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índice Prefácio do editor.5 Dedicatória.11 Introdução.13 Prefácio do autor.23 Primeira Conferência O atual dilema da filosofia.25 Segunda Conferência O que significa o Pragmatismo.43 Terceira Conferência Alguns problemas metafísicos considerados pragmaticamente.61 Quarta Conferência Singular e plural.80 Quinta Conferência Pragmatismo e senso comum. 97 Sexta Conferência Concepção da verdade no Pragmatismo.111 Sétima Conferência Pragmatismo e humanismo.130 Oitava Conferência Pragmatismo e religião.145 Perfil biográfico.159 Texto Complementar - Pragmatismo.169 Bruno Typewriter PRAGMATISMO - WILLIAM JAMES Bruno Typewriter Bruno Typewriter Dedicatória do autor de Pragmatismo: A memória de John Stuart MUI com quem eu aprendi pela primeira vez a sinceridade espiritual pragmática e que na imaginação gosto de conceber como nosso mestre se hoje fosse vivo. Bruno Typewriter Introdução JOSEPH L. BLAU I I Espirito do homem reflexivo , nos últimos anos do século XIX , estava dividido contra si mesmo. Intelectualmente, estava dominado pela visão científica do mundo. Seus conceitos físicos eram os de um universo de partículas atómicas em movimento determinado - ao que se faz alusão frequentemente como o "univer- so bola de bilhar" da física do século XIX. Sua visão da vida e das ciências biológicas era impulsionada em uma direção semelhante pelo impacto do pensamento evolucionista, que culminou na teoria de Darwin. Emotivamente , porém, estava ainda vivendo em um universo pré-científico , no qual o homem era a criação especial de uma deidade condescendente, cujo cuidado e dedicação por suas criaturas era tal que, sendo necessário, realizava milagres, pondo de lado as leis da natureza a favor de seus favoritos. Os realistas insistiam em que os seres humanos viviam em um mundo no qual os consequentes seguiam seus antecedentes com regularidade ine- xorável. a despeito dos desejos, esperanças e ideais humanos. Os idealistas insistiam em que os desejos e os esforços humanos pode- riam acarretar uma diferença no curso dos acontecimentos. O fato de William James (3842-1910) ter sido distinguido como filósofo pelo povo durante esse período decorre de ter apresentado com graça e brilho e considerável entendimento, uma teoria que poderia reconciliar o realismo e o idealismo. Os filósofos profis- sionais nunca levaram James a sério. Escrevia muito bem; expres- sava-se com demasiada clareza para poder ser tido na conta de profundo; embora torturado possa ter sido o seu próprio curso no Bruno Textbox 13 alcançar de uma posição, seu estilo nunca o traiu em sendo tortuoso. Fez o pensamento filosófico parecer muito fácil, ao alcance de qualquer pessoa. Os problemas que o obsedavam eram os mesmos que importunavam os espíritos de seus contemporâneos, de preferência as questões técnicas especiais da fraternidade filosófica. Ao longo de seus últimos anos, esteve sempre prometendo a si mesmo escrever uma exposição de sua posição filosófica em linguagem técnica para benefício de seus colegas profissionais, mas acabou morrendo deixando apenas fragmentos desse tema. Não obstante, porém, dentre os filósofos americanos, nenhum outro, exceto Ralph Waldo Emerson, tem sido tão amplamente lido em seu país e na Europa, e nenhum outro tem sido tão calorosamente saudado como o porta-voz de uma atitude de espírito caracteristi- camente americana. Embora as obras pelas quais William James seja principalmente. lembrado como filósofo tenham sido escritas durante a última década de sua vida, seu contato com a filosofia deu-se cedo. Seu pai, o mais velho Henry James. foi homem de independência finan- eeira, que dedicou a maior parte de sua vida a desenvolver uma teologia filosófica profunda, mas excêntrica. À mesa de jantar de James. era prática comum a conversação girar em torno de algum problema filosófico; o pai aparentemente se deleitava com ter o debate iniciado, guardando-se em seguida, a escutar os esforços de seus filhos para resolver problemas que haviam perturbado os mais argutos pensadores do mundo por gerações, se não por séculos. A partir de então William James adquiriu permanente interesse pela filosofia, juntando-.se com entusiasmo aos seus amigos em discussões informais sobre assuntos "metafísicos". Na realidade, o aspecto pelo qual mais tarde haveria de ter celebridade formou-se em um desses grupos de discussão, liderado por Charles Sanders Peirce, por volta de 1870. William James escreveu, durante as décadas de 1870 e 1880, algumas páginas de conteúdo filosófico, nas quais estavam disseminados os grãos de sua posição futura. Mas não foi senão por 1897 que passou a encarar a filosofia com interesse profissional. James e seus irmãos foram educados de maneira bem irregular. O pai tanto se achava em casa na Europa como na América, e seu caráter deambulatório veio a ser o padrão de vida para a família toda. William não conseguia se resolver no sentido de que carreira queria seguir. Pensou que podia tornar-se um artista, mas pendeu também para urna carreira na ciência. Caracteristicamente, seu pai deu-lhe a oportunidade para explorar ambas as possibilidades. Afinal, formou-se em medicina e foi nomeado para a Faculdade de Harvard, em 1872, para lecionar fisiologia. Quatro anos mais tarde. ficou responsável pelo estabelecimento de um pequeno e admitida- mente inadequado laboratório de psicologia em Harvard; ficara impressionado com a nova disciplina de psicologia fisiológica que se estava gerando nos laboratórios de psicologia das universidades alemãs, e esperava construir coisa parecida na América. De maneira característica, o próprio James fez uso reduzido do laboratório; há registro de seus estudos experimentais sobre vertigem levados a cabo aí, mas James não era propriamente um cientista de labora- tório. A importância do laboratório de Harvard reside no fato de que, a despeito de suas limitações, alguns dos estudantes que aí treinaram foram levados a prosseguir mais ainda em seus estudos posteriores. James , por essa época, estava mais interessado no campo geral da psicologia do que na área especial onde a psicologia e a fisiologia se sobrepõem. Transferiu-se para o departamento de filosofia, na primeira oportunidade, a fim de ensinar sua versão de psicologia. Era amplamente versado em escritores franceses e ingleses, tanto quanto em alemães, de psicologia, de modo que seu curso e sistema veio a incluir uma seleção de temas tirados dos estudos típicos dos sistemas europeus. Em razão dessa largueza de perspectivas, viu-se em condições de romper o modelo de psicologia, baseado princi- palmente em referências inglesas, que era, então, dominante nas faculdades americanas. Formais de um século, a psicologia inglesa tinha estado encerrada em um abraço de morte com uma teoria do conhecimento baseada sobre um estrito dualismo espírito-matéria, insistindo em que o espírito era o recipiente passivo de simples impressões advindas do mundo externo. Essas simples impressões não eram em si impressões de objetos, mas de qualidades não relacionadas entre si. A fim de formar ideias de objetos, o até aqui espírito passivo tinha de trazer constelações de qualidades em relações uma com a outra. A maneira pela qual o espírito procedia assim era por intermédio da associação de impressões semelhantes. Em lugar dessa psicologia "associativa", James expôs uma análise do espírito como uma espécie de comportamento com relação ao mundo externo. Espírito, para ele, era uma atividade, um processo dinâmico; consíderava-o de algum modo à luz da biologia evolu- análise. Para ele , as emoções e os processos subinconscientes e inconscientes foram ponto por ponto tão importantes quanto os processos conscientes e muito mais interessantes do que estes. Sua discussão mais influente, relativa ao "fluxo de consciência", de-rivou de sua nova interpretação funcional e comportamental da psicologia, tendo importantes consequências para sua filosofia, tanto quanto pajra a literatura do século XX. Anteriormente a James, a consciência fora tratada, dentro da tradição do empirismo inglês, como uma sucessão de impressões mentais separadas e não relacionadas entre si. As vezes . , dizia James, a fim de aperfeiçoar nosso "tratamento conceptual" da experiência, pode ser útil falar como se houvera percepções sepa- radas dela e concepções distintas a respeito dessa mesma experiência. Na realidade, porém, não há tais divisões distintas. Não devemos presumir que a separação arbitrária que introduzimos para nossa própria conveniência descreva a realidade da consciência. Ao invés, insistia, a consciência é uma corrente contínua, um fluxo de idéias, percepções e relações. Parte desse fluxo acha-se ao centro de nossa atenção a qualquer momento; mas mesmo quando nosso interesse está focalizado no centro, há uma certeza de penumbra de sensações e de impressões fugidias. Mais ainda, pensava James, "ninguém jamais teve uma sensação simples por si mesmo. A consciência, desde nosso dia de nascimento, é de uma prolífica multiplicidade de objetos e de relações, e o que chamamos sensações simples são as resultantes da atenção discriminativa, elevadas frequentemente a um grau bem alto". Como consequência dessa acentuação, cada pensamento, visto que baliza uma parcela do fluxo contínuo da consciência por meio da atenção seletiva, "tende a ser parte de uma consciência pessoal" , dentro da qual prossegue a seleção. No sentido de acentuar esse ponto mais agudamente, a certeza do eu é uma consequência da focalização da atenção em estados momentâneos da corrente de consciência. Encarado do ponto de vista de sua filosofia posterior, que chamava de "empirismo radical" , o aspecto mais significativo de sua discussão psicológica do fluxo de consciência foi sua