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ERGONOMIA E TECNOLOGIA ASSISTIVA NO DESPORTO: UM ESTUDO DE CASO NO ATLETISMO ADAPTADO 1Gilberto Martins Freire, Esp. 2Susana Caçula de Lima, graduanda. 3Norberto Loureiro Neto, Esp. 4Ricardo José Matos de Carvalho, Dr. 1Coordenação de Ed. Física/CEFET-PE 2Coordenação do Curso Técnico em Edificações/CEFET-PE; Curso Ed. Física/UFPE 3, 4Coordenação do Curso Técnico de Segurança do Trabalho/CEFET-PE 1, 2, 3, 4GESST-Grupo de Pesquisa em Ergonomia, Saúde e Segurança do Trabalho/CEFET-PE R. Profº Luís Freire, 500 - Cidade Universitária, CEP:50.740-540, Recife, Pernambuco. Tel: (81) 2125.1773. Email: rjmatos@terra.com.br Este artigo refere-se a um estudo de caso relativo à atividade desportista de um atleta de arremesso de peso e lançamento de dardo e disco, portador de seqüela de poliomielite, que utiliza uma cadeira especial, fabricada de forma artesanal, para uso de treinamento e de competição. Pretende-se otimizar a atividade de treinamento do atleta com a finalidade de melhorar seu desempenho nas provas de competição de âmbito nacional e internacional. Esta pesquisa estabelece critérios ergonômicos a serem considerados no re-projeto e na fabricação de um novo artefato adaptado - uma tecnologia assistiva -, além do que estabelece recomendações de ordem organizacional e operacional para as atividades de treinamento e competição do atleta. Palavras-chave: ergonomia, desporto adaptado, tecnologia assistiva, atletismo. This article mentions a study case relative to the activity of an athlete - carrier of polio sequel - of hurls of weight, that uses a special chair, manufactured of artisan form, for competition and training use. It is intended to optimize the activity of training of the athlete with the purpose to improve its performance in the national and international competitions. This research establishes ergonomic criteria to be considered in the re-design and in the manufacture of a new chair - an assistive technology. In addition, this article establishes recommendations of organizational and operational order for the activities of training and competition of the athlete. Keywords:ergonomics,assitive technology,adapted sport,athletis, carrying people of deficiency. 1. INTRODUCÃO O esporte para Pessoas Portadoras de Deficiência (PPDs) teve inicio após a Segunda Guerra Mundial. Até então não existiam jogos organizados e praticados por este segmento social. Só após a grande guerra que os governos daqueles países, empenhados na reabilitação física, psicológica e na integração social dos soldados, passaram a investir significativamente neste setor esportivo. No Brasil, este tipo de esporte, denominado de esporte adaptado, surgiu como um auxiliar importante na reabilitação das PPDs. Em 1945, no STOKE MANDEVILLE HOSPITAL em Aylsbug, Inglaterra, Ludwig Guttmann iniciou o primeiro programa de esportes organizado em cadeira de rodas. Em 1946, Benjamim H. Lipton deu inicio ao desenvolvimento do esporte em cadeira de rodas nos Estados Unidos. A partir daí, o esporte adaptado tomou grande impulso, difundiu-se pelo mundo, chegando ao Brasil em 1958, quando o paraplégico Robson Sampaio de Almeida retornou dos Estados Unidos, onde estivera em tratamento, e funda, na cidade do Rio de Janeiro, o Clube do Otimismo. No mesmo ano em São Paulo o paraplégico Sérgio Delgrande funda o Clube dos Paraplégicos, surgindo as entidades nacionais, representando o desejo de todas as áreas de deficiência. Segundo o censo demográfico de 2000, elaborado pelo IBGE, as pessoas portadoras de deficiência no Brasil representam 14,5% da população (<http://www.ibge.gov.br>; consultado em 13/08/2006). Estatísticas brasileiras não oficiais indicam que apesar dos esforços tanto do governo quanto da iniciativa privada, apenas 3% destas pessoas são devidamente assistidas no tocante à reabilitação. A reabilitação é o processo pelo qual, com auxílio de uma equipe de profissionais, o portador de deficiência desenvolve suas potencialidades e diminuem suas limitações. Segundo ADAMS (1985) “a participação em esportes e jogos adaptados às suas possibilidades confere ao indivíduo a oportunidade de desenvolver o seu condicionamento físico, de se dedicar às atividades de lazer, de se tornar mais ativo, de aprender habilidades para poder se ocupar nas horas vagas e de colher experiências positivas no grupo e no ambiente social”. 