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Medicina Legal Psicologia forense Psicologia forense • A Psicologia Forense estuda os limites normais, biológicos, mesológicos e legais da capacidade civil e da responsabilidade penal; quando analisa os limites e modificadores anormais das mesmas e as doenças mentais, oligofrenias e as personalidades psicopáticas será Psiquiatria Forense. • O psicopatologista forense pode ser chamado para elucidar desordens mentais relacionadas com a capacidade civil e a responsabilidade penal e esclarecer a respeito a autoridade judiciária, a quem não cabe fazer diagnóstico, nem prognóstico, de ordem médica. Como já foi dito, é essa a única perícia que não pode ser determinada pela autoridade policial; só o órgão jurisdicional é que pode determiná-la, de ofício, ou a requerimento do representante do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, do descendente, irmão ou cônjuge do réu. • Limitadores e modificadores da capacidade civil e da responsabilidade penal. • As legislações civil e penal fixam, de forma expressa ou implícita, respectivamente, os limitadores e os modificadores da capacidade civil e da responsabilidade penal. Psicologia forense • A capacidade primeira é, no dizer de Washington de Barros Monteiro, “a aptidão para adquirir direitos e exercer, por si ou por outrem, atos da vida civil”. • Não se exclui da definição, portanto, a possível intervenção de representante legal, como nos casos da incapacidade relativa dos maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito) anos, os ébrios habituais, os viciados em tóxicos e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido, além dos excepcionais, sem desenvolvimento mental completo, e os pródigos, que podem exercer certos atos da vida civil mediante tutor ou curador, segundo a espécie. • A capacidade dos silvícolas será regulamentada por legislação especial. • Imputabilidade penal é o conjunto de condições pessoais que dão ao agente capacidade para lhe ser juridicamente imputada a prática de fato punível (Aníbal Bruno, Direito penal, Rio de Janeiro, Ed. Nacional, 1956, p. 39). É a capacidade para ser culpável. Psicologia forense • Imputável é, então, todo indivíduo mentalmente são e desenvolvido, dotado da capacidade de sentir-se responsável pelo ato praticado. • Inimputabilidade é a incapacidade para apreciar o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com essa apreciação (Fernando Diaz Palos, Teoría general de la imputabilidad, Barcelona, Bosch, 1965, p. 173-4). • São causas da inimputabilidade a doença mental, o desenvolvimento mental incompleto, o desenvolvimento mental retardado (art. 26 do CP) e a embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior (art. 28, § 1.º, do CP). • Também tutela a inimputabilidade o art. 27 do Código Penal. • Segundo Petrocelli, “capacidade penal é o conjunto das condições exigidas para que um sujeito possa tornar-se titular de direitos ou obrigações no campo de Direito Penal”. • Distingue-se a capacidade penal da imputabilidade penal. • A capacidade penal é fato da competência judicial e se refere a momento anterior ao crime; a imputabilidade é condição de indicação diagnóstica pericial que deve existir no momento da infração. Psicologia forense • Nélson Hungria considera essa distinção despida de utilidade. • A imputabilidade, contemporânea ao delito, pode não ser sujeito de Direito Penal, por incapacidade surgida durante a fase de relação processual, como na superveniência de doença mental, conforme preceitua o art. 152 do Código de Processo Penal: “Se se verificar que a doença mental sobreveio à infração, o processo continuará suspenso até que o acusado se restabeleça.”