insistência no fato de que a consciência de relações é parte da corrente, não uma construção do espírito superposta a átomos de sensação. "Se afinal há coisas assim como sentimentos, então seguramente como existem relações entre objetos na natureza das coisas, assim segu- ramente , e mais ainda seguramente, existem sentimentos aos quais Bruno Typewriter ciente. As definições de Peirce, tanto de verdade quanto de signi- ficado dependiam de processos públicos. As definições de James para as mesmas categorias eram bem mais subjetivas e pessoais. Como Peirce , James considerava o significado em termos de consequências de uma proposição, pois em todas as formas de pragmatismo, o significado e a verdade acham-se localizados no futuro, de preferência ao passado. As consequências, porém, às quais James se voltava na busca do significado, eram pessoais antes de serem sociais , particulares antes de serem públicas. O significado de uma proposição, para mim, deve ser encontrado em suas consequências particulares em minha experiência prática futura, mesmo que, para você , esse mesmo significado desponte em sua experiência futura. Poder-se-ia traduzir James nesse passo dizendo que o significado deve ser encontrado no fluxo contínuo da corrente de consciência de alguém. O significado de um asserto é o uso que dele posso fazer. Semelhantemente , o autor personalizou sua teoria da verdade; uma proposição verdadeira é a que me leva a alcançar, em minha experiência futura, os resultados que antecipo, e que, pois. satisfazem minhas expectativas, ao passo que uma proposição falsa não me leva aos resultados que antecipo. Investigando a verdade ou a falsidade de uma proposição, a pergunta que estamos fazendo, diz James , é: "que diferença concreta, em sendo verdade, fará em qualquer vida atual de alguém?". Se isso é o que a verdade significa, então é evidente que uma proposição não deve ser tida como verdadeira no momento em que é feita; somente podemos tê- la como verdadeira depois que suas consequências particulares tenham ocorrido na experiência futura de alguém, isso é o que devemos entender na insistência de James a respeito de que "a verdade de uma idéia não é uma propriedade estagnada que lhe seja inerente. A verdade acontece a uma idéia. Toma-se verdadeira, é feita verdadeira pelos acontecimentos". A verdade é, pois, um processo de descoberta. Tanto quanto as idéias científicas estejam em jogo, não haveria maior diferença entre Peirce e James , visto que, para James, um dos critérios das proposições verdadeiras, enquanto guia satisfatório, era social. "As idéias verdadeiras" , disse, "levam à harmonia intrín- seca. à estabilidade, e ao intercurso humano fluente. Afastam da excentricidade e do isolamento , do pensamento estéril e frustrado". A diferença somente aparece quando se considera o tipo de pro- rosição que não tenha diretamente consequências verificáveis de natureza pública. Com respeito a tais proposições, James esrava preparado para examinar as consequências da crença no pronun- ciamento, ao invés das consequências do pronunciamento em si. Se a crença no asserto faz uma diferença na experiência de vida daqueles que acreditam, James estava disposto a garantir a proposição do que chamava de "valor da verdade". O psicólogo em James foi mesmo longe ao ponto de anotar que há alguns exemplos "em que a fé em um fato pode ajudar a criar o fato". Nesses casos, disse James em seu famoso ensaio intitulado "Desejo de Acreditar", nos quais não há uma razão intelectual válida para escolher entre proposições conflitantes, temos o direito de acreditar na alternativa que terá as consequências mais satisfatórias em resultado de nossa crença, a longo prazo e na medida em que podemos prever as consequências. A verdade e o proveito vieram a tornar-se completamente interli- gados na teoria de James. Assim, embora a visão de James da verdade tenha-se desenvolvido a partir da abordagem científica que satisfez completamente aos realistas de seu tempo, com a introdução do "desejo de acreditar, preparou o caminho para as necessidades dos idealistas. Em seu apanhado final da "noção de verdade", disse James que " a verdade" , para falar em poucas palavras, é somente o expediente no caminho de nosso pensamento, justamente como "o direito" é somente o expediente no caminho de nosso comportamento. Essa negativa de verdade absoluta não casou bem com o pensamento do colega mais moço de James no departamento de filosofia de Harvard , Josiah Royce , que quis saber se James ficaria satisfeito em pór uma testemunha no banco no tribunal e fazê-la jurar a contar "o expe- diente , nada mais que o expediente e somente o expediente, e assim ajudá-la em sua experiência futura". E, certamente, até mesmo os membros do clero que apreciavam o préstimo proporcionado pelo "desejo de acreditar" à doutrina da existência de Deus, ficaram desapontados com o tratamento de James dado à "verdade", como meramente um comportamento de expediente, de preferência à conformidade a um padrão ético absoluto. James mesmo jamais negou que pudesse haver um padrão ético; viu, porém, que todas as tentativas no sentido de estabelecer um modelo dessa natureza careciam, de aplicabilidade universal. Viu em todas, todavia, uma característica comum , isso é, que todas são tentativas no sentido de satisfazer os reclamos de algum ser consciente, e formulou daí como seu padrão moral a satisfação dos reclamos. De modo ideal, todos os reclamos de cada pessoa interessada poderiam teoricamente ser satisfeitos pela mesma iniciativa; na prática, entretanto, os reclamos acham-se sempre em conflito. Ao resolver essa dificuldade, James foi levado a uma virtual reformulação do princípio da "su- prema felicidade" dos militaristas: que é bom, ou é para ser escolhido o curso que satisfaça o maior numero de reclamos do maior número de pessoas. É, em resumo, " o expediente no caminho de nosso comportamento". Muitos filósofos têm ficado profundamente impressionados com a unidade que descobrem no mundo (ou imposta a ele). James ficou mais profundamente impressionado com sua variedade, seu plura- lismo. "A palavra 'ou'" , escreveu certa vez, "designa uma genuína realidade" . Encarava esse "universo pluralístico" de certo modo baseado no modelo da "corrente de consciência". A constituição final da realidade não é nem simples unidade , nem multiplicidade desligada, mas uma conexão "sem solução de continuidade". "Cada parte, embora possa não estar em conexão imediata ou real, está, não obstante , em alguma conexão possível ou mediada com toda outra parte, apesar de remota, através do fato de que cada parte pende junta com os seus vizinhos imediatos em inextricável confusão" . Reconhecia que esse relato do universo dependia de suas discussões anteriores , "da confluência de cada momento pas- sante de experiência sentida concretamente com os seus vizinhos imediatamente próximos". Sua visão pluralística foi contrariada, por um lado, pela idéia dos idealistas, como Royce, para quem toda diversidade era engolfada pelo Absoluto, e, por outro lado, pelo universo fragmentado da versão usual do empirismo, com sua " experiência picada a sensações atomísticas, incapaz de união com outra qualquer, até que um princípio puramente intelectual tivesse se despencado sobre elas vindo do alto, envolvendo-as em suas próprias categorias conjuntivas". Diferenças de visão como essas eram atribuídas por ele a diferen- ças de temperamento. "Uma filosofia é a expressão do caráter íntimo de um homem , c todas as definições do universo não são senão reações de atributos humanos que sobre ele incidem, perfilhadas delibera- damente". Estamos, pois , capacitados a encarar a filosofia do próprio James como evidência da espécie de homem que foi, pois embora Lim filósofo empreste razões impessoais às suas conclusões , " seu temperamento concede-lhe uma distorção muito mais forte do que qualquer de suas premissas mais estritamente objetivas". Que espécie de homem foi William James? Foi um homem cujo treinamento no objetivismo da ciência jamais subjugou completa- mente sua crença idealística, no sentido de que os homens não são meramente uns autómatos, estritamente condicionados por um mun- do mecânico, mas são, pelo menos até certo grau, os construtores e formadores de seu mundo. Foi um homem cujo idealismo jamais o levou ao absurdo de arguir contra a evidência, pois insistia, realisti- camente , que há áreas onde o conhecimento científico exato é possível. Além de que, foi um homem sempre pronto a ser todo ouvido à mais selvagem das teorias, porquanto não podia convencer- se de que toda sabedoria fosse académica ou que houvesse somente um caminho claramente definido no rumo da verdade. Estava inte- ressado pelo novo, de preferência ao velho; pelo pode-ser-verdade, de preferência ao foi-verdade; pelo futuro, de preferência ao passado. O universo em que vivia estava aberto a todos. Talvez o seu mais característico pronunciamento tenha sido de satisfação em sua casa de verão , com quatorze portas, todas abrindo para o lado de fora. Pois , como Jerome Nathanson disse muito bem, "as portas de sua alma do mesmo modo abriam-se para as experiências múltiplas de um mundo em movimento, no qual nada estava assente e muito ainda estava para ser feito". u Prefácio do autor s conferências que se seguem foram pronunciadas no Insti- tuto Lowell, em Boston, em novembro e dezembro de 1906, e em janeiro de 1907, na Universidade de Colúmbia, em Nova Ior- que. Foram impressas conforme o original, sem desenvolvimentos ou notas. O movimento pragmático, chamado assim - não gosto do nome , mas, aparentemente, £ tarúfe demais para mudá-lo - parece ter-se precipitado algo subitamente das alturas. Certo nú- mero de tendências que sempre existiram na filosofia, tornaram-se