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� CENTRO UNIVERSITÁRIO FARIAS BRITO Bacharelado em Engenharia Civil TAMYSIA FERNANDES XAVIER ESTÁGIO SUPERVISIONADO II GESTÃO DA QUALIDADE: PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO ISO 9001 NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL Fortaleza - CE 2019 TAMYSIA FERNANDES XAVIER ESTÁGIO SUPERVISIONADO II GESTÃO DA QUALIDADE: PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO ISO 9001 NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL Artigo da disciplina de Estágio Supervisionado ll do curso Bacharelado em Engenharia Civil do Centro Universitário Farias Brito. Orientador: Prof. José Soares Teixeira Filho Fortaleza - CE 2019 RESUMO O presente trabalho tem como alvo principal a análise do processo de auditoria do Sistema de Gestão de Qualidade sendo adotado o modelo da NBR ISO 9001:2015. Conceitos relacionados à qualidade e ao Sistema de Gestão de Qualidade são apresentados e discutidos ao longo do trabalho e relacionados à realidade de empresas construtoras. A metodologia utilizada consistiu na realização de entrevistas com cinco empresas construtoras que tiveram seus sistemas da qualidade auditados, uma consultora e uma empresa certificadora a fim de coletar dados relativos ao processo de certificação, desde a preparação para implantação do sistema de gestão da qualidade até a auditoria para a certificação do mesmo com base nas normas supracitadas. Os resultados apresentados envolvem informações sobre o processo de certificação que foram organizados de modo a descrever como ocorre esse processo bem como indicar pontos onde as não conformidades relacionadas ao canteiro de obras são mais comuns, visando identificar procedimentos gerenciais que facilitem este processo. Palavras-chave: NBR ISO 9001:2015, Sistema de Gestão de Qualidade, empresas construtoras ABSTRACT This article has as main objective an analysis of the auditing process of the Quality Management System Directed in NBR ISO 9001: 2015. Concepts related to the quality of the quality management system are presented and discussed throughout the work and related to the reality of the constructors. The methodology used consisted of interviews with builders who had their quality systems audited, a consulting and a certification company for the purpose of collecting data during the certification process, from the preparation for the implementation of the audit of the management system until the certification of the same based on the norms mentioned above. The results of the process were related to the certification that they were organized to rewrite the process of identifying points of view, since "non-conformities related to the construction site are more common, aiming at the managerial processes that facilitate this process." Key words: NBR ISO 9001: 2015, Quality Management System, construction companies INTRODUÇÃO Segundo Marcelline (2008), a construção civil tem apresentado um crescimento contínuo nos últimos anos. O mercado vem se mostrando intensamente favorável à execução de novos empreendimentos, principalmente de obras residenciais, ou seja, aquelas que refletem o sonho de muita gente denominado “casa própria”. É diante deste cenário que a concorrência mostra-se crescente e faz-se necessário implementar progressivamente mecanismos que busquem economia, satisfação do cliente e qualidade, que para Montgomery (2004) estão relacionados com a adequação ao uso. “A gestão da qualidade é um instrumento que auxilia substancialmente as empresas na adequação de seus processos, abrangendo toda a empresa, desde o planejamento, até o desenvolvimento, operação e análise dos resultados. É um sistema que deve envolver não só funcionários como também fornecedores” (OLIVEIRA, 2006). O aumento da competitividade em empresas atuantes no ramo de construção civil vem sendo intensificado com a implantação da qualidade em seus sistemas e com a inserção do Sistema de Gestão de Qualidade com base em modelos propostos pela série ISO 9001 (LORDELO E MELHADO, 2005). É de suma importância fazer com que as pessoas entendam a importância