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Farmacologia do Sistema Respiratório Aula Teórica – Farmacologia II Paulo Henrique da Silva Barbosa Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Medicina Veterinária Asma A asma é uma doença inflamatória. Se não tratar, a inflamação vai se agravando. Normalmente a asma é disparada por um alérgeno. É necessário que haja uma sensibilização prévia. Quando o indivíduo dispara os sintomas da asma como bronco espasmo, aumento de muco, é porque já tem anticorpos contra aquele alérgeno, então ele já teve contato prévio. Como ocorre o processo de sensibilização? Primeira exposição. Célula apresentadora de antígeno apresenta o antígeno ao linfócito T CD4. Com essa apresentação, esse linfócito induz expansão clonal de linfócitos T (proliferação) por exemplo proliferação de Th2. Esse linfócito Th2 que teve sua produção aumentada começa a liberar citocinas (interleucina 4, 5, 13) e essas citocinas recrutam células inflamatórias pro tecido pulmonar como eosinófilos e mastócitos principalmente. Tem-se então uma concentração aumentada dessas células no tecido pulmonar. Essas citocinas também estimulam a diferenciação de linfócitos B em plasmócitos, induzindo a formação de IgE. Tem-se então muitos eosinófilos e mastócitos e na superfície dessas células tem receptores para IgE e como as citocinas estimulam a liberação de IgE, tem-se IgE ligando-se aos receptores na superfície de mastócitos e eosinófilos. IgE específico para aquele alérgeno. O anticorpo tem uma porção FC (responsável pela ligação do anticorpo no receptor da célula) e a porção Fab (responsável pela ligação do antígeno, no caso, o alérgeno). Nessa fase de sensibilização, deixou tudo preparado para uma próxima exposição. Quando o animal tiver um segundo contato com o alérgeno, esse alérgeno vai ligar na porção Fab e quando o alérgeno ligar no anticorpo, ativa-se a célula e a célula libera mediadores inflamatórios como histamina, prostaglandinas e leucotrienos (esses mediadores que vão produzir os sintomas da asma, como os broncoespasmos). Cada exposição ao alérgeno torna a resposta mais rápida e mais eficiente. Na fase de sensibilização, como não tem ativação da célula e liberação de mediadores, não há sintomas. Somente haverão os sintomas na segunda exposição, quando as células serão ativadas e liberarão os mediadores inflamatórios que vão induzir os sintomas da asma. Por que sempre a resposta de agressão ao trato respiratório sempre vem com bronco espasmo e não bronco dilatação, por exemplo? Broncoespasmo = broncoconstrição. Porque no pulmão só tem inervação colinérgica, não tem noradrenérgica, então a resposta reflexa é com liberação de acetilcolina e a acetilcolina faz broncoconstrição e aumento de muco, por isso a resposta sempre é essa. Tem receptor adrenérgico no pulmão? Tem, só não tem inervação. O alérgeno ou mediadores inflamatórios na luz traqueal, por exemplo, ativa receptores de fibra C e esse receptor quando ativado por alérgeno ou mediadores inflamatórios induz estimulação vagal pelo aferente vagal (parassimpático – colinérgico) que leva estimulação pro sistema nervoso central e volta uma reposta através do eferente vagal. O eferente faz liberação de acetil colina no musculo liso dos brônquios e bronquíolos, produzindo intensa ativação de receptor muscarínico M3, levando a broncoconstrição e produção de muco. Quem causa broncoespasmo diretamente é acetil colina mas quem induziu essa liberação foram os mediadores inflamatórios. Não é o mediador inflamatório que vai no músculo e causa broncoconstrição, e sim a acetil colina. Receptor adrenérgico no pulmão: O ligante do beta 2 no pulmão não vai ser noradrenalina porque não tem inervação noradrenérgica, será a adrenalina circulante. A adrenalina do sangue que pode ativar o beta 2. A adrenalina tem afinidade por beta 2 e a noradrenalina não. Fase Imediata ou Aguda da Asma Esse broncoespasmo é causado pela resposta vagal reflexa na fase imediata ou aguda da asma. Fase Posterior ou Tardia da Asma Depois vem a fase posterior ou tardia. É um agravamento da asma, o processo inflamatório vai ficando mais grave. As células além de liberarem mediadores inflamatórios agora também liberarão quimiocinas que também são mediadores inflamatórios e fazem quimiotaxia e chegam mais células inflamatórias no tecido, que vão se acumulando e agravando o quadro do paciente. Se tem mais células inflamatórias chegando, mais mediadores inflamatórios serão liberados e, portanto, mais grave será a inflamação das vias aéreas e os sintomas. Essas células inflamatórias também podem produzir proteínas tóxicas que vão lesar o epitélio respiratório e o receptor de fibra C fica mais exposto e, portanto, mais sensível. Então a indução da resposta reflexa vagal será