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Roteiro de Estudos 6 - Indivíduos

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Sujeitos de Direito
Internacional
Indivíduo
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Junior
Direito Internacional Público
Introdução
Como já falamos anteriormente, os indivíduos como sujeitos do
Direito Internacional Público é um fenômeno muito recente, e
segundo Mazzuoli, talvez seja esta uma das mais notáveis conquistas
do Direito Internacional Público no século XX.
Após a segunda guerra mundial, o cenário do direito internacional
passou paulatinamente a conceder direitos aos indivíduos, alargando
o alcance de suas normas que até então se dirigiam exclusivamente
aos Estados.
Neste período, começam a ganhar contornos os Direitos Humanos e
os Direitos Humanitários, tendo o indivíduo como centro principal de
tais normas. São criados inclusive, neste mesmo período, órgãos de
proteção destes direitos, bem como mecanismos processuais que
permitiriam aos indivíduos acesso direto a estes órgãos.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Há doutrinadores de peso que negam aos
indivíduos este status de sujeitos do direito
internacional, como no Brasil, o Ministro Rezek.
Alegam que o simples fato do direito internacional
conceder-lhes direitos e obrigações não lhes dariam
uma personalidade de direito das gentes. Se baseiam
no fato de não gozarem os indivíduos no plano
internacional da prerrogativa de reclamarem
pessoalmente nos foros internacionais, afirmando que
isso seria o mínimo que se poderia esperar se
realmente fossem os indivíduos sujeitos do direito
internacional. Mesmo quando a reclamação em foros
internacionais é possível diretamente pelo indivíduo,
completa Rezek, isso só é possível por que os Estados
criadores destes foros, assim o permitiram.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Diante desta definição, modernamente,
alguns doutrinadores ainda incluirão os indivíduos no
rol dos sujeitos de Direito Internacional, lembrando
Mazzuoli que a qualificação jurídica de um certo
ente como sujeito de direito internacional guarda,
assim, duas conotações: uma passiva – a quem tal
Direito é destinada – e outra ativa – que se traduz na
capacidade de atuação no plano internacional.
Doutrinas a parte, não se pode negar que,
mesmo para aqueles que admitem os indivíduos
como sujeitos do direito internacional, estes o
são de forma limitada, não tendo as mesmas
prerrogativas dos Estados e das Organizações
Internacionais.
Inegável, no entanto, é que no foro
internacional os indivíduos são hoje detentores
de direitos e obrigações, tanto de forma ativa,
quando peticionam aos tribunais internacionais
ou quando recebem proteção diplomática e de
forma passiva quando são acionados nos foros
internacionais por crimes tipificados no próprio
Direito Internacional.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
O Tribunal de Nuremberg
O Tribunal de Nuremberg teve grande importância
para elevação dos indivíduos como sujeitos do direito
internacional, pois, com as atrocidades acontecidas na segunda
guerra mundial, criou-se a consciência que não se podiam
responsabilizar apenas os Estados, mas, necessitavam-se punir
aqueles que estiveram à frente destes Estados.
Com esta consciência, os países vitoriosos (Reino
Unido, Estados Unidos, França e União Soviética) celebraram
em 8 de agosto de 1945, em Londres, um tratado com a
finalidade de punir as autoridades nazistas responsáveis pelos
crimes que este próprio tratado tipificou.
Referido tratado criou o Tribunal de Nuremberg com a
ideia de que os “crimes contra o Direito Internacional são
cometidos por indivíduos, não por entidades abstratas, e os
preceitos do Direito Internacional fazem-se efetivos apenas
com a condenação dos indivíduos que cometeram estes
crimes”.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Para tanto, o próprio tratado de Londres definiu
os crimes que deveriam ser punidos, estabelecendo
três categorias, crimes contra a paz, crimes de
guerra e crimes contra a humanidade.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Crimes contra a paz: “Planejar,
preparar, incitar ou contribuir para a guerra de
agressão ou para a guerra, em violação aos
tratados e acordos internacionais, ou participar
de um plano comum ou conspiração para a
realização das referidas ações”.
