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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CAMPUS UNIVERSITÁRIO DA REGIÃO DAS HORTÊNSIAS MARIANA HERRMANN LEMOS A TUTELA DO CONSUMIDOR NO MERCADO ELETRÔNICO BRASILEIRO CANELA 2015 10 MARIANA HERRMANN LEMOS A TUTELA DO CONSUMIDOR NO MERCADO ELETRÔNICO BRASILEIRO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no Curso de Direito da Universidade de Caxias do Sul, como requisito parcial à obtenção de título de Bacharel em Direito. Professora orientadora: Cleide Calgaro CANELA 2015 11 MARIANA HERRMANN LEMOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no Curso de Direito da Universidade de Caxias do Sul, como requisito parcial à obtenção de título de Bacharel em Direito. Professora orientadora: Cleide Calgaro Aprovado em: _____ de ________ 2015 Banca Examinadora: ____________________________________________ Professora Orientadora: Cleide Calgaro Universidade de Caxias do Sul – UCS ____________________________________________ Professor convidado: Universidade de Caxias do Sul – UCS ____________________________________________ 12 Professor convidado: Universidade de Caxias do Sul – UCS Dedico o presente trabalho às pessoas que assim como eu, ingressaram no direito a fim de deixar 13 sua identidade marcada para sempre na vida ou nos corações dos que dela se beneficiarem e por onde passarem. Que sigam transmitindo de maneira mútua esta corrente, onde estiverem. AGRADECIMENTOS Todo universitário ingressante tem em si aquele sentimento de que quando entra no ensino superior, quando entra no curso de direito, vai deixar sua pegada no mundo jurídico, e que as coisas serão diferentes com a sua contribuição. Existe aquela incessante luz que nos diz que esta é a carreira que nos foi destinada e que vidas serão tocadas pelas nossas benfeitorias. Há 7 longos e intensos anos dedico-me nesta jornada de aprendizado e conquistas, semestre ante semestre, até que por ventura, chega-se no fim da linha, e vê-se aquela almejada luz tão sonhada lá no início da jornada. Inevitável a sensação de alívio, de cumprimento de uma etapa fundamental na existência, como profissional e como indivíduo, na importância que estes anos terão no meu futuro, e os reflexos que se farão presentes nesta conturbada vida que é a vida do universitário. Primeiramente, força. Agradeço à persistência que me foi concedida de berço, que me ensinou a não intimidar-se com um obstáculo, mas achar um modo de contorná-lo e vencê-lo. Agradeço à família, cujo suporte financeiro nessa transição de jovem para adulto é sempre fundamental para que se obtenha êxito, cujo apoio foi sempre presente. Diante disto, agradeço imensamente aos amigos, os quais por tantas vezes renegados em prol de minha educação, o que não deixava nenhuma das partes felizes, claro, porém necessário e compreendido. Encerro uma jornada e dou início ao futuro. 14 RESUMO Atualmente, o salto tecnológico do mercado virtual, não apenas no Brasil, no interesse de estar constantemente adquirindo produtos de interesse/necessidade, no conforto do lar, sem ser necessário o incômodo de enfrentar multidões e preços elevados devido à tributação fiscal, pela comodidade que o uso do computador e da internet nos proporcionam a cada dia mais, o consumidor se vê atraído pela evidente tamanha oferta e procura, o que denota maior atenção para a tutela do consumidor virtual por parte do ordenamento jurídico nacional, o qual está, a passos mais lentos do que a evolução da tecnologia, se aperfeiçoando no sentido de amparar todo e qualquer cidadão brasileiro em situação de necessidade de ser tutelado juridicamente. Palavras - chave: Consumidor. Contratos eletrônicos. Tutela do consumidor. Consumo Eletrônico. 15 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 2. HISTÓRICO EVOLUTIVO DO COMÉRCIO ELETRÔNICO 2.1 RELAÇÕES DE CONSUMO E CONTRATAÇÃO ELETRÔNICA 2.1.1 Reindividualização Do Contratante 2.2 DIREITO DE ARREPENDIMENTO DA COMPRA 2.2.3 Pré-Requisitos Para O Direito Ao Arrependimento De Compra 2.2.4 Restituição Da Quantia Paga (Direito De Arrependimento - Art. 49) 3. DO CONTRATO ELETRÔNICO 3.1 NOÇÕES GERAIS 3.2 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS ELETRÔNICOS 3.2.1 Contratos Intersistêmicos 3.2.2 Contratos Interpessoais 3.2.3 Contratos Eletrônicos Interativos 3.3 VALIDADE E EFICÁCIA 3.3.1 Elementos Subjetivos De Validade 16 3.3.2 Celebração Dos Contratos Por Incapazes 3.3.3 Validade Do Consentimento Eletrônico 3.4 ELEMENTOS OBJETIVOS DE VALIDADE 3.4.1 Validade Do Objeto 3.5 ELEMENTOS FORMAIS 3.5.1 Da Forma Dos Contratos 3.6 VALIDADE DOS DOCUMENTOS ELETRÔNICOS 3.7 VALOR PROBANTE DO DOCUMENTO 4 RESPONSABILIDADE CIVIL NOS CONTRATOS ELETRÔNICOS 4.2 RESPONSABILIDADE SUBJETIVA (TEORIA DO RISCO) 5. CONCLUSÃO 6. REFERÊNCIAS 17 1. INTRODUÇÃO Atualmente, com o avanço voraz da sociedade, não apenas a brasileira, no interesse de estar constantemente adquirindo produtos de interesse/necessidade, no conforto do lar, sem ser necessário o incômodo de enfrentar multidões e preços elevados devido à tributação fiscal, pela comodidade que o uso do computador e da internet nos proporcionam a cada dia mais, evidente tamanha oferta e procura, o que denota maior atenção para a tutela do consumidor virtual por parte do ordenamento jurídico nacional, o qual está, a passos mais lentos do que a evolução da tecnologia, se aperfeiçoando no sentido de amparar todo e qualquer cidadão brasileiro em situação de necessidade de ser tutelado juridicamente. Com o passar das décadas, o meio como vivemos se aperfeiçoou de forma tal, a nos proporcionar o conforto de efetuar transações comerciais dos mais variados tipos de dentro da nossa própria residência, deixando de lado, por assim dizer, os contratos fechados com o famoso aperto de mão e assinatura ao fim da página, para passar a se realizar, em sua grande maioria, através da Web, com poucos cliques. Por denotar tamanha facilidade nessas transações, sejam bancárias, sejam mercantis, os desenvolvedores de software e contribuidores, desenvolveram mecanismos de segurança para resguardar a sua segurança, bem como a do consumidor/utilizador de tais serviços. O presente trabalho visa apresentar a atual situação do consumidor ao se deparar com este novo mercado, e apontar os pontos mais favoráveis, bem como apresentar o posicionamento do ordenamento jurídico vigente. O emprego da palavra tutela configura proteção, amparo, auxílio. Não apenas nos contratos físicos, mas também os celebrados na rede mundial de computadores,desta forma, o procedimento metodológico adotado será o estudo de bibliografias, jurisprudências, artigos referentes ao tema abordado, bem como, toda e qualquer informação encontradas nas mídias, tanto impressas quanto digitais, no intuito de 18 aprofundar ao máximo este tema tão carente de matéria. O método empregado será o meio analítico, pelo qual serão traçados os pontos descritos como objetos de estudo deste, de maneira explicativa e resolutiva. Será abordado desde o histórico evolutivo do comércio eletrônico, e seu avanço histórico, bem como quais as formas de relação de consumo nos contratos eletrônicos, o direito ao arrependimento e a restituição da quantia paga, o contrato eletrônico em si e quais as suas formas, passando pela validade e eficácia e trazendo também um pouco sobre a responsabilidade civil, no intuito de colaborar com esta área de estudo do direito e trazer informações relevantes e positivas ao âmbito jurídico. 