Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
IN T R O D UÇÃ O O S P R IMÓRDIO S D A P S IC O LO G IA JU RÍDIC A Ana M aria J a c ó - Vilela' O p rin cíp io s ubjacente ao D ireito m odern o é a u niversalidad e d o hom e m n ele representad o - sujeito d a ra zão , livre e igual a o s dem ais seres hum anos . Esse p rin cíp io , d e c e rta form a , sinaliza a re s ultante da - queles m o vim ento s que , do s e stertore s d a Idad e M éd ia a o s é c u lo XVIII, vão c o n stituind o o id eário liberal d a s o ciedad e burguesa . Explicitand o m elho r e sta proposição : e n c o ntram o s n a Idad e M éd ia u m a visã o d e m u nd o holista , totalizante , e m qu e a religiã o e nquanto valo r e n c o m pass a as dem ais e sfera s d a vida . A representaçã o d e ho - m e m n esse u nivers o e ra , portanto , s ubjugad a à red e d e relaçõe s s o ciais em qu e c ad a u m estava inserido , o u seja , a identidad e pessoal se c o n s - titu ía a partir do s e s p a ç o s s o ciais - o s e stam entos , a fa m ília , a c o m u ni - dad e - o c upado s po r c ad a u m . A identidade , n e ste s e ntido , se situav a em tenno s da s posiçõe s relativa s (nobre , s e rv o , pai, filho , a rtesão...) , isto é , era dem arcad a pela d ife re n ç a . O process o d e fragm entaçã o dess e m u nd o holista , relacional - pro - c e s s o e s p e c ífic o das s o ciedade s o cidentais m odernas ' - se c o n stitui co m as n o v a s e xplicaçõe s para esferas d o m u nd o hum ano , e xplicaçõe s qu e s upera m o significad o e x clusiv o até e ntã o dad o pela religião . A s - sim , são m o m e nto s im portantes , n e s s e long o p e río d o d e transição , a re v oluçã o c ie n tífic a d e G alile u (a descoberta da s leis d a n atureza pela observaçã o e e xperim entação , o u seja , não m ais a v e rdad e re v elad a pelas A utoridade s d a Igreja) , a e xpansã o d o c apitalism o - d e su a face m e rc a ntil para a industrial im plicand o n o va form a d e o rganizaçã o d o trabalho , agora "ra cional"- , a reform a protestante , principalm ente em Professora d o Instituto d e Psicologia d a UERJ; doutora e m Psicologia pela USP . II A N A M A R IA JA CÓ-VILELA su a proposiçã o d a "liberdad e d e c o n s ciência " e , po r fim . a s re v oluçõe s politica s que , e m bora o c o rre nd o e m periodo s diferente s (a Ingles a n o s é c u lo XVII, a A m erican a e a Frances a n o s é c u lo XVIII) , e xplicita m u m a n o v a visã o d e hom em : aquele qu e tem , c o m o direito s n aturais , a igualdad e e a liberdade . O m u nd o m oderno , portanto , s u rg e c o m a quebra d a tradiçã o e m basad a n a religião . N este m u nd o nã o há m ais posiçõe s e s tá v e is , fi - x a s; é u m m u nd o e m m o vim ento - se u grand e sím b o lo sã o e x alam ente '"as grande s n a v egações" , ro m pend o c o m a s a m a rra s que , n o u nivers o feudal, c e rc e a v a m o hom em . TO CQ UEVILLE sintetiza brilhantem en - te esta grand e transform ação : "A a ristocracia fizera d e todo s o s cida - dão s u m a long a c adeia , qu e s ubia d o c a m ponê s ao rei; a dem ocracia desfa z a c adeia e põ e c ad a elo à parte " (1977 : 387) . E bo m re s s alta r qu e e s s e process o nã o o c o rre u d e form a linea r e sim ples , c o m o a descriçã o s u cinta a cim a pod e da r a