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Escritos sobre a história - Nietzsche

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Nietzsche nasceu em Röcken, no Reino da Prússia, em 1844, e até hoje é um cânone da filosofia alemã. Desenvolve uma filosofia que a todo momento afirma a vida e se volta para esta em todos os seus aspectos, como pode ser percebido na obra abordada. Dialoga fortemente com Hegel, Schopenhauer e filósofos da Antiguidade Clássica. 
	Em Escritos Sobre História (ou, Dos Usos e Desvantagens da História Para a Vida, no original Vom Nutzen und Nachteil der Historie für das Leben) Nietzsche parte de um ponto central – como a história deveria servir à vida – e o desdobra através do livro. 
	Na parte um, Fatum e História, nos é apresentada a primeira ideia de uma história cíclica, espiralada, e uma crítica inicial ao cristianismo. Tudo se moveria em grandes ciclos, e o homem faria parte desses círculos, localizado em um dos mais interiores. Os círculos internos são domínio do individual, das ciências naturais – e, portanto, de onde o historiador deve se afastar. Conforme se avança pelos círculos em direção às áreas mais externas há uma abstração cada vez maior de si mesmo em sua individualidade dando lugar ao universal. Esse processo é doloroso, pois para aproximar-se do geral, o homem precisa se desprender de preconceitos aos quais desde cedo é submetido e acaba cultivando – a religião cristã sendo uma das responsáveis por esse arraigado tradicionalismo. Desenvolve então a noção de fatum se opondo ao que ele chama de vontade livre individual: o primeiro seria inconsciente, restritivo; a segunda, irrestrita e singular. Vê-se que ambos são necessários: nas palavras de Nietzsche, “[...] uma vontade livre absoluta, carente de fatum, tornaria o homem um deus; o princípio fatalista o transformaria num mero autônomo.” (NIETZSCHE, 2005, p.65). Essa contraposição de elementos e uma busca por equilíbrio é recorrente e se verifica em vários momentos da obra. 
	A segunda parte, Consideração Intempestiva Sobre a Utilidade e os Inconvenientes da História Para a Vida, começa com a introdução da principal ideia apresentada ao longo do livro – explicitada no título da consideração – a história deve servir à vida, não se afastar dela. Posteriormente serão desenvolvidos alguns dos fatores que contribuem para esse distanciamento progressivo. Vale ressaltar que Nietzsche toma como base para sua crítica o que ele estabelece como o modelo alemão de historiografia, sociedade e indivíduo.
	Seguindo a linha de pares que se opõem, Nietzsche nos apresenta o que ele classifica como elementos históricos e a-históricos, através da comparação entre homens e animais. O animal, totalmente inserido no presente, seria puramente a-histórico, e seu horizonte, metáfora que o autor usa para a percepção do tempo, é um ponto. O homem, ao contrário, tem caráter histórico: a faculdade da memória, que condiciona sua relação com o tempo, nunca pontual, sempre inter-relacionando presente, passado e futuro (ainda que o último seja intangível). O horizonte humano, é, portanto, uma linha, e quanto maior o sentido histórico de um indivíduo, mais amplo é seu horizonte. No entanto, não se pode ser somente histórico, se faz necessário o equilíbrio entre historicidade e a-historicidade: “há um grau de insônia, de ruminação, de sentido histórico, para além do qual os seres vivos se verão abalados e finalmente destruídos, quer se trate de um indivíduo, de um povo, ou de uma cultura” (NIETZSCHE, 2005, p. 73). Todo indivíduo precisa de certo grau de forças a-históricas, há um limite a partir do qual a historicidade passa a ser somente nociva. Esse limite seria definido pela força plástica: quanto maior a força plástica do homem, maior sua capacidade de lidar com a história de forma saudável.
