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TRABALHO - IDADE MÉDIA

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THAIS VILAS BOAS MARTINS
TRABALHO
Trabalho apresentado a Universidade de Franca como exigência da disciplina de Metodologia da História e da Pesquisa, do Curso de História, sob a orientação da professora Rosana Aparecida Cintra.
FRANCA
2010
TRABALHO
Poderíamos falar em Idades Médias?
O período tradicionalmente conhecido por Idade Média abrande cerca de um milênio, durante o qual um conjunto de caracteres marcantes e específicos criou uma personalidade histórica própria, que nos permite falar dela diferentemente em relação a outras épocas. Por muito tempo a historiografia procurou estabelecer as balizas cronológicas medievais. Seguindo uma perspectiva muito particularista (às vezes política, às vezes religiosa), já se falou, dentre outras datas, em 476 (deposição do ultimo imperador romano) ou 330 (reconhecimento da liberdade de culto aos cristãos) como ponto de partida da Idade Média. Para seu termino já se pensou em 1453 (queda de Constantinopla e fim da Guerra dos Cem Anos), 1492 (descoberta da América) e 1517 (inicio da Reforma Protestante). 
Assim, sendo a história um processo, deve-se renunciar a busca de um fato que teria inaugurado ou encerrado um determinado período. Assim, pode-se falar em Idades Médias se analisarmos a existência de estruturas básicas ao longo do milênio. Assim, passou-se a subdividir a história medieval em fases que apresentaram certa unidade interna. Pode-se destacar: a Alta Idade Média e a Baixa Idade Média (Idade Média Plena e Idade Média Tardia).
Qual a visão do século XVII, XVIII, XIX sobre o período medieval?
A Idade Média foi um período de muitas revelações, conquistas e mudanças no cenário da humanidade. Pode-se observar que no século XVII ainda tinha-se o sentido filosófico atribuído a visão das coisas, uma conseqüência do contexto histórico do século anterior. Este sentido, no entanto, passou a prevalecer a expressam medium aevum, usada pelo francês Du Cange em 1678. Mas o sucesso do termo veio com o manual escolar do alemão Chistopher Keller (conhecido pela latinização de seu cnome, Cellarius) publicado em 1688 e intitulado Historia Medii Aevi a temporibus Constantini Magni ad Constantinopolim a Turcis Captam deducta. Esta obra completava outras duas do autor, um dedicado aos tempos “antigos” e outro aos “modernos”.
Observa-se que o sentido básico mantinha-se renascentista: a “Idade Média” teria sido uma interrupção no progresso humano, inaugurado pelos gregos e romanos e tetomado pelos homens do século XVI. Ou seja, para o Século XVII os séculos “medievais” também eram vistos como de barbárie, ignorância e superstição. Os protestantes criticavam-nos como época de supremacia da Igreja Católica. Os homens ligados às poderosas monarquias absolutistas lamentavam aquele período de reis fracos, de fragmentação política. Os burgueses capitalistas desprezavam tais séculos de limitada atividade comercial. Os intelectuais racionalistas deploravam aquela cultura muito ligada a valores espirituais.
Assim, pode-se compreender que o século XVIII (antiaristocrático e anticlerical) acentuou o menosprezo à idade Média, vista como momento áureo da nobreza e do clero. A filosofia da época, chamada de iluminista por se guiar a luz da Razão, censurava sobretudo a forte religiosidade medieval, o pouco apego a Idade Média a um estrito relacionamento e o peso político de que a Igreja então desfrutava. Revelando tais críticas, para Diderot “sem religião, seriamos um pouco mais felizes”. Para Condorcet, a humanidade sempre esteve numa marcha em direção ao progresso, com exceção do perido no qual predominava o cristianismo, isto é, a Idade Média. Para Voltaire, os papas eram símbolos do fanatismo e do atraso daquela fase histórica, por isso afirmava, irônico, que “é uma prova da divindade de seus caracteres terem subsistido a tantos crimes”. A posição daquele pensador sobre a Idade Média poderia ser sintetizada pelo tratamento que dispensava à Igreja: “a Infame”.