da qualidade no funcionamento da empresa, como sendo um fator fundamental para a sobrevivência da mesma. Para tanto, Paladine (2005) sugere que se construa uma visão estratégica da qualidade que deve ser repassada para todos os funcionários da empresa. A certificação em Sistemas de Qualidade da ISO 9000 pode acarretar em uma série de vantagens para a empresa, para o cliente e para a sociedade como, por exemplo, melhoria do desempenho funcional, mediante a realização de treinamentos; qualificação dos funcionários, maior credibilidade no mercado, redução de custos e produtos defeituosos, maior competitividade acompanhada de uma maior integração entre os setores da empresa, dentre outras vantagens (DORNELES, 1997). Porém, faz-se necessário um planejamento� adequado para a implementação, uma vez que apesar do número crescente de empresas que tentam implantar um sistema de gestão da qualidade, o que se constata, muitas vezes, são resultados insatisfatórios contendo diversas não conformidades que não estão de acordo com o modelo proposto pela norma (MAUÉS, NETO 2007). É diante deste cenário que se busca uma melhor explanação do processo de certificação do sistema de gestão da qualidade com base nas normas NBR ISO 9001:2000 em empresas construtoras, uma vez que sua obtenção é o reflexo de um processo adequado de Gestão de Qualidade da empresa e no empreendimento a ser executado. Em adição a série de normas supracitada, outro conjunto de normas é utilizado para dar suporte às auditorias de sistemas da qualidade com base na NBR ISO 9001: a NBR ISO 19011:2002, referente a diretrizes para auditorias de sistema de gestão de qualidade e / ou ambiental, servirá de suporte para o embasamento do processo como um todo. O presente trabalho tem como principal alvo tanto empresas que não obtiveram sucesso no processo de certificação de seus sistemas de gestão de qualidade como também aquelas interessadas em fazê-lo, visando facilitar o entendimento do procedimento como um todo, indicando também possíveis benefícios advindos da implantação. Além disso, almeja-se também entender o planejamento da implantação do Sistema de Gestão da Qualidade nas empresas e o processo de certificação, buscando identificar as principais não conformidades detectadas em relação às atividades desenvolvidas no canteiro de obras, além dos benefícios adquiridos com a certificado. Atualmente, empresas construtoras têm demonstrado um interesse crescente em certificar o seu sistema de gestão da qualidade, por exigências do governo e/ou do mercado, de modo que possam ter acesso a uma maior gama de oportunidades e financiamentos. Porém, poucos trabalhos destinam-se especificamente a análise do processo de certificação desde o desenvolvimento do sistema de gestão da qualidade até a sua implantação e certificação. Informações sobre as dificuldades encontradas durante o processo e as não conformidades encontradas durante as auditorias não são amplamente divulgadas. Com isso, empresas construtoras interessadas na certificação dos seus sistemas de gestão da qualidade acabam� passando pelos mesmos problemas sem que tenham a oportunidade de conhecer como o processo se dá em outras empresas do setor. SISTEMAS DE GESTÃO DE QUALIDADE – SGQ A qualidade é definida por Juran e Gryna (1991) como adequação ao uso. Esse conceito, de ampla aceitação, possui dois aspectos que se complementam. Primeiramente, qualidade consiste nas características de um produto que atendem as necessidades dos clientes, propiciando a satisfação em relação ao produto. Outro significado da qualidade é a ausência de defeitos. Surgem assim dois enfoques para a qualidade, que são, respectivamente, a qualidade de projeto e a qualidade de conformação. Desta forma, a qualidade de projeto define as características do produto (físico ou serviço), e a qualidade de conformação busca a corretarealização dessas características. Portanto, de acordo com Paladini (2004), qualidade de projeto e qualidade de conformação são dois conceitos que se complementam. Esta definição do termo qualidade é resultado da evolução do conceito desde a década de 1950, quando