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Texto 2 A Os primórdios da Psicologia Jurídica - Jacó-Vilela

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IN
T
R
O
D
UÇÃ
O
 
O
S
 P
R
IMÓRDIO
S
 D
A 
P
S
IC
O
LO
G
IA
 JU
RÍDIC
A 
Ana
 M
aria
 J
a
c
ó
-
 Vilela' 
O
 p
rin
cíp
io
 s
ubjacente
 ao
 D
ireito
 m
odern
o
 é
 a
 u
niversalidad
e
 d
o
 
hom
e
m
 n
ele
 representad
o
 
-
 sujeito
 d
a
 ra
zão
,
 livre
 e
 igual
 a
o
s
 dem
ais 
seres
 hum
anos
.
 Esse
 p
rin
cíp
io
,
 d
e
 c
e
rta
 form
a
,
 sinaliza
 a
 re
s
ultante
 da
-
queles
 m
o
vim
ento
s
 que
,
 do
s
 e
stertore
s
 d
a
 Idad
e
 M
éd
ia
 a
o
 s
é
c
u
lo
 XVIII, 
vão
 c
o
n
stituind
o
 o
 id
eário
 liberal
 d
a
 s
o
ciedad
e
 burguesa
.
 
Explicitand
o
 m
elho
r
 e
sta
 proposição
:
 e
n
c
o
ntram
o
s
 n
a
 Idad
e
 M
éd
ia
 
u
m
a
 visã
o
 d
e
 m
u
nd
o
 holista
,
 totalizante
,
 e
m
 qu
e
 a
 religiã
o
 e
nquanto
 
valo
r
 e
n
c
o
m
pass
a
 as
 dem
ais
 e
sfera
s
 d
a
 vida
.
 A
 representaçã
o
 d
e
 ho
-
m
e
m
 n
esse
 u
nivers
o
 e
ra
,
 portanto
,
 s
ubjugad
a
 à
 red
e
 d
e
 relaçõe
s
 s
o
ciais 
em
 qu
e
 c
ad
a
 u
m
 estava
 inserido
,
 o
u
 seja
,
 a
 identidad
e
 pessoal
 se
 c
o
n
s
-
titu
ía
 a
 partir
 do
s
 e
s
p
a
ç
o
s
 s
o
ciais
 
-
 o
s
 e
stam
entos
,
 a
 fa
m
ília
,
 a
 c
o
m
u
ni
-
dad
e
 
-
 o
c
upado
s
 po
r
 c
ad
a
 u
m
.
 A
 identidade
,
 n
e
ste
 s
e
ntido
,
 se
 situav
a 
em
 tenno
s
 da
s
 posiçõe
s
 relativa
s
 (nobre
,
 s
e
rv
o
,
 pai,
 filho
,
 a
rtesão...)
, 
isto
 é
,
 era
 dem
arcad
a
 pela
 d
ife
re
n
ç
a
. 
O
 process
o
 d
e
 fragm
entaçã
o
 dess
e
 m
u
nd
o
 holista
,
 relacional
 
-
 pro
-
c
e
s
s
o
 e
s
p
e
c
ífic
o
 das
 s
o
ciedade
s
 o
cidentais
 m
odernas
'
 
-
 
se
 c
o
n
stitui 
co
m
 as
 n
o
v
a
s
 e
xplicaçõe
s
 para
 esferas
 d
o
 m
u
nd
o
 hum
ano
,
 e
xplicaçõe
s 
qu
e
 s
upera
m
 o
 significad
o
 e
x
clusiv
o
 até
 
e
ntã
o
 dad
o
 pela
 religião
.
 A
s
-
sim
,
 são
 m
o
m
e
nto
s
 im
portantes
,
 n
e
s
s
e
 long
o
 p
e
río
d
o
 d
e
 transição
,
 a 
re
v
oluçã
o
 c
ie
n
tífic
a
 d
e
 G
alile
u
 (a
 descoberta
 da
s
 leis
 d
a
 n
atureza
 pela 
observaçã
o
 e
 e
xperim
entação
,
 o
u
 seja
,
 não
 m
ais
 a
 v
e
rdad
e
 re
v
elad
a 
pelas
 A
utoridade
s
 d
a
 Igreja)
,
 a
 e
xpansã
o
 d
o
 c
apitalism
o
 
-
 d
e
 su
a
 face 
m
e
rc
a
ntil
 para
 a
 industrial
 im
plicand
o
 n
o
va
 form
a
 d
e
 o
rganizaçã
o
 d
o
 
trabalho
,
 agora
 
"ra
cional"-
,
 a
 reform
a
 protestante
,
 principalm
ente
 em
 
Professora
 d
o
 Instituto
 d
e
 Psicologia
 d
a
 UERJ;
 doutora
 e
m
 Psicologia
 pela
 USP
.
 