. • Responsabilidade, ensina Magalhães Noronha (Direito penal, Saraiva, 1980, v. 1, p. 172, n. 100), “é a obrigação que alguém tem de arcar com as consequências jurídicas do crime. Ela depende da imputabilidade do indivíduo, pois não pode sofrer as consequências do fato criminoso (ser responsabilizado) senão o que tem a consciência de sua antijuridicidade e quer executá-lo”. • Idade • É importante fator de limitação e modificação da responsabilidade penal e • da capacidade civil, convindo em sua análise distinguir o aspecto criminal e o aspecto civil. Psicologia forense • a) Aspecto criminal — A idade é atenuante dos 18 aos 21 anos, nos delitos comuns, por imaturidade psíquica coincidente com a incompleta fixação do esqueleto, e a partir dos 70 anos, por reconhecer a lei dificuldade biológica na classificação dos velhos e entender que a idade avançada provoca nos mesmos, constantemente, alterações fisiológicas da lucidez, atitude, tendências, afetividade e vitalidade, tendendo o criminoso senil a tornar- se menos perigoso. • O art. 27 do Código Penal e o art. 228 da Constituição Federal dispõem que até os 18 anos os menores são penalmente inimputáveis, ficando, porém, sujeitos aos preceitos estabelecidos por legislação especial. Então, embora penalmente inimputáveis dos 14 aos 18 anos, os menores delituosos sofrerão processo especial, após o que o juiz determinará sua internação para orientação educacional, ou, se o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá a autoridade submeter o menor a tratamento ambulatorial por tempo indeterminado, em prazo mínimo de 1 a 3 anos, até que perito médico confirme a cessação da periculosidade. Psicologia forense • Ao juiz é dado converter o tratamento ambulatorial em internação do agente menor de 18 e maior de 14 anos, em estabelecimento dotado de características hospitalares, se essa providência for necessária, para fins curativos. O internando jamais poderá ultrapassar a idade de 21 anos. • Nenhum menor de 18 anos irá para prisão comum, ficando sempre amparado pelo juízo especial. • b) Aspecto civil — No Código Civil, Parte Geral, art. 3.º, I, os menores de 16 anos são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil, sendo-lhes, portanto, interdito testar, testemunhar em testamentos etc. Dos 16 aos 18 anos, são relativamente incapazes a certos atos (art. 171, I), ou à maneira de exercê-los (art. 4.º, I, do CC). O homem e a mulher com 16 anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil. Psicologia forense • A denominação indica a aplicação dos conhecimentos e técnicas psiquiátricas aos processos jurídicos, atentando, entre outras finalidades, para o comportamento dos indivíduos com as outras pessoas na sociedade. • A Lei n. 10.216, de 6 de abril de 2001, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. São direitos assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto a raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra. • O art. 2.º determina que nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único desse artigo: • “Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental: • I — ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades; Psicologia forense • II — ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; • III — ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; • IV — ter garantia de sigilo nas informações prestadas; • V — ter direitoà presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária; • VI — ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; • VII — receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento; • VIII — ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis; • IX — ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental”. Psicologia forense • Conceito de normalidade e de anormalidade • A psiquiatria forense é formada da soma de conhecimentos médico psiquiátrico e jurídicos, intitulada juspsiquiatria. • Esta requer de seus professadores toda uma gama de estudos específicos, técnica apropriada e treino intensivo para o correto desempenho do honroso mister de, louvado pelo juiz, lavrar o laudo de exame de sanidade mental referente ao réu, pois nenhum médico não psiquiatra, por maior seja a sua nomeada científica e o saber das formalidades jurídicas pertinentes à função pericial, estará apto a fazê-lo, abarregado no papel de juspsiquiatra, posto que tal esdrúxulo comportamento só por si torna o documento médico-judiciário inidôneo. • Não existe um