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Direito Internacional em Movimento-volume 2 vf

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Prévia do material em texto

João Henrique Ribeiro Roriz & Alberto Amaral Júnior (Orgs.)
O Direito Internacional em Movimento:
 Jurisprudência Internacional Comentada
Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia | Tribunal Penal 
Internacional | Corte Interamericana de Direitos Humanos | 
Corte Europeia de Direitos Humanos
Instituto Brasiliense de Direito Civil
Grupo de Pesquisa Crítica e Direito Internacional
Brasília – Brasil
TOPO 2017 
Serigrafia sobre papel 42 x 59.4 cm 
 
“A obra ‘TOPO’ é a releitura gráfica de mapa topográfico referente a uma região 
brasileira não específica. Seus traços representam as divisões e ou demarcações, 
imaginárias e transitórias de áreas de solo, seja por cobiça do homem ou por capricho 
natureza.” 
 
 M.o.a Estudio 
 
 
 
João Henrique Ribeiro Roriz e Alberto do Amaral Júnior (orgs.) 
 
 
 
 
 
 
O Direito Internacional em 
Movimento: Jurisprudência 
Internacional Comentada 
Tribunal Penal Internacional para a ex-
Iugoslávia, Tribunal Penal Internacional, Corte 
Interamericana de Direitos Humanos e Corte 
Europeia de Direitos Humanos 
 
 
 
 
 
 
 
Instituto Brasiliense de Direito Civil (IBDC) 
Grupo de Pesquisa Crítica e Direito Internacional (C&DI) 
Brasília – Brasil 
2020 
 
 
Instituto Brasiliense de Direito Civil e Grupo de Pesquisa Crítica e Direito Internacional 
Série Jus Civile, Jus Gentium 
Diagramação: George Rodrigo Bandeira Galindo 
Edição: Patrícia Ramos Barros 
Capa: M.o.a Estudio 
Imagem da Capa: M.o.a Estudio 
Revisão: Os autores 
 
Série Jus Civile, Jus Gentium – Conselho Editorial 
George Rodrigo Bandeira Galindo (UnB) - Presidente 
Frederico Henrique Viegas de Lima (UnB) 
Othon de Azevedo Lopes (UnB) 
João Henrique Ribeiro Roriz (UFG) 
Fábia Fernandes Carvalho Veçoso (Universidade de Melbourne) 
 
 
 
O direito internacional em movimento [livro eletrônico] : jurisprudência internacional comentada... 
/ organização João Henrique Ribeiro Roriz , Alberto do Amaral Júnior. -- 1. ed. -- Brasília, DF : IBDC 
Instituto Brasiliense de Direito Civil ; Brasília : Grupo de Pesquisa Crítica e Direito Internacional, 
2020. -- (Série Jus Civile, Jus Gentium ; 5) 
326 p. 
 
Inclui bibliografia e sumário 
ISBN 978-65-89358-00-8 
 
1. Direito 2. Direito internacional 3. Jurisprudência 4. Legislação 5. Tribunal de Justiça I. 
Roriz, João Henrique Ribeiro. II. Júnior, Alberto do Amaral. III. Série. 
 
20-51853 CDU 341 
 
 
Série Jus Civile, Jus Gentium, Nº 5: O direito internacional em movimento: jurisprudência 
internacional comentada: Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, Tribunal Penal 
Internacional, Corte Interamericana de Direitos Humanos e Corte Europeia de Direitos Humanos. 
1ª edição: dezembro de 2020. 
2020: Centenário da publicação de A sociedade das nações, de Amaro Cavalcanti. 
 
 
Instituto Brasiliense de Direito Civil 
SBN Quadra 02 Bloco F Sala 903 
Edifício Via Capital -70.041-906 
Brasília – DF 
Grupo de Pesquisa Crítica e Direito Internacional 
Campus Darcy Ribeiro s/n 
Faculdade de Direito, UnB – 70.919-970 
Brasília – DF
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, João e Silvia, com todo meu amor e gratidão. 
João Henrique Ribeiro Roriz 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais que me ensinaram a superar os obstáculos 
e acreditar na árvore eterna da vida. 
Alberto do Amaral Júnior 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
APRESENTAÇÃO................................................................................................................... 08 
 
O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA 
 
Procurador vs. Duško Tadić, Decisão sobre a Moção da Defesa por Recurso Interlocutório 
(2 de outubro de 1995) 
João Roriz................................................................................................................................. 14 
 
Procurador vs. Dražen Erdemović, Julgamento (07 de outubro de 1997) 
Janaína Rodrigues Valle Gomes.............................................................................................. 31 
 
Procurador vs. Sikirica e outros, Julgamento sobre as Moções da Defesa de Absolvição (3 de 
setembro de 2001) 
Wellington Pereira Carneiro................................................................................................... 45 
 
Procurador vs. Radislav Krstić (IT-98-33), julgamento da Seção de Recursos em 19 de abril 
de 2004 
André Lopes Lasmar................................................................................................................ 54 
 
O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL 
 
Situação na República do Quênia, Decisão nos termos do artigo 15 do Estatuto de Roma 
sobre a autorização de uma investigação sobre a situação na República do Quênia (31 de 
março de 2010) 
Renata Nagamine..................................................................................................................... 70 
 
Procurador vs. Muammar Gaddafi e Saif Al-Islam Gaddafi, Julgamento referente ao Artigo 
19 do Estatuto de Roma (05 de julho de 2011) 
Renata Mantovani de Lima e Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da Silva............................ 86 
 
Procurador vs. Thomas Lubanga Dyilo, Julgamento relativo ao Artigo 74 do Estatuto (14 de 
março de 2012) 
Gabriela Rodrigues Saab........................................................................................................ 102 
 
 
 
 6 
Procurador vs. Mathieu Ngudjolo Chui, Julgamento referente ao Artigo 74 do Estatuto (18 
de dezembro de 2012) 
Tor Krever e Teresa Almeida Cravo.......................................................................................114 
 
A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS 
 
“A Última Tentação de Cristo” (Olmedo Bustos e outros vs. Chile) (05 de fevereiro de 2001) 
Fúlvio Eduardo Fonseca........................................................................................................ 130 
 
Herrera Ulloa vs. Costa Rica (02 de julho de 2004) 
Adriane Sanctis de Brito........................................................................................................ 145 
 
“Campo Algodonero” (González e outras v. México) (16 de novembro de 2009) 
Isabela Gerbelli Garbin Ramanzini e Marrielle Maia Alves Ferreira................................. 159 
 
Gomes Lund e outros vs. Brasil (“Guerrilha do Araguaia”) (24 de novembro de 2010) 
André de Carvalho Ramos.................................................................................................... 171 
 
Gomes Lund e outros vs. Brasil (“Guerrilha do Araguaia”) (24 de novembro de 2010) 
Fábia Fernandes Carvalho Veçoso........................................................................................ 197 
 
