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Direito de Família 09 Espécies de casamentos válidos

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9. ESPÉCIES DE CASAMENTOS VÁLIDOS
 - Casamento religioso com efeitos civis, casamento por procuração, casamento realizado perante autoridade consular, casamento putativo, conversão de união estável em casamento, casamento de enfermo acometido de moléstia grave, casamento nuncupativo
Considerando a importância social do casamento, a norma jurídica reveste a cerimônia de celebração do casamento de solenidades especiais, tendo em vista garantir a segurança jurídica. Todavia, existem situações especiais que não permitem a total observância do modelo legal. Neste sentido, algumas exceções estão previstas em lei, considerando situações especiais que possam justificar a dispensa de algum requisito legal.
 9.1. Casamento religioso com efeitos civis
Após superada, em definitivo, a confusão entre religião e Estado, não há mais dúvida de que o casamento é matéria submetida a normas civis, separado da sua origem religiosa e canônica. 
Sabe-se que durante um longo período de tempo, o casamento religioso foi o adotado no Brasil, em consequência da tradição cristã e da forte influência da Igreja Católica. Em 1890, o Decreto no. 181 instituiu o casamento civil. Em 1937 a Lei no. 379/37 instituiu o casamento religioso com efeitos civis. O casamento realizado apenas no religioso, não gera qualquer efeito civil, sendo considerado equivalente à união estável.
Considerando a liberdade de credo revista no art. 5º, VI, da Constituição Federal, a lei reconhece efeitos civis ao casamento celebrado em qualquer modalidade de religião, (ministro católico, protestante, ortodoxo, israelita, etc.) desde que não contrarie a ordem pública.
Segundo o art. 1515, “o casamento religioso que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebração”. Ou seja, o registro tem efeito retroativo, ex tunc, até a celebração do ato.
Exige-se a prévia realização do processo de habilitação, que segue a determinação legal. Os nubentes pedem a certidão ao oficial do registro para se casarem perante a autoridade religiosa.
O termo, ou assento de casamento é assinado pela autoridade religiosa e por duas testemunhas. Os requisitos do assento são os mesmos do casamento civil. Este casamento está regulado pela lei 6015/73 – Lei de Registros Públicos - nos artigos 71 a 75.
Nos termos do art.1516 do Código Civil, o casamento religioso deve ser registrado no Registro Civil no prazo de 90 dias, contados da realização, mediante comunicação do celebrante ou por iniciativa de interessado, desde que tenha havido a prévia habilitação. Não ocorrendo o registro ao término dos 90 dias, deverá ser feita nova habilitação. 
Todavia, o parágrafo 2º do art. 1516 possibilita o casamento religioso com efeitos civis posteriores, o que ocorrerá se os cônjuges, por ignorância, efetuaram o casamento sem a prévia habilitação prevista em lei. Nesta hipótese, o pedido de habilitação será feito posteriormente, provando o casamento religioso e requerendo a dispensa de uma nova cerimônia. Nos termos do mencionado parágrafo, “o casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas neste Código, terá efeitos civis, se, a requerimento do casal, for registrado, a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação e observado o prazo do art. 1532”. Este prazo é de 90 dias. Certificando-se o oficial do registro de que não existem impedimentos, será realizado o registro do casamento, e neste caso, os efeitos também são retroativos á data da celebração.
 9.2. Casamento por procuração (art. 1542) 
Embora seja imprescindível a presença simultânea dos contraentes para a realização do casamento, existe a possibilidade de celebração do casamento quando um, ou ambos os cônjuges não puderem comparecer ao ato nupcial. Para alguns autores, não se trata efetivamente de uma espécie de casamento, mas é na verdade uma forma de casar.
 A lei admite o casamento por procuração, em que o consentimento do nubente pode ser expresso por procurador que manifeste a sua vontade perante a autoridade competente, atendidas as solenidades previstas em lei. 
O casamento pode ser celebrado mediante procuração por instrumento público, com poderes especiais, no caso de impossibilidade de comparecimento do nubente – art. 1542 . Se ambos os nubentes não puderem comparecer, deverão nomear dois procuradores diversos Trata-se de negócio jurídico de mandato representativo. A eficácia do mandato não passa de 90 dias e só pode ser revogado por instrumento público.
A procuração por instrumento público se justifica diante da solenidade do ato e da responsabilidade do procurador. A ação do procurador é restrita ao consentimento. 