II 
A
N
A
 
M
A
R
IA
 
JA
CÓ-VILELA 
su
a
 proposiçã
o
 d
a
 
"liberdad
e
 d
e
 c
o
n
s
ciência
"
 e
,
 po
r
 fim
.
 a
s
 re
v
oluçõe
s 
politica
s
 que
,
 e
m
bora
 o
c
o
rre
nd
o
 e
m
 periodo
s
 diferente
s
 (a
 Ingles
a
 n
o
 
s
é
c
u
lo
 XVII,
 a
 A
m
erican
a
 e
 a
 Frances
a
 n
o
 s
é
c
u
lo
 XVIII)
,
 e
xplicita
m
 
u
m
a
 n
o
v
a
 visã
o
 d
e
 hom
em
:
 aquele
 qu
e
 tem
,
 c
o
m
o
 direito
s
 n
aturais
,
 a 
igualdad
e
 e
 a
 liberdade
.
 
O
 m
u
nd
o
 m
oderno
,
 portanto
,
 s
u
rg
e
 c
o
m
 a
 quebra
 d
a
 tradiçã
o
 
e
m
basad
a
 n
a
 religião
.
 N
este
 m
u
nd
o
 nã
o
 há
 m
ais
 posiçõe
s
 e
s
tá
v
e
is
,
 fi
-
x
a
s;
 é
 u
m
 m
u
nd
o
 e
m
 m
o
vim
ento
 
-
 se
u
 grand
e
 sím
b
o
lo
 sã
o
 e
x
alam
ente 
'"as
 grande
s
 n
a
v
egações"
,
 ro
m
pend
o
 c
o
m
 a
s
 a
m
a
rra
s
 que
,
 n
o
 u
nivers
o
 
feudal,
 c
e
rc
e
a
v
a
m
 o
 hom
em
.
 TO
CQ
UEVILLE
 sintetiza
 brilhantem
en
-
te
 esta
 grand
e
 transform
ação
:
 
"A
 a
ristocracia
 fizera
 d
e
 todo
s
 o
s
 cida
-
dão
s
 u
m
a
 long
a
 c
adeia
,
 qu
e
 s
ubia
 d
o
 c
a
m
ponê
s
 ao
 rei;
 a
 dem
ocracia 
desfa
z
 a
 c
adeia
 e
 põ
e
 c
ad
a
 elo
 à
 parte
"
 (1977
:
 387)
.
 
E
 bo
m
 re
s
s
alta
r
 qu
e
 e
s
s
e
 process
o
 nã
o
 o
c
o
rre
u
 d
e
 form
a
 linea
r
 e 
sim
ples
,
 c
o
m
o
 a
 descriçã
o
 s
u
cinta
 a
cim
a
 pod
e
 da
r
 a
 e
ntender
.
 A
s
 a
n
á
li
-
ses
 s
obre
 e
s
s
e
 p
e
río
d
o
 aponta
m
 c
o
m
plexidade
s
 e
 c
o
ntradiçõe
s
 a
 qu
e 
nã
o
 se
 fe
z
 referência
,
 pois
 o
 objetivo
,
 aqui,
 é
 aponta
r
 para
 u
m
a
 visã
o
 d
e 
m
u
nd
o
 regularm
ente
 a
s
s
o
ciad
a
 à
 s
o
ciedad
e
 o
cidental
 m
oderna
,
 cujo
 
eix
o
 c
e
ntral
 é
 o
 individualism
o.
 
O
u
 seja
,
 nã
o
 m
ais
 a
 perspectiv
a
 d
o
 
hom
e
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 definid
o
 pela
s
 posiçõe
s
 qu
e
 o
c
upa
,
 m
a
s
 a
 p
re
s
e
n
ç
a
 d
o
 in
d
iv
í-
duo,
 s
e
r
 m
o
ral,
 independente
,
 a
u
tó
n
o
m
o
,
 s
e
nho
r
 d
o
 livre
 a
rb
ítrio
.
 Este 
é
 o
 sujeito
 juridico
,
 o
 cidadã
o
 portado
r
 d
a
 ra
zão
,
 cuja
 interaçã
o
 c
o
m
 
o
utro
s
 
-
 igualm
ente
 in
d
h
á
d
u
o
s
 
-
 nã
o
 se
 regula
 m
ais
 po
r
 u
m
a
 é
tic
a
 vin
-
c
ulad
a
 à
 religiã
o
 e
 po
r
 relaçõe
s
 fam
iliare
s
 o
u
 d
e
 gnipo
s
 n
a
 c
o
m
u
nidad
e 
tradicional
.
 Senhore
s
 d
a
 ra
zão
,
 o
s
 in
d
iv
íd
u
o
s
 agora
 se
 a
s
s
o
ciam
,
 e
sta
-
belece
m
 co
ntrato
 e
m
 s
o
ciedade
.
 
