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ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR DAS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES DANIELA APARECIDA BIASOTTO-GONZALEZ Mestre e doutora em Biologia e Patologia Buco-dental pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas (F0P/Unicamp) Manole Autora e colaboradores Daniela Aparecida Biasotto-Gonzalez, fisioterapeu- ta graduada pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), mestre e doutora em Biologia e Patologia Buco-dental pela Faculdade de Odontologia de Piracica- ba, Universidade Estadual de Campinas (FoP/Unicamp), é coordenadora e professora do curso de Especialização em Terapia Manual da Universidade de Mogi das Cruzes (uMc). Como professora, é responsável pelas disciplinas Anatomia Palpatória de Superfície e Cinesiologia, além de supervisora do estágio de Traumato-ortopedia da umc. Como palestrante, ministra cursos nas áreas de ATM e Terapia Manual (Mobilização Articular), em congres- sos nacionais e internacionais. COLABORADORES César Ferreira Amorim, graduado em Engenharia Eletrônica, é mestre e doutorando em Engenharia Bio- médica pela Universidade do Vale do Paraíba (Univap). Como professor, é responsável pelas disciplinas Processa- mento de Sinais Biológicos no curso de Engenharia Bio- médica da Univap e Processamento de Dados no curso de Engenharia da Universidade Paulista (Unip), em São Ao meu querido marido Tabajara, que sempre me incentivou e me deu forças para escrever este livro. Reparto com você o nascimento deste nosso "filho". Aos meus pais Antônio e Sônia, por uma vida toda de dedicação, carinho, compreensão; por me oferecerem a oportunidade de estudar; pelo constante incentivo em tudo que faço. À minha irmã Daiana, esses laços que nos unem aumentam com o decorrer dos anos e são capazes de nos dar força e esperança a cada novo caminho a ser conquistado. Sumam Prefácio XV Fausto Bérzin Lista de Abreviaturas XVII Introdução XIX 1 Articulação Temporomandibular (ATAI) 1 Daniela Ap. Biasotto -Gonzalez 2 Músculos 17 Daniela Ap. Biasotto -Gonzalez 3 Relação da Postura Cervical com a Mandíbula 33 Daniela Ap. Biasotto - Gonzalez 4 Disfunção Temporomandibular 43 Daniela Ap. Biasotto -Gonzalez 5 Odontologia 65 Rubens Frota de Moraes Salles 6 Atuação Fonoaudiológica nas Disfunções Temporomandibulares 87 Kelly C. A. Silverio 7 Tratamento Fonoaudiológico das Disfunções Temporomandibulares 105 Kelly C. A. Silverio XIII A comunidade composta pelos profissionais de saúde que tem interesse e trata dos pacientes portadores de dis- funções temporomandibulares recebe este livro na certeza de ver atendida sua expectativa — e também a de professores e alunos da área — de finalmente ter acesso a uma obra que traga a abordagem multidisciplinar que o tema merece. Abordagem Interdisciplinar das Disfunções Tem- poromandibulares não veio para ser mais uma publicação sobre o assunto, e sim para oferecer, de maneira organi- zada e embasada, uma nova visão das DTMS. Essa síndrome, que geralmente tem origem multifa- torial, pode ser desencadeada por um ou mais agentes, como uma vértebra cervical girada ou mal relacionada, estresse, contatos oclusais com resultante deflectiva, artrites e artroses. O desconhecimento dessa ampla gama de possíveis fatores causais levou, em décadas passadas, à assunção de procedimentos terapêuticos nitidamente equivocados, como por exemplo as condilectomias uni ou bilaterais, as "plaquinhas de mordida" instaladas para serem usadas por todo o sempre ou mesmo só para dormir, entre outras soluções. Essa falta de conhecimen- to resultou na dificuldade presente dos profissionais da área da saúde em abordar com sucesso essa síndrome, e XV d Abreviaturas A/D analógico/digital ASPI articulação sinovial posterior inferior ASPS articulação sinovial posterior superior ATM articulação temporomandibular CMRR relação do modo comum de rejeição D direito dB decibel DTM disfunção temporomandibular DVO dimensão vertical de oclusão E esquerdo ECM músculo esternocleiodomastóideo EMG eletromiografia EVG eletrovibratografia Hz Hertz MA mordida aberta MHz megahertz MIH máxima intercuspidação habitual MPQ McGill Pain Questionnaire mV milivolt }IV microvolt oc oclusão cêntrica Re relação cêntrica RMS root mean square xv„ Cada capítulo deste livro terá uma introdução sobre suas particularidades, de modo que o leitor se familiarize e obtenha conceitos unificados da articulação temporo- mandibular (ATM). É importante ressaltar que o conhecimento da mor- fologia é indispensável para o tratamento clínico e para a compreensão global dos capítulos seguintes. A articulação temporomandibular é uma das estrutu- ras que compõem o sistema estomatognático. Além da ATM, esse sistema compreende os ossos -do crânio (frontal e temporal), do pescoço (hióide e vértebras cervicais), da face (maxilar) e do tórax (esterno e clavícula); dentes e estruturas próximas que lhe servem de suporte; os siste- mas sangüíneo, linfático, nervoso e muscular; e outros elementos, como a saliva. Os dentes superiores (maxilares) e inferiores (mandi- bulares) relacionam-se pela oclusão, que é essencial para a estabilidade da ATM. O sistema mastigatório oferece uma posição mandibular favorável para a ATM e para a relação oclusal dos dentes. As atividades mastigatórias funcionais podem ser observadas na mastigação, na fala e na deglutição; e as parafuncionais relacionam-se ao apertamento, ao bruxismo e outros. ~111111~1 g t: DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR [ XXI Os fatores psicológicos estão intimamente relacionados à DTM, pois aproximadamente 40% dos indivíduos com dor na região cra- niofacial possuem um agravante emocional. Há autores que conside- ram os músculos da cabeça e pescoço mais sensíveis ao estresse psicológico. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da DTM fundamenta-se principalmente na associa- ção entre a avaliação clínica interdisciplinar do paciente e os exames complementares. Na avaliação clínica caberá a cada profissional da equipe interdisciplinar fazer o diagnóstico referente a sua área de atuação e discutir com os outros profissionais envolvidos para poste- riormente analisar os exames complementares. Os mais comuns são radiografias (panorâmica, da ATM, telerradiografia lateral, transcra- niana, cervical e/ou de outros segmentos da coluna vertebral, dos seios paranasais etc.), ressonância magnética (estática e/ou dinâmi- ca), tomografias, eletromiografia (EMG) e eletrovibratografia (EvG). TRATAMENTO No princípio o tratamento deve ser direcionado às alterações mais incisivas, visto que esse trabalho também é realizado interdisciplinar- mente; nessa fase deve-se tentar diminuir ou abortar a sintomatolo- gia apresentada pelo paciente, a fim de proporcionar-lhe conforto, para concomitante e posteriormente tratar da causa do problema diagnosticado. Os profissionais envolvidos sempre estarão vinculados às diversas abordagens terapêuticas. Devido à complexidade da ATM, é importan- te ressaltar que cada profissional atue em sua área de especialização sem invadir o espaço do outro. Assim assegura-se que o resultado em equipe será positivo para todos. O conhecimento da morfologia é indispensável para o estudo clínico e para a compreensão da ATM, uma vez que ela é exclusiva dos mamíferos. Conhecendo-se a embriologia da ATM, torna-se mais fácil compreender seu desenvolvimento, seguindo um raciocínio lógico. A maioria das estruturas do sistema estomatognático, origina-se do primeiro arco branquial, pois é a partir dele que surgem as estruturas ósseas da face, da cavidadeoral, do osso hióide e da própria articulação, assim como os músculos da mastigação. Por volta da sexta semana de desenvolvimento em- brionário, a cartilagem do primeiro arco branquial (car- tilagem de Meckel) estende-se como uma barra de cartilagem hialina envolvida por uma cápsula fibrocelu- lar, da região de desenvolvimento da orelha até a linha média, onde ocorre a fusão dos processos mandibulares. As duas cartilagens, uma de cada lado, não se encontram na linha média, pois são separadas por uma delgada faixa de mesênquima. Durante esse período, há uma conden- sação do mesênquima próximo à superfície lateral da cartilagem de Meckel. Com sete semanas, a ossificação intramembranosa começa nessa condensação, formando a mandíbula. A 1 Articulação Temporomandibular (um) Daniela Ap. Biasotto-Gonzalez Superfícies articulares Parte escamosa do temporal Músculo pterigóideo lateral (cabeça superior) Disco Fossa mandibular Processo estilóide Processo coronóide Tecido retrodiscal Processo condilar da mandíbula Tubérculo articular Músculo pterigcSideo lateral (cabeça inferior) Maxila ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR (ATM) I. Figura 1.1 Articulação temporomandibular. do-se os indicadores à frente da orelha e, em seguida, executando-se movimentos de elevação e também de lateralidade, por exemplo. Há uma relação de interdependência da ATM com a oclusão dos dentes de ambos os arcos, o que a torna peculiar e extremamente complexa. Por isso, falhas na dentição ou defeitos na oclusão podem provocar sobrecarga na articulação. A dentição humana é composta por 32 dentes permanentes: de- zesseis na arcada superior (maxilar) e dezesseis na arcada inferior (mandibular). Os dentes são classificados em: — incisivos: quatro maxilares e quatro mandibulares (dois centrais e dois laterais), sua função é cortar os alimentos; ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR (ATM) sua margem inferior encontra-se a fossa mandibular; em cujo fundo encontra-se a fissura