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Desidratação - W. B. O’Shaughnessy (1831) - pacientes com cólera - a desidratação foi reconhecida com entidade mórbida. - Em pediatria a acusa mais comum é diarreia e vômitos, com maior risco em lactentes. - A desidratação é reconhecida com entidade morbidade, ou seja, ela pode matar indivíduos adultos ou crianças. - Cólera é uma gastroenterite que faz uma perda muito grande água e eletrólitos. Um indivíduo com cólera pode desidratar gravemente. - As crianças são mais vulneráveis as perdas hídricas, principalmente as crianças até dois anos de idade, porque quanto mais jovem a acriança maior a necessidade hídrica do paciente. O adulto precisa de muito menos água do que o bebê. Então a necessidade hídrica vai diminuindo com o passar dos anos. - O idoso também é vulnerável a desidratação. - Existem várias causas de desidratação, mas vai ser abordada apenas a desidratação por vomito e diarreia. - Uma criança desidratada vai ter uma fácie com olhar assustado, olhos encovados, há pregueamento da barriga. Isso traduz uma diminuição do turgor e da elasticidade. Turgor: é o grau de resistência da pele a deformações - Na criança desidratada após fazer a pinça, a pele leva mais tempo para retornar ou não se desfaz. Quando a prega não volta, é chamado de turgor pastoso. Elasticidade: é a capacidade da pele retornar a forma normal após ser realizado o movimento de prega cutânea. Etiologia I - Aporte reduzido: anorexia, coma, restrição hídrica. II - Aumento das perdas: Gastrointestinais: vômitos, diarréia, drenagem enterocutânea. Renais: diuréticos, insuficiência adrenal, insuficiência renal crônica, diabetes insípidus (central ou nefrogênico). Pele ou trato respiratório: calor, fibrose cística, queimaduras. - O nosso modelo de estudo será desidratação por perda gastrointestinal. I - Aporte reduzido: - Exemplo: uma pessoa no deserto; idoso comprometido que depende do cuidador para se manter hidratado; pacientes que usam diuréticos. II - Aumento das perdas: Insuficiência renal: existe uma fase que é anúrica e outra poliúrica. Nessa fase poliúrica que cursa com tubulopatia, muitas vezes o paciente urina muito por conta de um dano tubular. Na maioria das vezes esse paciente desidrata pela diurese excessiva. → Bebê abaixo de 6 meses em amamentação exclusiva não precisa beber água, pois ele possui um mecanismo de autorregulação que em dias quentes ele irá mamar mais. Já em bebês que foram desmamados e fazem uso de mamadeira de leite de vaca (possui alto teor de Na+), a partir do terceiro mês fazem ingestão de água. Diabetes insipidus: é um distúrbio do AHD, que é o hormônio responsável pelo controle da diurese. Ele controla a reabsorção principalmente de água e Na+ no túbulo renal e com isso controla o volume urinário. - Se uma pessoa por algum motivo não produz ADH, ele não terá o controle da reabsorção de água e consequentemente vão urinar muito e desidratam por poliúria. A urina do paciente com diabetes insipidus é transparente. - A diabetes insipidus pode ser dividida em: - Diabetes insipidus central - Diabetes insipidus nefrogênica Diabetes insupidus central: em algumas situações de tumores cerebrais que comprometem a hipófise alterando a produção do hormônio. - Ex: crâniofaringioma; tumor da célula tronco. Esses pacientes conseguem controlar essa poliúria apenas com a ingestão excessiva de água. No pós-operatório quando retira o tumor, pode ser retirada também a hipófise e essa criança vai precisar repor todos os hormônios que dependem dela. Diabetes insipidus nefrogênico: O paciente produz ADH, mas o rim tem um problema no receptor e o ADH não age no rim. O ADH está normal, mas o rim tem uma resistência a ação do ADH. Exemplo: algumas síndromes e efeito colateral de alguns retrovirais. Queimaduras graves: pode haver desidratação pela pele nos casos de queimaduras graves. Nesses pacientes é necessário fazer uma grande reposição de líquido, porque ele perdeu a principal proteção do corpo, que é a pele. Fibrose cística: é a doença do beijo salgado. A pele da criança é salgada porque é uma doença congênita genética em que o paciente excreta muito Na+ pelo suor. É uma doença de enzimas pancreáticas. Esses paciente geralmente precisam de um volume maior de água no dia a dia. Patologia I - Volume: fezes diarreicas contém água, sódio, cloreto, bicarbonato e potássio. II - Compartimentos Corporais: - As perdas iniciais das secreções intestinais acarretam perda do LEC - compensação renal [Na+] normal (130 a 150 mEq/l). Desidratação isotônica ou isonatrêmica (75 a 80% dos casos). - Perda proporcional de solutos e água. Não ocorrem alterações na tonicidade dos fluidos corporais, nem redistribuição entre os meios IC e EC. Desidratação hipotônica ou hiponatrêmica (10 a 12%) - Na+ inferior a 130 mEq/l. - Estado de hiponatremia: reposição apenas de água; comum em desnutridos. Diluição do intravascular que perde sua capacidade osmótica. Sinais precoces e graves de hipovolemia. Entrada de água para o IC. Desidratação hipertônica ou hipernatrêmica (5%) - Na+ superior a 150 mEq/l - Sobretudo quando vômitos + ausência total de ingestão e as perdas de água excedem as perdas de sódio. - Lactentes nos primeiros meses de vida, eutróficos, diabetes insípidus. Sódio IV alto volemia é preservada desidratação intracelular c/ manifestações neurológicas e risco de hemorragia cerebral. - Em um paciente desidratado devemos avaliar primeiramente quanto de líquido o paciente perdeu. Toda vez que o paciente desidrata por vomito e por diarreia, ele perde água e eletrólitos. Gastrointerute: na gastrointerite ele perde sódio, potássio, bicarbonato, cloreto e água nas fezes. - Para avaliar quanto ele perdeu em volume pesa-se o paciente no momento da consulta e compara com o peso da última pesagem (a mãe sempre sabe esse peso). - A diferença desses dois pesos será o volume perdido na desidratação. Qual compartimento que foi comprometido? Sódio: sódio é um íon predominante no meio intravascular, mas também existe no meio intracelular. - O Na+ é muito importante na osmolaridade. - Nas fórmulas de osmalaridade o seu valor é multiplicado por dois. Hipertensão: na hipertensão Na+ retém água, isso aumenta a volemia e acaba sendo uma sobrecarga para o coração. - O nível de Na+ normal dentro do intervalo de 130 a 150 mEq/L. - O ideal é que não esteja nem 130 e nem 150. Os extremos são sempre preocupantes. - 80% das desidratações cursam com o Na+ normal, então são consideradas desidratações isonatrêmicas ou isotônicas. Não