Esta
 c
o
n
c
epçã
o
 d
e
 in
d
ivíd
u
o
,
 e
ntão
,
 s
e
 apresenta
 c
o
m
o
 u
m
a
 redes
-
c
oberta
 d
a
 n
atureza
 hum
ana
: 
O
 in
d
ivíd
u
o
 livre
 e
 igual
 é
,
 portanto
,
 parte
 d
a
 n
atureza
.
 U
m
a
 n
atureza
, 
p
o
rém
,
 desencantada
,
 desligad
a
 d
e
 qualque
r
 c
o
s
m
ologia
 religiosa
,
 c
uja
s 
leis
 d
e
 funcionam
ento
 são
,
 po
r
 isso
,
 passiveis
 d
e
 s
e
re
m
 c
o
m
preendida
s 
e
 desvendada
s
 pela
 ra
zã
o
 hum
ana
.
 (...)
 O
 indivíduo-cidadã
o
 c
 s
ujeito
 
d
ara
zã
o
 e
m
 dois
 s
e
ntido
s
 
-
 porqu
e
 e
s
tá
,
 e
nquanto
 hom
e
m
 n
atural,
 s
ub
-
m
etid
o
 (sujeito
 à)
 ra
zã
o
 (pois
 é
 c
o
m
preensivel
 
a
tra
v
é
s
 dela)
 e
 a
o
 m
e
s
-
m
o
 tem
p
o
 s
ujeita
 o
 m
u
nd
o
 (e
 a
 si
 p
ró
p
rio)
 a
tra
v
é
s
 d
a
 ra
zão
.
 Esta
,
 n
a 
v
e
rdade
,
 s
e
rá
 a
 bas
e
 d
e
 s
u
a
 a
utonom
ia
.
 Livre-arbitrio
 e
 ra
zã
o
 se
 inter
-
liga
m
 d
e
 form
a
 in
e
x
tricáve
l
 (RUSSO
,
 1997
:
 13)
.
 
12 
O
s
 
P
R
IMÓRDIO
S
 D
A
 P
S
IC
O
LO
G
IA
 JU
RÍDIC
A 
O
 lem
a
 d
a
 R
evoluçã
o
 Frances
a
 sintetiza
 a
 re
s
ultante
 deste
 process
o
 
e
m
 qu
e
 a
s
 
"
'Luzes
"
 se
 c
o
ntrapõe
m
 à
 tradição
.
 Co
m
 a
 ra
zão
,
 o
 liberalis
-
m
o
 e
 o
 individualism
o
 se
 finna
m
 c
o
m
o
 p
rin
c
íp
io
s
 d
e
 o
rganizaçã
o
 p
o
lí
-
tic
a
 e
 e
c
o
n
ó
m
ica
,
 d
e
 o
rganizaçã
o
 d
a
 vid
a
 e
m
 s
o
ciedade
.
 Entretanto
, 
e
ste
s
 p
rin
c
íp
io
s
 se
 vêe
m
 e
m
 c
o
ntradiçã
o
 c
otn
 u
m
a
 vid
a
 s
o
cial
 tnarcad
a 
po
r
 profunda
s
 desigualdade
s
 e
 injustiças
.
 A
 afirm
açã
o
 d
a
 igualdad
e
 
-
in
trín
s
e
c
a
 à
 n
atureza
 hum
an
a
 redescoberta
 
-
 produ
z
 a
 n
e
c
e
s
sidad
e
 d
e 
se
 pensa
r
 a
s
 d
ife
re
n
ça
s
 e
xistentes
.
 