todas de uma só vez cônscias de si mesmas coletivamente , e de sua missão em conjunto; e isso ocorreu, em tantos países e de tantos pontos de vista diferentes, que daí resultou muito pronunciamento desajustado. Procurei unificar o quadro conforme se me apresenta aos meus próprios olhos, tratando-o em largas pinceladas, e evitan- do as controvérsias miúdas . Muita controvérsia fútil poderia ter sido evitada , acredito, se nossos críticos estivessem dispostos a aguardar até que tivéssemos dado conta de nossa mensagem. Se minhas conferências interessam a algum leitor de assunto geral, sem dúvida que desejará ler mais a respeito. Envio-o, por- tanto , a algumas fontes. Na América, Studies in Logical Theory, de John Dewey, são fundamentais . Ler, também, por Dewy, os artigos em Philosophical Review , vol. XV, páginas 113 e 465, em Mind, vol. XV, página 293, e em Journal of Philosophy, vol. IV, página 197. Provavelmente , os melhores pronunciamentos para se come- çar, entretanto, são os de F.C.S. Schiller, em seus Studies in Bruno Textbox 23 Humanism, especialmente os ensaios de números I, V, VI, VII, XVIII e XIX. Seus ensaios anteriores e, em geral, a literatura polemica sobre o assunto, recebem citação por extenso em suas notas de rodapé. Mais ainda, ver J. Milhaud: Le Rationnel, 1898, e os finos artigos de Le Roy em Revue de Métaphysique, vols. 7, 8 e 9. Ver, também, os artigos de Blondel e De Sailly em Annales de Philo- sophie Chrétienne, 4ème Série, vols. 2 e 3. Papini anuncia um livro a respeito de Pragmatismo, em língua francesa, para ser publicado em breve. A fim de evitar pelo menos um mal-entendido, digo que não há conexão lógica entre o pragmatismo, como eu o compreendo, e uma doutrina que dei a lume recentemente como "empirismo ra- dical Essa última se sustenta por si própria. Pode-se rejeitá-la por inteiro e ainda assim continuar sendo um pragmatista. Universidade de Harvard, abril de 1907. a Primeira Conferência O atual dilema da filosofia o Prefácio à sua admirável coleção de ensaios, intitulada Heretics, Chesterton escreve essas palavras: "Há algumas pessoas - e eu sou uma delas - que pensam que a coisa mais prática e importante relativamente a um homem é ainda sua visão do universo. Achamos que para uma senhoria que considera o seu inquilino, o importante é conhecer os seus rendimentos, porém ainda mais importante é conhecer sua filosofia. Achamos que para um general prestes a combater um inimigo, o importante é saber o número de inimigos, porém mais importante ainda é saber a filosofia do inimigo. Achamos que a questão não é se a teoria do cosmos afeta os negócios, e sim, porém, se a longo prazo são afetados por alguma coisa". Afino com Chesterton nesse particular. Sei que vocês, senhores e senhoras, têm uma filosofia, cada qual e todos vocês, e que a coisa mais interessante e importante é a maneira pela qual determina a perspectiva em seus diversos mundos. Vocês sabem o mesmo de mim. E, não obstante, confesso um certo tremor pela audácia da tarefa que estou prestes a encetar. Para a filosofia, o que é tão importante em cada um de nós não é um preparo técnico; é o nosso mais ou menos senso comum do que a vida honesta e profundamente significa. É somente em parte obtido nos livros; é a nossa maneira individual de ver e sentir exatamente a carga total e pressão do cosmos. Não tenho direito de presumir que muitos de vocês sejam estudantes do cosmos , no sentido escolar, porém aqui estou eu desejoso de interessá-los por uma filosofia que, em não menor Bruno Textbox 25 extensão, tem de ser tratada tecnicamente. Desejo fazer com que simpatizem com uma tendência contemporânea, na qual acredito profundamente, e, entretanto, tenho de falar como um professor a quem não é estudante. Qualquer que seja o universoem que o professor acredite, deve ser, de qualquer modo, um universo que se preste a um discurso prolongado. Um universo definível em duas palavras é alguma coisa para a qual o intelecto professoral não tem uso. Nenhuma fé em qualquer coisa de espécie tão barata! Temos visto amigos e colegas tentarem popularizar a filosofia nesse mesmo recinto, mas logo se tornam áridos e, então, técnicos, e os resultados somente em parte foram encorajadores. Desse modo, minha tarefa é ousada. O próprio fundador do pragmatismo deu recentemente um curso de conferências no Instituto Lowell, referente ao título em epígrafe - coriscos de luz brilhante dardejados contra a nossa ignorância crassa! Nenhum de nós, suponho, compreendeu tudo quanto ele disse - e, contudo, aqui estou eu, arriscando-me a uma aventura semelhante. Corro o risco porque essas mesmas conferências de que falo arrastaram - atraíram bom auditório. Há, deve-se confessar, uma curiosidade fascinante em escutar coisas elevadas expostas em palestras, mesmo que nem nós, nem os expositores, as compreendam. Somos levados pela emoção da problemática, sentimos a presença da vastidão. Deixem uma controvérsia tomar pé em um recanto qualquer, seja sobre livre arbítrio ou a onisciência de Deus, seja sobre o bem e o mal, e vejam quantos em roda começam a prestar atenção. Os resultados da filosofia dizem respeito a todos nós de maneira fundamental, e os mais intrigantes argumentos filosóficos titilam agradavelmente o nosso senso de sutileza e de inventiva. Acreditando eu mesmo devotamente na filosofia, e acreditando também em que uma nova espécie de aurora desponta para nós, filósofos, sinto-me impelido, por fas ou por nefas, a tentar comuni- car-lhes algumas novas da situação. A filosofia é, ao mesmo tempo, a mais sublime e a mais trivial das empreitadas humanas. Opera nas brechas mais estreitas e se abre para os mais vastos horizontes. Não "enche barriga", como já foi dito, mas pode inspirar nossas almas com coragem; e repelente como suas maneiras, suas dúvidas e desafios, seus sofismas e dialéticas frequentemente o são para a gente comum, nenhum de nós pode prosseguir sem a luz longínqua que espraia pelas pers- pectivas do mundo. Esses clarões, pelo menos, e os efeitos contras- tantes de mistério e escuridão que os acompanham, emprestam ao que diz um interesse que é muito mais que profissional. A história da filosofia é, em grande parte, a de uma certa colisão de temperamentos humanos. Indigno que possa parecer a alguns de meus colegas um tal tratamento, terei de levar em conta esses choques e explicar por seu intermédio grande parte das divergências filosóficas. Qualquer que seja o temperamento de um filósofo profissional, trata, quando filosofando, de encobrir o fato de seu temperamento. O temperamento não é razão convencionalmente admitida, com o que lança mão das razões impessoais somente para as conclusões. Seu temperamento, contudo, confere-lhe uma distor- ção mais forte do que qualquer de suas premissas mais estritamente objetivas. Sobrecarrega-lhe a evidência desse modo ou de outro, estabelecendo uma visão mais sentimental ou mais realística do universo, justo como esse fato ou aquele princípio o fariam. Confia em seu temperamento. Necessitando de um universo que se lhe adapte, acredita em qualquer representação de universo que se lhe adapta. Sente que os homens de temperamento oposto estão fora de sintonia com o caráter do mundo, e em seu íntimo considera-os incompetentes e "por fora" do negócio filosófico, embora mesmo possam excedê-lo a perder de vista em matéria de habilidade dia- lética. No tribunal, todavia, não pode reivindicar, na simples base de seu temperamento, por autoridade ou discernimento superiores. Decorre daí , pois, uma certa insinceridade em nossas discussões filosóficas: a mais poderosa de nossas premissas jamais é mencio- nada. Estou certo de que contribuiria para a clareza se, nessas conferências , rompêssemos essa regra e a mencionássemos, e eu, de minha parte, sinto-me livre para poder agir dessa maneira. Naturalmente que falo aqui de homens positivamente bem marca- dos , homens de idiossincrasia radical, que impuseram sua chancela e feitio à filosofia , e figuram em sua história. Platão, Lock, Hegel, Spencer , são esses pensadores sentimentais. Muitos de nós, natu- ralmente , não têm um temperamento intelectual definido, somos uma mistura de ingredientes contrários, cada qual presente em proporções bem moderadas. Conhecemos imperfeitamente nossas próprias preferências em matéria de assuntos abstratos; alguns de nós somos facilmente desalojados da conversa, e terminamos por seguir a moda ou nos harmonizamos com as crenças do filósofo mais impressionante da vizinhança, seja qual for. Uma coisa, porém, que tem pesado até agora na filosofia é que um homem deve ver as coisas, vê-las diretamente em sua própria maneira peculiar de ver, e não se satisfazer com qualquer modo contrário de vê-las. Não há razão em supor que essa forte visão temporamental vá de agora por diante deixar de contar na história das crenças humanas. Agora, a diferença particular de temperamento que tenho em mente ao estabelecer essas observações é a que tem sido levada em conta em literatura, arte, governo e costumes, tanto quanto em filosofia. Em maneiras, encontramos pessoas formalistas e desen- voltas. Em governo, autoritários e anarquistas. Em literatura, puristas ou académicos, e realistas. Em arte, clássicos e românticos. Reco- nhecem-se esses contrastes como familiares; bem, em filosofia temos um contraste bem semelhante expresso pelo par de termos "racionalista" e "empírico", este último significando o adepto dos fatos em toda a sua crua variedade, e "racionalista" traduzindo o devoto aos princípios eternos e abstratos. Ninguém consegue viver uma hora sem fatos e princípios, com o que é antes uma diferença de ênfase; gera, contudo, antipatias do mais pungente caráter entre os que põem a nota enfática diferentemente; e acharemos extraordi- nariamente