há uma alteração de tonicidade de um meio para o outro. A perda que ocorre é isotônica, proporcional em todos os compartimentos. - Todos os eventos que cursam aumentando ou diminuindo a quantidade de Na+ é muito ruim para a homeostase. → O cérebro é um órgão que não tolera bem as alterações dos níveis de Na+. Desidratação hiponatrêmica: Na+ está abaixo de 130 mEq/L. - A principal causa de hiponatremia é a iatrogenia. Pode ser administrado inadequadamente no paciente uma reposição de liquido sem eletrólitos (Ex: soro glicosado). O meio intravascular sofre uma diluição. O paciente que antes tinha uma desidratação isonatrêmica, com essa diluição começa a ficar torporoso, pode convulsionar e/ou entra em coma. Se o Na+ diminui no meio intravascular, a tendência do liquido é sair do vaso e ir para o interior da célula. - A fisiopatologia da hiponatremia é o edema intracelular. - O sódio é um componente importante para mantera água dentro do vaso, quando a concentração de Na+ cai para menos que 130 mEq/L a água sai do vaso e vai para as células. O bebê desnutrido: tem o Na+ baixo. Normalmente tem o Na+ entre 126 e 128 mEq/L. Eles passam por um estágio crônico da desnutrição para chegar a esse valor, então eles conseguem conviver bem com essa dosagem. O problema é quando eles fazem diarréia, e o sódio cai de 126 mEq/L para 120 mEq/L gerando um quadro de desidratação hipotônica. - Em torno de 10 – 12% das desidratações serão hiponatremicas, pois ocorre uma diluição do meio intravascular e perda da capacidade osmótica. A entrada de água dentro da célula no SN pode levar a coma, convulsão, e até a morte. - As mulheres possuem uma tendência maior a apresentar hiponatremia, pois a mulher já possui um período que fica mais diluída, onde ocorre uma retenção hídrica devido ao metabolismo hormonal. Desidratação hipernatremica: Na+ está acima de 150 mEq/L. - Se o sódio estiver muito alto, acima de 150mEq/L a água que fica localizada nos outros compartimentos vai ser atraída para o interior do vaso. Então na hipernatremia o meio mais desidratado vai ser o intracelular. - A principal causa de desidratação hipernatrêmica é a iatrogenia. Ex: a mãe pega o soro no posto de saúde e ao invés de diluir em 1L ela dilui dentro da mamadeira de 300ml. - Cerca de 5% são as desidratações hipernatremicas, que é o tipo mais grave, por que a desidratação do meio intracelular é muito grave no SN, e pode além de causar convulsões provocar um quadro de hemorragia cerebral. Desidratação isonatrêmica: Na+ entre 130 a 150 mEq/L. → O sistema nervoso é o órgão mais vulnerável as variações da quantidade de sódio. Gastroenterite: na desidratação por gastroenterite 80% dos casos são isonatremicos, pois há uma perda proporcional de solutos e água, não ocorrendo alteração na tonicidade dos fluidos corporais, nem uma distribuição de água entre os meios intracelular e intravascular. - Além do Na+ deve-se avaliar a quantidade de liquido perdida, qual o compartimento mais comprometido e se existe um distúrbio ácido-básico associado. - A principal base do corpo é o bicarbonato. - PH sanguíneo traduz o potencial de íons H+ no sangue. Normalmente o PH do sangue arterial é 7,40, porém o organismo tolera variações de 7,35 – 745, abaixo de7,35 ou acima de 7,45 ocorre repercussões no organismo, na função cardíaca, na homeostase. III - Metabolismo do Íon Hidrogênio / Ácido-Base: - Nas doenças diarreicas, ocorre acidose metabólica em virtude de vários fatores: 1 - A água fecal é mais alcalina do que os líquidos corporais, isto é, contém mais bicarbonato (compensação renal). 2 - A fermentação bacteriana, que produz íon hidrogênio, pode acarretar difusão retrógrada a partir da luz intestinal. 3 - A inanição precoce (lactentes) leva à formação de corpos cetônicos por lipólise. 4 - A redução da perfusão de tecidos por hipovolemia induz glicólise anaeróbica e produção de ácido láctico. 5 - O mais importante mec.: a hipovolemia redução da taxa de filtração glomerular (TGF), o rim não pode compensar a alteração através da excreção de ácido acidemia. Atenção: desidratação por obstrução GI alta (estenose pilórica ou atresia duodenal), a perda de cloreto gera alcalose. Gastroenterite: na gastroenterite se existe a perda de Bicarbonato, perde base, e acumula ácido existe uma tendência a fazer uma acidose metabólica. - A acidose metabólica pode ocorrer por vários motivos, primeiramente está ocorrendo uma perda da principal base nas fezes, que é o bicarbonato. - Segundo: vai ocorrer uma produção mais elevada de H+, que se difunde através da luz intestinal. - Se existe desidratação, existe uma hipovolemia, e o primeiro mecanismo de compensação a ser ativado é o aumento da frequência cárdia, o paciente fica taquicárdico, pois tem o objetivo de manter a perfusão dos órgãos nobres, pois DC=Vs x FC, se o volume sistólico diminuiu a Frequência cardíaca aumenta para compensar. - Se existem uma hipovolemia, vai haver uma hipoperfusão tecidual, apesar do aumento da frequência cardíaca de maneira compensatória. Um exemplo é a pele, que vai ficar menos perfundida devido a hipovolemia. - Se existe uma hipovolemia e não chega sangue oxigenado para as trocas a produção de ATP não vai ser feita plenamente pelo metabolismo oxidativo, então vai haver um prejuízo do metabolismo oxidativo, pois o processo anaeróbio gera cerca de 2 a 3 ATPs, enquanto o mecanismo aeróbio gera de 32 a 34 ATPs. - Além disso, no metabolismo anaeróbio vai ocorrer a produção de ácido lático, mais outro fator que contribui com a acidose metabólica. - A hipovolemia vai provocar uma menor perfusão na maioria dos órgãos, inclusive o rim. A desidratação grave vai perfundir o rim de maneira inadequada, levando desde de uma diminuição até uma parada da diurese. - Uma hipoperfusão crônica pode provocar uma lesão renal, e culminar com uma Insuficiência renal secundária a essa hipovolemia. - O rim é muito importante para as trocas iônicas, pois realiza a troca de Na+ por H+, K+ por H+, reabsorvendo Bicarbonato em troca do cloreto. - Existe uma desidratação que não cursa com acidose, são os pacientes com obstrução do trato gastrointestinal. Nesses casos o paciente vai vomitar conteúdo gástrico, então vai perder muito HCl, o que provoca uma alcalose metabólica por 2 motivos: primeiro vai haver perda de H+ pelo vômito, e está havendo perda do íon cloreto, e a perda excessiva de cloreto leva auma maior reabsorção de bicarbonato. - Sempre que houver perda de conteúdo gástrico o distúrbio metabólico associado é a alcalose metabólica. - A