e ntender . A s a n á li - ses s obre e s s e p e río d o aponta m c o m plexidade s e c o ntradiçõe s a qu e nã o se fe z referência , pois o objetivo , aqui, é aponta r para u m a visã o d e m u nd o regularm ente a s s o ciad a à s o ciedad e o cidental m oderna , cujo eix o c e ntral é o individualism o. O u seja , nã o m ais a perspectiv a d o hom e m definid o pela s posiçõe s qu e o c upa , m a s a p re s e n ç a d o in d iv í- duo, s e r m o ral, independente , a u tó n o m o , s e nho r d o livre a rb ítrio . Este é o sujeito juridico , o cidadã o portado r d a ra zão , cuja interaçã o c o m o utro s - igualm ente in d h á d u o s - nã o se regula m ais po r u m a é tic a vin - c ulad a à religiã o e po r relaçõe s fam iliare s o u d e gnipo s n a c o m u nidad e tradicional . Senhore s d a ra zão , o s in d iv íd u o s agora se a s s o ciam , e sta - belece m co ntrato e m s o ciedade . Esta c o n c epçã o d e in d ivíd u o , e ntão , s e apresenta c o m o u m a redes - c oberta d a n atureza hum ana : O in d ivíd u o livre e igual é , portanto , parte d a n atureza . U m a n atureza , p o rém , desencantada , desligad a d e qualque r c o s m ologia religiosa , c uja s leis d e funcionam ento são , po r isso , passiveis d e s e re m c o m preendida s e desvendada s pela ra zã o hum ana . (...) O indivíduo-cidadã o c s ujeito d ara zã o e m dois s e ntido s - porqu e e s tá , e nquanto hom e m n atural, s ub - m etid o (sujeito à) ra zã o (pois é c o m preensivel a tra v é s dela) e a o m e s - m o tem p o s ujeita o m u nd o (e a si p ró p rio) a tra v é s d a ra zão . Esta , n a v e rdade , s e rá a bas e d e s u a a utonom ia . Livre-arbitrio e ra zã o se inter - liga m d e form a in e x tricáve l (RUSSO , 1997 : 13) . 12 O s P R IMÓRDIO S D A P S IC O LO G IA JU RÍDIC A O lem a d a R evoluçã o Frances a sintetiza a re s ultante deste process o e m qu e a s " 'Luzes " se c o ntrapõe m à tradição . Co m a ra zão , o liberalis - m o e o individualism o se finna m c o m o p rin c íp io s d e o rganizaçã o p o lí - tic a e e c o n ó m ica , d e o rganizaçã o d a vid a e m s o ciedade . Entretanto , e ste s p rin c íp io s se vêe m e m c o ntradiçã o c otn u m a vid a s o cial tnarcad a po r profunda s desigualdade s e injustiças . A afirm açã o d a igualdad e - in trín s e c a à n atureza hum an a redescoberta - produ z a n e c e s sidad e d e se pensa r a s d ife re n ça s e xistentes . O R om antism o alem ã o é u m a dessa s alternativas , ao s ublinha r a singularização , u m a " "desigualdade " sinalizadora d o qu e é " "p ró p rio " , peculia r a c ad a u m . Engendra-s e a s sim u m a c o n c epçã o d e que , m e s m o garantid a a igualdad e jurídica , se pod e aponta r a d ife re n ça , situada , e ntão , e m o utro plano : n a interioridade . SIM M EL (1971) denotnin a tm iqueness (individualism o qualitativo) essa visã o ro m ân tica , e m c o n - traposiçã o à singleness. o individualism o quantitativo , ilum inista , ba - s e ad o n o id e á rio d e liberdad e e igualdade . S e esta singularidad e ro m ân tic a se apresenta principalm ente n a s a rte s (o "g én io " s e nd o s e u grand e sím b o lo) , rapidam ente ela se e spraia para o utra s e sferas . Com o , p o rém , retom a r à d ife re n ça , s e m m a c ula r a re - descoberta d a n atureza hum