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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS DISCIPLINA: Operações Unitárias para a Indústria de Alimentos I PROFESSORA: Dra. Miriam Carla B. Ambrosio Ugri II - DINÂMICA DE PARTÍCULA II.1 – INTRODUÇÃO Muitos processos de separação mecânica envolvem o movimento de partículas sólidas ou de gotas líquidas através de um fluido, que pode ser gás ou líquido, escoando ou não. O movimento da partícula sólida através de um fluido necessita de uma força externa atuando sobre a partícula. Esta força pode vir da diferença de densidade entre a partícula e o fluido, ou pode ser resultado de campos elétrico ou magnético. Três forças atuam no movimento da partícula através do fluido: 1 – força externa, gravitacional ou centrífuga; 2 – força flutuante, que age paralelo com a força externa, mas em direção oposta; e 3 – força de arraste, que aparece sempre que existe um movimento relativo entre a partícula e o fluido. A força de arraste atua oposta ao movimento e atua paralela à direção do movimento, mas em direção oposta. II.2 – OBJETIVO O estudo da dinâmica de partículas sólidas objetiva: • a determinação da resistência que o meio fluido oferece ao deslocamento da partícula sólida e vice-versa; • a determinação da velocidade de sedimentação da partícula isolada; e • aplicar os conceito de Elutriação e de transporte de partículas. II.3 - QUEDA DE UMA ESFERA LISA NO SEIO DE UM FLUIDO Considerando a queda de uma esfera lisa no meio de um fluido, e desconsiderando o efeito de parede do tubo no qual ocorre o escoamento, as variáveis importantes a serem consideradas são: • A FD ⇒ Força Resistiva, que é a força de arraste por unidade de área projetada; 2 • V∞ ⇒ Velocidade relativa da esfera ou Velocidade Terminal da Partícula, que é a velocidade constante atingida pela partícula quando lançada em um fluido inicialmente em repouso. Não existe a interferência de outras partículas; • ρf ⇒ Densidade do Fluido; • µ ⇒ Viscosidade do Fluido; • Dp ⇒ Diâmetro da Esfera ou da partícula. Utilizando a Análise Dimensional tem-se que: ∞ = ∞ µ ρ ρ DpVf V F f f D .. . 12 II.4 - COEFICIENTE DE ARRASTE (CD) O conceito de Coeficiente de Arraste é usado para corpos imersos movimentando-se através de um fluido, e é definido de maneira similar à definição do coeficiente de atrito, dado por: 2 ..2 1 Rf D D v A F C ρ = (1) sendo FD – força de arraste ou força resistiva (N) A – área da seção transversal da esfera de diâmetro Dp (m2). 4 2 pDA pi= CD – coeficiente de arraste (adimensional) vR - velocidade relativa entre a partícula e o fluido (m/s) ρf – densidade do fluido (kg/m3) Considerando: i - uma partícula no campo gravitacional sem a interferência de outras partículas ii – somatório resultante das forças = 0 então: 00 =⇒=∑ dt dvF , logo v = constante = velocidade terminal da partícula (V∞) 3 V∞ FE (força empuxo) = ρfluido.V.g FD (força arraste ou atrito) II.5 - DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE TERMINAL DA PARTÍCULA (V∞∞∞∞) Considerando uma esfera que cai a partir do repouso num fluido infinito e é acelerada até que atinja uma velocidade constante. Esta velocidade é denominada velocidade terminal da partícula (V∞) e pode ser definida a partir de forças que atuam sobre uma partícula num campo gravitacional sem interferência de outras partículas. Quando a partícula/esfera atinge a velocidade terminal, o somatório das forças agindo na partícula é nulo. Assim: Para baixos números de Reynolds: ∑ == 0.amForças DEp FFFdt dv mForças −−==∑ Dfluidosólido Fgmgmdt dv mForças −−==∑ . Dfluidosólidosólidosólido FgVgVForças −−=∑ ρρ .... Dfluidosólido FgVForças −−=∑ .).( ρρ (2) Substituindo a equação (1) em (2): ( ) 0.... 2 1 .. 