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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO 
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO 
 
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO 
 CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO "LATO SENSU" EM CLÍNICA MÉDICA E CIRÚRGICA EM 
ANIMAIS SELVAGENS E EXÓTICOS 
 
 
 
 
 
TRATAMENTO DE LESÕES TRAUMÁTICAS EM SUCURI (Eunectes murinus) 
 
 
 
 
 
 
Gustavo Castro Athayde 
 
 
 
 
 
 
Imperatriz, mar. 2007
 
GUSTAVO CASTRO ATHAYDE 
Aluno do Curso de Especialização “Lato sensu” em 
Clínica Médica e Cirúrgica em Animais Selvagens e Exóticos 
 
 
 
 
 
TRATAMENTO DE LESÕES TRAUMÁTICAS EM SUCURI (Eunectes murinus) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imperatriz, mar. 2007 
Relato de caso do curso de pós-graduação "Lato 
Sensu" em Clínica Médica e Cirúrgica em 
Animais Selvagens e Exóticos apresentado à UCB 
como requisito parcial para a obtenção de 
título de Especialista em Clínica e Cirurgia de 
Animais Selvagens e Exóticos, sob a orientação do 
Prof. Msc. Leoncio Pedrosa Lima. 
 ii 
TRATAMENTO DE LESÕES TRAUMÁTICAS EM SUCURI (Eunectes murinus) 
 
 
Elaborado por Gustavo Castro Athayde 
Aluno do curso de Especialização "Lato Sensu" em Clínica Médica e Cirúrgica em Animais Selvagens e 
Exóticos. 
 
 
 
Foi analisado e aprovado com 
grau:....................................... 
 
 
 
Rio de Janeiro, ________ de ___________________ de ___________. 
________________________________________ 
 
________________________________________ 
 
________________________________________ 
 
 
 
 
Rio de Janeiro, mar. 2007
 iii 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradecimentos 
 
 
À Luana – que me incentivou a concretizar 
este estudo; 
Ao meu orientador Leoncio Lima e aos 
demais colegas do IBAMA – Erik, Giovanni e 
Rafael - que muito colaboraram neste 
trabalho; 
Aos meus professores, J.R. Pachaly e Rogério 
Lange, pelo enorme aprendizado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 iv 
Resumo 
 
Traumatismos em animais silvestres provocados pelo homem são constantemente 
observados por profissionais que trabalham direta ou indiretamente com meio ambiente. 
Muitas vezes essas agressões ocorrem devido ao aparecimento destes animais em áreas 
urbanas por ocasião da gradual perda de seu habitat natural. O presente relato descreve o 
caso clínico de uma sucuri (Eunectes murinus) que foi levada até o IBAMA no município 
de Imperatriz-MA após ser agredida com facão por um morador local. O protocolo 
utilizado para o tratamento foi limpeza das feridas, antibioticoterapia tópica e sistêmica 
(Enrofloxacina 10% 10 mg/Kg IM/24h e Florfenicol 45 mg/Kg IM/48h), fluidoterapia 
(Solução fisiológica 0,9% 15 mL/Kg SC/24h) e nutrição; aliado a boas práticas de manejo. 
A serpente recuperou-se totalmente e foi devolvida à natureza. 
 
Palavras-chave: Traumatismo, Eunectes, Tratamento. 
 
 
Abstract 
 
Traumatisms in wild animals provoked by human are constantly observed by 
professionals that work direct or indirectly with environment. Many times those 
aggressions happen due to the appearance of these animals in urban areas for occasion of 
the gradual loss of their natural habitat. The present report describes the clinical case of an 
anaconda (Eunectes murinus) that was taken until IBAMA in the municipal district of 
Imperatriz-MA after being attacked with large knife by a local resident. The protocol used 
for the treatment was cleaning of the wounds, topical and systemic antibiotic therapy 
(Enrofloxacin 10% 10 mg/Kg IM/24h and Florfenicol 45 mg/Kg IM/48h), fluid therapy 
(Saline solution 0,9% 15 mL/Kg SC/24h) and nutrition; allied to good handling practices. 
After total recovery, the snake was returned to the nature. 
 