limite nítido de separação no que tange ao conceito de normalidade e de anormalidade em psiquiatria forense. • As dificuldades na investigação da normalidade psíquica exsurgem, em toda sua complexa extensão, mercê das projeções biológicas, psicológicas, filosóficas, antropológicas ou sociais e até metafísicas inerentes a cada indivíduo pois não basta ser normal. Psicologia forense • Por isso é que a qualificação de normalidade psíquica deve ser fundada com prudência, e só após esgotados os meios experimentais e racionais, apelando para todos os elementos de juízo, inquirindo de forma completa sobre a verdadeira índole da personalidade explorada. • Raitzin (O homem normal, esse desconhecido, 1949) aduz que “é a normalidade mental, com efeito, considerada simplesmente qual um conceito primacial dos conhecimentos psicológicos, e como uma realidade virtual do psiquismo, quando nele não se nota nenhum dos estigmas mórbidos ou sinais patológicos por que se diferenciam e identificam as diversas constituições psicopáticas e as síndromes características das moléstias mentais conhecidas. • Destarte, todo indivíduo cujo tipo de mentalidade e comportamento não esteja incluído na nosologia psiquiátrica, fica de fato categorizado, classificado como normal”. Psicologia forense • Não se olvidem certas formas ambíguas de normalidade, de seminormalidade ou de semialienação, que se caracterizam por insuficiência (debilidade), por certas perturbações (desequilíbrio, formas frustrâneas de esquizofrenia, abnormais sexuais), ou por decadência (debilidade intelectual e moral dos pré-senis). • Nada obstante, para nós, normal é o indivíduo cujo tipo de mentalidade e comportamento não esteja incluído na nosologia psiquiátrica e que atua harmônica e silenciosamente em sociedade. Anormal será o que, desadaptado ao meio, se afasta da norma aceita pelo homo medius; é o desregrado. • Oligofrenias • Oligofrenia (oligo = pouco; phreno = espírito) é termo introduzido na Psiquiatria por Kraepelin querendo significar um grupo mórbido caracterizado por desenvolvimento mental incompleto, de natureza congênita ou sobrevindo por causas patológicas no primeiro período da vida extrauterina, antes do término da evolução das faculdades psicointelectivas, com acentuado déficit da inteligência. Psicologia forense • As oligofrenias admitem três gradações: idiotia, imbecilidade, debilidade mental. • Para ajuizar a evolução intelectiva desses deficientes, Binet e Simon relacionam a sua idade mental, ou seja, o índice de desenvolvimento intelectual fornecido pela aplicação de provas psicométricas, à mentalidade de uma criança: o idiota teria evolução mental abaixo dos 3 anos; o imbecil, entre 3 e 7 anos, e o débil mental, entre 7 e 12 anos. • É critério de gradação puramente psicológico. • Terman, revendo os testes de Binet e Simon, registra os seguintes índices ao quociente intelectual: • Q.I. Abaixo de 25 idiota; de 25 a 50 imbecilidade; de 50 a 70 debilidade mental; de 70 a 90 debilidade mental fronteiriça; de 90 a 110 inteligência normal; de 110 a 120 inteligência superior; de 120 a 14 inteligência muito superior; acima de 140 inteligência genial. Psicologia forense • Idiotia • É um estado mórbido ligado a um vício acidental ou congênito do encéfalo e que consiste na ausência completa ou na parada do desenvolvimento das faculdades intelectuais e afetivas. • Os idiotas têm idade mental abaixo dos 3 anos e quociente intelectual inferior a 25. São incapazes de cuidar-se, de bastar-se e de transmitir simples recados; não articulam palavra. • Os idiotas profundos têm vida psíquica infra- humana, inferior à dos animais superiores. • O idiota incompleto, ou de segundo grau, já é capaz de rudimentos de linguagem e alimenta os instintos de conservação sexual. São economicamente dependentes. Em geral, vivem pouco. Psicologia forense • Imbecilidade • Os imbecis têm rudimento de inteligência com quociente intelectual entre 25 e 50 e idade mental de 3 a 7 anos. • São passíveis de medíocre aprendizado, mediante ingentes esforços, em estabelecimentos especializados. • Podem