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Ética, Cidadania e Realidade Brasileira 02 Aula 01 A Metamorfose do Sujeito Ética 012 Introdução da Aula Na aula “A Metamorfose do Sujeito” você estudará sobre a ética existencialista, afirmação da alteridade e a relação entre a ética e responsabilidade com o outro. Você deverá: • Identificar aspectos da ética existencialista. • Compreender um pouco mais sobre a afirmação da alteridade, que diz respeito à interação ética entre o Eu e o Outro. • Analisar o equilíbrio para o real desenvolvimento, que leva em conta as dimensões social, e econômica. Reflexão Para Soren Kierkegaard, antecessor do Existencialismo, o indivíduo é o único res- ponsável em dar significado à sua vida. Baseando-se nesta máxima do considera- do pai do existencialismo, reflita sobre o quanto pesam as influências externas, na atitude existencial do indivíduo? Ética 013 Tópico 1 - Ética Existencialista Nascido no século XIX, através das ideias de Kierkegaard, o existencialismo teve seu apogeu na década de 50, com Heidegger e Jean-Paul Sartre. Em Sócrates, Agostinho de Hipona (Santo Agostinho), Arthur Schopenhauer, Fiódor Dostoiévski, Friedrich Nietzsche, Edmund Husserl e Martin Heidegger, encontram-se im- portantes raízes do movimento existencialista. O existencialismo é uma corrente filosófica que deseja entender a realidade a partir da experiência de existência. O homem é o significado de sua própria vida. Defende que a existência do humano precede a sua essência. Assim, a ética existencialista possui importantes representantes: Soren Kierkegaard (1813-1855); José Miguel de Unamuno (1864 - 1935), Gabriel Marcel (1889-1973) e Jean- -Paul Sartre (1905-1980) e Simone de Beauvoir (1908 - 1986). Vídeo Pare agora por mais alguns minutos, e assista ao vídeo. Vamos, antes de entender a ética existencialista, compreender os conceitos de existen- cialismo. Ética 014 Neste vídeo, vemos a valorização da liberdade individual. E a construção da existência, a partir da liberdade. Ou seja, uma reafirmação de que a existência precede a essência. Não é uma essência prévia que determina o que devemos ser. As escolhas são individuais e existir é a ação de mostrar-se em suas escolhas. Antes de compreender a Ética Existencialista, vamos juntos ter certeza do entendimento do conceito de Existencialismo. Conceito A palavra existir vem do latim exsistére que significa ser, estar, nascer, manifestar-se, aparecer, emergir. Expressa a ideia de se colocar no mundo, expressar seu modo de ser e assumir aquilo que se é. (Ser e Conviver, 13 dez. 2015) Coube a Sartre batizar ou cunhar esta escola com a expressão francesa existence. A célebre definição de Sartre: "A existência precede a essência", também inspirada em antigos pensadores como Soren Kierkegaard, traz o homem para a liberdade e ao mesmo tempo para a responsabilidade de ser quem é. Ou seja, antes de existir, não era nada, e a partir do momento que se descobre, se define. Sartre, após ter feito estudos sobre fenomenologia na Alemanha, cria o termo utilizando a palavra francesa "existence" como tradução da palavra alemã "Dasein", termo empregado por Heidegger na obra “Ser e tempo”. Como dizia Sartre, “Não devo perguntar o que fize- ram de mim, e sim o que vou fazer com o que fizeram de mim.", referindo-se à existência em geral. Ética 015 Leia agora esta carta de Keirkegaard, por ocasião de sua decisão sobre o fim do noivado, e abandono de alguns amigos: “O silêncio deles é nitidamente proveitoso para mim, porque me obriga a fixar a vista no meu eu; por- que me estimula a aprender esse eu que é o meu; porque me obriga a manter-me fixo na infinita insta- bilidade da vida e a voltar para mim o espelho côncavo com que dantes procurava abarcar a vida fora de mim mesmo. Esse silêncio agrada-me porque me sinto capaz desse esforço e com coragem para segurar o espelho, mostre-me ele o que mostrar, o meu ideal ou a minha caricatura. ” Homem pro- blema para si mesmo, Kierkegaard nunca deixou de se interrogar e de se analisar a si próprio. Para