Gelman vs. Uruguai (24 de fevereiro de 2011) 
Renan Honório Quinalha..................................................................................................... 210 
 
Atala e filhas vs. Chile (24 de fevereiro de 2012) 
Flávia Piovesan...................................................................................................................... 222 
 
A CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS 
 
Soering vs. Reino Unido (07 de julho de 1989) 
Liliana Lyra Jubilut e Adriane Sanctis de Brito..................................................................... 239 
 
Lopez Ostra vs. Espanha (09 de dezembro de 1994) / Guerra e outros vs. Itália (19 de 
fevereiro de 1998) 
Gabriela Rodrigues Saab........................................................................................................ 255 
 
Christine Goodwin vs. Reino Unido (11 de julho de 2002) 
Saulo de Oliveira Pinto Coelho e Rodrigo Antonio Calixto Mello....................................... 268 
 
Tătar vs. Romênia (27 de janeiro de 2009) 
Nitish Monebhurrun.............................................................................................................282 
 
 
 
 7 
Nada vs. Suíça (12 de setembro de 2012) 
Daniel Campos de Carvalho.................................................................................................. 298 
 
Oliari e Outros c. Itália (21 de julho de 2015) 
Renata Nagamine e Olívia Alves Barbosa............................................................................. 312 
 
 
Apresentação 
 
 
 
Os três volumes que compõem essa série são o resultado de um esforço coletivo em 
analisar criticamente o direito internacional a partir de casos concretos julgados pelos 
principais tribunais internacionais e regionais. Diversos autores do Brasil e de outros países 
se empenharam em analisar o direito internacional em aplicação, como ele ganha significado 
em disputas e questões específicas e como ele pode ser estudado com maior proximidade por 
aqueles que se preocupam com sua eficácia, suas lacunas, seus resultados – enfim, com seu 
funcionamento e sua operacionalização. 
O estudo do direito internacional pelo viés de sua jurisprudência infelizmente ainda 
é escasso no Brasil. Todavia, se o discurso que o constitui só faz sentido a partir de tensões, 
e nas situações concretas que a disciplina/profissão se revelam. Estudar a política e o direito 
no plano internacional pelas demandas específicas tratadas em tribunais e fazê-lo desde um 
lugar privilegiado, onde o direito deixa as páginas de livros e encontra disputas palpáveis, 
onde ele ganha nomes de países e de indivíduos, e onde doutrinas e posições teóricas são 
confirmadas ou refutadas por juízes. Além do mais, estudar o direito internacional a partir 
de julgados pode ser muito mais intelectual e academicamente estimulante, principalmente 
para aqueles que se iniciam nessa área. 
Dessa forma, nossa intenção em propor estes três volumes foi apresentar ao leitor 
brasileiro o direito internacional por uma perspectiva diferente da usual, mas que se mostra 
muito instigante e que tem o potencial para despertar maior interesse pela área. Dentre os 
vários temas que são tratados neste livro estão: uso da forca, imunidades, reparação de danos, 
crimes de guerra, genocídio e crimes contra a humanidade, disputas territoriais e marítimas, 
integração regional, comercio internacional, proteção internacional dos direitos humanos, 
meio ambiente, dentre outros. São analisados casos dos seguintes tribunais: Corte 
Internacional de Justiça; Órgão de Solução de Controvérsias da Organização Mundial do 
Comércio; Corte Interamericana de Direitos Humanos; Corte Europeia de Direitos 
Humanos; Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia; Tribunal Penal Internacional; 
Supremo Tribunal Federal; Solução de Controvérsias do Mercosul; e Tribunal Internacional 
para o Direito do Mar. Antes dos capítulos que discutem a jurisprudência de um tribunal 
especifico, são apresentadas pequenas introduções a essas instituições. 
Este livro não seria possível sem as contribuições que o compõem. Gostaríamos de 
agradecer a participação das autoras e dos autores que trabalharam com afinco e que tiveram 
paciência na sua elaboração. Agradecemos também o Instituto Brasiliense de Direito Civil e 
o Grupo de Pesquisa Crítica e Direito Internacional na pessoa de George R. B. Galindo, que 
tornou essa publicação possível.
 
João Henrique Ribeiro Roriz 
Faculdade de Ciências Sociais 
Universidade Federal de Goiás 
Alberto do Amaral Junior 
Faculdade de Direito 
Universidade de São Paulo
 
LISTA DE AUTORES 
 
 
 
Adriane Sanctis de Brito 
Pesquisadora do LAUT - Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo. Doutora em 
Filosofia e Teoria do Direito pela Universidade de São Paulo e mestre em Direito 
Internacional pela mesma instituição. 
 
André de Carvalho Ramos 
Professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (Largo São Francisco). 
Professor Titular de Mestrado e Doutorado da Faculdade Autônoma de Direito (FADISP). 
Doutor e Livre-Docente em Direito Internacional (USP). Procurador Regional da República. 
Antigo Secretário de Direitos Humanos da Procuradoria-Geral da República (2017-2019). 
Antigo Procurador Regional Eleitoral do Estado de São Paulo (2012-2016). Visiting Fellow 
do Lauterpacht Centre for International Law (Cambridge). Diretor do Ramo brasileiro da 
International Law Association (ILA). Membro da Asociación Americana de Derecho 
Internacional Privado (ASADIP). Membro da Sociedade Brasileira de Direito Internacional 
(SBDI). 
 
André Lopes Lasmar 
Doutor em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo 
(FDUSP). Procurador da República e Secretário de Cooperação Internacional Adjunto 
(MPF/PGR/SCI). 
 
Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da Silva 
Professor Associado da UFMG. Doutor e Mestre em Direito pela UFMG; Pós-Doutor pela 
Universidade de Barcelona. Procurador de Justiça. 
 
Daniel Campos de Carvalho 
Professor-Adjunto da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Professor do Programa 
de Pós-Graduação em Direito da UNESP (PPGDIREITO/UNESP/FRANCA) e Professor do 
Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da UFABC (PPG-PRI/UFABC). 
Doutor e Mestre em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) – Área de Concentração: 
Direito Internacional. 
 
Fábia Fernandes Carvalho Veçoso 
Pesquisadora de Pós-Doutorado do Laureate Program em Direito Internacional da 
Faculdade de Direito da Universidade de Melbourne, Austrália (2017-2021). Doutora (2012) 
e mestre (2006) em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo (USP), Brasil. 
 