19 2. HISTÓRICO EVOLUTIVO DO COMÉRCIO ELETRÔNICO O e-commerce, comércio eletrônico, como meio inovador, abriu uma lacuna ainda mais vasta no direito brasileiro, que apenas no ano de 2013 faturou cerca de 28 bilhões de reais. Nos últimos 10 anos, o aumento e inclusão na era digital colocaram o consumidor brasileiro no quadro global de consumo. Em 2003, no Brasil se contava com 2,6 usuários domésticos de internet, já em 2013, este índice subiu para 51 1 O foco no presente tema se dá pelo atual crescimento da demanda pelo consumo digital e seu contraponto com o acompanhamento do Direito Brasileiro, que aos poucos tenta acompanhar e atualizar a legislação no sentido de oferecer ao consumidor todos os meios necessários para sua proteção e comodidade. Diante disto, se traz com o presente, a construção de parâmetros e análises desse tema tão atual internacionalmente e tão amplamente questionado em relação à eficácia e resolução da problemática enfrentada fronte às lacunas desse novo direito, focando-se principalmente nos contratos eletrônicos, mas em consequência, abordando-se o vasto ramo envolvido nas demais correntes do direito, tais como esfera cível e também penal, visto que é representativo o aumento de fraudes eletrônicas em decorrência da facilidade que a informática trouxe ao nosso cotidiano, às quais não está preparado juridicamente o consumidor brasileiro. O presente trabalho irá abordar também, a responsabilidade civil dos sites objeto das obrigações comerciais, apontando seus deveres e resguardos perante o consumidor, que de boa - fé vai de encontro ao objeto de compra na rede, objetivando um resultado rápido e confiável, tendo em vista que por estar virtualmente fazendo um 1 BRASIL. E-Commerce. Disponível em: <http://www.e-commerce.org.br/stats.php>. Acessado em 27/04/15. 20 negócio jurídico, não pessoal, não leva em conta determinados cuidados, aos quais geralmente não tem um prévio conhecimento. Outro assunto a ser tratado, e também igualmente expressivo atualmente, são as fraudes criminais cometidas por má- fé dos contratados eletrônicos, os quais se utilizam de meios ardis e fraudulentos para obter vantagem, geralmente pecuniária, agindo dolosamente nos atos de compra e venda através da internet, os quais, colocam o consumidor numa área do direito não tão amparada como as demais, por se tratar de uma prática recente. Os contratos eletrônicos não tratam apenas do conceito compra e venda, a amplitude do termo nos leva também à contratos de conferência, seja uma simples conferência à movimentação financeira no web site de uma instituição bancária, seja a criação de um perfil em uma rede social, bem como criação de uma conta de correio eletrônico (e-mail), etc. O termo contrato eletrônico é todo o meio pelo qual um consumidor qualquer, utiliza-se da tecnologia virtual para atender seus interesses, sem, desta forma, encontrar-se desamparado juridicamente. O presente trabalho tem por objetivo, por fim, a análise de todo o processo comercial compreendido entre o consumidor e o meio eletrônico utilizado, dando-se maior enfoque às relações de consumo presentes na world wide web, e também, dando-se a abordagem oportuna às demais áreas no direito compreendidas, eis que todas diretamente ligadas. Que a sociedade em que se vive atualmente encontra-se em constante evolução, todos sabemos, mas como e quando surgiriam fatos novos e marcantes em nossa história tecnológica é o que não se pode prever. O termo “comércio” compreende relação social, relação de consumo entre dois ou mais indivíduos dispostos a permutar pecúnia e objeto, objetivando a vontade bilateral entre estes. O acelerado crescimento do chamado “e-commerce”, com seu expressivo crescimento econômico, tem dado às empresas uma nova visão de comércio, que expande-se a cada dia, migrando as lojas físicas para a abertura das lojas eletrônicas, 21 visando uma fatia neste tão notável crescimento comercial atual. Tal desenfreado crescimento chegou ao universo do direito, chamando a atenção para esta área até então carente de entendimento e doutrina. No entanto, não é passível de afirmação dizer que com isto criou-se um “novo ramo” no direito, o fato é que fomos naturalmente trazidos até aqui pela evolução social e tecnológica, a qual diariamente propõe novas evidências de transformações necessárias ao direito, de novas medidas que assegurem à sociedade uma igual ou semelhante, porém eficaz, chance de estar preparada para o momento em que se vive, de assegurar as relações de consumo nesse mercado com a segurança necessária ao consumidor. Atualmente, não há em se falar do “Direito da Internet”, pois o avanço tecnológico da internet como relação social não é projetado para o direito, não é projetado com base nos possíveis prejuízos que a sua mobilidade e informalismo podem causar ao consumidor, tendo em vista o Código de Direito do Consumidor ter sido criado em 1990, período no qual, eram escassos o uso de computadores e internet e pouco se tinha conhecimento de mercado eletrônico no Brasil, fato esse que ocorre mesmo nos dias de hoje, com uma lenta evolução. Tal evolução está em constante conflito com o direito, onde a cada dia se criam novos projetos, novas leis, alterações que assegurem segurança ao consumidor, desta forma, com tais medidas, admite-se juridicamente a falha nesta área, visivelmente carente de legislação. Atualmente, faz-se necessário dispositivo que seja capaz de atender a relação de consumo eletrônica de uma maneira mínima, porém abrangente, visto que atuais decisões na área baseiam-se no direito consuetudinário, o qual variável de julgador para julgador, dando margem à onerosidade processual, em contraposto ao Princípio da Celeridade Processual,visto que diferentes decisões, acabam gerando recursos, os quais oportunos, pois objetivam na solvência do conflito, embora tempestivamente mais prolongado o tempo de duração do processo. 22 O sistema jurídico deve ser capaz de oferecer ao consumidor a segurança no contrato eletrônico de modo que o consumidor não precise ser um amplo conhecedor do mercado tecnológico bem como de softwares mais avançados, ao ponto de que o contrato oferecido por meio eletrônico não possui nenhum impedimento para ser firmado, eis que de uma abordagem clara e específica, de fácil acesso ao consumidor. De tal maneira que deve o ordenamento jurídico ser de fácil e exíguo acesso ao consumidor. Daí tem-se a necessidade da utilização dos Princípios quando se trata desta área do direito, tendo em vista o encaminhamento e aprovação dos novos projetos não acompanharem o desenvolvimento da era digita e acabarem por tornar-se obsoletos desde seu momento de vigência, servindo como referência para a solução dos conflitos. O Direito é a área de conhecimento famosa pela sua formalidade e convencionalismo, vista como a área mais distinta entre todas, pelo seu papel fundamental perante o equilíbrio e ordem social da comunidade e pelas dogmáticas tão difíceis de se romper com o passar dos anos e a evolução social. Importante ressaltar o fato de que o direito brasileiro constitui-se por seu formalismo e sua analítica, sua escrita como base para solução dos conflitos os quais enfrenta. Diante disso, nota-se uma certa relutância do ordenamento jurídico em se equiparar e acompanhar as novas demandas, em especial as referentes aos documentos eletrônicos, presente tema deste trabalho. A evolução histórica da informática teve como marco inicial o ábaco, de origem oriental, que o ocidente conhece desde o século III A.C., e é utilizado por alguns Países do Ocidente, até os dias de hoje, sendo considerado o primeiro computador do mundo. 2 Entre os séculos XVII e XIX, os matemáticos e filósofos John Napier (1614), Blaise Pascal (1624), G.W. Von Leibnitz (1671), Thomas de Colmar (1818) e Charles Babbage (1822) desenvolveram trabalhos na pesquisa daquilo que viria a ser o computador, como hoje o concebemos. 3 2 ALBUQUERQUE SANTOS, Sílvio. O Direito e a Informática. 1 p. disponível em: <http://www.loveira.adv.br/material.htm>. Acessado em 21/06/15. 3 Ibidem, pág. 1 23 O Americano Herman construiu em 1898 a primeira máquina para processamento de estatísticas demográficas do Censo Americano, reduzindo o trabalho de dez para dois anos. Criou-se assim a Tabulating Machine Company, que mais tarde tornou-se a International Business Machines, mais conhecida como IBM. 4 Nos anos 60, surgem os computadores de 4.ª Geração; ou seja, a INTEL que projetou o microprocessador que veio a constituir a base para os microcomputadores atuais. O primeiro microcomputador colocado no mercado foi o ALTAIR. Em 1974, Bill Gates, estudante da Universidade de Harvard, junto com Paul Allen, desenvolveram o sistema operacional do ALTAIR, e, um ano depois, os dois fundaram a Microsoft. No início dos anos 70, houve várias criticas à introdução da informática no campo do Direito, as quais, denunciando a criação de “legisladores e juizes automáticos”, o que levou ao consenso de que a máquina jamais foi concebida para substituir o homem. Assim, segundo os críticos, estar-se-ia criando a Juscibernética como informática do Direito, hipótese que, em sentido lato sensu, conceberia o Direito como objeto da Informática, e não a Informática como objeto do Direito. O certo é que, in casu, a Informática não representa senão uma ferramenta do Direito, e não o contrário. 