No entanto, com o Romantismo da primeira metade do século XIX o preconceito com relação a Idade Média se inverteu. O ponto de partida fora a questão da identidade nacional, que ganhara forte significado com a Revolução Francesa. As conquistas de Napoleão alimentaram o fenômeno, com a pretensão do imperador francês de reunir a Europa sob uma única direção, despertando em cada região dominada ou ameaçada uma valorização de suas especificidades, de sua personalidade nacional, enfim, de sua história. Ao mesmo tempo, tudo isso punha em xeque a validade do racionalismo, tão exaltado pela centúria interior, e que levara a Europa àquele contexto de conturbações, revoluções e guerras.
Assim, estavam as raízes do Romantismo e sua nostalgia pela Idade Média. Michelet em 1845 a exaltava como “aquilo que amamos, aquilo que nos amamentou quando pequenos, aquilo que foi o nosso pai e nossa mãe, aquilo que nos cantava tão docemente no berço”. Assim, vista como momento de origem das nacionalidades, ela satisfazia os noos sentidos políticos do século XIX. Vista como época de fé, autoridade e tradição, a Idade Média oferecia um remédio à insegurança e aos problemas decorrentes de um culto exagerado ao cientificismo. Vista como fase história das liberdades, das imunidades e dos privilégios, reforçava o liberalismo burguês vitorioso no século XIX. 
Pode-se considerar que o equilíbrio e a harmonia na literatura e nas artes, que o Renascimento e o Classicismo do séuclo XVII tinham buscado, cedia lugar à paixão, a exuberância e a vitalidade encontráveis na Idade Média. A verdade procurada através do raciocínio, que guiara o Iluminismo do século XVIII, cedia lugar à valorização dos sentidos, do instinto, dos sonhos, das recordações. O que pode-se concluir é que na erudição o século XIX foi mais feliz na paixão pela época medieval, fundando sociedades históricas, editando textos, organizando grandes coleções documentais como a Monumenta alemã e a Patrologia francesa. Mas de qualquer forma a Idade Média permanecia incompriendida. 
Estaria correto o uso do termo “bárbaros” pelos historiadores? Por que?
O estudo dos “povos bárbaros” exige que conheçamos e entendamos o termo para responder a esta questão. Primeiramente, o termo “bárbaro” surgiu na Grécia, e segundo Heródoto os egípcios chamavam de “bárbaros” todos os que falavam um língua diferente da sua. Em grego “bárbaro” significava aquele que possuía uma língua incompreensível, que não compartilhava nem os costumes nem a civilização dos helenos. Esta concepção foi adotada pelos romanos em relação aos povos estabelecidos fora de suas fronteiras, portanto, “bárbaros” compreendiam aos estrangeiros não-assimilados, os “outros”. No entanto, ocorreram outras atribuições ao termo, portanto, observa-se significados de “bárbaro” como sendo uma pessoa inculta, selvagem, bruto ou grosseira, ligando-se a noção de diferenças fundamentais entre povos distintos.
Os “Bárbaros” e “Civilizados” são conceitos complementares: a “civilização”, egocêntrica por natureza, não se concebe sem a contraposição da “barbárie”. Hoje utilizamos este termo quase como sinônimo de primitivo, fazendo referência àquilo que consideramos "sem civilização", "selvagem, grosseiro, rude, inculto" (FERREIRA, 1995, p. 85), ou seja, a sociedades consideradas culturalmente atrasadas e com pouco desenvolvimento tecnológico. Essa compreensão contemporânea e bastante recente do termo bárbaro está presente em oposição à "civilização". Desta forma, o “bárbaro” equivaleria então a gente de nível cultural interior. 
Isso nos remete a pensar que se compararmos o termo “bárbaro” a sua época ele não poderia ser chamado de “bárbaro” no sentido pejorativo de pessoas sem civilização, mas sim como pessoas de civilização diferente (como era no termo grego).