Flávia Piovesan 
Professora doutora em Direito Constitucional e Direitos Humanos da Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo, Professora de Direitos Humanos dos Programas de Pós 
 
 
 10 
Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, da Pontifícia Universidade 
Católica do Paraná e da Universidade Pablo de Olavide (Sevilha, Espanha); visiting fellow 
do Human Rights Program da Harvard Law School (1995 e 2000), visiting fellow do Centre 
for Brazilian Studies da University of Oxford (2005), visiting fellow do Max Planck Institute 
for Comparative Public Law and International Law (Heidelberg - 2007 e 2008); desde 2009 
é Humboldt Foundation Georg Forster Research Fellow no Max Planck Institute 
(Heidelberg); membro do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. Foi 
membro da UN High Level Task Force on the implementation of the right to development 
e do OAS Working Group para o monitoramento do Protocolo de San Salvador em matéria 
de direitos econômicos, sociais e culturais. Procuradora do Estado de São Paulo. 
 
Fúlvio Eduardo Fonseca 
Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB) e Auditor Federal 
de Finanças e Controle da Controladoria-Geral da União (CGU). 
 
Gabriela Rodrigues Saab 
Doutora em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo 
(FD-USP) e mestre em Direitos Humanos pela Université Catholique de 
Louvain/FUSL/FUNDP e pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FD-USP). 
 
Isabela Gerbelli Garbin Ramanzini 
Doutora em Relações Internacionais pela USP, Estágio Pós-Doutoral na Harvard Kennedy 
School (2017-2019), pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para 
Estudos sobre os Estados Unidos e Professora dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em 
Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia. 
 
Janaína Rodrigues Valle Gomes 
Mestre em direito na área de concentração de direitos humanos pela Faculdade de Direito 
da Universidade de São Paulo (2015). Professora do Curso de especialização Latu sensu da 
escola Federal Concursos em parceira com a Universidade de Amparo/SP (2004 - 2010). 
Juíza Federal do Tribunal Regional Federal da Terceira Região desde 2002. Ex-promotora 
de Justiça - MP/SP (1997 - 2002). Graduação em direito pela Universidade de São Paulo 
(1996). 
 
João Roriz 
Doutor em direito internacional, USP. Mestre em direito internacional, London School of 
Economics. Professor na Universidade federal deGoiás. 
 
Liliana Lyra Jubilut 
Mestre e Doutora em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo e tem LLM em 
International Legal Studies pela NYU School of Law. Foi Visiting Scholar na Columbia Law 
School e Visiting Fellow na Refugee Law Initiative – University of London. É Professora do 
Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Católica de Santos, instituição em 
que coordena o Grupo de Pesquisa “Direitos Humanos e Vulnerabilidades”. 
 
 
 11 
 
Marrielle Maia Alves Ferreira 
Doutora em Política Internacional pela UNICAMP, coordenadora do Núcleo de Estudos e 
Pesquisas em Direitos Humanos do Instituto de Economia e Relações Internacionais da 
Universidade Federal de Uberlândia, coordenadora do GT de Direitos Humanos do Instituto 
Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos, membro do Comitê 
Gestor dos ODS da Universidade Federal de Uberlândia, Professora dos cursos de graduação 
e pós-graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia. 
 
Nitish Monebhurrun 
Doutor em Direito Internacional (Escola de Direito de Sorbonne, Paris), Professor Titular 
(Centro Universitário de Brasília - UniCEUB), Professor Visitante (Universidade da Sabana, 
Bogotá), Diretor da Clínica Empresas, Direitos Humanos e Políticas Públicas - UniCEUB. 
 
Olívia Alves Barbosa 
Mestre pela Université Aix-Marseille e Mestranda em Direito pela Faculdade de Direito da 
USP. Também é pesquisadora-colaboradora no projeto temático “Religião, direito e 
secularismo: A reconfiguração do repertório cívico no Brasil contemporâneo”, desenvolvido 
no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) com financiamento da Fapesp. 
 
Renan Honório Quinalha 
Professor de Direito da Unifesp, advogado e ativista no campo dos direitos humanos. 
Professor visitante na Unicamp (2018). Foi assessor jurídico da Comissão da Verdade do 
Estado de São Paulo e consultor da Comissão Nacional da Verdade para assuntos de gênero 
e sexualidade. Foi Visiting Research Fellow no Watson Institute da Universidade de Brown. 
Publicou o livro “Justiça de Transição: contornos do conceito” (Expressão Popular, 2013) e 
co-organizou as obras “Ditadura e Homossexualidades: repressão, resistência e a busca da 
verdade” (EdUFSCar, 2014) e "História do Movimento LGBT no Brasil" (Alameda, 2018). 
 
Renata Mantovani de Lima 
Advogada. Doutora e Mestre em Direito, com Pesquisa realizada na Universidade de 
Pisa/Itália. Professora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Fundação 
Universidade de Itaúna/Minas Gerais. Reitora da Universidade Vale do Rio Verde - 
UninCor. 
 
Renata Nagamine 
Doutora em direito internacional pela USP, pós-doutoranda (bolsista PNPD) no Programa 
de Relações Internacionais da UFBA e pesquisadora no Centro Brasileiro de Análise e 
Planejamento (Cebrap). 
 
Rodrigo Antonio Calixto Mello 
Mestre em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e juiz federal 
substituto. 
 
 
 
 12 
Saulo de Oliveira Pinto Coelho 
Professor Efetivo da UFG. Doutor e Mestre em Direito pela UFMG. Pós-Doutorado em 
Teoria do Direito pela Universitat de Barcelona. Coordenador do Programa de Pós-
Graduação em Direito e Políticas Públicas. Professor do Programa de Pós-Graduação em 
Direitos Humanos. Trabalho realizado com apoio da CAPES e do PPGDP-UFG e seus 
parceiros conveniados. 
 
Teresa Almeida Cravo 
Professora Auxiliar de Relações Internacionais na Faculdade de Economia da Universidade 
de Coimbra e investigadora do Centro de Estudos Sociais. Doutora em Política e Estudos 
Internacionais pela Universidade de Cambridge. 
 
Tor Krever 
Professor Auxiliar na Faculdade de Direito da Universidade de Warwick, no Reino Unido. 
Doutorado em Direito pela London School of Economics and Political Science. Mestre em 
Direito pela Universidade de Cambridge e Graduado em Direito pela Universidade de 
Harvard. 
 
Wellington Pereira Carneiro 
Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília, Mestre em Direito 
Internacional dos Direitos Humanos pela Universidade de Oxford, Mestre em Direito 
Internacional Público pela Universidade “Drujby Narodov” de Moscou. Ex-professor da 
Univap – SP e UniCeub, Brasília. Atualmente serve como oficial do Alto Comissariado da 
ONU para refugiados na Federação Russa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA 
 
 
Procurador vs. Duško Tadić, Decisão sobre a Moção da Defesa por Recurso 
Interlocutório relativo à Jurisdição (2 de outubro de 1995) 
 
 
João Roriz 
 
 
1. Introdução 
 
Este artigo analisa o caso Procurador vs. Duško Tadić (doravante, “caso Tadić”), 
julgado no Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII), como um ponto de 
inflexão na construção histórica de um projeto que se entende hoje como justiça penal 
internacional. A referência é a Decisão sobre a Moção da Defesa por Recurso Interlocutório 
relativo à Jurisdição,1 proferida em 2 de outubro de 1995 pela Seção de Recursos do tribunal, 
e descrita como “seminal”2 e “fundacional, política e épica”.3 
Neste trabalho, ao invés de revisitar seus aspectos técnicos,4 procuro os significados 
de seu enquadramento em um momento histórico específico que revela pontos cruciais. O 
argumento principal é que Tadić, como primeiro caso analisado no TPII, indica um processo 
de distensão entre dois discursos presentes no desenrolar da justiça penal internacional: um 
primeiro mais próximo da noção de soberania e da guerra, e outro que pretende um 
reordenamento pela afirmação dos direitos humanos. 
Na parte seguinte, faço breves apontamentos sobre tais discursos para, em seguida, 
detalhá-los na decisão do caso. 
 