O
 R
om
antism
o
 alem
ã
o
 é
 u
m
a
 dessa
s
 alternativas
,
 ao
 s
ublinha
r
 a 
singularização
,
 u
m
a
 
"
"desigualdade
"
 sinalizadora
 d
o
 qu
e
 é
 
"
"p
ró
p
rio
"
,
 
peculia
r
 a
 c
ad
a
 u
m
.
 Engendra-s
e
 a
s
sim
 u
m
a
 c
o
n
c
epçã
o
 d
e
 que
,
 m
e
s
m
o
 
garantid
a
 a
 igualdad
e
 jurídica
,
 se
 pod
e
 aponta
r
 a
 d
ife
re
n
ça
,
 situada
, 
e
ntão
,
 e
m
 o
utro
 plano
:
 n
a
 interioridade
.
 SIM
M
EL
 (1971)
 denotnin
a 
tm
iqueness
 (individualism
o
 qualitativo)
 essa
 visã
o
 ro
m
ân
tica
,
 e
m
 c
o
n
-
traposiçã
o
 à
 singleness.
 
o
 individualism
o
 quantitativo
,
 ilum
inista
,
 ba
-
s
e
ad
o
 n
o
 id
e
á
rio
 d
e
 liberdad
e
 e
 igualdade
.
 
S
e
 esta
 singularidad
e
 ro
m
ân
tic
a
 se
 apresenta
 principalm
ente
 n
a
s
 a
rte
s 
(o
 
"g
én
io
"
 s
e
nd
o
 s
e
u
 grand
e
 sím
b
o
lo)
,
 rapidam
ente
 ela
 se
 e
spraia
 para 
o
utra
s
 e
sferas
.
 Com
o
,
 p
o
rém
,
 retom
a
r
 à
 d
ife
re
n
ça
,
 s
e
m
 m
a
c
ula
r
 a
 re
-
descoberta
 d
a
 n
atureza
 hum
ana?
 A
 B
iologia
 fornec
e
 a
 re
sposta
:
 nã
o
 
m
ais
 a
 d
ife
re
n
ç
a
 c
e
ntrad
a
 n
o
s
 v
ín
c
u
lo
s
 c
o
m
u
n
itário
s
 e
 religioso
s
 pre
-
s
e
nte
s
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a
 tradição
,
 m
a
s
 u
m
a
 d
ife
re
n
ç
a
 que
,
 ta
m
b
é
m
 ela
,
 fa
z
 parte
 d
a 
n
atureza
.
 São
,
 portanto
,
 dois
 o
s
 e
ntendim
ento
s
 d
e
 n
atureza;
 c
o
m
o
 ra
-
zão
,
 afirm
a
 a
 igualdad
e
 do
s
 hom
en
s
 qu
e
 lhe
s
 propicia
 c
o
n
stm
ir
 a
 vid
a 
e
m
 s
o
ciedade;
 po
r
 o
utro
 lado
,
 aponta
 u
m
a
 desigualdad
e
 qu
e
 se
 silu
a 
aq
u
é
m
 d
a
 s
o
ciedade
,
 qu
e
 é
 b
io
ló
g
ica
,
 pertenc
e
 a
o
 
"
"o
rganism
o
 hum
a
-
n
o
".^
 
Nã
o
 é
 s
o
m
e
nte
 e
sta
 c
o
n
c
epçã
o
 qu
e
 decorre
 d
a
 prim
azia
 d
o
 c
o
nheci
-
m
e
nto
 b
io
ló
g
ic
o
 n
o
 s
é
c
u
lo
 XIX
.
 U
m
 do
s
 c
o
n
c
eito
s
 qu
e
 e
ntã
o
 e
m
e
rg
e
 é 
o
 d
e
 
"
"
raçíj
"
 que
,
 e
m
bora
 denote
 a
 h
e
ra
n
ç
a
 d
e
 c
a
ra
c
te
rís
tic
a
s
 fís
ic
a
s
 
pertencente
s
 a
o
s
 diferente
s
 grupo
s
 hum
anos
,
 n
o
 c
o
ntexto
 d
e
 re
açã
o
 a
o
 
id
e
á
rio
 ilum
inista
 aproxim
a-s
e
 m
uito
 d
o
 c
o
n
c
eito
 d
e
 
"povo":
 
a
c
re
s
-
c
e
ntando-s
e
 o
 c
o
n
c
eito
 darvvinisla
 d
e
 s
eleçã
o
 n
atural,
 form
a-s
e
 u
m
 c
al
-
d
o
 propicio
 nã
o
 só
 à
 afirm
açã
o
 d
a
 d
ife
re
n
ç
a
 
-
 biologicam
ente
 determ
i
-
n
ad
a
 
-
 c
o
m
o
 à
 hierarquizaçã
o
 da
s
 diferente
s
 ra
ç
a
s
,
 justificativ
a
 para
 o
 
d
o
m
ín
io
 o
cidental,
 d
o
 hom
e
m
 branco
,
 s
obre
 o
s
 
"
"povo
s
 priniitii'os"
.
 
