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Trabalho Civil I - Nulidade e Anulabilidade

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Nulidade e Anulabilidade do Negócio Jurídico
A teoria das nulidades do negócio jurídico encontra-se consubstanciada nos arts. 166 a 184 do CC/02. A nulidade pode ser entendida como uma sanção imposta pela lei que determina a privação de efeitos jurídicos do ato negocial, praticado em desobediência ao que a norma jurídica prescreve. Ainda, se subdivide em absoluta (nulidade de pleno direito) e relativa (anulabilidade). Inicialmente, será analisada a primeira hipótese.
A nulidade absoluta ofende normas de ordem pública, sendo o negócio jurídico considerado completamente inválido, podendo ser intentada ação correspondente (ação declaratória de nulidade) para declarar a ocorrência do vício. As hipóteses para sua ocorrência estão elencadas no art. 166 do CC/02 (é válido ressaltar que para parte da doutrina, o negócio jurídico eivado de coação física é nulo de pleno direito pela ausência de vontade).
 Urge destacar que, segundo a doutrina majoritária, a ação retromencionada não está sujeita aos institutos da prescrição e da decadência, visto que é meramente declaratória e envolve preceitos de ordem pública, sendo vedada a sua convalescência pelo decurso do tempo (art. 169 do CC/02).
 Ademais, por envolverem matéria de ordem pública, podem ser arguidas por qualquer interessado, bem como pelo Ministério Público (art. 168 do CC/02). Também por envolverem o interesse de todos, as nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos (art. 168, parágrafo único, do CC). Trata-se da declaração de ofício pelo magistrado, sempre indispensável quando os interesses da coletividade estiverem em jogo. Pelo mesmo dispositivo, a nulidade absoluta não pode ser suprida, sanada, pelo magistrado mesmo a pedido da parte interessada.
Por fim, a sentença que declara a nulidade absoluta possui efeito erga omnes, isto é, oponível a todos, diante do interesse público. Ainda, terá efeitos ex tunc, ou seja, retroagirá desde o momento do trânsito em julgado da sentença declaratória até o surgimento do negócio declarado nulo, sendo considerados nulos todos os atos e negócios celebrados nesse lapso temporal.
Já as nulidades relativas, dizem respeito a preceitos de ordem privada, o que altera o seu tratamento legal quando comparadas às nulidades absolutas, visto que deve ser intentada a ação correspondente (ação anulatória) dentro do prazo legal para que não ocorra sua convalidação. Suas hipóteses de ocorrência encontram-se elencadas no art. 171 do CC/02.
A ação anulatória possui prazo decadencial previsto nos art. 178 e 179 do CC/02. Ambos os artigos deixam explícito o motivo pelo qual a anulabilidade não pode ser reconhecida ex officio pelo magistrado, havendo obrigatoriedade na propositura da ação anulatória pela parte interessada. Por conta da natureza privada do vício, não cabe ao Ministério Público intervir nas ações que a envolvem. Nesse sentido, caso não seja intentada no prazo legal a ação anulatória, a nulidade relativa se convalida, operando seus efeitos no mundo jurídico.
Faz-se mister ressaltar que, segundo o art. 172 do CC/02, diferentemente do que ocorre com a nulidade absoluta, o negócio anulável pode ser confirmado pelas partes (salvo direito de terceiro), consagrando a boa-fé objetiva. Todavia, deve estar presente a substância do negócio celebrado (elemento objetivo) e a vontade expressa de mantê-lo (elemento subjetivo), denominado de confirmação expressa (art. 173 do CC/02). A dispensa da confirmação expressa encontra-se, excepcionalmente, prevista no art. 174 do CC/02. Ademais, o art. 175 do CC/ determina a irrevogabilidade da confirmação, extinguindo-se todas as ações ou exceções que o devedor poderia dispor (venire contra factum proprium non potest).
A sentença anulatória possui efeitos inter partes, isto é, só opera efeitos entre as partes envolvidas no negócio jurídico, por conta do interesse privado inerente a tal vício. Ainda, possuirá efeitos ex nunc, a partir do trânsito em julgado da sentença. Entretanto, parte da doutrina defende que também existirão efeitos ex tunc parciais à sentença anulatória, com base no art. 182 do CC/02, visto que se deve buscar voltar à situação primitiva, anterior à celebração do negócio jurídico anulado, caso seja possível (p.ex.: casamento – se anulado, as partes retornam ao status de solteiro).

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