conveniente expressar um certo contraste nos modos dos homens tomarem seu universo, falando do temperamento "em- pírico" e do "racionalista". Esses termos tornam o contraste simples e sólido. Mais simples e sólido do que isso, são, usualmente, os homens de quem os referidos termos são predicados. Pois cada tipo de permutação e de combinação é possível na natureza humana; e se agora procedo a definir mais completamente o que tenho em mente quando falo de racionalistas e empíricos, acrescentado a cada um desses títulos algumas características qualificativas secundárias, solicito considerarem minha conduta como arbitrária, até um certo ponto. Seleciono tipos de combinação que a natureza oferece muito frequentemente, mas de maneira alguma uniformemente, e os seleciono somente por sua conveniência em auxiliar-me em meu propósito posterior de caracterizar o pragmatismo. Historicamente, encontramos os termos "intelectualismo" e "sensacionalismo" usa- dos como sinónimos de "racionalismo". Bem, a natureza parece combinar mais frequentemente com o intelectualismo uma tendência idealística e otimista. Os empíricos, por outro lado, são comumente materialistas, e o seu otimismo é apto a ser decididamente condicio- nal e trémulo. O racionalismo é sempre monístico. Parte dos con- juntos e dos universais, e faz muito com a unidade das coisas. O empirismo parte das partes, e faz do todo uma coleção - não é, pois, absurdo chamá-lo de pluralístico. O racionalismo usualmente considera-se mais religioso do que o empirismo, mas há muito que dizer a respeito dessa pretensão, pelo que meramente faço-lhe menção. É pretensão verdadeira quando o racionalista individual é o que é chamado um homem de sentimentos, e quando o empírico individual jacta-se de ser um racionalista. Nesse caso, o raciona- lista usualmente também estará a favor do que é chamado livrearbítrio, e o empírico será um fatalista - faço uso dos termos mais popularmente correntes. O racionalista, finalmente, será de tempe- ramento dogmático em suas afirmações, ao passo que o empírico pode ser mais cético e aberto às discussões. Escreverei esses traços abaixo em duas colunas. Penso que se reconhecerá praticamente os dois tipos de construção mental que tenho em mente se encimo as colunas pelos títulos "espírito terno" e "espírito duro", respectivamente. Espírito terno Espírito duro Racionalista (que segue "princípios") Intelectualista Idealista Otimista Religioso Livre arbitrista Monista Dogmático Empírico (que segue "fatos") Sensacionalista Materialista Pessimista Irreligioso Fatalista Pluralista Cético Peço retardar por um momento a questão que implica se as duas misturas contrastantes que alinhei são cada qual interiormente coe- rentes e auto-adaptadas ou não - logo estarei em condições de ter muito o que dizer a respeito. Basta para nosso propósito imediato que o espírito terno e o espírito duro como pessoas, caracterizadas conforme estabeleci, existem ambos. Cada um dos senhores pro- vavelmente conhece alguns exemplos bem marcantes de cada tipo, e os senhores sabem o que cada exemplo pensa do exemplo do outro lado da coluna. Têm uma opinião baixa um do outro. Seu antagonismo , sempre quando como indivíduos seus temperamentos foram fortes , tem formado em todas as idades uma parcela da atmosfera filosófica da época. Forma parte da atmosfera filosófica de hoje. O duro considera o terno como sentimentalista e idealista. O temo acha que o duro não é refinado, e sim bruto ou grosso. Sua reação mútua é bem parecida com a que sucede quando turistas sofisticados topam com a população de um lugarejo em caixa- pregos. Cada tipo acredita que o outro seja inferior; mas o desdém em um caso vem misturado com distração, no outro tem uma ponta de medo. Agora, como já insisti anteriormente, poucos de nós somos puros e simples turistas sofisticados, e poucos são típicos capiaus do interior, em filosofia. Muitos de nós têm um anelo pelas boas coisas em ambos os lados da linha. Os fatos são bons, naturalmente - queremos fatos aos montes. Os princípios são bons - queremos princípios a mancheias. O mundo é indubitavelmente um se você o olha de certo modo, mas sem dúvida é muito se você o olha de outra maneira. E tanto um quanto muito - adotemos uma espécie de monismo pluralístico. Tudo, naturalmente, é necessariamente determinado e, não obstante, naturalmente nossas vontades são livres: uma espécie de determinismo livre-arbítrio é a verdadeira filosofia. O mal das artes é inegável, mas o todo não pode ser mau: assim, o pessimismo prático pode ser combinado ao otimismo metafísico. E assim por diante - o leigo comum de tendências filosóficas não sendo jamais um radical, jamais extravasando de seu sistema, mas vivendo vagamente em um compartimento plau- sível de um ou de outro, para se acomodar às tentações das horas sucessivas. Alguns de nós, porém, somos mais que meros leigos em filo- sofia. Somos dignos do nome de atletas amadores , e nos sentimos vexados com tanta incongruência e vacilação em nosso credo. Não podemos preservar uma consciência intelectual condigna enquanto nos mantivermos misturando os incompatíveis dos lados opostos da linha. E chego agora ao primeiro ponto positivamente importante que desejo fazer. Nunca houve tantos homens de uma tendência decididamente empírica em existência como os há hoje em dia. Nossas crianças, pode-se dizer, nascem quase científicas. Nossa estima pelos fatos, porém, não nos neutralizou de todo a religiosi- dade. E ela própria quase religiosa. Nosso temperamento científico é devoto. Tome-se agora um homem desse tipo e deixe-se que seja também um amador filosófico, sem disposição para misturar um sistema de mixórdia conforme o modelo de um leigo comum, e que situação acha que é a sua, nesse ano sagrado de nosso Senhor, 1906? Quer fatos; quer ciência; quer, também, porém, uma religião. E sendo um amador e não um criador independente em filosofia, naturalmente que procura por um guia entre os técnicos e profis- sionais que depara já no terreno. Grande número dos senhores aqui presentes, possivelmente a maioria, são amadores justamente desse tipo. Agora, que espécie de filosofia encontra você atualmente ofere- cidas, capazes de atender às suas necessidades? Encontra-se uma filosofia empírica que não é bastante religiosa, e uma filosofia religiosa que não é bastante empírica para os seus propósitos. Se olhar para o sítio onde os fatos são mais considerados, encontra o programa todo dos espíritos duros em operação, e o "conflito entre a ciência e a religião" em plena efervescência. Ou é aquele bruto roceiro de um Haeckel com o seu monismo materialista, seu deus etéreo e sua gozação ao seu Deus como um "vertebrado gasoso"; ou é Spencer tratando a história do mundo como uma redistribuição somente de matéria e de movimento, e despendido a religião poli- damente para fora da porta da frente - pode, na verdade, continuar a existir, mas nunca mais deve mostrar sua face dentro do templo. Por cento e cinquenta anos passados, o progresso da ciência pareceu significar o alargamento do universo material e a diminui- ção da importância do homem. O resultado é o que se pode chamar o crescimento do sentimento naturalístico ou positivista. O homem não é legislador para a natureza, é um absorvente. A natureza é que permanece firme; o homem é que se deve acomodar. Que registre a verdade , embora seja desumana, e se submeta! A espontaneidade e a coragem românticas foram-se, a visão é materialista e deprimente. Os ideais aparecem como subprodutos inertes da fisiologia; o que é mais alto é explicado pelo que é mais baixo, e tratado para sempre como um caso de "nada, a não ser" - nada , a não ser qualquer coisa outra de uma espécie completamente inferior. Tem-se, em suma, um universo materialista, no qual somente o espírito duro se encontra agradavelmente em casa. Se agora, por outro lado, voltarmo-nos para o terreno religioso da consolação, e procurarmos conselho nas filosofias de espírito terno , que encontramos? A filosofia religiosa, em nossos dias e geração, é, entre o povo de língua inglesa, de dois tipos principais. Um desses tipos é mais radical e agressivo, o outro tem mais o ar de estar combatendo em retirada lenta. Por ala mais radical de filosofia religiosa quero dizer o que se chama idealismo transcendental da escola anglo-hegeliana, a filosofia de homens como Green, os Cairds, Bosanquet e Roy. Essa filosofia tem influenciado grandemente os membros mais estudiosos de nossa igreja protestante. É panteísta e, indubitavel- mente, já embotou à grande o gume do teísmo tradicional no pro- testantismo. Esse teísmo, entretanto, permanece. É o descendente linear, através de um estágio de concessão após o outro, do teísmo esco- lástico dogmático ainda ensinado rigorosamente nos seminários da igreja católica. Por longo tempo costumou ser chamada entre nós a filosofia da escola escocesa. É o que eu quero dizer por filosofia que tem o ar de combater em retirada lenta. Entre os abusos dos hegelianos e outros filósofos do "absoluto", por um lado, e os dos evolucionistas científicos e agnósticos, por outro, os homens que nos dão essa espécie de filosofia, James Martineau, professor Bowne, professor Ladd e outros, devem sentir-se algo firmemente constran- gidos. Imparcial e honesta que seja, essa filosofia não é de tempera- mento radical. E eclética, um sistema de compromissos, que procura um modus vivendi acima de todas as coisas. Aceita os fatos do darwinismo, os fatos da fisiologia cerebral, mas não faz nada ativo ou entusiástico com eles. Carece da tónica agressiva ou vitoriosa. Carece de prestígio, em consequência; enquanto o absolutismo tem um certo prestígio, devido aoseu estilo mais radical. Esses dois sistemas são o que se tem à escolha, se nos