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Persuasão, Exploração e Escravidão1 
Gabriela de Paiva Zuza2 
Maria Antônia Silva Generoso3 
Natal Sebastião de Oliveira Neto4 
Paulécia Alvares da Silva Santos5 
Sérgio Roberto Catuta Domingues6 
 
 
Resumo 
O presente artigo abordará o trabalho escravo nas carvoarias, um 
assunto bastante debatido pois,embora a escravatura tenha sido abolida há 
anos, ainda representa a realidade de muitos trabalhadores rurais no País, em 
que repetidas vezes são enganados, persuadidos e explorados desde o 
momento da negociação para a contratação de seus serviços até a dificuldade 
que enfrentam para ficarem livres dessas amarras. O tema discutido deu-se a 
partir da leitura e estudo do artigo publicado pelos autores João Ferreira Gomes 
Neto7 e Marco Antônio Mitidiero Júnior8,onde relatam o problema enfrentado 
na Bahia, intitulado UM OLHAR POR DENTRO DA CORTINA DE FUMAÇA DA 
PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL EM CÂNDIDO SALES – BA. 
 
Palavras-chave: Escravidão. Trabalho. Exploração. Carvão. 
 
 
Introdução 
O Brasil é o maior produtor mundial de carvão vegetal,destinado para 
alimentação e agricultura, segundo estatística da Organização das Nações 
Unidas. Ele faz parte da nossavidae pode serutilizado na indústria química como 
filtros, carbono, grafite alcatrão ou adubos; na indústria farmacêutica para a 
 
1
 Trabalho apresentado durante a aula de Estudos Interdisciplinares VI, na Universidade de Uberaba, 
no dia 03 de setembro de 2015. 
2Acadêmica do Curso de Direito da UNIUBE, 6º período, e-mail: gabriela.zzuza@gmail.com 
3
 Acadêmica do Curso de Direito da UNIUBE, 6º período, e-mail: maria-generoso@hotmail.com 
4
 Acadêmico do Curso de Direito da UNIUBE, 6º período, e-mail: natal_neto@hotmail.com 
5
 Acadêmica do Curso de Direito da UNIUBE, 6º período, e-mail: pauleciasantos@hotmail.com 
6
 Acadêmico do Curso de Direito da UNIUBE, 6º período, e-mail: sergiocatuta@gmail.com 
7
 Geógrafo; Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS); Analista em 
Desenvolvimento Regional da 2ª Superintendência Regional da Companhia de Desenvolvimento 
Regional dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF). E-mail: jf-neto@hotmail.com. 
8
 Geógrafo; Doutor em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP); Professor da Universidade 
Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: mitidierousp@yahoo.com.br. 
produção de diversos medicamentos; nas indústrias siderúrgicas como energia e 
redutor e na produção de churrasco. 
O carvão vegetal é obtido a partir da queima ou carbonização de madeira 
em fornos de barro no meio rural que, após este processo, resulta em uma 
substância negra. Sua alta produção tem como consequência o desmatamento e 
a exploração degradante do trabalho, em quepessoas são expostas a condições 
precárias, a situações análogas à escravidão. Além das jornadas exaustivas, não 
há alojamentos, material de trabalho, condição de higiene, salário digno 
edisponibilidade de água potável. 
Desde aLei Áurea,que decretou o fim da escravidão, já se passaram mais 
de um século e ainda persiste a exploração do trabalho em condições infames. 
Desta forma, algumas empresas e bancos públicos assinaram o Pacto Nacional 
pela Erradicação do Trabalho Escravo, em que foi criada a“Lista Suja”, que traz a 
relação de empresários e fazendeiros que mantém seus funcionários em 
situações semelhantesà escravidão. Sua finalidade é de lhes negar créditos, 
empréstimos e contratos. Hoje, as carvoarias representam um quinto das 
inclusões na “Lista Suja”. 
Para a garantia do cumprimento das normas trabalhistas legais e 
convencionadas, um dos mais importantes instrumentos é a inspeção do 
trabalho, em que o auditor-fiscal é o responsável por fazê-la, verificando as 
condições de saúde e segurança do trabalhador. Além de atestar se os direitos 
dos trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) - como 
remunerações corretas, férias, 13º salário, etc. - estão sendo cumpridos à risca 
pela empresa contratante. 
 
