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A Bioética e o Aborto na Enfermagem

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E SAÚDE
GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
ALEXIA VICTÓRIA LUZ AVELINO
AMANDA RODRIGUES PEREIRA
BRUNA LUZ LEITE SANTANA
MARIA EDUARDA SILVA GÊNIO
PAULO EDUARDO INÁCIO JÚNIOR
A BIOÉTICA E O ABORTO
SANTOS
2018
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E SAÚDE
GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
ALEXIA VICTÓRIA LUZ AVELINO
AMANDA RODRIGUES PEREIRA
BRUNA LUZ LEITE SANTANA
MARIA EDUARDA SILVA GÊNIO
PAULO EDUARDO INÁCIO JÚNIOR
A BIOÉTICA E O ABORTO
 
Trabalho apresentado a Universidade Católica de Santos, curso de Enfermagem, cadeira de Ética e Bioética, com objetivo de ampliar os conhecimentos em torno das discussões éticas que podem surgir no dia de um profissional de saúde, contemplando nota parcial na matéria.
SANTOS
2018
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho aborda a Bioética e o Aborto, mais concretamente sobre o conceito de abortamento, seus métodos, as possíveis abordagens bioéticas sobre o tema e a visão do profissional, enfocando o grupo de Enfermagem.
O objetivo deste trabalho é compreender como a Bioética pode ser utilizada nas situações que podemos nos deparar como profissionais de saúde, aprofundando nossos conhecimentos acerca do Aborto do ponto de vista médico, jurídico, filosófico e afins.
O trabalho está organizado em oito tópicos, contendo ainda trinta subtópicos. No primeiro tópico abordará o conceito de Aborto, posteriormente os métodos utilizados para a prática do Aborto, o terceiro tópico é referente a Ética profissional, especificaremos a situação do Aborto no Brasil com os dados Epidemiológicos, o quinto tópico aborda a História do Aborto, sendo precedida de quando a vida começa? E por fim algumas constatações sobre a Bioética na situação do Aborto.
A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, enriquecida com artigos e consultas em livros e sites de apoio.
Entendendo o problema 
1.1.1 Conceituando Aborto
Do ponto de vista médico-legal, a terminologia apropriada para designar o mecanismo de interrupção da gravidez é abortamento, ficando aborto para designar o concepto, entretanto o uso consagrou o termo Aborto e assim será tratado durante o trabalho (AMBROS; RECCHIA; RECCHIA, 2008).
Aborto é a interrupção da gravidez, com a consequente destruição do produto da concepção, eliminando a vida intrauterina (SECRETARIA DE SAÚDE, 2018).
Diferenças entre Aborto e Morte Fetal
Entre a 20-22ª semana de gestação e pesando menos de 500g ou com comprimento inferior a 25 cm, com ou sem sinais de vida, sendo inviável, é considerado um aborto.
Entre 20-28ª semana de gestação e pesando entre 500 e 1000g é considerado uma morte fetal intermediária. Entre a 28ª semana até o parto, pesando até 1000g é considerado uma morte fetal tardia.
Neste ponto, alguns conceitos são importantes, embrião é o ovo fertilizado até a 8ª semana de idade gestacional, sendo um feto da 8ª semana até o nascimento. Quando o cordão umbilical é clampeado no momento do parto, o feto passa a ser um recém-nascido (SECRETARIA DE SAÚDE, 2018).
Tipos de Aborto
A prática do Aborto pode ser realizada de diversas formas e com diversas consequências judiciais, para tanto, é necessário elucidar as classificações que está prática pode conter para que posteriormente mencione-se a visão jurídica vigente no país.
Aborto espontâneo: Quando a gravidez é interrompida sem que seja por vontade da mulher, decorrente de fatores biológicos, psicológicos e sociais, sendo mais comum nos primeiros três meses de gestação.
Aborto terapêutico: Interrupção da gravidez em favor da saúde da gestante, em pró de salvar sua vida.
