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Direito Penal III – Revisão de Conteúdos CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS Crimes contra o sentimento religioso Ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo (art. 208 do CP) Tipo penal O crime de ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo está descrito no art. 208: “Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso. Pena – detenção, de 01 (um) mês a 01 (um) ano, ou multa.” Objeto jurídico O sentimento religioso e a liberdade de culto. Sujeitos Sujeito ativo: é qualquer pessoa. Sujeito passivo: na primeira modalidade, sujeito passivo é passivo é pessoa determinada, e nas demais, a coletividade (crime vago, atingido a coletividade, não uma pessoa específica). Tipo objetivo no ultraje a culto Ultraje por motivo de religião: escarnecer, ridicularizar. Exige-se o conhecimento por várias pessoas, admitindo-se por meio de cartaz, não sendo necessária a presença da vítima. Vincula-se à crença (fé religiosa) ou à função, como o ministério exercido pelo padre ou pelo pastor. Tipo subjetivo no ultraje a culto O dolo consiste na vontade de escarnecer (zombar) pelo motivo de crença ou função religiosa. Consumação no ultraje a culto Consuma-se o delito com o escárnio, que observa crime contra a honra. Admite-se a tentativa, como a feita por cartaz. Impedimento ou perturbação de cerimônia ou culto Tipo objetivo: “impedir”: impossibilitar ou “perturbar”: atrapalhar a cerimônia (com solenidade como a missa) e culto (sem formalidades, como orações, novenas). É exemplo fornecido na jurisprudência, a pessoa alcoolizada que profere palavrões na missa (RT 491/293), ou a pessoa que efetuou disparos diante da capela, enquanto o sacerdote proferia sermão da missa (RT 419/293). Tipo subjetivo: dolo, vontade de impedir ou tumultuar a cerimônia ou culto, sem acréscimo de um elemento subjetivo do tipo. Consuma-se o crime com o impedimento ou a perturbação do culto, admitindo-se a tentativa. Vilipêndio (ato de desprezo) de ato ou objeto de culto Tipo objetivo: “vilipendiar”: desprezar, tratar de modo ultrajante, abrangendo as palavras, gestos, escritos etc. incide sobre o ato religioso, que engloba tanto a cerimônia como o culto, bem como sobre os objetos, tais como as imagens, os crucifixos etc. “Publicamente”: várias pessoas. Exemplo desse tipo de crime é de pastor que, em programa de televisão, decide aviltar a imagem de santa de outra igreja, chutando-a. Elemento subjetivo: o dolo, consistente na vontade de vilipendiar. Consuma-se com o ultraje, admitindo-se a tentativa. No parágrafo único do art. 208, se há emprego de violência contra a pessoa ou coisa, a pena é aumentada (causa de aumento) em 1/3. Dos crimes contra respeito aos mortos Impedimento ou perturbação de cerimônia funerária (art. 209 do CP) Tipo penal O crime de impedimento ou perturbação de cerimônia funerária está descrito no art. 209: “Impedir ou perturbar enterro ou cerimônia funerária. Pena – detenção, de 01 (um) mês a 01 (um) ano, ou multa.” Objeto jurídico O sentimento de respeito aos mortos. Sujeitos Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa. Sujeito passivo: é a coletividade ou os próprios familiares ultrajados. Não é o cadáver, vez que a pessoa morta passa de titular de direitos para res (coisa). Tipo objetivo Impedir: impossibilitar ou “perturbar”: molestar o enterro, com o encaminhamento até a inumação (ao contrário de exumação, que significa retirar, aqui significa enterrar) e a cerimônia fúnebre, sendo o ato comumente denominado de velório. Desde que com a presença do dolo, pode-se praticar com a omissão, não fornecendo o esquife (caixão de transporte de cadáveres). Tipo subjetivo O dolo, consistente na vontade de impedir ou perturbar. Consumação Consuma-se o delito com o impedimento ou a perturbação, administrando-se a tentativa. Se há emprego de violência (contra pessoa ou coisa), ocorre aumento de 1/3, sem prejuízo do concurso (material) do crime de violência (exemplo: lesão ou dano). Violação de sepultura (art. 210 do CP) Tipo penal O crime de violação de sepultura está descrito no art. 210: “Violar ou profanar sepultura ou uma funerária. Pena – reclusão, de 01 (um) a 03 (três) anos, e multa.” Objeto jurídico O sentimento de respeito aos