ele, a filosofia resumia-se em tomar consciência das exigências absolutas feitas a qualquer pessoa que queira viver uma existência verdadeiramente autêntica". (Carta de Kierkegaard a Peter Lind (1842). Fonte: http://www.netmundi.org/ Pois bem, agora é hora de perceber a Ética relacionada ao Existencialismo. Sartre trata a ética existencialista analisando duas preocupações básicas: • O humanismo que se pretende universal. • A liberdade e a condição do homem como ser livre e responsável por suas ações. Em sua obra “O existencialismo é um humanismo”, Sartre “propõe uma maneira de construir valores universais para o homem partindo de uma configuração autônoma e independente de dogmas e crenças coletivas”. “(..) Ao afirmarmos que o homem se escolhe a si mesmo, queremos dizer que cada um de nós se escolhe, mas queremos dizer também que, escolhendo-se, ele escolhe todos os homens. (...) Escolher ser isto ou aquilo é afirmar, concomitantemente, o valor do que estamos escolhendo(...) queremos existir ao mesmo tempo que moldamos nossa imagem essa imagem é válida para todos e para toda a nossa época. Portanto, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, pois ela engaja a humanidade inteira.” (Disponível em http://www.paradigmas.com.br/index.php/revista/edicoes-11-a-20/edicao-13/217-etica- -e-liberdade-em-sartre) Assim, o homem não tem a quem culpar por seu sucesso, ou insucesso, a não ser a ele próprio. Sartre em seu conceito foge, assim, de qualquer questão dogmática que estaria levando o homem a este sucesso, ou insucesso, bem como foge do determinismo, visto que é livre, o homem, e seu sucesso ou insucesso é simples consequência de suas escolhas e atos. Ética 016 Saiba mais Saiba mais sobre o assunto lendo o texto “Sartre e a ética Existencialista”. O homem, assim, passa a ter tamanha responsabilidade ao assumir sua condição de ser livre, uma vez que assim o sendo, fica responsável por si, e por todos. Reflexão Como então manter uma sociedade ética? Valores éticos como exemplo a compaixão, a humildade, a obediência entre os seres, e outros, são atitudes que podem ser criticadas com respeito aos valores de outras civilizações, como exemplo no ocidente. Se o homem livre pode ser quem deseja ser, como fazer esta liberdade não ser dor, ou difícil, para si, e para os demais seres? Vamos buscar entender um pouco mais no próximo tópico: Afirmação da alteridade - Eu e o Outro. Ética 017 Tópico 2 - Afirmação da Alteridade (Eu e o Outro) Um dos pontos importantes de reflexão, e que gera grande polêmica, sobre ética, diz respeito a ela estar ligada a um universo limitado. “Costuma-se afirmar que a filosofia sartriana é uma filosofia da liberdade. De fato Sartre construiu um sistema filosófico defendendo a criatura humana naquilo que mais a dignifica: a sua liberdade de ser. Mas seu conceito de liberdade não traduz exatamente aquilo que o senso comum entende por tal questão. A liberdade para Sartre tem um sentido ontológico, isto é, o homem é intrínseca e ontologicamente livre. A liberdade surge como uma necessidade: ´o homem está condenado a ser livre´, afirma Sartre. Contudo, não se trata de uma liberdade abstrata, ou de absoluta transcendência; a liberdade desponta na origem de uma consciência que está inserida no mundo e comprometida com ele por uma relação indissolúvel, ou seja, que está em situação. (Disponível em http://www.paradigmas.com.br/index.php/revista/edicoes-11-a-20/ edicao-13/217-etica-e-liberdade-em-sartre) Como estaria, então, a relação entre esta liberdade e a responsabilidade, O Eu e o Outro? Aqui a afirmação de Sartre, de que minha liberdade é o único fundamentoque vai de encontro ao que outros apregoam sobre ‘valores universalmente válidos e logicamente necessários’. E Sartre “abre a assustadora possibilidade de uma moral variável”. Saiba mais Para aprender mais sobre liberdade e responsabilidade, acesse e leia o artigo “Ética e Liberdade em Sarte”. Ética 018 Como construir, então, uma sociedade com valores tão variáveis? E com moral subjetiva? Vamos, assim, relembrar