Crimes de guerra: “Violações ao direito
e ao direito costumeiro de guerra, incluindo o
assassinato, o tratamento cruel, a deportação de
populações civis que estejam ou não em
territórios ocupados, para trabalho escravo ou
para qualquer outro propósito, assassinato cruel
de prisioneiros de guerra ou de pessoas em alto-
mar, assassinato de reféns, saques à propriedade
pública ou privada, destruição de vilas ou
cidades e devastação injustificada por ordem
militar, exemplificativamente”.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Crimes contra a humanidade:
“Assassinato, extermínio, escravidão,
deportação ou outro ato desumano cometido
contra a população civil, antes ou durante a
guerra, ou perseguições baseadas em critérios
raciais, políticos e religiosos, para a execução
de crime ou em conexão com crime de
jurisdição do Tribunal, independentemente se
em violação ou não do direito doméstico de
determinado país em que foi perpetrado”.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
O Tribunal de Nuremberg, oficialmente
chamado de Tribunal Militar Internacional, se
instalou na cidade Alemã de Nuremberg
denunciou 24 dos principais líderes da Alemanha
nazista, tendo sentenciado em 20 de novembro
de 1945, 22 destes.
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Foram 12 Condenações a Morte.
Hermann Goering,
Marechal do Reich e um 
dos principais líderes da 
Alemanha Nazista.
Suicidou às vésperas da execução 
.
Alfred Jold
Chefe de Operações da 
Alemanha Nazista. 
Foi enforcado em 
16/10/1946. 
Joachim von Ribbentrop 
Ministro de Negócios 
Estrangeiros do Reich.
Foi enforcado em 
16/10/1946. 
Wilhelm Keitel 
General Chefe.
Foi enforcado em 
16/10/1946. 
Ernst Kaltenbrunner.
Foi enforcado em 
16/10/1946. 
Martin Bormann
Secretário Pessoal de Hitler
Foi Julgado a revelia , por não 
ter sido capturado. 
Foram 12 Condenações a Morte.
Hans Frank
Governador-General da 
Polónia ocupada. 
Foi enforcado em 
16/10/1946
Wilhelm Frick
Ministro do Interior
Foi enforcado em 16/10/1946. 
Julius Streicher
Editor do jornal Der Sturmer
Foi enforcado em 16/10/1946. 
Fritz Sauckel
Plenipotenciário da Colocação 
de Trabalhadores
Foi enforcado em 16/10/1946. 
Arthur Seyss-Inquart
Ministro do Interior e Chanceler 
de Austria
Foi enforcado em 16/10/1946
Alfred Rosenberg
Ministro dos Territórios
Ocupados de Leste Foi
enforcado em 16/10/1946.
Foram 3 Condenações a Prisão Perpétua.
Rudolf Hess
Vice-fuhrer
Cumpriu prisão na cidade Alemanha 
de Spandau onde morreu em 1987 
aos 93 anos. Sua morte é 
controvertida, havendo quem 
defenda seu suicídio e outros 
homicídio por estrangulamento.
Seu túmulo na cidade Alemanha de 
Wunsiedel foi destruído em julho 
de 2011 pois havia se transformado 
em ponto de encontro de neonazista.
Walther Funk
Ministro da Economia, 
presidente do Reichsbank
Preso em Spandau, foi libertado 
em 1957 por questões de saúde, 
morrendo três anos depois. 
Por ocasião do julgamento Funk 
já apresentava saúde debilitada.
Erich Raeder
Almirante Chefe da Marinha 
Alemã
Foi libertado em 1955 por razões 
humanitárias, considerando que 
estava acometido de grave 
doença morrendo em 1960 aos 
84 anos.
Foram 2 Condenações a 20 anos de Prisão
Baldur von Schirach
Líder da Juventude Hitleriana
Schirachcumpriu a pena integralmente e foi solto em 30 de 
setembro de 1966 e passou a viver no sul da Alemanha, onde se 
aposentou. Publicou suas memórias, Ich glaubte an Hitler ("Eu 
acreditei em Hitler"), em 1967 e morreu em Kröv, na região 
do Mosela. 