ana? A B iologia fornec e a re sposta : nã o m ais a d ife re n ç a c e ntrad a n o s v ín c u lo s c o m u n itário s e religioso s pre - s e nte s n a tradição , m a s u m a d ife re n ç a que , ta m b é m ela , fa z parte d a n atureza . São , portanto , dois o s e ntendim ento s d e n atureza; c o m o ra - zão , afirm a a igualdad e do s hom en s qu e lhe s propicia c o n stm ir a vid a e m s o ciedade; po r o utro lado , aponta u m a desigualdad e qu e se silu a aq u é m d a s o ciedade , qu e é b io ló g ica , pertenc e a o " "o rganism o hum a - n o ".^ Nã o é s o m e nte e sta c o n c epçã o qu e decorre d a prim azia d o c o nheci - m e nto b io ló g ic o n o s é c u lo XIX . U m do s c o n c eito s qu e e ntã o e m e rg e é o d e " " raçíj " que , e m bora denote a h e ra n ç a d e c a ra c te rís tic a s fís ic a s pertencente s a o s diferente s grupo s hum anos , n o c o ntexto d e re açã o a o id e á rio ilum inista aproxim a-s e m uito d o c o n c eito d e "povo": a c re s - c e ntando-s e o c o n c eito darvvinisla d e s eleçã o n atural, form a-s e u m c al - d o propicio nã o só à afirm açã o d a d ife re n ç a - biologicam ente determ i - n ad a - c o m o à hierarquizaçã o da s diferente s ra ç a s , justificativ a para o d o m ín io o cidental, d o hom e m branco , s obre o s " "povo s priniitii'os" . S e a B iologia procura e xplica r aquilo qu e e s tá aq u é m d a s o ciedade . 13 A N A M A R IA JA CÓ-VILELA é p ré -s o c ie tá rio , é p o s s ív e l e ntã o qu e e xpliqu e ta m b é m o s c o m porta - m e nto s hum anos . São desta ép o c a tanto a frenologia d e G alto n - inter - pretaçã o d a c apacidad e hum an a (caráter , funções intelectuais) a tra v é s d o tam anh o e c o nform açã o d o c râ n io - , quanto a antropologia crim i- n al, c o m Cesare Lom bros o a rgum entand o s e r a c rim inalidad e u m fe n ó - m e n o h e re d itá rio , p a s s ív e l d e s e r re c o nhecid o pela s c a ra c te rís tic a s físi - c a s d o in d ivíd u o . A Psiquiatria , s abe r s obre a loucura qu e s e instaura a partir d a p rá - tic a c lín ic a d o s é c u lo XVIII - principalm ente c o m Phillip e Pinel, den - tro d e u m e s p írito ilum inista - , adere , a o long o d o s é c u lo XIX , a o s n o v o s tem po s - a s sim c o m o a frenologia fornec e justificativ a para o s tratam ento s m o rais e ntã o e m pregados , a s teoria s d a degenerescência procura m e stabelece r ligaçã o e ntre a loucura individual e a degenera - çã o ra cial . A degeneraçã o é , e ntão , a c ategoria m é d ic o -m o ra l po r e x c e - lência . Conform e D ELG ADO : A degeneraçã o re spond e à e xigência d e u ma e xplicaçã o s obre a s c a u - s a s da s e nferinidade s m e ntais , fornecend o u m a chav e e tio ló g ic a c apa z d e e ngloba r tanto a s d o e n ç a s nitidam ente o rg â n ic a s c o m o o s d is tú rb io s m o rais . Supera a e xigência d e identificaçã o d a bas e o rg ân ic a d a doen - ça , alojand o a s c a u s a s n u m a "c o n stituição " o ra v isível, o ra in v isível , e qu e atravess a gerações . Estabelec e (...) u m a n o v a s e m iologia , do s e s - tigm as , c apa z d e v e r e m fato s m o rais e m a rc a s fís ic a s o s sinais d a a n o - m alia c o n stitucional . (...) E , principalm ente , perm ite o trâ n s ito tácil e