Aborto legal: Em casos de gestações com má formação congênita ou resultado de um crime sexual, assim como, o aborto terapêutico.
Aborto ilegal: Interrupção cujo motivos não se enquadram na legislação em vigor, constituem uma importante causa de morbimortalidade materna, e portanto, um problema de saúde pública (VIANA, 2015).
Aborto Legal 
O Art. 128 do Código Penal Brasileiro regulamenta o aborto praticado por médico no caso de:
I - não há outro meio de salvar a vida ou preservar a saúde da gestante; 
II - a gravidez resulta de violação da liberdade sexual, ou do emprego não consentido de técnica de reprodução assistida;
III - há fundada probabilidade, atestada por dois outros médicos, de o nascituro apresentar graves e irreversíveis anomalias físicas ou mentais.
Nos casos dos incisos II e III e da segunda parte do inciso I, o aborto deve ser precedido de consentimento da gestante, ou quando menor, incapaz ou impossibilitada de consentir, de seu representante legal, do cônjuge ou de seu companheiro.
No caso do inciso III, o aborto depende, também, da não oposição justificada do cônjuge ou companheiro (GOLDIM, 2004).
Especificando Aborto Legal quando há risco para a gestante
No caso quando há risco de morte da gestante, o médico é o responsável pelo parecer e, se vier a constatar o alto risco da gestação, o feto será sacrificado para salvar a paciente. A mulher deve ser salva, pois já está vivendo, exercendo seus direitos e pode vir a engravidar novamente, enquanto que o feto ainda está em processo de formação. Na atualidade, o aborto necessário não é tão frequente devido ao avanço da medicina, se necessário o médico deve realizar um laudo todos os motivos que permeiam a necessidade do caso específico.
Especificando Aborto Legal decorrente de violência sexual
Não é necessário que a mulher apresente Boletim de Ocorrência (BO), laudo do Instituto Médico Legal (IML) ou ordem judicial. A palavra da mulher que busca os serviços de saúde afirmando ter sofrido violência deve ter credibilidade, ética e legalmente, devendo ser recebida como verdade.
O médico ou os demais profissionais de saúde não devem temer possíveis consequências jurídicas caso revele-se, posteriormente, que a gravidez não foi resultado de violência sexual. Segundo o Código Penal, art. 20, § 1º, "é isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima".
Para a realização do procedimento abortivo a mulher deve, apenas, apresentar termos de consentimento escrito, documentos em que expressa a vontade de interromper a gestação e autorizar a equipe médica a realizá-lo (GIMENES; VIEIRA, 2005).
Especificando Aborto Legal nos casos de problemas no feto
Em 2008, levantou-se argumentos médicos a fim de subsidiar a possibilidade de antecipação do parto em gestações anômalas, devido inúmeras repercussões: aumento da morbidade; elevação dos riscos durante a gestação como presença de polidrâmnio (aumento da quantidade de líquido amniótico); descolamento de placenta e consequências psicológicas graves (altos índices de depressão, angústia, culpa, pensamentos suicidas e comprometimento da vida conjugal).
Em 11 de abril de 2012, o STF deu início ao julgamento da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 54 onde somente o feto com capacidade de ser pessoa pode tornar-se sujeito passivo do crime de aborto. Decidiu-se que os artigos do Código Penal que criminalizam o aborto não devem incidir em casos de anencefalia, já que o termo “aborto” pressupõe a potencialidade de vida extrauterina (antecipação terapêutica do parto ≠ aborto).
Vale ressaltar que anomalias congênitas incompatíveis com a vida deverão entrar pedidos de tratamento jurídico isonômico (GAZZOLA; MELO, 2015).
1.1.2.1.3.1 Diagnóstico de problemas fetais 
Com o desenvolvimento da medicina é possível saber, antes do nascimento, as condições de saúde do feto. Entre os diagnósticos médicos, merecem destaque: a ecografia, diagnóstico menos invasivo adotado para o estudo do desenvolvimento e das malformações do feto; a amniocentese, analise das células fetais obtidas do líquido amnióticomediante introdução de uma agulha, efetuada entre a 15ª e 17ª semana de gestação; a fetoscopia, introdução de um endoscópio de fibra ótica para analisar a anatomia do feto; e a funicolocentese, análise do sangue fetal do cordão umbilical, realizado na 17ª semana de gestação (DUNGAN, 2018).