diarreia provoca uma perda muito grande de bicarbonato. Sinais e Sintomas - Sede e boca seca - sintoma precoce - Perdas 5% do peso corporal desidratação leve (1o grau). Indicação absoluta TRO. - Desidratação isotônica e hipotônica - sinais circulatórios. - Perda de 5% do peso corporal: taquicardia, reenchimento capilar prolongado, perda da elasticidade cutânea (lactentes), fontanela deprimida. Clínica - Todo paciente desidratado tem sede e boca seca. - Existem 3 tipos de desidratação : Leve, Moderada e Grave. Leve: a perda é de até 5%. Moderada: perda de 5 a 10% Grave: a perda é maior que 10% - Na desidratação de primeiro grau vai haver pouco sinal circulatório, pode até estar taquicárdico, mas não vai ter pulso fino, não tem sinais clínicos muito evidentes. - A medida que esses sinais clínicos ultrapassam os 5% vai haver uma repercussão hemodinâmica, como taquicardia, enchimento capilar prolongado(lento), perda da elasticidade cutânea, e a fontanela diminuída. Avaliação Pontos da Análise clínica: 1 - Volume 2 - Compartimento corporal/osmolalidade. 3 - Íon hidrogênio/ácido-base. 4 - Íon intracelular 5 - Calcemia Medida clínica/laboratorial: 1 - Peso corporal, uréia 2 - Sódio sérico 3 - Gasometria arterial:pH HCO3, PaCo2, BE . 4 - Não disponível. 5 - Cálcio total/ionizado - No paciente desidratado vai ser analisado o volume e o peso, vai pesar e comprar esse peso com o ultimo peso do paciente para poder estimar quanto de líquido foi perdido. - O Na+ só vai ser dosado se o doente possui um quadro neurológico muito grave. Paciente que está desidratado e convulsionando precisa ter uma dosagem do Na+ do sangue, para poder saber se é uma desidratação hipo ou hipernatremica. Na hipernatremia: bebês aparentemente saudáveis e mãe com histórico de soro administrado de forma inadequada. Na hiponatremia: Para ser definida precisa da dosagem de Na+ Na isonatremica: o paciente não chega convulsionando, nem com quadro neurológico focal.- O distúrbio acido-basico vai ser definido a partir da gasometria. NÃO se colhe uma gasometria arterial de imediato, pois pela clínica podemos saber que existe algum grau de acidose, mas a hidratação do paciente corrige uma parte da acidose, então primeiro trata o paciente, e depois vai fazer a gasometria desse paciente. - O Ca²+ é muito importante na desidratação hipernatremica. Tratamento da Desidratação Leve a Leve/Moderada - Quando não há choque clínico (reenchimento capilar 2.9 segundos) - TRO/OMS. Desidratação 2o grau > ou igual a 7% de perdas - EV. - Vômitos não são contra-indicação (5% são incoercíveis). - Os vômitos cederão com a melhora da hidratação. - Colher, xícara, copo, conta-gotas (mamadeira). - Solução inicial: 90 mEq/l (Ministério da Saude ) a 75mEq/l (WHO). - Solução de manutenção: 40 a 50 mEq/l. - TRO - responsável (mãe)- persistência e paciência. - Realimentação. - A terapia de reidratação oral é obrigatória em todos os casos de desidratação de primeiro grau (até 5% de perda), e na desidratação de segundo grau é feita quando existem perdas de até 7%. Perda maior ou igual a 7% não vai ser feita a TRO, pois o paciente com perda maior que 7% já tem repercussão hemodinâmica, já possui taquicardia, já possui pulso fino e extremidades frias, então precisa de uma medida mais rápida. - 95% dos vômitos cessam após a TRO, o MS recomenda para não serem usados medicamentos antieméticos (controlam o vômito), pois esses medicamentos provocam sonolência, que impede a realização da TRO e também confunde, pois não vai haver certeza se a sonolência está sendo provocada pelo medicamento ou pela desidratação. - Se o bebê mama somente peito não vai ser dado o soro oral na mamadeira, deve ser dado de colher ou de copinho. - A solução fornecida pelo ministério da saúde é uma solução de 90mEq/L de Na+ - A OMS recomenda uma solução com menor teor de Na+, uma quantidade de 75mEq/L - O soro fisiológico é uma solução de NaCl a 0,9%, que contém aproximadamente 150mEq/L - A osmolaridade é o dobro da equivalência, então a osmolaridade do soro fisiológico é de 300mosm/L que é muito próximo da osmolaridade plasmática, que varia de 280 a 305mosm/L, então o soro fisiológico é isotônico em relação ao plasma, por isso pode ser usado em qualquer tecido e não vai alterar esse tecido, pois se assemelha ao plasma, não exercendo uma osmolaridade maior ou menor. - Uma solução de NaCl a 0,9% significa que existem 0,9g em 100ml - A mãe precisa estar presente e ajudar na rehidratação oral. - A realimentação não pode demorar muito, pois o jejum prolongado provoca lipólise, que resulta na formação de corpos cetônicos que causam uma acidose metabólica. Pode dar uma pausa de 1h e já volta com o peito, por que além de hidratar, o peito vai manter o TRO. - A orientação é que a mãe administre o soro aproximadamente na mesma quantidade que é perdido pela evacuação. Terapia de Reidratação Oral (TRO) com Sais de Reidratação Oral (SRO) Postos de Saúde BRASIL (1975) WHO (OMS) 2002 Pedialyte 60 ® Pedyalite 45 ® Sódio (Na+) 90 mEq/L 75 mEq/L 60 mEq/L 45 mEq/L Cloreto (Cl-) 80 mEq/L 65 mEq/L 50 mEq/L 35 mEq/L Potássio (K+) 20 mEq/L 20 mEq/L 20 mEq/L 20 mEq/L Base – Citrato 10 mEq/L 10 mEq/L 30 mEq/L 30 mEq/L Glicose 111 mEq/L 75 mMol/L 60 mMol/L 126 mMol/L Zinco 6 mg/100ml Osmolaridade 311 mOsm/L 245 mOsm/L TRO – Terapia de Reidratação Oral - Dissolver 1 envelope de SRO em 1 litro de água filtrada e fervida (ver a apresentação disponível) - Oferecer a solução “ad libitum”. 15 a 30 ml cada 10 a 15 minutos durante cerca de 4 horas. - Reavaliação de hora/hora nas primeiras 2 horas, através de parâmetros clínicos e pesagem. - Aleitamento materno mantido. - Criança em aleitamento artificial ou dieta livre: pausa de 4 horas e então iniciar a alimentação láctea em pequenas quantidades ou dieta habitual para as crianças maiores. - Vai ser administrado de 15 a 30 ml a cada 10-15min durante cerca de 4hrs - Ao começar a diarreia usar o soro oral, manter a alimentação normal - Nunca suspender a amamentação Após 4 horas: - A criança ainda está desidratada, mas aceita bem o soro: manter o esquema e iniciar a dieta. - A criança mantém-se desidratada, apresenta vômitos e recusa o soro: não iniciar alimentação e passar a administrar o soro por gastróclise. - Se o paciente foi reidratado, aceitou peito faz a orientação a mãe para que cada vez que o bebê evacue ela dê o soro oral, e retornar no outro dia. - Se o bebê continuar desidratado, mesmo que esteja aceitando bem o soro não deve ser liberado, deve aguardar mais tempo. - O paciente pode