eficiente d e v alore s e c ategoria s d o c o rp o e d a alm a , d a fisiologia e d o c o m portam ento , n a c lín ic a e n o s ologia d a alienaçã o (1992 : 80-81) . S e a degeneraçã o te m s uficiente v alo r e xplicativ o d a c a u s alidad e do s " d is tú rb io s m o rais", ela pode , e ntão , e xplica r o s ato s desviante s d a n o rm a s o cial . N a disputa e ntre o s s abere s m éd ic o e jurídic o (cujo prim eiro e m bate relatad o provavelm ente foi o c a s o Pierre R ivière^) , a s siste-s e a u m a "psiquiatrização" d o c rim e : a v e rdad e jurídic a é obti - d a pelo e x a m e d o c rim inos o (FOUCAULT , 1996) , pelo e s c m tinio d e s u a s m otivaçõe s e intenções , e m qu e o testem unh o d o ato c rim inos o se transform a e m p eç a s e c u n d á ria frente ao c o nhecim ento e specializado , qu e "s ab e m ais " s obre a s potencialidade s d e c ad a u m . O D ireito C lá s - sico , qu e se fundam enta n a u niversalidad e d a ra zão , c o m preendend o o c rim e c o m o decorrente d o liv re -a rb ítrio d o in d ivíd u o - m otiv o pelo + -Z v rv K ,í . •> , „ : .í , 1 4 P R IMÓRDIO S D A P S IC O LO G IA JU RÍDIC A qual este pod e (e deve) se r re sponsabilizad o pelo se u ato delituos o - , perd e e s p a ç o para o D ireito Positivo , para o questionam ento d a a utono - m ia d o in d ivíd u o , d e su a c apacidad e d e se a utogoverna r e d e determ i - n a r su a v o ntade . S e n o s detivem o s até aqui n a s inter-relaçõe s e ntre Psiquiatria e D i - reito , é porqu e e ste é o terren o inicial d a n o s s a p ro b le m ática : a Psiqui - atria , e nquanto s abe r e p rátic a s obre a loucura , se c o n stitui c o m o disci - plin a a u tó n o m a (dentro d o c a m p o m aio r d a M edicina) m uito a nte s d a Psicologia . Com o descrevem o s a cim a , n o s é c u lo XIX a "crise da ra- zão"-isto é, a n e c e s sidad e d e justifica r a desigualdad e e xistente e ntre iguais - é a c o m panhad a pela re sposta ro m ân tic a d a singularidade , d a interioridade . Em erg e ta m b é m o qu e FO UCAULT (1977) denom in a disciplin a - o e x a m e , a m edida , a a n á lis e , a classificação , enfim , o s diferentes dispositivo s o rganizativo-adm inistrativo s qu e individualiza m o s hom ens : "A s 'luzes ' qu e descobrira m as liberdade s inventara m tam - bém as disciplinas " (p.l95) . É n e ste c o ntexto qu e s u rge m as Ciência s H um anas , e ntre ela s a Psicologia . Suas fronteiras , aind a té n u e s , situam -n a e ntre a Filosofia e a B iologia , e ntre a n o rm a e a função . S e a c o n s ciência d o in d ivíd u o a u tó n o m o , don o d o livre a rb ítrio e , portanto , c apa z d e se a utogoverna r d e a c o rd o co m as regra s d o c o ntrato s o cial, é o p rin cíp io d a u nidad e d o in d ivíd u o , nã o é , todavia , u m a totalidad e fechada . N ela e stã o presente s diverso s processo s - s e n sitivos , perceptivos , e m o cionais e v olitivo s - qu e cab e à Psicologia e studar: "Nã o é c o m o u m a sim ple s e ntidade , m as c o m o u m a u nidad e o rdenad a d e m uito s elem ento s qu e a m e nte hum an a se apresenta " (W undt , apud R IEB ER , 1980 : 177) . W undt é u m do s n o m e s m ais c o nhecido s d a Psicologia , principal - m ente po r su a re sponsabilidad e n a c riaçã o d o prim eiro L a b o ra tó rio