o conceito de moral: Conceito Moral é palavra de origem latina - costume. E diz respeito ao conjunto de cren- ças e valores estabelecidos por uma sociedade, estabelecidos geralmente em normas, diretrizes, códigos ou guias a serem seguidas por pessoas ou grupos sociais. A moral orienta, assim, as ações consideradas corretas e incorretas naquela sociedade. E devem ser respeitadas em sua conduta, regulando o comporta- mento dos membros daquela sociedade. E a princípio, entende-se que dada sociedade, acordou em respeitar tais princípios e valores. Para vários filósofos e autores o indivíduo, vivendo em sociedade, não pode ser visto como um elemento isolado e sim, inexoravelmente, ligado a todos os outros. Compreendamos, então, o conceito de alteridade: Alteridade é termo abordado pela filosofia, e pela antropologia, e diz respeito à qualidade de perceber o outro. Assim, parte do princípio de que o eu só pode existir através de um contato com o outro. O princípio da alteridade, também é apresentado por Platão, na obra o Sofista, como um dos cinco gêneros supremos. Hegel também demonstra que o homem em sua relação com o outro, está destinado a se “alterar” incessantemente. Ética 019 Estudo Complementar Pare agora e leia este artigo que mostra a visão de “Heidegger e o outro: a questão da alteridade em Ser e Tempo”. Como vimos na leitura do artigo, há duas importantes linhas de pensamento, antagônicas, quando comparamos a visão heideggeriana e a alteridade, contrapondo-se às interpreta- ções do solipsismo (concepção filosófica de que, além de nós, só existem as nossas experi- ências) existencial de Dasein. Para BAI & BANNACK (2006, p. 45), somos, em sociedade, nossas relações. “Nós somos as nossas relações. Desse modo, a existência humana e o desenvolvimento devem ser compreen- didos a partir da dinâmica de relações que lhes são ontologicamente inerentes. Como é apontado pela pers- pectiva sistémica (Urban, 1978; Donald, Lazarus & Lolwana, 2002), a atividade do “todo” é interdependente de todas as partes que o constituem e, por sua vez, estão também dinamicamente relacionadas entre si, num ativo e contínuo processo”. Disponível em <revistas.rcaap.pt/interaccoes/article/download/1522/1214>. Acesso em 8 abr 2017. A ética da alteridade, em EMMANUEL LEVINAS (apud Melo, 2003), se caracteriza pela impossibilidade, segundo o filósofo, da racionalidade ética ser fundada no sujeito, ou no Eu, para a sua possibilidade de ser centrada no Outro. • Num humanismo que funde e concilia o ético e o religioso. • A relação interpessoal só é possível se for orientada pelo estatuto da alteridade, o qual o outro não é propriedade minha. • O próximo é meu mestre, que me apela à máxima deferência de não matar, e Ética 0110 mesmo oferecer o meu pão para saciar a fome do outro. • O outro é liberador de toda tentação que conduz ao individualismo e ao totalita- rismo. • O amor pelo outro, o amor entre as pessoas é o amor que vive entre o homem e Deus. Vamos agora ao Tópico 3, perceber como valores se formam na sociedade, e a importância destes para a sustentabilidade social. Ética 0111 "A atividade ética do homem visa o bem perfeito, su- premo, ou seja, a felicidade (eudaimonia). O que é esta felicidade? É o bem viver e o bem agir. Como alcançar este fim? É tarefa da reflexão ética indicar o caminho. Segundo Aristóteles, a felicidade consiste em agir de acordo com virtudes. A prática ética seria, para ele, o caminho para a felicidade. As virtudes, no indivíduo, trariam o prazer em agir de for- ma reta, ética. O homem virtuoso, assim, seria aquele que adquiriu o hábito ou costume (ethos) da vida ética. Mas o que é virtude, e como adquiri-la? Para Aristóteles, pode ser ela de fonte moral e intelectual. A primeira vinda do hábito (ethos), e a segunda do aprendizado adquirido. Tópico 3 - Ética, Identidade e Responsabilidade com o Outro “Se devemos a Sócrates o início da filosofia moral, e devemos a Aristóteles a distinção en- tre saber teorético ou contemplativo e saber prático”(Panageiros, 2013.). O primeiro diz respeito a fatos e seres que existem e agem independente de nós, e sem a nossa interven- ção ou interferência. Já o segundo diz respeito às consequências de nossas ações. 