morte real). Isto está disciplinado no art. 
88 da Lei n° 6.015/73 (Lei de Registros Públicos): "Poderão os juízes togados 
admitir justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em 
naufrágios, incêndio, terremoto ou outra qualquer catástrofe, quando estiver 
provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar o 
cadáver para exame". Se um avião explode matando todos os passageiros, há 
o óbito comprovado de todos; entretanto,pode ser que não tenhamos os 
corpos de todos os passageiros. Mesmo assim podemos dizer que houve a 
morte real, pela justificação judicial: não foram encontrados todos os corpos, 
mas há certeza da morte de todos. 
MORTE CIVIL  A morte civil era a perda da personalidade em vida. A pessoa 
estava viva, mas era tratada como se estivesse morta. Geralmente era uma 
pena aplicada a pessoas condenadas criminalmente, em situações especiais. 
Atualmente, pode-se dizer ela não existe mais. No entanto, há resquícios de 
morte civil. Ex.: exclusão de herança por indignidade do filho, “como se ele 
morto fosse” (vejam esta expressão no art. 1.816, CC); embora viva, a pessoa 
é ignorada para efeitos de herança. 
MORTE PRESUMIDA  Ocorre quando não se consegue provar que houve a 
morte real. O tema é tratado inicialmente pelos arts. 6° e 7°, CC. 
• O art. 6°, CC é genérico: trata da morte presumida, “quanto aos 
ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão 
definitiva”. 
• O art. 7°, CC é bem específico: citando situações em que se declara a 
morte presumida, sem decretação de ausência. 
Vejamos primeiro o art. 6°, CC, que é bem mais complexo, pois exige 
a declaração de ausência, que está prevista nos arts. 22 a 39, CC. Ausência é 
o desaparecimento de uma pessoa do seu domicílio. A pessoa que deixa de dar 
notícias de seu paradeiro por um longo período de tempo, sem deixar um 
representante (procurador) para administrar seus bens (art. 22, CC). Os 
efeitos da morte presumida são patrimoniais (protege-se o patrimônio do 
ausente) e alguns pessoais (ex.: o estado de viuvez do cônjuge do ausente). A 
ausência só pode ser reconhecida por meio de um processo judicial 
composto de três fases: a) curadoria de ausentes; b) sucessão provisória; c) 
sucessão definitiva. Vejamos. 
PRIMEIRA FASE: Declaração de Ausência. Art. 22, CC. Ausente uma 
pessoa, qualquer interessado na sua sucessão (e até mesmo o Ministério 
Público) poderá requerer ao Juiz a declaração de ausência e a nomeação de 
um curador, obedecendo a ordem do art. 25, CC. Trata-se da curadoria dos 
bens do ausente. Os bens são arrecadados e entregues ao curador apenas 
para os mesmos sejam administrados (não há efeitos pessoais). Durante um 
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ano (no caso do ausente não deixar representante ou procurador) devem-se 
expedir editais convocando o ausente para retomar a posse de seus haveres. 
Com a sua volta opera-se a cessação da curatela, o mesmo ocorrendo se 
houver notícia de seu óbito comprovado. No entanto, se o ausente deixou um 
representante para cuidar de seus interesses, aquele prazo (de um ano) eleva-
se para três anos. 
SEGUNDA FASE: Sucessão Provisória. Art. 26, CC. Se o ausente não 
comparecer no prazo (um ou três anos, dependendo da hipótese), poderá ser 
requerida e aberta a sucessão provisória e o início do processo de inventário 
e partilha dos bens. No processo de ausência a sentença do Juiz é dada logo 
no início do processo, para que se inicie a sucessão provisória. Mas esta 
sentença determinando a abertura da sucessão ainda não produz efeitos de 
imediato. O art. 28, CC prevê uma cautela a mais. Ou seja, concede um prazo 
de mais 180 dias para que o ausente reapareça e tome conhecimento da 
sentença que determinou a abertura da sucessão provisória de seus bens. 