2. A justiça penal internacional entre dois discursos 
 
No decorrer da segunda metade do século XX, conseguiu-se organizar princípios, 
pactuar normas e erigir instituições no plano internacional incumbidas de lidar com a 
responsabilidade de indivíduos por condutas doravante adjetivadas como criminosas. Uma 
série de tratados e alguns tribunais internacionais e híbridos foram fruto de vontades 
políticas em se avançar projetos de justiça penal no plano internacional. Uma grande 
 
1 Optei por uma tradução livre do título da decisão. No original: Decision on the Defence Motion for 
Interlocutory Appeal on Jurisdiction. 
2 SCHABAS, William. An Introduction to the International Criminal Court. 3ª ed., Nova York: Cambridge 
University Press, 2007, p. 307. 
3 ALVAREZ, Jose E. Nuremberg Revisited: The Tadic Case. European Journal of International Law, v. 7, n. 2, 
p. 245-264, 1996, p. 245. 
4 Suas discussões técnicas e sua contribuição em diversas áreas substantivas do direito internacional penal já 
foram tratadas exaustivamente por vários comentadores. Por exemplo: GREENWOOD, Christopher. 
International Humanitarian Law and the Tadic Case. European Journal of International Law, v. 7, n. 2, p. 265-
283, 1996. 
 
 
 15 
narrativa desse esforço, todavia, não comporta suas imaginações jurídicas concorrentes,5 
suas nuances, seus pontos cegos e muito menos suas lutas políticas que competiam e que 
competem por autorias, contornos e significados. Traçar um fio condutor coeso entre os 
julgamentos de Nuremberg e Tóquio até o Tribunal Penal Internacional pode reafirmar 
buscas pontuais, mas ignora os distintos enquadramentos jurídicos e políticos, disputas de 
significado e outras diferenças. Entendo que (pelo menos) dois discursos marcam o projeto 
de construção de uma justiça penal internacional. Tais discursos são, por vezes, utilizados de 
maneira simultânea, por outras, como concorrentes, mas ambos são recorrentes quando 
necessários. 
O primeiro tem matriz soberanista e está vinculado à noção da guerra, ou mais 
especificamente, à criminalização da ação de guerrear. Nele, a justiça penal internacional 
constrói sua história e seus fundamentos a partir dos arranjos políticos e institucionais 
organizados pelos Estados em cenários que sucedem e sãoconsequências de conflitos 
armados. Às guerras, ou aos atos de guerrear, são atribuídos juízos de justiça. O exame de 
condutas (do lado perdedor) seriam desdobramentos dentro de um contexto pós-guerra 
vinculados não somente à busca pelo (re)estabelecimento da paz, mas também pela 
responsabilização de sua ruptura. Tal perspectiva parte de um processo de “moralização” da 
guerra.6 
A intenção de delimitar a condução dos conflitos armados através do direito – 
conhecido como direito internacional humanitário – é um dos assuntos em pauta nas 
imaginações e debates jurídicos europeus do final do século XIX e início do XX. Em um 
primeiro momento, o humanitarismo liberal almejado objetivou tornar a guerra em projeto 
público, arquitetado e cingido juridicamente, ao mesmo tempo em que aos militares eram 
concedidos os contornos legais de suas ações.7 Noções do chamado “Estado de Direito” 
requeriam uma separação entre política e direito, com um controle do segundo sobre a 
primeira,8 o que abriu espaços para condenações da guerra através de argumentos 
normativos. Entretanto, o impacto desse primeiro esboço foi limitado, pelo menos no que se 
refere a iniciativas concretas de julgamento por violações às normas e princípios que se 
pretendia estabelecer. Quando muito, jurisdições nacionais foram ativadas. 
No início do século XX, o projeto do estabelecimento de um tipo de justiça penal com 
caráter internacional ganhou força, mesmo que seu impulso inicial tenha sido o malogrado 
projeto arquitetado em Versalhes para julgar o imperador alemão no pós-Primeira Guerra 
Mundial. Pela primeira vez, colocou-se no texto de um tratado de paz que o líder máximo 
de um país deveria, após perder a guerra, ser indiciado por uma corte de caráter 
 
5 KAHN, Paul W. The Cultural Study of Law: Reconstructing Legal Scholarship. Chicago: University of 
Chicago Press, 1999. 
6 Este processo de moralização da política internacional é descrito por vários autores e tem seu auge no período 
do entreguerras. Nesse contexto pós-Primeira Guerra, novas teses de ordenação das relações internacionais são 
elaboradas e propostas, influenciadas por um discurso de matriz liberal, muito forte no século XIX. Os 
chamados “Quatorze Pontos de Wilson” e a própria arquitetura da Liga das Nações refletem essa tendência em 
1919. É criticando este movimento nas relações internacionais que E. H. Carr escreve um dos clássicos da área, 
Vinte Anos de Crise (1919-1939). 
7 KENNEDY, David. Of war and law. Princeton: Princeton University Press, 2006. 
8 KOSKENNIEMI, Martti. The politics of international law. European Journal of International Law, v. 1, n. 1, 
p. 4-32, 1990. 
 