Albert Speer
Ministro de Armamentos
Após sair de Spandau em 1966, Speer publicou dois best-
sellers autobiográficos: Por Dentro do III Reich e Spandau - O 
Diário Secreto, detalhando seu relacionamento com Hitler e 
fornecendo histórias desconhecidas sobre o Terceiro Reich. 
Ele ainda escreveu um terceiro livro,Infiltration, sobre 
a Schutzstaffel. Speer morreu de causas naturais em 1981 
em uma visita a Londres.
1 Condenação a 15 anos de Prisão
Konstantin von Neurath 
Ministro das Relações Exteriores
Não cumpriu integralmente a pena, tendo sido libertado em 1953 após 
sofrer um ataque cardíaco. Morreu em 1956 na cidade 
de Enzweihingen, aos 83 anos de idade.
1 Condenação a 10 anos de Prisão
Karl Dönitz
Presidente da Alemanha 
Cumpriu integralmente a pena., tendo sido liberado em 1956. 
Escreveu suas memórias, "Dez Anos e Vinte Dias" editado na 
Alemanha em 1958. No decorrer de sua vida, sua reputação foi 
reabilitada, em grande parte. Quando morreu, em 24 de dezembro de 
1980, muitos de seus ex-subordinados e outros oficiais navais 
estrangeiros foram ao funeral, em 6 de janeiro do ano seguinte
3 Absolvições
Hans Fritzsche
Funcionário do Ministério da 
Propaganda
Apesar de ter sido absolvido em 
Nurembergue, foi acusado por 
outros crimes menores e condenado 
a nove anos de prisão. Libertado 
em 1950, morreu 
de câncer em 1953 na cidade 
de Köln.
Franz von Papen
Ministro e vice-chanceler
Iniciou sua vida pública 
fazendo ardorosa oposição 
ao nazismo. Após a 
ascensão do nazismo ao 
poder, foi um de seus 
aliados incondicionais. 
Hjalmar Schacht
Presidente do Reichsbank
Apesar de ter sido absolvido em 
Nuremberque, Schacht foi preso 
depois pelos próprios alemães, para 
participar de um tribunal 
desnazificação em Estugarda. 
Condenado a prestar serviços em um 
antigo campo de concentração 
em Ludwigsburg, foi libertado 
somente em setembro de 1948, nesta 
época com 71 anos.
Dois dos denunciados não foram sentenciados.
Gustav Krupp von Bohlen und Halbach
Diplomata e Industrial
Foi levado a julgamento no Tribunal de Nuremberg por ter utilizado 
de mão de obra escrava na 2ª guerra mundial. Não foi sentenciado por 
o Tribunal entendeu que o mesmo não tinha capacidade para 
responder por seus atos. Morreu em 16 de janeiro de 1950.
Robert Ley
Chefe do Corpo Alemão de Trabalho
Em 25 de outubro de 1945, quatro dias após ser indiciado 
no tribunal, Robert Ley conseguiu se enforcar na prisão, 
usando um laço de forca feito de toalhas amarradas, 
pendurado num cano do banheiro da cela.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
A exemplo do Tribunal de Nuremberg, a ONU,
através do Conselho de Segurança, criou em 1993 e
1994 respectivamente dois outros tribunais ad hoc
para o julgamento das atrocidades que aconteceram
na antiga Iugoslávia e em Ruanda.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Tribunal Penal Internacional para a
ex-Iugoslávia
Criando pela resolução 827 do Conselho de Segurança da
ONU em 25 de Maio de 1993 com o intuito de julgar os crimes de
guerra acontecidos durante a guerra civil Iugoslávia, abarcando os
fatos acontecidos a partir de 1º de janeiro de 1991. Instalou-se em
Haia, nos Países Baixos, tendo encerrado suas atividades em 2017.
Foram acusadas 161 pessoas: 90 pessoas condenadas; 13 tiveram
seus processos transferidos para serem julgados por países que
compunham a ex-Iuguslávia (Bósnia, Sérvia e Croácia).