Assim, a sentença somente irá produzir efeitos 180 dias após sua publicação 
na imprensa. Trata-se, digamos, de uma “última chance” que se dá ao 
ausente. Após este prazo, a ausência passa a ser presumida. Nesta fase cessa 
a curatela dos bens do ausente. É feita a partilha dos bens deixados e agora 
são os herdeiros, de forma provisória e condicional (e não mais o curador) que 
irão administrar os bens, prestando caução (ou seja, dando garantias de que 
os bens serão restituídos no caso do ausente aparecer). No entanto, se estes 
herdeiros forem descendentes, ascendentes ou cônjuge do ausente, não 
necessitam prestar a caução. 
Nesta fase os herdeiros ainda não têm a propriedade; exercem apenas a 
posse dos bens do ausente. Apenas se antecipa a sucessão, sem delinear 
definitivamente o destino dos bens desaparecido. Por isso os sucessores ainda 
não podem vender os bens. Os imóveis somente podem ser vendidos com 
autorização judicial. A sucessão provisória é encerrada se o ausente retornar 
ou se comprovar a sua morte real. Convém acrescentar que o descendente, o 
ascendente e o cônjuge (herdeiros necessários) que forem sucessores 
provisórios do ausente e estiverem na posse dos bens terão direito a todos os 
frutos e rendimentos desses bens. Ex.: Uma pessoa foi considerada “ausente”; 
era proprietário de duas casas e uma fazenda. Seu filho entrou na posse dos 
bens: mora em uma das casas, alugou a outra e tornou a fazenda 
extremamente produtiva. Se seu pai retornar posteriormente, o filho não será 
obrigado a restituir os aluguéis que recebeu com a casa e nem o que lucrou 
explorando a fazenda. Já os demais sucessores (ex.: irmãos, tios, sobrinhos, 
etc.) terão direito somente à metade destes frutos ou rendimentos. 
TERCEIRA FASE: Sucessão Definitiva. Art. 37, CC. Após 10 (dez) 
anos do trânsito em julgado da sentença de abertura da sucessão provisória, 
sem que o ausente apareça, será declarada a morte presumida. Nesta 
ocasião converte-se a sucessão provisória em definitiva. Os sucessores 
deixam de ser provisórios, adquirindo a propriedade plena (ou o domínio) e a 
disposição dos bens recebidos. Porém esta propriedade é considerada 
resolúvel. Isto é, se o ausente retornar em até 10 (dez) anos seguintes à 
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abertura da sucessão definitiva terá direito aos bens, mas no estado em que se 
encontrarem. Ou então terá direito ao preço que os herdeiros houverem 
recebido com sua venda. Se regressar após esse prazo (portanto após 21 anos 
de processo), não terá direito a mais nada. 
É interessante acrescentar que o art. 38, CC possibilita se requerer a 
sucessão definitiva provando-se que o ausente conta com 80 anos de idade e 
que de cinco datam as últimas notícias dele. 
É nesta fase (na sucessão definitiva, ou seja, até 10 anos após o trânsito 
em julgado da sentença de abertura da sucessão provisória) que também se 
dissolve a sociedade conjugal, considerando-se rompido o vínculo 
matrimonial. É o que prevê o art. 1.571, §1° do CC. Neste caso o cônjuge 
será considerado viúvo (torna-se irreversível a dissolução da sociedade 
conjugal), podendo se casar novamente. 
No entanto este cônjuge não precisa esperar tanto tempo para se casar 
novamente. Mesmo antes de ser considerado viúvo ele pode ingressar com um 
pedido de divórcio, atualmente, com a edição da Emenda Constitucional n° 
66/2010, muito mais simples e sem necessidade de aguardar prazos. 
Divorciada, a pessoa já está livre para convolar novas núpcias. 