Key-words: Traumatism, Eunectes, Treatment. 
 
 v 
SUMÁRIO 
 
 
 Página 
Agradecimentos............................................................................................................................... iii 
Resumo/Abstract............................................................................................................................... iv 
Índice de figuras............................................................................................................................... vi 
 
1. Introdução..................................................................................................................................... 1 
2. Relato de Caso............................................................................................................................... 4 
3. Discussão....................................................................................................................................... 10 
4. Conclusão...................................................................................................................................... 13 
Referências Bibliográficas................................................................................................................ 15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 vi 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 Página 
1. Distribuição de Eunectes murinus no Brasil ................................................................................ 1 
2. Detalhe do ferimento no terço caudal evidenciando edema e presença de tecido necrótico ........ 5 
3. Fases do tratamento (A- limpeza do ferimento; B - Periogard® para assepsia de cavidade oral; 
C – antibioticoterapia IM; D – fluidoterapia SC) ............................................................................. 
 
6 
4. Procedimento de ingestão forçada de alimento ............................................................................ 7 
5. Recinto modificado para manutenção da serpente pelo período de 4 meses ............................... 
 
7 
6. Detalhe do ferimento no terço caudal evidenciando o processo de cicatrização após segunda 
ecdise ................................................................................................................................................ 
 
 
8 
7. Soltura da serpente na Região dos Lagos – Vila Nova dos Martírios-MA .................................. 
 
9 
8. Imagem de satélite indicando o local da soltura (Coordenadas geográficas: Latitude: 
05º14’39’’ Longitude: 48º11’26’’) ................................................................................................... 
 
 
9 
 
 
 
 
 
 
 1 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
As serpentes terrestres surgiram no Cretáceo, mas se diversificaram e 
conquistaram diversos ambientes somente após o desaparecimento dos dinossauros, há 
cerca de 65 milhões de anos (Millidge Y Kingsley, 1999). 
Atualmente contam com cerca de 3.000 espécies no mundo, número que 
vem aumentando a cada ano, devido às intensas pesquisas que vêm sendo desenvolvidas 
nos últimos anos (Millidge Y Kingsley, 1999). As sucuris pertencem à Família Boidae, 
onde são reconhecidas três sub-famílias (Pythoninae, Boinae, e Erycinae). Os Boinae são, 
na sua maioria, serpentes do Novo Mundo (Pough et al., 2003). As sucuris distribuem-se 
desde as bacias hidrográficas do Sul até as do Norte e Nordeste incluindo a do Tocantins-
Araguaia (Instituto Butantan) (Fig. 1). 
 
 
Figura 1: DISTRIBUIÇÃO DE Eunectes murinus NO BRASIL 
Fonte: Instituto Butantan. 
 
 2 
 
A Gerência Executiva do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e 
dos Recursos Naturais Renováveis) em Imperatriz-MA, cidade situada às margens do Rio 
Tocantins, recebeu no períodode 2003 a 2006 um total de 23 exemplares de sucuri 
distribuídos da seguinte forma: em 2003, 1 espécime; em 2004, 2; 9 exemplares em 2005 e 
11 em 2006. Estes registros indicam um aumento gradual e constante da presença desse 
réptil em áreas urbanas. 
As serpentes, de maneira geral, sempre foram motivo de grande misticismo, 
superstição e medo para os seres humanos (Bastos et al., 2005). A crendice popular de que 
estes animais são malignos, desperta o ódio irracional contra estes que em verdade são 
tranqüilos e algumas vezes chegam a ser naturalmente dóceis (Goulart, 2004). Existem 
relatos que essa relação de coexistência complicada ocorre desde a Pré-História (Millidge 
Y Kingsley, 1999). 
Dentre todos os grupos de animais de hábitos terrestres, as serpentes são um 
dos mais perseguidos pelos seres humanos, principalmente pelo fato de que algumas 
espécies podem causar acidentes graves. No entanto, a grande maioria das espécies 
brasileiras é inofensiva. Mesmo grandes serpentes como a sucuri, que geralmente não 
causam acidentes graves em humanos, são atacadas e mortas quase sempre que existe 
contato (Bastos et al., 2005). 
O contato de serpentes e outros animais com os seres humanos vêm 
aumentando nas últimas décadas, principalmente na região da Amazônia Legal, pela 
supressão desenfreada de ambientes naturais, devido à expansão de fronteiras agrícolas 
para implantação de grandes lavouras, desmatamentos, desaparecimento de presas naturais 
e implantação de grandes lagos artificiais de usinas hidrelétricas, fatos que podem, a médio 
 3 
e longo prazo, ocasionar a extinção de diversas espécies (Bastos et al., 2003; Bastos et al., 
2005). 
Geralmente as serpentes reagem à aproximação de seres humanos com 
imobilidade, que aliada à coloração de camuflagem, fazem com que passem despercebidas, 
contudo, em casos de contato direto, elas podem adotar diversos comportamentos de defesa 
(Bastos et al., 2005). As grandes serpentes da família Boidae, podem emitir sons oriundos 
da inspiração e expiração vigorosa de ar (Ex.: Jibóia e Cobra-cachorro), podem simular 
botes, realizar descargas cloacais, posicionar a cabeça debaixo das voltas do corpo (Ex.: 
Sucuri) e em caso de captura podem empregar mordidas vigorosas (Bastos et al., 2005). 
Traumatismos provocados por agressões humanas a animais silvestres, 
principalmente contra as serpentes (que muitas vezes são capturadas em áreas residenciais, 
fazendas), são comumente observados e relatados por profissionais relacionados direta ou 
indiretamente com a captura, manejo e integração ao meio ambiente, como bombeiros, 
biólogos e veterinários. 
Diversos traumatismos podem ocorrer em serpentes, como pancadas e 
lacerações por ocasião da captura e manejo inadequado. A gravidade depende da extensão 
da lesão. 
Várias conseqüências podem ocorrer devido aos traumatismos provocados 
nas serpentes, como luxações e fraturas, prostração, desidratação, anorexia comportamental 
(é um dos primeiros sinais clínicos da maioria das enfermidades) devido ao estresse de 
captura, formação de abscessos, necrose de feridas, e em casos mais graves hipovitaminose 
(devido à anorexia prolongada) e septicemia (Cubas, 2006). 
 