d e Psicologia Experim ental, em 1879 , em Leipzig , la b o ra tó rio qu e s e rviu d e m odelo a m uito s o utro s que , posteriorm ente , su rgira m em p a ís e s e u ropeus , n o s Estado s Unido s e , m e s m o , n o B rasil . Entretanto , é im - portante re s s alta r que , para ele , a Psicologia era u m a ciência dupla : e xperim ental, n a m edid a em qu e e stud a as "atividade s m e ntais inferio - re s '; s o cial, ao investiga r o s processo s m e ntais s uperiore s a tra v é s d a a n á lis e do s produto s h is tó ric o s d a m e nte hum ana . Este s egund o e nten - dim ento é c o m u m e nte e squecid o n a h is tó ria oficial d aPsicologia , re - duzindo-s e a proem inência d e W undt à c riaçã o d o la b o ra tó rio e d a Psi - 15 A N A M A R IA JA CÓ-VILELA c ologia Experim ental qu e lá inicio u se u desenvolvim ento . N o jog o d e v e rdade s d a c o n stituiçã o d o s abe r p s ic o ló g ico , e sta foi a v e rtente v e n - c edora . A ssim , a Psicologia inicia s u a trajetória c ie n tífic a a tra v é s d o e stud o e xperim ental do s processo s p s ic o ló g ico s , o s "elem entos da m ente".'^ Se u objeto , portanto , é be m diferente d o d a Psiquiatria - nã o a loucura e s u a s im bricaçõe s c o m a ra zão , m a s a a n á lis e daquele s processo s c o - m u n s a tod o se r hum an o (o u niversalism o) , procurand o e stabelece r a s c o ndiçõe s "n o rm ais'", ideais , d e s e u funcionam ento e aquela s o utra s c o ndiçõe s qu e determ ina m s e u aparecim ento diferenciado . Percepção , a s s o ciaçã o d e id é ia s , m e m ó ria , m otivação , tem p o d e re açã o ctc , sã o m ú ltip lo s o s processo s s ubm etido s à v e rificaçã o e xperim ental . Co m a a c u m ulaçã o dess e saber , é p o s s ív e l sair d o e s p a ç o re strito d o la b o ra tó rio , m a ntendo-s e s u a s regra s d e funcionam ento . O s teste s indi - c a m o prescindir do s instrum ento s d e qu e se a chava m dotado s o s labo - ra tó rio s (m ecânicos , e lé tric o s) , transform ando-s e e m '"testes d e lá p is e papel" , cuja facilidad e d e aplicaçã o - tanto e m term o s d e local quanto e m relaçã o à quantidad e p o s s ív e l d e pessoa s testada s ao m e s m o tem p o - fa z c o m qu e s e torne m a té c n ic a privilegiad a d e produçã o do s s abere s e p rá tic a s p s ic o ló g ic a s . É a tra v é s dess e instrum ento qu e a Psicologia se aproxim a d o D irei - to , s e m desloca r a Psiquiatria . Nã o se trata e ntã o aqui d a loucura , m a s , po r e x e m plo , d a fidedignidade d o testem unho.'' questã o para a qual é im portante o c o nhecim ento d a percepção , d a m otivaçã o e e m oção , d o funcionam ento d a m e m ó ria , d o m e c a nism o d e aquisiçã o d e h á b ito s , d o papel d a repressão . FO UCAULT (1996) , ao historiara v e rdad e s egund o a s fo rm a sjurí - dica s d e su a c o n stituição , destac a prim eiram ente a " "prova" ' - qu e M IR A y LO PEZ descrc x e , e m s e u c lá s s ic o "M anual de Psicologia J u ríd ic a " (1945) . ao c o m para r o s a ntigo s julgamento s persa s c o m o s m éto d o s atuais d e e x a m e a tra v é s d e diferente s teste s - . s eguid a d o " "testem u - nho " daquele qu e viu e . po r ú ltim o , o " "exam e"" , a a v aliaçã o p s ic o ló g ic a d o c rim inoso . A "Psicologia d o Testem unho"" , historicam ente a prim eira grand e a rticulaçã o e ntre Psicologia e D ireito , dem onstra a psicologiza - çã o qu e se e n c o ntra e m cu rso : nã o só o c rim inos o dev e se r e .x a n ú n ad o , m a s ta m b é m aquele qu e e relata aquilo qu e \u - qu e processo s inter - n o s e starã o propiciand o o u dificultand o a v e ra cidad e d e se u relato? 