2. ATLETISMO ADAPTADO Dentre as modalidades desportivas desenvolvidas no Brasil, o atletismo merece destaque, pois, através dos anos, esta modalidade demonstrou uma grande evolução fazendo parte do elenco de atividades propostas para as PPDs. Porém, toda história desta modalidade desportiva não se encontra publicada em nenhum material bibliográfico em nosso país e, apesar dos grandes avanços nesta área, a escassez de informações, de literatura técnico-científica apropriada e de profissionais devidamente preparados e informados, tem se constituído em um empecilho para um maior desenvolvimento de nossas atividades, e, principalmente, uma barreira para o aparecimento de um número maior de novos praticantes, dificultando a difusão de informações e incremento desta modalidade. 3. DOMÍNIO DA PESQUISA 3.1 Ergonomia A demanda desta pesquisa abrange as áreas da ergonomia e do design. Propõe-se aqui conhecer o comportamento do operador (praticante), a tecnologia (cadeira de arremesso/lançamento) e a utilização da tecnologia pelo operador numa situação de treinamento e competição desportiva (arremesso de peso; lançamento de dardo e disco). A ergonomia é a base científica responsável pelo link de conhecimentos e metodologias. Sinteticamente, ergonomia é uma ciência que visa adaptar o trabalho ao homem. Segundo a IEA-International Ergonomics Association, ergonomia é “a disciplina que trata da compreensão das interações entre os seres humanos e outros elementos de um sistema, e a profissão que aplica teorias, princípios, dados, e métodos a projetos que visam otimizar o bem estar o bem estar humano e a performance global dos sistemas”. Transportando para a prática desportiva, poderíamos dizer que a ergonomia visa adaptar a atividade desportiva ao atleta. Isto significa dizer que as tecnologias, as regras, as técnicas, as adaptações devem ser adequadas às características e limitações biológicas, físicas e mentais do atleta em contexto de treinamento e competição. A ergonomia nos ensina que reconheçamos os operadores ou trabalhadores como peritos. Daí, depreende-se que os atletas devem ser considerados peritos na sua atividade desportiva. Eles, melhor que qualquer um outro, sabem onde e quais problemas precisam ser tratados adequadamente. Nesta orientação, a ergonomia aponta para uma abordagem participativa na análise dos problemas, cujo atleta se constitui um recurso de competências para identificar deficiências existentes na atividade e para cooperar no desenvolvimento de soluções projetuais e de intervenção. 3.2 Ergonomia e produto A ergonomia se dedica ao estudo e desenvolvimento de produtos sem, simplesmente, considerá-los um objeto em si, mas entendo-os como meios para que os usuários possam realizar determinadas funções (IIDA, 1990, p. 353). No caso do produto cadeira de arremesso para atletas de arremesso de peso, portadores de deficiência, a ergonomia trata de procurar conhecer as funções requeridas pelo atleta em virtude da prática do desporto, a atividade desportiva. Os produtos podem ser avaliados de acordo com alguns critérios. IIDA (1990, p. 354) estabeleceu três critérios genéricos para avaliar a qualidade de interação dos produtos com os usuários, quais sejam: qualidade ergonômica: diz respeito à adaptação do produto às características do indivíduo usuário, considerando as suas capacidades e limites e os critérios de segurança e conforto; qualidadetécnica: diz respeito à qualidade do sistema técnico dos produtos, tais como a qualidade dos mecanismos de funcionamento, a eficiência operacional, o rendimento, a ausência de ruídos e vibrações, a facilidade de limpeza e manutenção, etc.; qualidade estética: diz respeito à harmonização de formas, cores, tipo de materiais, texturas e cores, visando a boa apresentação estética do produto. 