Feigenbaum (1994) afirma que as condições de competitividade induzem os gestores de negócios a melhorar a qualidade de muitos produtos, ao mesmo tempo em que devem reduzir substancialmente os custos para manter a qualidade. Para isso, o autor sugere a adoção do conceito de Total Quality Control – TQC (Controle da Qualidade Total). Uma evolução do conceito de TQC ocorre com o surgimento da Total Quality Management – TQM, o que leva a um conceito mais abrangente. Juran define a TQM como uma “extensão do planejamento dos negócios da empresa que inclui o planejamento estratégico da qualidade” (JURAN e GRYNA, 1991, p. 210). Entretanto, todos os manuais, procedimentos e políticas da qualidade não são suficientes para garantir que uma organização trabalhe com qualidade. De acordo com Deming (1994), nem mesmo o trabalho duro, maiores esforços, equipamentos eletrônicos computadores ou investimentos em máquinas podem assegurar a qualidade. Pode-se concluir desta forma que, uma vez que dinheiro e credibilidade representam a força vital das organizações, como afirma Crosby (2004), o ideal seria que os executivos distribuíssem seus esforços igualmente entre finanças, relacionamentos e qualidade, ao invés de concentrarem-se basicamente nos aspectos financeiros dos negócios. Deste modo, observa-se que a qualidade exige uma abordagem abrangente, uma vez que é responsabilidade de todos nas organizações e exerce influência sobre diversas áreas, desde a satisfação dos clientes até o impacto positivo (ou negativo) na lucratividade da empresa. A maneira mais adotada pelas empresas para guiar a implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade – SGQ – e evidenciar externamente estas ações e através da certificação segundo normas específicas, em especial a ISO 9000 e, no caso da indústria da construção civil no Brasil, o PBQP-H. O modelo de certificação de SGQ mais difundido no mundo é a padronização baseada nas Normas ISO 9000. A série de normas ISO 9000 foi elaborada pela International Organization for Standardization (ISO), uma organização não governamental com sede em Genebra, na Suíça, composta por mais de 162 países (ISO, 2009), inclusive pelo Brasil, com o objetivo de promover o desenvolvimento de normas internacionais. A família de Normas ISO 9000 é conhecida como normas genéricas de sistemas de gestão. Genérico, neste caso significa, segundo Mello (2006), que a mesma norma pode ser aplicada a qualquer tipo de organização, grande ou pequena, seja qual for seu produto ou serviço, em qualquer setor de atividade, e seja qual for seu meio de negócio, podendo ser uma administração pública ou um departamento do governo. De acordo com a ABNT (2009) a primeira versão da ISO 9000 surgiu em 1987, traduzida pela ABNT em 1990. As séries ISO 9000:1987 já passaram por três revisões desde então, gerando as versões ISO 9000:1994, ISO 9000:2000 e, atualmente, a série ISO 9000:2008. As versões 1987 e 1994 das Normas ISO 9000 eram excessivamente focadas nos processos e, devido a esta característica, exigiam uma gama muito grande de documentos e registros para evidenciar a padronização e conformidade dos processos e produtos como garantia da qualidade. Devido a esta característica muitos pesquisadores, acadêmicos e profissionais questionavam sobre os benefícios que a certificação estaria gerando para as organizações uma vez que existia uma grande distância entre a gestão da qualidade e a mera normalização. Entre estes críticos, pesquisas de Vloeberghs e Bellens (1996), Devos, Guerrero-Gusumano e Selen (1996) e Gustafsson et al (2001) concluíam que o custo e o tempo de implementação eram dois elementos significantes para a avaliação do processo de implantação da ISO 9000. Ambrozewicz (2003) salienta que a falta de um sistema bem 142 Revista Gestão Industrial estruturado, a falta de comprometimento da direção e dos funcionários pode aumentar o tempo e o custo da certificação. A versão 1994 permaneceu nas empresas até final de 2002 quando foram definitivamente substituídas pela versão 2000. A partir desta a família de normas ISO 9000 deixa de ser um sistema de garantia da qualidade e passa