muito mais fácil. [Importante!] Esse super exposição dos receptores de fibra C causam Hiper reatividade das vias aéras. Tratamento da Asma Existem dois grupos para o tratamento de asma. Tem os broncodilatadores para tratar os sintomas (broncoconstrição). E tem os antiinflamatórios para inibir a inflamação. Normalmente o paciente faz o uso dos dois cronicamente. Broncodilatadores Agonistas Beta2 – (Melhor que tem) Ativa os receptores beta 2 no pulmão. São seletivos, tem afinidade maior por receptor beta 2, liga-se a eles e ativa, causando broncodilatação e diminuição de muco. Beta 2 tá ligado a proteína Gs que ativa adenilato ciclase que vai estimular a conversão de ATP em AMPc, isso vai estimular a Quinase A que vai fosforilar a proteína e causar o efeito biológico. Esses fármacos atuam ativando o receptor Beta 2 que vai terminar com brondilatação e diminuição da produção de muco. o De ação curta: Usados para indivíduos em crise. Tem início de efeito mais rápido porém tem duração de efeito menor. Tem ação mais imediata. Exemplo: salbutanol e fenoterol (berotec) o De ação prolongada: São usadas mais a longo prazo, o indivíduo usa cronicamente. A broncodilatação persiste por mais de 12h. São lipossolúveis e ficam presos na membrana da célula ativando os receptore,s por isso sua ação é mais prolongada. Exemplo: salmeterol e formoterol Os efeitos indesejáveis são taquicardia e tremor. O taquicardia é mais comum. Por que causa esses efeitos? O tremor é casusado pela ativação do beta 2 no músculo estriado esquelético e se esses fármacos chegarem lá, ao se ligarem aos receptores, vão induzir tremor. O taquicardia: O receptor que predomina no coração é beta 1 e esse fármaco é seletivo pra beta 2 mas a seletividade depende da dose, se aumentar a dose começa a ativar beta 1 e estimular efeitos cardíacos como o taquicardia. Outro efeito indesejável, com o uso crônico, é a dessensibilização do receptor beta 2 e causar tolerância, levando a perda do efeito. Essa dessensibilização é reversível. Tira- se por algumas semanas e depois usa o fármaco novamente. Outro efeito indesejável: o uso de antagonista beta 2 é contra indicado em animais. Metil Xantinas O mecanismo mais evidente é a inibição da fosfodiesterase. O que a fosfodiesterase faz? Metaboliza o AMPc interrompendo a sinalização do beta 2 , a fosfodiesterase tem papel regulatório. Inibindo a fosfodiesterase o AMPc não tá sendo metabolizado, dando continuidade a via. Então é usada para potencializar a via de sensibilização de beta 2, quando quer-se potencializar a bronco dilatação. Outro mecanismo é ser antagonista de receptor de adenosina. Adenosina induz bronco contrição, aumentar liberação de mediadores inflamatórios, então o seu bloqueio será útil para o tratamento da asma. Exemplo: cafeína, aminofilina e teofilina. Efeitos indesejáveis:Efeito estimulatório central, aumento da vigília. Efeito estimulante do coração, podem aumentar frequência cardíaca. Aumento do fluxo urinário. Tem janela terapêutica estreita, então deve-se tomar bastante cuidado coma dose. Antagonistas Muscarínos (Exemplo – Ipratrópio) Bloqueia os receptores M3 do musculo liso dos brônquios e bronquíolos onde atuaria a acetil colina liberada pelos nervos vagais eferentes da resposta reflexa vagal. Ele é não seletivo, portanto bloqueia M3, M2 e outros. Efeito indesejável: Bloqueia o M2 pré sináptico que, quando ativado, inibe a liberação de acetil colina, então tem papel regulatório. O ipratrópio bloqueia esse M2, tendo liberação excessiva de acetil colina. Qual a consequência desse aumento de acetil colina? Reverte-se o bloqueio, tendo-se tantaa cetil colina que reverte o bloqueio do M3, voltando a ter bronco constrição. Por isso ele é normalmente associado a agonista B2 ou usado sozinho em quadros menos graves, em casos mais severos ele não da conta. Efeitos indesejáveis: boca seca, visão turva, constipação intestinal, retenção urinária e até taquicardia. Antagonistas do Receptor de Cisteinil-Leucotrienos Leucotrieno C4, D4, E4, F4 – todos tem grupamento cesteína. São potentes causadores de bronco espasmo. Esses leucotrienos ligam-se a receptores CYSLT no pulmão, induzindo espasmo. Foram desenvolvidos fármacos para bloquear o receptor desses leucotrienos. Exemplos: Zafirlucaste, Montelucaste Nunca são usados sozinhos e sim associados a outros fármacos, porque agem apenas sobre os leucotrienos e portanto ainda teria ação de outros mediadores inflamatórios. Trazem efeito adicional. São adjuvantes. Inibidores da Síntese de Leucotrienos Exemplo: Zileutona É inibidor seletivo da 5-lipoxigenase. Essa enzima atua sobre o ácido araquidônico para produzir leucotrienos. Também é Adjuvante. Tratamento anti-IgE Exemplo: Analizunabe Compete com o alérgeno pelo sítio Fab do IgE, impedindo sua