petrotimpânica. A parte timpânica do osso temporal está situada inferiormente à parte escamosa e anteriormente ao processo mastóide; a parte petrosa entra na constituição da base do crânio. MAXILA A maxila (figura 1.1) é a parte fixa do crânio que constitui a porção estacionária do sistema mastigatório. Durante o desenvolvi- mento embrionário duas maxilas articulam-se e constituem o maior osso da parte superior da face. Na parte inferior da maxila formam- se o palato (que corresponde ao teto da cavidade oral) e também o assoalho da cavidade nasal. MANDÍBULA A mandíbula é um osso móvel em forma de um "U", que susten- ta os dentes inferiores (figura 1.1). Não tem ligação direta com o crâ- nio, sendo constituída de um corpo e dois ramos que se estendem perpendicularmente para cima a partir de cada extremidade do corpo. Na fusão de suas duas metades, anteriormente, encontra-se um sulco ou crista que marca o local onde havia a sínfise da mandíbula. Cada ramo termina em duas extensões proeminentes, os proces- sos coronóide e condilar. O processo coronóide é o processo posterior onde se insere o músculo temporal, e o processo condilar é a parte que apresenta um colo, a partir do qual se origina a cabeça da mandíbula. Esta articula-se com a fossa mandibular do osso tempo- ral, formando a ATM, uma articulação móvel do crânio. Fossa mandibular A fossa mandibular, também conhecida como cavidade glenóide (figura 1.1), apresenta muitas variações de formas, assim como a cabeça da mandíbula, mas seus limites podem ser prontamente determinados. Possui uma face articular que se estende anteriormente ao tubérculo articular e à margem lateral do processo zigomático. Geralmente côn- cava, é percorrida pela fissura timpanoescamosa, a qual atua como limi- te entre as porções escamosa e timpânica do osso temporal. Observa-se em determinada altura desta fissura uma pequena projeção óssea per- ARTICULAÇAO TEMPOROMANDIBULAR (ATM) 7 ângulo de observação, já que se trata de uma estrutura tridimensio- nal. É anatomicamente menor que a fossa mandibular, tendo a sua cabeça forma de fuso, perpendicular ao ramo da mandíbula, com seu longo eixo passando póstero-medialmente. Observado em vista supe- rior, apresenta forma elíptica com dois pólos crescentes, um medial e outro lateral, sendo que o seu eixo forma com o do lado oposto um ângulo de 150° a 165°, aberto anteriormente. Em uma vista lateral, nota-se também que o processo condilar é convexo em ambas as partes: ântero-posterior e médio-lateral. A sua su- perfície articular é curva e desviada ligeiramente para a parte posterior. Durante o início da vida intra-uterina (sete semanas) o processo condilar é formado por uma condensação de células mesenquimais situadas sobre uma região óssea que mais tarde forma o ramo da mandíbula. Já entre a 12a e a 14a semana de vida intra-uterina, o processo condilar e o disco articular deslocam-se superiormente em direção ao osso temporal. Um contato mais íntimo entre a cabeça do processo condilar e o disco articular com o osso temporal, pode esti- mular a formação da cápsula articular. • Processo coronóide O processo coronóide é delgado, triangular e situa-se anterior- mente ao processo condilar, no ramo da mandíbula (figura 1.1). Processo estilóide O processo estilóide é um prolongamento inferior do osso tempo- ral, situado posteriormente ao ângulo da mandíbula (figura 1.1). SUPERFÍCIES ARTICULARES A superfície articular da fossa mandibular da ATM (figura 1.1) é côncavo-convexa e recoberta por tecido fibroso, que se estende da fissura petrotimpânica ao tubérculo articular do osso temporal. A superfície da cabeça da mandíbula é revestida por uma camada de fi- brocartilagem. CÁPSULA ARTICULAR A ATM é envolvida por uma cápsula fina e frouxa, a cápsula arti- cular, mais espessa nas camadas internas (extrato sinovial). A cáp- ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR (ATM) também é responsável pela drenagem dos metabólicos liberados pelas células, enquanto os elementos celulares do sistema imunológico se encarregam dos processos de fagocitose; além disso desempenha im- portante papel na proteção das células cartilaginosas. Durante o crescimento embrionário, a cabeça da mandíbula é re- vestida por um tecido esponjoso. Encerrado o crescimento, forma-se uma placa óssea separando a parte articular da mandíbula do tecido esponjoso subjacente. Essa separação desaparece por volta dos 20 anos e a partir daí os tecidos que participam da articulação são ali- mentados exclusivamente pelo líquido sinovial. Esse líquido consiste em um dializado de plasma sangüíneo com grande quantidade de ácido hialurônico e glicosaminoglicano com vis- cosidade suficiente para manter lubrificadas as superfícies articulares. A viscosidade do líquido sinovial pode ser alterada em decorrên- cia de alguma patologia como inflamação, infecção ou hemartrose. Com a diminuição da viscosidade, a cartilagem articular pode tor- nar-se vulnerável a enzimas degradativas, dando início a processos degenerativos. Solicitações anormais e modificações nos movimentos articulares também são capazes de perturbar o processo de difusão, acarretando degeneração das estruturas. DISCO ARTICULAR O complexo articular é formado pelo processo condilar que se une ao tubérculo articular. Sendo o processo condilar e o tubérculo convexos, há necessidade de uma superfície côncava para tornar a ATM mais estável. Por isso há um disco articular, interpondo-se a essas estruturas, transformando a ATM em uma articulação côncavo -cônvexa, estável. Assim, a ATM é classificada como articulação composta, em que o disco articular é um componente ativo da articulação, com ver- dadeiras faces articulares. Sem o disco ou com o seumal funcio- namento, a ATM não se move harmoniosamente. O disco articular (figura 1.1) é composto em sua parte central por tecido conjuntivo fibroso denso, bicôncavo, destituído de vasos san- güíneos ou fibras nervosas, o qual suporta pressões elevadas durante a mordida e a mastigação, já sua parte periférica é coberta pela mem- brana sinovial, ricamente vascularizada e inervada. É formado por duas bandas (anterior e posterior) e uma zona intermediária. A ban- da posterior é mais larga, apresentando uma semelhança com a banda anterior, bicôncava. O disco está inserido na porção retrodis- cal, ou seja, posteriormente a uma área de tecido conjuntivo frouxo ARTICULAÇAO TEMPOROMANDIBULAR (ATM) 1 1 1 mofada retrodiscal de Sicher e frênulo temporomandibular. Entre es- tes, zona bilaminar é o termo que mais esclarece sobre a estrutura. É importante lembrar que a membrana sinovial é encontrada na superfície superior do tecido retrodiscal e que durante o mecanismo de abertura e fechamento bucal ocorre a lubrificação articular (ver Capítulo 2, p. 28). LIGAMENTOS Os ligamentos fazem parte do sistema articular, com componen- tes importantes na proteção de suas estruturas, desempenhando fun- ções específicas (figura 1.2). Eles são responsáveis por direcionar os movimentos mandibula- res, que se originam nas contrações dos músculos da mastigação, pro- porcionando estabilidade à articulação sinovial. Os ligamentos são inextensíveis, porém flexíveis e constituídos por espessas bandas de tecido fibroso com algumas fibras elásticas entre elas. O fibroblasto é a única célula presente. É importante lembrar que, sendo a mandíbula um osso único que se articula com o crânio por meio de seus processos condilares, pode- se dizer que a ATM é suportada pelos ligamentos apenas em sua parte lateral, pois o ligamento de um dos lados da articulação impede seu deslocamento lateral e o deslocamento medial do lado oposto. Passi- vamente agem como limitadores ou restritores. Há três ligamentos funcionais suportando a ATM: ( 1 ) os colaterais, (2) o capsular, e (3) o temporomandibular. Também há dois acessó- rios: (4) o esfenomandibular e o (5) estilomandibular (figura 1.2). Cada um tem uma importante função: 1) Ligamentos colaterais: recebem esse nome por serem acoplados ao disco nos dois pólos condilares. Esses ligamentos são intracap- sulares, um medial e outro lateral. O lateral é tão fino que dificil- mente pode ser diferenciado do material capsular quando apresenta severo espessamento. Nos pólos medial e lateral, origi- na-se no disco e insere-se no processo condilar. Sua elasticidade e sua forma naturais são importantes para estabilizar as estruturas intracapsulares durante os movimentos mandibulares, ou seja, têm a função de estabilizar o disco articular sobre o processo condi- lar durante os movimentos de rotação e de translação da ATM. 2) Ligamento capsular: com aspecto de funil, apresenta-se na for- ma de um envoltório abrangendo toda a articulação temporo- Ligamento capsular Ligamento esfeno- mandibular Ligamento estilomandibular Ligamento Nervo auricu- capsular lotemporal Ligamento temporo- mandibular Ligamento esfenomandibular ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR (ATM) 13 Ligamento estilomandibular Figura 1.2 Estruturas ligamentares e nervos. rais, ou seja, atua ao longo da rotação do processo condilar no plano coronal, nos movimentos do disco articular. Também auxilia o liga- mento colateral lateral no controle da restrição do movimento do disco articular durante o abaixamento mandibular e no início de seu movimento póstero-lateral durante a elevação mandibular. ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR (ATM) de uma pequena abertura na sua parede posterior. Corre ao longo da parede lateral da cavidade, colocando-se contra a face medial da membrana do tímpano, cruzando o manúbrio do martelo. Deixa a cavidade timpânica através da fissura petrotimpânica, passando a se relacionar com a zona bilaminar, servindo de intercomunicação entre a ATM e a orelha. O nervo auriculotemporal passa ao longo dos vasos temporais superficiais e recebe impulsos sensitivos da orelha externa e da pele na região das têmporas. Ele também se comunica com o nervo facial (perto da orelha externa), em seu trajeto anterior divide-se para envolver a artéria meníngea média e unir-se ao tronco posterior do nervo mandibular. VASCULARIZAÇÃO Todo suprimento arterial da ATM vem de ramos da artéria maxi- lar, ou seja, a ATM é irrigada por ramos das artérias temporal super- ficial, auricular profunda e timpânica anterior. Todo esse suprimento sangüíneo penetra na cápsula articular, nas periferias do disco e na zona bilaminar. O plexo pterigóideo constitui o principal sistema de drenagem venosa da ATM. O plexo vascular é abundante na parede da cápsula e na membrana sinovial, onde está relacionado com a produção do liquido sinovial, e também na zona bilaminar do disco articular, onde os vasos têm importante papel na determinação de sua forma. Músculos Daniela Ap. Biasotto-Gonzalez Os movimentos realizados pela mandíbula dependem dos músculos da mastigação, que constituem a parte ativa da articulação. A força do músculo depende de sua massa contrátil. É importante saber identificar cada músculo por meio de sua palpação e também por sua ação, para que durante um exame clínico a identificação seja correta e confiável. Os movimentos mandibulares são resultados das ações dos músculos mandibulares e cervicais. A musculatura cervical estabiliza a cabeça para aumentar a eficiência dos movimentos mandibulares. Considera-se a existência de quatro músculos perten- centes ao grupo da mastigação. Dois são de fácil palpação, por serem superficiais (temporal e masseter), e os outros dois não são precisamente palpáveis por serem profun- dos (pterigóideos medial e lateral); no entanto, todos ligam a mandíbula ao crânio. Trabalham mais em grupo do que individualmente, movimentando a mandíbula em todos os planos de movi- mento. É importante lembrar que, ao contrário das demais articulações do corpo que apresentam movimentos inde- pendentes, as ATMS são interdependentes; ambas se movi- mentam, pois são unidas por um único osso, a mandíbula. Parte média do temporal Parte anterior do temporal Parte posterior do temporal MÚSCULOS 19 Figura 2.1 Músculo temporal. inserção estende-se da região do segundo molar, na borda inferior, até o ângulo da mandíbula. Cobre todo o ramo mandibular, com exceção do processo condilar. É inervado pelo nervo massetérico (divisão man- dibular do nervo trigêmeo) e irrigado pela artéria maxilar. Quando esse músculo se contrai, a mandíbula é elevada. Conside- rado um músculo forte, de potência, proporciona a força necessária para uma mastigação eficiente, sendo o principal músculo da mastiga- ção. Sua parte superficial também auxilia na protrusão da mandíbula. Quando a mandíbula sofre protrusão e a força mastigatória é aplicada, as fibras profundas estabilizam o processo condilar contra o tubérculo articular. MÚSCULOS MÚSCULOS DEPRESSORES DA MANDÍBULA Descritos os músculos elevadores da mandíbula, é importante conhecer seus antagonistas, ou seja, os depressores da mandíbula. Entre eles o pterigóideo lateral, também considerado um músculo auxiliar da mastigação, e os supra-hióideos, grupo de músculos pares que unem o osso hióide ao crânio e são capazes de movimentar o osso hióide e a mandíbula, mas não são considerados músculos dire- tamente responsáveis pela mastigação e sim colaboradores. O grupo formado pelos músculos supra-hióideo, digástrico, estilo-hióideo, milo-hióideo e genio-hiódeo, liga-se à mandíbula. Exceto o estilo- hióideo, os outros três são sinergistas do grupo infra-hióideo.MÚSCULO PTERIGÓIDEO LATERAL Esse músculo é dividido em duas cabeças: superior e inferior (fi- gura 2.3). Essa classificação é recente, pois, posteriormente, esse mús- culo será classificado com uma única ação, mas com funções bem diferentes. • Cabeça superior Essa porção é menor que a inferior. Origina-se na face infratempo- ral da asa maior do esfenóide, estendendo-se para trás e para fora, para inserir-se na cápsula articular e no disco da ATM e depois em uma pequena parte no colo da mandíbula. Atua quando há resistência mus- cular e quando os dentes são mantidos fechados durante a mastigação. ♦ Cabeça inferior Origina-se na face lateral da lâmina lateral do processo pterigóide (superfície externa da lâmina pterigóidea), estendendo-se para trás, para cima e para fora, para se inserir no colo da mandíbula, na fóvea pterigóidea. Quando se contrai bilateralmente, os processos condilares são puxados para baixo, na direção do tubérculo articular, assim, a man- díbula sofre protrusão. Quando a contração é unilateral, a mandíbu- la desloca-se lateralmente para o lado oposto ao da contração. Quando a cabeça inferior do músculo pterigóideo lateral está ativa, a superior relaxa. Esse músculo também atua junto com os depressores da mandíbula e quando isso ocorre, os processos condi- lares movem-se para baixo e para a frente, na direção do tubérculo articular. Ventre posterior do digástrico Ventre anterior do digástrico Milo-hióideo MÚ S CU LOS o osso hióide, são capazes de movimentar a mandíbula. Recebem suprimento nervoso do trigêmeo, do facial e do hipoglosso. Entre os músculos desse grupo é importante destacar o músculo digástrico que, como seu nome diz, possui dois ventres, um anterior e outro posterior. O ventre posterior origina-se na incisura mastóidea e insere-se no tendão intermediário do osso temporal, e o anterior origina-se na fossa digástrica e insere-se no tendão intermediário que, por sua vez, insere-se no osso hióide. Quando se contrai, o osso hióide é preso pelos músculos infra- hióideos e a mandíbula é abaixada e puxada para trás e os dentes desocluem. Quando a mandíbula se estabiliza os músculos supra-hióideos ele- vam o osso hióide, procedimento necessário para deglutir; ou seja, os músculos supra-hióideos são abaixadores da mandíbula e elevadores do osso hióide. Em um contexto geral, o grupo supra-hióideo é formado pelos músculos localizados entre a mandíbula e o osso hióide; os infra-hiói- deos são os que localizam-se entre o osso hióide, a clavícula e o ester- no. Esses dois grupos são importantes para a coordenação mandibular. Figura 2.4 Músculos supra-hióideos. 25 MÚSCULOS MÚSCULO ESTERNOCLEIDOMASTOIDEO (ECM) Esse músculo apresenta duas cabeças, uma com origem no ester- no e outra na clavícula; ambas inserem-se no processo mastóideo. A contração bilateral desse músculo resulta na elevação da cabeça a partir da posição supina, sendo que esse movimento é limitado com o abaixamento mandibular. O ECM está associado à disfunção tem- poromandibular tornando-se sensível (figura 2.6). Aponeurose do trapézio Trapézio superior Escápula Estemoclei- domastóideo Suboccipitais Esternocleidomastóideo Trapézio parte ascendente Trapézio Cervicais Trapézio parte transversa Clavícula Trapézio parte descendente B Manúbrio estemal A Figura 2.6 Músculos complementares. (A) Vista posterior. (B) Vista anterior. MÚSC ULOS Quadro 2.1 Origem, inserção, ação e inervação dos músculos da mastigação, grupo supra-hióideo. MÚSCULOS ORIGEM INSERÇÃO AÇÃO INERVAÇÃO Temporal Soalho da fossa temporal Superfície medial do processo coronóide e trígono retromolar Elevação e retração da mandíbula Temporal profundo Masseter Arco zigomático Face lateral do ramo da mandíbula Elevação e discreta retração mandibular. Principal músculo da mastigação Massetérico Pterigóideo medial Fossa pterigóidea Tuberosidade da fossa medial do ângulo da mandíbula Elevação da mandíbula Pterigóideo medial Pterigóideo lateral Cabeça superior: asa maior do esfenóide. Cabeça inferior: lâmina lateral do pro- cesso pterigóideo Cabeça superior: cápsula e disco. Cabeça inferior: fóvea pterigóidea A cabeça superior interioriza o disco e o processo condilar. Em ação unilateral a cabeça inferior lateraliza a mandíbula para o lado oposto. Em ação bilateral as cabeças protruem a mandíbula Pterigóideo lateral Supra-hióideo (digástrico) Fossa digástrica Incisura mastóidea Depressão mandibular Ventre anterior: trigêmeo; ventre posterior: facial Todo movimento mandibular, portanto, ocorre em decorrência da contração muscular guiada pelos dentes na oclusão ou na desoclusão e, dependendo do posicionamento dentário, outro grupo muscular é ativado. Por esse e por outros motivos, qualquer interferência oclusal repercute diretamente na musculatura e na própria articulação tem- poromandibular (ATM). Há alguns exemplos clássicos de tensão muscular refletindo dire- tamente nos dentes, mas em algumas situações isso passa despercebi- do. A dor no molar ou no pré-molar inferior pode estar diretamente relacionada com o músculo masseter. Pontos doloridos nos dentes podem estar diretamente relacionados com os pontos-gatilho (trigger points) dos músculos da mastigação. O conceito de oclusão protegida estabelece que os dentes anterio- res protegem os dentes posteriores e a ATM nos movimentos excêntri- cos e que os dentes posteriores e a ATM protegem os dentes anteriores durante a oclusão (ver Capítulo 10). MÚSCULOS Por meio do reflexo proprioceptor o primeiro movimento deter- minado pela musculatura abaixadora é o de rotação. O processo condilar, em contato com a face inferior do disco articular, faz um movimento de rotação pura até um limite de abertura que pode va- riar de 20 a 25 mm. Considerando-se que o disco articular movimenta-se junto com o processo condilar, permitindo