a se caracterizar como um sistema de gestão da qualidade (SGQ). Desde então a nova versão procura suprir as lacunas tão criticadas, passando a ser menos prescritiva e burocrática e mais flexível, com maior ênfase na melhoria e na gestão dos processos com o foco na satisfação dos clientes, “agora as empresas devem demonstrar sua capacidade de atingir a satisfação do cliente, com a aplicação da melhoria contínua de seus processos e da prevenção de não conformidades” (BRANCHINI, 2002, p.71). – O PBQP-H Os primeiros movimentos pela qualidade na Construção Civil no Brasil surgiram no início da década de 90 decorrentes de um período de mudanças em um setor caracterizado por grande competitividade. Embalado por esta atmosfera de grandes mudanças, o governo federal lança o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP) envolvendo todos os setores industriais. No setor da construção civil, merecem destaques nesta época, os trabalhos de Picchi (1993) e de Melhado (1994), responsáveis pelas primeiras aplicações de conceitos gerais da qualidade focando a construção civil, apresentando um sistema da qualidade baseado nas normas ISO 9000:1987. Melhado (1994) aponta para a parceria criada em 1993 entre o Centro de Tecnologia em Edificações - CTE e o Sindicato das Indústrias da Construção Civil do estado de São Paulo (Sinduscon-SP) como o marco para o grande impulso que o setor da Construção Civil recebeu em direção aos Programas Setoriais da Qualidade - PSQs. Esses PSQs são acordos firmados pelos governos estaduais ou municipais, de entidades de classe, associações nacionais e os agentes financiadores com a finalidade de regulamentar os requisitos de qualificação no setor. Como resultado de todo este movimento no setor da construção civil, o Ministério do Planejamento e Orçamento, através da Portaria nº 134 de 18 de dezembro de 1998, institui o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no habitat (PBQP-H) como um desdobramento do PBQP. De acordo com a referida Portaria, o PBQP-H tem por objetivo básico: apoiar o esforço brasileiro de modernidade e promover a qualidade e produtividade do setor da construção habitacional, com vistas a aumentar a competitividade de bens e serviços por ele produzidos. Com este intuito, o PBQP-H se propõe oficialmente em: organizar o setor da Construção Civil; melhorar a qualidade do habitat e a modernização produtiva; estruturar um novo ambiente tecnológico e de 143 Revista Gestão Industrial gestão para o setor da Construção Civil; estimular o uso eficiente das diferentes fontes de financiamento, tais como: FGTS, Poupança, etc. (MCIDADES, 2009). É importante ressaltar que, apesar de se tratar de um programa de adesão voluntária desde a sua concepção, os agentes financiadores e o setor público utilizam o seu poder de compra e fomento como fator de pressão para o desenvolvimento do programa. A estrutura do programa é baseada na série de normas ISO 9000 e, desde a sua criação, o PBQP-H vem sofrendo atualizações periódicas que acompanham as revisões das normas ISO de modo a manter a compatibilidade com esta norma, sendo o seu formato atual baseado nas normas ISO 9001:2000. Dentro deste formato o Programa adota a abordagem de processo para o desenvolvimento, implementação e melhoria da eficácia do SGQ da empresa construtora. Uma das características que difere o PBQP-H da ISO 9001 é o caráter evolutivo, ou seja, existem quatro níveis de qualificação progressivos (D, C, B e A) nos quais a empresa construtora pode ser certificada. Segundo Silveira, Lima e Almeida (2000), um sistema evolutivo possui um efeito pedagógico noprogresso do estabelecimento do sistema, que induz à melhoria contínua. De acordo com o PBQP-H (MCidades, 2009b), o nível “A” da norma SiAC atende integralmente às exigências da NBR ISO 9001:2000, podendo a empresa construtora solicitar certificação simultânea à certificação do PBQP-H segundo este referencial normativo. A operacionalização do PBQP-H se dá pela estruturação de uma série de projetos objetivando solucionar problemas específicos na área de qualidade. Entre eles vale ressaltar o Sistema de Avaliação da