16 O s P R IMÓRDIO S D A P S IC O LO G IA JU RÍDIC A Entretanto , a psicologizaçã o nã o é só d o D ireito , e m su a v e rtente d o D ireito Positivo . Co m a ênfas e n a singularidad e e n a interioridade , he - ra n ç a d o ro m a ntism o , e a e xistência d e m ú ltip lo s - e fragm entado s - p o s s ív e is sistem a s d e o rdenaçã o d o m u ndo , o in d ivíd u o m odern o busc a c ad a v e z m ais dentro d e si a s c e rteza s e o s significado s para a s u a vida . Para isto , re c o rre a o e specialista , a o e n c a rregad o d o c uidad o d a s ubje - tividade . A questã o qu e perm anece , n e ste m o m e nto d e e xpansã o d a á re a d e Psicologia Juridic a para a lé m d a J u s tiç a Crim inal, e n v olvend o princi - palm ente fam ilia , in fân cia e adolescência , refcre-se à m a n eira c o m o o p sicó lo g o a c e ita rá /a tu a rá frente a e ste e n c a rgo : s e rá o e strito a v aliado r d a intim idade , a p e rfe iço an d o s e u s m éto d o s d e e x a m e? O u lem brar-se - á qu e e ste s ujeito-singula r ta m b é m é u m s ujeito-cidadão , cujo s direito s e devere s se c o n stitue m n o e s p a ç o p ú b lico , te rritó rio o nd e perpassa m o utro s discurso s e p rá tic a s qu e nã o o e x clusivam ente p s ic o ló g ico ? N O T A S ' Cf., a re speito , DUM O N T (1985) . ^ E m oposiçã o a o m u nd o fragm entad o d o liberalism o/individualism o , o ro m a ntis - m o propõ e u m retorn o à totalidad e c apa z d e fornece r u m s e ntid o ao s diverso s ele - m e ntos . N a m e s m a linha , a.ssiste-.se , n o sé c u lo XIX , a o predom inio d o "o rganis - m o " c o m o m e táfo ra para a vid a em s o ciedad e - u m a totalidade , p o rém , c m qu e funçõe s diferente s sã o diferentem ente v alorada s (cf . RUSSO , 1997) . 'C f . CASTEL (1977) . O "c a s o F e b rô n io " , o c o rrid o n o s a n o s vinte deste s é c u lo , pod e se r c o n siderad o p a ra d ig m ático , em n o s s a s plagas , dess a disputa e ntre " m éd i - c o s e juizes " (cf . FRY , 1982; 1985) . "* E im portante lem bra r que , m e s m o co m o s u rgim ento d e escolas e sistem a s teó ri - c o s e m Psicologia qu e .se afasta m d o e struturalism o d e W undt , a m etodologia e xpe - rim ental perm anece . Este é o c a s o d a G eslalt , po r e x e m plo : e m bora s e postule c o ntrariam ente a W undt a o e nfatiza r a totalidad e (a form a , a c o nfiguração) em oposiçã o a o s elem entos , investig a s u a s proposiçõe s a tra v é s d a e xperim entação . 'C f . M O RAES (19.39) . R E F E RÊNCIA S B IB LIO G RÁFICA S C A STEL , R obert . "O s m éd ico s e o s juizes" . In : FO UCAULT . M ichel (coord.) . Eu, Pierre Rivière, que degolei m inha m ãe, m inha irm ã e m eu irm ão. 5 . ed . R io d e Janeiro : G raal, 1977 . 