A procuração é revogável. Nos termos dos parágrafos do art. 1542, havendo revogação do mandato, deve ser comunicada ao outro contraente. Se o casamento for celebrado sem a ciência da revogação, o mandante responderá por perdas e danos. O casamento poderá ser anulado (ver art. 1550,V).
Apesar da procuração, nada impede que o outorgante compareça à cerimônia, se puder. 
Esta modalidade de casamento foi muito freqüente no passado, quando não havia a facilidade de locomoção e de comunicação que hoje existe. Há registro de ter o Imperador D. Pedro I casado por procuração. Atualmente, algumas hipóteses justificam o casamento por procuração: viagem de um dos nubentes, ou um deles residindo em outra cidade ou no exterior por motivo de trabalho ou cumprindo bolsa de estudo que não possa interromper, não sendo possível o deslocamento na data do casamento. 
Após a realização do casamento, deverá constar do assento no livro de registro a circunstância da representação, sendo arquivado o instrumento de mandato, juntamente com os demais documentos.
9.3. Casamento perante autoridade consular
Casamento consular é o casamento celebrado por brasileiros no exterior, perante a autoridade consular brasileira. Nos termos da Lei de Introdução ao Código Civil, artigo 7º, parágrafo 2º, “o casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes”, O art 18 da mesma lei permite que brasileiros casem no exterior, perante cônsul de carreira brasileiro. O art. 1 544 do Código Civil disciplina o registro de casamento de brasileiro celebrado no exterior, definindo a necessidade de ser este registro efetuado no Brasil no prazo de 180 dias, a contar da data da volta de um ou de ambos os cônjuges ao país.
O brasileiro residente no exterior pode escolher casar segundo a legislação do país onde reside ou optar por se casar segundo a lei brasileira, diante de autoridade consular. 
a) Se a opção for pelo casamento segundo as leis do país estrangeiro, o casamento é provado na forma das leis do lugar, de acordo com a regra locus regit actum. Este casamento deve ser autenticado em consulado brasileiro e registrado no Brasil quando os cônjuges aqui vierem residir, devendo o registro ocorrer no cartório do respectivo domicílio ou, não havendo cartório neste lugar, no 1º Ofício da Capital do Estado.
A validade deste casamento no Brasil impõe o registro da certidão do casamento, com a devida tradução e autenticação efetuada pelo agente consular brasileiro, conforme disciplina o art. 32 da Lei dos registros Públicos - Lei 6 015/73. 
O prazo de 180 dias para realização do registro não é taxativo, podendo ser feito em data posterior. Trata-se de recomendação burocrática.
Em se tratando de casamento de estrangeiros celebrado no exterior, a lei não exige registro. Para provarem seu estado civil, os cônjuges só precisam apresentar a certidão autenticada pela autoridade consular. Se pretenderem se divorciar ou se separar, devem os estrangeiros apresentar em juízo a certidão estrangeira comprobatória do casamento, legalizada pela autoridade consular brasileira. Obtido o divórcio, se pretenderem contrair novo casamento, devem apresentar a carta de sentençae a certidão de casamento anterior, no processo de habilitação.
b) O brasileiro residente no exterior que optar por se casar pela lei brasileira terá este casamento celebrado perante a autoridade consular. A prova deste casamento é feita através da certidão respectiva, que corresponde ao assento no Registro Civil.
A competência dos agentes consulares para celebrar casamento está prevista no art. 18 da Lei de Introdução ao Código Civil, conforme acima mencionado, o qual define: “Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar o casamento e os mais atos de Registro Civil e de tabelionato, inclusive o registro de nascimento dos filhos de brasileiro ou brasileira nascidos no país da sede do consulado”.
Nos termos do Decreto 24 113/34, não revogado pelo Código Civil, “os cônsules brasileiros só poderão celebrar casamento quando ambos os nubentes forem brasileiros e a legislação reconhecer efeitos civis aos casamentos assim celebrados”. Neste sentido, a competência da autoridade consular só existe quando ambos os nubentes são brasileiros. Se um deles for de outra nacionalidade, cassa a competência da autoridade consular brasileira.
Nesta hipótese, quando os cônjuges regressarem ao Brasil (ou um deles), também devem promover o registro no cartório do respectivo domicílio, da mesma forma que ocorre com os brasileiros que optaram por casar segundo as leis estrangeiras do lugar onde residiam.
Vale registrar que estrangeiros residentes no Brasil podem se casar perante as autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes (art. 7º, parágrafo 2º da Lei de Introdução). Os efeitos do ato obedecem às leis brasileiras, embora esse casamento não possa ter assento no Registro Civil Brasileiro. Por outro lado, se um dos nubentes for brasileiro, não incide a competência da autoridade consular estrangeira.
