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AMEBÍASE Definição A amebíase é uma infecção sintomática ou assintomática causada pela Entamoeba histolytica, um protozoário pertencente ao filo Sarcomastigophora, à classe Sarcodina, à ordem Amoebida e à família Entamoebidae. A E. histolytica se locomove e obtém alimentos com o auxilio de pseudópodes do tipo lobópodes, vive na luz do intestino grosso do hospedeiro, mas pode originar a forma invasiva da doença, ao penetrar a submucosa e alcançar órgãos como fígado, pulmões, cérebro. Em cerca de 90% dos casos, a E.histolytica vive como comensal na luz do intestino do hospedeiro, o que resulta no quadro de infecção assintomática, prevalente na maioria dos casos. Atualmente os pesquisadores distinguem duas espécies consideradas morfologicamente idênticas, mas geneticamente distintas: a Entamoeba histolytica, invasiva e patogênica e Entamoeba dispar, não-patogênica, responsável principalmente pelas infecções assintomáticas. Além dessas, outras espécies de ameba podem colonizar o intestino grosso do homem e nele viver em condições comensais, como a Entamoeba coli, Endolimax nana, Entamoeba hartmanni e Dientamoeba fragiles. Somente em determinadas condições essas espécies podem ser consideradas patogênicas. Para diferenciar as espécies de amebas encontradas no intestino grosso do homem varias características são utilizadas, como: o tamanho e as características morfológicas dos cistos e trofozoítos, o número de núcleos presentes nos cistos maduros, e o numero e as formas das inclusões citoplasmáticas. Morfologia A Entamoeba histolytica apresenta-se em duas formas evolutivas: O trofozoíto e o cisto. O trofozoíto corresponde à forma vegetativa que habita a luz do intestino grosso e pode, ocasionalmente, provocar lesões na mucosa intestinal, no fígado, no pulmão, na pele e até no cérebro. O trofozoíto é uninucleado e mede entre 15 e 60 micrômetros e se locomove pela emissão de pseudópodes. Seu citoplasma pode ser diferenciado em ectoplasma - o qual é hialino- e endoplasma-onde se encontram os núcleos e os vacúolos digestivos. Não apresentam mitocôndrias, reticulo endoplasmático e aparelho de Golgi. O cisto é a forma de resistência, geralmente esférico ou oval, variando de 8 a 20 micrômetros de diâmetro. Consiste em um citoplasma que apresenta de um a quatro núcleos, pequenos vacúolos e inclusões citoplasmáticas envolvidas por uma parede císticas. Ciclo biológico O ciclo de vida de Entamoeba histolytica é monoxênico e relativamente simples. No ciclo encontram-se quatro estágios: cisto, metacisto, trofozoíto e pré-cisto. O inicio do ciclo ocorre a partir da ingestão dos cistos maduros junto de água e alimentos contaminados. O cisto passa, então, pelo estômago e pelo intestino delgado, resistindo à ação do suco gástrico e das secreções intestinais. De fato, estas substâncias contribuem para a formação de uma fenda na parede do cisto, a qual permite o início do processo de desencistamento que ocorre principalmente na porção distal do íleo e ceco. A partir deste processo é liberada uma forma tetranucleada (metacisto) que por divisão binária da origem a oito trofozoítos uninucleados. Esses trofozoítos multiplicam-se por divisão binária e colonizam o intestino grosso, principalmente na região do ceco. Em geral, os trofozoítos vivem como um comensal, aderidos na mucosa intestinal alimentando-se de bactérias e detritos. Dando continuidade ao ciclo, muitos desses trofozoítos diminuem de tamanho e se arredondam formando o pré-cisto, etapa que marca o início do processo de encistamento. O pré-cisto secreta ao seu redor uma membrana glicoprotéica, denominada parede cística, formando assim um cisto uninucleado. Esses cistos tornam-se tetranucleados e podem ser excretados juntamente com as fezes do hospedeiro, possibilitando a infecção de outro ser humano. Em algumas situações, pode