que este gire em sua porção interme- diária, pode-se afirmar que o movimento promovido é o de transla- ção, ou rotação translacional. A biomecânica normal entre as superfícies articulares da ATM consiste na relação côncavo-convexa entre o processo condilar e a superfície inferior do disco; quando o processo condilar desliza ante- riormente na superfície articular, o disco posiciona-se posteriormente ao deslizamento condilar, até que ocorra o tensionamento dos liga- mentos colaterais. Esse é o ponto final da rotação e para completar o limite do movimento funcional inicia-se, a partir desse ponto, o mo- vimento de translação na superfície superior do disco com o tubércu- lo articular (figura 2.7). A média da extensão do movimento de abaixamento mandibular é de aproximadamente 50 mm (mensurada com um paquímetro); isso corresponde a 100% do comprimento dos tecidos conectivos periarticulares (cápsula e ligamentos) e não corresponde à abertura funcional. O tecido conectivo periarticular não deve exceder 70 ou 80% do total de seu comprimento durante a função articular, por isso o limi- te funcional de abertura da ATM é de aproximadamente 40 mm. A rotação corresponde a 50% do total do limite de abertura, ou seja, 25 mm, e para completar os 40 mm funcionais de abertura, 15 mm são de translação. Omovimento de rotação da mandíbula pode ocorrer nos três pla- nos de referência: horizontal, frontal (vertical) e sagital. Em cada plano, a rotação ocorre em torno de um ponto denominado eixo. A rotação horizontal é também chamada de rotação pura, por ocorrer no movimento de abrir e fechar a boca (ou dobradiça). O movimento em que o processo condilar se encontra na porção mais superior da fossa articular ea mandíbula é abaixada — e para isso ela rotaciona — é executado em torno do eixo terminal de rotação, mas esse movimento, apesar de visível, raramente ocorre durante a função normal. A rotação vertical (frontal) ocorre quando um dos processos condi- lares move-se anteriormente para fora da posição terminal de rotação e o processo condilar oposto permanece nessa posição. MU sc ti Los Disco Disco Disco FECHAMENTO REPOUSO Processo condilar Figura 2.7 Movimentos normais da ATM, Quando mordemos um alimento duro, a pressão intra-articular do lado da mastigação diminui porque a força de fechamento da man- díbula afeta o alimento e não a articulação. Durante a translação, a combinação da morfologia do disco com a pressão intra-articular mantém o processo condilar na zona inter- mediária e o disco é forçado a transladar para a frente com o proces- so condilar. O movimento lateral é realizado pela translação de um dos processos condilares sobre o tubérculo articular enquanto o outro per- manece fixo. Na protrusão, ambos os processos condilares deslizam para a frente, sobre o tubérculo articular, com pequeno movimento de rotação. A retrusão é um movimento limitado e força os processos condilares para a região posterior. É importante ressaltar que os movimentos voluntários da mandíbula incluem abertura, fechamento, protrusão, retrusão e late- ralidades. Durante os movimentos de abertura, fechamento e pro- trusão, a rotação e translação ocorrem simultaneamente nas ATMS, no entanto, durante a lateralidade, os movimentos nas ATMS são diferen- tes. Para melhor compreensão de cada movimento e suas relações, suas descrições são apresentadas a seguir: 10,. POSIÇÃO DE REPOUSO: a posição de repouso é o passo inicial para a abertura bucal. A articulação encontra-se relaxada, o tecido conecti- vo e os músculos pterigóideos laterais encontram-se em repouso. ► ROTAÇÃO: esse é o segundo passo. No início da abertura até sua metade inicial, a superfície articular do processo condilar desliza para a frente, a superfície articular inferior do disco sofre um relativo des- Ne" çao a Postura Cervical com a Mandíbula Daniela Ap. Biasotto-Gonzalez As funções do sistema estomatognático têm como ca- racterística a participação da mandíbula e de todo o com- plexo cabeça/pescoço. A ATM, a coluna cervical e as articulações entre os dentes relacionam-se intimamente em suas funções. A ação neuromuscular das regiões mastigatória e cervical influencia ativamente os movimentos posturais funcio- nais da mandíbula e da coluna cervical, ou seja, todo o mecanismo postural que atua na cabeça é também par- cialmente responsável pela postura mandibular. Muitos fatores influenciam na função dos músculos mastigató- rios e afetam a posição de repouso e parte dos movimen- tos mandibulares. Para melhor esclarecer o efeito que um músculo exer- ce sobre os outros, é importante observar as relações musculoesqueléticas da cabeça e do pescoço. O crânio é mantido pela coluna cervical, mas isso não significa que está localizado em seu centro ou equilibrado sobre ela. Para manter essa posição, é necessária uma musculatu- ra que compense o peso da caixa craniana. Para que a cabeça se mantenha na posição ereta e assim seja possível olhar para a frente, os músculos pos- teriores devem contrair-se (trapézio, esternocleidomas- tóideo, esplênio da cabeça e longo da cabeça). 33 Músculo digástrico (ventre posterior) Músculo esternocleido- mastóideo Músculos cervicais Músculo digástrico (ventre anterior) Osso hióide Músculo escaleno anterior Músculo trapézio Músculo masseter RELAÇÃO DA POSTURA CERVICAL COM A MANDIBULA 35 Músculo temporal Figura 3.1 Sinergismo muscular. me uma posição mais anteriorizada, modificando, em conseqüência, o contato oclusal e a posição da ATM; ou seja, processo condilar e disco assumem uma postura semelhante à da abertura funcional, mas nesse caso passivamente (figura 3.2). Durante a extensão da cabeça pode-se observar uma tensão no músculo esternocleidomastóideo e, ao mesmo tempo, a contração dos músculos cervicais. A mandíbula assume uma postura mais pos- terior em conseqüência da ação da gravidade e dos músculos masti- gatórios, modificando também o contato oclusal e a posição da ATM, nesse caso, processo condilar e disco são posteriorizados, podendo o processo condilar comprimir o tecido retrodiscal e as demais estrutu- ras dessa região (figura 3.3). Quando ocorre uma alteração postural, por exemplo, anterioriza- ção da cabeça, simultaneamente o paciente apresentará tensão em Músculo esternoclei- domastóideo Cabeça inferior do músculo Disco pterigóideo articular lateral Mandíbula Parte escamosa do temporal Tecido retrod iscai Tubérculo articular Cabeça superior do músculo pterigóideo lateral RELAÇÃO DA POSTURA CERVICAL COM A MANDÍBULA 37 Processo condilar Figura 3.3 Extensão da cabeça x posição da ATM. O equilíbrio entre a flexão e a extensão da cabeça e do pescoço é afetado pelos músculos mastigatórios, supra-hióideos e infra-hiói- deos. A disfunção dos músculos mastigatórios ou cervicais também pode facilmente causar um distúrbio nesse equilíbrio. Uma mudança na postura cervical e um aumento das forças gra- vitacionais sobre a cabeça podem comprometer o movimento e a pos- tura de repouso da mandíbula, a atividade dos músculos mastigatórios e, em conseqüência, a oclusão. Estudos eletromiográficos comprovam que há um aumento na atividade elétrica dos músculos mastigató- rios quando a coluna cervical não apresenta uma curvatura fisiológica, ou seja, quando a coluna cervical encontra-se em extensão há um aumento na atividade eletromiográfica dos músculos temporais e quando encontra-se flexionada há um aumento na atividade dos músculos masseter e digástrico (supra-hióideos). RELAÇA0 DA POSTURA CERVICAL COM A MANDÍBULA dificuldade na deglutição. Pesquisas mostram que há uma íntima re- lação entre alteração postural e alteração do padrão respiratório, em razão do comprometimento muscular. O osso hióide é reposicionado superiormente e a diminuição de sua elevação é proporcional à diminuição do grau de lordose cer- vical ou à anteriorização da cabeça, ou seja, quanto mais retificada mais baixa a posição do hióide. Uma ação oposta acontece nos processos condilares, que assumem uma posição mais superior e posterior, submetendo o mento à depressão e à retrusão. Como o processo condilar assume uma posição mais posterior na articulação, a cabeça superior do músculo pterigóideo lateral torna-se alongada e por ação reflexa promove contração desse músculo, causando um deslocamento anterior do disco. Com a mudança da posição mandi- bular, ocorre uma mudança na posição do osso hióide e também na oclusão, alterando-se a biomecânica da articulação temporomandi- bular. A relação entre o sistema estomatognático e a postura da cabeça também pode ser estabelecida em função de as duas regiões possuí- rem conexões nervosas comuns. Essa relação pode estar intimamen- te ligada aos pares de nervos espinais, ou seja, os ramos nervosos das raízes de C 1 e C 2 que se comunicam com o nervo hipoglosso. Assim, como impulsos aferentes cervicais convergem para o núcleo caudal do trato espinal trigeminal, os estímulos da pele têm origem nos V, VII e X pares de nervos cranianos e também nas raízes nervosas de C 2 e C 3 que convergem para o subnúcleo espinal do núcleo trigeminal descendente; a própria mandíbula recebe ramos nervosos das raízes de C 2 e C 3. Toda alteração funcional provoca uma alteração em cadeia nos segmentos subjacentes, ou seja, em todo o complexo articular e mus- cular do corpo. Cada vez que um músculo se encurta,ele aproxima suas extremidades e, conseqüentemente, os ossos nos quais está inse- rido, desorganizando outros músculos que tenham origem ou inserção nos mesmos ossos e assim sucessivamente. Uma alteração na coluna lombar, portanto, influencia direta ou indiretamente nos segmentos superiores, chegando