 
 4 
 
 
2. RELATO DE CASO 
 
 
Em 24/12/05 uma sucuri (Eunectes murinus), macho, pesando 20 kg, com 
3,5 metros de comprimento e idade desconhecida, foi recebida pelo Núcleo de Fauna da 
Gerência Executiva do IBAMA em Imperatriz-MA. O animal foi trazido pelos bombeiros 
mediante solicitação por um fazendeiro local que relatou a ocorrência de ataque a aves 
domésticas em sua propriedade. O animal foi capturado pelos bombeiros em propriedade 
localizada dentro da zona urbana de Imperatriz com histórico de traumatismo por objeto 
pérfuro-cortante (facão), provocado por ação humana que resultou em lesões e extenso 
sangramento. 
A serpente foi submetida somente a tratamento tópico diário com Bactrovet 
Prata® e o exame clínico somente foi realizado 10 dias após sua chegada e revelou 
prostração, desidratação (diminuição da elasticidade e ressecamento da pele), mucosa oral 
apresentando leve hiperemia, pequenas ulcerações e focos hemorrágicos (indicando uma 
moderada estomatite), lacerações de pequeno diâmetro no terço cranial dorsal e ventral e 
uma grande e profunda laceração com diâmetro e profundidade aproximados de 6 cm na 
região dorsal de seu terço caudal (com rompimento da musculatura e fratura de costelas 
porém, sem aparente comprometimento de órgãos internos). Esta ferida estava muito 
edemaciada, com perda de tecido, coloração enegrecida e odor pútrido (Fig. 2). 
 
 5 
 
FIGURA 2: DETALHE DO FERIMENTO NO TERÇO CAUDAL EVIDENCIANDO EDEMA E 
PRESENÇA DE TECIDO NECRÓTICO 
 
O animal foi acondicionado em uma gaiola de metal (para restringir a 
movimentação e facilitar o manejo) e seu tratamento foi iniciado no dia 04/01/06. O 
protocolo inicial utilizado foi Periogard® 0,12% (gluconato de clorhexidina) para assepsia 
da cavidade oral a cada 24 horas por 7 dias; Duotrill® injetável a 10% (Enrofloxacina) na 
dosagem de 10 mg/Kg IM a cada 24 horas por 25 dias; solução fisiológica e Iodo Povidine 
para limpeza das feridas diariamente por 30 dias; Furacin® pomada (clorexidina) a cada 24 
horas por 10 dias, sendo substituída por Bandvet® ( extrato aquoso de Triticum vulgare) 
aplicada diariamente por 30 dias; Bactrovet Prata® (cicatrizante, repelente, hemostático, 
antimicrobiano) ao redor das feridas a cada 24 horas por mais 30 dias; fluidoterapia SC 
com cloreto de sódio a 0,9% na dosagem de 15 mL/Kg diariamente por 30 dias. 
Posteriormente, o Duotrill® foi substituído pelo antimicrobiano Nuflor® (Florfenicol) na 
dosagem 45 mg/Kg IM a cada 48 horas (extrapolação alométrica), sendo mantido por 7 
dias (Fig. 3). 
 6 
 