acontecer um rompimento do equilíbrio parasito- hospedeiro: os trofozoítos, por meio de seus movimentos e da liberação de enzimas proteolíticas, invadem e colonizam a mucosa intestinal, produzindo lesões ao longo do intestino grosso. Esses trofozoítos invasivos podem, a partir da circulação portal, atingir o fígado e, em seguida, os pulmões, rins, cérebro e pele. Quando estão intimamente relacionados com os tecidos, os trofozoítos não formam cistos, são hematófagos e muito ativos. Transmissão Embora ratos, cães e símios possam ser parasitados por amebas semelhantes a E. histolytica, o homem é ainda a principal fonte de disseminação desse protozoário. Moscas, baratas e outros artrópodes atuam como vetores mecânicos e contribuem para a distribuição dos cistos de E. histolytica, principalmente em áreas onde predominam populações de nível sócio- econômico mais baixo, bem como precárias condições de saneamento básico. Mecanismos de Transmissão Direta A transmissão da Amebíase se dá por via fecal-oral e inicia-se pela ingestão dos cistos maduros. A transmissão direta, de pessoa a pessoa, ocorre geralmente por meio de mãos sujas contaminadas com material fecal. Durante a higiene anal, as mãos e/ou as unhas podem reter cistos de E. histolytica, os quais podem permanecer viáveis de cinco a 45 minutos em condições ambientes. É importante lembrar ainda a forma de transmissão direta que geralmente ocorre entre homossexuais masculinos, por meio do contato oral- anal. Mecanismos de Transmissão Indireta A transmissão indireta da Entamoeba histolytica se dá pela ingestão de alimentos contaminados palas mãos de um eliminador de cistos, ou de alimentos naturais contaminados com fezes humanas utilizadas como adubo. Outra forma é a ingestão de água contaminada com dejetos humanos. Na água, os cistos podem se manter viáveis por até 10 dias em temperatura ambiente; Se conservada a baixas temperaturas, os cistos resistem na água por até seis ou sete semanas. Os insetos também têm importância na transmissão indireta, por meio do transporte mecânico de cistos maduros, os quais passam pelo tubo digestivo e são eliminados junto com as dejeções desses insetos. A amebíase pode ser encontrada em indivíduos de qualquer idade, mas tem uma maior prevalência na idade adulta. Os profissionais que lidam com desobstrução de redes de esgotos, as pessoas que vivem em aglomerados com más condições de higiene, bem como aquelas que são vítimas da desnutrição e de outras situações debilitantes têm um fator facilitador e estão mais predispostas à doença. Patogenia Cerca de 90% dos indivíduos infectados por Entamoeba histolytica são assintomáticos, uma vez que a ameba permanece como comensal no intestino grosso do hospedeiro. Nesses casos não ocorre invasão tecidual, mas o parasito é capaz de formar cistos que podem ser eliminados nas fezes. Apenas uma pequena proporção dos infectados desenvolverá a doença, pois em algumas situações ainda não completamente esclarecidas o parasito pode invadir e colonizar a mucosa intestinal e, em seguida, o fígado e outros órgãos. O processo etiopatogênico da amebíase, como de outras parasitoses, é multifatorial. Dessa forma, depende de fatores relacionados ao parasito (virulência e patogenicidade), ao hospedeiro (nutrição, imunidade, microbiota intestinal, sexo, idade), ao ambiente gastrointestinal (interação com microbiota). A Entamoeba histolytica apresenta uma elevada capacidade citolítica. Nas formas invasivas, as lesões são consequência de lise celular, necrose dos tecidos e degradação da matriz extracelular. Assim, o principal mecanismo patogênico desse parasito é a reação citolítica. Existem, pelo menos, três proteínas do parasito relacionadas com esse processo: proteínas de adesão, proteínas formadoras de poros (amebapore) e cisteína-proteases. As proteínas de adesão se localizam na superfície do trofozoíto