mortos. Sujeitos Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, inclusive o proprietário do jazigo. Sujeito passivo: a coletividade, abrangendo familiares e amigos. Tipo objetivo Violar: escavar, destruir ou “profanar” (ultrajar, aviltar, macular) a sepultura. É exemplo a destruição de ordenamentos como vasos. A sepultura é conceituada em sentido amplo, abrangendo tanto o túmulo como lápide e estátuas. Não obstante, de qualquer forma, deve estar com o cadáver. Urna funerária é o local onde efetivamente se guardam as cinzas e os ossos. Se ocorrer somente a subtração, sem a violação ou a profanação, o delito é de furto. Tipo subjetivo Na conduta de violar, basta essa vontade, contudo, na de profanar, há o elemento subjetivo do tipo ultrajar, tratar com desprezo. Consumação Consuma-se com qualquer ato de vandalismo ou profanação, admitindo-se a tentativa. Destruição, subtração ou ocultação de cadáver (art. 211 do CP) Tipo penal O crime de destruição, subtração ou ocultação de cadáver está descrito no art. 211: “Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele. Pena – reclusão, de 01(um) a 03 (três) anos, e multa.” Um dos verbos (ocultar) faz com que seja um tipo de alta incidência na prática, principalmente após o cometimento do delito de homicídio doloso (art. 121 do CP). Objeto jurídico O sentimento de respeito aos mortos. Sujeitos Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, inclusive qualquer dos familiares. Sujeito passivo: a coletividade, abrangendo familiares e amigos. Tipo objetivo 1. Destruir: reduz a detritos; 2. Subtrair: furtar (sem violência ou grave ameaça), retirando-o da família ou do vigia; 3. Ocultar: esconder. O objeto material é o cadáver (res), o qual ainda conserva aparência humana, não se constituindo objeto material as “cinzas” do defunto. Sobre o feto e o natimorto, Mirabete (Manual de direito penal, v. 2, p. 405) narra três posições: (1) cadáver é quem tem vida extrauterina; (2) a segunda corrente (RT 463/339) que admite como cadáver o natimorto expulso; (3) a ultima corrente é mais ampla e abrange também o feto de mais de seis meses (RT 526/328). Tipo subjetivo É o dolo (ou dolo genérico) de destruir, subtrair ou ocultar sem a necessidade de outro fim, como suprimir vestígio etc. Consumação Consuma-se o crime com a destruição que pode ser parcial, com a subtração ou a ocultação. A ocultação é crime permanente (RJTJSP 98/531). Como crime material, uma vez que existe um objeto material, o qual precisa ser destruído, subtraído ou ocultado, admite a tentativa, quando o agente inicia os atos de execução, mas não consuma o crime por circunstâncias alheias, como a chegada da Polícia. Pode ocorrer o concurso material com o delito de homicídio e de infanticídio. Vilipêndio a cadáver (art. 212 do CP) Tipo penal O crime de vilipêndio a cadáver está descrito no art. 212: “Vilipendiar cadáver ou suas cinzas. Pena – detenção, de 01 (um) a 03 (três) anos, e multa.” Objeto jurídico O sentimento e o respeito aos mortos. Sujeitos Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa (crime comum). Sujeito passivo: é a coletividade, representada pela família e amigos do falecido. Tipo objetivo Vilipendiar é ultrajar, tratar com desprezo. Protege-se o cadáver, objeto que contém feição humana, bem como as cinzas que são os restos da combustão ou cremação. São exemplos: a necrofilia, ou o ato de cuspir no cadáver ou retirar sua roupa. Sobrea necrofilia, já se entendeu praticado o delito na hipótese de emprego em atividade em necrotério de hospital pratica atos libidinosos com defuntos do sexo feminino no aguardo da preparação de se seus corpos (RT 594/347). O fato é tratado como exercício regular de direito (art. 2º da Lei nº 8.501/92) se houver uso autorizado de cadáver por faculdade de medicina. Tipo subjetivo O dolo consiste na vontade de aviltar o cadáver, incluindo o fim de desprezá-lo. No caso de necrofilia, o dolo estaria implícito acompanhado da vontade de atender a libido. Consumação Consuma-se o delito com a prática do ato ultrajante. A tentativa é possível se for por meio escrito, por exemplo, utilizando-se de um cartaz. Fonte: GRECO, Rogerio. Curso de Direito Penal – Parte Especial. Volume III. Professora Charlise Colet Gimenez
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