articular a palavra. • Alguns têm boa memória porém sugestionáveis, são propensos à cólera e à violência e a atos de pequena delinquência, fraude e prevaricação, podendo, portanto, defender-se de perigos ordinários. • Têm uma precocidade sexual que se satisfaz de modo abnormal, pela masturbação. • Adaptam-se mal ao convívio familiar mas possuem gosto por animais. • Os imbecis são incapazes de prover a sua subsistência em condições normais. Psicologia forense • Debilidade mental • Os débeis mentais têm idade mental entre 7 e 12 anos e quociente intelectual de 50 a 90. • São incapazes de manter uma luta pela vida em igualdade de condições com as pessoas normais; podem, no entanto, bastar a si próprios em circunstâncias favoráveis. • Casper afirma que “a irritabilidade fácil dos débeis mentais pode levá-los à violência, às lesões corporais, ao homicídio, à antropofagia”. • Extremamente sugestionáveis, são crédulos, porém maliciosos e intrigantes. • Alguns, a custa de penoso esforço intelectual, cursam nível universitário e logram obter o aspirado título idôneo; outros, em que a debilidade mental é pouco pronunciada, ingressam em cargos públicos nas mais diversas áreas e, por vezes, alcançam projeção social. • Os débeis mentais integram o maior percentual das oligofrenias. Psicologia forense • Importância médico-forense • Os idiotas e os imbecis são penalmente inimputáveis por serem, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapazes de entender o caráter ilícito do fato, ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. • Dessa forma, embora os idiotas e, mais frequentemente, os imbecis possam cometer toda uma gama de infrações penais (homicídios, estupros, furtos), são irresponsáveis que devem ser enquadrados no art. 26, caput, do Código Penal. • São também, civilmente, absolutamente incapazes para gerir seus bens e haveres, ou consentir (art. 3.º, II, do CC), “os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos”. • Compreendem os “portadores de alienação mental permanente ou duradoura capaz de determinar alteração grave das faculdades mentais” (R Limongi França, Instituições de direito civil, Saraiva, 1988, p. 55). Psicologia forense • Assim compreendem esse grupo todas as psicoses (esquizofrenia, psicose epiléptica, psicose maníaco-depressiva,psicose puerperal, psicose senil, psicose pós-traumatismo craniano etc.), mais o alcoolismo crônico e a toxicomania severa, e todos aqueles que, por uma parada ou atraso no seu desenvolvimento psíquico, são incapazes de uma apreciação dos fenômenos exteriores e, por conseguinte, de uma violação consciente. • Exemplos: idiotas, cretinos, imbecis, débeis mentais quase fronteiriços com a imbecilidade. • Insta diferençar louco e alienado, expressões que não são sinônimas nem equivalentes. • Alienação é forma de doença mental em que não há desintegração da personalidade que compreende o louco e o delirante. Alienado é, então, o extasiado, absorto, enlevado, como que fora de si de modo permanente, verbi gratia, “vivendo no mundo da lua”, podendo manifestar loucura e delírio; já o delirante não é louco, embora, como este, seja alienado que, mercê a um desvio do raciocínio, exprime distúrbios da consciência e da percepção. Psicologia forense • Louco é alienado mental que sofreu modificação da personalidade e perdeu de um modo absoluto a faculdade de raciocinar, motivada por processo patológico ativo. • O idiota, o demente senil “são enfermos de um processo patológico estacionário ou crônico: não são loucos, mas são alienados” (H. Gomes). • Ex expositis, justifica-se a acerba crítica que fazemos à esquisita e incorreta expressão, do ponto de vista psiquiátrico, que era empregada pelo Código Civil anterior, “loucos de todo o gênero”, querendo significar todos os doentes mentais, loucos e alienados. • O correto seria “alienados de qualquer espécie”. Pelo atual Código Civil, a expressão foi abolida, referindo-se, apenas, aos que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos (art. 3.