voltamos para a escola de espírito terno. E se você é o apaixonado pelos fatos que suponho ser, dá com a trilha da serpente do racionalismo, do intelectualismo, por sobre tudo que jaz naquele lado da linha. Você escapa, na verdade, do materialismo que acompanha o empirismo reinante; mas paga por sua escapada perdendo contato com as partes concretas da vida. Os filósofos mais absolutistas pairam em um nível tão alto de abstração, que nem mesmo tentam alguma vez descer aqui em baixo. O absoluto espiritual que nos oferecem, o espírito que plasma nosso universo por pensá-lo, podia, pois alguma coisa nos mostram ao contrário, ter feito qualquer de um milhão de outros universos, tanto quanto este. Não se pode deduzir dessa noção nenhum particular simples e real. É compatível com qualquer estado de coisas, o que quer que seja sendo verdadeiro aqui embaixo. E o Deus teístico é quase um princípio estéril. Tem-se de ir ao mundo que criou a fim de ter-se qualquer vislumbre de seu ver- dadeiro caráter: é a espécie de deus que, de uma vez por todas, fez aquela espécie de mundo. O Deus dos escritores tefsticos vive em alturas tão puramente abstratas quanto o Absoluto. O absolutismo tem um caráter mais de varredura e de arremetida a esse respeito, ao passo que o teísmo mais usual é mais insípido, porém ambos são igualmente remotos e vazios. O que se precisa é uma filosofia que não somente exercite os poderes de abstração intelectual, mas que estabeleça alguma conexão positiva com o mundo real de vidas humanas finitas. Precisa-se de um sistema que combine ambas as coisas, a lealdade científica aos fatos e disposição em levá-los em conta, o espírito de adaptação e de acomodação, em suma, mas também a velha confiança nos valores humanos e na espontaneidade resultante, seja do tipo religioso ou romântico. E esse é, então, o dilema: encontramos as duas partes do quesito desesperadamente separadas. Vê-se empirismo com desumanismo e irreligião; ou então encontra- mos uma filosofia racionalista que, na verdade, pode chamar-se religiosa, mas que se mantém fora de toda e qualquer relação com os fatos concretos e alegrias e tristezas. Não estou muito certo de quantos dos senhores vivem o bastante em intimidade com a filosofia para compreender integralmente o que tenho em mente com essa última reprovação, com o que ficarei um pouco mais de tempo a repisar sobre essa irrealidade em todos os sistemas nacionalistas pelos quais o crente sério em fatos se encontra apto a sentir-se repelido. Quisera ter poupado as primeiras páginas de uma tese que um estudante me passou às mãos um ano ou dois atrás. Ilustravam meu ponto tão claramente que tenho pena de não poder lê-las agora. Esse jovem, formado por alguma faculdade do oeste, começava dizendo que tinha tido sempre como certo o fato de que, quando se entra em uma classe de filosofia , tem-se de estreitar relações com um universo inteiramente distinto daquele que se deixou lá atrás na rua . Supunha-se que os dois, disse, tinham tão poucas relações um com o outro , que não se podia possivelmente ocupar o espírito com eles ao mesmo tempo. O mundo de experiências pessoais concretas ao qual a rua pertence é heterogéneo, além da imaginação, enredado, obscuro , doloroso e enigmático. O mundo ao qual o professor de filosofia o introduz é simples , claro e nobre. As contradições da vida real acham-se ausentes dele. Sua arquitetura é clássica. Os princípios da razão traçam os seus delineamentos, as necessidades lógicas cimentam suas partes. A pureza e a dignidade são o que mais expressa. É uma espécie de templo marmóreo brilhando no alto de uma colina. Evidentemente, é bem menos um relato desse mundo real do que um acréscimo patente erguido sobre ele, um santuário clássico no qual a imaginação racionalista pode ter refúgio do caráter into- leravelmente gótico e confuso que os meros fatos apresentam. Não é uma explanação de nosso universo concreto, é outra coisa completamente, um substituto, um remédio, uma saída de escape. O seu temperamento, se posso usar a palavra temperamento aqui, é completamente diferente do temperamento de existência no concreto. Refinamento é o que caracteriza nossas filosofias inte- lectualistas. Satisfazem esplendidamente a ânsia por um objeto refinado de contemplação, que é um apetite tão poderoso do espírito. Peço, porém, com toda a seriedade, que olhem em torno desse universo colossal de fatos concretos, em sua medonha confusão, suas surpresas e crueldades, na selvageria que mostram, e então que me contem se "refinado" é o único e inevitável adjetivo que vem aos lábios. O refinamento tem o seu lugar, é bem verdade. Mas uma filosofia que nada transpira, a não ser refinamento, jamais satisfará o tem- peramento empírico. Parece antes um monumento de artificialidade. Assim, encontramos homens de ciência que preferem voltar as costas à metafísica como a alguma coisa enclausurada e espectral, e homens práticos espanando o pó da filosofia de suas botas e atendendo ao apelo da natureza. Verdadeiramente , há algo fantasmagórico na satisfação com que um sistema puro, mas irreal, enche um espírito racionalista. Leibnitz foi um espírito racionalista, infinitamente mais interessado em fatos do que muitos espíritos racionalistas podem mostrar. Não obstante, se quisermos um exemplo de superficialidade encarnada, há de ler apenas aquele livro encantadoramente escrito, Teodicéia, no qual procura justificar os caminhos de Deus ao homem, e provar que o mundo em que vivemos é o melhor dos mundos possíveis. Citemos um exemplo. Dentre outros obstáculos a essa filosofia otimista, Leibnitz deixa de considerar o número dos eternamente em danação. Esses são em número infinitamente maior, no nosso caso humano, do que os salvos, o que aceita como premissa dos teólogos, e então prossegue argumentando nesse sentido. Diz ele: "O mal aparecerá como quase nada em comparação com o bem, se considerarmos a real magnitude da Cidade de Deus. Celius Secundus Curió escreveu um livro pequeno, De Amplitudine Regni Celestis, que foi reimpresso não faz muito tempo. Ele falhou, porém, em alcançar a extensão do reino dos céus. Os antigos faziam pouca idéia das obras de Deus... Parecia-lhes que somente a nossa terra tinha habitantes, e até mesmo a noção de antípodas fazia-os vacilar. O resto do mundo para eles consistia de alguns globos brilhantes e de algumas esferas cristalinas. Hoje, porém, quaisquer que sejam os limites que possamos conceder ou recusar ao universo, devemos reconhecer nele um número incontável de globos, tão grandes quanto o nosso ou maiores, que têm tanto direito quanto o nosso de suportarem habitantes racionais, embora daí não se infira que esses todos tenham de ser homens. Nossa terra é somente um dentre os seis principais satélites de nosso sol. Como todas as estrelas fixas são sóis, vê-se quão pequeno é o lugar que nossa terra ocupa entre as coisas visíveis, visto que é somente um satélite de uma estrela entre tantas. Ora, todos esses sóis podem ser habitados , e somente por criaturas felizes; e nada nos obriga a acreditar que o número de pessoas em danação seja muito grande; pois uns poucos exemplos e amostras bastam para a utilidade que o bem saca do mal. Ainda mais , visto que não há razão para supor que há estrelas por toda parte, não pode haver um grande espaço além da região das estrelas? E esse imenso espaço, circundante dessa região toda... pode estar repleto com felicidade e glória... Que se pode considerar agora de nossa Terra e de seus habitantes? Não diminui para alguma coisa incomparavelmente menor do que um ponto físico , visto que nossa Terra não é senão um ponto comparado com a distância das estrelas fixas. Assim, a parte do universo que conhecemos, estando quase perdida em nada, com- paradocom o que é desconhecido para nós, mas que somos, entre- tanto , obrigados a admitir; e todos os males que sabemos existirem nesse quase nada; segue-se que os males podem ser quase nada em comparação com os bens que o universo contém". Leibnitz continua em outra parte: "Há uma espécie de justiça que visa não à emenda do cri- minoso , não à concessão de um exemplo aos outros, não à repara- ção de uma injúria. Essa justiça fundamenta-se em pura propriedade, que encontra uma certa satisfação na expiação de uma ação daninha. Os seguidores de Sozzini e Hobbes objetaram contra essa justiça punitiva, que é propriamente justiça vindicativa, e que Deus reser- vou para si em muitas ocasiões... Fundamenta-se sempre na propriedade das coisas, e satisfaz não somente a parte ofendida, mas todos os espectadores esclarecidos, do mesmo modo que uma bela música ou uma fina obra de arquitetura satisfaz um espirito bem constituído. É assim que os tormentos do danado continuam, mesmo que não mais sirvam para desviar alguém do pecado, e que as recompensas do abençoado continuam, mesmo que não confir- mem ninguém no bom caminho. Aqueles em danação atraem para si sempre novas penas por seus contínuos pecados, e os abençoados atraem sempre novas alegrias por seu incessante progresso no bem. Ambos os fatos fundamentam-se no princípio da retidão... pois Deus fez todas as coisas harmoniosas em perfeição, como já disse". A débil pegada da realidade por Leibnitz é evidente demais para exigir comentários de minha parte. É evidente que nenhuma imagem realística da experiência de uma alma danada jamais se aproximara dos portais de seu espírito. Nem lhe havia ocorrido que quanto menor é o número de "exemplos" do género "alma-perdida", a quem Deus lança como um pedaço de pão embebido na eterna retidão, maior é a glória do bem-aventurado injustamente preso ao chão. O que nos dá é um frio exercício literário, cuja alegre subs- tância até mesmo o fogo do inferno não esquenta. E não venham dizer-me que para mostrar a vacuidade