e são capazes de reconhecer as glicoproteínasna membrana da célula-alvo durante o processo de adesão. Esse contato é mediado por lectinas as quais se ligam especificamente a glicoproteínas contendo resíduos de galactose e N-Acetil-D- galactosamina. A adesão é um pré-requisito para o início da lise dos tecidos. Depois de estabelecer contato com a célula-alvo, o parasito libera as proteínas formadoras de poros a partir de grânulos citoplasmáticos. Essas proteínas, chamadas de amebopores, afetam a integridade da membrana plasmática das células-alvo formando poros que provocam a lise celular. As cisteína-proteases e outras enzimas (lisozimas e fosfolipases) também são liberadas a partir de grânulos citoplasmáticos. A principal enzima responsável pela invasão tecidual é a cisteína-proteases. Essa enzima é capaz de degradar componentes do muco e proteínas da matriz extracelular, como fibronectina, laminina e colágeno tipo I. As cepas patogênicas são capazes de liberar maiores quantidade de cisteína-proteases do que as cepas não-patogênicas, evidenciando, assim, a importância desta proteína no processo de invasão. Depois do processo de adesão e citólise, a Entamoeba histolytica inicia a fagocitose e a degradação intracelular, dando continuidade à invasão tecidual. Dentre os fatores relacionados ao ambiente intestinal o principal é a flora bacteriana. Acredita-se que algumas bactérias (Escherichia coli, Salmonella, Shiguela, Enterobacter e Clostridium, entre outras) podem potencializar a virulência de cepas de Entamoeba histolytica por mecanismos ainda não compreendidos. Os trofozoítos, após a invasão, multiplicam-se nos tecidos e provocam lesões nos órgãos afetados. O ceco e o retosigmóide são as principais regiões invadidas pelo parasito no intestino grosso. Nesses locais os trofozoítos invadem a mucosa, progridem em direção à camada muscular da mucosa e, em seguida, à submucosa. A lesão inicial é caracterizada por pequenas elevações nodulares com bordas hiperêmicas e congestas. Nos estágios mais avançados da invasão se intensificam os processos necróticos da mucosa e da submucosa relacionadas com as lesões iniciais, formando úlceras maiores e mais profundas. Os trofozoítos podem invadir vasos sanguíneos e, a partir da circulação portal, atingir o fígado. A lesão mais característica no fígado é a necrose coliquativa aguda, conhecida como “abscesso hepático amebiano”. Além disso, em algumas áreas do fígado ocorre substituição do parênquima por material necrótico de coloração amarelada circundado por tecido conjuntivo. Secundária a amebíase hepática, pode ocorrer invasão de outros órgãos (pulmões, rins, cérebro e pele) a partir da ruptura do abscesso hepático ou da disseminação hematogênica dos trofozoítos. Sinais e Sintomas A maioria dos indivíduos infectados por Entamoeba histolytica permanecem assintomáticos ao longo de todo curso da infecção. Porém, uma pequena parcela de indivíduos infectados desenvolve sinais e sintomas decorrentes da invasão intestinal e, em alguns casos, extra-intestinal. A amebíase intestinal apresenta duas formas clínicas principais: colite não- disentérica e colite disentérica (disenteria amebiana). A colite não-disentérica é a forma clínica mais comum entre os indivíduos sintomáticos infectados por Entamoeba histolytica. Essa forma clínica é caracterizada por evacuações diarréicas ou não, com duas a quatro dejeções diárias. O indivíduo pode eliminar fezes pastosas ou moles e, eventualmente, com sangue ou muco. Ao longo da infecção pode ocorrer alternação entre funcionamento intestinal normal e quadros de diarréia. Estão presentes na maioria dos casos, ainda, sintomas intestinais como flatulência, desconforto abdominal e cólicas. Pode ocorrer, mais raramente, febre. A colite disentérica é uma forma clínica menos comum, tendo sido observada em cerca de 10% dos indivíduos com amebíase