º, II). Psicologia forense • Os débeis mentais são capazes de exercer, com limitações próprias, os atos da vida civil. • A debilidade mental é um retardamento geral da aprendizagem intelectual não constitutiva de impedimento matrimonial; todavia enseja anulação de matrimônio se o outro cônjuge tomar conhecimento dessa situação a posteriori. Os débeis mentais são rotulados pela legislação penal vigente como semi-imputáveis e enquadrados no parágrafo único do art. 26 do Código Penal, por não serem inteiramente incapazes de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. • Exame de sanidade mental • O exame de sanidade mental pode ser ordenado quer durante o inquérito policial, mediante representação de delegado de polícia ao juiz competente (nunca “de ofício” diretamente ao experto), quer durante a ação penal, objetivando esclarecimento pericial sobre a higidez mental do réu, contemporânea à prática delituosa, e a sua completa incapacidade de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Psicologia forense • É uma modalidade de exame pericial, contudo, que, dissemos, não pode ser determinada de pronto pelo promotor de justiça, nem pelo delegado de polícia. • A instauração do incidente de insanidade mental somente pode ser ordenada pelo magistrado, conforme estatui o art. 149 do Código de Processo Penal. O juiz o ordenará, de ofício ou a requerimento do acusado, do defensor, do curador, ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, se não verificar que o pedido é meramente protelatório ou tumultuário. • Dessarte, o juiz pode acatar ou não o pedido de instauração de exame de sanidade mental. • Em que pese dizer a lei que, em linha de princípio, “toda a prova requerida pelas partes deve ser necessariamente deferida, sob pena de configurar-se violação de direito ensejador de nulidade processual, desde que tempestivamente proposta (oferecimento no momento oportuno), pertinente (relativa ao processo), admissível (possível pelo direito e realidade) e não se referir a fatos que não se provam ... Psicologia forense • ... não se provam (intuitivos, resultantes de presunção legal, inúteis ou notórios)’’ (Camargo Aranha, Da prova no processo penal, 1983, p. 28), não se deve crer tenha o probus judice o dever de atender sempre ou em qualquer circunstância ao requerimento das partes. • O magistrado somente deferirá o requerimento de instauração de insanidade quando presentes indícios de perturbação ou vislumbrar no indiciado sinais de sofrer das faculdades mentais. • O indeferimento motivado, após a instauração da ação, na oportunidade do recebimento da denúncia, não constitui error in procedendo, mas simples utilização de faculdade delegada ao juiz que não se contamina de eiva ou abuso, capaz de tumultuar a deambulação regular do feito. • No eito de todo o exposto, nada justifica, portanto, a anulação de processo sob alegação de indeferimento do exame médico-psiquiátrico de insanidade mental, por parte de autoridade judicante que fundamentou sua decisão, nem para a conversão do julgamento em diligência objetivando tal finalidade. Psicologia forense • Ordenado pelo juiz o exame de sanidade mental, este para ter validade será procedido, obrigatoriamente, por juspsiquiatra, nunca por profissionais de medicina especialistas em outras áreas ou por psicólogos. • Sempre é bom frisar que o periciando tem garantia legal de sigilo nas informações prestadas (art. 2.º, parágrafo único, IV, da Lei n. 10.216/2001), não podendo o perito divulgá-las, como não raramente acontece, nem mesmo como referência no corpo do laudo que será lavrado, sob pena de incidir em infração de quebra de sigilo profissional. Psicosexualidade • Psicosexualidade • O instinto sexual, força dominante na natureza humana, é expressão designativa da ação orgânica reflexa neuropsíquica, desencadeada por automatismos profundos filogenéticos, objetivando, primordialmente, a perpetuação da espécie e, secundariamente, nos seres mais evoluídos da escala zoológica, a satisfação da posse carnal. Ademais, para um ainda pequeno grupo da espécie humana, a conjunção carnal não se limita apenas a descarregar a tensão física e emocional