 
 16 
supranacional. Conforme versa o documento, o Kaiser Wilhelm II de Hohenzollern seria 
julgado por um tribunal especial “por uma ofensa suprema contra a moralidade 
internacional e a santidade dos tratados.”9 Como o Kaiser nunca foi posto frente a um juiz 
com tal propósito e nenhuma outra ação foi tomada, o esforço inicial ficou apenas no papel10 
e o Kaiser encontrou abrigo nos Países Baixos; ironicamente a sede de outros tantos tribunais 
internacionais na segunda metade do século XX. 
Retomado o esboço de Versalhes no pós-Segunda Guerra, os vencedores decidiram 
criar instituições para julgar os alemães e posteriormente os japoneses. Buscou-se, mais uma 
vez, a criminalização da guerra conduzida pelo lado perdedor, individualizando a 
responsabilidade na figura de seus líderes políticos. De ato político, a guerra tornava-se ato 
criminoso. De meros perdedores da guerra, os indivíduos do outro lado passaram a ser 
também criminosos de guerra.11 O restabelecimento da paz, para os defensores dessa 
concepção, passaria pela responsabilização de sua ruptura e a vitória por um processo de 
condenação a partir da derrota. O direito, ou mais especificamente o direito penal, foi alçado 
a uma condição de compor não apenas as condutas de indivíduos, mas a própria história dos 
acontecimentos.12 Os tribunais de Nuremberg e Tóquio inauguraram institucionalmente um 
projeto específico de justiça penal no plano internacional controlado por Estados e que partia 
da criminalização do ato de guerrear, a partir do qual outros crimes derivavam (como as 
categorias de “crimes de guerra” e “crimes contra a humanidade”).13 
O segundo discurso que hoje compõe a justiça penal internacional é o dos direitos 
humanos. Mais recente e próximo da vertente liberal que se afasta do Estado, tal discurso 
entende a justiça penal no plano internacional a partir de uma luta histórica contra a 
impunidade por violações de direitos, quase sempre perpetrados por políticas estatais. 
Direitos humanos seriam percebidos como garantias na proteção de interesses individuais 
contra as “ameaças previsíveis” associadas ao poder soberano;14 ou seja, sua construção se dá 
em oposição àquela de soberania. Julgamentos seriam momentos de triunfo do direito, ou 
melhor, do chamado “Estado de Direito”, principalmente contra uma “política de barbárie”, 
e esta justiça estaria calcada em uma noção dever de punição de condutas que são uma ofensa 
à humanidade como um todo.15 
 
9 “Art. 227 - The Allied and Associated Powers publicly arraign William II of Hohenzollern, formerly German 
Emperor, for a supreme offence against international morality and the sanctity of treaties.” (Tratado de 
Versalhes, disponível em: <http://avalon.law.yale.edu/imt/partvii.asp>. Acesso em: 22 de dezembro de 2015. 
10 É interessante pontuar que os estadunidenses contrários ao indiciamento do Kaiser – e é justamente os EUA 
o principal articulador do Tribunal de Nuremberg, no pós-Segunda Guerra. Sobre o assunto, cf.: SCHMITT, 
Carl. O Nomos da Terra no Direito das Gentes do Jus Publicum Europaeum. Rio de Janeiro: Contraponto 
Editora, 2014. 
11 SCHMITT, Carl. O Nomos da Terra no Direito das Gentes do Jus Publicum Europaeum. Rio de Janeiro: 
Contraponto Editora, 2014. 
12 KOSKENNIEMI, Martti. Between Impunity and Show Trials. Max Planck Yearbook of United Nations Law, 
v. 6, n. 1, p. 1-32, 2002. 
13 De acordo com as normas postas nos tribunais de Nuremberg e Tóquio, a existência das categorias de “crimes 
contra a humanidade” e “crimes de guerra” dependia da existência de uma guerra (ou, na linguagem daqueles 
tribunais de um “crime contra a paz”). O vínculo de crimes contra a humanidade com os conflitos armados só 
será questionado no caso Tadić, como será exposto adiante. 
14 BEITZ, Charles R. The Idea of Human Rights. Oxford: Oxford University Press, 2009. 
15 HENKIN, Louis. The Rights of Man Today. Boulder: Westview Press, 1978. 
 
 
 17 
Historiadores têm mostrado que é recente a separação entre a realização de direitos 
pelo Estado (por vezes nominados como “direitos fundamentais”) e direitos garantidos 
apesar do Estado (a concepção de “direitos humanos” mais recente).16 O giro do direito 
internacional em direção aos direitos humanos ocorreu de forma crucial para a disciplina 
após a década de 1970, com a ascensão da noção no vernáculo, a formação de instituições 
(principalmente não governamentais) e mobilização de ativistas transnacionais. Nas últimas 
décadas do século XX, direitos humanos se sobrepuseram a outros ideais de organização 
social e ação política e passaram a ser utilizados com potencial emancipatório, referencial 
político e princípio normativo.17 
Com a implosão da União Soviética e o fim da bipolaridade nas relações 
internacionais, o potencial de convencimento dos direitos humanos parecia fazer muito 
mais sentido à opinião pública e nos plenários de fóruns internacionais. Quando se 
reconsiderou a instauração de tribunais no plano internacional capazes de julgar indivíduos 
por crimes cometidos durante contextos de conflito armado, o léxico de direitos humanos 
tinha referencial mais propício do que o anterior que deu sentido aos tribunais militares de 
Nuremberg e Tóquio. O contexto da guerra de fragmentação da Iugoslávia ofereceu uma 
oportunidade para uma resposta do ocidente de que “algoestá sendo feito” para acabar com 
a impunidade das atrocidades ali cometidas.18 Somado à desobstrução da agenda do Conselho 
de Segurança, as potências ocidentais avançaram propostas de tribunais penais 
internacionais, caracterizando-as como iniciativas às violações sistemáticas de direitos, além 
de uma ameaça à paz e segurança internacionais.19 
Assim, enquanto as primeiras instituições internacionais que consideraram a 
possibilidade de punir indivíduos por “crimes internacionais” cometidos durante guerras 
vincularam-se ao discurso de matriz soberanista, as instituições penais internacionais criadas 
após a década de 1990 tiveram outros contornos. O ápice deste processo seria a concretização 
do Tribunal Penal Internacional, instituição de caráter permanente e distinta da ONU. Para 
 
16 MOYN, Samuel. The Last Utopia: Human Rights in History. Cambridge: Belknap Press, 2010. 
17 Este processo é analisado em detalhes na obra The Last Utopia (2010), de Samuel Moyn. Para ele, direitos 
humanos se tornaram “a última utopia” pelo seu emprego no discurso de movimentos sociais que se afastam 
da luta revolucionária esquerdista (dentre outras) e encontram na noção de direitos humanos um potencial 
reivindicatório que lhes dá sentido. Ademais, a noção que é (re)significada encontra terreno fértil para seu 
emprego nos processos de descolonização afro-asiáticos, assim como na retórica da política externa do governo 
Jimmy Carter e sua pressão a governo latino-americanos. A noção de direitos humanos adquire assim espaço e 
agendas em uma lógica que permite a pretensão de superar fronteiras estatais em prol de um referencial 
universal que ganha sentido no plano jurídico sem limitar-se a ele. 
18 É importante relembrar que, em um primeiro momento da sangrenta guerra na Bósnia e Herzegovina, o 
ocidente decidiu pela não intervenção militar – que só ocorre nas etapas finais desta guerra e posteriormente, 
em 1999, na guerra de Kosovo. 
19 Essa caracterização é ilustrada nos quatro primeiros parágrafos da resolução 827, em que o Conselho de 
Segurança: (i) demonstra sua preocupação com as violações de direito internacional humanitário que ocorrem 
no conflito, (ii) determina que a situação constitui uma ameaça à paz e segurança internacionais, (iii) menciona 
seu entendimento de que o que acontece na região são crimes e que pretende levar à justiça seus responsáveis, 
e que, para tanto, (iv) está convencido da necessidade de criação de um tribunal internacional ad hoc 
(CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS. Resolução 827 (S/RES/827) 23 de maio de 1993. 
Disponível em: <http://www.un.org/Docs/scres/1993/scres93.htm>. Acesso em: 10 de novembro de 2015). 
 