3.3 Ergonomia e desporto Tratando-se este projeto de uma proposta de pesquisa em âmbito desportivo, cabe, aqui, adaptar os conceitos teóricos e denominações metodológicas - que a ergonomia traz do campo do trabalho -, para o campo desportivo. Analogamente, vamos aqui estabelecer um consenso de que, tal como um trabalhador em uma indústria mantém uma interface com o produto máquina ou posto de trabalho para realizar sua atividade e dar conta da tarefa que lhe foi demandada, o desportista em foco também exerce uma interface com o produto cadeira de arremesso para realizar a atividade de arremesso de peso, cujas marcas anteriores devem ser superadas, restringidas por um conjunto de regras e perseguindo metas pré-estabelecidas, em situação de treinamento e competição. Ao considerarmos o atleta em atividade desportiva, a exemplo do trabalhador em atividade de trabalho, vamos encontrar, na ergonomia, o campo da ciência e da prática que muito tem a contribuir com a área do desporto, em especial, do desporto adaptado. Daí, ser razoável falarmos de uma ergonomia do desporto ou ergonomia do desporto adaptado. 3.4 Tecnologia Assistiva Tecnologia assistiva “é uma ampla gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas que são concebidas e aplicadas para melhorar os problemas encontrados pelos indivíduos com deficiências. A definição mais usual apresenta a tecnologia assistiva como todo e qualquer item, equipamento, produto ou sistema que propicia ao portador de deficiência, uma vida mais independente, produtiva, agradável e bem sucedida, através do aumento, manutenção ou devolução das capacidades funcionais desta pessoa. Incluem-se aí, também os serviços relativos ao uso destes materiais”. Esse termo também está associado ao esporte de competição, como está apresentado em seus objetivos, que são o de “proporcionar à pessoa portadora de deficiência maior independência, qualidade de vida e inclusão social, através da ampliação de sua comunicação, mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado, competição, trabalho e integração com a família, amigos e sociedade” (<http://www.clik.com.br>; consultado em 13/11/2004). 4. MÉTODO: AET-Análise Ergonômica do Trabalho O método adotado para a análise da atividade do atleta, a formulação do diagnóstico ergonômico e a apresentação de recomendações de melhoria é o da AET-Análise Ergonômica do Trabalho. A observação sistemática e a ação conversacional, mediada por protocolos formalizados, são utilizadas na coleta de dados de campo, bem como a pesquisa bibliográfica. Pretende-se conhecer os intervenientes e determinantes da atividade do atleta, considerando suas necessidades especiais singulares (deficiência) e a situação em que ele é mobilizado, ou seja, no contexto da atividade desportiva. Face a esta metodologia situada, pretende-se apresentar as recomendações de melhorias de ordem organizacional, operacional e tecnológica. Isto inclui apresentar critérios para o projeto de desenvolvimento das tecnologias assistivas, ou seja, a(s) nova(s) cadeira (s) de arremesso e de lançamento adaptada (s) ao atleta, pois, quiçá, tenhamos que considerar um projeto de cadeira para cada um dos eventos desportivos (arremesso de peso, lançamento de disco e lançamento de dardo). 