provocada pelo acúmulo de sêmen nas vesículas seminais ou a uma infinita seriação dos seres vivos, mas, fundamentalmente à significação da reintegração transcendental ao Princípio Divino, pelo amor, retornando, num átimo, e não permanentemente, à unicidade prístina. • Conforme Rhada Krishnan (Filosofia hindu, v. 1), “podemos adquirir um estado incomparavelmente maior que a satisfação do desejo” Psicosexualidade • Psicosexualidade • Libido é a manifestação mental do instinto sexual. • É forma de energia psíquica especialmente associada à volição sexual. • Essa modalidade de energia psíquica associada ao instinto sexual não está atrelada exclusivamente aos órgãos genitais, posto que pode orientar-se para objeto, pessoas ou certas regiões anatômicas (libido objetal, feiticista), para o próprio corpo (libido narcisista), ou, ainda, para nutrir as atividades intelectuais (libido sublimada). • O sexo já não é mais assunto delicado e embaraçoso, considerado inocente ou nocivo. É apenas, quando bem orientado, a expressão carnal de mais uma função fisiológica do organismo. • O que ocorre, amiúde, é a nefasta influência de uma obsessão pública pelo assunto, incrementada por uma verdadeira enxurrada de informações deseducativas pelos meios de comunicação — revistas, literatura erótica, jornais e filmes cinematográficos alcançando um número considerável de pessoas que vivem habitualmente frustradas ou... Psicosexualidade • ...ou com sua sexualidade, a rigor, desmotivada ou reprimida, ameaçando lançar, especialmente a juventude, para os infectos pântanos da imoralidade. • Vale destacar, ademais, a infeliz hipocrisia que permeia a sociedade em que vivemosquando o assunto é sexo ou sexualidade, bem como o falso moralismo e as fanáticas orientações religiosas, que culminam com a infelicidade da pessoa. • Os desvios da atividade sexual de um indivíduo, quando não são expressões de outras enfermidades mentais, são fundamentados no transtorno do instinto e na definição inata do sentimento ético. • Os transtornos da vida sexual são, inclusive no homem normal, frequentes anomalias da sexualidade em estado latente. O aparecimento dos desvios sexuais pode ser determinado por situações ambientais como formas de reação, e, também, por circunstâncias tóxicas (alcoolismo, entorpecentes), fisiológicas (puberdade e menopausa), ou patológicas (demência senil, paralisia geral progressiva, arteriosclerose generalizada). Psicosexualidade • Para a Medicina Legal importa, por sua nocividade, o estudo da sexualidade anômala, ou seja, das perversões e das aberrações sexuais, caracterizadas pelas modificações qualitativa e quantitativa do instinto sexual, quer no que concerne ao objeto, quer no que se refere à finalidade do ato, determinadas por degeneração psíquica ou por fatores orgânicos glandulares, não se esquecendo, todavia, que em várias psicoses aparecem sintomas de perturbações da atividade genesíaca, com o aspecto de mero epifenômeno. • Para uma melhor compreensão da gênese dos desvios e das perversões ou aberrações do instinto sexual — tendência ou predisposição inata cujo objeto é o coito, e que difere de indivíduo para indivíduo —, convém tecer algumas considerações sobre o desenvolvimento da psicosexualidade no ser humano. • Este desenvolvimento da psicosexualidade procede-se paulatinamente através de fases que não guardam um limite nítido de separação, antes interpenetram-se, mesclam-se entre si. Psicosexualidade • Dessa forma, a divisão em fases etárias objetiva tão somente exposição didática. • No início da vida extrauterina, a criança, qualquer que seja o sexo, é regida pelo chamado “princípio do prazer”, que a impulsiona, constantemente, a realizar tudo que lhe possa causar satisfação, ao mesmo tempo em que a afasta do que lhe causa aborrecimento, frustração ou infelicidade. • Na segunda fase do período pré-genital, esse “princípio do prazer” é substituído pelo “princípio da realidade”, o qual leva a criança a adiar a realização de suas satisfações momentâneas visando a gerar a estima e a aceitação na comunidade. • O desenvolvimento