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Módulo 02

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Consciência mítica 
 
Dois relatos míticos 
Mito, modo de consciência que predomina nas sociedades tribais e civilizações da antiguidade. Entre povos 
indígenas das terras brasileiras, encontra versões sobre a origem da noite. Um dos relatos é Maué, nativos do rio 
Tapajós e Madeira, e os gregos narravam o mito de Pandora, a primeira mulher. Nos relatos a situações diversas 
que se assemelham, ambos tratam da origem de algo, indígenas (surgiu à noite) gregos (origem dos males). 
Mito “maneira fantasiosa de explicar a realidade”; seriam lendas, fabulas a ser superado por explicações 
racionais. No entanto o mito é mais complexo e rico. 
Não só povos tribais ou civilizações antigas elaboram mitos. Consciência mítica persiste em todos os tempos 
e culturas, indissociável da maneira humana de compreender, sobretudo sentir a realidade. 
 
O que é mito? 
Processo de compreensão da realidade, mito não é lenda, mas verdade. Um resultado da realidade, cuja raiz 
se funda na emoção e na afetividade. Mito expressa o que se deseja ou o que tememos, e como somos atraídos 
pelas coisas ou delas nos afastamos. 
Conceito de mito; precisamos do místico, pois sempre é um enigma a ser decifrado e como tal representa 
espanto diante do mundo. 
Interpretes: falar sobre o mudo, simbolizado pelo mito, impregnado do desejo humano de afugentar a 
insegurança, angustia diante do desconhecido. Relatos míticos se sustentam na crença, fé em forças superiores. 
Nas comunidades tribais, mitos constituem um discurso de força que se estende por toda realidade vivida. O 
sagrado e a relação entre pessoa e o divino. Os modelos de construção mítica são de natureza sobrenatural. 
 
Rituais: Característica do mito é fixar modelos exemplares de todos os ritos e todas as atividades humanas 
significativas, gestos dos deuses são imitados nos rituais. Ex: povos da Austrália, ao celebrarem as cerimônias: 
porque ancestrais assim prescreveram, não se limita a representar ou imitar, mas tudo que se passava como os 
antepassados aparecessem nas cerimônias. Tempo é sagrado onde a festa religiosa, ocasião pela qual o evento 
sagrado, que teve lugar no passado. Caso contrário, a semente não brotará da terra, a mulher não será fecundada. 
Sem os ritos, é como se fatos naturais descritos não pudessem ser concretizar. 
 
Exemplos de rituais: A maneira mágica pela qual os povos tribais agem sobre o mundo e poder ser 
exemplificado pelos inúmeros ritos de passagem: nascimento, infância para a idade adulta, casamento e morte. 
Ainda hoje, as religiões contemporâneas, mantêm ritos próprios de sua crença: cultos, cerimônias, oferendas, 
prece, festa e objetos religiosos. 
 
Transgressão do tabu: uma proibição; entre povos tribais que assuma caráter sagrado. O mais primitivo dos 
tabus é o incesto, mas há inúmeros outros. Quando nas tribos a proibição é transgredida, são feitos ritos de 
purificação, como o sacrifício de animais ou de pessoas sendo um processo de expiação, de purificação. 
 
Teoria sobre o mito 
 
Funções do mito: desempenha no cotidiano da tribo, garante tradição e sobrevivência do grupo. 
 Origem da agricultura: mito indígena Tupi, mandioca, nasce de tumulo de uma criança chamada Mandi; no 
mito grego, Perséfone é levada por Hades para seu castelo, retorna em certos períodos, simbolizando o trigo 
enterrado e renascendo como planta. 
Fertilidade das mulheres: os Arunta, onde espíritos dos mortos esperam à hora de renascer e penetrar no 
ventre, quando elas passam por certos locais. 
Caráter mágico das danças e desenhos: homens pré-históricos faziam pinturas nas cavernas, 
representando a captura. 
Caráter inconsciente do mito: interpretes psicólogo como Freud, acentua caráter existencial e inconsciente 
do mito, como revelador do sonho da fantasia. Ex: no mito de Édipo, realça o amor e ódio inconsciente na relação 
familiar. Jung se refere ao inconsciente coletivo, seria encontrado nos grupos em qualquer época ou lugar. 
Mito como estrutura: Lévi-Strauss, explica diversos mitos, valoriza o sistema do que elementos. Elementos 
por serem relativos; só tem valor de acordo com a posição que encontra na estrutura. Um fato isolado ou mito 
isolado não possui significado em si. 
Teóricos interpretam mitos pela sua funcionalidade e se baseiam nos elementos particulares, na subjetividade 
ou na historia de um povo. Interdito tem caráter positivo de garantir a exogamia, união com pessoas de outros 
povos. 
Lévi-Strauss: mito não é como se costuma dizer, lugar da fantasia e arbitrário, mas pode ser compreendido a 
partir de uma estrutura lógica – formal, pelo lugar que cada elemento ocupa em determinada estrutura. 
 