5. RESULTADOS E RECOMENDAÇÕES ERGONÔMICAS Esta pesquisa está em andamento, de modo que apresentaremos resultados parciais e não conclusivos. Os padrões estabelecidos para o uso da cadeira de arremessos são regulamentados internacionalmente são é também adotados aqui no Brasil. Em realidade, a padronização deste produto é bastante simplificada, senão vejamos: a altura máxima da cadeira de arremesso, incluindo almofadas usadas como assento não deve ser superior a 75cm; a cadeira pode possuir uma barra de apoio de metal ou fibra de vidro. (REGRA 179 Parágrafo 2, SEÇÃO IV- PROVAS DE CAMPO, CLASSES F32-34,F51-58). O atleta em estudo possui 33 anos, é do sexo masculino, 43 kg, 1,64 m de altura, possui primeiro grau completo, pratica atletismo adaptado desde 12 anos de idade, portanto há 21 anos, e se enquadra na seguinte classificação funcional de competição de arremesso: de peso = F52; disco = F53. O atleta da classe F52 apresenta as seguintes características: ausência de tríceps, problemas coma garra (forçando impulso com a palma da mão), geralmente apresenta um membro superior (MMS) com grande comprometimento e outro com pequena funcionalidade. O F53 pode segurar, ter apoio e força nos dedos, tem boa funcionalidade do ombro, cotovelos e pulsos e pode fechar e abrir os dedos com alguma limitação. Não possui funcionalidade das pernas e tem pouca funcionalidade do tronco. Um dia antes de iniciar a competição é realizada a classificação funcional do atleta por uma equipe de profissionais devidamente credenciados pela ABRADECAR-Associação Brasileira de Desporto em Cadeiras de Roda, Amputados e Les Autres. O objetivo desta classificação é o de agrupar os atletas de acordo com seu grau de comprometimento motor, para que a competição se processe sob o critério de equidade dos atletas. Há situações em que o atleta é reclassificado após participar de um evento (por exemplo, peso, disco, dardo) da modalidade do atletismo e, conforme a avaliação, ser reorientado para uma nova classificação funcional. Não há protocolos formalizados e critérios detalhados de enquadramento do atleta na categoria funcional e, conseqüentemente da competição, o que gera, muitas vezes dúvidas possíveis erros de enquadramento face esta dimensão subjetiva, induzida pela singularidade motora do atleta, expressando uma ampla heterogeneidade entre as seqüelas corporais. Segundo o depoimento do coordenador de atletismo da ABRADECAR, de larga vivência profissional acompanhando treinamentos e competições nacionais e internacionais, e de constatações através de pesquisa de campo, a modalidade de arremesso de peso no atletismo adaptado no Brasil apresenta uma série de problemas, que coincidem com os encontrados neste estudo de caso: tecnológicos: da cadeira de arremesso: constituída de materiais inadequados (de ferro, pesado, cortante etc.) dificultando a portabilidade (seja PPD ou não), saúde, segurança e uso; não dispõe de dispositivos destinados ao transporte manual (alças, rodinhas etc); possui estrutura rígida, inflexível e não desmonta (falta de modularidade); os acolchoados dos apoios e do assento não são uniformes; pegas geométricas da barra de apoio; dos acessórios: dispõe de acessórios de fixação cadeira-piso precários; dos implementos (peso, dardo, disco): implementos e instrumentos de treinamento degradados. Não possui uniformidade dos acolchoados dos apoios e do assento Pegas geométricas da barra de apoio. Material do assento desconfortável. Difícil portabilidade e ausência de modularidade. Dimensões do assento inadaptada ao atleta. Acabamento rudimentar e degradado. (ESTÉTICA) Material pesado (ferro.) Cadeira fora do eixo vertical, devido ao piso irregular e à fabricação rudimentar Figura 01: Problemas da cadeira de arremesso de interface atleta-cadeira: cadeira inadaptada às características antropométricas do atleta portador de deficiência física. de conforto: os atletas se queixam de desconfortono uso da cadeira de arremesso/lançamento (por isso, muitas vezes, o atleta opta pelo uso da cadeira de uso diário durante a prática desportiva); normativos:: no geral, os atletas utilizam a cadeira sem a observância dos aspectos regulamentares do desporto, quando, por exemplo, fixa a altura do assento abaixo do nível regulamentar máximo de 75 cm. Esta atitude prejudica o rendimento do atleta que perde parte do alcance horizontal por não