Conformidade de Serviços e Obras – (SiaC), considerado o principal projeto do programa por ser responsável pelas suas diretrizes. Aprovado através da Portaria no 118, de 15 de março de 2005, o SiAC é baseado nas normas ISO 9001:2000, substituindo o Sistema de Qualificação de Empresas de Serviços e Obras (SiQ-Construtoras) baseado nas normas ISO 9001:1994. O principal acordo do PBQP-H é com a Caixa Econômica Federal - CEF que tem sido o principal agente e parceiro ao que se refere à utilização do poder de compra. A CEF oferece financiamentos específicos para as empresas de Construção Civil que aderiram ao PBQP-H e, desta forma, atua como indutora do processo. Além disso, como a grande operadora dos recursos do Ministério das Cidades, tem tido grande responsabilidade na aplicação eficaz dos recursos. Já foram realizados acordos setoriais em quase todos os Estados e territórios brasileiros, estabelecendo metas regionais com o objetivo de estimular a evolução dos níveis e a adesão. 2.2 - ISO (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION) O sistema ISO (International Organization for Standardization) é o conjunto de normas que foi criado em 1947 para certificar organizações de diversos setores ao redor do mundo quanto à qualidade de seus produtos e serviços. No Brasil, são gerenciadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Embora a ISO 9001 seja a mais conhecida, ela não é a única nesse grupo. A ISO 9000, por exemplo, trata dos fundamentos e do vocabulário do Sistema de Gestão de Qualidade, e muitas vezes é utilizada em conjunto com a 9001. Dependendo do segmento de atuação, outras normas também podem ser relevantes. Além de regulamentações sobre a qualidade, existem diretrizes sobre tecnologia da informação, automóveis, ambiente, segurança e saúde, e segurança alimentar. De acordo com estatísticas da IRCA e da ISO, em 2013, havia 1,6 milhão de certificados emitidos globalmente. Uma boa porcentagem desses certificados era de organizações e empresas direta ou indiretamente envolvidas no setor de construção. No setor de construção, o sistema ISO auxilia na qualidade dos processos, buscando a redução de retrabalho e de atrasos e gerando maior economia e organização nas obras. Sempre que necessário, as normas ISO sofrem atualizações, justamente para se manterem pertinentes no mercado e aos usuários. A ISO 9001 teve sua última revisão em 2015, com algumas mudanças importantes, sobre as quais serão citadas a seguir. A ISO 9001 pode ser aplicada em diversos segmentos, visto que traz uma abordagem global, sem citar mercados específicos. Cada um deles pode apresentar razões diferentes para o seu uso. Aqui, falaremos sobre os três principais motivos para a indústria da construção: Redução de custos A construção civil é responsável por uma grande parcela do PIB brasileiro, pois movimenta muito a economia do país. Seja em obras pequenas ou em grandes empreendimentos, toda redução de custos é importante. A ISO 9001 possibilita que essa diminuição de despesas aconteça obtendo um ganho em tempo e uso de recursos, além de prevenir retrabalho. Padronização de serviços Um dos maiores desafios na indústria da construção é a padronização de serviços, pois são muitas pessoas trabalhando em diferentes obras. Por diversas vezes, cada uma delas tem uma maneira diferente de realizar a mesma tarefa (nem sempre chegando ao mesmo resultado). No entanto, através da implementação de uma norma de qualidade, é possível obter essa padronização de processos, garantindo sempre a busca pelo melhor resultado possível. Além disso, fica mais fácil detectar erros e programar treinamentos aos colaboradores. Melhora contínua Com a aplicação de uma norma da qualidade, a busca pela melhoria contínua estará internalizada nos processos da empresa. A construção ainda é vista como um mercado que tem um caminho de evolução para percorrer, e esse aperfeiçoamento constante pode ser um grande diferencial. Seguindo as diretrizes, o crescimento será nítido com o passar do tempo. Para obter o certificado, é preciso satisfazer todos os requisitos da ISO 9001. Dentro do setor de construção, com