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
O Tribunal Penal Internacional para Ruanda
Criado em novembro de 1994 pelo Conselho de
Segurança da ONU para julgar os crimes de genocídio
acontecidos em território ruandês de 1º de janeiro a 31 de
dezembro de 1994 que eliminou 800 mil ruandeses da etnia
tutsis (há quem defenda que mais de 1 milhão de ruandeses
tutsis morreram). Instalou-se em Arusha na Tanzânia. Os três
principais líderes ruandeses hutus responsáveis pelo massacre,
foram condenados em 2008 à prisão perpétua.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Tribunal Penal Internacional
Muitos foram os críticos dos Tribunais ad hoc, da
ONU, pois criados especialmente para cada caso (isso é que
quer dizer ad hoc) assemelhavam-se, segundo alguns, a
tribunais de exceção.
Com a finalidade de se libertar de tais críticas, criou-
se através do Tratado de Roma de 1998, o Tribunal Penal
Internacional, que ao contrário dos demais tribunais
internacionais, não é um órgão de uma Organização
Internacional, mas é por si só uma Organização
Internacional, com mais de 100 países membros. Seu
estatuto, além das regras processuais e de organização, traz
também a descrição dos crimes que estão sujeitos a sua
jurisdição.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
O estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional reafirma a
doutrina que defende a existência de personalidade jurídica dos
indivíduos, quando em seu artigo 25 afirma que
Art. 25
1 - De acordo com o presente Estatuto, o Tribunal será competente
para julgar as pessoas físicas. 
2 – Quem cometer um crime da competência do Tribunal será
considerado individualmente responsável e poderá ser punido de 
acordo com o presente Estatuto.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
O Tribunal Penal Internacional foi instalado em Haia, nos Países Baixos
em 2002, conforme estabelece o próprio artigo 3º de seu Estatuto.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
O Brasil aderiu a ele pelo decreto executivo nº 4.388 de 01 de
julho de 2002. É composto de 18 juízes eleitos pela Assembleia
Geral com mandato de 9 (nove) anos. Em sua primeira composição,
havia uma juíza brasileira, Sylvia Helena de Figueiredo Steiner, que
tomou posse em 01 de março de 2003, tendo sido indicada a
Assembleia Geral pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso no
final de 2002. Encerrou seu mandato em março de 2012.
Sylvia Steiner era membro do Ministério Público Federal, tendo
assumido em 1995 uma vaga de desembargadora no Tribunal de
Justiça de São Paulo pelo quinto constitucional, tem especialização
em direito penal pela Universidade de Brasília e mestrado em
Direito Internacional pela USP.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Os Sistemas e os Tribunais
de Direitos Humanos
Como ainda estudaremos mais pormenorizadamente, os sistemas
de proteção dos Direitos Humanos Americano, Europeu e Africano,
também contribuem com a doutrina que preleciona a
personalidade jurídica internacional dos indivíduos.
Tanto os sistemas como os próprios Tribunais pertencentes a eles,
não só concedem aos indivíduos direitos e garantias, mas os tratam
verdadeiramente como sujeitos detentores no plano internacional
de capacidades típicas, mesmo que peculiares à sua condição e
diferente da capacidade concedida aos Estados e as Organizações
Internacionais.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
É interessante observarmos que dentre estes
sistemas de proteção aos Direitos Humanos, o Europeu, traz
norma peculiar, que confirma esta personalidade
internacional das pessoas humanas, quando lhes concede o
poder de peticionar diretamente ao Corte Europeia de
Direitos Humanos individual ou coletivamente, denunciando
violações dos direitos e liberdades previstas na Convenção.
Proteção Diplomática
A proteção diplomática é outro ponto forte que nos faz
acreditar na verdadeira existência de capacidade jurídicainternacional dos indivíduos.
A proteção diplomática, nos ensinamentos do Ministro Rezek,
acontece quando “um indivíduo, ou mesmo uma empresa, que no
exterior seja vítima de um procedimento estatal arbitrário, e que em
desigualdade de condições frente ao governo estrangeiro responsável
pelo ilícito que lhe causou dano, pede a seu Estado de origem que lhe
tome as dores, fazendo uma reclamação”, e completa “é o abuso
estatal que o estrangeiro não consegue resistir sozinho, e que invoca,
dirigindo-se à legislação diplomática de sua bandeira, o arrimo da
pátria distante”.