ter o assento posicionado na altura máxima regulamentar. A cadeira em estudo obedece esta regulamentação; técnicos do desporto adaptado: dificuldade de identificação da classe de competição do atleta (classificação funcional / categoria); não há procedimento formalizado de instalação e fixação da cadeira de arremesso (despadronização); sociais: a grande maioria dos atletas PPDs e, em especial, do atletismo adaptado são oriundos de famílias de baixa renda, o que dificulta a prática desportiva, pois esta exige despesas com deslocamento e, muitas vezes, pessoas para acompanhá-los e ajudá-los em todo o processo; quando existe algum apoio institucional esta prática é facilitada, mas, mesmo assim, apresenta problemas de acomodação no veículo (Kombi ou similares), cujos espaços são divididos entre pessoas e cadeiras de uso diário; de instalações: as instalações do parque esportivo, onde o atleta realiza seus treinamentos, são precárias e inadaptadas às características do referido atleta e pondo em risco a segurança das pessoas envolvidas no processo de treinamento e público circulante, pois não dispõe de gaiola de proteção para o lança mento do disco, por exemplo; a acessibilidade até a pista de atletismo é dificultada, devido a existência de obstáculos, pisos irregulares e pisos de areia. organizacionais: os treinadores são mal remunerados e contam geralmente com pessoas voluntárias que ajudam na condução e nos serviços de apoio ao treinamento; quando se trata de atleta de alto nível, o monitoramento biomecânico, alimentar, fisiológico e psicológico é extremamente importante, embora estes atletas encontrem dificuldades de suporte nestes quesitos; falta de equipe técnica e multiprofissional; o sistema carece de maior profissionalização, embora haja profissionais e atletas de alta competência neste desporto; não há protocolos formalizados de monitoramento do desempenho; não há protocolos formalizados de monitoramento da saúde do atleta; uso de acessórios pessoais nos treinamentos e nas competições; Restrição do giro da perna direita. Anteparo do lado direito não tem função. Parte posterior do assento com formato retangular. Não há encosto para região lombar na parte posterior da cadeira. Apoio dos pés ligeiramente inclinado para baixo. Apoio da mão em altura inadequada. Uniforme inadequado. Ângulo inadequado entre o pé da cadeira e o assento. Figura 02: Problemas de interface atleta- cadeira. ambientais: atividade desportiva à céu aberto, com o atleta exposto ao sol (raios ultra-violeta), chuva, umidade, vento, poeira e sereno; simbólicos: a cadeira possui um design rudimentar, materiais de baixa qualidade, manutenção precária e textura precária, que interferem na estética da mesma, anulando o aspecto da beleza e plasticidade da mesma e interferindo, assim, no moral do atleta. Estas disfunções parecem se constituir em fatores intervenientes ou mesmo determinantes no comprometimento da performance da atividade e do bem-estar do praticante, bem como sugere que o abandono da prática desta modalidade desportiva, por parte de alguns praticantes, possa, de um certo modo, encontrar aí uma de suas raízes e razões. Algumas recomendações ergonômicas gerais já podem ser esboçadas como, por exemplo: adquirir uniforme com aderência adequada ao assento; re-projetar a cadeira adaptada ao atleta (com base nas medidas antropométricas do atleta, diminuir o comprimento do assento, recuar o assento na parte anterior direita, modificar o posicionamento das pernas do atleta; adquirir material com mais resistência para o assento; introduzir rodas para melhorar a portabilidade da cadeira; construir a cadeira com material mais leve e resistente; arredondar o assento em sua parte posterior; inclinar ligeiramente o assento para frente; melhorar a estética da cadeira); melhorar as instalações no parque esportivo; renovar os implementos; promover a qualificação contínua do treinador; promover o monitoramento racional e