 Resumindo 
a) Ausência (curadoria dos bens do ausente): 01 ou 03 anos, 
dependendo da hipótese (com ou sem representante), arrecadando-se os 
bens que serão administrados por um curador. 
b) Sucessão Provisória: é feita a partilha de forma provisória, 
aguardando-se 10 anos. 
c) Sucessão Definitiva: na abertura já se concede a propriedade plena e 
se declara a morte (presumida) do ausente. Seu cônjuge é reputado 
viúvo. Aguardam-se mais dez anos. Se o ausente retorna recebe os bens 
existentes no estado em que se acharem (ou o preço em seu lugar). 
d) Fim. 
Vejamos no gráfico abaixo, a demonstração das fases do processo. 
 
 
Desaparecimento Início do Processo Morte Presumida Fim 
 
1 ou 3 anos 10 anos 10 anos 
Ausência Sucessão SucessãoCuradoria Provisória Definitiva 
 
A hipótese do art. 7°, CC, é bem mais fácil, pois permite a declaração 
da morte presumida sem decretação de ausência. Isto é assim para 
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melhor viabilizar o registro do óbito, resolver problemas jurídicos e regular a 
sucessão causa mortis. Vejamos as duas situações excepcionais: 
 For extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida. 
 Pessoa desapareceu em campanha ou feito prisioneiro e não foi 
encontrado até dois anos após o término da guerra. 
A declaração de ausência nestes casos somente poderá ser requerida 
depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar 
a data provável do falecimento. Com a declaração de ausência nas hipóteses 
previstas, abre-se a sucessão definitiva. O patrimônio do “morto presumido” se 
transforma em herança, sendo que os herdeiros já podem ter a posse dos 
bens. 
COMORIÊNCIA 
Comoriência é o instituto pelo qual se considera que duas ou mais 
pessoas morreram simultaneamente, sempre que não se puder averiguar qual 
delas pré-morreu, ou seja, quem morreu em primeiro lugar. Art. 8°, CC: “Se 
dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo 
averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão 
simultaneamente mortos”. Ex.: um avião caiu e todos os passageiros 
faleceram no acidente; nesse caso vamos presumir que todos eles morreram 
no mesmo momento. Comoriência também é chamada de morte simultânea. 
Trata-se de uma presunção relativa (juris tantum), ou seja, que admite 
prova em contrário. 
 Aplica-se o instituto da morte simultânea sempre que houver uma 
relação de sucessão hereditária entre os mortos. Se não houver esta 
relação também não haverá qualquer interesse jurídico na questão. A 
consequência prática é que se os comorientes forem herdeiros uns dos 
outros, não haverá transferência de bens e direitos entre eles; um não 
sucederá o outro. 
 Exemplo: vamos supor que um casal esteja viajando de carro e sofre um 
acidente. Eles não têm descendentes e nem ascendentes. Mas cada um tem 
um irmão. Se ficar provado que o marido ou a mulher faleceu primeiro no 
acidente, não haverá comoriência. No momento da morte do primeiro cônjuge 
toda a herança se transmite para o outro cônjuge. E com a morte deste toda a 
herança será transmitida somente para o irmão do que morreu por último. Mas 
se não se conseguir demonstrar quem morreu primeiro, aplica-se a 
comoriência. Neste caso, a herança de ambos é dividida à razão de 50% para 
os herdeiros de cada cônjuge (os irmãos), se o regime de bens do casamento 
for o da comunhão universal. 
� Questão Polêmica � E se duas pessoas falecerem em locais diferentes, mas 
nas mesmas circunstâncias de tempo? Há autores que defendem a posição de que 
somente haverá comoriência se as mortes se derem no mesmo acontecimento, lugar 
e tempo. Outros (Maria Helena Diniz) afirmam: "Embora o problema da comoriência 
tenha começado a ser regulado a propósito de caso de morte conjunta no mesmo 
acontecimento, ele se coloca com igual relevância em matéria de efeitos nos 
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casos de pessoas falecidas em lugares e acontecimentos distintos, mas em datas 
e horas simultâneas ou muito próximas. A expressão “na mesma ocasião” não requer 
que o evento morte se tenha dado na mesma localidade; basta que haja inviabilidade 
na apuração exata da ordem cronológica dos óbitos”. 
