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1 Dosimetria da Pena

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Dosimetria da Pena – aplicação da pena
A individualização da pena ocorre em 3 fases distintas:
Primeiramente o julgador encontra a chamada pena-base sobre o qual incidirão os demais cálculos. Com a análise das circunstâncias judiciais (art. 59, CP) fixa a que seja mais apropriada ao caso concreto. Cada circunstância deve ser analisada e valorada individualmente. 
Depois de fixar a pena base, serão consideradas as circunstâncias agravantes e atenuantes (art. 61 a 65 CP).
Sumula 231 STJ: A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal.
A última fase são as causas de aumento ou diminuição (vem previsto tanto na parte geral quanto na especial do código) ex. art. 121 p. 4º, CP. 
Sistema Trifásico
Circunstâncias judiciais
Circunstâncias Agravantes e Atenuantes
Causas de Diminuição e Aumento da Pena
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:
CULPABILIDADE: refere-se ao grau de reprovabilidade da conduta do agente que influi na fixação da pena-base. É a censurabilidade do ato como função de fazer com que a pena percorra limites estabelecidos no preceito secundário do tipo penal incriminador. 
É diferente da culpabilidade do conceito tripartido do crime que é o juízo de reprovabilidade que recai sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente. Esta afirma que o agente era imputável, possuía conhecimento da ilicitude do fato e que era exigível um comportamento diverso (P.E.I).
ANTECENDENTES: é o histórico criminal do agente que NÃO pode ser utilizado para fins de reincidência. 
* Súm. 444 STJ 
* Súm. 241 STJ 
CONDUTA SOCIAL: é o comportamento do agente perante a sociedade. Relacionamento com pares, temperamento, vícios que poderá influir ou não no cometimento da infração.
PERSONALIDADE DO AGENTE: são os aspectos psíquicos do agente a fim de se verificar se o condenado tem a mente voltada para a prática de crimes. Para a doutrina o julgador não tem a capacidade técnica necessária para a aferição de personalidade do agente. Devendo ser realizada por profissionais de saúde.
MOTIVOS: são as razões que antecederam e levaram o agente a cometer a infração penal. Se reprovável é caso de aumento de pena; se favorável é causa de diminuição. 
CIRCUNSTÂNCIAS – LUGAR, TEMPO E MODUS OPERANDI: se essas circunstâncias demonstrarem maior reprovabilidade a pena será aumentada. Caso contrário será neutro.
CONSEQUENCIAS DO CRIME: são os resultados provocados pela conduta do agente que ultrapassam os limites naturais esperados pelo crime. Ex. a morte de alguém que era arrimo de família e cuidava de 7 filhos sozinhos. 
COMPORTAMENTO DA VÍTIMA: a vitima não é participe ou coautora. É aferido o comportamento no caso concreto que pode ter influenciado em seu próprio prejuízo. Ex. personalidades insuportáveis, antipática. 
CIRSCUNSTÂNCIA AGRAVANTES E ATENUANTES
As circunstâncias agravantes e atenuantes são dados periféricos que gravitam ao redor da figura típica e têm por finalidade diminuir ou aumentar a pena aplicada ao sentenciado.
A ausência ou presença de uma circunstância NÃO interfere na definição do tipo penal.
Não há um critério que fixo o quanto deva ser considerado para a atenuação ou agravação da pena. A doutrina tem entendido que o razoável seria agravar ou atenuar a pena-base em até um 1/6. 
CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES: art. 61 e 62, CP
I - a reincidência: 
Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.
- o período depurador é o lapso temporal que permitirá ao condenado voltar a ser primário. O prazo é de 5 anos e começa a ser contado a partir do dia da extinção da pena. 
* No caso de Liberdade Condicional ou Suspensão da Pena: o período depurador começa a ser contado a partir do período de prova (concessão do beneficio).
- Não haverá reincidência em caso de crimes políticos ou crimes militares próprios (art. 64, II)
Art. 64 - Para efeito de reincidência:
 I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação; 
 II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos.
OBS: Para o STF e STJ, o período depurador impede que a condenação anterior sirva como maus antecedentes. 
II - ter o agente cometido o crime: 
a) por motivo fútil ou torpe;
- Fútil: motivo insignificante, desproporcional.
- Torpe: abjeto vil que causa repugnância, atenta contra princípios éticos e morais.
b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;
b.1) Facilitar ou Assegurar a execução de outro crime (conexão teleológica): 
O agente pratica uma infração para que tenha maior facilidade de sucesso em outro crime. 
Ex. furtar veiculo para utiliza-lo na prática de um roubo a banco. 
b.2) Garantir a ocultação, impunidade ou vantagem de outra infração (conexão consequencial):
Ocultação: impedir que o fato seja descoberto.
Impunidade: impedir que a autoria de um fato seja descoberto ou revelado para as autoridades.
Vantagem: assegurar que o produto/proveito de outro crime por ele cometido. 
c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido;
	Traição: quebra de confiança, ataque inesperado, sorrateiro.
	Emboscada: tocaia, casinha.
	Dissimulação: ocultação da intenção (faz a vitima acreditar que não se praticará o crime contra ela)
 d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum;
Meio insidioso: atuação oculta do agente contra a vitima. Ex. veneno
Meio Cruel: causa excessiva dor a vitima. Ex. Fogo e Tortura.
Meio que resulta perigo comum: expõe um número indeterminado de pessoas a risco. Ex. explosivo. 
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; (CADI)