formalizado das condições de saúde e rendimento do atleta; compor uma equipe técnica multiprofissional para o treinamento; introduzir, quando mão possuir, a disciplina Desporto Adaptado, nos cursos de educação física, e disciplinas que abordem o tema das PPDs nos cursos de fisioterapia e psicologia, das instituições de ensino superior do país etc. Para esta pesquisa foram desenvolvidos os seguintes protocolos, testados e validados: de avaliação do rendimento do atleta; de teste de equilíbrio e fixação da cadeira para a realização do treinamento e da competição; de avaliação das condições de uso das cadeiras existentes; de observação sistemática da atividade desportiva; de ação conversacional. 6. CONCLUSÃO Constatamos problemas de ordem organizacional, tecnológico, normativo, operacional e simbólico envolvendo o atletismo adaptado, em especial os eventos de arremesso (peso) e lançamentos (dardo e disco), que interferem no desempenho desportivo e na saúde, conforto e segurança do desportista. A subjetividade envolvida nas avaliações da classificação funcional pode interferir nos resultados das competições, uma vez que o avaliador fica vulnerável às singularidades corporais das PPDs que, associadas a procedimentos de avaliação pouco padronizados e uniformizados, contribuem para uma eventual quebra do princípio de equidade, à medida que um atleta possa levar vantagem sobre o outro por ter sido enquadrado numa classificação funcional de menor porte que a sua classificação funcional real. A pouca profissionalização administrativa no setor do atletismo adaptado em cadeira de arremesso/lançamento (eventos de arremesso de peso e lançamento de dardo e disco) é evidente, o que dá margem a improvisações, bem como carece de profissionais especializados para a preparação dos atletas, o que dificulta a consolidação do Brasil como expressão internacional neste segmento desportivo, embora este país disponha de excelente quadro de atletas e profissionais. A pouca profissionalização se expressa também na falta de alguns protocolos formalizados para o treinamento e a competição, demandando do setor ações para uma melhor racionalização, padronização e uniformização “flexíveis” dos meios de trabalho e procedimentos existentes. O conhecimento difundido neste campo científico ainda é bastante incipiente bem como as aplicações. É bem provável que, à medida que os estudos avancem, o regulamento deste desporto, com relação aos padrões da cadeira de arremesso também evolua, fazendo com que este desporto venha a ser praticado com maior motivação, facilidade, conforto e segurança pelos praticantes e, assim, eles possam atingir resultados de maior performance. Esperamos estar contribuindo para disseminar, junto aos profissionais que atuam nesta área, os conhecimentos produzidos por esta pesquisa para que eles possam, em se utilizando deste conhecimento, enxergar na prática de esportes uma ferramenta poderosa para o processo de reabilitação social igualitária. Do ponto de vista dos objetivos, não parece haver qualquer distinção entre os objetivos da ergonomia e os da tecnologia assistiva, pois a ergonomia é por si só inclusiva e assistiva, à medida que inclui as pessoas portadoras de necessidades especiais ou PPDs, bem como as não portadoras, em seus propósitos de adaptar (e, portanto, assume o caráter assistivo)os sistemas sócio-técnicos às características das pessoas, obedecendo aos critérios de saúde e de eficiência produtiva. 7. BIBLIOGRAFIA ADAMS, R.C. et al. Jogos, esportes e exercícios para o deficiente físico. São Paulo: Ed. Manole, 1985. ALMEIDA, Robson S.. Histórico dos Jogos em Cadeira de Rodas no Brasil. In: Revista Integração Social dos Deficientes. Fev/83. Ano I n° 1. RJ. Centro de Promoções e Editora Ltda. BOUERI FILHO, José Jorge. Antropometria aplicada à arquitetura, urbanismo e desenho industrial. São Paulo: FAU/USP, vol 1, 1991. CARVALHO, R. J. M. de. 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