psicossexual do ser humano ocorre, didaticamente, em três grandes períodos: • 1) período pré-genital, que compreende os seis primeiros anos de vida extrauterina; • 2) período de latência, que se estende dos 7 aos 12 anos; • 3) período genital, também chamado puberdade ou adolescência, que abrange a fase etária dos 11 ou 12 anos até a idade adulta. Psicosexualidade • O período pré-genital compreende três fases: oral, anal ou anal sádica e fálica. • Na fase oral, compreendida desde o nascimento até os 18 meses de vida extrauterina, a criança obtém satisfação, representada pelo prazer em mamar ou em ser alimentada, ou chupando os dedos etc., pelo emprego dos lábios, da boca, língua, palato e gengivas, que funcionam, dessa forma, como uma primeira zona erógena. • Entre os primeiros 12 e 36 meses de vida extrauterina, desenvolve-se a fase anal ou anal sádica, em que a criança tem despertada a sua área de interesse basicamente para o ânus e circunjacências, que funcionam como a segunda zona erógena. Assim, a criança sente nessa fase prazer nas funções eliminatórias intestinal e vesical, e em brincar com ou cheirar as excretas. • A partir de um ano de idade, ou mais, ela passa a exercer um certo controle sobre os esfíncteres, trocando o “princípio do prazer” pelo “princípio da realidade”, iniciando-se numa adaptação socialmente aceita e familiarmente adequada, visando a ganhar a estima da comunidade. Psicosexualidade • Na fase fálica, que se estende dos três aos seis anos, a área de interesse da criança situa-se nos genitais. • A manipulação das zonas erógenas, concomitantemente ao prazer desencadeado por posterior masturbação, gera a chamada “ansiedade de castração”, de modo diferente conforme seja o sexo da criança. • Destarte, o menino sente inclinação afetiva para a mãe, rivalizando e hostilizando o pai, a quem passa a temer, admirando-lhe, entretanto, a figura masculina. • O menino, cujas zonas erógenas agora concentram-se nos órgãos genitais, a par da satisfação que sente em manipulá-los, teme a punição do pai, ou dos adultos, pela mutilação dos mesmos, o que gera o “complexo de castração” ou “ansiedade de castração”. • Para aliviá-la, reprime a hostilidade contra o progenitor, procurando identificar-se com o mesmo e assumir sua função masculina no grupo social. Psicosexualidade • A menina, quando nota a diferença de seus órgãos genitais relativamente aos do menino, sente-se prejudicada ou castrada. Responsabiliza a mãe pela castração e volta-se para o pai, que lhe inspira inveja por possuir falo, que ela não tem. • É o chamado “protesto viril” de Adler, em que se cria a situação de “romance familiar” ou “situação edipiana”, em que a menina ama e admira o pai, tomando-o como padrão masculino ou rejeitando-o como esse modelo na adolescência. • Nessa trilha de entendimento, a criança, seja o sexo que for, educada em atmosfera hostil e sem amor, dissimula muitos de seus desejos, aspirações e opiniões, por temor a desaprovação dos próprios pais e, para ser mantida em bom conceito, aprende a levar a vida artificial, desagradável, até mesmo neurótica, gerando conflito psíquico, a princípio inconsciente, mas, depois, corporifica e se manifesta por depressão, sintomas físicos, distúrbios da psicosexualidade etc. Psicosexualidade • É na fase pré-genital que se desenvolve toda atividade sexual da criança pelo estímulo desencadeado por sensações de prazer relacionadas com a boca, na fase oral, o ânus, na fase anal ou anal sádica, e com os órgãos genitais, na fase fálica, originando a libido. • Se a libido, manifestação mental do instinto sexual, por interferência de barreiras psicológicas no processo normal de maturação psicossexual, fixar-se numa destas fases, ou se o indivíduo a uma delas retorna na idade adulta, diz-se ter ocorrido, do ponto de vista psicanalítico, uma fixação da libido em tal ou qual fase. • Como reforço, a maioria dos desvios sexuais tem origem em processos de regressão ou de fixação a níveis infantis de sexualidade. • No período da latência inicia-se a solução do “romance familiar” ou “Complexo de Édipo” ao