5 Após anos de evolução tecnológica, não esperava-se que o consumidor fosse adentrar com tamanha voracidade no novo mercado que se criou a partir do surgimento dos computadores e internet, e em decorrência deste fator, a evolução jurídica e as relações sociais tiveram que acompanhar esse novo ramo, embora não com a mesma agilidade e eficácia, originando, desta forma, a informática jurídica. Neste sentido, em acompanhamento com a chegada da Internet e da era digital ao país, em 1987, surge o IDEC - O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, que não possui fins lucrativos. É independente de empresas, governos ou partidos políticos. Os recursos financeiros para o desenvolvimento de suas atividades têm sua origem nas contribuições dadas pelos seus associados, na vendas de assinaturas da Revista do Idec e outras publicações, além da realização de cursos. O Idec também desenvolve 4 Ibidem, pág. 2 5 Ibidem, pág. 4. 24 projetos que recebem recursos de organismos públicos e fundações independentes. Esse apoio não compromete a independência do Instituto. 6 O Idec é membro pleno da Consumers International, uma federação que congrega mais de 250 associações de consumidores que operam no mundo todo. O Instituto faz parte do Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor - criado para fortalecer o movimento dos consumidores no Brasil - e da Abong (Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais). O Idec também participa de diversas redes temáticas nacionais e internacionais. 7 O IDEC surgiu como arma de defesa do consumidor brasileiro em todas as esferas, e como tal, aborda também a matéria da informática e telecomunicações, que por se tratarem de negócio virtual e não pessoal, muitas vezes sem espaço físico para atendimento pessoal ao consumidor, acabam dando dor de cabeça aos clientes e não dando outra escolha a não ser litigar o seu direito judicialmente, ao invés de tratativas de conciliação, tão mais eficazes e de celeridade ao poder judiciário brasileiro, tão notadamente conturbado. O surgimento desta instituição passou a proporcionar ao consumidor maior segurança e confiabilidade na prestação dos serviços e no cumprimento das obrigações, dando mais agilidade e oportunidade ao consumidor de poder obter num só espaço as informações necessárias para poder exercer seus direitos em conformidade com a lei, estando de acordo em conhecimento com os assuntos atuais em pauta no país sobre a matéria de direito do consumidor. Embora o acesso à informação cresça de maneira representativa, atualmente, é notório afirmar que sendo o Brasil país de 3º mundo, em pleno desenvolvimento, embora a passos lentos, o acesso à informação, conforme relatado anteriormente, atinge cerca de 51% da população; o que restringe seu acesso às informações necessárias, não apenas se tratando de direito da informática, mas no sentido mais amplo, em toda e qualquer transação comercial realizada. O que por sua vez, dá margem às fraudes cada vez mais crescentes, provenientes da falta de acesso à 6 IDEC. Disponível em: <http://www.idec.org.br/o-idec/o-que-e>. Acessado em 21/04/15.7 Ibidem. 25 informação pela população, em sua grande maioria, com nível básico incompleto de ensino, portanto, carente de informação. 8 Visando tal lacuna, o Idec busca alcançar todas as classes de consumidores, para desta forma sanar e dirimir quaisquer dúvidas e adversidades que se façam presentes no cotidiano do consumidor, tendo como preceito orientar o consumidor sobre qual a maneira adequada para tratar o caso específico, através de revistas periódicas, online e impressas, dentre demais campanhas e atividades desenvolvidas. Em contrapartida, visando atrair toda e qualquer informação referente à matéria jurídica eletrônica, em torno do início dos anos 2000, fundou-se o IBDI, Instituto Brasileiro de Direito da Informática, uma associação civil sem fins lucrativos, religiosos ou partidários, que desenvolve atividades dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, a proteção e preservação do meio ambiente, a cultura e a saúde, especialmente para implementar atividades e pesquisas que tenham por objeto o estudo científico do Direito e, em especial, do Direito da Informática; realizar seminários, congressos, cursos, simpósios e conferências, inclusive em conjunto com outras instituições, sobre temas de Direito da Informática e Administração de recursos informáticos, ou outros temas jurídicos relevantes. Estimular o advento de matérias do âmbito do universo do Direito da informática nos cursos de graduação e pós-graduação das Faculdades de Direito e de Administração; promover intercâmbio cultural com entidades congêneres nacionais e estrangeiras; emitir pareceres técnicos e apresentar anteprojetos de lei em matéria de Direito da Informática; celebrar convênios com quaisquer instituições para melhor realização de suas finalidades, mormente com as universidades, faculdades e outros institutos congêneres; manter biblioteca e setor de jurisprudência especializada; editar revistas, boletins ou trabalhos sobre Direito da Informática; conceder bolsas de estudo para seus sócios; firmar contratos de gestão com o Poder Público com vistas a formação de parceria para fomento e execução de suas atividades sociais; desenvolver, em parceria com outros órgãos, projetos de estruturação e planejamento informático de órgãos da Administração Pública, 8 IBDI. Disponível em: <http://www.ibdi.org.br/site/objetivos.php>. Acessado em 21/04/15. 26 especialmente, do Poder Judiciário; prestar assistência técnica e jurídica, no âmbito do Direito da Informática, a órgãos públicos ou outras organizações sociais, mediante a assinatura de convênios ou contratos de gestão. 9 O surgimento do IBDI proporcionou ao Direito da Informática um pioneirismo no país, no sentido de reunir estudos especializados e desenvolver pesquisas focadas especificamente no tema, em constante evolução. O Instituto, em si, em termos de Direito, é usado mais como base de estudo e fonte de conhecimento, visto que reúne o estudo da matéria, embora não tenha envolvimento direto com o consumidor físico, no sentido de ampará-lo judicialmente e lhe dar o respaldo necessário na matéria jurídica, servindo em suma, apenas como base de conhecimento e fonte de informação. A passos lentos, o direito brasileiro está criando soluções que consigam acompanhar, mesmo que provisoriamente, até o próximo rápido avanço, as demandas dos consumidores eletrônicos. É notório que em todas as ramificações do direito brasileiro se fazem presentes as lacunas decorrentes de omissões legislativas, visto que a sociedade moderna evolui a passos mais largos do que os legisladores conseguem prever. As leis nacionais datam de período recente, em descompasso com o crescimento social e comercial, e a discrepância entre um e outro é drasticamente vivenciada por cada um de nós, dia após dia, o que acaba por sobrecarregar a justiça e os magistrados, que nestes casos, agem conforme o direito consuetudinário, o direito dos costumes, para dessa forma atender as demandas, e por sua vez, gerar procedentes para casos semelhantes futuros. Baseando-se nessas lacunas, atualmente estão em trâmite diversos projetos de cunho reformador na legislação referente ao consumidor e à informática, dentre elas, destaca-se o projeto de lei 1.589/99, proposto pelo Dep. Luciano Pizzato, PFL/PR, o qual propõe sobre o comércio eletrônico, a validade jurídica do documento eletrônico e a assinatura digital, além de outras providências, em tramitação até a presente data, sem alteração da situação processual. Para Maria Helena Diniz : 10 9 IBDI. Disponível em: <http://www.ibdi.org.br/site/objetivos.php>. Acessado em 21/04/15. 10 DINIZ, Maria Helena. Tratado Teórico e Prático dos Contratos. V.1. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 9. 