a comprometer a postura da cabeça e do pesco- ço e, em conseqüência, a oclusão e a ATM. Se essa situação se manti- ver, ela poderá ser integrada ao esquema corporal, passando a ser percebida como uma situação normal pelo indivíduo. A busca por uma postura ideal depende de hábitos funcionais e posturais adequados, que são parte de um modelo ideal que deve ser buscado a todo instante, ou seja, trata-se da busca por uma harmo- nia que leve a um estado funcional constante (figura 3.5). RELAÇÃO DA POSTURA CERVICAL COM A MANDÍBULA 41 CLASSE II — caracterizada por um recuo da mandíbula, com perda da relação chave de molar. É subdividida em classe II divisão 1, em que os incisivos centrais mostram-se anteriorizados em relação aos late- rais, classe II e divisão 2, com os incisivos laterais anteriorizados em relação aos centrais. ► CLASSE III — caracterizada por uma anteriorização mandibular em que também há perda da relação chave de molar, com o primeiro molar inferior localizado à frente do superior. As classificações oclusais demonstram que as posições da cabeça, do pescoço e dos ombros se alteram com uma má postura mandibular: na classe II a cabeça, o pescoço e os ombros assumem uma postura mais anteriorizada (figura 3.6, situação 2) e na classe III, mais posterioriza- da, para compensar a mandíbula anteriorizada (figura 3.6, situação 3). Todas essas alterações são mais facilmente compreensíveis quando baseadas nas posturas mandibular e corporal mais funcionais ou seja, quando se observa a classe I (normoclusão), segundo Angle, em que há um equilíbrio muscular, postural e oclusal dos seguimentos envol- vidos (figura 3.6, situação 1). As inúmeras relações entre postura e oclusão devem ser com- preendidas por toda a equipe interdisciplinar; os que desconhecem essas relações encontram problemas maiores e aparentemente inso- lucionáveis. É inútil querer corrigir a oclusão de um paciente com qualquer alteração postural ou trauma significativo na cervical, pois a função muscular estará alterada, causando todo desequilíbrio fun- cional citado com excessão da classe I que apresenta uma boa postu- ra corporal. Disfunção Temporomandibular Daniela Ap. Biasotto-Gonzalez Nos últimos anos a disfunção temporomandibular (DTM) passou a ser um conceito muito conhecido e discu- tido, principalmente na fisioterapia. Atualmente não é raro encontrar trabalhos tratando da fisioterapia da arti- culação temporomandibular (ATM) de maneira mais global e completa. A DTM, em geral, afeta várias estruturas de tecidos, ocasionando uma série de sintomas. Raramente o distúr- bio de apenas uma estrutura é capaz de explicar todos os sintomas. Embora aplique-se freqüentemente a classifica- ção de disfunção artrogênica e miogênica, o músculo é o órgão refletor que responde aos sinais provenientes das articulações (reação artrocinética) e do sistema nervoso central. Com a ajuda da EMG pode-se distinguir as afec- ções primárias dos músculos mastigatórios, estabelecen- do assim a distinção entre função muscular normal. Não é raro encontrar indivíduos com algum tipo de alteração na ATM, pois uma grande porcentagem da população apresenta problemas posturais significativos, acompanhados pela DTM. Esse dado pode ser observado em diversas pesquisas que mostram alta freqüência de alterações no sistema estomatognático nas populações estudadas. 43 ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR DAS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES DEFINIÇÃO DE DTM Os primeiros estudos sobre as disfunções temporomandibulares foram impulsionados por James B. Costen, um otorrinolaringologista que, em 1934, relatou uma série de sintomas como alterações oclu- sais, dor, desconforto, ruídos, vertigens, sinais auditivos alterados, zumbidos e tinidos que ficaram conhecidos por Síndrome de Costen. Embora seu modelo teórico não tenha sido explicado cientificamente, os sinais e os sintomas descritos por Costen são freqüentemente obser- vados e parecem enquadrar-se mais adequadamente nas várias altera- ções das estruturas temporomandibulares. Até a década de 1980, as disfunções temporomandibulares eram definidas como o conjunto de sinais e sintomas manifestados em de- corrência de alterações no sistema estomatognático, cuja etiologia envolvia tensão emocional, interferências oclusais, perda de dentes ou má posição dentária, alterações funcionais das musculaturas mastiga- tória e adjacente, alterações extrínsecas e intrísecas dos componentes estruturais da articulação temporomandibular e a combinação desses fatores. Além disso, vários termos têm sido empregados para definir os quadros clínicos observados em pacientes, como síndrome da dor miofascial, síndrome da disfunção dolorosa da articulação temporo- mandibular, disfunção crânio-cérvico-mandibular, disfunção tem- poromandibular, tornando a sua denominação mais um dos aspectos que dificultam sua identificação. Estudos epidemiológicos revelam que a maior parte dos sintomas é relatada pela população de 20 a 40 anos. Saber as causas da DTM pode ser muito complexo, já que raramente os distúrbios relacionam- se com um único sintoma. ETIOLOGIA MULTIFATORIAL A DTM pode ser caracterizada por diversos sinais e sintomas, como dor, sons articulares, cefaléias, zumbidos e compressões, entre outros. Sua etilogia é tão variada quanto sua sintomatologia, pois inúmeros fatores podem afetar o equilíbrio dinâmico das estruturas desse com- plexo. Sendo a ATM e todo sistema estomatognático afetados por uma ampla variedade de causas, apresentando infinitas conseqüências, pode-se dizer que a etiologia da DTM é multifatorial (figura 4.1). Os si- nais e sintomas, em geral, são comuns, o que acaba dificultando o diagnóstico diferencial do paciente analisado individualmente. Figura 4.1 Origem muftifatorial das disfunções temporomandibulares. EPIDEMIOLOGIA DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR Atualmente os estudos clínicos apresentam uma base mais sólida, mas ainda muito discutida e controvertida, pois não há um consenso sobre quais são os sinais clínicos relevantes e quais deles são consis- tentes. Existem sinais e sintomas clínicos considerados importantes (dor, ruído articular, má postura cervical), mas que não são sempre confiáveis, pois dependem do estado psicofuncional do paciente, ou seja, se este for avaliado podem ser encontrados novos dados. Portan- to, o conhecimento e a prática clínica devem ser sempre associados. s lo Is. as ia Es, ;i- o , ^ ............. Os distúrbios temporomandibulares afetam grande parte da po- pulação, que apresenta pelo menos um de seus sinais ou sintomas. Os ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR DAS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES mais comuns são sensibilidade à palpação dos músculos mastigatórios e ruídos. A DTM ocorre em todas as faixas etárias, mas principalmente entre 20 e 45 anos. Entre 15 e 40 anos, a causa mais freqüente é a miogê- nica (origem muscular) e a partir dos 40 anos, a artrogênica (origem articular degenerativa). A incidência é maior em mulheres, em uma proporção estimada de 5:1 em relação aos homens. Apenas 10% da população acometida busca ajuda terapêutica. SINTOMATOLOGIA Fatores objetivos e subjetivos contribuem com o processo diagnós- tico. A sintomatologia subjetiva refere-se ao relato do paciente, por exemplo, a dor; a objetiva refere-se aos achados clínicos, que, soma- dos ao relato do paciente, contribuem para o diagnóstico. Porém é importante ressaltar que a dor é a sintomatologiamais prevalente. A dor é sempre uma percepção subjetiva que resulta da combina- ção de diferentes fatores e raramente sua intensidade corresponde à severidade da patologia clínica. Há autores que consideram a queixa dolorosa variável conforme o sexo, a ocupação, a cultura, os grupos étnicos, o humor e a motivação. Assim, a escolha por uma medida de avaliação da dor deve con- templar os diferentes aspectos de formulação da queixa, a fim de refle- tir o conceito adotado, deve ser altamente válida e confiável, deve permitir a comparação entre a magnitude de mudança do quadro doloroso, ser relativamente livre de elementos influenciadores ou ten- denciosos, ser útil para avaliação de dores produzidas experimental- mente ou observadas na prática clínica, deve permitir comparação entre medidas fisiológicas obtidas em animais e humanos, e ser relati- vamente fácil de ser aplicada. É importante ressaltar que a completa avaliação da dor requer indispensavelmente a colaboração do sujeito e as anotações de respostas verbais ou motoras que reflitam sua expe- riência com a dor (ver neste capítulo o Questionário de Dor de McGill). TIPOS DE DTM Cada estrutura do sistema estomatognático apresenta um grau de tolerância às forças exercidas sobre ela. Quando essas forças excedem um nível suportável, os tecidos e as estruturas colapsam. Um nível anterior a este pode ser chamado de tolerância estrutural. DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR 47 Se qualquer estrutura sofrer uma força superior à sua capacida- de, com certeza ocorrerá um colapso e as conseqüências aparecerão em forma de dor, desequilíbrios, desarranjos, ruídos etc. A tolerância estrutural é influenciada diretamente pela forma anatômica, por traumas prévios e pela formação tecidual. Como esse estudo visa analisar os efeitos do tratamento fisiote- rápico em pacientes com sinais e/ou sintomas de DTM (especificamen- te disfunção muscular) decorrentes de parafunção (apertamento e/ou frendor), é importante entender as características da muscula- tura mastigatória. As atividades da musculatura mastigatória