estar desidratado e ter vômito ou não aceitar o soro. Se não aceita o soro o melhor é uma hidratação venosa, se não for possível deve ser feita a gastróclise. Gastróclise: a gastróclise deve ser suspensa na presença de vômitos, falta de ganho ponderal após 2 horas, piora do sensório ou sintomas neurológicos. - Na gastróclise, passe-se uma sonda nasogastrica, que tem vários orifícios que vão estar alocados no estômago, e vai ser conectado ao soro oral, que vai ser gotejado no estomago. Para esse procedimento a criança não pode estar muito grave, tem que estar acordada, reagindo e com os reflexos de tosse presentes. - O orifício mais distal deve ficar no esterno, e a partir dele deve ir até a orelha do paciente, e da orelha a narina, para garantir que chegou no estomago. Se a criança vomitar, não deve fazer a gastróclise, é melhor fazer um acesso venoso. → Falta de ganho ponderal em 2hrs, o ideal é fazer um acesso para hidratação venosa. Manutenção: TRO deve ser mantida enquanto perdurar a diarréia, administrada “ad libitum” após cada evacuação líquida ou semilíquida. Contra-indicações: 1 - Alterações do estado de consciência-coma 2 - Íleo paralítico 3 - Infecção grave 4 - Desidratação 3º grau ou 2º grau > 7% 5 - Sinais de irritação peritoneal - Doente com uma infecção grave - Desidratação de terceiro ou de segundo grau maior que 7% - Abdômen distendido e doloroso com íleo paralítico(é o abdômen onde não se ausculta peristalse) - Alteração do estado de consciência: o paciente precisa interagir e reagir a introdução da sonda, para evitar que haja broncoaspiração. Preocupações Antieméticos: são depressores do SNC podem dificultar a administração TRO. - Remédio para vômito não é indicado Antiespasmódicos: contra-indicados - proliferação bacteriana. - Antiplasmótico (atroveram, buscopam) não deve ser administrado, poiis se diminuir a peristalse piora a toxemia do paciente Adstringentes: efeito cosmético, espoliação de sódio e potássio. - Não usar Adstringente: é um remédio que ajuda a moldar as fezes Antipirético: podem produzir prostração e sonolência, dificultando administração do soro - Não administrar antitérmico, pois deixa a criança sonolenta e prostrada, ao invés disso dar um banho para reduzir a febre. Manifestações Clínicas conforme o Grau de Desidratação 1º grau ou leve (Int)ª 2º grau ou moderada (Int + IV) 3º grau, choque hipovolêmico (Int + IV + IC) Perda de peso Até 5% Até 10% Acima de 10% Perda de líquido < 50 ml/Kg Estimativa 50 – 100 ml/Kg Estimativa > 100 ml/Kg Estimativa Tipo de choque Compensado Descompensado Turgor cutâneo Diminuído Pastoso Prega persistente Mucosas Levemente secas Secas Ressecadas Cor da pele Palidez leve Palidez intensa Pele mosqueada/cianose Olhos Levemente encovadosEncovados Severamente encovados Fontanela Normal Deprimida Muito deprimida Diurese Diminuida Oligúria Oligoanúria Frequência cardíaca Normal Aumentada Taquicardia ou bradicardia Pressão arterial Normal Discreta diminuição Hipotensão Pulsos Normal Discreta diminuição Débeis Sensório Normal Alterado Deprimido pH 7,40 – 7,35 7,30 – 6,92 7,10 – 6,80 Int: espaço intersticial IV: espaço intravascular IC: espaço intracelular - A partir de 5 a 10 % já é 2°grau, então já tem algum tipo de choque, de hipoperfusão tecidual. O choque é quando há um desequilíbrio entre a oferta e o consumo de oxigênio. Os sintomas são mais acentuados, com olho encorvado, palidez, turgor pastoso, fontanela deprimida, diminuição da diurese e repercussão hemodinâmica e acidose metabólica considerável, mas sem hipotensão. A queda da pressão é tardia, e só ocorre depois que todos os mecanismos compensatórios forem esgotados. - Acima de 10% é um paciente com choque grave, com acidose muito grave, PH menor que 7,20, repercussão hemodinâmica grave com risco de parada cardíaca, vai haver hipotensão, pele fria e com extremidades cianosadas, devido uma alteração na perfusão, e não chega sangue nas extremidades. Pele mosqueada (redilhada/manchada). Choque cardiogênico: falha da bomba. Choque hemorrágico: trauma em órgãos Choque por desidratação. Hidratação Venosa 1- Avaliação do quadro clínico: 1.1 - Sinais de espoliação do líquido intersticial: - Perda de peso - Depressão de fontanela - Olhos encovados - Diminuição da elasticidade cutânea, do turgor e do tônus muscular - Pacientes desidratados que já apresentam clínicas são os de 2°grau com perda maior ou igual a 7% e os pacientes de 3° grau. - Nesses casos o paciente já apresenta taquicardia, o pulso fraco, já apresenta sinais de compensação hemodinâmica, o coração já tenta compensar a hipovolemia. - Os pacientes nesse estágio já possuem sinais francos de desidratação, com alta irritabilidade, sonolência, diminuição do turgor, não retornando a pele ao estado de origem após a prega. Possui o abdômen escavado, boca seca e choro sem lágrima. 1.2 - Sinais de espoliação do líquido vascular: - Alterações do estado geral: inquietude, ansiedade, prostração, palidez. - Extremidades frias e cianóticas. - Pulso fraco e rápido (taquicardia). - Diminuição da área cardíaca. - Oligúria ou anúria. - Nesse paciente vai haver alteração tanto no meio intracelular quanto intersticial. - Se existe uma hipovolemia, os tecidos não estão sendo perfundidos adequadamente, então a primeira reação do corpo é fazer uma taquicardia, pois o coração vai tentar manter a perfusão tecidual adequada, então é uma taquicardia compensatória a diminuição do volume sistólico. - Vai ocorrer o aumento da frequência cardíaca, extremidades frias, devido a baixa perfusão periférica, o pulso é rápido e fino, devido a baixa volemia. Essa diminuição do volume provoca efeitos nos rins, pois chega pouco sangue no rim, então vai diminuir a filtração glomerular renal. Estimativa de Déficit na Desidratação Aguda Tempo de Reenchimento Capilar (segundos) Perda de Volume (ml/Kg) <2 0 2-2,9 50-90 3-3,5 90-110 3,5-4,0 110-120 >4 150+ Classificação: Leve não responsiva à TRO: perda de 5% peso. Moderada: perda até 10% peso corporal. Grave: perda 10% peso corporal. 