do filosofar racionalista tive de remontar a uma época ultrapassada. O otimismo do racionalismo dos dias presentes soa falso ao espírito dedicado aos fatos. O universo real é um todo escancarado, mas o racionalis- mo faz sistemas, e os sistemas devem ser fechados. Para os homens na vida prática, a perfeição é alguma coisa distante e ainda em processo de consecução. Isso para o racionalismo é apenas a ilusão do finito e do relativo: o terreno absoluto das coisas é uma perfeição eternamente completa. Encontro um fino exemplo de revolta contra o fútil e vazio otimismo da filosofia religiosa corrente em uma publicação de um valente escritor anarquista, Morrison I. Swift. O anarquismo de Swift vai um pouco além do que o meu, mas confesso que simpatizo, e muito, e alguns dos senhores, eu sei, simpatizarão ardentemente com o seu desgosto pelos otimismos idealísticos atualmente em voga. Começa seu panfleto sobre a Submissão Humana com uma série de itens de reportagens urbanas de jornais (suicídios, mortes por fome e que tais) como espécimes de nosso regime civilizado. Por exemplo: "Após caminhar com muito custo através da neve, de uma ponta a outra da cidade, na vã esperança de arranjar emprego, e com sua esposa e seis filhos sem alimentação e com ordens de abandonar sua casa em uma cabeça-de-porco da zona mais miserável da cidade, por causa de atraso no pagamento de aluguel, John Corcoran, funcionário, acabou hoje com a vida bebendo ácido carbólico. Corcoran perdera sua posição três semanas antes por motivos de doença, e durante o período de disponibilidade, suas magras eco- nomias desapareceram. Ontem obtivera trabalho com uma turma de limpadores de neve da cidade, mas estava muito fraco em virtude da doença, e foi forçado a largar o trabalho após o esforço de uma hora com a pá. Com o que recomeçou de novo a fatigante tarefa de procurar emprego. Completamente desencorajado, Corco- ran retornou ao lar a noite passada para encontrar esposa e filhos sem alimentos e o alvará de despejo pregado à porta. Na manhã seguinte, bebeu o veneno". "Os registros de muitos mais casos encontram-se diante de mim (prossegue Swift); uma enciclopédia poderia facilmente ser preenchida com casos dessa espécie. Esses poucos eu cito como uma interpretação do universo. 'Estamos certos da presença de Deus nesse mundo, , diz um escritor em uma revista inglesa re- cente. 'A presença mesmo do mal na ordem temporal é a condição da perfeição da ordem eterna,, escreve o professor Royce {The World and the Individual , II, 385). 'O absoluto é mais rico para cada discórdia e para toda a diversidade que abarca', diz F. H. Bradley (Appearance and Reality, 204). Quer dizer que esses homens assassinados tornam o universo mais rico , e que isso é filosofia. Mas enquanto os professores Royce e Bradley e uma turma toda de consumados pensadores inocentes estão descobrindo a Realidade e o Absoluto e explicando o mal e a dor, essa é a condição dos únicos seres que conhecemos em qualquer parte do universo, com uma consciência desenvolvida do que é o universo. O que essas pessoas experimentam é a realidade . Dá-nos uma fase absoluta do universo. E a experiência pessoal daqueles mais bem qualificados em nosso círculo de conhecimento a ter experiência , a contar-nos o que é. Agora, que adianta pensar a respeito da experiência que essas pessoas vieram a ter, comparado ao sentir direta e pessoalmente o que sentiram? Os filósofos brincam com sombras, enquanto os que vivem e sentem conhecem a verdade. E o espirito da humanidade - não , porém, o espirito dos filósofos e da classe proprietária - mas o da grande massa de homens que pensam e sentem em silêncio, está chegando a essa concepção. Estão julgando o universo da mesma maneira que até agora permitiram que os hierofantes da religião e do conhecimento os julgassem..." "Esse trabalhador de Cleveland, matando seus filhos e a si mesmo (outro dos casos citados), é um dos fatos elementares es- tupendos do mundo moderno e do universo. Não pode ser mi- nimizado ou justificado por todos os tratados a respeito de Deus, do amor e do ser, irremediavelmente existentes em sua monumental vacuidade. Isso é um dos elementos simples irredutíveis da vida do mundo, após milhões de anos de oportunidade e de vinte séculos de Cristo. É no mundo mental o que os átomos ou sub-átomos são no físico, primários, indestrutíveis. E o que alardeia ao homem é a impostura de toda filosofia , que não vê nesses acontecimentos o fator consumado de toda experiência consciente. Esses fatos provam irretorquivelmente que a religião é uma nulidade. O homem não concederá à religião dois mil séculos ou vinte séculos mais para se pôr à prova e desperdiçar o tempo humano. Esse tempo esgotou-se; sua provação terminou; o seu próprio registro liquida-a. A humani- dade não tem anos e eternidades para desperdiçar, ensaiando sistemas desacreditados"., Essa é a reação de um espírito empírico ante o cardápio de um racionalista. É um absoluto "não, muito obrigado". "A religião", diz Swift, "é como um sonâmbulo, para quem as coisas reais são vazias". E esse, embora menos tensamente carregado com sentimento, é o veredicto de cada amador que pesquise seriamente em filosofia hoje em dia, e que se volte para o professor de filosofia para satisfazer plenamente as necessidades de sua natureza. Os escritores empíricos oferecem-lhe materialismo, os racionalistas dão-lhe alguma coisa religiosa, mas para essa religião "as coisas reais são vazias" . Torna-se, pois, o juiz dos filósofos. Terno ou duro, descobre " Morrison I. Swift, Human Submissiony segunda parte, Filadélfia, Liberty Press, 1905, páginas. 4-10 que também estamos necessitados. Nenhum de nós pode tratar seu veredicto com desdém, pois, apesar de tudo, ele é o espírito tipica- mente perfeito, o espírito cujasoma de necessidade é a maior, o espírito cujos criticismo e desgostos são fatais a longo prazo. É nesse ponto que a minha própria solução começa a aparecer. Ofereço a coisa singularmente chamada de pragmatismo como uma filosofia que pode satisfazer a ambas as espécies de procuras. Pode permanecer religiosa como os racionalismos, mas, ao mesmo tempo, como os empirismos, pode preservar a intimidade mais rica com fatos. Espero que possa estar em condições de deixar em muitos dos senhores uma opinião tão favorável a seu respeito quanto a que eu mesmo tenho dela. Como, porém, estou próximo do término de meu tempo, não farei uma apresentação integral do pragma- tismo por hora. Começarei com o assunto em uma próxima vez. Prefiro, no presente momento, retornar um pouco ao que já disse anteriormente. Se qualquer dos senhores aqui presente é um filósofo profis- sional, e alguns dos senhores sei que o são, sem dúvida que terá sentido que o meu discurso até agora tem sido cru até um ponto imperdoável, ou, melhor ainda, até um grau quase incrível. Espírito terno e espírito duro, que desassociação bárbara! E, em geral, quando a filosofia vem toda recheada de delicadezas intelectuais e sutilezas e escrupulosidades, e quando se obtém cada tipo possível de combinação e transição dentro de seus limites, que caricatura brutal e redução das coisas mais altas a mais baixa expressão possível é representar o seu campo de conflito como uma espécie de luta livre entre dois temperamentos hostis! E, de novo, quão estúpido é tratar a abstração dos sistemas racionalistas como um crime, e censurá-lo porque se oferecem como santuários e guaridas, de preferência a prolongamentos do mundo dos fatos. E não são todas as nossas teorias justamente remédios e abrigos? E, se a filosofia deve ser religiosa, como pode ser outra coisa senão um reduto final na fuga à crassidão da superfície da realidade? Que melhor pode fazer senão elevar-nos acima dos nossos sentidos animais e mostrar-nos um outro lar mais nobre para nossos espíritos na grande estrutura de princípios ideais subjacentes a toda realidade, que o nosso intelecto adivinha? Como podem princípios e vistas gerais serem alguma coisa outra e em algum tempo outro senão esboços abstratos? A catedral de Colónia foi construída sem um plano ou desenho arquitetônico? E o refinamento em si abominável? É a rudeza concreta a única coisa que é verdadeira? Acreditem-me, sinto a força total da acusação. O quadro que pintei é, na verdade, monstruosamente super simplificado e rude. Gosto, porém, de todas as abstrações, provam que têm o seu uso. Se os filósofos podem tratar a vida do universo abstratamente, não devem queixar-se de um tratamento abstrato da própria vida da filosofia. De fato, o quadro que dei é, embora bem grosseiro e simples, verdadeiro, literalmente. Os temperamentos, com seus anelos e recusas, determinam o homem em suas filosofias, e sempre o farão. Os detalhes dos sistemas podem ser racionados até as suas últimas consequências, e quando o estudante lida com um sistema, pode, com frequência, esquecer a floresta pela árvore. Quando, porém, o trabalho está encerrado, o espírito sempre realiza o seu grande ato de síntese, e o sistema em seguida se projeta contra alguém como uma coisa viva, com a simples nota estranha da individualidade que ronda nossa memória, como o espectro do homem, quando um nosso amigo ou inimigo está morto. Não somente Walt Whitman podia escrever "quem toca este livro, toca em um homem". Os livros de todos os grandes filósofos são como muitos homens. O nosso sentido de um aroma pessoal essencial em cada um deles, típico, mas indescritível, é o fruto mais apurado de nossa própria educação filosófica realizada. O que o sistema pretende ser é um quadro do grande universo de Deus. O que é - e, oh, tão perfumadamente! - é a revelação de quão intensamente singular é o cheiro pessoal de alguma criatura humana. Uma vez reduzido a esses termos (e todas as nossas