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Alegações finais por memoriais

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EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 14° VARA CRIMINAL DA COMARCA DE FORTALEZA 
	
	
Processo n°: 0115319-10.2019.8.06.00001
	
MARIA DO LIVRAMENTO RODRIGUES, já qualificada nos autos do processo ás folhas (..) vem por meio de sua advogada que a esta subscreve, conforme procuração em anexo, vem muito respeitosamente a presença da vossa excelência, com fundamento no artigo 403 § 3° do código de processo penal apresentar
ALEGAÇÕES FINAIS, EM FORMA DE MEMORIAIS 
DOS FATOS
Conforme consta nos autos da exordial, está sendo imputado a denunciada a conduta tipificada no art. 155, caput código penal.
Conta na denúncia que a acusada, munida de animus furandi , teria subtraído para si um fardo de cervejas.
Em 05/03/2019 a ré estava na companhia de uma conhecida de sua filha na avenida beira mar, saiu de casa com o intuito de passear tendo em vista que é do interior e não conhecia à cidade. 
Chegaram a uma barraca, beberam algumas cervejas, a ré então foi orientada por essa conhecida chamada Daniele a pegar as cervejas enquanto essa disse que iria pagar, no entanto não foi isso que ocorreu, enquanto a ré se dirigia até a geladeira no intuito de pegar as bebidas Daniele foi embora, fazendo com que a ré fosse pega e injustamente presa por furto, a ré é senhora idosa de 60 anos, nunca respondeu por nenhuma ilicitude, encontra-se injustamente presa por causa de um mal-entendido.
 
DO MERITO 
Da atipicidade Material- Princípio da Insignificância 
 A nobre representante Ministerial pugnou pela condenação da acusada nos termos da denúncia, data vênia entendemos não ser a mais correta essa visão ministerial. Preliminarmente, cumpre asseverar ser fato atípico, conforme se depreende:
Desde a década de 70, foi incorporado ao Direito Penal pátrio pelos estudos de Claus Roxin, o já difundido Princípio da Insignificância, consubstanciado na assertiva de que o Direito Penal não deve se ocupar de assuntos irrelevantes, incapazes de lesar o bem jurídico legalmente tutelado.
É sobremodo importante assinalar que este Princípio está intimamente ligado com a Tipicidade do fato e com o Princípio da Ofensividade. Com a evolução jurídica nacional, a Tipicidade, como elemento do Fato Típico, passou a ser abordada não apenas sob o aspecto formal (juízo de subsunção), considerando um fato típico pelo simples fato de a conduta praticada se encaixar com o modelo descrito pelo tipo penal, como outrora era efetuado. Mas também sob a ótica Material, que ao seu turno, avalia se a conduta realizada realmente apresenta lesão ao bem jurídico penalmente tutelado, ou seja, se realmente é relevante para o Direito Penal, eis mais precisamente neste ponto que se apresenta o Princípio da Insignificância.
Isto posto, uma vez inexiste o caráter material da tipicidade, a mesma desaparece, esta desaparecendo leva consigo a própria tipicidade e uma vez não mais presente um dos elementos do fato típico, não há que se falar neste instituto, e assim, tão pouco, em crime.
No caso em análise, é imputado ao Acusado que este subtraiu para si, um fardo de cerveja, avaliado em R$ 55,00 (cinquenta e cinco reais) (fls. 23/26). Notório apresenta-se ser de pequeno valor o objeto da incursão delituosa. Este entendimento é observado com base na doutrina e jurisprudência, as quais convencionaram que por pequeno valor deve ser entendido aquele que gira em torno de um salário mínimo. Vejamos a respeito:
“Atualmente, são dois os principais critérios usados na aferição do “pequeno valor”: a) Refere-se ao prejuízo. b) É relativo ao valor da coisa e não ao prejuízo. Quanto à quantidade que se considera como “pequeno valor”, tem-se em vista, geralmente, valor igual ou inferior ao salário mínimo... ”(Celso Dalmato, Código Penal Comentado, p.299)
Conclui-se, pois, tratar-se de valor ínfimo quando comparado com a liberdade de alguém, e que por si só não é capaz de lesar o bem jurídico penalmente tutelado, devendo, neste caso, ser aplicado o Princípio da Bagatela.
No que se refere a primariedade e antecedeste o Acusado, cabe destacar que a posição de que vem se acentuado cada vez mais na doutrina e na jurisprudência, é que se apresenta irrelevante à concessão do Princípio da Insignificância as condições pessoais do Acusado, tal como a sua reincidência, uma vez que se trata de causa de exclusão da tipicidade.
À guisa de exemplo podemos citar alguns decisões que expressão o posicionamento que vem tomando corpo no STJ e STF:
O Supremo Tribunal Federal postulou em seu Informativo 610 que: “admite a aplicação do princípio da insignificância, mesmo para o agente que pratica o delito reiteradamente.”.
DOS PEDIDOS
Diante do exporto, a defesa pugna:
a) ABSOLVIÇÃO do acusado, nos termos do art. 386, III, do CPP, não constituir o fato infração penal, uma vez que não possui tipicidade material – princípio da insignificância;
b) ABSOLVIÇÃO do acusado, nos termos do art. 386, III, do CPP, não constituir o fato infração penal, uma vez que não possui tipicidade formal – furto de uso;
c) Caso ainda não seja esse o entendimento requer, subsidiariamente, o reconhecimento da confissão espontânea, e em caso de verificado não ser o réu primário, que seja compensada a atenuante da confissão espontânea com a agravante genérica da reincidência, tendo em vista o entendimento postulado no Informativo nº 498 do STJ e melhores entendimentos doutrinários;
d) Ademais, pleiteia, caso seja o réu primário, pela aplicação do benefício previsto no § 2º, do art. 155 do Código Penal, levando em consideração o pequeno valor da coisa subtraída.
Termos em que.
Pede deferimento.
Fortaleza,( ce) 29 de maio de 2019.

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