EFEITOS DO FIM DA PERSONALIDADE 
São efeitos do fim da personalidade: dissolução do vínculo conjugal e 
do regime matrimonial; extinção do poder familiar; extinção dos contratos 
personalíssimos, etc. Outro efeito de suma importância é a extinção da 
obrigação de prestar alimentos com o falecimento do credor. Observem que o 
credor é a pessoa que estava recebendo a pensão alimentícia; morrendo não 
faz mais jus ao benefício e este não se transmite a seus herdeiros. No entanto, 
no caso de morte do devedor (que é a pessoa que paga a pensão 
alimentícia), os herdeiros deste assumirão a obrigação até as forças da 
herança. Trata-se de uma inovação do atual Código, tratada no Direito das 
Sucessões. 
No entanto, não podemos aplicar o brocardo mors omnia solvit (a 
morte dissolve tudo) no Direito Civil. Como vimos, muitos dos direitos de 
personalidade se estendem após à morte da pessoa. A vontade do de cujus, 
pode sobreviver por meio de um testamento. Ao cadáver é devido respeito. 
Os militares e os servidores públicos de uma forma geral podem ser 
promovidos post mortem. Alguns direitos ainda permanecem (podendo sofrer 
ameaça ou lesão) e devem ser respeitados, sendo tutelados pela lei, como o 
direito à imagem, à honra, ao nome, aos direitos autorais, etc. 
CAPACIDADE 
Embora baste nascer com vida para se adquirir a personalidade, nem 
sempre se terá capacidade. Costuma-se dizer que a personalidade é a 
potencialidade resultante de um fato natural (nascer com vida); já na 
capacidade temos os limites desta potencialidade. Uma frase muito comum na 
doutrina (e concursos) é que “a capacidade é a medida da personalidade”. Por 
que isso? Como vimos, toda pessoa é capaz de direitos e deveres. Mas em que 
medida isso ocorre? A resposta está nas espécies de capacidade. Vejamos. 
• Capacidade de direito ou de gozo (ou de aquisição de direito): 
própria de todo ser humano; inerente à personalidade. Adquire-se com o 
nascimento com vida e extingue-se somente com a morte. É a 
capacidade para adquirir direitos e contrair obrigações. "Toda pessoa é 
capaz de direitos e deveres na ordem civil" (art. 1°, CC). Nasceu 
com vida? Sim! Então tem personalidade. Tem personalidade? Sim! 
Então tem capacidade de direito. 
• Capacidade de fato ou de exercício da capacidade de direito: 
é a capacidade de exercitar pessoalmente (por si mesmo) todos os atos 
da vida civil, independentemente de assistência ou representação. 
���Não caiam em pegadinhas ��� Capacidade de direito (gozo) pressupõe a 
capacidade de fato? –Não! Capacidade de fato pode subsistir sem a capacidade 
de gozo? –Não! 
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Resumindo: Toda pessoa natural tem capacidade de direito; é inerente à 
personalidade. Quem tem personalidade (está vivo) tem capacidade de direito. 
Mas essa pessoa pode não ter a capacidade de fato, pois pode lhe faltar a 
plenitude da consciência e da vontade, limitando o exercício (e não o gozo) 
dos direitos. 
���No Brasil não existe a incapacidade de direito. 
A capacidade de direito não pode ser negada ao indivíduo, mas pode 
sofrer restrições quanto ao seu exercício. Ex.: o “louco”, por ser pessoa 
(ele está vivo, possui personalidade), tem capacidade de direito, podendo 
receber uma doação; porém não tem capacidade de fato, não podendo vender 
o bem que ganhou. 
Quem possui as duas espécies de capacidade (de direito e de fato) tem a 
chamada capacidade plena. (capacidade plena = capacidade de direito + 
capacidade de fato). 
Quem só possui a de direito tem a chamada capacidade limitada. A 
incapacidade é a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil (em outras 
palavras: é uma restrição ao poder de agir). Visa proteger os que são 
portadores de alguma deficiência jurídica apreciável, graduando a forma de 
proteção: pode ser absoluta ou relativa. Veremos todas as hipóteses mais 
adiante. 