2 =−−=∑ AvCgVF rfDfs ρρρ sendo: ρs – densidade do sólido ρf – densidade do fluido V – volume do sólido vr – velocidade relativa fluido-partícula A – área do sólido Considerando que o fluido está em repouso ⇒ vr = V∞ FP (força peso) = mg = ρsólido.V.g 4 então: ( ) 0 2 1 . 2 =−−= ∞∑ AVCgVF fDfs ρρρ ( ) 21 .. ...2 − = ∞ AC gV V fD pfs ρ ρρ (3) Para esferas: 3.. 6 1 DpVp pi= (volume) e 4 . 2 pDA pi = (área projetada) Logo: ( )( ) ( ) 2 1 2 3 .4.. ..6..2 − = ∞ pfD pfs DC gD V piρ piρρ ( ) 21 . .. 3 4 − = ∞ Df pfs C Dg V ρ ρρ (4) II.6 - ESTIMATIVA DE CD E DETERMINAÇÃO DE V∞∞∞∞: Na literatura as seguintes equações empíricas podem ser encontradas para o cálculo de CD, velocidade terminal da partícula isolada, diâmetro de partícula etc. II.6.1 – Partículas Esféricas 10 Caso: Escoamento lento de uma esfera caindo em um fluido em repouso → Regime Laminar ou Regime de Stokes (0<Rep<1) com µ ρ p p DV .. Re ∞= O escoamento de um fluido viscoso e incompressível em torne de uma esfera foi estudado por Stokes para Rep ≤ 1, resultando em: ∞= VDF pD ....3 µpi Logo, substituindo FD na equação (1): pff p f p f D D DVVA VD V A VD V A F C ∞∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ==== . 24 . 2 . ..3 ..2 1 ..3 ..2 1 222 ρ µ ρ µpi ρ µpi ρ Substituindo Rep na equação acima tem-se: 5 p DC Re 24 = (5) e substituindo a eq (5) na equação para a velocidade terminal, eq (4), tem-se: ( ) µ ρρ .18 .. 2 pfs DgV − = ∞ (6) 20 Caso: para a Região Intermediária (1 < Rep < 500) utilizar correlações empíricas Allen → 6,0Re 5,18 p DC = (7) Klyachko → ( ) 31Re Re 24 p p DC += , válida para 3 ≤ Rep ≤ 400 (8) 30 Caso: para a Região do Regime de Newton (500 < Rep < 2*105) CD ≅ 0,44 E para a velocidade terminal, a partir da eq. (4): ( ) 21.3 − = ∞ f pfs DgV ρ ρρ (9) 40 Caso: Para números de Rep muito elevados (Rep > 2*105) CD ≅ 0,20 E para a velocidade terminal, a partir da eq. (4): ( ) 21. *58,2 − = ∞ f pfs DgV ρ ρρ (10) 6 II.6.2 – Partículas Não Esféricas ou Isométricas 10 Caso: Processo iterativo com a equação (3) e o gráfico apresentado na Figura 1 de CD versus Re para o cálculo da velocidade terminal (V∞). ( ) 21 .. ...2 − = ∞ Df pfs CA Vg V ρ ρρ O método consiste nos seguintes cálculos: 1 – chutar um valor para V∞, 2 – calcular Rep, achar CD pela Figura 1 e recalcular V∞, 3 – comparar V∞ calculado com V∞ chutado 4 – repetir o método até V∞ calculado = V∞ chutado7 Figura 1 – Coeficiente de arraste para partículas isométricas 8 A Figura 2 apresenta as diferentes relações que existem entre CD e número de Reynolds considerando a forma da partícula e a orientação do objeto com relação à direção do escoamento. A face do disco e o eixo do cilindro são perpendiculares à direção do escoamento. Figura 2 – Coeficiente de arraste para esferas, cilindros e discos. 20 Caso: Uma alternativa ao processo iterativo é utilizar a Tabela 1, para partículas isométricas. Esta tabela apresenta um método de cálculo para o número de Reynolds quando se conhece a velocidade terminal da partícula (V∞) ou o diâmetro da partícula (Dp). Partículas isométricas são partículas esféricas ou na forma de poliedros regulares (tatraedro, cubo, octaedro, isocaedro e dodecaedro). 9 Tabela 1 - Fluidodinâmica da Partícula Isométrica (Pettyjohn & Chistiamen, 1948) VARIÁVEL A SER ESTIMADA CORRELAÇÃO [ ] nnn xyxyxy 10 )()()( ∞+= n CD = n n n k k 1 2 1 Re. 24 + n=0,9 para 0,6 ≤ φ ≤ 0,9 n=3,15-2,50.φ p/ 0,9 ≤ φ ≤ 1 Re = ( ) ( ) nn D D C kk Ck 1 5,02 5,0 21 21 Re. 24 . 1 Re.. 24 + n=1,3 para 0,6 ≤ φ ≤ 0,8 n=2,70-1,75.φ p/ 0,8 ≤ φ ≤ 1 Re = nn D n D C k Ck 1 2 2 1 ReRe 24 + n=1,5 para 0,6 ≤ φ ≤ 0,8 n=3,62-2,65.φ p/ 0,8 ≤ φ ≤ 1 µ ρ UD pF ..Re = ( ) 2 3 2 . . 3 4Re. µ ρρρ pFsF D Db C − = 32 . .)( . 