27 Contrato é o acordo entre a manifestação de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes, com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial. Neste sentido, conclui-se que a celebração do contrato dá-se pela vontade das partes, de comum acordo, e nos contratos eletrônicos, a manifestação de vontade ocorre quando o contratante, após preencher uma série de dados, os envia para a web e o acordo ocorre. A partir daí, aplicam-se as disposições do CDC, em conjunto com analogias e os novos projetos apresentados para suas soluções. Destaca-se também, o projeto de reforma do Código de Defesa do Consumidor, eis que atualmente, embora em acordo com a maioria dos contratos eletrônicos, encontra-se omisso aos demais fatos supervenientes. O projeto de lei proposto em 2012 pelo então Senador José Sarney, tem como objetivo aperfeiçoar as disposições gerais e dispor sobre o comércio eletrônico, e aperfeiçoar a disciplina das ações coletivas, o qual permanece em lenta tramitação, sem previsão para votação 11 no senado federal. 2.1 RELAÇÕES DE CONSUMO E CONTRATAÇÃO ELETRÔNICA Necessário faz-se apresentar o conceito de Contrato Eletrônico e os meios pelos quais se faz uso dos mesmos no cotidiano. A expressão ‘comércio’ nos remete diretamente ao código civil, ao tratar em seu art. 966 do comércio e do comerciante, o que define o empresário, entretanto, ainda não se tem definição para a sua expressão parceira ‘eletrônico’, para resolução deste quebra-cabeças. A definição para a palavra eletrônico estende-se não somente aos computadores, mas à uma vasta gama. A rede de informação compreende desde a compra de um simples pen drive para transmissão de dados quanto a contratação de um pacote de internet mais veloz via telefone. 11SARNEY, José, PROJETO DE LEI SENADO FEDERAL. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/senado/codconsumidor/pdf/extrato_relatorio_final.pdf acessado em 21/04/15 . 28 Santolim (2008 apud Nadal 2000) define o comércio eletrônico como: 12 todo intercâmbio de dadospor meios eletrônicos, esteja relacionado ou não com a atividade comercial em sentido estrito” e, de forma estrita, “deve circunscrever-se às transações comerciais eletrônicas, ou seja, de compra e venda de bens ou prestação de serviços, bem como as negociações prévias e outras atividades ulteriores relacionadas, ainda que não estejam estritamente contratuais, desenvolvidas através dos mecanismos que proporcionam as novas tecnologias da informação. Há uma corrente que discorda do termo ‘comércio eletrônico’, a qual aponta que a expressão ‘relações jurídicas por meios eletrônicos’ melhor se enquadraria ao cenário, por compreender as relações do direito público e privado. A base de todo contrato está na confiança, e tal merece proteção jurisdicional para assegurar a validade e transparência nos negócios jurídicos, fundamentais e base do conceito de bona fide, a boa-fé, e a proteção da confiança legítima é necessária para a expectativa de que novos e confiáveis negócios jurídicos se realizem, cabe ao direito reestabelecer essa confiança no consumidor, de maneira célere e eficaz, para que dessa maneira seja possível a realização de negócios jurídicos desprovidos de vícios de má-fé, pois, sendo o direito objeto e estímulo de confiança, cumprindo a lei de maneira que esta venha a ser aos olhos da sociedade justa, porém, eficaz no sentido de estabelecer limites e ao mesmo tempo corrigir o comportamento doloso do agente com sanções punitivas, as quais no âmbito do consumidor, de pena pecuniária em maioria dos casos. Com o avanço dos anos, desenvolveu-se o avanço tecnológico através da implementação de chips, com o surgimento dos aparelhos eletrônicos portáteis, sem fio, os quais interligados não mais apenas por rede de telefonia via satélite, mas pela adaptação ao uso da internet como meio de transporte rápido na troca de informações, de modo que os contratos eletrônicos colocam-se à disposição de toda esta vasta rede de usuários, os quais todos facilmente conectáveis entre si, no alcance do toque. 12 SANTOLIM, César Matos Viterbo. Os princípios de proteção do consumidor e o comércio eletrônico no direito brasileiro. Porto Alegre: Revista de Direito do Consumidor, Ano14, jul/set- 2005, Vol. 55, pág. 21 Apud NADAL MARTÍNEZ, Apolônia. Comercio Electronico, Firma Digital y Autoridades de certificación. Madrid:Civitas, 200, p.27. 29 Para Marques: 13 Podemos definir comércio eletrônico de uma maneira estrita, como sendo uma das modalidades de contratação não-presencial ou à distância para a aquisição de produtos e serviços através de meio eletrônico ou via eletrônica. De maneira ampla, podemos visualizar o comércio eletrônico como um novo método de fazer negócios através de sistemas e redes eletrônicas. Por englobar vasta área de contratação, interligando e transportando todos os inúmeros dados de informação e troca de informação comercial através da internet, pode-se definir os contratos eletrônicos como lato sensu, englobando todos os negócios jurídicos relevantes na área, diante disto, obtém-se relações jurídicas de Direito Público (entre comerciantes/consumidores e o Estado), de Direito Privado (relações entre consumidores, ambos civis), de Direito Comercial (entre comerciantes) e relações de consumo (mistas entre um consumidor/civil e um fornecedor/comerciante) , este, o 14 objeto de estudo deste trabalho. Não existem mais barreiras para a comunicação, a vontade, elemento máximo para a celebração dos contratos junta-se à todos os meios de comunicação disponíveis e com isto, tem-se o mercado mais vasto nos negócios jurídicos, os quais sem limites de territorialidade. Tudo isto junta-se à velocidade, fator sempre presente e indispensável, alavancando as ofertas e atraindo demandas de consumo em toda a parte. O consumidor se vê diante de um mar de possibilidades infinito, o qual veloz e de elevada exposição à vulnerabilidade, a qual acaba por ser desconsiderada tamanhos atrativos de mercado disponíveis, razão pela qual faz-se necessária a devida proteção e adaptação das leis de proteção ao consumidor, pois nestes negócios concluídos à distância, não se presume a boa-fé, de início, o consumidor coloca em risco a sua confiança no negócio desejado, sendo esta, talvez, uma das principais caraterísticas dos contratos eletrônicos, de braços dados com a vontade: a confiança. 13 MARQUES, Cláudia Lima. Confiança no comércio eletrônico e a proteção do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, pág 38. 14 Ibidem, pág. 39. 30 A confiança do consumidor vai se estabelecendo à medida em que realiza negócios eletrônicos bem sucedidos, baseando-se na sua própria boa-fé como base para a realização de um negócio jurídico à distância confiável, o que ocorre à medida em que se acumulam experiências positivas, aumenta-se o grau de confiança adquirido, resultando em demais realizações de contratos no meio. A confiança oferecida pelo fornecedor, neste meio, acaba tornando-se segundo plano, pois a confiança do consumidor baseia-se no pessoal, em experiências de consumidores próximos à si que obtiveram, ou não, bons resultados em contratos semelhantes, o que motiva o consumidor à prosseguir com o objetivo e a vontade da realização do negócio. Denota-se maior receio do consumidor no que refere-se às formas de pagamento nesta modalidade contratual. A simples exposição dos dados financeiros na rede, gera, por si só, temeridade no contratante, o qual nunca terá absoluta certeza sobre a segurança de seus dados ali expostos, tendo em vista as infinitas vulnerabilidades a que se expõe o indivíduo ao preencher os dados solicitados online, desta forma, as formas de pagamento nos contratos eletrônicos são a principal causa de desconfiança do consumidor. No que diz respeito à forma de pagamento, deve-se dar a devida atenção aos contratos envolvendo pagamentos bancários, efetuados via e-mail, celular, ou quaisquer outra rede, em relação às imposições bancárias existentes onde não resta, senão ao consumidor concordar com o contrato, para que o mesmo efetue-se com segurança e transparência nas transações bancárias que incluírem pagamento à crédito ou que necessitem de envio de informações bancárias. A confiança tem como pressupostos a liberdade e racionalidade, a qual deve respeitar a liberdade e racionalidade dos demais. A despersonificação dos contratos virtuais difere-se neste ponto, seja pelas partes ou pelo objeto, internacionalidade ou atemporalidade, tais fatores agravam ainda mais o quesito desconfiança pelo consumidor. A distância e a velocidade colocam o mercado virtual dentro da residência, do