podem ser divididas em dois tipos: FUNCIONAL: influenciada por estímulos periféricos (inibitórios), ou seja, pelos músculos, o que permite ao sistema mastigatório desem- penhar as funções necessárias com um dano mínimo para qualquer estrutura. Exemplos: mastigar, falar e deglutir. PARAFUNCIONAL (não funcional): predominantemente influenciada por estímulos do sistema nervoso central. Exemplos: apertar e ranger os dentes (bruxismo) e outros hábitos orais. Quando a hiperatividade muscular, por exemplo, provocar al- guma alteração na mecânica mastigatória, as estruturas mais fracas mostrarão sinais de colapso. Essas estruturas afetadas podem ser os próprios músculos, a articulação temporomandibular, os dentes e suas estruturas de suporte. Se forem os músculos, o indivíduo poderá apre- sentar assimetrias musculares, desvios nos movimentos mandibulares e articulares, descompasso côndilo/disco e limitações nos movimen- tos, com ou sem dor, todos podendo ser observados durante a avalia- ção prévia. Os artigos de revisão dos achados etiológicos mostram que o fator mais comum da DTM miogênica é a hiperatividade muscular, que pode contribuir para desarranjos intra-articulares (internos da ATM). Esse fator pode ser gerado por maloclusão, alterações posturais, alte- rações emocionais, e também por traumas, doenças sistêmicas e de- sordens de crescimento. As parafunções, ou funções inadequadas, como os hábitos de ran- ger ou apertar os dentes, roer unhas, chupar dedos, morder boche- chas, mascar chicletes e fumar, geralmente são consideradas co-fatores importantes na etiologia da DTM. Essas parafunções causam dor mus- cular e/ou articular, degeneração articular, descompasso côndilo/disco, ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR DAS DISFUNÇOES TEMPOROMANDIBULARES cefaléias, hipertrofia muscular, lesão periodontal e abrasão dental, en- tre outros. As atividades parafuncionais podem ser divididas entre as que ocorrem durante o dia (diurnas) e as que ocorrem à noite (noturnas). As diurnas consistem em apertar ou ranger os dentes, morder a lín- gua ou a bochecha, chupar dedos, ter hábitos posturais errados ou relacionados com o trabalho, como morder canetas, alfinetes ou unhas, ou segurar objetos debaixo do queixo, como telefone ou violino. As noturnas, que ocorrem durante o sono, compõem-se em geral de epi- sódios únicos (relacionados com o apertar) e de contrações rítmicas (conhecidas como bruxismo). O bruxismo é o ato de ranger ou apertar os dentes de forma sub- consciente ou parafuncional; ocorre com mais freqüência durante o sono, mas pode ocorrer também durante o dia. Nessa disfunção, for- ças são aplicadas contra os dentes quando a mandíbula se movimenta de um lado para o outro; esse movimento produz forças horizontais, que não são bem aceitas e aumentam a probabilidade de danos aos dentes ou às estruturas de suporte. A atividade muscular isotônica durante o bruxismo ou qualquer outra atividade parafuncional resulta em contração muscular manti- da por longos períodos e inibe o fluxo sangüíneo normal dos tecidos musculares. Como resultado há um acúmulo maior de metabólitos nas células dos tecidos musculares, levando a sintomas como fadiga, dor e espasmo. Durante as atividades parafuncionais, os mecanismos de proteção neuromusculares parecem de alguma forma ser menos intensos, re- sultando em menor influência nas atividades musculares, o que per- mite um aumento da atividade parafuncional; eventualmente essa atividade alcança um nível suficiente para causar o colapso das estru- turas envolvidas. Quando um ligamento é estirado, o reflexo nociceptivo é ativado, causando uma parada dos músculos que agem na articulação envol- vida (na boca, é o ligamento periodontal). Quando há um forte con- tato dentário, o ligamento periodontal é sobrecarregado, causando um reflexo nociceptivo para os músculos que agem na articulação (os músculos elevadores — temporal, masseter e pterigóideo medial). O estresse emocional parece aumentar o bruxismo, mas não é sua única causa. Certas medicações podem gerar bruxismo e alguns estu- dos sugerem que há uma predisposição genética para sua ocorrência ou mesmo uma relação com distúrbios do SNC. Portanto, pode-se relacionar o bruxismo noturno não apenas com o contato entre os dentes, mas também associá-lo às mudanças nos 48 DISFUNÇAO TEMPOROMANDIBULAR 49 estágios do sono e do nível de estresse emocional (atividade do sNc). É indispensável compreender essas diferenças para se estabelecer um diagnóstico e desenvolver um plano de tratamento para o paciente. Uma condição boa e estável é fundamental para uma função mus- cular saudável durante a mastigação, a deglutição, a fala e a postura mandibular. A hiperatividade muscular não está apenas relacionada com o bruxismo e com o apertamento dos dentes, mas também a qual- quer aumento da tonicidade muscular relacionado com hábitos, pos- tura ou aumento do estresse emocional. Recentemente foi encontrada uma relação linear entre a força isométrica da mordida e a atividade elétrica dos músculos temporal e masseter durante a contração unilateral. Assim, o estado de ativi- dade elétrica pode ser correlacionado à força da mordida durante a contração bilateral. O músculo temporal, se comparado com o mús- culo masseter, demonstra ter um efeito maior sobre a disfunção tem- poromandibular. Além disso, a disfunção temporomandibular está relacionada com o mau posicionamento da mandíbula. A função de reposicionamento da porção anterior do temporal explica a ação desse músculo na disfunção, porque a principal função do aperta- mento é a de tônico postural. A discrepância intermuscular entre o masseter e o temporal, portanto, pode refletir em disfunções tem- poromandibulares.Estudos eletromiográficos estão sendo realizados para indicar a ati- vidade muscular e permitir a análise da disfunção temporomandibular, oferecendo uma perspectiva promissora para um possível parâmetro de diagnóstico. A análise de parâmetros pode focalizar a combinação entre fadiga e dor, e investigar as mudanças na EMG para analisar a con- tração dos músculos. Assim, estudos eletromiográficos de análise da contração muscu- lar durante o apertamento da mandíbula podem ser uma medida apropriada para o estudo da eletromiografia de superfície da hipera- tividade muscular induzida por esforços musculares. As alterações musculares decorrentes do apertamento e do bruxis- mo são projetadas diretamente nas musculaturas mastigatória e cervi- cal e podem ser avaliadas e observadas de acordo com as alterações na EMG, que estuda as alterações elétricas dos músculos (ver Capítulo 8). As alterações desse complexo articular ligadas às parafunções são importantes desencadeadoras e perpetuadoras dos desarranjos da ATM, principalmente do tipo miogênico, mas influenciam tam- bém no tipo artrogênico. Outros fatores de predisposição à DTM são a hipermobilidade articular e a instabilidade ou lassidão ligamentar da ATM. r r .s 1, o a 50 ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR DAS DISFUNÇOES TEMPOROMANDIBULARES Não é fácil avaliar a ATM por se tratar de uma articulação bilateral unida por um único osso, a mandíbula, sendo que seu pequeno ta- manho dificulta a movimentação quando há dor. Os pacientes com hipermobilidade, em geral, são mais suscetíveis a micro e macrotraumas e a comprometimentos intra-articulares no complexo côndilo/disco, além de instabilidade articular (ver teste de lassidão generalizada com indicativo de lassidão na ATM). Nas disfunções musculares podemos encontrar: • DOR MIOFASCIAL: é uma desordem muscular caracterizada por sen- sibilidade em pontos localizados no músculo esquelético, os pontos- gatilho, com apresentação de dor perto ou longe desses pontos. Pode ser detectada por palpação específica e por padrão consistente de dor. A dor miofascial também tem etiologia multifatorial. Alguns fatores responsáveis por seu desenvolvimento são hábitos parafuncionais, posturas inadequadas, estresse e trauma físico, entre outros. • MIALGIA: refere-se à dor muscular, mas na classificação de distúrbios temporomandibulares faz parte do diagnóstico. Pode ser leve, mode- rada ou severa, dependendo de sua localização. A palpação dos mús- culos comprometidos é dolorosa. At›- ESPASMO MUSCULAR: é uma desordem aguda de um músculo ou grupo de músculos. Caracteriza-se por contração súbita e involuntá- ria causando dor e limitação do movimento. Dependendo do com- prometimento muscular, poderá haver limitação na abertura da boca e/ou maloclusão aguda, expressa como modificação da mordida. P CONTRATURA: é um encurtamento clínico do comprimento de repouso de um músculo, sem interferência em sua habilidade de con- tração. A longo prazo a contratura causa restrição indolor do movi- mento mandibular; é uma das causas da hipomobilidade articular. • MIOSITE: é a inflamação muscular com causa local; pode ocorrer por trauma externo, esforço muscular exagerado ou infecção. Os sinais clínicos da inflamação são dor, calor, rubor e tumor. O,- DISTENSÃO: é um estiramento muscular com possibilidade de ruptu- ra de fibras. Apresenta regiões hipersensíveis, dor na inserção mus- cular, diminuição da função e dor durante o movimento mandibular e à palpação. IP TENDINITE: é uma lesão inflamatória dos tendões. Causa dor locali- zada, dificuldade de movimento e dor durante o movimento e a pal- pação. DISFUNÇA0 TEMPOROMANDIBULAR 51 13ELAS40ENTRE DISFUNÇÃO MUSCULAR E DOR 1 A disfunção e a dor muscular formam um grupo de distúrbios com múltiplos sinais e sua avaliação requer uma abordagem multissenso- rial incluindo distúrbios musculares, deslocamento