2. Determinação do tipo de desidratação: Desidratação Hipomatrêmica Hidratação Venosa 2.1 - Isotônica: sódio plasmático entre 130 - 150 mEq/l. - Redução do LEC, sem mudanças na pressão oncótica e no LIC. Existem 2 aspectos importantes que devem ser considerados no cálculo de desidratação venosa: Volume total perdido(VTP): volume de líquido que o paciente perdeu, vai ser calculado a partir do peso atual do paciente em relação ao peso da última consulta. Necessidade hídrica diária (NHD): quantidade de líquido que o paciente necessita independente da desidratação. Necessidades Hídricas diárias: Lactentes: 1 mês a 1 ano de idade: 120 ml/kg/dia. Lactentes: 1 ano a 2 anos: 100 ml/kg/dia. Pré-escolares: 2 a 6 anos: 80 ml/kg/dia. Escolares: 6 a 10 (11 anos): 60 ml/kg/dia. Adolescentes: 10 (11 anos): 50 ml/kg/dia. - Quanto menor a criança, maior a necessidade de líquido por KG. - A partir de 10 anos a necessidade hídrica diária se equipara ao adulto, a partir dessa idade vai ser levado em consideração a superfície corporal. - A partir desses valores é possível constatar que as crianças são mais sensíveis as variação hídricas do que os adultos, pois elas necessitam de mais águas para ficar “bem”. - Os idosos também passam a ser mais sensíveis as perdas hídricas, pois vão perdendo os mecanismos de autoregulação hídrica. - A faixa mais vulnerável é acima de 1 mês de vida até 2 anos. Volume Total de Perdas (VTP): Desidratação leve: 1 a 5% do peso corporal (PC). Desidratação moderada: 5 a 10% do PC. Desidratação grave: 10 a 15% do PC. - Lembrando que a reposição venosa só é feita nos pacientes desidratados > ou = a 7% - Quanto mais desidratado, maior vai ser a reposição desse paciente, por isso é importante rever esse paciente frequentemente, pois durante a reposição venosa o paciente pode vomitar, pode ter evacuado varias vezes, e com isso não recuperar a hidratação com o esquema que foi feito. Se isso ocorrer vai ter que pesar o paciente outra vez e começar tudo de novo. - Quantidades de líquido perdido, possíveis perdas posteriores, manutenção volumétrica. - Independente do esquema utilizado é fundamental a reavaliação a intervalos curtos. → Quanto maior for a depleção de volume, mais agressiva e rápida deve ser a reposição volumétrica. Hidratação venosa na desidratação aguda possui 2 fase: - A reidratação é constituída, basicamente, por duas fases: 1 - Fase de expansão 2 - Fase de Manutenção Fase de Expansão - Mais rápida e agressiva, oscilando de 20 a 30 minutos, visa à restauração do líquido intravascular. - Conforme o grau de desidratação (segundo grau ou terceiro grau/choque) utiliza-se velocidades de infusão diferentes, porém a solução preconizada é preferencialmente soro fisiológico (NaCl a 0.9%) ou solução de Ringer lactato (cristalóides). Fase de expansão na desidratação de segundo grau: 20 ml/kg/em 30 minutos - A fase de expansão é a fase que é realizada de forma rápida no paciente, para melhorar a volemia e o pulso, e diminuir a taquicardia, pois procura reestabelecer a volemia, e melhorar a perfusão renal do paciente. Vai expandir o volume intravascular. - O ideal para a fase de expansão é utilizar uma solução que é isotônica ao plasma, que é o soro fisiológico. - A fase de expansão vai ser de acordo com o tipo e com o grau de desidratação do paciente - Outras soluções também podem ser utilizadas nessa fase de expansão, como o Ringer lactato. - O ringer lactato tem menos Na+ do que o soro fisiológico, possui em torno de 140mEq/l, tem ainda K+ e lactato que vai ser convertido em bicarbonato. Porém não é adequado em todas as situações, já soro fisiológico é utilizado em todas as situações. - Se for uma desidratação de 2°grau vai ser feito 20 ml/Kg em 30 min. - Se o paciente chega na emergência com 7 KG, e a 15 dias atrás ele pesava 8KG, o peso utilizado para o cálculo da fase de expansão é 8KG, pois os cálculos devem ser feitos no peso hidratado, o peso desidratado é utilizado apenas para avaliar quanto de água foi perdido. Nesse caso o paciente perdeu 1 Kg, que equivale a 1L, então vai ser dado 20 ml por Kg, nos primeiros 30 min deve ser dado 160ml de líquido ao paciente. Fase de expansãona desidratação de terceiro grau (choque) - 20 ml/kg a cada 20min - 25 a 30% do SF infundido permanecem dentro do espaço intravascular, o restante se distribui no espaço intersticial. - Se for um paciente de 3° grau, mais grave, com sinais de choque mais evidentes, vai ser feito 20ml/Kg em 20 min. - Do volume reposto, apenas 30% fica no plasma, dentro do vaso, o resto do volume acaba se difundindo nos outros espaços, por isso vai ter a fase de expansão e depois a fase de manutenção. Soro Fisiológico 0,9% - O soro fisiológico é o que mais fica no plasma, por que é isotônico em relação ao plasma. Por isso que o paciente em Reidratação venosa sempre tem um pouco de edema, por que uma parte desse líquido vai extravasar. - Na desidratação isotônica a perda de líquido é proporcional, em todas as áreas do corpo. NaCl a 0,9% vai possuir 150mEq/L, então 1ml tem 0,15mEq Cloreto de Sódio 20% - Existe ainda uma ampola de NaCl a 20%, então é mais que 20 vezes mais concentrado que o soro fisiológico. Nessa ampola 1ml tem 3,4mEq. Glicose 5% - Soro Glicosado a 5% também vai ser utilizado na hidratação venosa. Tem 5g de glicose a cada 100 ml. - O soro fisiológico é o NaCl a 0,9%, e é denominado fisiológico por ser isotônico em relação ao plasma, por isso é uma solução ideal, pois sendo isotônico vai ter uma permanência maior no plasma. - Na fase de expansão usa-se soro fisiológico, na fase de manutenção vai ser utilizado o soro glicosado a 5% associado ao soro fisiológico. Orientações Práticas - Preparo das Soluções para Reidratação parentral: - Solução 2:1 - 2 partes de SG 5% e 1 parte de SF(NaCl 0.9%) - Recomenda-se a utilização de SG 5% e NaCl a 20%: - SF = 150 mEq/l = 300 mOsm/l (154mEq/l= 308mOsm/l) - Solução 1:1 = 75 mEq/l = 150 mOsm/l - Solução 1:2 = 50 mEq/l = 100 mOsm/l - Solução 1:3 = 37.5 mEq/l = 75 mOsm/l - Solução 1:4 = 30 mEq/l = 60 mOsm/l - Na desidratação isotônica ou isonatremica vai ser utilizada uma solução de 1:2. Uma solução 1:2 quer dizer que determinado volume foi divido por 3, nesse caso como se fosse 1 parte de soro fisiológico para 2 partes de soro glicosado. Por exemplo, num volume de 300ml, numa solução de 1:2 pega 3 divide por 3, então vai colocar 100ml de soro fisiológico e 200 ml de soro glicosado. Se fosse uma solução 1:1, vai pegar 300, dividir por 2, então vai colocar 150 ml de soro fisiológico e 150 ml de soro glicosado. - Na solução 1:1, vai pegar o valor de 150mEq e dividir por 2, pois vai ser diluído o soro fisiológico pela metade. Essa solução não vai ter mais 150mEq/L por que ela foi diluída no soro glicosado. Essa solução vai ter uma equivalência de 75mEq, e uma osmolaridade de 150mOsm/l - Na solução 1:2 vai pegar o volume e divide em 3 parte, e a equivalência dessa solução vai ser dividida por 3, então vai ser 50mEq/l, exercendo uma osmolaridade de 100mOsm/l. - Na solução 1:4 vai pegar o volume e