trabalho, dos aparelhos manuais e portáteis com conexão direta à internet, o que expõe 31 o consumidor à todo tipo de oferta com todo o tipo de parcelamento, tornando o produto atrativo, mais facilmente atraente ao consumo. As informaçõesfornecidas aos consumidor são minuciosamente escolhidas e destacadas pelo fornecedor de maneira a serem atrativas, 24h por dia, estando o consumidor sujeito a esta exposição e a estas informações limitadas, onde o que prevalece na maioria dos casos é a atração do valor e suas condições de parcelamento para ser adquirido, avaliando-se em segundo plano o quesito confiança. O fator distância é também um dos principais pressupostos de insegurança, pois aqui, o fornecedor não possui uma imagem física, possui apenas um endereço virtual com informações virtuais, sem a idealização de um local físico, comprovável, apenas informativo. O que existe é a ideia de um possível vendedor, o qual anuncia seu produto de maneira convidativa, com todo o marketing necessário para o convencimento do consumidor, o que acontece mais incisivamente quando há o contato pessoal entre vendedor/comprador, motivo pelo qual esta tarefa deve ser habilmente desenvolvida, para que haja a sedução do consumidor pelo produto ofertado. Nas palavras de Marques: 15 Cabe ao fornecedor do comércio eletrônico criar um espaço seguro, oferecer possibilidades facilitadas ou alternativas de solução de controvérsias e inovar tecnologicamente para que as experiências positivas de compra de alguns consumidores possam ser repassadas aos outros. O aumento do mercado financeiro tem mudado drasticamente no Brasil com o passar dos anos, o que também gerou modificações nos fornecedores de serviços de crédito e instituições bancárias e a abordagem e uso dos seus serviços. A regulamentação das instituições bancárias ocorre concomitantemente com a publicação e vigor do Código de defesa do consumidor, Lei 8078/90, mas ao contrário do avanço das instituições financeiras que têm acompanhado o avanço do mercado virtual, a legislação vigente encontra-se obsoleta, apenas com projetos de reforma em andamento. 15 Ibidem, pág. 96. 32 A confiança do consumidor também se faz presente quanto à segurança da conexão, se o site em questão possui uma troca de informações através de uma rede segura, onde possam ser inseridos os dados necessários para a contratação de modo que o consumidor tenha a segurança de que seus dados não serão enviados para um local inseguro na rede, a fim de uma possível fraude. Um ambiente virtual seguro é um dos requisitos mínimos para aceitação do público e segurança nas transações, o que aumenta o vínculo de confiança por parte do consumidor. 2.1.1 Reindividualização Do Contratante A tecnologia do contrato ser oferecido virtualmente ao contratante põe em pauta a estrutura diferenciada da manifestação de vontade do consumidor. O art. 104/CC assim traz como requisitos para validade dos negócios jurídicos:I - Agente capaz, II - Objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - Forma prescrita ou não defesa em lei. O inciso I traz a capacidade do agente como requisito inicial. Assim como o consumidor não tem ao certo como afirmar a identidade do fornecedor no momento do negócio, o mesmo ocorre na situação inversa, pois a capacidade do contratante/consumidor não é assegurada, não é comprovável se existe ou não a capacidade absoluta do contratante no momento do negócio, se este é maior de idade, mentalmente saudável, ou se é uma criança ou adolescente aventurando-se em meio o mundo virtual a fim de diversão, pois o único requisito que se pode afirmar com garantia de certeza neste meio virtual, é a de que se necessita apenas de alfabetização para a conclusão dos negócios entre as partes, pois sem isso, tais negócios não existiriam. A manifestação da vontade ocorre através do intermédio do computador, o qual impõe à uma pessoa, fisicamente distante, seu desejo e intenção com o negócio em questão. A assinatura eletrônica dos contratos, é o termo de aceitação do contrato, 33 substituto da assinatura manuscrita ao pé da página, o que nos contratos eletrônicos, não necessita de testemunha da celebração, pois a partir do momento em que o consumidor aceita os termos, o negócio está fechado e se iniciam as obrigações. A assinatura eletrônica pode ser “simples” (realizada por um simples escanear de sua assinatura, que assegura apenas a forma escrita, que os autores portugueses chamam de assinatura digitalizada), e a assinatura eletrônica pode ser “avançada”, , em que a chave privada pode ser transmitida por um programa de encriptografar, como o “Pretty Good Privacy”, mas que na verdade a chave de assinatura fica guardada no computador, do consumidor, em disquete ou em outro computador terceiro e traz só uma medida na segurança. 16 Como forma de gerir a despersonificação nos contratos eletrônicos, criou-se a medida provisória nº 2.200-2, de 24 de agosto de 2001, a qual, nas atribuições do art. 62 da Constituição Federal, em seu artigo 1º dispõe: 17 Art. 1o Fica instituída a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, para garantir a autenticidade, a integridade e a validade jurídica de documentos em forma eletrônica, das aplicações de suporte e das aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como a realização de transações eletrônicas seguras. Neste sentido, julgou recentemente o TJ-MG: 18 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AUSÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DO ORIGINAL OU DE CÓPIA AUTENTICADA DA PROCURAÇÃO E DO CONTRATO DE FINANCIAMENTO. DESNECESSIDADE. NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL ENVIADA AO DEVEDOR. CERTIFICAÇÃO DIGITAL. VALOR PROBANTE RECONHECIDO. REGULARIDADE. RECURSO PROVIDO. I - E desnecessária a juntada do original ou de cópia autenticada do instrumento de procuração e do contrato de financiamento pactuado entre as partes, eis que se presumem verdadeiros os documentos trazidos pela parte autora, cabendo à parte contrária impugná-los. II - Os documentos certificados e assinados digitalmente pelo Oficial do Serviço 16 Ibidem, pág 105 17BRASIL, Medida Provisória 2.200-2 disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/Antigas_2001/2200-2.htm>. Acesso em 06/06/15 18 Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Apelação Cível nº AC 10686130102821001. Relator: Desembargador Leite Praça. 4 de setembro de 2014. Disponível em: <http://tj-mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/139751667/apelacao-civel-ac-10686130102821001-mg/inteiro -teor-139751725?ref=topic_feed>. Acessado em 06/06/15. 34 Notarial e Registral possuem o mesmo valor probante dos respectivos originais, nos termos do art. 1º da Medida Provisória nº 2.200/2001 e do art. 161 da Lei 6.015/73 . A decisão acima traz a visão de que a assinatura digital, neste caso assinadas pelo oficial notarial, o qual possui fé pública, foi suficiente na comprovação documental no processo acima referido, a qual reconhece o valor probante do documento. Julgou o STF : 19 RE 470885 AgR-ED / RS - RIO GRANDE DO SULEMB.DECL. NO AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO Relator(a): Min. LUIZ FUX Julgamento: 06/12/2011 Órgão Julgador: Primeira Turma Ementa: AGRAVO REGIMENTAL JULGADO APÓCRIFO. ASSINATURAS DIGITAL E MANUSCRITA. EQUIVALÊNCIA. ACOLHIMENTO DOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. RECEITAS ORIUNDAS DE EXPORTAÇÃO. IMUNIDADE. CSLL. EXTENSÃO. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. DEVOLUÇÃO DO PROCESSO. 1. A assinatura digital equivale à manuscrita, por isso que o equívoco no sentido de que a petição do agravo regimental restada apócrifa quando dela constava assinatura eletrônica deve ser corrigido. 1.1. Embargos de declaração acolhidos, com consequente conhecimento do agravo regimental. 2. A matéria concernente à possibilidade de a imunidade das receitas oriundas de exportação prevista do artigo 149, § 2º, I, da Constituição Federal, na redação da emenda Constitucional 33, de 11.12.01, ser estendida ao lucro auferido pelas empresas, tendo em vista que o conceito de receita englobaria o de lucro, teve a repercussão geral do tema reconhecida nos autos do RE 564.413, Relator o Ministro Marco Aurélio, que se encontra pendente de julgamento dos embargos declaratórios opostos pela contribuinte. 