1. Saber Teorético “É o conhecimento de seres e fatos que existem e agem independentemente de nós e sem nossa intervenção ou interferência. Temos conhecimento teorético da Natureza.” (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13.ed. São Paulo: Ática, 2000, p. 438). 2. Saber Prático “É o conhecimento daquilo que só existe como consequência de nossa ação e, portanto, depende de nós. A ética é um saber prático". (CHAUÍ, Marilena. Con- vite à Filosofia. 13.ed. São Paulo: Ática, 2000, p. 438). Vamos refletir um pouco mais sobre a ética Aristotélica: Ética 0112 Mas como delimitar o que é virtude nos tempos modernos, numa sociedade tão ampla e plural? De fato seria ela que nos conduziria à felicidade? Como compreender as virtudes como felicidade, num mundo tão competitivo, em que na prática é o acúmulo de capital que diferencia pessoas e classes, e não as virtudes? Pare agora e leia este artigo: Sobre a ética aristotélica Como foi estudado na disciplina Ética, cidadania e realidade brasileira I, o entendimento de quem é você na coletividade, perpassa pelo conceito de identidade, hoje cada vez mais inserido em contextos que envolvem consequências humanas e sociais, resultantes de um processo globalizante. O termo “identidade” se refere à compreensão de quem somos no mundo social. Para (GI- DDENS, 2002, p. 100), em “todas as sociedades, a manutenção da identidade pessoal, e sua conexão com identidades sociais mais amplas, é um requisito primordial de segurança relativo ao ser em si mesmo”, com a observação de que o termo no plural é mais utilizado, haja vista o contexto multifacetado que exige o desdobramento do sujeito em muitos e de acordo com os papéis sociais que esse sujeito precisa desempenhar nessa sociedade. De acordo com Coracini (2003, p. 239) entende-se que essa preocupação vem se acentu- ando no decorrer dos anos, com um grande interesse pelas questões da identidade e das relações entre os homens no cenário pós-moderno, pois, no contexto de mudança social, existem reflexos na transformação das identidades, o que, na configuração do sujeito pós- -moderno implica pluralidade. Cabe aqui destacar que o sujeito, no contexto de modernidade, precisará lidar com uma ampla e complexa diversidade de cenários, o que poderá deslocá-lo, exigir dele que seja múltiplo e descentrado para agir com rapidez diante das mudanças e fazer as suas escolhas, o que transformará a sua relação com o conhecimento e também afetará a sua atuação (IVO, 2013, p. 99). Isso faz com que se torne cada vez mais crescente a discussão sobre a ética e seu impacto na coletividade, seja isso discutido em redes sociais, congressos, fóruns, seminários e salas Ética 0113 de aula. A ética e a responsabilidade parecem ser cobrança constante da nova sociedade, cada vez mais intolerante com a falta de transparência e princípios, seja vindo do governo, das em- presas, ou da sociedade civil. Respeito e compromisso com o desenvolvimento humano passa a ser condição para quese salve toda a sociedade. Estamos todos interligados, e o bem-comum é o princípio de bem-estar individual. Ética 0114 Encerramento Como vimos nessa aula, a ética individual é tema cada vez mais necessário, e cada vez mais estudado em diferentes esferas. A partir dos estudos da Ética Existencialista, de Soren Kierkegaard; José Miguel de Unamuno, Gabriel Marcel, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir temos importantes análises que nos aproximam do entendimento do homem na sociedade. Devemos levar em conta que já em Sócrates, Santo Agostinho, Arthur Schopenhauer, Fiódor Dostoiévski, Friedrich Nietzsche, Edmund Husserl e Martin Heidegger já se via raízes do movimento existencialista. Agora que finalizamos, você está apto a realizar os exercícios desta aula. Fique atento ao seu desempenho e frequência nas atividades!
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