17 A N A M A R IA JA CÓ-VILELA D ELG A D O , Pedro G abriel . As razões da tutela - psiquiatria, ju stiça e cida- dania do louco n o Brasil. R io d e Janeiro : T e C o rá , 1992 . D U M O N T , Louis . O individualism o - u m a perspectiva a n tro p o ló g ic a da ide- ologia m oderna. R io d e Janeiro : R occo , 1985 . FO UCAULT , M ichel . A verdade e as form as ju ríd icas. R io d e Janeiro : N au , 1996 . . Idgiar e punir: n ascim ento da prisão. P e tró p o lis : Vozes , 1977 . FR Y , Peter . "F e b rô n io ín d io d o B rasil: o nd e c ru za m a Psiquiatria , a Protccia , a hom ossexualidad e e a Lei" . In : E U LÁLIO , A . et alii . Cam inhos cru zados: Linguagem , Antropologia eCiênciasNaturais. Sã o Paulo : B rasiliense , 1982 , p . 65-80 . . "D ireito Positiv o v e rs u s D ireito C lá s s ic o : a psicologizaçã o d o c rim e n o B rasil n o pensam ento d e H eito r Carrilho" . In : FIG U EIR A , S . (org.) Cultura da P s ic a n á lis e . Sã o Paulo : B rasiliense , 1985 , p . 116-141 . M IR A Y LO PEZ , Em ilio . M anual de Psicologia Juridica. B ueno s A ires : El A teneo , 1945 . M O R A ES , Evaristo de . O testem unho perante a ju stiça penal. R io d e Janeiro : Liv . Jacintho , 1939 . R IEB ER , R . W . (ed.) . W ilhelm W undt and lhe m aking ofa .scientific Psychology. N e w York : Pleniim Press , 1980 . R U SSO , Jan e A raújo . "O s trê s s ujeito s d a Psiquiatria" . Cadernos IPUB, R io d e Janeiro (8) , 1997 : 11-21 . SIM M EL , G eorge . "G roup e xpansio n a nd th e developm ent of th e individuality" . In : LEVIN E JR . (ed.) . O n individuality and so cial form s. Chicago : Th e University of Chicag o Press , 1971 . TO CQ UEVILLE , A léxis de . A dem ocracia n a A m é ric a . 2. ed. B elo H orizon - te : Itatiaia; Sã o Paulo : Edusp , 1977 . 18 LA P S IC O LO G IA FO R EN S E E N A R G E N TIN A Lie. Roberto Victor Saunier* El poder es co n cebido co m o u n a funciòn que dehe hablai; y los sujetos deben co m u nicarse co n él, y entre ellos, en su n o m bre. Enriqu e M ari (Conferencia in é d ita) B R E V E R E F E R E N C IA T EÓ RIC A I.E l S aberyei P ode r R osaD EL O LM O ' (1987 : 23) c o m ienza s u Irabajo "L a c a ra o c ulta d e la droga " citand o e ste d iálo g o e ntre u n im portante to x icó lo g o inglê s y s u hijo : - iP a p á , qué e s u n a droga? - U n a droga , hijo m io , es u n a s u staneia qu e inyeetad a e n u n perro produc e u n trabajo d e in v e s tig a c ió n . L o parcial d e Ia re spuesta , y d e alli el c o nflicto , re s u lta rá e vidente e u a nd o e ste d iálo g o sea m a ntenid o e ntre sujeto s que , o bie n pregunta n lo qu e y a c re e n saber , e sperando , siu lograrlo , n u a re spuesta qu e c o nfir - m e , legitim e e s e s aber , o bie n e u a nd o el luga r desd e el qu e se habla y se e s c u cha , el e spacio e n el qu e se dialoga , n o e s c oincidente . Continuem o s co n el d iálo g o e ntre el padre y el hijo . Q u e el uiflo le pregunte a s u padre , y a n o s refiere cierta s c u e stiones . A q u él, cl nitro , re c o n o c e e n e ste ú ltim o u n s abe r sobre la c u e s tió n . Y n o porqu e se trate Lie . e n Psicologia , Psicoanalista , Superviso r dcl A rc a P s ic o ló g ic a d e la P ro s e c re ta ría d e Patronato d e la Excm a . C âm ara N ac . d e Apelacione s en lo Crim i - n ai y Correccional Federal d e la Ciudad d eB ueno s Aires , Presidente d e la A s o c ia c ió n de P s icó lo g o s Forense s d e la R ep ú b lic a A rgentina . 19
Compartilhar