intestinal. Essa forma clínica apresenta evolução aguda e é caracterizada pela presença de dores abdominais, cólicas intestinais intensas, diarréia líquida com evacuações mucossanguinolentas e febre moderada. Nesses casos ocorrem cerca de oito evacuações diárias e os indivíduos também apresentam flatulência, inapetência, náuseas, vômitos e desconforto abdominal. Em alguns casos a colite disentérica pode evoluir para formas agudas fulminantes, caracterizadas diarréia mucopiossanguinolenta profusa, desidratação intensa, prostração geral, dor abdominal e febre. As formas graves podem levar a óbito, principalmente quando ocorrem em pessoas imunodeprimidas ou crianças. O comprometimento do cólon devido à formação de úlceras profundas é a causa do agravamento da colite disentérica. Essas úlceras podem gerar perfurações intestinais seguidas de um quadro de peritonite aguda. Existem, ainda, outras complicações da colite disentérica como o ameboma e a apendicite. O ameboma é uma massa granulomatosa resultado da invasão da mucosa intestinal pelos trofozoítos que determinam a necrose, inflamação e edema no tecido afetado. O ameboma pode provocar sangramento e dor, além de, mais raramente, obstrução intestinal. A apendicite amebiana é resultado da ulceração do apêndice associado a um processo inflamatório. A manifestação clínica é parecida com os quadros de apendicite com outras etiologias. Na amebíase extra-intestinal, o principal órgão acometido é o fígado. Nesses casos, duas formas clínicas se destacam: a hepatite amebiana aguda e a necrose coliquativa aguda (“abscesso hepático amebiano”). Os trofozoítos chegam ao fígado pela circulação portal e causam necrose do tecido hepático. Antes do surgimento do abscesso hepático amebiano, ocorre um quadro de hepatite amebiana aguda que se manifesta clinicamente por hepatomegalia moderada. Os casos de abscesso hepático geralmente são caracterizados por uma lesão única localizada no hipocôndrio direito. As manifestações clínicas são inespecíficas, mas essa forma é caracterizada por uma tríade clínica: febre, dor e hepatomegalia. A dor abdominal localiza-se principalmente no quadrante superior direito. A hepatomegalia se apresenta associada com dor à palpação. Os pacientes podem, ainda, se queixarem de fraqueza, calafrios, prostração, perda de peso, inapetência, suores, náuseas e vômitos. Cerca de metade dos pacientes com abscesso hepático relatam história prévia de doença intestinal, mas em apenas 10-20% é possível detectar o parasito nas fezes. A ruptura do abscesso hepático amebiano pode agravar o quadro, uma vez que favorece a disseminação do parasito para outros locais. O acometimento do pulmão (abscesso amebiano pulmonar), por exemplo, pode ser resultante de disseminação hematogênica ou, mais freqüentemente, a partir das lesões hepáticas. A manifestação clínica caracteriza-se por dor torácica, febre e tosse com expectoração de secreção cor de chocolate. É comum a sintomatologia hepática estar associada. O acometimento do cérebro por infecção da Entamoeba histolytica é raro, porém de evolução rápida e fatal. A disseminação de trofozoítos para o cérebro ocorre por via hematogênica a partir do intestino, fígado ou pulmões. Podem ocorrer, ainda, abscessos amebianos cutâneos, principalmente na região perianal e parede abdominal. Esse processo ocorre devido à disseminação a partir de lesões intestinais e hepáticas via drenagem sanguínea. Diagnóstico Diagnóstico Clínico As manifestações clínicas da amebíase dependem da patogenicidade da cepa envolvida, da intensidade da infecção, da flora bacteriana local, da extensão dos órgãos envolvidos e de fatores relacionados com o hospedeiro. A maioria das infecções é assintomática e se resolvem espontaneamente. A infecção pode se apresentar como amebíase intestinal não diarreica cursando com diarreia ou constipação, flatulência, dores no baixo