S
e
 a
 B
iologia
 procura
 e
xplica
r
 aquilo
 qu
e
 e
s
tá
 aq
u
é
m
 d
a
 s
o
ciedade
.
 
13 
A
N
A
 
M
A
R
IA
 
JA
CÓ-VILELA 
é
 p
ré
-s
o
c
ie
tá
rio
,
 é
 p
o
s
s
ív
e
l
 e
ntã
o
 qu
e
 e
xpliqu
e
 ta
m
b
é
m
 o
s
 c
o
m
porta
-
m
e
nto
s
 hum
anos
.
 São
 desta
 ép
o
c
a
 tanto
 a
 frenologia
 d
e
 G
alto
n
 
-
 inter
-
pretaçã
o
 d
a
 c
apacidad
e
 hum
an
a
 (caráter
,
 funções
 intelectuais)
 a
tra
v
é
s
 
d
o
 tam
anh
o
 e
 c
o
nform
açã
o
 d
o
 c
râ
n
io
 
-
,
 quanto
 a
 antropologia
 
crim
i-
n
al,
 c
o
m
 Cesare
 Lom
bros
o
 a
rgum
entand
o
 s
e
r
 a
 c
rim
inalidad
e
 u
m
 fe
n
ó
-
m
e
n
o
 h
e
re
d
itá
rio
,
 p
a
s
s
ív
e
l
 d
e
 s
e
r
 re
c
o
nhecid
o
 pela
s
 c
a
ra
c
te
rís
tic
a
s
 físi
-
c
a
s
 d
o
 in
d
ivíd
u
o
.
 
A
 Psiquiatria
,
 s
abe
r
 s
obre
 a
 loucura
 qu
e
 s
e
 instaura
 a
 partir
 d
a
 p
rá
-
tic
a
 c
lín
ic
a
 d
o
 s
é
c
u
lo
 XVIII
 
-
 principalm
ente
 c
o
m
 Phillip
e
 Pinel,
 den
-
tro
 d
e
 u
m
 e
s
p
írito
 ilum
inista
 
-
,
 adere
,
 a
o
 long
o
 d
o
 s
é
c
u
lo
 XIX
,
 a
o
s 
n
o
v
o
s
 tem
po
s
 
-
 a
s
sim
 c
o
m
o
 a
 frenologia
 fornec
e
 justificativ
a
 para
 o
s 
tratam
ento
s
 m
o
rais
 e
ntã
o
 e
m
pregados
,
 a
s
 teoria
s
 d
a
 degenerescência 
procura
m
 e
stabelece
r
 ligaçã
o
 e
ntre
 a
 loucura
 individual
 e
 a
 degenera
-
çã
o
 ra
cial
.
 A
 degeneraçã
o
 é
,
 e
ntão
,
 a
 c
ategoria
 m
é
d
ic
o
-m
o
ra
l
 po
r
 e
x
c
e
-
lência
.
 Conform
e
 D
ELG
ADO
: 
A
 degeneraçã
o
 re
spond
e
 à
 e
xigência
 d
e
 u
ma
 e
xplicaçã
o
 s
obre
 a
s
 c
a
u
-
s
a
s
 da
s
 e
nferinidade
s
 m
e
ntais
,
 fornecend
o
 u
m
a
 chav
e
 e
tio
ló
g
ic
a
 c
apa
z 
d
e
 e
ngloba
r
 tanto
 a
s
 d
o
e
n
ç
a
s
 nitidam
ente
 o
rg
â
n
ic
a
s
 c
o
m
o
 o
s
 d
is
tú
rb
io
s
 
m
o
rais
.
 Supera
 a
 e
xigência
 d
e
 identificaçã
o
 d
a
 bas
e
 o
rg
ân
ic
a
 d
a
 doen
-
ça
,
 
alojand
o
 a
s
 c
a
u
s
a
s
 n
u
m
a
 
"c
o
n
stituição
"
 o
ra
 v
isível,
 o
ra
 in
v
isível
,
 e 
qu
e
 atravess
a
 gerações
.
 Estabelec
e
 (...)
 u
m
a
 n
o
v
a
 s
e
m
iologia
,
 do
s
 e
s
-
tigm
as
,
 c
apa
z
 d
e
 v
e
r
 e
m
 fato
s
 m
o
rais
 e
 m
a
rc
a
s
 fís
ic
a
s
 o
s
 sinais
 d
a
 a
n
o
-
m
alia
 c
o
n
stitucional
.
 (...)
 E
,
 principalm
ente
,
 perm
ite
 o
 trâ
n
s
ito
 tácil
 e 
eficiente
 d
e
 v
alore
s
 e
 c
ategoria
s
 d
o
 c
o
rp
o
 e
 d
a
 alm
a
,
 d
a
 fisiologia e
 d
o
 
c
o
m
portam
ento
,
 n
a
 c
lín
ic
a
 e
 n
o
s
ologia
 d
a
 alienaçã
o
 (1992
:
 80-81)
.
 