mesmo tempo em que, nessa fase, surgem outras manifestações da atividade sexual, controladas pelo recalque e pela educação familiar e social. Psicosexualidade • Neste período ocorrem manifestações mixoscopistas, e de exibicionismo, que não devem ser confundidas com os desvios sexuais, homônimos dos adultos; surge, também, um fenômeno transitório de “pseudohomosexualismo”, tornado patente pelo antagonismo dos sexos, e que não se vexará com o uranismo e a pederastia masculina ou com o lesbianismo e o tribadismo. • E se desenvolvem concepções do ego como o pudor, a aversão, a moralidade, objetivando suportar, mais tarde, a tempestade e a tensão da puberdade e a dirigir as tendências sexuais novamente despertadas, como salienta Freud. • No período genital, puberdade ou adolescência, os fenômenos psicobiológicos ligados à maturação das gônadas se completam, com surgimento dos caracteres sexuais secundários, polução noturna, no sexo masculino, e menstruação, nas meninas, interesse pelo sexo oposto, decisão da carreira profissional etc. Psicosexualidade • Nesta fase do desenvolvimento, a psique dos jovens, e especialmente da menina,sofre inusitadas alterações, importando a transição da infância para a idade adulta em profundas adaptações internas às tensões instintivas e emocionais, assim como na necessidade de dirigir e dominar os problemas advindos dos intensos conflitos da puberdade em face do ambiente social. Vai-se desenvolvendo, ao mesmo tempo, nos jovens, o sentimento de amor próprio e independência que os fazem abandonar paulatinamente quase todas as atitudes infantis, objetivando obter a aprovação dos pais ou de quem as vezes lhes faz. • Por seu turno, existe, já, em seus espíritos, verdadeiro masoquismo psíquico ou gozo inconsciente pela própria dor que persiste veladamente como um fator inerente à feminilidade, desde a puberdade até a reprodução. O suportar consiste, pois, atitude tão característica da passividade feminina, como o atuar no homem. Esses dois fatores — amor próprio e prazer inconsciente pela dor — deverão contrabalançar-se e equilibrar-se, mutuamente, de modo que nenhum deles predomine sobre o outro, nem iniba, permanentemente, o impulso sexual, gerando masoquismo. Psicosexualidade • A sexualidade na medicina-legal é classificada em: • 1) Sexualidade normal; • 2) Desvios sexuais; • 3) Sexualidade anômala; • 4) Sexualidade criminosa. • A sexualidade normal é a que segue as injunções da natureza e se norteia no sentido da procriação. Segue os princípios da biologia humana conhecida e repete-se na sociedade como regra social. • Os desvios sexuais são desequilíbrios do curso normal da sexualidade e estão representados por exceções comportamentais pois não repetem-se de maneira uniforme na sociedade. • A sexualidade anômala é representada pela perversão sexual aberrante e considerada socialmente imoral e desrespeitosa junto ao conceito social. • Finalmente, a sexualidade criminosa é aquela que está diretamente relacionada com a prática de algum crime ou contravenção. Psicosexualidade • São considerados desvios sexuais: • Anafrodisia, frigidez, erotismo, autoerotismo, erotomania, erotografia, exibicionismo, narcisismo, fetichismo, lubricidade senil, mixoscopia, cronoinversão, cromoinversão, etnoinversão, pigmalionismo, travestismo, voyeurismo, hipermasturbação, satiríase, ninfomania e outros desvios que representam atividades sexuais não convencionais. • São considerados eventos que simbolizam a sexualidade anômala: • Sadismo, masoquismo, bestialismo, necrofilia, riparofilia, vampirismo, triolismo, transexualismo, homossexualismo e outras aberrações sexuais. • Sexualidade criminosa pode abranger qualquer das classificações de sexualidade desde que estejam vinculadas a prática de crime ou contravenção. • Fonte: • Freud, S. (1905). Trois essais sur la théorie de la sexualité. Paris: Gallimard, 1987. • Greco, R. (Coord.) Medicina legal à luz do direito penal e do direito processual penal. 9ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2010.
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