 
 18 
Antonio Cassese, ex-presidente e juiz do TPII, e grande referência doutrinária (assim como 
um dos entusiastas da aproximação do direito internacional penal com os direitos humanos), 
o Tribunal Penal Internacional pode ser entendido como um “imperativo moral” capaz de 
julgar crimes que chocam “a consciência da humanidade”, hábil a promover uma justiça 
“verdadeiramente internacional, imparcial e correta”,20 cujos crimes não se limitam a 
contextos de conflitos armados. 
Há, no entanto, vários pontos de tensão entre as normas penais internacionais 
construídas no pós-Segunda Guerra e aquelas de direitos humanos. O caso Tadić, analisado 
em seguida, oferece uma boa oportunidade para trazer à tona os embates argumentativos 
dos dois discursos mencionados. 
 
3. O caso Tadić: um ponto de inflexão na justiça penal internacional 
 
A estrutura argumentativa da decisão em apreço foi definida a partir de três grandes 
argumentos levantados pela defesa de Tadić. Para os advogados de defesa: (i) o Tribunal não 
foi estabelecido legalmente, (ii) a primazia da jurisdição do Tribunal em relação às cortes 
domésticas não está de acordo com o direito, e (iii) o Tribunal não tem competência ratione 
materiae para julgar o acusado. Em seu conjunto, a defesa levantou temas que envolvem a 
legitimidade de um tribunal internacional que não foi estabelecido por um tratado, que tem 
primazia sobre cortes domésticas e cuja competência é controversa de acordo com o direito 
internacional. Os juízes da Seção de Recursos do TPII organizaram suas respostas a partir 
dos três pontos levantados pela defesa e, ao fazê-lo, aproximou seus argumentos da 
linguagem de direitos humanos. 
 
3.1. A criatura que analisa o criador: o Conselho de Segurança e o direito 
O primeiro argumento questiona a legalidade do estabelecimento do TPII, ou seja, 
disputa a competência do Conselho de Segurança para criar um tribunal penal internacional 
ad hoc em nome da manutenção da paz e da segurança internacionais. Para analisar a 
questão, inicialmente os magistrados da Seção de Recursos consideraram (ao contrário dos 
seus colegas da seção anterior) que eles têm prerrogativa de analisar sua própria 
competência; um entendimento expansivo para além de questões de tempo e objeto 
previstas no Estatuto. Inferiram assim que a competência do tribunal não se restringia ao 
intencionado pelo Conselho, o tribunal não seria um mero “órgão subsidiário” do seu 
criador. Ancorando-se no princípio da competência-competência (Kompetenz-Kompetenz, 
em alemão, ou la compétence de la compétence, em francês), que consiste nos poderes 
“inerentes” do tribunal determinar sua própria competência, os juízes consideraram que a 
ausência de um sistema judicial integrado no direito internacional torna uma necessidade 
para tribunais (e cortes de arbitragens) internacionais definirem suas próprias competências. 
Do contrário, segundo eles, o tribunal ficaria “totalmente sob o poder e à mercê” do 
 
20 CASSESE, Antonio. Reflections on International Criminal Justice. The Modern Law Review, v. 61, n. 1, p. 
01-10, 1998. 
 
 
 19 
Conselho, o que subjugaria seu caráter de órgão com natureza judiciária.21 
Os juízes de apelação não aceitaram os argumentos de sobreposição ou separação de 
demandas consideradas “políticas” daquelas jurídicas. A alegação da procuradoria de que o 
TPII não tinha autoridade para rever o que foi estabelecido pelo Conselho, uma vez que este 
seria um assunto de “natureza política”, ou seja, “não judiciável”22 (tese aceita pela Seção de 
Julgamento),23 foi plenamente rechaçada pelos julgadores da Seção de Recursos. Ao recusar 
a doutrina da “questão política”, eles se aproximaram do entendimento de que as 
características políticas de uma requisição não desqualificavam sua apreciação judiciária, 
conforme decidiu a Corte Internacional de Justiça na opinião consultiva Certas Despesas.24 
Entretanto, os magistrados do TPII foram além ao alegar que as “doutrinas de ‘questões 
políticas’ e ‘disputas não judiciáveis’ são remanescentes das reservas de ‘soberania’, ‘honra 
nacional’ (...) [que] recuaram do horizonte do direito internacional contemporâneo.”25 Mais 
do que uma compreensão de que considerasse a separação e a conjunção de questões políticas 
e jurídicas, os julgadores do tribunal ad hoc preferiram uma linguagem que remente à 
superação de tais doutrinas, associadas às “reservas de soberania”. 
Com tal entendimento amplo sobre sua competência, os magistrados passaram então 
a avaliar a “constitucionalidade” da resolução do Conselho; uma vez que, para a defesa, um 
tribunal internacional deveria ter sido criado ou por tratado internacional ou por emenda à 
Carta da ONU, mas não por uma resolução do Conselho.26 O assunto foi detalhado pelos 
juízes, que ponderaram sobre o poder do Conselho em invocar o Capítulo VII da Carta, seus 
limites para fazê-lo, o estabelecimento do tribunal como uma medida adotada sob o Capítulo 
VII e se seu estabelecimento seria contrário ao princípio geral em que cortes devem ser 
“estabelecidas pela lei”.27 Dentre os pontos levantados, destaco dois. 
 
21 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1-
T), Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafos10, 15 e 18-19. 
22 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1-
T), Response to the Motion of the Defence on the Jurisdiction of the Tribunal before the Trial Chamber of the 
International Tribunal, 7 July 1995. D. em: 7 jul. 1995, parágrafos 10-14. 
23 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1-
T), Decision on the Defence Motion on Jurisdiction. J. em: 10 ago. 1995, parágrafo 08. 
24 “[I]t has been argued that the question put to the Court is intertwined with political questions, and that for 
this reason the Court should refuse to give an opinion. It is true that most interpretations of the Charter of 
the United Nations will have political significance, great or small. In the nature of things it could not be 
otherwise. The Court, however, cannot attribute a political character to a request which invites it to undertake 
an essentially judicial task, namely, the interpretation of a treaty provision.” (CORTE INTERNACIONAL DE 
JUSTIÇA. Certain Expenses of the United Nations, 1962 I.C.J. Reports 151, 155 (Advisory Opinion of 20 July). 
25 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1-
T), Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafo 
24. 
26 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1-
T), Decision on the Defence Motion on Jurisdiction. J. em: 10 ago. 1995, parágrafo 2. 
27 Na opinião de um comentador, os juízes do TPII fizeram mais considerações sobre os poderes do Conselho 
de Segurança do que qualquer decisão da Corte Internacional de Justiça. Cf.: ALVAREZ, Jose E. Nuremberg 
Revisited: The Tadic Case. European Journal of International Law, v. 7, n. 2, p. 245-264, 1996, p. 248. 
 