dividir por 5, uma parte do volume vai ser do soro fisiológico e 4 partes vai ser do soro glicosado. A equivalência dessa substancia vai ser 30mEq/l, que exerce uma osmolaridade de 60mOsm/L - Exemplo: 500 ml de uma solução 1:1, vai pegar o 500 e dividir por 2, então vai ter 250 ml de soro fisiológico e 250 ml de soro glicosado. - Na prática, porém, não se faz como no exemplo acima, não se faz as soluções com soro fisiológico, pois iria ter que manipular volume de 2 soros diferentes e colocar isso num terceiro recipiente. O manuseio de soluções seria muito maior e iria gerar um desperdício enorme. - Para calcular essas soluções vai pegar o todo o volume que se quer obter em soro glicosado, e vai ser retirado da ampola concentrada de NaCl o correspondente em Na+ que estaria presente na solução se fosse utilizado o soro fisiológico. - Nessa ampola, vai puxar a quantidade de volume na seringa, e vai adicionar no recipiente do soro glicosado. Dá para fazer esse processo de forma estéril, aspira a quantidade do NaCl que seria usado, que será um volume muito menor, pois a concentração de sódio na ampola é muito maior. Caso Clínico - Bebê do sexo masculino, 9 meses de idade chega ao Pronto Socorro(PS) , prostrado, mucosas secas, turgor pastoso, elasticidade muito diminuída, enchimento capilar lentificado ( >3.0 segundos), com cianose de extremidades, pulsos débeis. Taquipnéica com respiração do tipo Kussmaul. A mãe refere vômitos e diarréia líquida cerca de 8 a 10 episódios/dia há mais de 24 horas. Não sabe informar sobre diurese. A mãe refere que o peso da criança na consulta mensal foi de 9Kg (P° 54) e comprimento de 72cm (P° 50) . No PS pesou 8 Kg. A dosagem de sódio sérico foi 140 mEq/l. A resolução do caso está em uma folha a parte. Desidratação Isotônica Fase de Manutenção Duração Volume a repor Solução Adição de KCl 10% 1º (6h) ¼ das NHD + 2/3 do VTP 2:1 (50 mEq/L = 100 mOsm/L) Aguardar diurese 2º (6h) ¼ das NHD + 1/3 do VTP 2:1 (50mEq/L = 100 mOsm/L) 20 mEq/L 3º (6h) ¼ das NHD 4:1 (30 mEq/L = 60 mOsm/L) 30 mEq/L a 40 mEq/L 4º (6h) ¼ das NHD 4:1 (30 mEq/L = 60 mOsm/L) 30 mEq/L a 40 mEq/L Reposição do K+ - Após repor 2/3 do volume perdido mais ¼ da necessidade hídrica diária já vai ter feito a fase de expansão e reposto a maior parte da perda hídrica, então depois disso espera-se que o paciente tenha urinado no final da primeira etapa. Após o paciente ter urinado é importante que seja feita uma reposição de potássio no paciente. - O K+ é um íon muito perdido na diarreia, por isso deve ser reposto. O potássio não é reposto na primeira etapa por que ele é essencialmente um íon do meio intracelular, e o Na+ é um íon essencialmente do meio extracelular. - Bomba de Na+/K+ ATPase: é o principal mecanismo responsável por manter o Na+ no meio extracelular e o K+ no meio intracelular. Essa bomba vai ter 3 sítios para o Na+ e 2 sítios para o K+, então ela retira 3 íons sódio de dentro da célula e ao mesmo tempo joga para dentro da célula 2 íons potássio. Esse processo ocorre contra o gradiente de concentração, então para ocorrer esse transporte é preciso um gasto energético, esse processo depende do metabolismo oxidativo, do gasto de ATP. - No caso clínico o paciente pode desenvolver uma acidose metabólica. Isso ocorrer por que o paciente desidratado vai estar hipoperfundindo os tecidos, e com isso o metabolismo predominante vai ser o metabolismo não oxidativo, que gera muito menos ATP do que o metabolismo oxidativo, respectivamente 2 a 3 ATPs contra 32 a 33 ATPs. Além disso o metabolismo não oxidativo vai gerar ácido lático. - Devido a essa menor produção de ATP, todos os sistemas que dependem de ATP ficam inibidos, então a bomba de Na+/K+ fica comprometida. Por isso que qualquer paciente em acidose metabólica na dosagem o potássio tende a alto, mesmo estando numa quantidade menor, vai ter uma hipopotassemia real, por que vai ocorrer um aumento na quantidade de K+ no meio extracelular, pois ele não está sendo transportado adequadamente para dentro da célula. Pacientes em acidose metabólica não recebem reposição de K+, tem que esperar o paciente hidratar, melhorar da acidose e restaurar a perfusão renal para poder fazer a reposição de K+. - O rim é muito importante na manutenção dos íons, pois está relacionado com as trocas iônicas, realiza a troca de K+ com H+, trocando Na+ com K+ por mecanismo ativo. - Após repor os 2/3 das perdas e se o paciente respondeu a hidratação ele tem que urinar ao final da 1°Etapa. Se o paciente urinou é sinal que o rim está sendo perfundido, que a acidose está melhor, pois a hidratação de certa forma atua do tratamento da acidose. A medida quemelhora a volemia do paciente a acidose é revertida. Após a 1° fase da manutenção o paciente deve estar hidratado e se ele tiver urinado vai ser reposto o K+. - O K+ tem que ser reposto por que gastroenterite provoca perda de potássio, diarreia provoca perda de K+ pelas fezes. - Se o paciente não urinar, mas estiver hidratado, se o pulso estiver melhor, se tiver chorando com lágrima, vai esperar ele urinar para repor o potássio na 3° ou 4° etapa. Orientações Práticas - Cálculo do ritmo de gotejamento: no de gts/min = volume a administrar tempo (em h) x 3 - 1gt = 3 microgts - 1ml = 20 gts - 1ml de NaCl a 0.9% contém 0.15 mEq (0.3 mOsm) - 1ml de NaCl a 20% contém 3.4 mEq (6.8 mOsm) - 1ml de KCl a 10% contém 1.34 mEq (2.68 mOsm) Cálculo da terceira e quarta etapa do caso clínico da ultima aula - Depois de repor todo o volume perdido o paciente deve estar com o K+ diminuído, por que ele perdeu muito potássio na diarreia, e como o paciente já urinou a acidose vai estar melhor, por que se urinou, já restaurou a perfusão renal e a acidose vai ter sido minimizada. - Na gastroenterite o melhor tratamento para a acidose é a hidratação do paciente, não se dá bicarbonato aos pacientes nesses casos. - O nível de potássio sérico vai definir se a reposição de potássio vai ser de 30 ou 40 mEq/L na terceira e quarta etapa, já na segunda etapa a reposição vai ser de 20mEq/L Relação do potássio com a acidose ? - Na 2° etapa é sempre 20mq/L a reposição de potássio, por que ainda não foi corrigido o volume total perdido, e ainda existe um grau de acidose, ainda não está totalmente corrigido o volume total perdido, então o valor do potássio administrado deve ser menor. - Na 3° e 4° etapa a dosagem do potássio sérico já vai ser real, pois enquanto está na acidose o valor do potássio é mascarado pela acidose. Desidratação Hipomatrêmica Hidratação Venosa 2.2 - Hipotônica: sódio