Não se confunde a proteção diplomática com direito
diplomático, principalmente as chamadas imunidades diplomáticas,
que estudaremos a posterior.
Endosso:
Chama-se endosso, a outorga pelo Estado da proteção
diplomática a um cidadão seu no território estrangeiro. O endosso é o
ato pelo qual, o Estado patrial do indivíduo ofendido assume a ofensa
para si, junto ao Estado ofensor, tornando o litígio ato entre dois
Estados. Não é necessário para a solução da controvérsia ações
judiciais ou arbitrais, a mesma pode ser resolvida de forma direta
entre o Estado ofensor e o Estado do indivíduo ofendido.
O endosso é ato próprio de Estado, sendo este um direito seu
e não de seu nacional. Tanto é verdade que o Estado tem a liberdade
de conceder ou não o endosso, conforme entenda conveniente, além
é claro, desde endosso independer da vontade do indivíduo, podendo
o Estado concedê-lo, mesmo contrariamente a vontade daquele.
Duas são os pressupostos básicos para a concessão do
endosso, a nacionalidade do ofendido e o esgotamento dos recursos
internos.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Nacionalidade
A primeira condição ou pressuposto para a concessão
do endosso é a nacionalidade do indivíduo ofendido.
Só será permitido o endosso de um Estado a nacionais
seus, não se admite a proteção diplomática de um Estado a
outros nacionais que não os seus ou mesmo a proteção
daqueles que não tenham nacionalidade, como é o caso dos
apátridas, que segundo melhor entendimento não poderão ser
socorridos pela proteção diplomática de nenhum Estado.
Não só a situação do apátrida merece destaca, mas também a
questão da binacionalidade, quando não se admitirá a proteção
diplomática de um Estado a indivíduo lesado por outro Estado no
qual também seja nacional.
O binacional só poderá valer-se da proteção diplomática de um de
seus Estados patriais, contra um terceiro Estado.
É o que decidiu uma sentença arbitral de 1912, onde Canevaro,
peruano e italiano simultaneamente, pretendeu utilizar a proteção
diplomática italiana contra o Peru que havia lhe expropriado parte
de seu patrimônio.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Outro ponto importante da nacionalidade para o endosso é a
questão da continuidade da nacionalidade, ou seja, deve o
nacional de um Estado por ocasião do ato que lhe foi lesivo ter a
mesma nacionalidade por ocasião da reclamação por seu Estado
patrial. Considerando que as pessoas podem mudar de
nacionalidade, tal regra evita que a pessoa possa mudar de
nacionalidade apenas por questões ligadas a proteção diplomática,
se valendo de um vinculo artificial.
O endosso ainda deverá observar as regras da nacionalidade
efetiva, ou seja, não devem prestigiar vínculos artificiais.
Como ainda estudaremos no Direito Internacional Privado, o
Estado tem liberdade de conceder sua nacionalidade a quem quer
que seja, sendo que, dentro de seu território esta nacionalidade
não poderá ser discutida. No entanto, no plano internacional, será
lícito, que um Estado não reconheça tal nacionalidade pela
artificialidade de seu vinculo, é o que aconteceu no caso Friedrich
Nottebohm julgado pela Corte da Haia.Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Friedrich Nottebohm era Alemão de nascimento e mudou-se para
a Guatemala em 1905, ali permanecendo e exercendo atividade
empresarial por mais de 34 anos.
Quando se viu na eminência de expropriação de seu patrimônio,
não podendo contar com a proteção diplomática alemã, pois este
Estado estava envolvido em guerra, dirigiu-se ao Estado de
Liechtenstein e ali, após efetuar pagamento de algumas taxas,
recebeu sua nacionalidade.
O Liechtenstein endossou os interesses de Friedrich Nottebohm,
impetrando na Corte de Haia uma reclamação contra o Estado
guatemalteco, que não foi apreciado por esta corte, sob a
alegação que o vinculo patrial que ligava o Liechtenstein e
Friedrich era artificial, não tendo qualquer validade para questões
de proteção diplomática.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Os Esgotamentos dos Recursos Internos
O segundo requisito que deve ser observado pelos Estados que
pretendem endossar a proteção a um de seus nacionais, é o
esgotamento dos recursos internos.