Aborto Ilegal
O Art. 124 prevê detenção e um a três anos para gestantes que provoquem abortos em si ou consintam que outrem provoque o aborto.
O Art. 125 prevê reclusão de três a dez anos para terceiros que realizem a prática sem consentimento da gestante.
O Art. 126 prevê reclusão de um a quatro anos para terceiros que realizem a prática com consentimento da gestante, exceto casos em que a gestante for menor de 14 anos, alienada, débil mental ou caso o consentimento seja mediante a grave ameaça ou violência, sendo nesses casos, reclusão de até 10 anos.
O Art. 127 prevê penas aumentadas em um terço caso a gestante sofra lesão corporal e são duplicadas se causar a morte da gestante (BRASIL, 1998).
Métodos para realizar o Aborto
1.1.3.1 Métodos recomendados para o abortamento cirúrgico
A aspiração a vácuo intrauterina é a técnica de escolha para a interrupção da gravidez com um máximo de 12 a 14 semanas de gestação. Este procedimento não deve completar-se mediante curetagem como procedimento de rotina. O método de dilatação e curetagem (D&C), se ainda for praticado, deverá ser substituído pela aspiração a vácuo.
1.1.3.2 Métodos recomendados para o abortamento farmacológico
Para gravidez com uma idade gestacional de até 9 semanas (63 dias) o método recomendado para o abortamento farmacológico é mifepristone seguido de misoprostol 1 a 2 dias mais tarde. 
Para gravidez com uma idade gestacional de entre 9 e 12 semanas (63 a 84 dias) o método recomendado para o abortamento farmacológico é de 200 mg de mifepristone administrado por via oral seguida de 800 μg de misoprostol administrado por via vaginal entre 36 e 48 horas mais tarde.
Para gravidez com uma idade gestacional maior a 12 semanas (84 dias) o método recomendado para o abortamento farmacológico é 200 mg de mifepristone administrado por via oral acompanhada de doses repetidas de misoprostol entre 36 e 48 horas mais tarde (OMS, 2013).
1.1.4 Ética profissional 
1.1.4.1 Sigilo profissional
Diante de abortamento espontâneo ou provocado, o médico ou qualquer profissional de saúde não pode comunicar o fato à autoridade policial, judicial, nem ao Ministério Público, pois o sigilo na prática profissional da assistência à saúde é um dever legal e ético, salvo para proteção da usuária e com o seu consentimento.
É crime: “revelar alguém, sem justa causa, segredo de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem” (Código Penal, art. 154).
Código de Ética Médica: “é vedado ao médico revelar segredo profissional referente à paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou responsáveis legais, desde que o menor tenha capacidade de avaliar seu problema e de conduzir-se por seus próprios meios para solucioná-los, salvo quando a não revelação possa acarretar danos ao paciente” (BRASIL, 2011).
1.1.4.2 Objeção de consciência seletiva
A objeção de consciência seletiva ocorre diante de situações específicas e concretas. Por exemplo, quando o médico não se declara objetor, mas, diante de um caso concreto que chega ao serviço, solicita o direito de não realizar o aborto.
O Código de Ética Médica (2009) estabelece que “o médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à saúde do paciente” 
A objeção de consciência é um dispositivo derivado do código de ética exclusivo dos médicos. Outros profissionais de saúde que não sejam os diretamente envolvidos no procedimento do aborto não podem alegar objeção de consciência para justificar a recusa de atendimento (ANIS, 2012).
1.1.4.3 Referenciais da bioética no aborto
Em todo caso de abortamento, a atenção à saúde da mulher deve ser garantida, respeitando a mulher na sua liberdade, dignidade e autonomia, afastando preconceitos e discriminações de quaisquer naturezas, que possam negar e desumanizar esse atendimento.