S
e
 a
 degeneraçã
o
 te
m
 s
uficiente
 v
alo
r
 e
xplicativ
o
 d
a
 c
a
u
s
alidad
e 
do
s
 
"
d
is
tú
rb
io
s
 m
o
rais",
 
ela
 pode
,
 e
ntão
,
 e
xplica
r
 o
s
 ato
s
 desviante
s 
d
a
 n
o
rm
a
 s
o
cial
.
 N
a
 disputa
 e
ntre
 o
s
 s
abere
s
 m
éd
ic
o
 e
 jurídic
o
 (cujo
 
prim
eiro
 e
m
bate
 relatad
o
 provavelm
ente
 foi
 o
 c
a
s
o
 Pierre
 R
ivière^)
, 
a
s
siste-s
e
 a
 u
m
a
 
"psiquiatrização"
 
d
o
 c
rim
e
:
 a
 v
e
rdad
e
 jurídic
a
 é
 obti
-
d
a
 pelo
 e
x
a
m
e
 d
o
 c
rim
inos
o
 (FOUCAULT
,
 1996)
,
 pelo
 e
s
c
m
tinio
 d
e 
s
u
a
s
 m
otivaçõe
s
 e
 intenções
,
 e
m
 qu
e
 o
 testem
unh
o
 d
o
 ato
 c
rim
inos
o
 se 
transform
a
 e
m
 p
eç
a
 s
e
c
u
n
d
á
ria
 frente
 ao
 c
o
nhecim
ento
 e
specializado
, 
qu
e
 
"s
ab
e
 m
ais
"
 s
obre
 a
s
 potencialidade
s
 d
e
 c
ad
a
 u
m
.
 O
 D
ireito
 C
lá
s
-
sico
,
 qu
e
 se
 fundam
enta
 n
a
 u
niversalidad
e
 d
a
 ra
zão
,
 c
o
m
preendend
o
 o
 
c
rim
e
 c
o
m
o
 decorrente
 d
o
 liv
re
-a
rb
ítrio
 d
o
 in
d
ivíd
u
o
 
-
 m
otiv
o
 pelo
 
+
-Z
v
rv
K
,í
.
 
•>
,
 
„
:
 
.í
,
 
1
4 
 
P
R
IMÓRDIO
S
 D
A
 P
S
IC
O
LO
G
IA
 JU
RÍDIC
A 
qual
 este
 pod
e
 (e
 deve)
 se
r
 re
sponsabilizad
o
 pelo
 se
u
 ato
 delituos
o
 
-
, 
perd
e
 e
s
p
a
ç
o
 para
 o
 D
ireito
 Positivo
,
 para
 o
 questionam
ento
 d
a
 a
utono
-
m
ia
 d
o
 in
d
ivíd
u
o
,
 d
e
 su
a
 c
apacidad
e
 d
e
 se
 a
utogoverna
r
 e
 d
e
 determ
i
-
n
a
r
 su
a
 v
o
ntade
.
 
S
e
 n
o
s
 detivem
o
s
 até
 
aqui
 n
a
s
 inter-relaçõe
s
 e
ntre
 Psiquiatria
 e
 D
i
-
reito
,
 é
 porqu
e
 e
ste
 é
 o
 terren
o
 inicial
 d
a
 n
o
s
s
a
 p
ro
b
le
m
ática
:
 a
 Psiqui
-
atria
,
 e
nquanto
 s
abe
r
 e
 p
rátic
a
 s
obre
 a
 loucura
,
 se
 c
o
n
stitui
 c
o
m
o
 disci
-
plin
a
 a
u
tó
n
o
m
a
 (dentro
 d
o
 c
a
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p
o
 m
aio
r
 d
a
 M
edicina)
 m
uito
 a
nte
s
 d
a 
Psicologia
.
 Com
o
 descrevem
o
s
 a
cim
a
,
 n
o
 s
é
c
u
lo
 XIX
 a
 
"crise
 da
 ra-
zão"-isto
 
é,
 a
 n
e
c
e
s
sidad
e
 d
e
 justifica
r
 a
 desigualdad
e
 e
xistente
 e
ntre 
iguais
 