	A vida teria necessidade da história por três razões, que acabariam configurando três formas do fazer histórico: enquanto ação voltada para um fim, traduzida na história monumental; conservação e veneração do que foi, expressas na história tradicionalista; e, por fim, o sofrimento e a necessidade de libertação que levariam à história crítica. A história monumental incita o homem à ação, focando no grandioso e no eterno. Incorre, entretanto no risco de negar o presente por considerar que este jamais se equiparia ao passado. A história tradicionalista, por sua vez, conserva minuciosamente o que passou, e eleva o efêmero e individual, que se confundem com o coletivo. Esta forma de história, que somente conserva nega o movimento e paralisa o homem de ação. Por fim, a história crítica faz um juízo de valor e se volta contra o passado. Apesar de o filósofo defender essa postura, seria necessária cautela, pois todo indivíduo e toda cultura são, a certo nível, frutos do que os precedeu. Para o autor, toda sociedade que se utilizar de somente uma das formas da história, padece – é fundamental que se faça o equilíbrio e as diferentes formas dialoguem na construção de um fazer histórico rico. 
	Os excessos de história seriam perigosos por cinco motivos: por acirrar os conflitos entre interior e exterior; levar uma época a se considerar superior às outras; impedir o amadurecimento; levar uma sociedade a crer na velhice da humanidade; finalmente, por levar uma época a adotar uma visão cínica de si mesma. 
	Primeiramente, a questão entre interior e exterior, entre forma e conteúdo, seria um dos principais dilemas da era moderna. O homem moderno alemão, a quem Nietzsche faz sua crítica, teria seu interior tumultuado por uma sobrecarga de informações sem utilidade real ou meio de externalização: o saber deixa de ser uma força transformadora que se orienta para fora. Este homem pregaria o conteúdo em detrimento da forma, mas na realidade não teria nenhum dos dois. O excesso de história contribuiria para esse processo a partir do momento em que ser culto passou a ser ter conhecimento histórico, e o saber a que se referiu é justamente o saber histórico. O homem estaria então carregado de fatos históricos, mas sem conseguir aplica-los à vida de qualquer forma efetiva. 
	As crenças na velhice da humanidade e da época que ele analisa como superior estão relacionadas e fazem parte da crítica nietzschiana a Hegel. Seu modo de ver a história e a crença, rapidamente difundida na Alemanha, em um processo universal e teleológico seriam extremamente problemáticos e prejudiciais. Uma juventude que crê no progresso inexorável da razão não teria motivos para se esforçar em construí-la, dado que o processo se desenvolve de forma autônoma – e, como mais tarde se aborda, é na juventude que Nietzsche deposita grandes esperanças. 
	O excesso de história impediria o amadurecimento individual e coletivo pela já abordada questão de toda forma de vida precisar de forças a-históricas para se desenvolver: o homem só poderia utilizar-se de história de forma a volta-la para a vida enquanto tiver elementos a-históricos. 
	A consciência irônica que uma época pode vir a adotar de si mesma seria fruto de uma imersão tal na história que o presente parece desprovido de qualquer brilho. O contato demasiado brutal e despreparado com a história a que os jovens são desde cedo submetidos acabaria por leva-los a se refugiar em uma apatia deliberada. 
	Nietzsche conclui sua consideração de forma esperançosa. Ele nos apresenta dois antídotos ao excesso de história: as forças a-históricas e as supra-históricas, que diferem da primeira por configurar não uma negação e sim uma transcendência. Caberia à juventude se voltar contra a chamada doença historicista de que padeceria a sociedade alemã, criando novos parâmetros de educação, pesquisa e cultura sobre os quais devem se assentar as bases do que se tornaria o novo sentido histórico. Essa primeira geração enfrentaria o desafio maior de se voltar contra seus predecessores e criar novos parâmetros, mas o autor nos deixa um prognóstico positivo. 
BIBLIOGRAFIA
NIETZSCHE, Friedrich. Escritos Sobre História. São Paulo: Edições Loyola Jesuítas, 2011. 
REIS, José Carlos. “A consciência histórica pós-1879: Nietzsche e a legitimação da conquistaeuropeia do planeta – o projeto alemão” in História da “consciência histórica” ocidental contemporâne – Hegel, Nietzsche, Ricoeur. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.

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