 Por ora fiquemos com o seguinte resumo: 
• Incapacidade Absoluta → Pessoas completamente privadas 
(proibição total) de agir na vida civil. A deficiência podeser suprida (o 
ato pode ser praticado) pela representação. Ou seja, os 
representantes legais é que vão praticar o ato em nome do incapaz, 
pois este não manifesta a sua vontade. A falta de representação no ato 
acarreta a nulidade absoluta (ato nulo) do mesmo. 
• Incapacidade Relativa → Pessoas relativamente incapazes, ou 
seja, que podem atuar na vida civil, embora com restrições. A 
deficiência pode ser suprida pela assistência. Ou seja, o próprio 
incapaz decide se pratica ou não o ato, manifestando sua vontade. Se 
praticar o ato, deve ser assistido por seu representante legal (que 
apenas irá presenciar o ato e assinar, junto com o incapaz, a 
documentação pertinente). A falta de assistência no ato acarreta a 
nulidade relativa (ato anulável) do mesmo. 
CAPACIDADE DE FATO 
Capacidade é a regra; incapacidade é a exceção. Ou seja, toda 
pessoa tem a capacidade de direito (basta estar vivo). E há uma presunção 
(relativa) da capacidade de fato, sendo que como a incapacidade é a 
exceção, deve ser comprovada. A incapacidade não restringe a personalidade 
ou a capacidade de direito; ela apenas limita o exercício pessoal e direto 
dos direitos. Sendo uma ressalva ao exercício dos atos da vida civil, a 
incapacidade deve ser encarada e interpretada restritivamente, sendo 
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admitida apenas nas hipóteses previstas expressa e taxativamente na lei 
(matéria de ordem pública). 
A) ABSOLUTAMENTE INCAPAZES (art. 3°, CC) 
Ocorre quando houver proibição total do exercício do direito do incapaz, 
acarretando, em caso de violação, a nulidade absoluta do ato jurídico (art. 
166, I, CC). Os absolutamente incapazes possuem direitos, mas estes não 
podem ser exercidos pessoalmente. Há uma restrição legal ao poder de agir 
por si. Por isso estes indivíduos devem ser representadas. São eles: 
1) Os menores de 16 (dezesseis) anos (critério etário)  Também 
chamados de menores impúberes. Devem ser representados por seus pais 
ou, na falta deles, por tutores. O legislador entende que, devido a essa tenra 
idade, a pessoa ainda não atingiu o discernimento pleno para distinguir o que 
pode ou não fazer. 
2) Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o 
necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil  São as 
pessoas que, por motivo de ordem patológica ou acidental, congênita ou 
adquirida, não estão em condições de reger sua própria pessoa ou administrar 
seus bens. Abrange pessoas que têm desequilíbrio mental (ex.: demência, 
paranoia, psicopatas, etc.). Para que seja declarada a incapacidade absoluta 
neste caso, é necessário um processo de interdição. Trata-se de uma 
medida de proteção, em que o Poder Judiciário declara se determinada pessoa 
tem ou não a plena capacidade para gerir seus próprios negócios. Pode ser 
total ou parcial, dependendo da hipótese concreta. Trata-se de um 
procedimento especial de jurisdição voluntária (não há bem uma disputa 
entre as partes, porém a intervenção do Juiz é necessária, exercendo-se a 
jurisdição no sentido de simples administração). A jurisdição voluntária se 
contrapõe à jurisdição contenciosa (que é caracterizada pela disputa entre 
duas ou mais partes, que pleiteiam providências opostas ao Juiz). O rito é 
previsto pelo Código de Processo Civil e a sentença (de natureza declaratória) 
deverá ser registrada no Registro Civil das Pessoas Naturais. 
Em regra, só depois de decretada a interdição é que se recusa a 
capacidade de exercício, sendo nulo qualquer ato praticado pela pessoa 
interditada, ainda que a outra pessoa não saiba da interdição. Isto porque há 
uma presunção da publicidade da sentença de interdição e conhecimento geral. 