 
FIGURA 3: FASES DO TRATAMENTO (A – limpeza do ferimento; B – Periogard® para assepsia da 
cavidade oral; C – antibioticoterapia IM; D – fluidoterapia SC) 
 
Durante 40 dias o animal não se alimentou, sendo então necessária a 
alimentação forçada (frango embebido em complexo vitamínico Vitagold®) (Fig. 4). 
A serpente foi removida da gaiola no dia 31/01/2006 para o viveiro. Este 
recinto era coberto, mas permitia entrada de luz solar e possuía dimensões de 16m2 e 2m de 
altura. Sua superfície era coberta por terra onde foi improvisado um tanque de 1m3 
utilizando-se lona plástica e foram colocados alguns galhos de árvore para facilitar a sua 
muda de pele (Fig. 5). Fez-se a tentativa de disponibilizar o frango vivo no recinto por 
alguns dias, porém a serpente não mostrava interesse. Foi então realizada nova ingestão 
forçada de alimento. 
 
A 
B 
C 
D 
 7 
 
 FIGURA 4: PROCEDIMENTO DE INGESTÃO FORÇADA DE ALIMENTO 
 
FIGURA 5: RECINTO MODIFICADO PARA MANUTENÇÃO DA SERPENTE PELO PERÍODO DE 4 
MESES 
 
 
 
 8 
Durante os 5 meses de permanência no IBAMA, a serpente realizou três 
mudas de pele completas e a cada ecdise era possível observar claramente a evolução da 
cicatrização dos ferimentos (Fig. 6). 
 
 
FIGURA 6: DETALHE DO FERIMENTO NO TERÇO CAUDAL EVIDENCIANDO O PROCESSO DE 
CICATRIZAÇÃO APÓS SEGUNDA ECDISE 
 
Após novo exame clínico, o animal apresentou maior mobilidade e força, 
ecdises perfeitas, excreções normais e comportamento adequado, além da cura clínica das 
lesões. A partir dessas observações, foi realizada a soltura da sucuri no dia 31/05/06 na 
Região dos Lagos, no município de Vila Nova dos Martírios-MA (Figs. 7 e 8). 
 
 
 
 9 
 
FIGURA 7: SOLTURA DA SERPENTE NA REGIÃO DOS LAGOS – VILA NOVA DOS MARTÍRIOS-MA 
 
FIGURA 8: IMAGEM DE SATÉLITE INDICANDO O LOCAL DA SOLTURA (COORDENADAS 
GEOGRÁFICAS: LATITUDE: 05º14’39’’ LONGITUDE: 48º11’26’’). 
 
 
 