plasmático: abaixo de 130 mEq/l. - Maior perda de eletrólitos que de água. - Diminuição do sódio no LEC. - Entrada de água para o IC. - Clinicamente a criança apresenta sinais nítidos de espoliação do líquido vascular, com colapso vascular periférico e anúria nos casos graves. Ausência de sede, mucosas úmidas e sinais neurológicos como letargia e convulsão. - O Na+ está menor que 130mE1/L. Se o Na+ está baixo no vaso, a água tende a sair do vaso para a célula. Vai existir uma hipovolemia muito mais grave, pois quando o Na+ está baixo existe uma tendência da água sair do vaso e ir para o interior da célula. Existe uma diferença de tonicidade entre os compartimentos, e devido a essa diferença, o meio intra vascular vai ser o mais comprometido. - Na desidratação hipotônica a hipoperfusão vai ser muito mais grave e muito mais precoce, pois o Na+ está baixo e a água sai do vaso para o interior da célula. - No sistema nervoso essa entrada de água dentro da célula pode levar a um edema cerebral agudo. - Tirando o paciente desnutrido a maior causa de desidratação hipotônica é a iatrogenia, utilização de uma solução hipotônica, colocar um soro glicosado sem eletrólitos, diluindo o meio intravascular levando a uma hiponatremia aguda. Desidratação Hipotônica Fase expansão - SF ou RL 20 ml/kg/ em 20 a 30 minutos dependendo do grau de desidratação. - A fase de expansão é igual a todas, pois o objetivo da fase de expansão é tirar o paciente do choque, da situação de morte iminente e expandir o meio intravascular, a solução indicada é o soro fisiológico, pois é isotônico em relação ao plasma, e vai permanecer por mais tempo no vaso. - A necessidade hídrica diária vai ser reposta igualmente nas 4 etapas, vai ser reposta ao longo de 24hrs. Fase de manutenção: - Primeiras 6 horas: solução salina 0.45% (solução 1:1) - 75mEq/l (150 mOsm/l). - Após as 6 horas iniciar esquema para desidratação isotônica (de acordo com dosagem de sódio plasmático). Duração Volume a repor Solução Adição de KCl 10% 1º (6h) ¼ das NHD + 2/3 do VTP 1:1 (75 mEq/L = 150 mOsm/L) Aguardar diurese 2º (6h) ¼ das NHD + 1/3 do VTP 2:1 (50mEq/L = 100 mOsm/L) 20 mEq/L 3º (6h) ¼ das NHD 4:1 (30 mEq/L = 60 mOsm/L) 30 mEq/L a 40 mEq/L 4º (6h) ¼ das NHD 4:1 (30 mEq/L = 60 mOsm/L) 30 mEq/L a 40 mEq/L - A necessidade hídrica diária vai ser reposta igualmente nas 4 etapas, vai ser reposta ao longo de 24hrs. - O volume total perdido vai ser reposto 2/3 na 1°etapa e 1/3 na 2° etapa. Na desidratação hipotônica o Na+ está abaixo de 130mEq/L, então vai ser utilizado uma solução mais concentrada em Na+, ao invés de utilizar a solução 1:2 vai utilizar a solução 1:1, então é como se fosse utilizado metade do volume em soro fisiológico e metade do volume em soro glicosado, então a equivalência dessa solução vai ser de 75mEq/L. - Na 2° etapa a solução uttilizada é 1:2, vai entrar o potássio se o paciente tiver urinado na concentração 20mEq/L, vai colocar ¼ da necessidade hídrica diária e 1/3 do VTP. - Depois disso vai ser feita a dosagem de potássio para saber se na terceira e quarta etapa vai ser utilizado 30 ou 40 mEq/L de K+. Desidratação Hipotônica - Os distúrbios de sódio devem ser corrigidos lentamente (10 a 12 mEq/L em 24 hs). Atenção para o risco de correção rápida e conseqüente mielinólise pontina. → Hiponatremia crônica ou aguda sintomática ou assintomática é um distúrbio eletrolítico do sódio que requer outra abordagem específica diferente da desidratação hipotônica. - Não existe necessidade de corrigir o Na+ rapidamente, pois variações rápidas de Na+ pode ser danosas aos paciente. A célula nervosa é muito vulnerável as oscilações de Na+. Não se deve corrigir mais de 10 a 12mEq/L em 24 hrs. A correção de um valor maior que esse pode provocar uma lesão neurológica chamada Mielinólise pontina, distensão da célula nervosa que leva a quadriplegia, coma e morte. DESIDRATAÇÃO HIPERNATRÊMICA Hidratação Venosa 2.3. Hipertônica: sódio plasmático acima de 150 mEq/l. - Maior perda de água que de eletrólitos; - Saída de água do IC ( desidratação intracelular); - Maior concentração de sais no LEC. - Geralmente a criança é de baixa idade, apresenta sede intensa e poucos sinais de desidratação. Sinais neurológicos como letargia, irritabilidde e convulsões, hipertonia muscular. História evidencia oferta excessiva de sódio em relação à água. - O Na+ nesse caso vai ser maior que 150mEq/L, então o Na+ está alto no interior do vaso, então a água vai passar para o meio intravascular. O meio mais desidratado vai ser o intracelular, o vaso perde água, só que demora mais para entrar em choque, a hipovolemia vai progredir muito lentamente. - Corresponde a 5% das desidratações, e a principal causa é a iatrogenia, principalmente devido o soro oral ser dado de forma inadequada, uma diluição inadequada do soro. - É a mais grave das desidratações, pois o cérebro vai ser muito comprometido. - Os bebês são os mais acometidos, da faixa de 1 mês até 2 anos, pois se um indivíduo adulto tomar um soro inadequado vai ter o reflexo de sede devido ao osmorreceptor e ativar o centro da sede e o paciente vai beber água, já uma criança não pode fazer isso, depende da mãe, pois eles não tem acesso a água, e se a mãe não entender que o bebê está com sede vai continuar dando o soro, aumentando ainda mais o Na+. Desidratação Hipernatrêmica - Abordaremos os casos de hipernatremia associados à desidratação (hipovolemia) que em crianças está associado frequentemente `a perda de líquidos hipotônicos: - Gastroenterites (bebês alimentados com LV). - Ingestãoexcessiva de cloreto de sódio (diluição errada de SRO). - Outra causa para a desidratação hipernatremica é os distúrbios do ADH, pois o ADH faz a reabsorção da água a nível renal, se a pessoa não produzir ADH por qualquer motivo, não vai haver atuação do ADH, e o paciente vai urinar uma grande quantidade de água. - Os pacientes com desidratação hipertônica geralmente são bebês alimentados com leite de vaca, pois já possuem cronicamente mais Na+ que bebês com leite materno, já que o leite humano tem muito menos Na+ que o leite de vaca. - Hipernatremia pode estar relacionada a outros distúrbios agudos ou crônicos hipovolêmicos, normovolêmicos ou hipovolêmicos que exigem abordagem específica. → A sede é o mecanismo defesa sensível e efetivo contra hipernatremia. Portanto um paciente com hipernatremica sempre tem uma razão para ter uma ingestão de água reduzida. - Estado de desidratação com uma concentração sérica de sódio superior a 150 mEq/l. - A velocidade da progressão é um determinante importante. - Manifestações clínicas importantes sugerem perda de 10 % do peso corporal. Fisiopatologia 1) Desidratação intracelular: o volume celular diminui e o espaço intersticial e o volume plasmático aumentam. A desidratação ocorre por perdas primárias (diarréia) ou por perdas urinárias induzidas pela hipernatremia. 