filosofias se reduzem a eles em espíritos tornados críticos pelo conhecimento), nosso trato com os sistemas reverte ao informal, à reação humana instintiva de satisfação ou de desagrado. Manifestamo-nos tão peremptórios em nossa rejeição ou aceitação como quando uma pessoa se apresenta candidata ao nosso favor; nossos veredictos vêm recolhidos como simples adjetivos de louvor ou de reprimenda. Medimos o caráter total do universo como o sentimos, contra o sabor da filosofia nos oferecida, e uma palavra é o bastante. "Statt de lebendigen Natur", dizemos, "da Gott die Mensccem schuf hinein" - aquela nebulosa cocção, aquela coisa grosseira e constrangida, aquela artificialidade impertinente, aquele bolorento produto da sala de aula, aquele sonho de doente! Fora com isso. Fora com tudo! Impossível! Impossível! Nosso trabalho a respeito dos detalhes de seu sistema é, na verdade, o que nos proporciona nossa impressão resultante do filó- sofo, mas é à própria impressão resultante que reagimos. A destreza em filosofia é medida pela precisão de nossas reações finais, pelo adjetivo de percepção imediata com que o técnico fere o alvo de assuntos tão complexos. Grande perícia, entretanto, não é necessário para vir o adjetivo. Poucas pessoas têm articulado definitivamente filosofias delas próprias. Quase todos, porém, têm o seu próprio senso peculiar de um certo caráter total no universo, e da insuficiên- cia completa para casá-lo aos sistemas peculiares que conhecem. Simplesmente não abarcam o mundo. Um será por demais gentil; outro, muito pedante; um terceiro, com muito de um cabide de empregos de opiniões; um quarto, muito mórbido; e um quinto, muito artificial, e o que mais. De qualquer modo, ele e nós sabemos de antemão que tais filosofias acham-se fora de prumo e fora de nível e fora de "tacada", e que não é de nossa conta pronunciarmo- nos em nome do universo. Platão, Locke, Spinoza, Mill, Caird, Hegel - evito prudentemente nomes mais chegados a nós - estou certo que para muitos dos senhores, meus ouvintes, esses nomes são pouco mais do que lembranças de muitos modos pessoais curiosos de ser mal sucedido. Seria um absurdo óbvio se tais maneiras de captar o universo fossem realmente verdadeiras. Nós, filósofos, temos de contar com esses sentimentos por parte dos senhores. Como último recurso, repito, será por intermédio deles que todas as nossas filosofias serão julgadas em última análise. A maneira finalmente vitoriosa de olhar as coisas será a maneira mais completamente impressiva para o pendor normal dos espíritos. Uma palavra mais - especialmente sobre filosofias, que são necessariamente contornos abstratos. Há projeções e projeções, projeções de edifícios que são gordos, concebidos em um volume cúbico por seu planejador, e projeções de edifícios em planta baixa no papel, com ajuda de régua e compasso. Esses permanecem ma- gros e macilentos mesmo quando erigidos com pedra e argamassa, e o esboço já sugere o resultado. Um esboço em si é seco, na verdade, mas não sugere necessariamente uma coisa magra. É a magreza essencial do que é sugerido pelas filosofias racionalistas usuais que impele os empíricos ao seu gesto de rejeição. O caso do sistema de Herbert Spencer exemplifica bem a questão. Os racionalistas sentem a sua medonha ordem de insuficiências . O seu temperamento seco de mestre-escola , a sua monotonia de realejo, sua preferência por expedientes baratos na argumentação, sua falta de educação mesmo em princípios mecânicos, e em geral a vagueza de todas as suas idéias fundamentais, o arcabouço geral de seu sistema, como se fora armado a marretadas com tábuas rachadas - e, todavia, metade da Inglaterra quer enterrá-lo na abadia de Westminster. Por quê? Por que Spencer invoca tanta reverência, a despeito de sua fraqueza aos olhos racionalistas? Por que tantos homens edu- cados que sentem tal fraqueza, você e eu, talvez, não obstante desejamvê-lo na abadia? Simplesmente porque sentimos que seu coração está no lugar certo filosoficamente. Seus princípios podem ser todos pele e osso, mas, de qualquer modo, seus livros tentam amoldar-se à configuração particular da carcaça desse mundo parti- cular. O bulício dos fatos ressoa através de todos os seus capítulos, as citações de fatos nunca cessam, dá ênfase aos fatos, volta-se para onde estão; e isso é o que basta. Significa a espécie certa de coisa para o espírito empírico. A filosofia pragmática, da qual espero começar a falar em minha próxima conferência, preserva como cordial uma relação com os fatos, e, diferente da filosofia de Spencer, nem começa e nem termina pondo as construções religiosas positivas para fora da porta - trata-as cordialmente, do mesmo modo. Espero poder levá-los a achar que essa filosofia é o caminho de pensamento que procuravam. tn Segunda Conferência O que significa o Pragmatismo A lguns anos atrás, participando de uma festa campestre nas montanhas, retornava de uma perambulação solitária quando encontrei a todos ocupados em uma feroz disputa metafísica. O corpus da disputa era um esquilo - um esquilo vivo que se supunha estar agarrado a um lado de uma árvore; enquanto do outro lado oposto da árvore, imaginava-se estar um ser humano. Essa teste- munha humana tenta ver o esquilo movendo-se rapidamente em torno da árvore , mas não importa quão rápida se mova, o esquilo se movimenta também rapidamente na direção oposta, e sempre mantém a árvore entre si e o homem , de maneira que jamais o tem em vista . O problema metafísico resultante agora é esse: O homem anda em torno do esquilo ou não? Ele anda em torno da árvore, certo , e o esquilo está na árvore; ele anda, porém, em torno do esquilo? Na ilimitada ociosidade da vastidão , a discussão havia chegado a nenhuma conclusão. Todos tinham tomado partido, e obstinadamente; e o número de contendores em cada lado se igua- lava . Cada lado, quando apareci, portanto, apelou para mim para fazer a maioria . Atento ao adágio escolástico de que sempre quando se encontra uma contradição deve-se fazer uma distinção, imedia- tamente procurei e encontrei uma, como se segue: "o lado que está certo" , disse, "vai depender do que se entende praticamente por 'ir em 10010, do esquilo. Se se entende passar do norte dele para o leste , então para o sul, então para o oeste, e então para o norte dele de novo , é óbvio que o homem vai em torno dele, pois ocupa essas posições sucessivas. Se, porém, ao contrário, entende-se que Bruno Textbox 43 primeiro está em frente a ele, então, à sua direita, então, atrás, então, à esquerda, e, finalmente, de novo em frente dele, é comple- tamente óbvio que o homem deixa de ir em torno do esquilo, pois pelos movimentos compensadores que o esquilo faz, mantém o seu ventre voltado para o homem todo o tempo, e as suas costas voltadas para o lado oposto. Faça-se a distinção, e não haverá ocasião para qualquer disputa posterior. Os dois lados estão ao mesmo tempo certos e errados, de acordo com o que se conceba em relação à locução 4ir em torno,, em um sentido prático ou em outro". Embora um ou dois dos disputantes mais inflamados dissessem que minha resposta fora uma evasiva, argumentando que queriam não subterfúgios ou disputas escolásticas, mas uma definição honesta da expressão "em torno", a maioria parecia pensar que a distinção havia decidido o debate. Narro este episódio banal porque é um exemplo peculiarmente simples do que desejo agora falar como sendo o método pragmático. O método pragmático é, primariamente, um método de assentar disputas metafísicas que, de outro modo, se estenderiam intermina- velmente. E o mundo um ou muito? - predestinado ou livre? - material ou espiritual? - eis aqui noções, quaisquer das quais podem ou não valer verdadeiras para o mundo; e as disputas em relação a tais noções são intermináveis./O método pragmático nesses casos é tentar interpretar cada noça(?traçando as suas con- sequências práticas respectivas. j Que diferença praticamente ha- veria para alguém se essa noção, de preferência àquela outra, fosse verdadeira? Se não pode ser traçada nenhuma diferença prática qualquer, então as alternativas significam praticamente a mesma coisa, e toda disputa é vã. Sempre que uma disputa é séria, devemos estar em condições de mostrar alguma diferença prática que decorra necessariamente de um lado, ou o outro está correto. Uma olhada à história da idéia mostrará ainda melhor o que significa o pragmatismo. O termo deriva da mesma palavra grega, 7ipáx%a, que significa ação, do qual vêm as nossas palavras "prática" e "prático". Foi introduzida pela primeira vez em filoso- fia por Charles Peirce, em 1878. Em um artigo intitulado "Como tornar claro nossas idéias", em Popular Science Monthly de janeiro daquele ano,, Peirce, após salientar que nossas crenças são, " Transcrito em Revue Philosophique de janeiro de 1879 (vol. VII). realmente, regras de ação, dizia que, para desenvolver o significado de um pensamento, necessitamos apenas de determinar que conduta está apto a produzir: aquilo é para nós o seu único significado. E o fato tangível na raiz de todas as nossas distinções de pensamento, embora sutil, é que não há nenhuma que seja tão fina ao ponto de não resultar em alguma coisa que não seja senão uma diferença possível de prática. Para atingir uma clareza perfeita em nossos pensamentos em relação a um objeto, pois, precisamos apenas considerar quais os efeitos concebíveis de natureza prática que o objeto pode envolver - que sensações devemos esperar daí, e que reações devemos preparar. Nossa concepção desses efeitos, se imediata ou remota, é, então, para nós, o todo de nossa concepção do objeto, na medida em que essa concepção tenha, afinal, uma significação positiva. Esse é o princípio de Peirce, o princípio do pragmatismo. Per- maneceu inteiramente