 10 
 
3. DISCUSSÃO 
 
 
Em répteis cativos, é frequentemente observado um comportamento de 
hipoatividade, sendo considerado etologicamente normal em algumas espécies. Porém, 
quando acompanhado de anorexia, este comportamento passa a ser relevante e estes 
animais passam a adotar um comportamento apático. Quanto maior o stress, maior a apatia 
(Goulart, 2004). 
Sob condições de stress, os répteis possuem a capacidade de se manterem 
em condições de temperatura abaixo da temperatura ecrítica (zona ótima de temperatura 
corporal) por períodos prolongados e, desta forma, ter seu metabolismo reduzido 
economizando muita energia, o que faz com que os répteis necessitem se alimentar menos 
do que as aves ou mamíferos e que sejam capazes de suportar períodos de jejum 
impensáveis para estas outras classes (Goulart, 2004). 
O jejum por longos períodos pode ser relativamente bem tolerado, mas a 
desidratação é um problema especialmente importante nesta classe de animais, portanto, se 
faz necessário providenciar uma hidratação (com solução fisiológica ou solução de Ringer 
com Lactato) e instauração de dieta adequadas. Em geral, preconiza-se a administração de 
15 a 25 mL/Kg a cada 24 horas (Goulart, 2004). Emprega-se a via subcutânea para 
administração de fluidos, utilizando-se o sulco que existe lateralmente à musculatura 
costal; nesta área a pele é livre de tecido subjacente, havendo mais espaço para o líquido 
injetado (Pachaly, 1992). Como o animal passava grande parte do dia dentro do tanque de 
 11 
água, isto melhorou sua hidratação já que, segundo Cubas (2006), a via intracloacal tem a 
vantagem de não ser invasiva e permitir boa absorção. 
Animais em processo de desidratação/desnutrição necessitam ser 
primeiramente hidratados e posteriormente nutridos (Goulart, 2004). Para serpentes cativas 
normalmente são oferecidos camundongos, ratos, cobaias, coelhos. Além destes, frangos 
podem ser oferecidos a sucuris (Francisco et al., 2001). Para animais desnutridos e 
anoréxicos, mas capazes para ser alimentados, recomenda-se a suplementação nutricional 
por via sonda gástrica com alimentos adequados às características biológicas da sua 
espécie (Goulart, 2004). Quando um indivíduo recusa a se alimentar, alimentação forçada 
pode ser necessária (Francisco et al., 2001). Também podem ser utilizados estimulantes de 
apetite, complexos vitamínicos e aminoácidos (Kolesnikovas et al., 2006). 
Traumas e abrasões rostrais podem proporcionar uma oportunidade para 
bactérias presentes na flora microbiota normal de serpentes (Pseudomonas sp., Klebsiella 
sp., Edwardsiella sp., Streptococcus sp., Escherichia coli ou Citrobacter diversus) 
penetrarem no tecido (Francisco et al., 2001). As lesões orais devem ser debridadas e 
limpas a cada 48 horas com Peróxido de Hidrogênio ou solução de Iodo Povidine (Pachaly, 
1992; Francisco et al., 2001; Cubas, 2006). Clorexidina a 2% também pode ser usado com 
sucesso (Cubas et al., 2006). 
Em relação à antibioticoterapia, alguns autores relatam trabalhos e 
experimentações com determinadas drogas mas, de uma maneira geral, muito ainda é 
baseado em analogia com outras espécies e adaptação aos conhecimentos anátomo-
fisiológicos intrínsecos da espécie em questão. Para o emprego de antibióticos, existem 
poucos estudos farmacodinâmicos mais apurados em répteis. Mais recentemente, a 
Enrofloxacina vem sendo cada vez mais empregada em medicina de répteis, com bastante 
 12 
sucesso. Até agora, os trabalhos apontam para a forma injetável de medicação como a mais 
adequada para o tratamento de répteis (Goulart, 2004). Preconiza-se a administração na 
musculatura paralela à coluna vertebral que se sobrepõe às costelas (Pachaly, 1992). A 
dose recomendada é de 5 a 10 mg/Kg a cada 48 horas (Kolesnikovas et al., 2006). 
Quanto aos antimicrobianos de uso tópico, estes podem ser uma boa 
alternativa de tratamento para algumas formas de lesões cutâneas, abcessos, estomatites, 
conjuntivites, etc., onde a concentração de drogas administradas por via sistêmica pode não 
atingir níveis satisfatórios. Isto pode ocorrer devido à diminuição da circulação local em 
conseqüência do processo infeccioso presente. Portanto, estes medicamentos podem 
auxiliar no tratamento sistêmico (Goulart, 2004). 
Como o metabolismo em répteis é consideravelmente mais lento quando 
comparado com mamíferos e aves, a resolução de problemas infecciosos também ocorre de 
maneira mais lenta. Isto posto, o protocolo antibacteriano deve ser estendido por, no 
mínimo, duas semanas (Goulart, 2004). Deve-se considerar que o início tardio da avaliação 
e do tratamento pode ter influenciado o período médio da terapia e resolução clínica das 
feridas. 
Quanto à resolução da fratura de costelas, estas se consolidam sem maiores 
problemas (Kolesnikovas et al., 2006). 
Um dos bons indicadores de saúde das serpentes é uma ecdise perfeita, pois 
pode refletir distúrbios na saúde do animal caso a ecdise não se realize de forma regular 
(disecdise). Muitos fatores podem acarretar uma disecdise, desde desidratação ou 
desnutrição, passando por más condições ambientais, ectoparasitismo e distúrbios 
hormonais (Goulart, 2004). 
 13 
É importante entender as condições ambientais em seus habitats nativos para 
adaptá-las numa condição de cativeiro. Recintos abertos são comuns em regiões mais 
quentes do continente, particularmente para sucuris e jibóias (Francisco et al., 2001). 
Os recintos devem ser capazes de proporcionar adequadas condições de 
vida, tais como área de alimentação, aquecimento, abrigo, tanque de água, além de um 
espaço mínimo para atividade física, com as seguintes dimensões mínimas: Comprimento 
= 3/4 do comprimento corporal e Largura = 1/3 do comprimento corporal (Goulart, 2004). 
 