de disco e doen- ças articulares. A mastigação prolongada ou exaustiva de alimentos duros e fibro- sos pode levar à fadiga muscular, causando dores e cansaço muscular. Esse tipo de dor pode estar relacionado com espasmos musculares ocorridos como reflexo protetor para limitar movimentos de uma arti- culação comprometida. O apertamento e/ou frendor (bruxismo) também pode provocar esse sintoma. A porção anterior dos músculos temporais e o masseter são os mais comprometidos. O apertamento e o bruxismo também desencadeiam problemas como pontos-gatilho, compressão da zona bilaminar e da fissura petrotimpânica, podendo levar a um processo inflamatório (sinovite e/ou capsulite) e outros aparentemente rela- cionados com a orelha. As dores podem aparecer em uma determinada região e sua causa localizar-se em outro local, por exemplo, uma dor nos seios parana- sais pode ter sua causa no músculo pterigóideo lateral (figura 4.2). Locais de dor podem apresentar sintomas à distância (ou zona referi- da) e em alguns casos, quando estimulado o ponto-gatilho, é possível perceber o local da dor. Os pontos-gatilho, ou desencadeantes, são palpáveis, sensíveis e apresentam porções endurecidas do músculo e da fáscia. Uma pres- são sustentada pode induzir dor nesses pontos. Na figura 4.3 pode-se observar pontos-gatilho em todo o masseter e no trapézio. Os pontos no masseter referem-se às regiões dos mola- res superiores e inferiores e aos músculos cervicais superiores, poden- do gerar dor na ATM e na orelha. Os pontos-gatilho do músculo trapézio irradiam-se para os músculos da base occipital e temporal, seguindo um trajeto conhecido popularmente como cabo de guarda-chuva. A figura 4.4 apresenta pontos-gatilho espalhados nos músculos temporal e esternocleidomastóideo. Os pontos nos temporais são irradiados a curta distância no próprio músculo temporal. Quando há pontos-gatilho o músculo esternocleidomastóideo, por sua vez, apre- senta-se como um cordão e irradia tensão e dor para as regiões da ATM, dos seios maxilares, dos molares e para a região supraciliar, po- dendo levar à cefaléia tensional. A etiologia das síndromes de dor muscular crônica, incluindo DTM, fibromialgia e dor miofascial, tem sido considerada um ciclo vicioso Cabeça superior do músculo pterigóideo lateral Cabeça inferior do músculo pterigóideo lateral Músculo pterigóideo medial 52 ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR DAS DISFUNÇOES TEMPOROMANDIBULARES Figura 4.2 Pontos desencadeantes de dor nos músculos pterigóideo medial e laterais. do estresse, levando à hiperatividade muscular e, como conseqüên- cia, à cefaléia. Vários achados eletromiográficos detectaram uma relação entre hiperatividade muscular e cefaléia do tipo tensional e/ou disfunção muscular, o que melhorou ainda mais os critérios de diagnóstico dife- rencial por meio da EMG. No entanto para o estudo e para a avaliação de condições dolorosas, o questionário de dor de McGill (McGill Pain Questionnaire — MPQ) é, até agora, o método multidimensional conhecido e válido mais vasta- mente empregado para as mais variadas condições patalógicas. Consis- te em vinte séries de descritores verbais qualitativos e quantitativos designados para medir as dimensões sensorial, afetiva, subjetiva e mista da dor. Além disso, com a avaliação multidimensional podemos obter DISFUNÇAO TEMPOROMANDIBULAR Músculo masseter Músculo masseter e Músculo trapézio o Figura 4.3 Pontos desencadeantes de dor (pontos-gatilho) nos músculos masseter e trapézio. Is a Músculo temporal médio Músculo temporal anterior Músculo temporal posterior Músculo esternoclei- domastóideo ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR DAS DISFUNÇOES TEMPOROMANDIBULARES 54 Figura 4.4 Pontos desencadeantes de dor (pontos-gatilho) nos músculos temporal eesternocleidomastóideo. dados sobre a localização da dor no mapeamento em diagramas do corpo humano e sobre a intensidade da dor por meio de uma escala âncora com número-palavras. O questionário possui ainda um conjun- to de informações sobre o impacto da dor na qualidade de vida envol- vendo os aspectos do relacionamento social, tipo e quantidade de medição utilizada para o eventual controle da dor. Como no MPQ a avaliação qualitativa da dor é feita por meio de um conjunto de palavras denominadas descritores, o uso de uma tradução literal da versão original para qualquer outra língua-alvo traria problemas de adaptação causados pela constituição histórica e social própria da língua. A seguir a representação do quadro de apresentação das vinte séries de descritores verbais qualitativos e quantitativos designados a medir as dimensões sensorial (S), afetiva (A), subjetiva (Aval) e mista (M) de experiência dolorosa, extraído da versão brasileira do ques- tionário McGill proposta por Castro (1999). 1. S. Temporal 2. S. Espacial 3. S. Pressão-ponto 4. S. Incisão - que vai-e-vem - que pulsa - latejante - em pancadas - que salta aqui e ali - que se espalha em círculos - que se irradia - que pica como uma agulhada - como uma fisgada - como pontada de faca - que perfura como urna broca - que corta como navalha - que dilacera a carne 5. S. Compressão 6. S. Tração 7. S. Calor 8. S. Vivacidade -: como um beliscão - em pressão - como uma mordida - em cãibra/cólica - que esmaga - que repuxa - que arranca - que parte ao meio - que esquenta - que queima como água quente - que queima como fogo - que coça - em formigamento - ardida - como uma ferroada 9. S. Surdez 10. S. Geral I I. S. Cansaço 12. A. Autonômica - amortecida - adormecida - sensível - dolorida - como um machucado - pesada - que cansa - que enfraquece - fatigante - que consome - de suar frio - que dá ânsia de vômito 13. A. Medo 14. A. Punição 15. A. Desprazer 16. Aval. Subjetiva - assustador - horrível - tenebroso - castigante - torturante - de matar - chato - que perturba - que dá nervoso - irritante - de chorar - leve - incômoda - miserável - angustiante - insuportável 17. M. Dor/Movimento 18. M. Sensoriais 19. M. de Frio 20. M. Emocionais - que prende - que imobiliza - que paralisa - que cresce e diminui - que espeta como uma lança - que rasga a pele - fria - gelada - que congela - que dá falta de ar - que deixa tenso(a) - cruel DISFUNÇAO TEMPOROMANDIBULAR 55 ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR DAS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES A fim de obter uma versão brasileira do MPQ que fosse desejável e não exatamente idêntica à versão original, Castro em 1999 realizou a tradução da versão original do MPQ para língua portuguesa do Brasil como descrito abaixo: A versão brasileira do questionário McGill (Br-MPQ), do mesmo modo que o MPQ original, destina-se a avaliar qualitativa e quantitativamente o relato de experiências de dor. A versão brasileira do questionário utili- zada neste trabalho é a de Castro (1999), que foi construída nesta língua por meio de um processo que combinou recurso da tradução transporte (literal) e da tradução recriação (reconstruir na língua-alvo a idéia con- tida na língua-fonte, sem se preocupar com a literalidade da tradução). A tradução do MPQ e, portanto, sua reconstrução foi feita em cinco eta- pas. Na primeira etapa, quatro lingüistas, todos fluentes e com vivência nas línguas-fonte e alvo, traduziram o MPQ, buscando dar a cada palavra todas as possíveis traduções, sentidos e formas de seu uso na língua inglesa. Desse procedimento resultou a possibilidade de caracterizar o sentido exato de cada uma das subclasses de palavras. Numa segunda etapa, foram recolhidas entre profissionais da área de saúde, leigos, pacientes com dor presente e por meio de consultas aos arquivos do Ser- viço de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos, palavras e expressões usadas para qualificar as dores em língua portuguesa do Bra- sil. Nesse levantamento, destacaram-se mais uma centena de palavras e expressões usadas para caracterizar a dor em situação clínica. A terceira etapa buscou construir uma escala âncora número-palavra, que servisse para mensurar a Intensidade da Dor Presente (ppi — The Present Pain Intensity). Dentre as palavras levantadas e aquelas traduzidas, foram escolhidas as palavras "fraca, moderada, forte, violenta e insuportável" para compor o PPI. Submetidas a julgamento escalar, feito por noventa acadêmicos de fisioterapia, todos, sem exceção, construíram uma escala crescente de dor exatamente na mesma ordem citada acima. Numa quarta etapa, as palavras levantadas e traduzidas foram selecionadas e alojadas dentro das subclasses originais do MPQ. Duas categorias novas substituíram categorias mistas do questionário original. Por fim, na quin- ta etapa, essas palavras, já alojadas em subclasses, foram submetidas a julgamento escalar realizado por profissionais da área da saúde, leigos, pacientes com dor presente. Foram mantidas as palavras que ficaram na mesma posição escalar nos três grupos consultados. Algumas palavras que não conseguiram acordo quanto a sua posição escalar, mas que fo- ram consideradas importantes para caracterizar determinados aspectos qualitativos da dor, vieram a conformar uma dimensão mista adicional. Após os procedimentos de tradução, o questionário apresenta-se com 67 DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR palavras ou expressões organizadas em três dimensões principais, mais uma mista, e em vinte subclasses [...]