 
 
 
O mito nas civilizações antigas: Nas sociedades complexas, o desenvolvimento da agricultura, pastoreio e 
comercio, começa a se estabelecer hierarquias, incluindo a escravidão, floresceram as primeiras grandes 
civilizações, como na Mesopotâmia. Nessas civilizações antigas mito era componente importante na cultura 
religiosa, por se tornar mais elaborada, provoca a separação entre espaço sagrado e profano. Poder exercido pela 
classe sacerdotal ou seu representante máximo, como o faraó. O culto exigia monumentos grandiosos, como 
templos e pirâmides. 
 
Os deuses gregos: civilização grega teve inicio por volta do Sec. XX a.C, quando invasores indo – européia 
ocuparam o continente, dando inicio a civilização Micênica, na época a Grécia se chamava Hélade e era constituída 
por diversas regiões autônomas. Religião grega era politeísta, deuses habitavam o Olímpio; às vezes benevolentes 
ou agiam por inveja e vingança. Entre obrigações e sacrifícios destaca as peregrinações aos grandes santuários, 
tais como o de Delfos. 
 
Homero: mitos gregos surgiam quando ainda não havia escrita, transmitidos por poetas, que recitavam em 
praça publica. Atribuem a Homero (epopéias de Ilíada e Odisséia), a controvérsias a respeito em que época 
Homero teria vivido e se realmente existiu. Epopéias representam fatos e mitos recolhidos por diversos autores. 
Na vida dos gregos, epopéias desempenhavam papel pedagógico, descreviam a história grega, desde cedo 
as crianças decoravam passagens desses poemas. Ações heróicas nas epopéias mostram a constantes 
intervenções dos deuses ou auxiliando o protegido, ora para perseguir o inimigo. 
Herói na dependência dos deuses e desafio, faltando – lhe noção de vontade, liberdade ou ao contrario, ter 
sido escolhido pelos deuses, sinal de valor, em nada a ajuda desmerecia o guerreiro belo e bom, que se 
manifestava pela coragem e força, sobretudo no campo de batalha. 
 
Hesíodo (vivido por volta do Sec. VIII), produziu uma obra que tende a superar as poesias impessoais e 
coletivas das epopéias. 
ATeogonia: relata as origens do mundo e deuses, em que forças emergentes da natureza vão se 
transformando nas próprias divindades. Por isso a Teogonia é cosmogonia, narra como todas as coisas surgiram 
do Caos para compor a ordem do Cosmo. Ex: no caos surgiu Gaia, sozinha, deu a origem de Urano, uniu-se com 
ele, gerando deuses e as divindades femininas. Deuses gregos permanecem por muito tempo na cultura ocidental e 
foram assimilados pelos romanos ex: Cronos (Saturno), Zeus (Júpiter) e assim por diante. 
 
O mito hoje 
Augusto Comte: ao explicar a evolução da humanidade, define a maturidade do espírito humano, pela 
separação de todas as formas míticas e religiosas; opõe-se ao mito e razão, ao mesmo tempo inferioriza o mito 
como tentativa de explicação da realidade. Ao criticar o mito e exaltar a ciência; positivismo fez nascer o mito do 
cientificismo, crença na fé cega, a ciência como única forma de saber, mostra-se reducionista. A ciência não é a 
única interpretação da real. 
Existem outros modos de compreensão como: senso comum, filosofia, arte, religião e nenhum deles excluir o 
fato de o mito esta na raiz. Função fabuladorapersiste na vida diária, quando preferimos certas palavras de 
ressonância mítica (casa, lar, amor, liberdade, paz, morte) cuja definição objetiva não esgota significados que 
ultrapassa limites da própria subjetividade. As palavras nos remetem a valores arquetípicos, modelos universais 
que existem na natureza inconsciente e primitiva de todos. 
 
A permanência do mito 
Mito ainda é expressão fundamental do viver humano, para compreensão do ser. Tudo que pensamos e 
queremos se situa inicialmente na imaginação, cujo sentido existencial serve de base para o trabalho posterior da 
razão. 
Historias em quadrinhos: exprime arquétipo da luta entre bem e mal, alem disso, a dupla personalidade do 
personagem principal, atinge anseios de cada um de superar a própria inexpressividade e importância, tornando-se 
excepcional e poderoso. 
Contos de fadas: retoma os mitos universais da luta contra força do mal: madrastas, lobos, bruxa. 
Personalidades artísticas, políticas e esportivas, se transformam em figuras exemplares, ao representarem 
todo tipo de anseios, como sucesso, poderem, liderança, atração sexual. 
Prevalecimento do maniqueísmo traz o risco do preconceito, eis o lado sóbrio de alguns mitos, devido à 
tendência em separar as pessoas, grupos ou nacionalidades. Ex: Hitler difundiu a idéia da raça ariana como pura. 
Comportamento é permeado de rituais não religiosos: nascimento, casamento e aniversários. 
Examinando manifestações coletivas no cotidiano da vida urbana do brasileiro, descobrimos comportamentos 
míticos no carnaval e futebol, como manifestações do imaginário nacional e expansão das forças inconscientes. 
 
O mito não se reduz à simples lendas, mas faz parte da vida humana desde os primórdios, hoje não emergem 
com a mesma força como nas sociedades tribais, porque o exercito da critica nacional nos permite legitimar ou 
rejeitar quanto nos desumaniza.

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