Se o ato praticado pelo enfermo mental foi antes de sua interdição, em regra 
não se anula o negócio. No entanto, jurisprudência e a doutrina admitem a 
produção retroativa dos efeitos da interdição em hipóteses especiais. 
Nosso direito não admite os chamados “intervalos lúcidos”. Ou seja, se a 
pessoa praticou o ato após a sua interdição, este ato é considerado nulo, não 
se aceitando a demonstração de que naquele momento, embora interditada, a 
pessoa estava lúcida. 
3) Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir 
sua vontade  O exemplo clássico deste item é o da pessoa que sofreu um 
acidente e “está em coma no hospital”. Mas a expressão é genérica e muito 
abrangente. Pode incluir também o surdo-mudo, desde que ele não possa 
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manifestar sua vontade de forma alguma. O dispositivo pode incluir, também, 
as pessoas que perderam a memória, embora de forma transitória e outros 
casos análogos. 
���IMPORTANTE ��� O Código Civil não estende a incapacidade: a) ao 
cego, que somente terá restrição aos atos que dependem da visão, como 
testemunha ocular de um fato, testemunha em testamentos, etc.; além disso, 
o cego somente poderá fazer testamento da forma pública; b) ao analfabeto; 
e c) a senilidade ou senectude (pessoa com idade avançada), por si só, não 
é causa de restrição da capacidade. 
B) RELATIVAMENTE INCAPAZES (art. 4º, CC) 
Trata-se de uma situação intermediária entre a incapacidade total e a 
capacidade plena. A incapacidade relativa diz respeito àqueles que podem 
praticar por si os atos da vida civil, desde que assistidos por seus 
representantes legais. O efeito da violação desta norma é gerar a 
anulabilidade (ou nulidade relativa) do ato jurídico (art. 171, I, CC), 
dependendo da iniciativa do lesado. Certos atos a pessoa já pode praticar sem 
assistência e são considerados válidos. Há outras hipóteses em que o ato pode 
ser ratificado ou convalidado pelo representante legal, posteriormente. A 
grande diferença entre os absolutamente incapazes e os relativamente 
incapazes é que no primeiro caso a pessoa não pode praticar o ato, por isso ela 
será representada; já na segunda hipótese a pessoa pratica pessoalmente o 
ato, sua vontade é levada em conta, mas não pode praticar este ato sozinha, 
sendo necessária a assistência. Se houver um conflito de interesses entre o 
incapaz e o assistente, o Juiz lhe nomeará um curador especial. São eles: 
1) Maiores de 16 anos e menores de 18 anos  Também chamados 
de menores púberes. Afirma a doutrina que a sua pouca experiência e 
insuficiente desenvolvimento intelectual não lhes possibilitam a plena 
participação na vida civil. Eles somente poderão praticar certos atos mediante 
assistência de seus representantes, sob pena de anulação. No entanto há 
atos que o relativamente incapaz pode praticar mesmo sem assistência. Ex.: 
casar (necessitando neste caso apenas de uma autorização de seus pais); 
fazer testamento (art. 1.860, parágrafo único, CC); servir como testemunha 
(art. 228, I, CC), inclusive em atos jurídicos e testamentos; aceitar mandato 
(ser mandatário); ser eleitor, etc. 
O menor, entre 16 e 18 anos, não pode, para eximir-se de uma 
obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela 
outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, espontaneamente se declarou maior 
(art. 180, CC). Explicando: Em um contrato, um rapaz com 17 anos se 
passou por maior de 18 anos e assumiu determinada obrigação. Depois, para 
não cumprir esta obrigação, alegou ser menor e revelou sua idade verdadeira. 
Pela lei o menor não poderá fugir desta obrigação, pois conscientemente 
declarou-se maior (não se pode, para eximir de uma obrigação, alegar sua 
própria torpeza). 
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2) Ébrios habituais (alcoólatras), os

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