 
 9.4. Conversão de união estável em casamento
Nos termos do art. 1726: A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil. A Constituição Federal prevê a conversão no parágrafo 3º do artigo 226. Verifica-se ter havido o propósito por parte do legislador, no sentido de simplificar a celebração de casamento de pessoas que já vivem em união estável.
Antes do Código Civil de 2002, a Lei 9 278/96 previa o requerimento da conversão formulado diretamente ao oficial do Registro Civil. Todavia, com o novo Código, o pedido deve ser feito ao juiz. Para alguns autores, esta exigência contraria à Constituição porque o art. 226, parágrafo 3º dispõe que a lei deve ‘facilitar’ a conversão da união estável em casamento, o que deve ser entendido como a proposição de mecanismos mais ágeis.
A conversão somente produz efeitos a partir da data do registro. Por outro lado, só poderá ocorrer mediante comprovação da inexistência de impedimentos matrimoniais previstos no art. 1521. Exige-se a intervenção do Ministério Público na qualidade de custos legis, ou seja, como fiscal da lei.
 Os efeitos patrimoniais da conversão são ex nunc, mantendo-se os efeitos da união estável até a data da realização do casamento. No que se refere ao regime de bens, na união estável vigora o regime de comunhão parcial, sendo facultado aos cônjuges modificar o regime a partir da realização do casamento.
 9.5. Casamento putativo- 1561
 a) Conceito 
A palavra ‘putativo’, vem do latim putare, que significa reputar, crer, acreditar, estar convencido da verdade de um fato, aquilo que se presume ser, mas não é. O que é imaginário, fictício, irreal.
Casamento putativo, portanto, é aquele que as partes e terceiros reputam ter sido legalmente celebrado. É aquele que se reputa verdadeiro, mas não é.
Casamento putativo é aquele que, embora nulo ou anulável, foi contraído de boa-fé por um ou por ambos os cônjuges. O casamento foi contraído na ignorância de um impedimento que pode ser de um ou de ambos os cônjuges.
 O casamento é nulo ou anulável, porém, em atenção à boa-fé com que foi celebrado, produz, para o cônjuge de boa-fé e para os filhos, todos os efeitos civis, até o trânsito em julgado da sentença anulatória, cujos efeitos são ex nunc. (art. 1 561). No que se refere a terceiros, não serão prejudicados aqueles que a título oneroso contrataram com os cônjuges cujo casamento foi anulado judicialmente.
A teoria do casamento putativo é aplicável a toda situação de nulidade e anulação do casamento. 
Alguns efeitos se perpetuam, como a legitimidade dos filhos havidos durante o período de validez. A situação jurídica dos filhos, na verdade, fica acobertada pela presunção legal absoluta de boa-fé, mesmo que ambos os cônjuges estivessem de má-fé ao celebrar o casamento, conforme define o parágrafo 2º do art. 1 561. A principal finalidade do reconhecimento da putatividade é a proteção dos filhos.
O art. 1561 confere tutela jurídica àquele que manifesta seu consentimento em estado de ignorância quanto a um vício que pudesse provocar o impedimento do casamento. 
Exemplos deste tipo de casamento são: casamento entre colaterais de 2º  grau que desconheciam esta situação; ambos estavam de boa-fé. Ou o casamento de alguém que já era casado anteriormente; no caso de bigamia, apenas um deles estava de boa-fé, uma vez que o outro omitiu a existência de um impedimento matrimonial.
A boa-fé deve ser aferida no momento da celebração do casamento. Neste sentido, se logo após o casamento, o cônjuge de boa-fé vier a tomar conhecimento de vício capaz de torná-lo nulo ou anulável, os efeitos do casamento permanecerão até o trânsito em julgado da sentença anulatória. A boa-fé originária não é elidida por conta do conhecimento posterior acerca do vício.
 b) Efeitos
Como decorrência da boa-fé de um ou de ambos os cônjuges, o casamento putativo produz todos os efeitos do casamento válido em relação a eles e aos filhos, até a data da sentença anulatória.  A eficácia da sentença é ex nunc. A eficácia desta decisão se manifesta sem retroatividade, não afetando os direitos até então adquiridos. Esta situação torna o casamento putativo semelhante à dissolução do casamento pelo divórcio. Os efeitos do casamento cessam para o futuro, permanecendo aqueles que se tenham verificado até a data da sentença anulatória, uma vez que o casamento somente poderá ser julgado nulo ou anulado até o trânsito em julgado da sentença.