2.1. Decisão agravada reconsiderada para determinar a devolução do feito ao Tribunal de origem, consoante o disposto no artigo 543-B do Código de Processo Civil, com consequente prejuízo do agravo regimental interposto. 3. Embargos de declaração acolhidos. Decisão Por maioria de votos, a Turma acolheu os embargos de declaração no agravo regimental no recurso extraordinário, nos termos do voto do Relator, vencido o Senhor Ministro Marco Aurélio. Presidência da Senhora Ministra Cármen Lúcia. 1ª Turma, 6.12.2011. 19 Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 470885 AgR-ED / RS. Relator: Ministro Luiz Fuz. 06 de dezembro de 2011. Disponível em <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28assinatura+digital%29&base= baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/msg4pbx>. Acessado em 06/06/15. 35 As normas de proteção dos incapazes definem que a contratação efetuada por consumidor menor de idade será de responsabilidade do fornecedor, o qual deve dispor dos meios necessários para que se proceda um cadastro e um prévio conhecimento do seu cliente, o qual poderá ou não, ser pessoa incapaz e gerar um possível negócio jurídico anulável. O meio eletrônico tem como premissa individualizar o consumidor de modo que o faça sentir-se único e especial, imprescindível para a empresa que está contratando, objetivando contratos diferenciados de acordo com a necessidade e peculiaridade de cada consumidor, marketing responsável por atrair a sua confiança. O desafio da individualização do fornecedor para com o consumidor inclui a questão de ‘até que ponto os contratos se voltam para as necessidades específicas e individuais do consumidor, e até que ponto os contratos em massa diferem-se uns dos outros?’. As cláusulas presentes nestes contratos diferem-se a ponto de cada contrato possuir uma condição especial que o torne fora do padrão de produção em massa e o diferencie a ponto de ser reconhecida sua validade pelo Poder Judiciário? 2.2 DIREITO DE ARREPENDIMENTO DA COMPRA Quando se trata do consumo e do contrato virtual, o qual ocorre em ambiente variado, geralmente o domicílio, o consumidor se vê diante de inúmeras ofertas e variadas atrações as quais o seduzem ao consumo e a futura relação contratual, pois pode, no calor do momento, pactuar o contrato, vindo a se arrepender posteriormente. Dispõe o Código de defesa do Consumidor (Lei 8078/90) em seu artigo 49: Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio. Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados. 36 Segundo Marques (2002), o direito de arrependimento foi instituído para proteger a declaração de vontade do consumidor, para que essa possa ser decidida e refletida com calma, de forma a resguardá-la das técnicas agressivas de vendas a domicílio. 20 O artigo é taxativo no que se refere ao período a que o consumidor está sujeito a analisar se sua compra, foi efetivamente um negócio efetuado satisfatoriamente, bem como a sua real necessidade de adquirir o bem, ou mesmo, substituir o bem, caso necessário. Dada a instabilidade do ambiente virtual, necessário seria este direito ser estendido, em favor do consumidor, pois uma vez que o estabelecimento não se encontra no meio físico, e a tradição do negócio não ocorra no momento exato da compra, necessitando de prazo de entrega, o consumidor, já vulnerável no meio físico, torna-se ainda mais expostos à lesões quando condicionado a este exíguo espaço de tempo o qual lhe é ofertado pelo CDC, estando exposto à toda e qualquer fraude, por mais cuidadoso e resguardado que seja sua conduta. Em contraponto aos artigos que tratam sobre a venda a contento, no código civil (Lei 10406/02), artigos 509 a 512, destaca-se o artigo 511: Em ambos os casos, as obrigações do comprador, que recebeu, sob condição suspensiva, a coisa comprada, são as de mero comodatário, enquanto não manifeste aceitá-la. O que de fato inverte-se na questão contratual por meio eletrônico, uma vez que ao realizar o contrato, ao celebrá-lo e concordar com seus termos, o consumidor está oficialmente aceitando, por hora, o produto adquirido, no entanto, sujeito está ao artigo 49 do CDC. Cavalieri Filho assim dispõe sobre o tema: [...] Todas as responsabilidade pré-contratuais podem ocorrer nesse prazo de reflexão. Se nesses sete dias o produto apresentar algum vício ou ocorrer um dano pelo fato do produto, o fornecedor terá que indenizar normalmente, pelas regras do CDC. Ele não vai poder dizer que se tratava de um mero comodato e 20 MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações contratuais. 4º Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, pág. 703. 37 que o comprador ainda não havia assumido a posição de consumidor. Haverá contrato de compra e venda perfeito e acabado, pelo que o fornecedor terá de responder integralmente pelo contrato nesse período de reflexão. Se por acaso, a coisa adquirida perecer, o comprador deverá responder pela sua perda, de acordo com o princípiores perit domino. Durante o prazo de reflexão, repita-se, a compra está perfeita e acabada, o comprador é o proprietário da coisa, e esta perece para o dono. Assim,por exemplo, se comprei um microcomputador (notebook) pela internet e enquanto o experimento, no prazo de reflexão, ele vem a ser furtado ou destruído em um acidente, aí já não mais posso me arrepender. Sofro os riscos normais do proprietário, os riscos da força maior e do caso fortuito, porquanto, repita-se, res perit domino. 21 Para Coelho: Atrapalhou-se o legislador ao dispor sobre essas modalidades de compra e venda. A rigor, a classificação da venda a contento como condicional, feita pela lei, não é apropriada. A satisfação do comprador relativamente à coisa não é condição da compra e venda, porque antecede a conclusão do contrato. O próprio dispositivo legal acaba contra- dizendo a definição feita ao estipular que a venda não se “reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu agrado” (CC, art. 509, in fine). 22 Diante disto, retoma-se o direito a arrependimento do consumidor, baseado no prazo que este possui para certificar-se de que está de fato, satisfeito com a aquisição, o que posterga, na visão da doutrina vigente, efetuação perfeita e finda do contrato de compra e venda por tal período. O Código Civil Brasileiro assim define o direito ao arrependimento: Art. 420. Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização suplementar. Fica, então, resguardado às partes o direito a rescisão contratual, previamente acertado em cláusula no contrato, restando à parte interessada expressar sua vontade 21 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Direito do Consumidor. São Paulo: Atlas, 2008, pág. 135. 22 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, 3: contratos. 7ª. Ed. São Paulo : Saraiva, 2014, pág. 172. 38 unilateral em rescindir o contrato, sem que haja indenização proveniente do rompimento do pacto. Para Leal: Nos contratos eletrônicos realizados via Internet, com oferta permanente em um site ou loja virtual, o consumidor não mantém contato físico direto com o ofertante, nem com o serviço ou produto objeto da contratação, que não pode ser tocado ou examinado, pessoalmente, o que aumenta os riscos de insatisfação com o negócio. A contratação pela Internet é fruto da contratação em massa e se impõe ostensivamente ao consumidor, influenciando a sua manifestação de vontade. Os sites são organizados de forma à indução ao consumo, com preços e facilidade cada vez mais atraentes . 23 Como anteriormente exposto, o consumidor virtual não tem contato físico com o produto que lhe está sendo ofertado, o mesmo apenas o vê, e decide se lhe é ou não adequado e de fato irá ou não adquiri-lo, restando-lhe o prazo de 7 dias para que prossiga ou não com o negócio, embora já tenha efetuado o pagamento do produto, toda vez que a compra se realize fora de estabelecimento comercial físico, de endereço certo e informável. Para alguns doutrinadores, o direito ao arrependimento se manifesta através de uma simples comunicação escrita com aviso de recebimento (AR) ao fornecedor, ou expressa manifestação verbal mediante testemunhas, sem que seja necessário maiores explicações sobre o porquê da devolução do produto, eis que por motivos diversos o consumidor não é obrigado a declarar formalmente as razões que deram causa à desistência e ao arrependimento da compra. 