-
 é
 a
c
o
m
panhad
a
 pela
 re
sposta
 ro
m
ân
tic
a
 d
a
 singularidade
,
 d
a 
interioridade
.
 Em
erg
e
 ta
m
b
é
m
 o
 qu
e
 FO
UCAULT
 (1977)
 denom
in
a 
disciplin
a
 
-
 o
 e
x
a
m
e
,
 a
 m
edida
,
 a
 a
n
á
lis
e
,
 a
 classificação
,
 enfim
,
 o
s 
diferentes
 dispositivo
s
 o
rganizativo-adm
inistrativo
s
 qu
e
 individualiza
m
 
o
s
 hom
ens
:
 
"A
s
 
'luzes
'
 qu
e
 descobrira
m
 as
 liberdade
s
 inventara
m
 tam
-
bém
 
as
 disciplinas
"
 (p.l95)
.
 
É
 n
e
ste
 c
o
ntexto
 qu
e
 s
u
rge
m
 as
 Ciência
s
 H
um
anas
,
 e
ntre
 ela
s
 a 
Psicologia
.
 Suas
 fronteiras
,
 aind
a
 té
n
u
e
s
,
 situam
-n
a
 e
ntre
 a
 Filosofia
 e 
a
 B
iologia
,
 e
ntre
 a
 n
o
rm
a
 e
 a
 função
.
 S
e
 a
 c
o
n
s
ciência
 d
o
 in
d
ivíd
u
o
 
a
u
tó
n
o
m
o
,
 don
o
 d
o
 livre
 a
rb
ítrio
 e
,
 portanto
,
 c
apa
z
 d
e
 se
 a
utogoverna
r 
d
e
 a
c
o
rd
o
 co
m
 as
 regra
s
 d
o
 c
o
ntrato
 s
o
cial,
 é
 o
 p
rin
cíp
io
 d
a
 u
nidad
e
 d
o
 
in
d
ivíd
u
o
,
 nã
o
 é
,
 todavia
,
 u
m
a
 totalidad
e
 fechada
.
 N
ela
 e
stã
o
 presente
s 
diverso
s
 processo
s
 
-
 s
e
n
sitivos
,
 perceptivos
,
 e
m
o
cionais
 e
 v
olitivo
s
 
-
qu
e
 cab
e
 à
 Psicologia
 e
studar:
 
"Nã
o
 é
 c
o
m
o
 u
m
a
 sim
ple
s
 e
ntidade
,
 m
as 
c
o
m
o
 u
m
a
 u
nidad
e
 o
rdenad
a
 d
e
 m
uito
s
 elem
ento
s
 qu
e
 a
 m
e
nte
 hum
an
a 
se
 apresenta
"
 (W
undt
,
 apud
 R
IEB
ER
,
 1980
:
 177)
.
 
W
undt
 é
 u
m
 do
s
 n
o
m
e
s
 m
ais
 c
o
nhecido
s
 d
a
 Psicologia
,
 principal
-
m
ente
 po
r
 su
a
 re
sponsabilidad
e
 n
a
 c
riaçã
o
 d
o
 prim
eiro
 L
a
b
o
ra
tó
rio
 d
e 
Psicologia
 Experim
ental,
 em
 1879
,
 em
 Leipzig
,
 la
b
o
ra
tó
rio
 qu
e
 s
e
rviu
 
d
e
 m
odelo
 a
 m
uito
s
 o
utro
s
 que
,
 posteriorm
ente
,
 su
rgira
m
 em
 p
a
ís
e
s
 
e
u
ropeus
,
 n
o
s
 Estado
s
 Unido
s
 e
,
 m
e
s
m
o
,
 n
o
 B
rasil
.
 Entretanto
,
 é
 im
-
portante
 re
s
s
alta
r
 que
,
 para
 ele
,
 a
 Psicologia
 era
 u
m
a
 ciência
 dupla
: 
e
xperim
ental,
 n
a
 m
edid
a
 em
 qu
e
 e
stud
a
 as
 
"atividade
s
 m
e
ntais
 inferio
-
re
s
 
';
 s
o
cial,
 ao
 investiga
r
 o
s
 processo
s
 m
e
ntais
 s
uperiore
s
 a
tra
v
é
s
 d
a 
a
n
á
lis
e
 do
s
 produto
s
 h
is
tó
ric
o
s
 d
a
 m
e
nte
 hum
ana
.
 Este
 s
egund
o
 e
nten
-
dim
ento
 é
 c
o
m
u
m
e
nte
 e
squecid
o
 n
a
 h
is
tó
ria
 oficial
 d
aPsicologia
,
 re
-
duzindo-s
e
 a
 proem
inência
 d
e
 W
undt
 à
 c
riaçã
o
 d
o
 la
b
o
ra
tó
rio
 e
 d
a
 Psi
-
15 
A
N
A
 
