Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE) FACULDADE DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA DISCIPLINA: Filosofia da História DISCENTE: David Rocha Vasconcelos COMENTÁRIO: AS FORMAS DE DAR SENTIDO SEGUNDO A TEORIA HISTÓRICA DE AGNES HELLER O homem sempre teve diante de si a indagação acerca do sentido da vida como uma grande questão e, ao mesmo tempo, sempre concebeu o mundo dentro de um ‘’presente histórico’’ específico, uma vez que desde que nascemos nos encontramos situados dentro de uma estrutura social-histórica vigente e, consequentemente, acabamos por nos apropriar de alguns segmentos dessa estrutura . Segundo Agnes Heller, no decorrer do tempo e no desenvolver-se das sociedades, os indivíduos sempre buscaram atribuir sentido às suas experiências e ações de acordo com o seu ‘’presente histórico’’, ou seja, de acordo com as características que constituem a estrutura da realidade histórica em que vivem, a partir disso, a autora descreve uma série de categorias usadas por nós para atribuir sentido a nossa existência na vida cotidiana, isto é, as nossas experiências e ações, dentre estas categorias estão: a subsunção; o nome ou nomeação; a analogia; a causalidade ou princípio da razão suficiente; categorias de modalidade, que incluem os componentes de acontecimentos contingentes que podem ser expressos por dois elementos opostos, no caso uma ação voluntária (intencional) ou por sorte (destino); categorias também que distinguem ‘’essencial’’ de ‘’não-essencial’’ que significam também ‘’importante’’ ou ‘’real’’ e ‘’não-importante’’ ou ‘’aparente’’; também pode-se dar sentido a algo através das categorias de ‘’possibilidade’’ e ‘’probabilidade’’; e também podemos dar sentido a eventos singulares através da aplicação de matrizes genéricas. Fazemos uso de tantas categorias não apenas para a adequação de eventos e formas de comportamento dentro do universo de alguém, mas porque também a transformação do desconhecido em conhecido indica automaticamente o aumento do nosso autoconhecimento. Apontaremos os aspectos necessários para o entendimento de cada categoria de acordo com a ordem posta acima, que é a mesma encontrada no texto, ou seja, começaremos pela subsunção. O termo ‘’subsunção’’ pode ser entendido como a ação de integrar algo a uma estrutura maior, quando a autora nos diz que ‘’dar sentido’’ é uma mera subsunção, ela está se referindo a nossa capacidade de pegar nossas experiências e ações e segmentá-las dentro de uma estrutura preestabelecida, ou seja, pegamos acontecimentos que dizem respeito a nós como indivíduos e as situamos dentro de um quadro geral no qual já nos encontramos dentro, gerando assim a nossa vida cotidiana. A dinâmica de subsunção dos indivíduos dentro de uma sociedade varia de acordo com a dinâmica da própria sociedade, segundo Heller, quanto mais heterogênea e dinâmica for a ordem do mundo, sempre menos idênticos serão esta simples subsunção e o ‘’dar sentido’’, embora não possamos deixar de dar sentido às nossas experiências e ações sem algum tipo de subsunção. Outra forma elementar que a autora identificou de dar sentido às coisas é por meio da nomeação. Quando nomeamos algo estamos automaticamente inserindo este algo em nosso universo, tornando o desconhecido em conhecido, podemos até dar sentido ao inexplicável atribuindo-lhe um nome: nos referimos ao milagre. Desta forma inserimos as coisas em nosso universo, na medida em que nomeamos algo, nós estamos retirando este algo de uma categoria desconhecida e pondo-o agora em uma categoria familiar ao nosso entendimento. Também podemos dar sentido às nossas ações seculares por meio de analogias, fazendo comparações de dois elementos distintos, mas que possuem algo em comum. Quando dizemos que ‘’João é como Pedro’’ nós estamos identificando o que há de comum entre João e Pedro, apesar de ambos serem indivíduos distintos. Dessa forma atribuímos sentido a alguma ação comparativa que possamos vir a fazer. Além da analogia, a causalidade é outra forma de darmos sentido ao nosso mundo. Muitas vezes nos encontramos inquietos diante de um acontecimento por não sabermos as causas que desencadearam suas consequências, como por exemplo quando estamos doentes e através do estudo de uma série de causas o médico nos dá um diagnóstico. A autora ressalta que nesse caso específico ‘’causa’’ não é um conceito científico bem definido, na prática pode ser qualquer coisa que nos dê conhecimento do comportamento em questão. Para a autora, o princípio do dar sentido através da causalidade é o princípio da razão suficiente, tanto a motivação como a causa eficiente podem servir igualmente de ‘’razão suficiente’’. A autora também faz referência às categorias de modalidade como forma de dar sentido às coisas, dentro desta categoria encontramos quatro elementos opostos que podem dar significado às nossas experiências de acordo com o contexto e com a intencionalidade da nossa ação, são estes elementos: a ação voluntária (intencional) e a sorte (destino); e, quando buscamos revelar a ‘’razão suficiente’’ de situações contingentes, damos sentido a algo distinguindo-os entre ‘’essencial’’ e ‘’não-essencial’’, que significam respectivamente ‘’importante’’ ou ‘’real’’ e ‘’não-importante’’ ou ‘’aparente’’. No primeiro caso, quando nos referimos a encontros ao acaso, podemos atribuir dois sentidos, o primeiro diz respeito a intenção de uma das partes de provocar o encontro, e o segundo remete a uma predestinação do encontro, algo que já se encontrava, de certa forma, escrito nas linhas do destino. Já no segundo caso, nos reportamos a importância do acontecimento para classificarmos como ‘’essencial’’ ou ‘’não-essencial’’ na medida em que todo evento ou ação de consequências graves ou de vasto desdobramento é considerada ‘’essencial’’. As categorias de possibilidade e probabilidade também são formas identificadas por Heller para darmos sentido a diversos acontecimentos no nosso cotidiano. Tais categorias dizem respeito a impossibilidade e improbabilidade, sem levar em consideração se o evento ocorreu no passado ou se acontecerá no futuro. Contudo, quando aplicamos estas categorias ao passado, queremos dizer coisas completamente diferentes de quando as aplicamos no futuro. Quando referentes ao passado, possibilidade e probabilidade tem afinidade com o ‘’verdadeiro’’, na medida em que impossibilidade e improbabilidade afinam com o ‘’falso’’. Quando aplicadas com relação ao futuro, possibilidade e probabilidade tem afinidade com ‘’realização’’. Lembrando a ênfase da autora em distinguir afinidade de identidade. O último modo de dar sentido relatado pela autora diz respeito às ‘’matrizes genéricas’’, as quais, geralmente, combinam subsunção, analogia e causação. Formalmente uma matriz genérica diz respeito a uma afirmação sobre fatos que carrega consigo, escondida, uma avaliação. Nós tomamos tais afirmações como verdadeiras e o empregamos com base nessa pressuposição, dentre essas matrizes genéricas encontra-se os provérbios populares que pegam situações específicas e de forma análoga acabam generalizando para todas as situações, incluindo também a causalidade como um dos seus elementos constituintes.
Compartilhar