3 4 Re U bC F FsD ρ µρρ − = = 065,0 .log.843,0 101 φk U = || u – v || φ.88,431,52 −=k b = g = intensidade do campo exterior ou gravidade Na Tabela 1, U é a velocidade relativa fluido-partícula; u é a velocidade do fluido não perturbado pela partícula; v ou V∞ é a velocidade da partícula. II.7 - INFLUÊNCIA DA CONCENTRAÇÃO DE SÓLIDOS NA DINÂMICA DE SUSPENSÕES Na literatura, pode-se observar que o valor de V∞ é bastante diminuído quanto maior for a concentração de sólidos. Esta redução de V∞ é mais sensível quanto maior a concentração de sólidos, sendo da ordem de 5% para concentrações de sólidos de apenas 2%. Isto ocorre porque: • as partículas atrapalham umas as outras; e 10 • aparece um significativo movimento ascendente de líquido. Se a concentração de sólidos em uma suspensão é reduzida, ou seja, menor que 5% em volume, esta concentração não exerce nenhuma influência na dinâmica das partículas. Para encontrar U, considerando o efeito da presença da fase particulada na fluidodinâmica de suspensões, utiliza-se uma correlação do tipo Richardson e Zaki (1954): ),(Re ε ∞ ∞ = fVU (11) sendo U - módulo da velocidade relativa fluido-partícula ∞ −= VuU f ε - porosidade, que é a fração volumétrica de fluido na suspensão vC−= 1ε Cv - fração volumétrica da fase sólida na suspensão Re∞ - o número de Reynolds referente à velocidade terminal da partícula isolada f fpVD µ ρ ∞ ∞ =Re As correlações referentes à equação (11) podem ser determinadas através de experimentos de sedimentação em batelada com ε sedvU = , sendo: vsed a velocidade da frente de sedimentação; e na fluidização homogênea com )( A QU F ε= , sendo QF a vazão de fluido e A a área da seção transversal de fluidização. Os experimentos tornam-se imprecisos quando a faixa granulométrica das partículas sólidas é extensa e quando a concentração de sólidos é reduzida, inferior a 5% em volume. Segundo Massarani (2000), a influência da concentração das partículas de diversas formas em suspensões é apresentada na Tabela 2. 11 Tabela 2 – Influência da Concentração de Partículas na Fluidodinâmica de Suspensões II.8 – BIBLIOGRAFIA GEANKOPLIS, C.J. Transport Processes and Separation Process Principles. Prentice Hall, 4th Edition, 2003, p. 121-125 MASSARANI, G. Fluidodinâmica em Sistemas Particulados. E-papers, 2 Edição, 2002, p.9-34 MASSARANI, G. Problemas em Sistemas Particulados. São Paulo: Edigard Blucher, 1 Edição, 1984 McCABE, W.L., SMITH, J.C., HARRIOTT, P., Unit Operations of Chemical Engineering. McGraw Hill, 6th Edition, 2001, p.162-171. 12 Lista de Exercícios sobre Dinâmica de Partículas. 1- Determinar a velocidade de queda de uma partícula de diâmetro 75µm (diâmetro da esfera de igual volume que a partícula) e esfericidade 0,8 em elutriador operando com a velocidade ascendente de líquido 0,25cm/s. O líquido é água a 20oC e a massa específica da partícula é de 3,8 g/cm3. 2- Calcular a velocidade de elutriação (água a 30oC) para arrastar partículas esféricas de 30µm. A concentração do sistema é de 206g de sólidos/tonelada de suspensão, sendo a massa específica do sólido de 2,5 g/cm3. 3- Determinar as velocidades de elutriação para separar pó de diamante nas faixas: 0 - 1µm, 1 - 2µm e 2 -3µm. A massa específica do diamante é 3,5 g/cm3 e a esfericidade das partículas (φ) de 0,7. O fluido de arraste é a água a 20oC. 4- a - Determinar a velocidade de sedimentação de uma suspensão de partículas esféricas de vidro, 30µm de diâmetro, em glicerina. Sabe-se que a concentração de sólidos é de 300 g/l de suspensão, as massas específicas do sólido e do fluido são de respectivamente 2,6g/cm3 e 1.3g/cm3 e que a viscosidade do líquido é de 18cp. b - Qual o efeito do diâmetro do recipiente sobre a velocidade de sedimentação? c- Qual o efeito da viscosidade do fluido (supor empregarmos um fluido menos viscoso, água) na velocidade de sedimentação?
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