ventre tipo cólica, perda de peso e anorexia. Nacolite amebiana aguda ocorre dor abdominal tipo cólica, febre, calafrios, prostração, náuseas, cefaleia e tenesmo. Ocorre diarreia com fezes líquidas e mucosaguinolentas, que pode determinar desidratação de graus variados. O hemograma revela leucocitose com neutrofilia. A amebíase extra intestinal mais comum é o abscesso hepático que tem inicio insidioso, com febre e dor abdominal constante em hipocôndrio direito e epigástrico. Caso o abscesso localize-se na superfície diafragmática, a dor pode ser tipo pleurítico e irradiar-se para o ombro. A tríade clássica de febre, dor em hipocôndrio direito e leucocitose deve suscitar sempre a possibilidade de abscesso hepático. A amebíase pleuropulmonar é outra apresentação clínica e cursa com dor torácica, tosse não-produtiva ou com esputo achocolatado, dispneia, febre com calafrios e leucocitose. Diagnóstico Laboratorial O exame parasitológico das fezes é o mais comum e deve-se levar em conta aspecto e a consistência do material coletado, a forma da coleta, condicionamento e processamento corretos das fezes para melhor acurácia do resultado. O objetivo é encontrar cistos ou trofozoítos no material fecal. Os cistos são visualizados quando as fezes estão formadas e consistentes, já os trofozoítos, em fezes disentéricas. A coleta deve ser realizada sem urina, sem contaminação com outros materiais e sem ter existido contato anterior das fezes com o solo. Recomenda-se a coleta em dias alternados devido à eliminação de cistos ser irregular. Caso não haja possibilidades de entregar a amostra no tempo correto, o uso de fixadores como o MIF e SAF se faz necessário tão logo sejam expelidas. Exemplos de métodos que podem ser utilizados: pesquisa de cistos pelo método de Faust (corado pelo lugol), método direto a fresco usando salina a 37?C, detecção de antígenos de ameba nas fezes, detecção de DNA dos parasitas por PCR e cultura de fezes. A microscopia de preparações coradas com lugol é o método mais empregado por ser barato e simples. O método direto a fresco permite a visualização de trofozoítos com sua motilidade linear característica, emissão de pseudópodes e observação de eritrócitos fagocitados pela E. histolytica. Este último não é comum na amebíase crônica, indicando que eritrofagocitose seja característica de cepas invasivas. O exame direto das fezes sem conservador é importante no diagnóstico diferencial entre disenteria amebiana e bacilar. A cultura de fezes é um método pouco utilizado devido alto custo e baixa sensibilidade, contudo, cultivos axênicos são de grande valia para estudos bioquímicos e imunológicos, produção de antígenos e anticorpos e estudos diferenciais entre cepas patogênicas das não patogênicas, apesar de não diferenciar E. histolytica da E. dispar. Há também a retossigmoidoscopia e análise do material coletado da lesão por microscopia direta para que o parasita seja visualizado. Uma das dificuldades encontradas no diagnóstico laboratorial da amebíase é a diferenciação entre a E. dispar da E. histolytica que, por não poderem ser diferenciadas morfologicamente, o são por técnicas moleculares específicas como o perfil eletroforético das enzimas da via glicolíticas de amebas previamente cultivadas. Diagnóstico Imunológico Nos testes sorológicos, a observação do parasita é realizada de modo indireto por buscar a presença de antígenos amebianos ou anticorpos específicos, indicando assim sua presença via testes como o IHA (teste de hemaglutinação indireta), imunofluorescência e ELISA. Os materiais de coletada podem ser provenientes do soro, saliva e fluidos dos abscessos hepáticos. São utilizados para diagnóstico da amebíase invasiva. O ELISA é considerado o método de maior sensibilidade e melhor custo- benefício, pesquisa de coproantígenos específicos para E. histolytica. Não é sensível para baixas cargas