Prévia do material em texto
Sujeitos de Direito Internacional Indivíduo Prof. Paulo Afonso de Oliveira Junior Direito Internacional Público Introdução Como já falamos anteriormente, os indivíduos como sujeitos do Direito Internacional Público é um fenômeno muito recente, e segundo Mazzuoli, talvez seja esta uma das mais notáveis conquistas do Direito Internacional Público no século XX. Após a segunda guerra mundial, o cenário do direito internacional passou paulatinamente a conceder direitos aos indivíduos, alargando o alcance de suas normas que até então se dirigiam exclusivamente aos Estados. Neste período, começam a ganhar contornos os Direitos Humanos e os Direitos Humanitários, tendo o indivíduo como centro principal de tais normas. São criados inclusive, neste mesmo período, órgãos de proteção destes direitos, bem como mecanismos processuais que permitiriam aos indivíduos acesso direto a estes órgãos. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Há doutrinadores de peso que negam aos indivíduos este status de sujeitos do direito internacional, como no Brasil, o Ministro Rezek. Alegam que o simples fato do direito internacional conceder-lhes direitos e obrigações não lhes dariam uma personalidade de direito das gentes. Se baseiam no fato de não gozarem os indivíduos no plano internacional da prerrogativa de reclamarem pessoalmente nos foros internacionais, afirmando que isso seria o mínimo que se poderia esperar se realmente fossem os indivíduos sujeitos do direito internacional. Mesmo quando a reclamação em foros internacionais é possível diretamente pelo indivíduo, completa Rezek, isso só é possível por que os Estados criadores destes foros, assim o permitiram. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Diante desta definição, modernamente, alguns doutrinadores ainda incluirão os indivíduos no rol dos sujeitos de Direito Internacional, lembrando Mazzuoli que a qualificação jurídica de um certo ente como sujeito de direito internacional guarda, assim, duas conotações: uma passiva – a quem tal Direito é destinada – e outra ativa – que se traduz na capacidade de atuação no plano internacional. Doutrinas a parte, não se pode negar que, mesmo para aqueles que admitem os indivíduos como sujeitos do direito internacional, estes o são de forma limitada, não tendo as mesmas prerrogativas dos Estados e das Organizações Internacionais. Inegável, no entanto, é que no foro internacional os indivíduos são hoje detentores de direitos e obrigações, tanto de forma ativa, quando peticionam aos tribunais internacionais ou quando recebem proteção diplomática e de forma passiva quando são acionados nos foros internacionais por crimes tipificados no próprio Direito Internacional. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O Tribunal de Nuremberg O Tribunal de Nuremberg teve grande importância para elevação dos indivíduos como sujeitos do direito internacional, pois, com as atrocidades acontecidas na segunda guerra mundial, criou-se a consciência que não se podiam responsabilizar apenas os Estados, mas, necessitavam-se punir aqueles que estiveram à frente destes Estados. Com esta consciência, os países vitoriosos (Reino Unido, Estados Unidos, França e União Soviética) celebraram em 8 de agosto de 1945, em Londres, um tratado com a finalidade de punir as autoridades nazistas responsáveis pelos crimes que este próprio tratado tipificou. Referido tratado criou o Tribunal de Nuremberg com a ideia de que os “crimes contra o Direito Internacional são cometidos por indivíduos, não por entidades abstratas, e os preceitos do Direito Internacional fazem-se efetivos apenas com a condenação dos indivíduos que cometeram estes crimes”. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Para tanto, o próprio tratado de Londres definiu os crimes que deveriam ser punidos, estabelecendo três categorias, crimes contra a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Crimes contra a paz: “Planejar, preparar, incitar ou contribuir para a guerra de agressão ou para a guerra, em violação aos tratados e acordos internacionais, ou participar de um plano comum ou conspiração para a realização das referidas ações”. Crimes de guerra: “Violações ao direito e ao direito costumeiro de guerra, incluindo o assassinato, o tratamento cruel, a deportação de populações civis que estejam ou não em territórios ocupados, para trabalho escravo ou para qualquer outro propósito, assassinato cruel de prisioneiros de guerra ou de pessoas em alto- mar, assassinato de reféns, saques à propriedade pública ou privada, destruição de vilas ou cidades e devastação injustificada por ordem militar, exemplificativamente”. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Crimes contra a humanidade: “Assassinato, extermínio, escravidão, deportação ou outro ato desumano cometido contra a população civil, antes ou durante a guerra, ou perseguições baseadas em critérios raciais, políticos e religiosos, para a execução de crime ou em conexão com crime de jurisdição do Tribunal, independentemente se em violação ou não do direito doméstico de determinado país em que foi perpetrado”. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O Tribunal de Nuremberg, oficialmente chamado de Tribunal Militar Internacional, se instalou na cidade Alemã de Nuremberg denunciou 24 dos principais líderes da Alemanha nazista, tendo sentenciado em 20 de novembro de 1945, 22 destes. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Foram 12 Condenações a Morte. Hermann Goering, Marechal do Reich e um dos principais líderes da Alemanha Nazista. Suicidou às vésperas da execução . Alfred Jold Chefe de Operações da Alemanha Nazista. Foi enforcado em 16/10/1946. Joachim von Ribbentrop Ministro de Negócios Estrangeiros do Reich. Foi enforcado em 16/10/1946. Wilhelm Keitel General Chefe. Foi enforcado em 16/10/1946. Ernst Kaltenbrunner. Foi enforcado em 16/10/1946. Martin Bormann Secretário Pessoal de Hitler Foi Julgado a revelia , por não ter sido capturado. Foram 12 Condenações a Morte. Hans Frank Governador-General da Polónia ocupada. Foi enforcado em 16/10/1946 Wilhelm Frick Ministro do Interior Foi enforcado em 16/10/1946. Julius Streicher Editor do jornal Der Sturmer Foi enforcado em 16/10/1946. Fritz Sauckel Plenipotenciário da Colocação de Trabalhadores Foi enforcado em 16/10/1946. Arthur Seyss-Inquart Ministro do Interior e Chanceler de Austria Foi enforcado em 16/10/1946 Alfred Rosenberg Ministro dos Territórios Ocupados de Leste Foi enforcado em 16/10/1946. Foram 3 Condenações a Prisão Perpétua. Rudolf Hess Vice-fuhrer Cumpriu prisão na cidade Alemanha de Spandau onde morreu em 1987 aos 93 anos. Sua morte é controvertida, havendo quem defenda seu suicídio e outros homicídio por estrangulamento. Seu túmulo na cidade Alemanha de Wunsiedel foi destruído em julho de 2011 pois havia se transformado em ponto de encontro de neonazista. Walther Funk Ministro da Economia, presidente do Reichsbank Preso em Spandau, foi libertado em 1957 por questões de saúde, morrendo três anos depois. Por ocasião do julgamento Funk já apresentava saúde debilitada. Erich Raeder Almirante Chefe da Marinha Alemã Foi libertado em 1955 por razões humanitárias, considerando que estava acometido de grave doença morrendo em 1960 aos 84 anos. Foram 2 Condenações a 20 anos de Prisão Baldur von Schirach Líder da Juventude Hitleriana Schirachcumpriu a pena integralmente e foi solto em 30 de setembro de 1966 e passou a viver no sul da Alemanha, onde se aposentou. Publicou suas memórias, Ich glaubte an Hitler ("Eu acreditei em Hitler"), em 1967 e morreu em Kröv, na região do Mosela. Albert Speer Ministro de Armamentos Após sair de Spandau em 1966, Speer publicou dois best- sellers autobiográficos: Por Dentro do III Reich e Spandau - O Diário Secreto, detalhando seu relacionamento com Hitler e fornecendo histórias desconhecidas sobre o Terceiro Reich. Ele ainda escreveu um terceiro livro,Infiltration, sobre a Schutzstaffel. Speer morreu de causas naturais em 1981 em uma visita a Londres. 1 Condenação a 15 anos de Prisão Konstantin von Neurath Ministro das Relações Exteriores Não cumpriu integralmente a pena, tendo sido libertado em 1953 após sofrer um ataque cardíaco. Morreu em 1956 na cidade de Enzweihingen, aos 83 anos de idade. 1 Condenação a 10 anos de Prisão Karl Dönitz Presidente da Alemanha Cumpriu integralmente a pena., tendo sido liberado em 1956. Escreveu suas memórias, "Dez Anos e Vinte Dias" editado na Alemanha em 1958. No decorrer de sua vida, sua reputação foi reabilitada, em grande parte. Quando morreu, em 24 de dezembro de 1980, muitos de seus ex-subordinados e outros oficiais navais estrangeiros foram ao funeral, em 6 de janeiro do ano seguinte 3 Absolvições Hans Fritzsche Funcionário do Ministério da Propaganda Apesar de ter sido absolvido em Nurembergue, foi acusado por outros crimes menores e condenado a nove anos de prisão. Libertado em 1950, morreu de câncer em 1953 na cidade de Köln. Franz von Papen Ministro e vice-chanceler Iniciou sua vida pública fazendo ardorosa oposição ao nazismo. Após a ascensão do nazismo ao poder, foi um de seus aliados incondicionais. Hjalmar Schacht Presidente do Reichsbank Apesar de ter sido absolvido em Nuremberque, Schacht foi preso depois pelos próprios alemães, para participar de um tribunal desnazificação em Estugarda. Condenado a prestar serviços em um antigo campo de concentração em Ludwigsburg, foi libertado somente em setembro de 1948, nesta época com 71 anos. Dois dos denunciados não foram sentenciados. Gustav Krupp von Bohlen und Halbach Diplomata e Industrial Foi levado a julgamento no Tribunal de Nuremberg por ter utilizado de mão de obra escrava na 2ª guerra mundial. Não foi sentenciado por o Tribunal entendeu que o mesmo não tinha capacidade para responder por seus atos. Morreu em 16 de janeiro de 1950. Robert Ley Chefe do Corpo Alemão de Trabalho Em 25 de outubro de 1945, quatro dias após ser indiciado no tribunal, Robert Ley conseguiu se enforcar na prisão, usando um laço de forca feito de toalhas amarradas, pendurado num cano do banheiro da cela. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A exemplo do Tribunal de Nuremberg, a ONU, através do Conselho de Segurança, criou em 1993 e 1994 respectivamente dois outros tribunais ad hoc para o julgamento das atrocidades que aconteceram na antiga Iugoslávia e em Ruanda. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia Criando pela resolução 827 do Conselho de Segurança da ONU em 25 de Maio de 1993 com o intuito de julgar os crimes de guerra acontecidos durante a guerra civil Iugoslávia, abarcando os fatos acontecidos a partir de 1º de janeiro de 1991. Instalou-se em Haia, nos Países Baixos, tendo encerrado suas atividades em 2017. Foram acusadas 161 pessoas: 90 pessoas condenadas; 13 tiveram seus processos transferidos para serem julgados por países que compunham a ex-Iuguslávia (Bósnia, Sérvia e Croácia). Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O Tribunal Penal Internacional para Ruanda Criado em novembro de 1994 pelo Conselho de Segurança da ONU para julgar os crimes de genocídio acontecidos em território ruandês de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 1994 que eliminou 800 mil ruandeses da etnia tutsis (há quem defenda que mais de 1 milhão de ruandeses tutsis morreram). Instalou-se em Arusha na Tanzânia. Os três principais líderes ruandeses hutus responsáveis pelo massacre, foram condenados em 2008 à prisão perpétua. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Tribunal Penal Internacional Muitos foram os críticos dos Tribunais ad hoc, da ONU, pois criados especialmente para cada caso (isso é que quer dizer ad hoc) assemelhavam-se, segundo alguns, a tribunais de exceção. Com a finalidade de se libertar de tais críticas, criou- se através do Tratado de Roma de 1998, o Tribunal Penal Internacional, que ao contrário dos demais tribunais internacionais, não é um órgão de uma Organização Internacional, mas é por si só uma Organização Internacional, com mais de 100 países membros. Seu estatuto, além das regras processuais e de organização, traz também a descrição dos crimes que estão sujeitos a sua jurisdição. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional reafirma a doutrina que defende a existência de personalidade jurídica dos indivíduos, quando em seu artigo 25 afirma que Art. 25 1 - De acordo com o presente Estatuto, o Tribunal será competente para julgar as pessoas físicas. 2 – Quem cometer um crime da competência do Tribunal será considerado individualmente responsável e poderá ser punido de acordo com o presente Estatuto. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O Tribunal Penal Internacional foi instalado em Haia, nos Países Baixos em 2002, conforme estabelece o próprio artigo 3º de seu Estatuto. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O Brasil aderiu a ele pelo decreto executivo nº 4.388 de 01 de julho de 2002. É composto de 18 juízes eleitos pela Assembleia Geral com mandato de 9 (nove) anos. Em sua primeira composição, havia uma juíza brasileira, Sylvia Helena de Figueiredo Steiner, que tomou posse em 01 de março de 2003, tendo sido indicada a Assembleia Geral pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso no final de 2002. Encerrou seu mandato em março de 2012. Sylvia Steiner era membro do Ministério Público Federal, tendo assumido em 1995 uma vaga de desembargadora no Tribunal de Justiça de São Paulo pelo quinto constitucional, tem especialização em direito penal pela Universidade de Brasília e mestrado em Direito Internacional pela USP. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Os Sistemas e os Tribunais de Direitos Humanos Como ainda estudaremos mais pormenorizadamente, os sistemas de proteção dos Direitos Humanos Americano, Europeu e Africano, também contribuem com a doutrina que preleciona a personalidade jurídica internacional dos indivíduos. Tanto os sistemas como os próprios Tribunais pertencentes a eles, não só concedem aos indivíduos direitos e garantias, mas os tratam verdadeiramente como sujeitos detentores no plano internacional de capacidades típicas, mesmo que peculiares à sua condição e diferente da capacidade concedida aos Estados e as Organizações Internacionais. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. É interessante observarmos que dentre estes sistemas de proteção aos Direitos Humanos, o Europeu, traz norma peculiar, que confirma esta personalidade internacional das pessoas humanas, quando lhes concede o poder de peticionar diretamente ao Corte Europeia de Direitos Humanos individual ou coletivamente, denunciando violações dos direitos e liberdades previstas na Convenção. Proteção Diplomática A proteção diplomática é outro ponto forte que nos faz acreditar na verdadeira existência de capacidade jurídicainternacional dos indivíduos. A proteção diplomática, nos ensinamentos do Ministro Rezek, acontece quando “um indivíduo, ou mesmo uma empresa, que no exterior seja vítima de um procedimento estatal arbitrário, e que em desigualdade de condições frente ao governo estrangeiro responsável pelo ilícito que lhe causou dano, pede a seu Estado de origem que lhe tome as dores, fazendo uma reclamação”, e completa “é o abuso estatal que o estrangeiro não consegue resistir sozinho, e que invoca, dirigindo-se à legislação diplomática de sua bandeira, o arrimo da pátria distante”. Não se confunde a proteção diplomática com direito diplomático, principalmente as chamadas imunidades diplomáticas, que estudaremos a posterior. Endosso: Chama-se endosso, a outorga pelo Estado da proteção diplomática a um cidadão seu no território estrangeiro. O endosso é o ato pelo qual, o Estado patrial do indivíduo ofendido assume a ofensa para si, junto ao Estado ofensor, tornando o litígio ato entre dois Estados. Não é necessário para a solução da controvérsia ações judiciais ou arbitrais, a mesma pode ser resolvida de forma direta entre o Estado ofensor e o Estado do indivíduo ofendido. O endosso é ato próprio de Estado, sendo este um direito seu e não de seu nacional. Tanto é verdade que o Estado tem a liberdade de conceder ou não o endosso, conforme entenda conveniente, além é claro, desde endosso independer da vontade do indivíduo, podendo o Estado concedê-lo, mesmo contrariamente a vontade daquele. Duas são os pressupostos básicos para a concessão do endosso, a nacionalidade do ofendido e o esgotamento dos recursos internos. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Nacionalidade A primeira condição ou pressuposto para a concessão do endosso é a nacionalidade do indivíduo ofendido. Só será permitido o endosso de um Estado a nacionais seus, não se admite a proteção diplomática de um Estado a outros nacionais que não os seus ou mesmo a proteção daqueles que não tenham nacionalidade, como é o caso dos apátridas, que segundo melhor entendimento não poderão ser socorridos pela proteção diplomática de nenhum Estado. Não só a situação do apátrida merece destaca, mas também a questão da binacionalidade, quando não se admitirá a proteção diplomática de um Estado a indivíduo lesado por outro Estado no qual também seja nacional. O binacional só poderá valer-se da proteção diplomática de um de seus Estados patriais, contra um terceiro Estado. É o que decidiu uma sentença arbitral de 1912, onde Canevaro, peruano e italiano simultaneamente, pretendeu utilizar a proteção diplomática italiana contra o Peru que havia lhe expropriado parte de seu patrimônio. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Outro ponto importante da nacionalidade para o endosso é a questão da continuidade da nacionalidade, ou seja, deve o nacional de um Estado por ocasião do ato que lhe foi lesivo ter a mesma nacionalidade por ocasião da reclamação por seu Estado patrial. Considerando que as pessoas podem mudar de nacionalidade, tal regra evita que a pessoa possa mudar de nacionalidade apenas por questões ligadas a proteção diplomática, se valendo de um vinculo artificial. O endosso ainda deverá observar as regras da nacionalidade efetiva, ou seja, não devem prestigiar vínculos artificiais. Como ainda estudaremos no Direito Internacional Privado, o Estado tem liberdade de conceder sua nacionalidade a quem quer que seja, sendo que, dentro de seu território esta nacionalidade não poderá ser discutida. No entanto, no plano internacional, será lícito, que um Estado não reconheça tal nacionalidade pela artificialidade de seu vinculo, é o que aconteceu no caso Friedrich Nottebohm julgado pela Corte da Haia.Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Friedrich Nottebohm era Alemão de nascimento e mudou-se para a Guatemala em 1905, ali permanecendo e exercendo atividade empresarial por mais de 34 anos. Quando se viu na eminência de expropriação de seu patrimônio, não podendo contar com a proteção diplomática alemã, pois este Estado estava envolvido em guerra, dirigiu-se ao Estado de Liechtenstein e ali, após efetuar pagamento de algumas taxas, recebeu sua nacionalidade. O Liechtenstein endossou os interesses de Friedrich Nottebohm, impetrando na Corte de Haia uma reclamação contra o Estado guatemalteco, que não foi apreciado por esta corte, sob a alegação que o vinculo patrial que ligava o Liechtenstein e Friedrich era artificial, não tendo qualquer validade para questões de proteção diplomática. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Os Esgotamentos dos Recursos Internos O segundo requisito que deve ser observado pelos Estados que pretendem endossar a proteção a um de seus nacionais, é o esgotamento dos recursos internos. O Estado que pretende endossar a proteção diplomática, antes de fazê-lo, deverá verificar se o nacional seu violado no Estado estrangeiro, esgotou neste, os meios administrativos e judiciais com a finalidade de reparação do dano sofrido. Deve-se, no entanto, observar, que segundo doutrina de Hamilton Fish, secretário de Estado Norte Americano entre 1869 e 1877, é necessário haver jurisdição a se esgotar, não sendo obrigado o individuo violado, a esgotar a jurisdição inexistente do Estado violador ou tão pouco, esgotar uma jurisdição parcial, ineficaz e inacessível. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Não se exigirá também o esgotamento dos recursos internos quando o nacional violado não tenha qualquer conexão com o Estado violador, como por exemplo o brasileiro que residindo no Brasil, perde sua produção agropecuária pela queda de um satélite colocado em órbita por determinado Estado estrangeiro que caindo sobre sua plantação em solo brasileiro a destrói por completo ou mesmo no caso do brasileiro residente no Brasil que perde sua embarcação por culpa de Estado estrangeiro que realizava manobras militares em alto mar, onde se encontrava sua embarcação. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Efeitos Jurídicos do Endosso Concedido o endosso ao nacional violado no estrangeiro, o Estado assume a causa como parte, não havendo qualquer ingerência ou participação obrigatória do indivíduo violado. Com isso, podemos afirmar que os meios buscados pelo Estado endossante para solução do litígio são aqueles que lhe convier, podendo utilizar dos meios diplomáticos, arbitrais ou mesmo judiciais. Sendo o Estado o autor da reclamação, poderá transigir ou mesmo desistir da causa sem qualquer concordância do indivíduo violado. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Dentre estes efeitos jurídicos do endosso, será certo também que para o direito internacional não haverá qualquer obrigatoriedade do Estado endossante repassar ao indivíduo a indenização que por ventura o Estado violador se propõe, ou mesmo, é condenado a pagar. O repasse desta indenização, subtraído as despesas que teve o Estado com a causa, não passa de uma obrigação moral, ou uma obrigação imposta pelas normas internas de casa Estado. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Renúncia prévia à proteção diplomática: Doutrina Calvo Carlos Calvo, ministro de relações exteriores argentino, em 1868, ensinava que “para os estrangeiros, assim como para os nacionais, as cortes locais haveriam de ser as únicas vias de recurso contra atos da administração, desta forma, o endosso deveria ser recusado pelas potências estrangeiras a seus nacionais inconformados, quando não, a intervenção diplomática haveria de ser ignorada, como descabida e nula, pelos Estados reclamados” Esta doutrina deu origem à chamada cláusula Calvo em contratos internacionais, que previa a renuncia pelos indivíduos e empresas, da proteção diplomática de seusEstados Patriais. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Tal cláusula foi rechaçada pelos Estados do hemisfério norte, que sempre a consideraram nula de pleno direito, uma vez que a proteção diplomática não é direito dos indivíduos ou das empresas, mas sim do Estado patrial destes. O indivíduo que em contrato renunciasse ao direito a proteção diplomática estaria renunciando a direito alheio, o que inviabiliza a validade da cláusula. Melhor doutrina, no entanto, preleciona a validade da cláusula calvo nos casos de contratos em que o objeto diga respeito a direitos disponíveis. Foi inclusive o que decidiu em 1926 uma comissão arbitral no exame de uma reclamação americana-mexicana no caso North American Dredging Company, afirmando que esta, não poderia reclamar a proteção diplomática de seu Estado patrial, uma vez que renunciou a ela em contrato. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Bibliografia Consultada Bibliografia consultada: MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público. 2 ed. (ver., atual. e ampl.). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar. 11.ed. (ver. e atual.) 2ª tiragem. São Paulo: Saraiva, 2008. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.