. Cada subclasse é composta por duas a cinco palavras (descritores) escalonadas em intensidade, que per- mitem uma avaliação qualitativa e quantitativa, por intermédio da aná- lise do Número de Palavras Escolhidas (Nwc — The Number of Words Chosen) e do Índice de Dor em Escala (PRI — Pain Rating Index), nos mesmos moldes do MPQ original. Garantiu-se, nesta versão brasileira, um espaço para a expressão da queixa espontânea, antes dos sujeitos faze- rem uso das palavras previstas no questionário. O Br-MPQ consta ainda de uma escala âncora-número de cinco pontos para avaliação da inten- sidade da dor presente (ppi). É importante ressaltar que este questionário pode e deve ser usado tanto na prática clínica corno também na prática científica. CEFALÉIA A cefaléia atinge muitas pessoas e poucos casos são solucionados. Há uma estreita relação entre DTM e cefaléia, que na maioria das vezes ocorrem concomitantemente, pois a DTM desencadeia a cefaléia, ou seja, os músculos da mastigação ficam tensionados em razão das ati- vidades parafuncionais de apertamento e/ou frendor. CEFALÉIA LOCALIZADA A cefaléia localizada é caracterizada por dores unilaterais ou bem delimitadas nas regiões frontal, temporal e orbital que se mantêm constantes. CEFALÉIA TENSIONAL A cefaléia tensional está relacionada com a tensão muscular, o estresse emocional e a alteração postural. Sua intensidade varia de leve a moderada, mas não piora com a atividade, em uma freqüência constante e de modo latejante. CEFALÉIA ASSOCIADA À MÁ POSTURA Os distúrbios cervicais estão intimamente associados às cefaléias. As causas podem ter origem espasmódica, traumática, em uma lesão 3 a a O a e t- e a e n n .a la ta e 35 a .5, ia as D- OS 31. 57 58 ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR DAS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES vertebral ou em alterações funcionais, incluindo doenças degenerati- vas do disco articular e "lesão em chicote". O diagnóstico inclui dor localizada na região da cabeça e do pes- coço, podendo irradiar-se para as regiões frontal, orbital, temporale occiptal. A dor é agravada com movimentos e com má postura, ocor- rendo limitações nos movimentos ativo e passivo. O exame radiológico é um importante recurso para diagnosticar alterações cervicais nesse tipo de cefaléia. ENXAQUECA Muitos quadros de cefaléia são confundidos com enxaqueca. Na verdade, a cefaléia é um dos sintomas da enxaqueca, que é caracte- rizada como a combinação de alguns sinais e sintomas, como naúsea, fotofobia, cefaléia, sintomas neurológicos de aura, escotomas visuais, hemianestesia, afasia, visões de luzes brilhantes e maior sensibilidade a luz e a ruídos. Em 25% dos casos há alterações do sistema autônomo, acompanha- das de náusea, vômito, diurese e prostração por 12 a 72 horas. Há tam- bém várias subformas de enxaqueca, mas seria inviável descrever todas. ALTERAÇÕES PSICOLÓGICAS As alterações psicológicas incluem ansiedade, distúrbios afetivos, desordens psicossomáticas e mudanças na personalidade. Achados clínicos demonstram que o perfil psicológico do paciente com DTM é característico e segue um padrão. Entre as tensões musculares associadas à dor, o estresse emocio- nal é um dos principais coadjuvantes. DESORDENS ARTICULARES Não há evidências comprovando que a disfunção do disco articu- lar é um reflexo direto da cabeça superior do músculo pterigóideo lateral ou de suas inserções no próprio disco, nem mesmo que os des- locamentos anteriores do disco, com ou sem redução, sejam causados por um distúrbio neuromuscular. O termo com redução refere-se ao retorno do disco para a região mais central da articulação, ou seja, o disco realiza um movimento 111P1111•1111111111,.. Cabeça da mandíbula (( ,; Cabeça da I ,, mandíbula 1 Disco Disco Disco A B C • ., \ .N ,_ Cabeça da mandíbula r s, )s é DISFUNÇAO TEMPOROMANDIBULAR 59 contrário ao movimento condilar funcional. Já o termo sem redução refere-se à anteriorização do disco em relação à cabeça da mandíbu- la, sem o retorno para a suposta posição normal. A causa desse comprometimento, ou seja, a redução discal, ainda não foi bem estudada, mas parece não estar relacionada com idade, sexo, perda dentária ou uso de prótese. Com o passar do tempo, caso a articulação mostre-se comprome- tida, o disco poderá sofrer supostas degenerações, comprometendo ainda mais a biomecânica articular. Embora seja possível criar hipóteses sobre as causas dessas desar- monias internas no processo condilar-disco, a princípio é possível rea- lizar o diagnóstico clínico, sem o auxílio de exames complementares. Urna avaliação precisa das condições musculoesqueléticas, posturais e funcionais pode levar a um diagnóstico dessas desarmonias. DESLOCAMENTO DO DISCO COM REDUÇÃO É urna disfunção caracterizada por relacionamento anormal entre cabeça da mandíbula, disco e tubérculo articular. O deslocamento do disco pode ser anterior, ântero-medial, medial e, raramente, poste- rior. Caracteriza-se pela vibração produzida pela redução ou pelo movimento do disco articular durante a excursão mandibular. Nos pacientes, observa-se desvio da mandíbula para o lado ipsilateral, até que ocorra a redução discal e, em conseqüência, um realinhamento mandibular (figura 4.5). a i, 3, e )- 1- 'O S- M lo Figura 4.5 Deslocamento anterior do disco com redução. to Disco Disco Disco Cabeça da mandíbula Cabeça da mandíbula Cabeça da mandíbula C Figura 4.6 Deslocamento anterior do disco sem redução. 60 ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR DAS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES A avaliação inicia-se quando solicita-se ao paciente que abaixe e eleve a mandíbula, com os indicadores do terapeuta colocados sobre a cabeça da mandíbula em ambos os lados. Caso um lado apresente deslocamento significativamente maior que o outro, a mandíbula desse paciente desenvolverá movimento com desvios laterais duran- te o abaixamento, realinhando-se no final. Essa situação é definida clinicamente como desvio mandibular. DESLOCAMENTO DO DISCO SEM REDUCAO As características do disco articular deslocado sem redução são limitação da abertura bucal, desvio acentuado para o lado ipsilateral na tentativa de abertura, restrição do movimento protrusivo, movi- mento laterotrusivo normal,,dor articular e dor muscular. Os pacien- tes ainda descrevem vibrações na ATM afetada até que trave. Partindo do mesmo princípio, a avaliação inicia-se quando solici- ta-se ao paciente que abaixe e eleve a mandíbula, com os indicadores do terapeuta colocados sobre a cabeça da mandíbula em ambos os lados. Assim, caso um lado apresente deslocamento um pouco maior que o outro, a mandíbula do paciente também apresentará menor amplitude de movimento, além disso, durante o abaixamento, a man- díbula realizará um desvio lateral sem realinhamento final. Essa situa- ção é definida clinicamente como deflexão mandibular (figura 4.6). Portanto, no primeiro caso diagnostica-se clinicamente um deslo- camento anterior do disco, com redução, podendo ou não apresentar um dique articular na abertura. No segundo caso ocorre um deslocamen- DISFUNÇAO TEMPOROMANDWULAR 61 to anterior do disco, sem redução, nesse caso raramente verifica-se um dique articular. Na avaliação clínica verifica-se a presença ou não de redução dis- cal, pois o deslocamento anterior está presente quando a mandíbula encontra-se em posição postural de repouso. Toda sobrecarga direta sobre a ATM pode danificar as estruturas ou alterar a mecânica e o relacionamento normal entre cabeça da mandí- bula, disco e tubérculo articular, provocando dor e/ou lesão. Desordens articulares manifestam-se clinicamente como movimentos mandibula- res (desvios, restrições), promovendo desvios da linha mediana e/ou aparecimento de ruídos (vibrações). LUXACAO ARTICULAR Quando ocorre translação da cabeça da mandíbula depois de se ultrapassar o limite de abertura, o tubérculo articular não volta à posi- ção normal, travando-se a mandíbula aberta. Nos casos em que a mandíbula retorna à posição de repouso sem ajuda ocorre a subluxa- ção. Há indícios de que a subluxação e a luxação relacionam-se com o afrouxamento de ligamentos. ESTALIDOS ARTICULARES Os sintomas mais freqüentes nos casos de DTM são estalidos e/ou ruídos crepitantes em uma ou em ambas as articulações temporo- mandibulares. O estalido ocorre freqüentemente durante os movimentos de abaixamento, elevação, lateralidade e protrusão mandibular, assim como na mastigação de alimentos mascáveis. Geralmente são audíveis pelo paciente e pouco audíveis pelo tera- peuta, sendo necessário um estetoscópio em algumas situações. Como a maioria das desarmonias internas, o estalido não apre- senta uma causa bem definida e é considerado um "descompasso processo condilar-disco" contra a superfície articular do osso tem- poral. A crepitação sugere alterações estruturais da própria articulação, como perfurações do disco ou má posição da cabeça da mandíbula. A crepitação também pode ser indício de remodelagem ativa da articu- lação e também há incidência de estalidos na presença de desarmo- nias oclusais. 62 ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR DAS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES Estudos recentes apontam o deslocamento anterior do disco como uma das explicações mais prováveis dos estalidos recíprocos ocorridos no início do movimento de abertura da boca. O fechamento da boca provoca um estalido semelhante. Os estalidos também são freqüentes durante os movimentos de laterotrusão e protrusão, quando se fala em deslocamento anterior do disco com reposição consecutiva. O disco articular encontra-se deslo- cado durante a posição inicial (máxima intercuspidação). Quando o grau de abertura da boca é pequeno, a relação entre disco articular e cabeça da mandíbula
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