de parasitas. O PCR possui alta reprodutibilidade, sensibilidade e especificidade, é capaz de revelar baixa carga parasitária e pode ser empregado para o diagnóstico diferencial entre E. dispar e E. histolytica. Não é utilizado em larga escala devido elevado custo. As dificuldades dos métodos imunodiagnósticos residem no preparo para a obtenção dos antígenos, o fato da titularidade dos anticorpos não indicar se a infecção é ou não recente e ainda, o elevado custo-benefício. Tratamento Para tratamento das formas agudas e crônicas da amebíase intestinal e extra- intestinal recomenda-se o uso de medicamentos que podem ser agrupados em duas classes, de acordo com o sítio de ação: amebicidas luminais, que atuam na luz do intestino, e amebicidas tissulares que atuam nos tecidos invadidos pelo parasita. Os amebicidas luminais, principalmente as dicloracetamidas, são pouco absorvidas pela mucosa intestinal e sua ação limita-se à cavidade do intestino: atuam sobre os trofozoítos que estão na luz do tubo digestivo, mas não destroem seus cistos. Estes medicamentos apresentam baixa toxicidade para o homem e não têm contra indicações, podendo provocar flatulência como único efeito colateral. Entre os mais usados destacam-se: Teclosan (comprimidos de 100 ou de 500mg e suspensão com 50mg por 5ml, utilizados na dosagem para adultos: 15 a 25mg/kg/dia, duas vezes ao dia por cinco dias); Etofamida (comprimidos de 200 ou de 500mg e suspensão de 100mg por 5ml; para adultos: 500mg duas vezes ao dia, durante cinco dias e para crianças: 100mg/dose, três vezes ao dia, durante 5 dias ); Fluorato de diloxamida ou Furamida (comprimidos de 500mg) e Clefamida (comprimidos de 250mg). Dependendo da droga utilizada recomenda-se de três a seis comprimidos por dia, por cinco a dez dias para adultos. Para as crianças, são indicadas suspensões com dosagens menores. Levando-se em consideração que a maioria das infecções assintomáticas são decorrente da espécie não-patogênica Entamoeba díspar e que aproximadamente 90% das infecções pela espécie patogênica Entamoeba histolytica são também assintomáticas, alguns autores não indicam tratamentos para esses casos. Por outro lado, baseando-se no fato de que os portadores assintomáticos de Entamoeba histolytica agem como eliminadores de cistos e potencializam a transmissão da amebíase, funcionando como importantes fontes de infecção, e conhecendo a dificuldade de realizar o diagnóstico diferencial entre Entamoeba histolytica e Entamoeba díspar, outros autores recomendam o tratamento dos indivíduos assintomáticos. Entre os amebicidas luminais outros medicamentos são também utilizados para tratamento das infecções assintomáticas: Paramomicina (25 a 35mg/kg, três vezes ao dia, por sete dias) e o Iodoquinol (650mg, três vezes ao dia, por dez dias). Os amebicidas tissulares são absorvidos pelo intestino, agem sobre os parasitas encontrados nos tecidos e são as drogas utilizadas no tratamento das formas sintomáticas da amebíase. Os derivados de Nitroimidazóis são os quimioterápicos mais utilizados entre os amebicidas teciduais para o tratamento das formas invasivas. Entre eles, destacam-se: Metronidazol, Tinidazol, Ornidazol e Nimorazol ou Nitrimidazina. O Metronidazol é o medicamento mais utilizado e o mais eficaz no tratamento das formas invasivas. Em caso de Colite Disentérica Aguda, recomenda-se de 750 a 800mg, três vezes ao dia, por cinco a dez dias. Para crianças, utilizam-se 500mg, duas vezes ao dia, pelo mesmo período. Já no tratamento das formas invasivas extra-intestinais, como no abscesso hepático amebiano, utiliza-se 750 a 800mg de Metronidazol, três vezes ao dia, por dez a quatorze dias. O uso do Metronidazol pode provocar efeitos colaterais como náuseas, vômito, dores abdominais, diarréia, dor de cabeça, tontura, entre outros. Seu uso é contra-indicado para os primeiros três meses de gestação, nas