É necessária a prova de parentesco nos autos.
Não se admite o companheiro (união estável)
OBS: se o crime tiver como elementar alguém do CADI, a agravante não poderá incidir, sob pena de BIS IN IDEM. Ex. art. 129, p. 9º 
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica; 
Abuso de autoridade: tutor/curador 
Admite-se o companheiro (união estável)
Obs: lei 13.340/06 – Bis In Idem
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão;
Cargo/Oficio: exercício de função na administração pública
Ministério: eclesiásticos
Profissão: profissional liberal. Ex. advogado, médico
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida; 
Criança: menor de 12 anos
Enfermo: aquele acometido por enfermidade que o torne debilitado, vulnerável, com reduzida condição de defesa
Mulher grávida: é necessário que o agente saiba da condição.
i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade;
Caso de desrespeito as autoridades constituídas . 
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido;
O agente se aproveita da calamidade ou desastre pessoal para praticar a infração.
Ex. Situação de luto.
l) em estado de embriaguez preordenada.
O agente se embriaga para ter a coragem necessária para praticar a infração.
Pode ser qualquer substância (natural ou sintética)
Ex. cheirar cocaína para roubar banco
CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES: Art. 65 CP
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença; 
Para o STJ, a circunstância do agente ser menor de 21 anos na DATA DO FATO é a mais importante de todas que poderiam incidir na 2º fase da dosimetria. Prepondera sobre QUALQUER outra agravante.
* A idade superior a 70 anos incide na data do sentença.
 II - o desconhecimento da lei; 
O erro de proibição exclui a culpabilidade, porém o desconhecimento da lei não afasta o crime, mas atenua a pena.
 III - ter o agente:
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;
Valor social: é aquele ligado a toda coletividade. Ex. torturar o traidor da pátria.
Valor moral: tem relevância para o próprio agente. Ex. difamar o algoz do filho.
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;
É diferente do arrependimento posterior do art. 16, CP.
No arrependimento posterior a pena é diminuída de 1 a 2/3 caso o crime não tenha sido praticado com violenta ou grave ameaça contra a pessoa, e seja reparado o dano ou restituída a coisa até o RECEBIMENTO da denuncia ou queixa.
Esta atenuante permite redução da pena até o proferimento da sentença caso tenha o agente tentado reparar o dano.
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;
Coação Resistível
Cumprimento de ordem de autoridade superior 
Influencia de violenta emoção provocado por ato injusto da vitima (art. 121 §1º CP) Obs: Dominio
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;
Ocorre quando a agente confessa no todo ou em parte a prática da infração penal a QUALQUER autoridade. 
Deve ser espontânea, não bastando ser voluntária, deve partir do próprio agente.
A confissão qualificada é a que o réu confessa o fato e ao mesmo tempo se defende daquilo que lhe é atribuído.
!!! Sumula 630 STJ: A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse ou propriedade para uso próprio.
e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou.
Ex. briga de torcida
Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei. 
O rol de atenuantes é EXEMPLIFICATIVO 
Concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes
 Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência.
Motivos determinantes: são aqueles que impulsionaram o agente ao cometimento do delito, tais como motivo fútil, torpe, de relevante valor social ou moral.
Personalidade do agente: dados pessoais como a idade do agente. 
Reincidência: condenação anterior. 
Se houver concurso de circunstâncias preponderantes com outra que não tenha essa natureza, prevalecerá aquela do segundo momento da aplicação da pena. No concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes de idêntico valor, a existência de ambas levará ao afastamento das duas, ou seja, não se aumenta ou diminui a pena nesse segundo momento. 
Segundo jurisprudência do STF, a MENORIDADE do réu prepondera sobre TODAS as demais circunstâncias. 
CAUSAS DE AUMENTO E DIMINUIÇÃO DA PENA
	Na terceira fase da dosimetria da pena, o juiz irá considerar os casos de aumento e diminuição que serão sempre percentuais e com seus valores já fixados em lei. Estas causas não alteram o limite mínimo e máximo da pena prevista no caput. As causas podem ser genéricas (previstas na parte geral do código penal art. 1º ao 120) ou especiais (estão previstas a partir do art. 121).
	Causas genéricas:
Art. 14:
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. 
Art. 16:
Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
Art. 70: Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos.
Art. 71: Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
 Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.
Causas Especiais:
Art. 121 § 4°: Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Art. 155: Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
 § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
 § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
	
Art. 258: Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço.
OBS: Se houver mais de uma causa especial de aumento, o juiz poderá limitar o aumento a apenas uma delas. O mesmo raciocínio se aplica para as causas especiais de diminuição. Nesta terceira fase a pena poderá ultrapassar os limites mínimos e máximos previstos no tipo penal.

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