Buscar

2 - JBI - Historia Cultural

Prévia do material em texto

Jogos e Brinquedos na Infância - JBI
Texto 2 - HISTÓRIA CULTURAL DO JOGO, BRINQUEDO E BRINCADEIRA
Como os brinquedos, jogos e brincadeiras são transmitidos de gerações a gerações?
Segundo Kishimoto (1999), o brincar e aprendido e passado de geração a geração. Muitos objetos não nasceram como brinquedos, mas foram sendo transformados pelas crianças, como e o caso atual do telefone celular. Geralmente, quando o celular fica ultrapassado, o adulto dificilmente o joga fora, na maioria das vezes o aparelho vai parar nas mãos da criança. Apesar disso, de acordo com a autora, as crianças de hoje continuam brincando com bola, carrinho, boneca, objetos de casa em miniatura e jogos muito parecidos com os antigos.
De acordo com Klisys (2010, p. 46), os brinquedos e jogos trazem a historia e a engenhosidade que a humanidade levou anos para constituir. “Quando a criança está de posse de um brinquedo ou toma parte em um jogo, ela tem a possibilidade de apropriar‑se da cultura produzida por sua geração e por gerações anteriores a ela”. Por isso que, ao tomarmos posse de um brinquedo ou um jogo que se constitui em uma brincadeira, aparentemente não temos nada novo, no entanto, se olharmos mais atentamente, podemos verificar que nos apropriamos de elementos que foram constituídos anteriormente, como regras, materiais, costumes, a ponto de podermos identificar por meio do objeto o mesmo tipo de jogo de nossos antepassados, porém, ao serem adaptados ao momento atual, ganham um novo formato.
Como evidência de que o brincar é transmitido de geração a geração, essa autora ainda aponta que “o ato de brincar é comum entre as crianças, mas a maneira como esta ou aquela criança o faz depende de questões culturais presentes em seu entorno” (idem, p. 8). Esta autora traz como exemplo o jogo da amarelinha: o mesmo jogo e encontrado na Bahia com o nome de “macaquinho”, enquanto os indígenas guaranis o chamam de “arranca‑mandioca” sendo que a descrição da brincadeira para todos é a mesma. Ou seja, o mesmo jogo vai sofrendo alterações na forma e em sua denominação de acordo com o contexto sócio‑histórico e cultural, mas permanecendo a ideia comum a todos.
O gamão e o xadrez, por exemplo, foram encontrados em civilizações de 4000 a.C. e até os dias atuais esses jogos permanecem. Apesar de serem confeccionados com materiais diferentes dos de sua origem, suas regras foram transmitidas através de séculos por pessoas que os valorizavam. Podemos perceber a força com que os aspectos lúdicos presentes em uma sociedade se transferem de uma geração para outra.
As regras dos jogos e brinquedos podem mudar, dependendo da época ou do país, porém, eles são os mesmos. Geralmente o que muda são os materiais que os compõem, tornando‑os mais sofisticados. Assim, a historia do brinquedo e dos jogos compreende a historia do homem.
Para Kishimoto (1999, p. 30) os objetos que concebemos atualmente como brinquedos “eram
representações que tinham significados no mundo adulto, voltados para praticas sociais ou religiosas, e que na mão das crianças, viraram brinquedos”.
Existem registros de brinquedos infantis provenientes de diversas culturas que remontam a época pré‑histórica, demonstrando que e natural ao homem brincar, independente de sua origem e do seu tempo.
Observação
Embora não sejam conhecidas bonecas datadas da pre‑historia, provavelmente porque eram feitas de madeira ou de couro, que são materiais perecíveis, no antigo Egito foram encontradas bonecas de barro e de madeira em túmulos de crianças no período situado entre 3000 e 2000 a.C. Os estudiosos dividem‑se quanto ao sentido da presença desses objetos
nos túmulos. Alguns argumentam que eles teriam um caráter magico e simbolizavam um ritual de passagem para um outro mundo.
Como os brinquedos eram fabricados?