2.2.3 Pré-Requisitos Para O Direito Ao Arrependimento De Compra 23 LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos eletrônicos: validade jurídica dos contratos via Internet 1ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2009, pág. 107. 39 Como já exposto, o art. 49 do Código de Defesa do Consumidor estabelece dois pré-requisitos para que se proceda com validade ao direito de arrependimento de compra: primeiro, que a compra seja efetuada fora de um estabelecimento comercial, segundo, e que o arrependimento materialize-se dentro do prazo legal estabelecido de 7 dias. Para Andrade: O Código de Defesa do Consumidor brasileiro não regulou minuciosamente os tipos de contratos que poderiam ser celebrados fora do estabelecimento, não tendo igualmente estabelecido os requisitos necessários para tal modalidade de contratação nem fixado seus respectivos objetos. Em realidade, limitou-se a instituir no art. 49 o direito de arrependimento, permitindo ao consumidor, em contrato à distância ou contrato celebrado no domicílio do consumidor, dele desistir no prazo de sete dias, recebendo de volta, corrigida monetariamente, a importância despendida para a aquisição do produto ou serviço. 24 Por serem realizados à distância, correto afirmar que mais do que se enquadram os contratos eletrônicos no requisito de compra fora do estabelecimento comercial, pois consumidor e fornecedor encontram-se fisicamente separados, e a desvantagem ao consumidor nesta modalidade resta evidenciada. Tal regra aplica não somente aos contratos realizados via computador, mas também os realizados dentro da troca de informações via rede, sejam elas efetuadas via aparelho celular conectado ou não à internet, pois a linha telefônica também configura-se como transferência de dados via rede de transmissão via satélite, bem como os contratos celebrados via telefone residencial, por meio de marketing pessoal, no qual não há assinatura digital, apenas a concordância verbal do consumidor. Por não poder visualizar o produto no momento da compra, pode ocorrer pressão por parte do fornecedor para que efetue-se o negócio, motivo pelo qual, inúmeras vezes o consumidor efetua o negócio por impulso, ou em se tratando de marketing pessoal via telefone residencial, onde há oferecimento de produtos e/ou pacotes telefônicos e aquisições tecnológicas, o consumidor por vezes aceita o que lhe 24 ANDRADE, Ronaldo Alves. Curso de Direito do Consumidor. Barueri: Manole, 2006, págs. 336-337. 40 é imposto como meio de “se livrar” do contato, e poder seguir com suas atividades, o que ocasionalmente gera um arrependimento posterior. Neste sentido, segue decisão do TJ-RS: CONSUMIDOR. LEGITIMIDADE PASSIVA DA FORNECEDORA DO SERVIÇO QUE ATUA COMO INTERMEDIADORA NA AQUISIÇÃO DE PRODUTOS PELA INTERNET. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 7º, §ÚNICO DO CODECON. DIREITO DE ARREPENDIMENTO. RESCISÃO DO CONTRATO. RESTITUIÇÃO DOS VALORES PAGOS. 1. Legitimidade passiva da empresa demandada para responder a presente demanda, porquanto integrante da cadeia de fornecedores, sendo, portanto, solidariamente responsável pelos danos causados ao consumidor. 2. O autor realizou a compra equivocada de livros pela internet, pensando estar adquirindo livros físicos, enquanto na verdade estava adquirindo livros eletrônicos, os chamados e-books. 3. Manifestação do direito de arrependimento,previsto no artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor, logo após a aquisição do produto, conforme se verifica através do e-mail da fl. 24. Assim, deve ser rescindido o contrato havido entre as partes, com a restituição dos valores pagos. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71003860152, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Carlos Eduardo Richinitti, Julgado em 23/05/2013) 25 O art. 49 do CDC visa proteger o consumidor de práticas abusivas e impensadas, de práticas que possam vir a agredir o patrimônio ou a vontade e interferir nas suas decisões racionais. 2.2.4 Restituição Da Quantia Paga (Direito De Arrependimento - Art. 49) Evidenciado o arrependimento por parte do consumidor, o mesmo conta com a garantia de lhe ser restituído o valor pago pelo produto com correções monetárias pertinentes, o mesmo não ocorre em relação ao fornecedor. O parágrafo único do art. 49 estipula que o valor deverá ser restituído imediatamente após expresso o desejo do 25 Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Recurso Inominado nº 71003860152. Relator: Carlos Eduardo Richinitti. 27 de maio de 2013. Disponível em: <http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=71003860152&proxystylesheet=tjrs_index&client=tjrs_index&filter =0&getfields=*&aba=juris&entsp=a__politica-site&wc=200&wc_mc=1&oe=UTF-8&ie=UTF-8&ud=1&lr=lan g_pt&sort=date%3AD%3AS%3Ad1&as_qj=&site=ementario&as_epq=&as_oq=&as_eq=&as_q=+#main_r es_juris. Acesso em: 06/06/2015. 41 consumidor, não cabendo ao fornecedor a estipulação de prazo para que isso ocorra, devendo ser arcado todo e qualquer gasto que o consumidor venha a ter tido com a aquisição do produto. Caso ocorra má-fé por parte do fornecedor, o qual inclua no contrato cláusula que impeça o direito ao arrependimento, aplica-se o disposto no art. 51, II do CDC (L. 8078/90): Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: (...) II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código; logo, passível de nulidade tal cláusula impeditiva, bem como a cláusula que impõe multa ao consumidor caso rescindido o contrato. Denomina-se “prazo para reflexão” o período concedido ao consumidor, para que não hajam quaisquer dúvidas sobre a realização do negócio, o qual inicia a contagem a partir do momento do recebimento do produto. Dispõe o art. 4, Inciso III do CDC: 26 Art. 4º - A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo atendidos os seguintes princípios: III – Harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170 da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores. Há certa divergência para os autores em relação à contagem do prazo do art. 49, assim define Leal: 27 Questão a ser comentada é a que diz respeito ao início da conta- gem do prazo de 7 (sete) dias para o desfazimento do contrato: se do momento em que a aceitação é expedida (aplicação da teoria da expedição); se do momento em 26 BRASIL, Código de defesa do Consumidor. 27 LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos eletrônicos: validade jurídica dos contratos via Internet 1ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2009, pág. 107. 42 que a aceitação chega ao terminal de computador do ofertante (teoria da recepção); ou se do momento em que o consumidor recebe o produto ou serviço. A aplicação pura e simples da teoria da expedição não se adapta aos contratos eletrônicos, pois, conforme asseverado, as mensagens eletrônicas percorrem vários caminhos até serem descarregadas, no computador, podendo ocorrer atrasos ou extravio A aplicação da teoria da recepção só́ surtiria efeitos se o computa- dor do ofertante enviasse ao computador do consumidor (aderente) uma mensagem automática de confirmação do recebimento da aceitação, quando, então, começaria a fluir o prazo de arrependimento. Embora hajam teorias divergentes, opta-se pela mais benéfica ao consumidor, ou seja, admite-se a data de entrega do produto, objeto do contrato, neste caso em específico. Se tomarmos por exemplo contratação de seguro de vida ou então o financiamento de um veículo, admite-se a data de assinatura do negócio. Cabe às partes acordarem prazo superior ao estipulado na lei, contanto que não pactuem com prazo inferior. 3 DO CONTRATO ELETRÔNICO O presente capítulo visa introduzir o termo ‘contrato eletrônico’, bem como os seus principais tipos, introduzindo os requisitos para validade e eficácia e as partes da relação de consumo, os quais compõem o negócio jurídico na sua totalidade. 3.1 NOÇÕES GERAIS A base da celebração de qualquer contrato é o acordo de vontade entre as partes, para que se proceda o negócio jurídico. O sistema tradicional de contratos e sua base volitiva impõe dificuldades no contrato eletrônico no campo das obrigações. 