O Trabalho Escravo 
Com o mudo em constante desenvolvimento, vivemos na era digital e, 
com a tecnologia cada vez mais avançada, pouco nos lembramos da época em 
que as produções eram artesanais. Embora não seja tão comum a vida no 
campo, já que grande parte dessas pessoas procuram as grandes metrópoles em 
busca de melhoria na qualidade de vida; há também as que procuram encontrar 
seu crescimento financeiro no campo; são os produtores de gado de corte, 
leiteiro, grandes plantações, etc. E é nesse meio que estão os produtores de 
carvão vegetal, um bem barato e fácil de ser produzido, que demanda pouco de 
espaço,baixo investimento e mão de obra barata. As pessoas que trabalham 
nesse meio normalmente são de origem humilde e sem instrução escolar. Desta 
forma, são facilmente enganadas com promessas de melhores empregos e 
melhor renda, o que permitiria a melhoria de vida para si e para sua família. 
Entretanto, quando estão envolvidas e longe de suas casas, elas se veem 
obrigadas a realizar os trabalhos que lhes são impostos. 
A partir do momento em que aceitam a oferta de emprego, são 
encaminhadas para regiões isoladas e distantes de seu município de origem. As 
“dívidas” com os empregadores têm início ainda na viagem de ida para o local 
de trabalho, uma vez que lhes são cobrados o transporte, a alimentação e a 
bebida consumida no trajeto. Este montante aumenta quando se veem 
obrigados a custear as ferramentas de trabalho e os equipamentos de proteção, 
como botas e luvas, quando estes são disponibilizados pelo empregador ou 
preposto. Ao final do primeiro mês de prestação de serviços, estas pessoas 
percebem que o valor que devem é maior que o próprio “salário”proposto e 
que, portanto, precisam continuar trabalhando para pagarem o que devem. 
A partir deste momento inicia-se o círculo vicioso do trabalho escravo, 
pautado pelo endividamento que impede a saída do trabalhador rural de seu 
local de trabalho, de acabar com a exploração que lhe está sendo imposta. A 
dificuldade na fiscalização e puniçãodos culpados por esse tipo de crime permite 
que a rede de escravidão esteja presente no mundo atual, gerando lucros para 
empregadores e agentes. Mas nem todo trabalho nas carvoarias é escravo; 
temos no Brasil grandes produções de carvão que seguem a legislação 
trabalhista à risca. O problema está nas pequenas produções onde o dono, em 
uma pequena área rural, produz o carvão sem seguir a legislação e por 
consequência não respeita as leis trabalhistas. 
 
Legislação 
Os direitos e deveres individuais e coletivos e ainda os direitos sociais 
são garantidos pela Constituição Federal de 1988, e estão dispostos em seus 
artigos 5º, 6º e 7º. O Brasil firmou, também, acordos e convenções com temas 
tratados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que são: 1) 
convenção nº 29/1930, que dispõe sobre a erradicação do trabalho forçado ou 
obrigatório em todas as suas formas. Em caráter de exceção, há casos em que 
são permitidos, porém devem ser supervisionados, tais como o serviço militar e 
o penitenciário; e ainda os considerados de emergência, como por exemplo, 
guerras, incêndios e terremotos. 2) convenção nº 105/1957 que prevê a 
abolição do trabalho forçado como meio de coerção ou educação política que, 
em síntese, proíbe castigos por expressar opiniões políticas ou ideológicas, 
punição por participação em greves, dentre outros. Essas convenções 
receberam o maior número de ratificações por países membros. 
Podemos citar ainda o art. 149 do Código Penal que trata da redução a 
condição análoga à de escravo, cuja pena é de 2 a 8 anos de reclusão e multa, 
além da pena correspondente à violência. Temos também a lei nº 5889/1973, 
que estatui as normas reguladoras de trabalho rural, e as normas da 
Consolidação das Leis Trabalhistas– CLT. 
Porém, embora haja uma grande quantidade de legislações que 
deveriam proteger os direitos dos trabalhadores, os proprietários rurais são, 
muitas vezes, pessoas instruídas que contam com uma excelente assessoria 
jurídica e contábil, que fazem com que penas como estas sejam convertidas em 
tão somente o pagamento de multas, com distribuição de cestas básicas ou 
prestações de serviços à comunidade. 
 
Considerações finais 
No decorrer da história, percebemos que o homem transformou a noção 
de necessidade natural para usar o trabalho como forma de expressão de poder, 
explorandouns aos outros, classe sobre classe. Nas letras da lei, a escravidão 
está extinta, porém, em muitos países, principalmente onde a democracia é 
frágil, como no Brasil ainda existem casos como os expostos, prejudicando sua 
imagem diante do mercado externo, visto que há restrições comerciais severas 
com países que insistem em utilizar mão de obra análoga à escravidão. É público 
e notório que o Brasil utiliza de trabalho escravo, entendemos que sua 
erradicação é urgente, sobretudo para os trabalhadores, mas também para um 
bom relacionamento comercial internacional. Para isso, há um Plano Nacional 
para Erradicação do Trabalho Escravo, Grupo de Fiscalização Móvel e portaria 
do MTE que criou cadastro de empresas que já foram autuadas por encontrar 
trabalhadores em situações deploráveis. 
 
Referências 
BRASIL. Presidência da República. Secretaria Especial dos Direitos 
Humanos. II Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo / Secretaria 
Especial dos Direitos Humanos. – Brasília: SEDH, 2008. 
 
________. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do 
Brasil. Brasília, DF, Senado, 1998. 
 
________. DECRETO-LEI Nº 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. Código 
Penal. Brasília, CF, Senado, 1940. 
 
________. Consolidação das leis do trabalho/ Organizador: Leone 
Pereira, 3º Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. 
 
JÚNIOR, M. A. M.; NETO, J. F. G. Um olhar por dentro da cortina de 
fumaça da produção de carvão vegetal em Cândido Sales – BA. ACTA Geográfica, 
Boa Vista, Ed. Esp. Geografia Agrária, 2013. p.221-244, Set/Nov. 2014.

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