Em relação a construção dos brinquedos, ela não foi, em seus primórdios, invenção de fabricantes especializados; nasceu nas oficinas dos artesãos de madeira, tecidos, fundidores de estanho e chumbo. Antes do século XIX, a produção de brinquedos não era função de um único artesão, mas de vários, de acordo com sua especialidade. O estilo e a beleza dos brinquedos antigos, que hoje se encontram nos museus do mundo todo, explicam‑se pela circunstancia de que eles representavam um produto secundário dos artesãos, os quais, restringidos pelos estatutos corporativos, só podiam fabricar aquilo que competia a seu ramo. Assim, como forma de sobrevivência financeira, esses artesãos produziam com as sobras de suas matérias‑primas algumas miniaturas que eram replicas do objeto real. Essas miniaturas eram destinadas inicialmente aos adultos, que as solicitavam para um fim especifico, como o soldadinho de chumbo que servia para visualizar estratégias de guerra dos militares da época.
A venda de brinquedos também não era função de comerciantes especializados, embora todos pudessem comercializá‑los. No entanto, o predomínio dos brinquedos alemães da cidade de Nuremberg era marcante no mercado mundial no inicio do século XIX. Se inicialmente eram pequenos objetos (miniaturas), réplicas do real, posteriormente os brinquedos ganharam tamanhos, cores e outros tipos de materiais foram sendo agregados a sua fabricação. As matérias‑primas utilizadas inicialmente na confecção de brinquedos, como madeira, palha, tecido, barro e metal, acompanharam o desenvolvimento cientifico e tecnológico das outras áreas do conhecimento.
Atualmente, os materiais de que são confeccionados os brinquedos estão se afastando cada vez mais das matérias‑primas da natureza, passando a materiais industrializados, como o plástico. Algumas décadas atrás, as meninas só dispunham de bonecas de pano ou de porcelana para brincar. Atualmente, elas podem escolher entre bonecas aromatizadas, em tamanho natural, confeccionadas de plástico e que chegam cada vez mais perto da sensação de realidade, pois choram, pedem comida, mamam etc.
Observação
A boneca Barbie foi lançada no mercado por volta de 1959. Seu formato chocou o mundo, pois todos estavam acostumados a bonecas com corpo de criança. Atualmente, esse tipo de boneca adota vários acessórios e faz correspondência com as top models.
Para Kishimoto (1999)
[...] enquanto brinca, a criança cria e recria, usa o brinquedo com outras funções. O processo de brincar inclui ações sem caminho preestabelecido.
E, por natureza, um ato incerto. O prazer de brincar vem dessas escolhas.
Para essa autora, o brinquedo traduz o real para a realidade infantil, suaviza o impacto provocado pelo tamanho e pela força dos adultos em relação a criança, diminuindo o sentimento de impotência da infância.
No entanto, quando esse brinquedo se aproxima muito da realidade, dificulta a criatividade da
criança, pois já vem acabado. Por exemplo: um carrinho com controle remoto que faz tudo sozinho, além de colocar a criança na posição de mera espectadora, reduz sua brincadeira a tarefa de desmonta‑lo.
Lembrete
Para a criança, quanto mais próximo for o brinquedo do objeto real, menos possibilidade tem de utilizar a imaginação infantil e assim criar outras formas de brincar.
A criança, ao manusear um objeto, mesmo que este não tenha a referência social de ser um brinquedo, experimenta, reinventa, compara e cria situações simbólicas, conferindo outros significados a ele. Assim, sua imaginação se desenvolve e ela participa cada vez mais do mundo que a cerca.
Outro autor que trata do assunto é Brougere (2004), que aponta que um brinquedo, para ser produzido, deve se basear nos interesses de um tripé formado pela criança, pelo adulto e pelo fabricante. Os interesses desses três segmentos estão envolvidos, no entanto, dificilmente observamos a opinião das crianças prevalecer. Geralmente o que acontece é que em primeiro lugar vem a preocupação econômica e comercial do fabricante, depois o valor que os pais podem pagar e, em último lugar, vem o que as crianças querem, o que necessitam e podem aproveitar de acordo com seu grau de desenvolvimento e criatividade.

Continue navegando