Sendo assim, pode-se concluir que “bárbaro” na origem da palavra designava apenas os não-gregos, e depois os não-romanos. Mas a conotação negativa adquiridapor este termo torna difícil emprega-lo hoje sem reproduzir um julgamento de valor que faz de Roma o padrão da civilização e de seus adversários os agente da decadência, do atraso e da incultura.
Por que o termo “invasões bárbaras” é questionado por alguns historiadores?
O termo “invasão” implica na idéia de violência, de choque militar. Este tipo de postura foi reafirmado pelo movimento de ilustração no século XVIII. Com o Romantismo do século XIX, resgatou-se a Idade Média. Os povos “bárbaros” passaram a ser o sopro de vitalidade frente à civilização decadente do Império Romano. Neste quadro, as “invasões” não tiveram conseqüências catastróficas, como se alardeava, e nem se caracterizaram pela irrupção brusca no limes imperial. O deslocamento desses povos resultou de um movimento de maior amplitude e, frequentemente, pacifico, visando ao assentamento. Daí alguns autores preferirem adotar o termo migrações. Assim, passaram a ver o termo “invasões bárbaras” como sendo migrações. Mas o termo “invasões” foi reforçado pelos inúmeros episódios sangrentos, conflitos militares, incursões violentas e ocupações de cidades, certamente, aqueles os quais as narrativas dos cronistas deram mais relevo. 
Poderíamos falar em uma “romanização dos germanos” ou em “germanização dos romanos”?
Desde o século I, portanto, abandonou-se uma política ofensiva, preferindo-se uma defesa estática (limes) ou uma diplomacia de apoio dos chefes romanizados dos germanos independentes, concomitantemente a demonstrações esporádicas de força. Estas ações integraram-se em uma estratégia maior de penetração pacífica através da romanização dos germanos. Em quatro pontos residiram as bases desse processo: 
As relações dos chefes germânicos com Roma – o contato com o império havia se intensificado depois do avanço romano até o Reno e o Danúbio e, sobretudo, na época de formação do limes. Os serviços prestados pela nobreza germânica forma importantes no Estado Romano.
Os “bárbaros” e as legiões romanas – a penetração dos bárbaros no exercito imperial verificou-se em quatro momentos. Inicialmente, participavam de forma esporádica e, em geral, eram recrutados entre os povos da margem do Reno para os destacamentos de cavalaria durante uma campanha. Em outra fase, formavam corpos recrutados por tratados de forma permanente, mas não integrados dentro das legiões, com cada uma de suas unidades constituída por um povo “bárbaro” determinado. 
Importância econômico-militar do limes – limes não era uma muralha, mas um amplo caminho em que, a intervalos regulares, se construíam torres de madeira, com uma pequena guarnição para vigiar possíveis movimentos inimigos.
Tratados de ajuda militar – entre Roma e os reis das tribos, mais próximas as fronteiras. visava-se formar uma linha defensiva composta pelos próprios germanos, que defenderiam a integridade do Império. Os pactos concluídos com a maioria dos povos germânicos na zona do limes tiveram validade até a segunda metade do século I.
Romanos e germânicos, o conjunto desses movimentos contribui para o deslocamento do centro de gravidade do mundo ocidental Mediterrâneo para o Noroeste da Europa. Os fatores eram o papel da antiga fronteira romana, peso demográfico da Cália, expansão dos francos, a conquista duradoura da Espanha pelos Mulçumanos, a desorganização da Itália, tudo isso contribuiu para a desagregação do Império Romano, tendo o ocaso da estrutura fiscal romana, um dos fatores que favoreceram a conquistas pelos germânicos.
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REFERÊNCIAS
BASCHET, Jerôme. A civilização Feudal. Capítulo I – Gênese da sociedade crista: a alta Idade Média. São Paulo: Globo, 2006.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário básico da língua portuguesa. São Paulo/Rio de Janeiro: Folha de São Paulo/Nova Fronteira, 1995.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A idade media: nascimento do ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1999.
GUERRAS, Maria Sonsoles. Os povos Bárbaros. São Paulo: Ática, 1987.
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