A atenção humanizada às mulheres em abortamento pressupõe o respeito aos princípios fundamentais da Bioética (ética aplicada à vida):
a) autonomia: direito da mulher de decidir sobre as questões relacionadas ao seu corpo e à sua vida; 
b) beneficência: obrigação ética de se maximizar o benefício e minimizar o dano (fazer o bem); 
c) não maleficência: a ação deve sempre causar o menor prejuízo à paciente, reduzindo os efeitos adversos ou indesejáveis de suas ações (não prejudicar);
d) justiça: o profissional de saúde deve atuar com imparcialidade, evitando que aspectos sociais, culturais, religiosos, morais ou outros interfiram na relação com a mulher (BRASIL, 2011).
1.1.4.4 O profissional de Enfermagem
1.1.4.4.1 Acolher e orientar
Quando as mulheres chegam aos serviços de saúde em processo de abortamento sua experiência é física, emocional e social. Geralmente, elas verbalizam as queixas físicas, demandando solução, e calam-se sobre suas vivências e sentimentos. A mulher que chega ao serviço de saúde em situação de abortamento espontâneo, induzido ou provocado, está passando por um momento difícil e pode ter sentimentos de solidão, angústia, ansiedade, culpa, autocensura, medo de falar, de ser punida, de ser humilhada, sensação de incapacidade de engravidar novamente. 
O acolhimento e a orientação são elementos importantes para uma atenção de qualidade e humanizada às mulheres em situação de abortamento.
1.1.4.4.2 Não julgar
A capacidade de escuta, sem pré-julgamentos e imposição de valores, a capacidade de lidar com conflitos, a valorização das queixas e a identificação das necessidades são pontos básicos do acolhimento que poderão incentivar as mulheres a falarem de seus sentimentos e necessidades.
Cabe ao profissional adotar uma “atitude terapêutica”, buscando desenvolver uma escuta ativa e uma relação de empatia, que é a capacidade de criar uma comunicação sintonizada a partir das demandas das mulheres, assim como a possibilidade de se colocar no lugar do outro.
1.1.4.4.3 Escuta qualificada
Todos os profissionais de saúde devem promover a escuta privilegiada, evitando julgamentos, preconceitos e comentários desrespeitosos, com uma abordagem que respeite a autonomia das mulheres e seu poder de decisão, procurando estabelecer uma relação de confiança.
Estar atento às preocupações das mulheres, aceitando as suas percepções e saberes, passando informações que atendam às suas necessidades e perguntas. Informar sobre a rotina de higiene pessoal, reinício da atividade sexual, volta da menstruação e planejamento reprodutivo, assim como orientações clínicas acerca de possíveis sinais e sintomas preocupantes.
1.1.4.4.4 Código de Ética do profissional de Enfermagem
Está previsto no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, artigo 28, que é proibido provocarem aborto, ou cooperar em prática destinada a interromper a gestação, entretanto, nos casos previstos em lei, o profissional deverá decidir, de acordo com a sua consciência, sobre a sua participação ou não no ato abortivo. 
Dessa forma, sabendo que o profissional de enfermagem pode se deparar com uma situação que exija uma conduta em relação a uma questão de saúde e tal conduta pode, muitas vezes, entrar em conflito com os seus valores pessoais, religiosos e profissionais, é de suma importância que desde a sua formação acadêmica de Enfermagem, ou seja, antes de enfrentar tais situações, possa identificar e classificar seus valores e ter consciência de suas responsabilidades éticas e legais relacionadas a tais questões (BRASIL, 2011).