Declarada a nulidade, cessam os deveres dos cônjuges referidos no art. 1 566 (vida, em comum, mútua assistência, etc.)
 c) Direitos adquiridos por terceiros de boa-fé
O terceiro pode ter incorporado direito ao seu patrimônio no pressuposto de que o casamento era válido. Se este direito for fundado em contrato, o casamento, embora anulado, produz efeito em relação a este contrato.
Segundo o art. 1 563,  sentença que decretar a nulidade do casamento retroagirá à data de sua celebração, porém, não prejudicará a aquisição de direitos a título oneroso por terceiros de boa-fé, nem a resultante de sentença transitada em julgado. Nesta situação, tutela-se mais uma vez a boa-fé, desta feita relativa a terceiros que tenham celebrado negócio jurídico com algum dos cônjuges, ficando seus direitos adquiridos válidos e eficazes, independentemente da declaração de nulidade ou anulação do casamento. 
Nesta primeira hipótese, a tutela de terceiros independe da boa-fé dos cônjuges, permanecendo seus direitos adquiridos a título oneroso.
Em se tratando de negócio jurídico benéfico, os efeitos perante terceiros vão depender da aferição da boa-fé do cônjuge com quem o negócio foi contraído.
 d)Declaração de putatividade
O pedido de putatividade deve ser incluído na pretensão anulatória. A parcela da sentença que reconhece a putatividade é de índole declaratória, embora se trate de ação cuja natureza seja desconstitutiva (ação anulatória).
A putatividade só pode ser reconhecida com a decretação de nulidade ou anulabilidade. Isto poderá ocorrer na própria ação anulatória do casamento ouem processo autônomo, promovido pelos cônjuges, pelos filhos, ou por terceiros que demonstrem interesse, se a sentença anulatória foi omissa na declaração de putatividade. Embargos de declaração interpostos contra a sentença anulatória também poderão suprir esta omissão. Porém, esgotada a prestação jurisdicional, somente em ação autônoma poderá a matéria ser tratada.
9.6. Formas excepcionais de casamento
 9.6.1. Casamento de nubente acometido de moléstia grave (art. 1 539)
O casamento em caso moléstia grave de um dos nubentes permite uma flexibilização mínima das normas exigidas por lei. Há o entendimento de que os nubentes já concluíram o processo de habilitação, apenas não poderão aguardar a celebração no dia, hora e local definidos pelo fato de um deles estar acometido de moléstia grave que, pela sua natureza, não permite que ele se locomova até o local da celebração. 
O juiz, acompanhado do oficial do registro, pode celebrar a cerimônia no local onde o enfermo se encontra (hospital, clínica, ou mesmo na própria casa do nubente doente). E sendo urgente, mesmo à noite. Até mesmo a presença da autoridade competente pode ser dispensada em face de circunstâncias urgentes e emergenciais, podendo ser substituída por qualquer dos seus substitutos legais. No caso de impossibilidade do oficial do registro, haverá a substituição por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do ato (parágrafo 1º do art. 1539).
Para a celebração faz-se necessária a presença de duas testemunhas que saibam ler e escrever. Será lavrado termo avulso por este oficial, assinado pelas testemunhas e devendo ser registrado dentro de 5 dias, perante 2 testemunhas. Se não ocorrer o registro neste prazo, ocorrerá a ineficácia do casamento.
O casamento realizado em virtude de moléstia grave, em geral pressupõe prévia habilitação, possibilitando a realização em local e hora não previamente determinados em razão da urgência. 
Considera-se moléstia grave aquela que inviabiliza a locomoção ou a remoção do enfermo sem risco de agravamento da doença. Não significa, necessariamente, risco de vida iminente, mas a impossibilidade de locomoção sem riscos. Exige-se o risco efetivo de morte em virtude da doença. Se o doente vier a convalescer, isto não inviabiliza o casamento celebrado. 
 9.6.2. Casamento em iminente risco de vida (art. 1540)
O chamado casamento nuncupativo é uma forma especial de celebração de casamento em que não são cumpridas as formalidades estabelecidas nos arts. 1533 e seguintes do Código Civil, considerando a urgência da situação e por falta de tempo. O termo jurídico nuncupativo diz respeito ao ato não escrito, aquele ato que é apenas oral, ou de nome, quando as circunstâncias o permitem .