 
 
4. CONCLUSÃO 
 
 
Ao abordarmos répteis com lesões traumáticas, principalmente aquelas que 
apresentam descontinuidade de tecido epitelial, com erosões extensas, arrancamentos e 
queimaduras, devemos instituir um tratamento sistêmico visando reestabelecer as funções 
fisiológicas normais que geralmente se encontram alteradas em algum grau, como por 
exemplo, volemia, hidratação, equilíbrio hidroeletrolítico, níveis de glicose, e sempre que 
possível, providenciar uma suplementação alimentar. Tudo isto sem esquecer de acomodar 
o paciente em condições adequadas de temperatura, umidade, luminosidade e protegido de 
fatores estressantes (Goulart, 2004). 
O tratamento de feridas extensas em serpentes deve basear-se em tratamento 
tópico (limpeza e pomadas antibióticas e cicatrizantes) e antibioticoterapia sistêmica 
quando necessário (depende da gravidade da situação), aliado a boas práticas de manejo 
 14 
(contenção, nutrição, ambiente). Estes procedimentos foram decisivos para a resolução do 
quadro clínico apresentado, proporcionando a soltura do animal em ambiente adequado à 
sua sobrevivência. 
Vale ressaltar a importância de órgãos competentes relacionados com fauna 
e meio ambiente na captura destes animais em ambientes domésticos e urbanos, de modo a 
preservar a vida humana e também a integridade física destes animais fora de seu habitat 
de origem, de modo a reintegrá-lo ao meio ambiente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 15 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
BASTOS, R. P. et al. Anfíbios da floresta nacional de Silvânia, estado de Goiás. 
Goiânia-GO, 2003. 82 p. 
 
CUBAS, Z. S. Terapêutica In:-. Tratado de Animais Selvagens. 1. ed.São Paulo: Roca 
Ltda, 2007. Cap. 70, p. 1202-1214. 
 
FRANCISCO, L. R.; GREGO, K. F.; MAS, M. Class Reptilia, Order Squamata (Ophidia): 
Snakes. In: FOWLER, M. E.; CUBAS, Z. S. (eds.). Biology, Medicine and Surgery of 
South American Wild Animals. 1. ed. Iowa: Iowa State University Press, 2001. Cap. 5, p. 
40-50. 
 
GOULART, C. E. S. Herpetologia, Herpetocultura e Medicina de Répteis. 1. ed. Rio de 
Janeiro: L. F. Livros de Veterinária, 2004. 330 p. ISBN 85-89137-04-X. 
 
INSTITUTO BUTANTAN. Principais Serpentes Brasileiras. Disponível em: 
<http://www.butantan.gov.br/museu/br/serp_serpbras01.pdf>. Acesso em: 03 mar. 2007. 
 
KOLESNIKOVAS, C. K. M.; GREGO, K. F.; ALBUQUERQUE, L. C. R. Ordem 
Squamata – Subordem Ophidia (Serpente). In: CUBAS, Z. S. et al. Tratado de Animais 
Selvagens. 1. ed. São Paulo: Roca Ltda, 2007. Cap. 8, p. 68-85. 
 
MARQUES, O. A. V. et al. Serpentes do Pantanal – Guia Ilustrado. Ribeirão Preto: Ed. 
Holos, 2005. 184 p. 
 
MILLIDGE, J.; KINGSLEY, R. Snakes – A Pocket Companion. London, Quantum 
Books Ltd, 1999. 64 p. 
 
PACHALY, J. R. Medicina de Animais Selvagens. Curitiba-PR, 1992. 209 p. 
 
 
POUGH, F. H., JANIS, C. M., HEISER, J. B. A Vida dos Vertebrados. 3. ed. São Paulo: 
Atheneu Editora, 2003. 699 p.

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