1.1.5 Epidemiologia 
1.1.5.1 Perfil das mulheres
Foram entrevistadas 12.612 mulheres em idade fértil, dasquais 14% afirmaram terem tido um aborto espontâneo e 2,4% afirmaram terem induzido pelo menos um aborto. O provocado foi mais frequente na área urbana. Não houve diferença entre os abortos provocados entre mulheres católicas e evangélicas, sendo mais elevado entre as mulheres que declararam não ter religião (3,7%) ou outro credo (4,4%). Tanto o aborto espontâneo quanto o provocado foi mais frequentemente mencionado entre mulheres negras e com mais de um filho. As entrevistadas casadas ou que viviam junto com o companheiro, bem como as mulheres que referiam não ter escolaridade declararam mais frequentemente eventos provocados e espontâneos. O relato de aborto provocado foi maior entre as mulheres que consideravam como ideal ter apenas um filho (3,2%) (BENITEZ, 2015).
1.1.6 História do Aborto 
Práticas abortivas, por meio de ervas ou instrumentos cortantes, ocorrem desde o século XXVIII a.C na China.
Durante o desenrolar da história diversos povos estudaram a problemática do aborto, como os israelitas, mesopotâmicos, gregos e romanos, limitando-se ao cunho moral (costumes e valores da sociedade).
Pelo Código de Manu, aplicado no Egito e Índia, o aborto era um ato de cunho ilícito e se dele resultasse na morte da gestante de casta dos padres, o responsável sofreria castigos corporais, podendo sofrer a pena de morte.
Para os Assírios a pena de morte deveria ser aplicada em quem praticasse o aborto em mulheres que ainda não tivessem filhos. A punição da mulher que buscasse a prática sem consentimento do marido era a empalação.
Para os Persas se uma jovem, por vergonha de sua situação, realizava um aborto, toda sua família era culpada e deveriam sofrer em público até suas execuções.
No início de Roma, a prática era permitida por conta do alto índice populacional, já na República Romana, com a larga utilização do método e baixa da população, os legisladores impuseram a Lei Cornélia, que punia a mulher que realizasse o aborto com pena de morte, e a pessoa que realizava o ato sofreria a mesma sanção, com abrandamento caso a gestante não morresse devido as manobras.
Para os Gauleses a punição pelo aborto era privada, onde o pai, chefe da família, tinha poder absoluto sobre os filhos, inclusive aqueles que ainda estavam por nascer, podendo punir sua mulher da forma que escolhesse, inclusive com a morte.
As leis destes povos buscavam resguardar os direitos e interesses do pai. Ressalta-se que quando a gestação ocorria fora do casamento, ambos os povos aconselhavam a gestante a realizar o aborto.
Estudiosos antigos como Aristóteles e Platão pregavam a utilidade do aborto para conter o aumento populacional, sendo que Aristóteles sugeria que o aborto fosse praticado antes do feto desenvolver sentidos e vida.
Para Sócrates o aborto era, nada mais, que a própria liberdade de opção da gestante pela interrupção da gravidez.
Com o surgimento do Cristianismo, os debates acerca do aborto eram referentes a que momento o feto adquiria alma. Houve o surgimento de duas correntes, a primeira afirmava que o feto só adquiria alma quando se separava do corpo da mãe, a segunda dizia que o feto recebia proteção divina desde o momento da concepção, sendo assim, contrários ao aborto.
Em meados do século XIX, foi aceita a teoria do homúnculo e a partir de então o aborto foi terminantemente proibido. De modo que, mesmo quando a vida da gestante corria perigo dava-se preferência ao feto, pois a mãe já havia recebido o sacramento do batismo, e assim, poderia alcançar o Reino dos Céus.
No final do século XIX, surgiram movimentos na Europa a favor do direito da mulher ao aborto. Na década de 20, países escandinavos e socialistas flexibilizaram suas legislações.
Nos demais países do Ocidente, as leis mais liberais sobre o tema datam da década de 60, refletindo uma luta política consequência da evolução dos costumes sexuais e do novo papel das mulheres na sociedade.
Os valores morais se alteram conforme cultura e momento histórico, onde podemos perceber alterações na aceitação do aborto (VENTURA, 2015).