O Estado que pretende endossar a proteção diplomática, antes de
fazê-lo, deverá verificar se o nacional seu violado no Estado
estrangeiro, esgotou neste, os meios administrativos e judiciais com a
finalidade de reparação do dano sofrido.
Deve-se, no entanto, observar, que segundo doutrina de Hamilton Fish,
secretário de Estado Norte Americano entre 1869 e 1877, é necessário
haver jurisdição a se esgotar, não sendo obrigado o individuo violado, a
esgotar a jurisdição inexistente do Estado violador ou tão pouco,
esgotar uma jurisdição parcial, ineficaz e inacessível.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Não se exigirá também o esgotamento dos recursos internos
quando o nacional violado não tenha qualquer conexão com o
Estado violador, como por exemplo o brasileiro que residindo no
Brasil, perde sua produção agropecuária pela queda de um satélite
colocado em órbita por determinado Estado estrangeiro que caindo
sobre sua plantação em solo brasileiro a destrói por completo ou
mesmo no caso do brasileiro residente no Brasil que perde sua
embarcação por culpa de Estado estrangeiro que realizava
manobras militares em alto mar, onde se encontrava sua
embarcação.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Efeitos Jurídicos do Endosso
Concedido o endosso ao nacional violado no estrangeiro, o Estado
assume a causa como parte, não havendo qualquer ingerência ou
participação obrigatória do indivíduo violado.
Com isso, podemos afirmar que os meios buscados pelo Estado
endossante para solução do litígio são aqueles que lhe convier,
podendo utilizar dos meios diplomáticos, arbitrais ou mesmo
judiciais.
Sendo o Estado o autor da reclamação, poderá transigir ou mesmo
desistir da causa sem qualquer concordância do indivíduo violado.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Dentre estes efeitos jurídicos do endosso, será certo também que
para o direito internacional não haverá qualquer obrigatoriedade do
Estado endossante repassar ao indivíduo a indenização que por
ventura o Estado violador se propõe, ou mesmo, é condenado a pagar.
O repasse desta indenização, subtraído as despesas que teve o
Estado com a causa, não passa de uma obrigação moral, ou uma
obrigação imposta pelas normas internas de casa Estado.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Renúncia prévia à proteção diplomática: Doutrina Calvo
Carlos Calvo, ministro de relações exteriores argentino, em 1868,
ensinava que “para os estrangeiros, assim como para os nacionais,
as cortes locais haveriam de ser as únicas vias de recurso contra
atos da administração, desta forma, o endosso deveria ser
recusado pelas potências estrangeiras a seus nacionais
inconformados, quando não, a intervenção diplomática haveria de
ser ignorada, como descabida e nula, pelos Estados reclamados”
Esta doutrina deu origem à chamada cláusula Calvo em contratos
internacionais, que previa a renuncia pelos indivíduos e empresas,
da proteção diplomática de seusEstados Patriais.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Tal cláusula foi rechaçada pelos Estados do hemisfério norte, que
sempre a consideraram nula de pleno direito, uma vez que a
proteção diplomática não é direito dos indivíduos ou das empresas,
mas sim do Estado patrial destes. O indivíduo que em contrato
renunciasse ao direito a proteção diplomática estaria renunciando
a direito alheio, o que inviabiliza a validade da cláusula.
Melhor doutrina, no entanto, preleciona a validade da cláusula
calvo nos casos de contratos em que o objeto diga respeito a
direitos disponíveis.
Foi inclusive o que decidiu em 1926 uma comissão arbitral no
exame de uma reclamação americana-mexicana no caso North
American Dredging Company, afirmando que esta, não poderia
reclamar a proteção diplomática de seu Estado patrial, uma vez
que renunciou a ela em contrato.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
Bibliografia Consultada
Bibliografia consultada:
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público. 2 
ed. (ver., atual. e ampl.). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar. 
11.ed. (ver. e atual.) 2ª tiragem. São Paulo: Saraiva, 2008.
Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.

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