2) No SNC: a difusão de sódio e cloreto intracelulares para dentro do componente extracelular do SNC é lenta e ocorre difusamente fazendo com que todo o cérebro diminua de volume. Os capilares e vênulas se dilatam e podem se romper. - Se o Na+ intravascular está aumentado a água de dentro da célula tende a sair para o interior do vaso. No SN vai ocorrer uma redução do volume celular, e com isso vai ocorrer um encolhimento da massa celular, e ao mesmo tempo os capilares e as vênulas vão estar dilatados. 0 Esse aumento de líquido dentro no vaso aumenta a força de tracionamento do líquido sobre esse vaso, favorecendo a ruptura do mesmo e provocando hemorragias intracerebrais que podem ser pequenas e puntiformes ou volumosas, ocupando o espaço intraventricular e subaracnoideo. 3) Osmóis idiogênicos: quando a hipernatremia é persistente as células nervosas produzem novos solutos protéicos de elevado peso molecular (taurina, mio-inositol), que têm a função de manter o volume celular constante e equilibrado. Durante o tratamento da hipernatremia, esses osmóis diminuem lentamente, justificando a correção lenta desse distúrbio. 4) Alterações metabólicas associadas: hiperglicemia (supressão da liberação de insulina pelo pâncreas) e hipocalcemia (mecanismo pouco esclarecido). O sistema nervoso, as células nervosas passam a produzir solutos proteicos de alto peso molecular que são os Osmóis idiogênicos, como a taurina e o mioinositol. A célula faz isso numa tentativa de manter a água dentro das células, tentando restabelecer a hidratação intracelular. Na hipernatremia a compensação fisiopatológica para a desidratação do meio intracelular é a produção dos Osmóis idiogênicos, com função de tentar atrair a água do sangue para o meio intracelular, porém são lentos na produção e na eliminação. Patologia 1) Hipernatremia aguda: perdas intracelulares significativas e contínuas há uma verdadeira tração mecânica sobre os vasos podendo causar danos ao endotélio vascular hemorragias petequiais, hemorragia mais extensas subaracnóidea, subdural e parenquimatosa, além de trombose venosa e dos seios cerebrais. 2) A hemorragia não é vista fora de SNC. Desidratação celular na medula renal necrose tubular renal com oligúria ou anúria. Achados Clínicos 1 - Anamnese a) Doença diarréica do lactente ( 6 meses): história de vômitos precoces e/ou redução da ingestão hídrica; hipertermia, taquipnéia; uso inadequado de TRO. b) Diabetes insipidus, nefrogênico ou central: poliúria (urina incolor). c) Maus tratos infantis: não oferta água ou oferta de sal. 2 - Exame físico a) Devido à preservação relativa do volume plasmático, as manifestações cardiovasculares são pouco expressivas exceto por taquicardia. b) Débito urinário mantido exceto nos casos de choque. c) Turgor cutâneo pastoso e espesso (massa de pão). d) Taquipnéia, fraqueza muscular, sede intensa, choro fraco. e) SN: hipernatremia aguda desidratação cerebral aguda. Sistema Nervoso - Letargia, sonolência, hiperreflexia reflexos tendinosos profundos, rigidez de nuca leve. - Fasciculações, coma e convulsões nos casos mais graves (perdas superiores a 10 % do peso corporal). - Os pacientes possuem hiperreflexia, com os reflexos tendinosos exacerbados, são hipertônicos e possuem uma certa rigidez de nuca, Podem ter fasciculações, convulsão, tremores, abalos. 3. Avaliação Laboratorial - Elevação da concentração sérica de Na e Cl (Na 150 mEq/l) - Hiperglicemia (30 a 50% dos casos) - Hipocalcemia (20% dos casos) - É comum ter hiperglicemia associada a hipernatremia, o mecanismo é pela supressão da liberação de insulina. Não é recomendado tratar com insulina, a medida que o Na+ vai normalizando, a glicemia vai retornando ao normal. - É frequente também os distúrbios de cálcio, a hipocalcemia. Desidratação Hipertônica Fase expansão (choque): - SF ou RL 20 ml/kg/ em 20 a 30 minutos dependendo do grau de desidratação. - O choque da desidratação hipernatremica é tratado igual aos outros tipos, com soro fisiológico, 20 ml/ kg em 20min, se for do 3°grau ou 20ml/kg em 30min se for do 2°grau Fase de manutenção: - Etapas de 6 horas: Solução 1:4 = 30 mEq/l = 60 mOsm/l - Nos casos graves com sintomas neurológicos evidentes esta fase deve ser mais lenta durando até 48 horas → A hipernatremia aguda sintomática e a hipernatremia crônica requerem abordagem específica (cálculo de água livre a ser reposta). Duração Volume a repor Solução Adição de KCl 10% 1º (6h) ¼ das NHD + ¼ do VTP 4:1 (30 mEq/L = 60 mOsm/L) Aguardar diurese 2º (6h) ¼ das NHD + ¼ do VTP 4:1 20 mEq/L 3º (6h) ¼ das NHD + ¼ do VTP 4:1 30 mEq/L a 40 mEq/L 4º (6h) ¼ das NHD + ¼ do VTP 4:1 30 mEq/L a 40 mEq/L - As perdas de água nesse tipo de desidratação vão ter uma reposição diferentes dos outros tipos de desidratações. - Devido a presença dos osmóis vai repor as perdas igualmente nas 4 etapas, para evitar que haja uma entrada muito rápido do volume no meio intracelular, pois um grande volume varia com que entrasse muito líquido na célula, provocando um efeito oposto, levando a um edema cerebral. - A reposição das perdas nos casos de desidratação hipertônica vai ser lenta, o VTP vai ter a reposição lenta, igual a necessidade hídrica diária, ¼ em cada fase. Precisa ser reposto de forma diferente devido a presença dos osmóis, que vai atrair a água para dentro da célula, se for colocado um volume muito grande, vai entrar muita água dentro da célula, levando a um edema cerebral. - Todas as etapas da reidratação serão iguais, ¼ da necessidade hídrica diária e ¼ do volume total perdido, dessa forma não haverá uma entrada aguda de água na célula. - Devido a preservação relativa do volume plasmático as manifestações cardiovasculares são menos expressivas, mas isso não impede que o paciente evolua para choque, vai depender do grau de desidratação que ele possui. - O turgor da desidratação hipernatremica é o turgor massa de pão, com consistência amolecida. No teste da semana que vem vai ter o valor do Na, mas na prova de múltipla escolha não vai ter o valor, no teste é só saber e estudar que vai conseguir resolver, por que vai ter que pensar um pouquinho... (ou seja, vou fuder com vocêsnas duas provas); Zina Maria Almeida.