1.1.7 Quando a vida começa?
O maior problema Ético referente ao aborto permeia a indução da morte do concepto, extinguindo a vida, considerada princípio fundamental, entretanto o início da vida é relativo (COHEN).
1.1.7.1 Visão genética
Para a genética a vida começa na fertilização, no encontro do espermatozoide com o óvulo, uma vez que ao se combinarem, ocorre a formação de um indivíduo de conjunto de genes únicos, com direitos iguais a qualquer outro (defendido pela Igreja Católica).
1.1.7.2 Visão embriológica
Para a embriologia a vida começa na terceira semana de gestação, quando ocorre a individualidade humana, isso por que até 12º dia o embrião está se dividindo podendo formar um ou mais fetos. É a partir desta visão que se justifica o uso de pílula do dia seguinte e outros contraceptivos até a segunda semana de gestação.
1.1.7.3 Visão neurológica
Para tal, o mesmo princípio da vida vale para o da morte, ou seja, se a morte ocorre quando acaba a atividade cerebral consequentemente ela começará quando o feto apresentar atividade cerebral, por volta da oitava a vigésima semana de gestação.
1.1.7.4 Visão ecológica
Leva em conta a capacidade de sobreviver fora do útero, tornando o feto um ser independente. Para os médicos um bebê prematuro apenas sobrevive se tiver os pulmões formados, o que ocorre entre a vigésima e a vigésima quarta semana de gestação (critério adotado pela suprema corte do EUA).
1.1.7.5 Visão metabólica
Para tal, o começo da vida é irrelevante, pois não existe um momento único onde a vida começa, sendo também o desenvolvimento da criança um processo continuo sem momento certo para começar.
1.1.7.6 Teoria da Nidação
Processo onde o óvulo fecundado se "acopla" a parede uterina, viabilizando a gestação, a tornando detectável. Diante dos métodos contraceptivos permitidos no Brasil (ex.: DIU) que chegamos à conclusão que esta teoria é a aceita pelo Estado (JOSILCO, 2000).
1.1.8 Bioética
1.1.8.1 Conflitos pessoais
Observa-se que alguns conflitos enfrentados, apesar de pessoais, possuem pontos em comum e independem de fatores socioeconômicos, como por exemplo:
a. O conflito moral (fazer ou não um aborto?), que evidencia a tensão existente entre a sacralidade da vida e a qualidade da sua própria vida;
b. Os motivos que norteiam a decisão a favor ou contra. Um dos principais implicados favoravelmente é a falta de apoio do parceiro ou da família. Aqui se percebe algumas coerções sobre a autonomia dessas mulheres;
c. Quando decide não progredir com a gravidez: como fazê-lo? É ilegal. Como resolver esse problema? Essa situação demonstra contraposição entre o princípio da justiça (associado à liberdade nas escolhas sexuais e reprodutivas) e a norma legal proibitiva ou restritiva (SANDI; BRAZ, 2010).
Esses tópicos permeiam toda a discussão ética sobre o aborto induzido clandestino, pois abrangem a tensão entre os seguintes princípios bioéticos: sacralidade da vida, qualidade da vida e os princípios principialistas de Beauchamp e Childress (GOLDIM, 2003).
1.1.8.2 Sacralidade da vida
Uma moralidade acerca do aborto, baseada na sacralidade da vida [humana], cuja premissa é: a vida é um Bem, ou seja, é sempre digna de ser vivida e, como tal, deve ser protegida, não podendo ser interrompida nem mesmo por vontade da própria pessoa.
Para Durand, o princípio da sacralidade da vida originou-se nas tradições religiosas orientais (principalmente o hinduísmo) e na judaico-cristã, e não perde a importância quando a moral e o direito se separam da religião, pois parece estar relacionado ao imperativo do dever não matar, que não somente protege e promove a vida humana, mas proíbe qualquer ação que prejudique os outros.
Um dos problemas desse princípio, no caso do aborto, está relacionado ao entendimento de quando começa a vida humana. 