 
 20 
Em primeiro lugar, apesar de manifestar não pretender enfrentar a questão se o TPII 
(ou outra corte internacional) pode revisar judicialmente resoluções do Conselho, os juízes 
da Seção de Recursos avaliaram a legalidade da res. 827. Concluíram que o Conselho tem 
ampla discricionariedade para atuar de acordo com os artigos 39, 41 e 42 da Carta, e que a 
criação de instituições internacionais como o próprio TPII poderia ser compreendida a partir 
do art. 41 que versa sobre medidas que não envolvem o uso da força armada.28 Entretanto, 
em uma passagem que se tornou recorrente (e quase folclórica) nos escritos de direito 
internacional, os juízes avaliaram que os poderes do Conselho não são ilimitados; que, como 
órgão de uma organização internacional, está “sujeito a certas limitações constitucionais por 
mais amplo que seus poderes sobre essa constituição possam ser”, em outras palavras, “nem 
o texto, nem o espírito da Carta concebe o Conselho de Segurança como legibus solutus 
(acima da lei)”.29 Ainda que tenha ficado patente a imensa discricionariedade do Conselho 
ao mencionar limitações específicas, como os próprios limites de competência da ONU e as 
limitações da divisão de poder interna da organização, os juízes do TPII se dispuseram a dar 
um passo maior do que seus colegas da Corte Internacional de Justiça:30 pela primeira vez 
um tribunal internacional atestou que o Conselho de Segurança não estaria além do direito; 
o que insinua que este está contido naquele. 
Ainda que em termos práticos os juízes do TPII não detalharam os limites efetivos à 
atuação do Conselho, o fato de a criatura julgar ações do seu criador gerou certo desconforto. 
Evidenciou-se isso em um momento posterior quando, com outros juízes e outra 
procuradoria, se cogitou investigar supostos crimes cometidos por militares da OTAN.31 A 
iniciativa não foi concretizada, mas certamente alarmou aqueles que talvez estivessem 
pensando rever nos procedimentos dos juristas envolvidos comportamentos como aqueles 
de Nuremberg e Tóquio. 
Por fim, usando a linguagem do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e 
Políticos de 1966, a defesa arguiu que o TPII violaria o direito de um indivíduo de ser julgado 
 
28 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1-
T), Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafos 
20, 29, 31, 32 e 34. 
29 “It is clear from this text [Article 39] that the Security Council plays a pivotal role and exercises a very wide 
discretion under this Article. But this does not mean that its powers are unlimited. The Security Council is an 
organ of an international organization, established by a treaty which serves as a constitutional framework for 
that organization. The Security Council is thus subjected to certain constitutional limitations, however broad 
its powers under the constitution may be. Those powers cannot, in any case, go beyond the limits of the 
jurisdiction of the Organization at large, not to mention other specific limitations or those which may derive 
from the internal division of power within the Organization. In any case, neither the text nor the spirit of the 
Charter conceives of the Security Council as legibus solutus (unbound by law).” (TRIBUNAL PENAL 
INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1-T), Decision on the 
Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafo 28). 
30 CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA. Questions of Interpretation and Application of the 1971 Montreal 
Convention Arising from the Aerial Incident at Lockerbie (Líbia v. Estados Unidos), 1992 I.C.J. 114, 176 
(Provisional Measures Order of 14 April) (the "Lockerbie decision"). 
31 BENVENUTI, Paolo. The ICTY Prosecutor and the Review of the NATO Bombing Campaign against the 
Federal Republic of Yugoslavia. European Journal of International Law, v. 12, n. 3, p. 503-530, 2001. 
 
 
 21 
por um “tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido pela lei”,32 e 
mencionou que um julgamento deve ser calcado em princípios e garantias como “julgamento 
justo” e “devido processo legal”. Os cinco juízes que analisavam a apelação concordaram com 
a defesa sobre tais necessidades, mas não aceitaram seu passo seguinte de que o TPII não 
teria sido instaurado de outra forma que não pela “lei” e que o acusado não teria garantias 
processuais. Em sua opinião, um tribunal deve estar “enraizado no rule of law e [ser capaz 
de] oferecer todas as garantias incorporadas nos instrumentos internacionais relevantes”, 
assim poder-se-ia afirmar que tal tribunal é “estabelecido pela lei”. De fato, eles parecem 
concordar que a exigência de que o tribunal seja “estabelecido pela lei” com a noção de rule 
of law. Nesse sentido, os magistrados do TPII vão além da exigência de que o tribunal seja 
calcado em um direito próprio, mas qualificam tal fundação: um tribunal “deve fornecer 
todas as garantias de equidade, justiça e imparcialidade, em plena conformidade com 
instrumentos de direitos humanos internacionalmente reconhecidos.”33 Assim, os juízes 
complementaram a fundação do tribunal que os abrigava: do órgão político com 
prerrogativas sobre a paz e a segurança internacionais para uma instituição calcada em ideias 
normativos, com destaque para os direitos humanos. 
 
3.2. Uma “erosão progressiva nas mãos das forças mais liberais”: soberania e direitos 
humanos 
No segundo argumento, a defesa denunciou o primado da jurisdição do TPII a partir 
principalmente da violação da soberania da Bósnia e Herzegovina e da violação do princípio 
jus de non evocando. Os juízes reafirmaram a primazia de jurisdição do TPII contida no art. 
9(2) do Estatuto, descartaram que o princípio da soberania pode se sobrepor aos direitos 
humanos e reafirmaram que tribunais internacionais podem julgar crimes internacionais. 
Ao fazê-lo, expuseram mais diretamente seus argumentos sobre o choque entre soberania e 
direitos humanos. 
Segundo a defesa, Tadić teria direito de ser julgado por tribunais domésticos 
amparado por leis nacionais, uma prerrogativa de acordo como princípio jus de non 
evocando. Os juízes não questionaram tal direito, mas se perguntaram se ele seria exclusivo, 
se cortes internacionais também poderiam julgar os crimes ao acusado imputados. Na 
interpretação dos juízes, o princípio jus de non evocando teria como principal objetivo 
“evitar a criação de cortes especiais ou extraordinárias destinadas a julgar delitos políticos 
em tempos de agitação social, sem garantias de um julgamento justo.”34 O questionamento 
da defesa foi enquadrado assim a partir de uma recorrente linha de argumentação crítica em 
julgamentos que envolvem crimes internacionais. Segundo tal crítica, cortes ad hoc como o 
TPII seriam “tribunais de exceção”, estabelecidos a partir de e para um contexto específico 
 
32 ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, 
resolução 2200A (XXI). 16 de dezembro de 1966, art. 14, § 1º. Disponível em: 
<http://www.ohchr.org/EN/ProfessionalInterest/Pages/CCPR.aspx>. Acesso em: 10 de novembro de 2015. 
33 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1-
T), Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafos 
41, 42 e 45. 
34 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1), 
Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafo 62. 
 