discrasias sanguínea e nas afecções do sistemanervoso. O Tinidazol é utilizado via oral em doses de 2g por dia, durante dois dias, para adultos. Para crianças, recomenda-se de 40 a 60mg/kg de peso corporal, por dois a três dias. O Tinidazol apresenta propriedades semelhantes ao Metronidazol e pode provocar os mesmo efeitos colaterais. O Ornidazol é utilizado via oral em doses de 500mg, duas vezes ao dia, por cinco a dez dias. Pode ser levemente tóxico para o sistema nervoso e não apresenta efeitos teratogênicos conhecidos. O Nimorazol ou Nitrimidazina é utilizado via oral em doses de 40mg/kg de peso, por dia, durante cinco a dez dias. Esse medicamento é semelhante aos demais Nitroimidazóis. O tratamento adequado com Nitroimidazóis requer associação com os amebicidas teciduais, já que os nitroimidazóis são insuficientes para eliminar os parasitas que vivem na luz do intestino. A Emetina, um alcalóide da ipecacuanha, já era utilizado há mais de meio século por ser um medicamento eficaz no tratamento da amebíase. Porém, devido à alta toxicidade ao sistema nervoso e ao sistema circulatório, bem como à sua ação irritante sobre as mucosas, esse medicamento não é mais a primeira opção nos casos de amebíase de rotina e só costuma ser utilizado nos casos graves de abscessos hepáticos amebianos. A Deidroemetina, o seu derivado sintético, se apresenta menos tóxico que a Emetina e é eliminado mais rapidamente do organismo, fato esse que diminui o risco de essa droga se acumular excessivamente nos tecidos. Profilaxia A profilaxia da amebíase baseia-se no controle da transmissão do parasita e inclui medidas de higiene pessoal e educação sanitária. Medidas como essas visam, basicamente, evitar a ingestão de água e de alimentos contaminados com os cistos do protozoário, bem como diminuir os riscos de contaminação do meio-ambiente. A lavagem das mãos após a evacuação e antes de alimentar-se e a manutenção das unhas curtas e limpas constituem as medidas de higiene pessoais mais destacáveis. A educação sanitária e o saneamento ambiental são os outros fatores para a profilaxia e o controle da amebíase. O acesso universal à educação facilita a compreensão da necessidade de tratamento da água para consumo e do destino adequado para as fezes humanas. Recomenda-se à população sem acesso à água tratada, a fervura ou filtragem da água a ser consumida ou utilizada na lavagem de vegetais crus. Destacam-se também a necessidade de excluir o uso das fezes humanas como adubo e o controle das moscas e baratas a fim de evitar o transporte de cistos para a água e alimentos. Outras medidas como o tratamento das redes de esgotos e das instalações sanitárias, bem como a identificação e o tratamento precoce dos indivíduos sintomáticos e assintomáticos infectados pela amebíase são também necessárias para a prevenção dessa parasitose. Uma vacina contra a amebíase foi testada e obteve sucesso em animais de laboratório. Dados recentes revelam que uma vacina recombinante poderia ser suficiente para a proteção contra a amebíase intestinal em seres humanos. A vacinação e o controle da infecção por meio de saneamento básico, principalmente em áreas endêmicas, permitiriam a possibilidade de erradicação da amebíase em nível mundial, visto ser o homem o hospedeiro da Entamoeba histolytica e da ausência da necessidade de vetores para a transmissão desse protozoário. Referências Bibliográficas 1. Neto, V. A.; Gryschek, R. C. B.; Amato, V. S.; Tuon, F. F. Parasitologia – Uma Abordagem Clínica. Editora Elsevier – 2008. 2. Rey, L. Parasitologia. Editora Guanabara Koogan – 2008. 3. TAVARES, Walter; MARINHO, Luiz A. Carneiro. Rotinas de Diagnósticas e Tratamento das Doenças Infecciosas e Parasitárias. Editora Atheneu, 2ª Ed, Maringá-PR, 2007. 4. NEVES, D. P. et al. Parasitologia humana. [S. l.]: Atheneu, 2005.
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