A visão relacional do início da vida humana acontece quando a mulher aceita a si mesma como mãe e assume uma relação com o embrião ou o feto, ou seja, assume a potencialidadede ser mãe. Este é um ato decisional, mais do que um acontecimento natural, por isso é importante respeitar a autonomia da mulher em torno da decisão de assumir ou não essa potencialidade, pois representa o respeito a esse compromisso ético.
Na discussão da moral do aborto percebe-se um conflito para caracterizar a mulher que deseja abortar: ela é agente ou sujeito moral? Essa determinação é fundamental para a avaliação bioética da temática.
Ao ser qualificada como responsável por estar grávida, a mulher é enquadrada como agente, ou seja, ela agiu contra seus desejos ao se deixar engravidar, pois não usou métodos para evitar que isso ocorresse. Entretanto, essa análise pode ser questionada pelos seguintes argumentos: a interação entre responsabilidade e liberdade de escolha e o efetivo acesso aos dispositivos de informação e métodos de planejamento familiar.
No que diz respeito ao primeiro argumento, a responsabilidade está diretamente relacionada à liberdade, isto é, quanto mais liberdade a pessoa tem, maior será a sua responsabilidade para consigo, com os outros seres e com o meio ambiente.
No que tange ao segundo, a lei que normatiza o planejamento familiar no Brasil prevê a inserção de informações sobre os métodos nos serviços públicos de saúde, bem como a distribuição dos mesmos. A complexidade da situação é visualizada ante a dificuldade de as mulheres terem acesso aos mais diversos métodos contraceptivos e, por conseguinte, conseguirem optar sobre o momento em que desejam (ou não) ter filhos.
1.1.8.3 Qualidade de vida
O princípio da qualidade de vida, que é o principal contraponto ao princípio da sacralidade da vida, determina um valor para a vida humana, ou seja, para ser digna de ser vivida deve possuir qualidades históricas e socioculturais. Desse ponto de vista, a mulher já se encontra inserida no mundo com suas relações sociais e culturais que devem ser preservadas. O axioma que funda esse princípio é a preservação da qualidade de vida da mulher, haja vista que o embrião ou feto não possui essas relações e, no caso da gestação indesejada, não existe sequer a primeira relação que poderia lhe ser atribuída, que seria com a mãe. Portanto, a vida da mulher agrega graus maiores de qualidade a serem preservados do que a dos embriões ou fetos – mas esse princípio ainda não tem reconhecimento universal.
1.1.8.4 Principalismo
A prática do aborto é uma temática que gera várias discussões na sociedade em geral diante de vários fatores que nela estão presentes. Dessa forma, surge o questionamento, será que existe alguma solução ideal quanto ao ato abortivo de modo que seja possível o alcance de um equilíbrio entre os princípios principialistas? 
Torna-se difícil o raciocínio acerca dos princípios de beneficência, autonomia e não-maleficência ao levar em consideração que existem duas entidades distintas na reflexão, que é a gestante e o nascituro (SANDI; BRAZ, 2010).
CONCLUSÃO
Neste trabalho abordámos o assunto Bioética e o Abortamento, com intuito de compreender a função da Bioética no contexto do trabalho profissional, uma vez que está auxilia na tomada de decisão do profissional em situações ambíguas, no caso, os Abortos realizados de forma Legal e o cuidado com as pacientes que estão com complicações pós Aborto Ilegal.
Cumprimos todos os objetivos a nós propostos, sendo eles fundamentar teoricamente acerca do Abortamento, visando contemplar a riqueza que este tema aborda, utilizando para tanto, diversas visões acerca do assunto, refletir como é impactante na saúde e as possibilidades de os profissionais abordarem o tema de acordo com o Principalismo.
Este trabalho foi muito importante para o nosso conhecimento, ao aprofundarmos no tema compreendemos melhor a sua suma importância e toda sua complexidade, assim quando estivermos empregados teremos uma melhor noção de como participar dos processos acerca do tema, e principalmente como podemos agir com as pacientes para a melhor assistência possível. 
REFERENCIAS

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