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TEXTO 1 - O TRÁFICO E AS SUAS TRANSFORMAÇÕES NO SECULO XX


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O TRÁFICO E AS SUAS TRANSFORMAÇÕES NO SECULO XX 
 
 
 MAPA POLÍTICO DA ÁFRICA 
 
O TRÁFICO AFRICANO DE ESCRAVOS 
O tráfico de escravos é decorrente da chegada do europeu à America. 
 
A lógica da colonização exigia produção em larga escala de produtos tropicais com grande aceitação na 
Europa. O atendimento dessa demanda só poderia acontecer com grande quantidade de mão-de-obra. 
Para que a colonização fosse lucrativa, era necessário que essa mão-de-obra fosse barata. Daí, a opção 
pela escravidão. 
 
Por que não escravizar os índios, já que eles habitavam as terras da colônia? 
Porque eles eram protegidos pela Igreja. 
Porque “tinham alma”, um dos argumentos utilizados para justificar sua não escravização. 
 
E os africanos? Bom, em 1452, o papa Nicolau V emitiu uma bula (decreto) ao rei Afonso V, de Portugal, 
que autorizava os portugueses a conquistar territórios não cristianizados e consignar à escravatura 
perpétua os sarracenos pagãos que capturassem. Devido a essa bula atribui-se à Igreja a “permissão” para 
o advento do tráfico de escravos europeus na África. 
 
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Quanto aos índios, em 1537, o papa Paulo III divulgou a seguinte decisão: os ditos Índios, e todos os outros 
povos que daqui em diante vierem a ser conhecidos pelos cristãos, ainda que estejam fora da fé cristã, 
podem, livre e licitamente, assenhorar-se, usar e gozar da sua liberdade, como também do domínio de 
todas as suas coisas, e que não devem ser reduzidos à servidão. 
 
Havia, realmente, a crença de que os índios tinham alma (uma longa discussão envolvendo estudiosos de 
teologia da Igreja da época) e, portanto, passiveis de salvação caso fossem catequizados. Apesar disso, 
colonos europeus, e ate mesmo padres jesuítas, escravizassem índios. 
 
As primeiras levas de escravos saíram da região hoje correspondente aos países do Congo e Angola. O rei 
do Congo havia se convertido ao catolicismo o que permitiu um maior contato com os europeus e a 
conseqüente compra massiva de seres humanos desta região, que vai manter intima relação com os 
portugueses. 
 
A partir dos séculos XVI e XVII, portugueses, holandeses, franceses e , ingleses começaram a comprar 
escravos na região da costa da Mina (atual Gana). 
 
AS REVOLUÇÕES BURGUESAS E A ESCRAVIDÃO 
O ciclo das revoluções burguesas ocorridas na Europa no século XVIII mexeu com o mundo. O Antigo 
Regime (Absolutismo) e o sistema colonial começam a ser questionados ao mesmo tempo em que o 
liberalismo se expandia. 
 
Conceitos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, defendidos pela Revolução Francesa, levam ao 
enfraquecimento do Absolutismo e viabilizam a construção de um novo modelo de sociedade, onde 
conceitos como soberania e cidadania eram discutidos nos Parlamentos nacionais que iam se constituindo. 
 
A escravidão foi debatida em muitas nações européias sendo, em muitos casos, combatida. Alguns países 
europeus começam a ter resultados da Revolução Industrial – houve uma otimização da produção 
industrial de bens manufaturados com a adoção das maquinas a vapor. Produzia-se mais em menos tempo. 
 
Os conceitos iluministas impulsionaram o processo de independência dos EUA – foi o primeiro evento de 
grandes proporções baseado nos princípios do Iluminismo, rompendo com os paradigmas da civilização 
européia, mas sem abolir a escravidão. 
 
Os ideais da Revolução Francesa foram levados ao extremo no Caribe, viabilizando a maior revolução de 
escravos que se tem noticia: a Revolução do Haiti (1790). 
 
Todas as nações americanas que se formaram a partir de então, aboliram a escravidão – com exceção de 
Cuba e Brasil (que só fariam a abolição em 1886 e 1888, respectivamente). 
 
As mudanças econômicas geradas pela Revolução Industrial criaram novas necessidades nos países 
europeus: 
 
 Ampliação do mercado consumidor para os produtos manufaturados; 
 Um grande estoque de matéria-prima para viabilizar a produção em larga escala; 
 Buscar novas fontes de matéria-prima pois a que era encontrada na Europa não era barata. 
 
Como a maior parte das colônias americanas tinham proclamado sua independência, era necessário 
encontrar novas fontes que substituíssem as colônias americanas. Essas fontes seriam a África e a Ásia. Os 
europeus começam a se interessar pelas matérias-primas africanas a partir do século XIX. 
 
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A Europa não tinha acesso ao continente africano – seus contatos com as sociedades do continente se 
davam através das feitorias ou cidades costeiras onde eram trocados produtos manufaturados por 
escravos. 
 
Em 1807, a Inglaterra decreta (de forma unilateral, ou seja, sem ouvir os demais Estados europeus)a 
abolição do tráfico transatlântico. Apesar de muitos ingleses serem contra o comercio de escravos e da 
escravidão, os recém-criados ideais humanitários não eram as únicas razões para a defesa do fim do tráfico. 
Os europeus lucrariam muito com essa iniciativa e a abolição do trafico transatlântico viabilizaria a 
entrada dos europeus na África. 
 
Regiões como Angola e Moçambique, mantiveram o comercio de escravos até meados do século XIX (Brasil 
continuou importando escravos até 1850). Com a proibição do trafico pela Inglaterra, a maior parte das 
sociedades africanas envolvidas nesse comércio teve que reestruturar sua economia para manter as redes s 
de comercio que haviam construído com as nações européias. 
 
A partir dos primeiros anos do século XIX, as elites político-econômicas de Achanti (império da costa 
Ocidental da África), que ao longo do século XVIII tinham rede de comercio de ouro e escravos, foram 
obrigadas a produzir gêneros alimentícios tropicais para sustentar suas negociações com a Europa. Outras 
sociedades africanas viram-se na necessidade de fazer o mesmo, comercializando açúcar, cacau, algodão, 
óleo de dendê, amendoim, etc. 
 
Inicialmente, essa troca não causou danos imediatos, mas no médio prazo muitas sociedades sofreram 
crises que as enfraqueceram politicamente. A unidade política de muitas sociedades ou Estados africanos 
envolvidos no tráfico era mantida pela relação entre grupos dominantes com grupos subjugados (pagavam 
tributos para não serem escravizados ou tinham alguma participação no processo de escravização. 
 
Com o fim do tráfico, parte dos grupos subjugados viu-se livre das taxações e das obrigações políticas de 
pertencer a estados que os controlavam, causando enfraquecimento e fragmentação política de vários 
impérios. Esse processo foi um dos fatores que facilitou a entrada dos europeus na África. 
 
OUTRAS CAUSAS DO ENFRAQUECIMENTO AFRICANO 
A decadência do império Turco-Otomano e a instabilidade gerada pelos conflitos entre zulus e africânderes 
na África do Sul serviu para criar uma fragilidade política em diversas sociedades africanas, o que foi muito 
bem aproveitado pelos europeus e, sobretudo, pelos ingleses. 
 
 
QUANTIDADE DE ESCRAVOS EXPORTADOS DA AFRICA 
 
SÉCULO QUANTIDADE 
XVI 277.505 
XVII 1.875.631 
XVII 6.494.619 
XVIII 3.873.582 
TOTAL 12.521.337