a implementação de uma cultura que busque a qualidade, os benefícios disso podem ser vistos não apenas no produto ou serviço final, mas em todas as etapas do processo. São exemplos: PLANEJAMENTO No Brasil, ainda se fala muito sobre a falta de planejamento na construção. Ao contrário de outros países, as obras, aqui, quase sempre começam sem planejamento e, às vezes, até sem projetos prontos. Um cronograma realista da obra faz com que atrasos rotineiros sejam minimizados. Sem atrasos, a construtora pode economizar com multas e indenizações, além da possibilidade de alocar os trabalhadores em novas edificações. Com um planejamento bem executado, também é possível fazer um cálculo de colaboradores, materiais e equipamentos. Isso trará a dimensão da obra e uma organização não somente em relação a prazos e datas, mas aos gastos também. CONTROLE DOS SERVIÇOS DE TERCEIROS Esse é um elemento crítico nas construções, que costumam envolver diversas empresas em um só canteiro. A ISO 9001 abarca a qualidade das corporações terceirizadas e a escolha delas, já que isso influencia a execução da obra. Nesse quesito, entram os trabalhadores terceirizados e, também, a compra de materiais por fornecedores. Esse controle depende de selecionar os parceiros certos e de uma gestão de pedidos, evitando atrasos e a falta de equipamentos na edificação. CONSTANTES AVALIAÇÕES INTERNAS Quando se fala em qualidade, é preciso pensar em melhorias contínuas. O mercado está em constante mudança, e obras com longas durações devem acompanhar essas transformações durante suas realizações. A ISO 9001 traz não só a implementação da qualidade, mas uma abordagem para que ela esteja sempre em avaliação e evolução. OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO A gestão da qualidade está alinhada ao uso de novas tecnologias e métodos construtivos. A implantação dessas ferramentas em canteiros e o progressivo aperfeiçoamento das técnicas utilizadas na construção permitem que todos os processos sejam otimizados. Com a otimização de processos, os prazos, muitas vezes curtos, podem ganhar um respiro, e o tempo de sobra pode ser alocado para assuntos mais importantes do que correções e retrabalhos. REDUÇÃO DE RISCOS A última versão da norma, especificamente, possibilita que as empresas sejam menos reativas e mais preventivas. A redução de risco vem de uma cultura de planejamento e conhecimento prévio das consequências de determinadas ações. Esse conhecimento faz com que os responsáveis tomem decisões mais acertadas e corram menos riscos. LIDERANÇA A ISO 9001:2015 vem com um enfoque muito grande em liderança. Porém, diferentemente das versões anteriores, essa liderança agora é compartilhada entre diversas pessoas, transferindo a responsabilidade pela qualidade para mais setores. A qualidade passa a ser uma preocupação de toda a empresa e não de apenas uma equipe ou funcionário que realiza vistorias periódicas. DESTAQUE NO MERCADO Como a aplicação da norma dentro da construção nem sempre é simples, empresas que conseguem obter o certificado podem se diferenciar dentro do mercado. Inclusive, para manter a qualidade e o certificado, muitas preferem fazer negócios apenas com aquelas que também o possuam, assim como essa exigência pode fazer parte de licitações. ISO 9001: O QUE MUDOU NA VERSÃO DE2015 A ISO passou por mudanças em 2015 para se manter relevante diante das transformações do mercado. Para as organizações que já tinham o certificado, o tempo de transição de uma norma para a outra é de três anos. Como a nova ISO 9001 foi publicada em setembro de 2015, o prazo para se adequar às mudanças e manter a certificação de qualidade era até setembro de 2018. Entre as alterações feitas, podemos citar: Integração com outros sistemas de gestão, principalmente para que não haja contradições entre diferentes normas. Isso facilita o trabalho conjunto com outros programas, como o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO); Mudança com o papel de facilitador; Utilidade aos mais diversos ambientes organizacionais, visto que, cada vez mais, com o avanço das tecnologias, os ambientes têm se tornado