ligação no anticorpo e, portanto, prejudicando a liberação de mediadores e resposta inflamatória. É adjuvante. Anti inflamatórios Esteroidais Glicocorticoides Esteroidais(Os melhores) Exemplos: Budesonida, fluticasona, belometasona. São usados por via inalatória. o O glicocorticoide não esteroidal inibe a COX e portanto a produção de somente prostaglandinas, sendo que os leucotrienos continuarão sendo produzidos e fazendo seu efeito. Com a inibição da COX, sobrará mais ácido araquidônico para a produção de leucotrieno pela via d 5-lipoxigenase. Por isso os não esteroidais não são utilizados! Bullshit. Exemplo: ácido acetil salicílico. Os esteroidais não atuam sobre enzima e sim sobre receptores intracelulares. Tem que ser lipossolúvel para atravessar a membrana e alcançar o receptor. Foam complexo droga-receptor no citoplasma que migrará para o núcleo onde vai interagir com regiões específicas do DNA da célula, estimulando a transcrição de genes específicos e consequentemente a síntese de proteínas que terão efeitos biológicos. Uma das proteínas que ele produz é a lipocortina ou anexina-1 e a lipocortina inibe a fosfolipase A2. Não é o glicocorticoide que inibe a fosfolipase A2 e sim a Lipocortina que é produzida! Inibindo a fosfolipase A2, não há quebra do fosfolipídeo em ácido araquidônico e ocorre bloqueio da via de formação de prostaglandinas, prostaciclinas, leucotrienos, etc. Ações: Diminuição da captação e utilização da glicose e aumento da gliconeogênese. Aumento da glicemia. Diminuição na síntese de proteínas e aumento de sua degradação. Aumento da atividade lipolítica, resultando em redistribuição da gordura. Ações mineralocorticoides (retenção de Na) – Retenção de líquido, inchaço. Aumento da excreção pelo rim de Ca e diminuição da absorção intestinal de Ca. Ação sobre as Células Inflamatórias (Imunossupressão) Diminui a saída de neutrófilos dos vasos sanguíneos. Não vai pro tecido e não vai fagocitar – ação imunossupressora. Isso faz com que haja desvio a direita pois a célula não sai do vaso e fique maturando. Diminuição de células T auxiliares e diminuição da proliferação clonal de células T Diminuição da função dos fibroblastos (diminuição da produção de colágeno e glicosaminoglicanos). Diminuição da função dos osteoblastos e aumento da atividade dos osteoclastos. Por isso é contraindicado na osteoporose pois aumenta excreção de cálcio e propicia a perda de tecido ósseo. Ação sobre mediadores das respostas inflamatórias Diminui produção de todos os mediadores inflamatórios Efeitos indesejáveis: Imunossupressão, favorecendo aparecimento de candidíase, herpes, etc. Súbita interrupção do tratamento causa comprometimento da síntese fisiológica. Osteoporose Hiperglicemia Inibição do crescimento Catarata e glaucoma – uso crônico de colírio com glicocorticoide. Aumenta pressão intracraniana. A administração de glicocorticoide deve ser quando o nível de cortisol está alto. Não administra quando tá baixo porque se administrar cortisol o organismo verá aquela concentração de cortisol e “pensará” que não precisa produzir o cortisol a nível fisiológico pois já tem. Cromoglicato Abre canais de K na via aferente vagal, hiperpolarizando e prejudicando a liberação de acetil colina. Efeitos indesejáveis: irritação das vias aéras superiores. Antitussígenos Centrais: agem no centro da tosse no sistema nervoso cntral. Exemplos – codeína Periféricos: Inibe os receptores tussígenos laringobronquiais. Tem ação anti- histamínica. Mucolíticos x Expectorantes Mucolítico: lise do muco. Fragmenta o muco para facilitar eliminação. Exemplo – N- acetilcisteína, bromexina. Expectorante: aumenta produção de líquido no trato respiratório, levando a redução da adesividade e da tensão superficial do muco. É como se lubrificasse o trato respiratório. Exemplo – Guafenesina. Descongestionante Nasal O que causa a congestão nasal? Porque ali no tecido nasal tem processo inflamatório em andamento com liberação de mediadores, muitos deles, vasos dilatadores com abertura dos poros dos vasos e extravasamento de líquido, gerando edema do tecido nasal que acaba obstruindo a luz e dificultando entrada de ar. As drogas descongestionantes são agonistas alfa 1 seletivos e vão promover vasoconstrição que vai fechar os poros dos vasos e diminuir o extravasamento de líquido e edema, essa é a ação descongestionante. Por que o indivíduo não consegue abandonar o remédio? Porque quando causa broncoconstrição diminui-se o fluxo sanguíneo e tem-se menos oxigênio no local. Quando acaba o efeito tem-se uma vasodilatação compensatória para chegar mais oxigênio ao local o que aumenta o extravasamento de líquido, causando uma congestão pior ainda. Exemplos: Oximetazolina, nafazolina, fenilefrina
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