M
A
R
IA
 
JA
CÓ-VILELA 
c
ologia
 Experim
ental
 qu
e
 lá
 inicio
u
 se
u
 desenvolvim
ento
.
 N
o
 jog
o
 d
e 
v
e
rdade
s
 d
a
 c
o
n
stituiçã
o
 d
o
 s
abe
r
 p
s
ic
o
ló
g
ico
,
 e
sta
 foi
 a
 v
e
rtente
 v
e
n
-
c
edora
.
 
A
ssim
,
 a
 Psicologia
 inicia
 s
u
a
 trajetória
 c
ie
n
tífic
a
 a
tra
v
é
s
 d
o
 e
stud
o
 
e
xperim
ental
 do
s
 processo
s
 p
s
ic
o
ló
g
ico
s
,
 o
s
 
"elem
entos
 da
 m
ente".'^ 
Se
u
 objeto
,
 portanto
,
 é
 be
m
 diferente
 d
o
 d
a
 Psiquiatria
 
-
 nã
o
 a
 loucura 
e
 s
u
a
s
 im
bricaçõe
s
 c
o
m
 a
 ra
zão
,
 m
a
s
 a
 a
n
á
lis
e
 daquele
s
 processo
s
 c
o
-
m
u
n
s
 a
 tod
o
 se
r
 hum
an
o
 (o
 u
niversalism
o)
,
 procurand
o
 e
stabelece
r
 a
s 
c
o
ndiçõe
s
 
"n
o
rm
ais'",
 ideais
,
 d
e
 s
e
u
 funcionam
ento
 e
 aquela
s
 o
utra
s 
c
o
ndiçõe
s
 qu
e
 determ
ina
m
 s
e
u
 aparecim
ento
 diferenciado
.
 Percepção
, 
a
s
s
o
ciaçã
o
 d
e
 id
é
ia
s
,
 m
e
m
ó
ria
,
 m
otivação
,
 tem
p
o
 d
e
 re
açã
o
 ctc
,
 sã
o
 
m
ú
ltip
lo
s
 o
s
 processo
s
 s
ubm
etido
s
 à
 v
e
rificaçã
o
 e
xperim
ental
.
 
Co
m
 a
 a
c
u
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ulaçã
o
 dess
e
 saber
,
 é
 p
o
s
s
ív
e
l
 sair
 d
o
 e
s
p
a
ç
o
 re
strito
 d
o
 
la
b
o
ra
tó
rio
,
 m
a
ntendo-s
e
 s
u
a
s
 regra
s
 d
e
 funcionam
ento
.
 O
s
 teste
s
 indi
-
c
a
m
 o
 prescindir
 do
s
 instrum
ento
s
 d
e
 qu
e
 se
 a
chava
m
 dotado
s
 o
s
 labo
-
ra
tó
rio
s
 (m
ecânicos
,
 e
lé
tric
o
s)
,
 transform
ando-s
e
 e
m
 
'"testes
 d
e
 lá
p
is
 e 
papel"
,
 cuja
 facilidad
e
 d
e
 aplicaçã
o
 
-
 tanto
 e
m
 term
o
s
 d
e
 local
 quanto
 
e
m
 relaçã
o
 à
 quantidad
e
 p
o
s
s
ív
e
l
 d
e
 pessoa
s
 testada
s
 ao
 m
e
s
m
o
 tem
p
o
 
-
 fa
z
 c
o
m
 qu
e
 s
e
 torne
m
 a
 té
c
n
ic
a
 privilegiad
a
 d
e
 produçã
o
 do
s
 s
abere
s 
e
 p
rá
tic
a
s
 p
s
ic
o
ló
g
ic
a
s
.
 
É
 a
tra
v
é
s
 dess
e
 instrum
ento
 qu
e
 a
 Psicologia
 se
 aproxim
a
 d
o
 D
irei
-
to
,
 s
e
m
 desloca
r
 a
 Psiquiatria
.
 Nã
o
 se
 trata
 e
ntã
o
 aqui
 d
a
 loucura
,
 m
a
s
, 
po
r
 e
x
e
m
plo
,
 d
a
 fidedignidade
 d
o
 testem
unho.''
 questã
o
 para
 a
 qual
 é 
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portante
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