43 Atualmente, tem-se a celebração de contratos sem supervisão, onde basta o acesso ao alcance das mãos através da internet para que se realize o negócio jurídico, independente da capacidade ou idade do contratante, não sendo o negócio passível de anulação, tendo em vista o contratante apenas finalizar o negócio após concordar com os termos do contratado, e não vice-versa. Nos contratos eletrônicos, quem detém o poder é o contratado, não sendo este o elo mais fraco do negócio, o qual agora estipula os termos à sua maneira, impondo ao consumidor, o qual tem a autonomia de aceite ou recusa, embora a desatenção do consumidor na leitura do contrato seja interpretada como aceitação tácita. Não há o contato pessoal, portanto, não há de se falar em revisão ou alteração do contrato para que se adeque às necessidades do consumidor, que acaba aceitando as condições impostas sem que possa discordar ou alterá-las. Os contratos eletrônicos são também denominados contratos à distância, por se encontrarem contratante e contratado em locais diferentes no momento da tradição, seja ela realizada por telefone ou através de internet como meio de celebração. 3.2 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS ELETRÔNICOS Por não haver legislação vigente que regulamente os contratos eletrônicos até o momento do presente trabalho, estes classificam-se como sendo atípicos e livres, mesmo que o conteúdo seja disciplinado em lei, como por exemplo, contratos referentes à compra e venda, locação, etc.. 3.2.1 Contratos Intersistêmicos 44 Utilizadopara negócios em atacado, esta categoria de contratos aplica-se a partes contratantes em redes fechadas de comunicação, através de sistemas aplicativos previamente programados . Ocorre a programação dos aplicativos e 28 máquinas necessários, denominado sistema EDI, e a partir daí, não há mais a interferência manual do homem. Ex: registro de leitura de produto cadastrado com código de barras, o qual é inserido na leitora do caixa do supermercado, emitindo um sinal para o computador, o qual atualiza o valor e gera a compra. Em caso de falhas, o benefício se fará em prol da parte pela qual estava o sistema operando no momento. 3.2.2 Contratos Interpessoais Nesta modalidade, o instrumento puro do contrato é o computador, diferencia-se do contrato intersistêmico, pois é através do computador que consumidor e fornecedor, pessoa jurídica/física, trocam manualmente informações através da rede. Costuma ser mais amplamente utilizado através do correio eletrônico, o e-mail, através do qual se realiza desde o contato inicial, até a finalização do instrumento de contrato, o que equipara-se aos antigos contratos via carta. Os contratos via telefonia ou chats também enquadram-se nesta categoria, os quais permitem que as partes comuniquem-se rápida e diretamente. Ocorrem simultaneamente, quando ambas partes estiverem online, ou não-simultaneamente, quando ocorrerem num espaço maior de tempo, o que geralmente ocorre nos correios eletrônicos, onde é mais incomum ambas as partes estarem simultaneamente online. 3.2.3 Contratos Eletrônicos Interativos Nesta modalidade, o contato se estabelece entre a parte e um sistema pré programado, a exemplo, sites, que mantem durante 24h estoque disponível de produtos 28 Ibidem, pág. 82. 45 e ofertas atraentes ao consumidor. É a modalidade mais comum no mercado de consumo. É apresentado através do site ao consumidor toda a informação necessária sobre o produto, tamanho, peso, voltagem, cor, etc. Há o preenchimento das informações referentes ao pagamento, e os demais passos para a efetivação do contrato. A oferta denota a vontade do fornecedor, o interesse do consumidor e o prosseguimento demonstra a sua vontade. Comumente conhecidos como contratos de adesão, o consumidor pode aceitar os termos, ou recusá-los. Equiparam-se aos contratos à distância, sem a presença das partes no momento da celebração, por intermédio do computador, aplicando-se as regras dos contratos a distância. 29 Admite-se aos contratos eletrônicos, à modo dos contratos físicos, a livre forma, entretanto, as formas aqui descritas enquadram-se como as principais conhecidas e empregadas até o momento no ordenamento jurídico, e com o avanço voraz das novas modalidades de relação de consumo, tais formas contratuais só tendem a expandir e acompanhar tal crescimento. 3.3 VALIDADE E EFICÁCIA A evolução deste novo mercado de facilidades tem causado significativo aumento na demanda jurídica, o que está gerando constante matéria e jurisprudência sobre o tema. Mesmo diante da falta de regulamentação vigente sobre a contratação eletrônica até o momento, tais contratos não deixam de perder sua eficácia e relevância jurídica a partir do momento de sua celebração, os quais equivalem-se na validade e legalidade se comparados aos contratos ditos “no papel”. A necessidade de se desenvolver um ordenamento específico para a área é tema constante e controverso entre juristas, magistrados e demais estudiosos do direito, tendo em vista o projeto de reforma do código de defesa do consumidor estar em lento e conturbado projeto de aprovação, o qual se faz inegavelmente necessário 29 Ibidem, pág. 87. 46 para o avanço e proteção adequados ao consumidor, pois nos 25 anos de vigência, o atual código tem se visto cada vez mais defasado. A variedade na execução desta modalidade de contratos vai além da contratação em si mencionada, os meios apresentam-se nas mais variadas formas, sejam exclusivamente eletrônicos, sejam planejados e executados fisicamente e celebrados eletronicamente em locais diversos, o que requer atenção redobrada quanto à possíveis vícios de validade e celebração, observando-se a legislação correta quanto à sua forma. Para que ocorram tais celebrações contratuais, faz-se necessária a observação de requisitos determinantes no fator confiança e proteção contratual ao consumidor, o que põe em pauta a eficácia das certificações digitais acerca da validade e veracidade da identidade dos contratantes virtuais, para que se estabeleça a relação de entendimento mútuo entre as partes, pois não se conhece quem está do outro lado durante o negócio, não tem-se o ritual do aperto de mão e assinatura ao pé da página com autenticação cartorária, o que torna o consumidor frágil e vulnerável, sendo necessária a verificação de determinados fatores determinantes para que se adquira esta tranquilidade no momento do negócio. Atualmente, tem-se analisado a questão da validade jurídica dos contratos eletrônicos como sendo de responsabilidade jurisprudencial, para que contribua com o aumento da veracidade probatória dos contratos. Há divergências entre estudiosos da área, os quais dividem-se entre se houve ou não mudanças no cenário contratual. Tem-se, contudo, concluído que o meio físico da celebração foi o único fator de alteração, e que a celebração propriamente dita, per si, não sofreu alterações com o decorrer da tecnologia e a aceleração virtual dos contratos, desta forma, não havendo a necessidade de haver alardes quanto à maneira como proceder em relação ao seu trâmite, devendo-se atender o procedimento padrão adotado nos contratos ditos físicos. Marques Gonçalves afirma que “[...] não há óbice legal ao contrato eletrônico, mas será necessário mostrar a existência de toda uma cadeia lógica de fatos e ações das partes [...]”. 30 A validade e eficácia dos contratos ditos telemáticos difere-se no que diz respeito às partes envolvidas, as quais não reguladas de acordo com o ordenamento 30 GONÇALVES, Sérgio Marques. O comércio eletrônico e suas implicações jurídicas: A defesa do consumidor. In BLUM. Direito Eletrônico. São Paulo: Edipro, 2001, p. 234. 47 vigente clássico, sendo requisito necessário para tais atos apenas a vontade e desejo dos contratantes em realizarem o negócio jurídico. Para Leal: A segurança jurídica pode ser vista como um dos pilares de um sistema jurídico equilibrado e eficaz e, conseqüentemente, de um Estado Democrático de Direito. Na verdade, está implícita à ordem jurídica como um todo, sendo uma das suas fontes de inspiração e garantia. 31 Ou seja, um Estado Democrático juridicamente bem estruturado juridicamente, gera negócios jurídicos e relações de consumo mais confiáveis, lucrativos e seguros para a sociedade num todo. 3.3.1 Elementos Subjetivos De Validade Todo contrato que encontra-se em conformidade com o ordenamento jurídico vigente, e que atende os
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