mais complexos, com grande volume de informação e pessoas; Certificação de que a norma atenda a todos os grupos de potenciais usuários; Foco no atendimento aos clientes com qualidade; Conexão do sistema de gestão de qualidade à estratégia das empresas. Para corporações de construção, uma mudança bastante interessante foi a nova mentalidade com foco na análise de risco. A ideia é prever e agir antecipadamente, sendo mais preventivo do que reativo e diminuindo o retrabalho. Essa nova cultura é beneficiada pelas tecnologias que surgem e ajudam no planejamento das obras. CONCLUSÃO Muito está sendo comentado sobre a nova versão da ISO 9001:2015, a norma mais adotada no mundo inteiro e a base para as demais, mas antes de entrar na última versão vamos voltar no tempo e entender um pouco do desenvolvimento da ISO 9001. Em 1987 foi lançada sua primeira versão num formato bastante rígido. Já a versão de 1994, com seu conteúdo revisado, teve uma ampla aceitação no mercado, embora seus requisitos ainda batessem muito forte em procedimentos, o que gerou uma quantidade enorme de instruções dentro das organizações. Por conta disso, esta versão se transformou numa herança, deixando o mito de que ISO 9000 “engessa” as empresas ou que ISO 9000 é sinônimo de burocracia. Na versão de 2000 tivemos mudanças significativas: foi incorporada a visão de processo nas empresas, desta forma tivemos mudanças no conceito inicial da norma, saindo do foco de seguir instruções e migrando para outro patamar de gestão que entendia melhor da operação. A versão da norma de 2008 não apresentou grandes mudanças e, finalmente, a chegada da versão de 2015, trouxe profundas mudanças, não apenas no seu formato – em função do Anexo SL (estrutura padrão das novas normas de sistema) – mas no conteúdo. Com o passar dos anos entendeu-se que as empresas evoluíram na consciência de qualidade. Houve um amadurecimento e a obrigação de procedimentos deixou de ser mandatória. A partir daquele momento ficou a cargo da própria organização definir se é necessário ou não tê-los. O famoso Manual da Qualidade também deixou de ser mandatório, por outro lado, é solicitado que se faça o mapeamento de cada processo identificado com entradas, saídas e indicadores de performance. O objetivo destas alterações é deixar a empresa mais solta e ágil, sem perder o foco nos resultados. Para isso, é necessário que o sistema seja definido conforme o Contexto da Organização, ou seja, o sistema realmente deve estar de acordo com as atividades da empresa conforme o tipo de mercado e localização. A maior mudança que tivemos nesta última versão foi a incorporação do conceito de “Gestão de Riscos” que veio para proteger mais os clientes de riscos da operação. A partir de agora, as empresas deverão identificar quais são os maiores riscos ou oportunidades e montar um plano de ação que deverá ser gerido pela alta direção que, nessa versão, tem papel fundamental e intrasferível. Desta forma, as empresas passam a se preocupar com uma visão de futuro com base nos riscos da operação, riscos do mercado inserido, novas exigências de órgãos como INMETRO e ANVISA, riscos de novos players, que afetam a operação e crescimento do negócio. Diante de todas estas mudanças, podemos observar que a norma ISO 9001 – com o passar dos anos – mudou, evoluiu e se atualizou conforme as novas necessidades do mercado. Deixou de ser uma norma onde o importante era ter procedimentos descritivos e rígidos; seu formato mais moderno como forma de modelo de gestão do negócio é capaz de identificar o que realmente agrega valor a partir de uma gestão de riscos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ISO 9001:2015 – Certificação. Disponível em: <http://www.lrqa.com.br/Certificacao/ISO-9001-Sistemas-de-Gestao-da-Qualidade/> Acesso em 10 de maio de 2019. Gestão de Qualidade – Isso 9001. Disponível em: <http://gestao-de-qualidade.info/iso-9001.html> Acesso em 10 de maio de 2019. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Disponível em: <http://abnt.com.br> Acesso em 12 de maio 2019. AMBROZEWICZ, P. H. L. 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