despercebido por vinte anos, até que eu, em uma alocução perante a reunião filosófica do professor Howison na Universidade da Califórnia, trouxe-o à baila novamente e dei-lhe uma aplicação especial na religião. Por essa época (1898), o tempo parecia propício à sua acolhida. A palavra "pragmatismo" espalhou- se, e, atualmente, transparece em grau razoável nas páginas das publicações filosóficas. Em todas as bandas damo-nos conta do " movimento pragmático", falando às vezes com respeito, às vezes com contumélia; raramente com perfeito conhecimento de causa. E evidente que o termo se aplica convenientemente a um número de tendências que até aqui têm carecido de um nome geral, e que "veio para ficar". Para se ter idéia da importância do princípio de Peirce, deve-se ir acostumando a aplicá-lo aos casos concretos. Descobri a alguns anos atrás que Ostwald, o ilustre químico de Leipzig, esteve fazendo uso perfeitamente distinto do princípio do pragmatismo em suas conferências acerca da filosofia da ciência , embora não o tenha chamado por seu nome. "Todas as realidades influenciam nossa prática", escreveu-me, " e essa influência é o seu significado para nós. Estou acostumado a expor problemas às minhas classes nesses termos: sob que aspectos o mundo seria diferente se essa alternativa ou aquela fosse verda- deira? Se não posso achar nada que o tornasse diferente, então a alternativa não tem sentido" . Isto é , a visão rival significa praticamente a mesma coisa, e não há para nós nenhum sentido que não o prático. Ostwald, em uma conferência publicada, dá exemplo do que quer dizer. Os químicos desde há muito que têm debatido a respeito da constituição interna de certos corpos chamados "tautômeros". Suas propriedades pare- ciam igualmente compatíveis com a noção de que um átomo instável de hidrogénio oscila dentro deles, ou que são misturas instáveis de dois corpos. A controvérsia lavrou,porém nunca chegou a termos. "E nunca teria começado", diz Ostwald, "se os contendores tivessem perguntado a si próprios que fato experimental particular podia ter sido tornado diferente por esse ou aquele ponto de vista ser o correio. Pois, então, teria aparecido que nenhuma diferença de fato podia provavelmente daí decorrer; e a disputa foi tão irreal como se, teori- zando nos tempos primitivos a respeito do crescimento da massa pelo fermento, um grupo invocasse um *duende,, enquanto outro insistisse em um 'alfo, como a causa verdadeira do fenómeno".2 É espantoso de ver-se quantas e quantas disputas filosóficas dão em nada no momento em que a submetemos ao simples teste de traçar uma consequência concreta. Não pode haver nenhuma dife- rença em alguma parte que não faça uma diferença em outra parte - nenhuma diferença em matéria de verdade abstrata que não se expresse em uma diferença em fato concreto e em conduta consequente derivada desse fato e imposta sobre alguém, alguma coisa, em alguma parte e em algum tempo. Toda a função da filosofia deve ser a de achar que diferença definitiva fará para mim e você, em instantes definidos de nossa vida , se essa fórmula do mundo ou aquela outra seja a verdadeira. Não há nada de novo absolutamente no método pragmático. Sócrates foi adepto dele. Aristóteles empregou-o metodicamente. Locke, Berkeley e Hume fizeram contribuições momentâneas à verdade por seu intermédio. Shadworth Hodgson insiste em que as realidades são somente o que sabemos delas. Esses precursores do pragmatismo, porém, usaram-no de maneira fragmentária: apenas 2 "Theorie und Praxis" , Zeitsch. des Oesterreichischen Ingenieur u. Architecten-Vereines, 1905, Nr. 4 u. 6. Encontro um pragmatismo ainda mais radical do que o de Ostwald em uma palestra pelo professor W. S. Franklin: "Penso que a noção doentia da física , mesmo se um estudante a entende, é a de que é 1a ciência das massas , moléculas e do éter' . E eu penso que a noção mais saudável, mesmo se um estudante não a compreende inteiramente é que a física é a ciência dos meios de tomar posse dos corpos e de impulsioná-los"! (Science , 2 de janeiro de 1903). o preludiaram. Não foi senão em nossa época que se generalizou, tomou-se consciente de uma missão universal, aspirou a um destino conquistador. Acredito nesse destino, e espero poder terminar transmitindo-lhes toda a minha fé. O pragmatismo representa uma atitude perfeitamente familiar em filosofia, a atitude empírica, mas a representa, parece-me, tanto em uma forma mais radical quanto em uma forma menos contradi- tória, em relação a que já tenha assumido alguma vez. O pragma- tista! volta as costas resolutamente e de uma vez por todas a uma série de hábitos inveterados, caros aos filósofos profissionais. Afasta- se da abstração e da insuficiência, das soluções verbais, das más razões a priori, dos princípios firmados, dos sistemas fechados, com pretensões ao absoluto e às origens. Volta-se para o concreto e o adequado, para os fatos, a ação e o poder. O que significa o reinado do temperamento empírico e o descrédito sem rebuços do tempera- mento racionalista. O que significa ar livre e possibilidades da natureza, em contraposição ao dogma, à artificialidade e à pre- tensão de finalidade na verdadeN Ao mesmo tempo não pretende quaisquer resultados especiais. É somente um método. O triunfo geral desse método, porém, signi- ficaria uma alteração enorme no que chamei, em minha última conferência, de "temperamento" da filosofia. Os professores do tipo ultra-racionalista têm calafrios só de ouvir isso, igual ao tipo cortesão , que fica gelado ao ouvir falar em república, e ao prelado do tipo ultramontano, que se arrepia em terras protestantes. A ciência e a metafísica poder-se-iam aproximar mais ainda, poderiam mesmo , de fato, trabalhar de mãos dadas. A metafísica tem, comumente, seguido uma trilha muito primi- tiva de interrogatório. Sabe-se quanto os homens têm suspirado por poderes mágicos ilícitos, e se sabe também a grande parte que as palavras sempre desempenharam na magia. Se temos o nome ou a fórmula de encantamento que lhe diz respeito, pode-se controlar o espírito , génio, entidade ou qualquer que seja o poder. Salomão sabia os nomes de todos os espíritos, e, tendo os seus nomes, mantinha-os sujeitos à sua vontadeJAssim, o universo tem sempre aparecido ao espírito natural como uma espécie de enigma, do qual a chave deve ser procurada na configuração de algum nome ou palavra mágica ou iluminada. Essa palavra designa o princípio do universo , e possuí-la é, de certo modo, possuir o próprio universo, "Deus" , "Matéria", "Razão", "Absoluto", "Energia são muitos desses nomes encantados. Podemos repousar quando os temos. Chegamos ao fim de nossa pesquisa metafísica. Se, porém, seguimos o método pragmático, não nos podemos limitar a nenhuma dessas palavras como definitivas. Tem-se de extrair de cada palavra o seu valor de compra prático, pô-lo a trabalhar dentro da corrente de nossa experiência. Desdobra-se, então, menos como uma solução do que como um programa para mais trabalho, e mais particularmente como uma indicação dos caminhos pelos quais as realidades existentes podem ser modificadas. teorias, assim, tornam-se instrumentos, e não respostas aos enigmas, sobre as quais podemos descansar Não ficamos de costas para elas, movemo-nos adiante, e, na ocasião, fazemos a natureza retornar com a sua ajuda. O pragmatismo relaxa todas as nossas teorias, flexiona-as e põe-nas a trabalhar. Não sendo nada essencial- mente novo, se harmoniza com muitas tendências filosóficas antigas. Concorda com o nominalismo, por exemplo, sempre apelando para os particulares; com o utilitarismo, dando ênfase aos aspectos práticos; com o positivismo, em seu desdém pelas soluções verbais, pelas questões inúteis e pelas abstrações metafísicas. Todas essas, vê-se, são tendências antiintelectuais. Contra o racionalismo como uma pretensão e um método, o pragmatismo acha-se completamente armado e militante. Mas, em princípio, pelo menos, não visa resultados particulares. Não tem dogmas e doutrinas, salvo o seu método. Como o jovem pragmatista italiano Papini disse muito bem , situa-se no meio de nossas teorias, como um corredor em um hotel. Inúmeros quartos dão para ele. Em um, pode-se encontrar um homem escrevendo um volume ateístico; no próximo, alguém de joelhos rezando por fé e força; em um terceiro, um químico investigando as propriedades de um corpo. Em um quarto, um sistema de metafísica idealística está sendo excogitado; em um quinto, a impossibilidade da metafísica está sendo demons- trada. Todos, porém, abrem para o corredor, e todos devem passar pelo mesmo se quiserem ter um meio prático de entrar e sair de seus respectivos aposentos. Até então não há nenhum resultado particular, mas somente uma atitude de orientação, que é o que o método pragmático signi- fica. A atitude de olhar além das primeiras coisas, dos princípios, das "categorias das supostas necessidades; e de procurar pelas últimas coisas, frutos, consequências , fatos. Tanta coisa para o método pragmático! Pode-se dizer que o estive louvando, de preferência a explicá-lo, mas, por agora, darei muitas explicações a seu respeito, mostrando como opera em relação a alguns problemas familiares. Nesse meio tempo, a palavra pragma- tismo tem sido usada em um sentido ainda mais amplo, como significando também uma certa teoria da verdade. Pretendo fazer uma conferência sobre essa teoria, após primeiro preparar o terreno, com o que posso ser breve por ora. A brevidade, porém, é dura de seguir, com o que peço a atenção dos senhores por algum tempo. Se permanecer obscuro, espero poder expor o assunto com mais clareza em palestras posteriores. Um dos mais cultivados ramos da filosofia em nosso tempo, e com êxito, é o que se chama
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