Como exemplos citam-se: ferimento por disparo de fogo, grave acidente, a vítima de mal súbito, ato de terrorismo, etc. Trata-se de tutelar situação grave em que o risco de vida do nubente é iminente, não sendo possível conseguir a presença da autoridade celebrante, nem de seu substituto legal, pelo fato de não haver tempo para o cumprimento dos requisitos legais.
Este casamento nuncupativo, ou in extremis (in extremis vitae momentis), ou in articulo mortis trata-se de um casamento no limiar da morte. A cerimônia poderá ocorrer mesmo que não tenham sido realizadas as formalidades preliminares, não se exigindo certificado de habilitação e até a presença do celebrante.
A urgência da situação em que um dos nubentes se encontra agonizante e deseja casar-se antes de falecer, nem sempre possibilita a presença de autoridade competente para celebrar o ato. O sentido da norma é propiciar a formação do vínculo matrimonial em situação de extrema urgência em que não se podem observar as formalidades normalmente exigidas.
Trata-se de situação absolutamente extraordinária e difícil de acontecer nos dias atuais. Nesta hipótese, o casamento pode ser celebrado independentemente da presença da autoridade celebrante, do oficial do registro civil, e das solenidades previstas em lei. Neste sentido, deve-se exigir maior segurança na prova do consentimento expresso pelos nubentes. Por isso a lei exige seis testemunhas ao invés de duas, uma vez que não estão presentes nem o celebrante nem o oficial do registro; estas testemunhas não podem ser parentes próximos dos nubentes, ou seja, nem ascendentes, nem colaterais até o segundo grau. Pressupõe-se parentesco por consanguinidade. A intenção é evitar fraudes.
Para o reconhecimento dos efeitos deste casamento a lei exige um procedimento especial, previsto no art. 1 541. O casamento consiste em negócio jurídico em que a solenidade é da substância do ato, devendo ser suprida a dispensa de formalidades por outros meios. Neste caso em estudo, se não forem cumpridas as exigências do art.1541, o casamento será ineficaz. Porém, atendidos os requisitos estabelecidos em lei, o casamento produz efeitos desde a data da celebração 
As seis testemunhas que presenciaram o ato devem requerer a homologação judicial do casamento no prazo de 10 dias. Para tanto, devem comparecer perante a autoridade competente para que prestem as declarações constantes dos incisos I, II e III do art. 1 541. As declarações serão reduzidas a termo, devendo constar:
- Inciso I - que as testemunhas foram convocadas pelo nubente em iminente risco de vida, evidenciando o consentimento livre deste nubente;
- Inciso II - que o enfermo parecia, efetivamente, em risco de vida;
- Inciso III - que o nubente estava em seu perfeito juízo quando emitiu o consentimento, sendo, assim, livre e espontânea a sua vontade. Todavia, deve haver referência ao consentimento do outro nubente, também, uma vez que o casamento exige o consentimento de ambos. Caso o nubente venha a falecer antes do consentimento, o casamento é inexistente, pois não há formação do negócio jurídico.
Responsabilidade das testemunhas: As testemunhas têm o prazo de 10 dias, contados da data da celebração, para requererem que o juiz tome a termo suas declarações. Se assim não procederem, o casamento será ineficaz, sendo, portanto, de grande responsabilidade o seu papel. Ademais, caso não cumpram sua obrigação, estão sujeitas a responsabilidade civil pelos danos que provocarem em razão de sua negligência. 
O pedido das testemunhas será autuado e as declarações serão tomadas pelo juízo e reduzidas a termo nos autos. O juiz, em seguida, vai tomar as providências relativas à verificação de impedimentos, o que normalmente seria feito no processo de habilitação. Neste caso, a situação se assemelha em uma habilitação a posteriori, realizada pelo juiz, devendo, para tanto, recolher os documentos dos contraentes. Será aberto prazo de 15 dias; não havendo restrição legal, o juiz homologará a celebração anteriormente realizada, atribuindo-lhe eficácia. Se for verificado algum impedimento, a cerimônia não terá eficácia, sendo considerada nula.
A decisão é realizada por meio de sentença, da qual cabe apelação. Decorrido o prazo recursal, ocorre a coisa julgada, permitindo o registro no livro do Registro de Casamentos. Verifica-se, portanto, que em 15 dias, são tomadas as providências cabíveis.
Se o contraente convalescer, dispensa-se a intervenção judicial, sendo possível a ratificação do casamento pelo próprio nubente perante a autoridade competente e o oficial do registro civil. Haverá, assim, uma habilitação posterior, independentemente de prazo. Recebendo o certificado de habilitação, deverá o nubente ratificar o consentimento em 60 dias.

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