 
 22 
com fundamentações políticas cujos objetivos dificultariam ou mesmo impossibilitariam um 
julgamento justo. 
Apesar de trazer à tona tal ponto, os juízes da Seção de Recursos não abordaram a 
excepcionalidade da criação do TPII, seu contexto e suas fundamentações políticas como 
uma possível violação a esse princípio. Ao invés disso, consideraram que o princípio jus de 
non evocando não seria violado com a transferência de jurisdição para um tribunal 
internacional estabelecido pelo Conselho de Segurança que age “em nome da comunidade 
de nações”, desde que os direitos do acusado estivessem garantidos.35 Ou seja, para os juízes 
deste tribunal na Haia, o respeito aos direitos do acusado seria suficiente para a garantia do 
princípio jus de non evocando. Não se discutiu as questões da excepcionalidade do tribunal 
e de sua inexistência prévia em relação aos fatos imputados ao acusado, o que poderia 
favorecer a defesa. Para os juízes, os direitos humanos do acusado na forma de suas garantias 
processuais seriam suficientes para descartar violações ao princípio do jus de non evocando. 
Outra acusação feita pelos defensores de Tadić foi mais direta: seus advogados 
afirmaram que o TPII violou a soberania da Bósnia e Herzegovina. Em referência ao art. 2(1) 
da Carta da ONU,36 a defesa indicou que a soberania bósnia teria sido infringida com a 
criação de uma instância judiciária superior às domésticas. Ao ponderar sobre esse ponto, os 
juízes da Seção de Recursos primeiro consideraram se um indivíduo poderia alegar uma 
violação da soberania de um Estado. Na instância anterior, na Seção de Julgamento, o ponto 
da defesa foi recusado, ao se asseverar que “o acusado não sendo um Estado” não teria locus 
standi para questionar violações de soberania.37 
Essa passagem destoa de forma significativa do estilo e do conteúdo prevalecentes na 
decisão da Seção de Recursos. Para os juízes desta, indivíduos têm capacidade de questionar 
decisões ditas soberanas de um Estado. Todavia, se em um primeiro passo, a defesa saiu 
contemplada com a prerrogativa de questionar uma violação de soberania (o que pode ser 
entendido como um reforço ao locus standi do indivíduo no direito internacional), seu passo 
seguinte foi contido. Ao mencionar o art. 2(7) da Carta da ONU, que reforça a não 
intervenção em assuntos domésticos, os juízes do TPII lembraram que a exceção ao 
dispositivo é o Capítulo VII da Carta, justamente o invocado pelo Conselho de Segurança na 
criação do TPII. Ademais, mencionaram que nem a Bósnia e Herzegovina nem a Alemanha 
questionaram a jurisdição do TPII. 38 
Mas mais importante para os propósitos deste artigo foi a forma pela qual os juízes do 
TPII construíram suas explicações. Ao escrever sobre o momento político de criação do TPII, 
os magistrados lançaram mão de recursos estéticos e políticos como crimes que “chocam a 
consciência da humanidade” e “revulsão pública” da “comunidade de nações” frente as 
 
35 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1), 
Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafo 62. 
36 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Carta das Nações Unidas. 26 de junho de 1945. Disponível em: 
<http://www.un.org/en/charter-united-nations/>. Acesso em: 10 de novembro de 2015. 
37 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1-
T), Decision on the Defence Motion on Jurisdiction. J. em: 10 ago. 1995, parágrafo 41. 
38 parágrafo 56. 
 
 
 23 
atrocidades cometidas na ex-Iugoslávia.39 Para eles: 
 
Seria uma paródia do direito e uma traição à necessidade universal de justiça, se o 
conceito de soberania do Estado pudesse ser levantado com sucesso contra os 
direitos humanos. Fronteiras não devem ser consideradas como um escudo contra 
o alcance do direito e como uma proteção àqueles que pisoteiam os direitos mais 
elementares da humanidade.40 
 
A noção de soberania foi alçada ao lado oposto da de direitos humanos, formando-se 
uma díade com um polo positivo e outro negativo. Herdeira de uma era distinta, a ideia de 
soberania estaria na contramão quando contraposta à de direitos humanos. Na opinião dos 
juízes, no passado, a soberania era entendida como um “atributo sagrado e incontestável de 
um Estado”; mas agora ela sofreria uma “erosão progressiva nas mãos das forças mais liberais 
no trabalho nas sociedades democráticas, particularmente no campo dos direitos 
humanos.”41 Direitos humanos seriam uma “força liberal” separada e contrária à antiga noção 
de soberania, sugerida como um atributo responsável pelas violações àqueles direitos. 
Um dos desdobramentos dessa linha de raciocínio foi exposto nos parágrafos 
seguintes. Perguntando-se sobre a primazia de cortes nacionais ou internacionais, os juízes 
concluíram que o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia deveria ter primazia 
sobre cortes nacionais. Caso não tivesse, nas palavras da decisão, “sendo a natureza humana 
o que é”, haveria um perigo perene de crimes internacionais serem considerados crimes 
ordinários, os procedimentos serem “desenhados para blindar o acusado” e os casos não 
serem diligentemente processados.42 Nessa passagem há uma ponderação implícita não 
apenas de uma consideração filosófica deslocada sobre a natureza humana, como também 
uma clara preferência pelo âmbito internacional, como se este, ou melhor, os profissionais 
que nele atuam, estivessem em melhores condições e/ou fossem mais capacitados para julgar 
crimes internacionais. Os direitos humanos, nessa concepção, seriam mais bem resguardados 
no plano internacional em contraposição aos sistemas judiciários domésticos. 
 
3.3. Definindo (e ampliando) o que os Estados não regularam 
Houve, ainda, mais desdobramentos a partir da linha de argumentação tomada pelos 
juízes de apelação. Até antes do estabelecimento do TPII, certas normas internacionais 
penais ainda eram consideradas não muito distantes dos contornos construídos no contexto 
do pós-Segunda Guerra, ou seja, quando um viés mais estatista fundamentava o corpo 
 
39 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1), 
Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafo 57. 
40 “It would be a travesty of law and a betrayal of the universal need for justice, should the concept of State 
sovereignty be allowed to be raised successfully against human rights. Borders should not be considered as a 
shield against the reachof the law and as a protection for those who trample underfoot the most elementary 
rights of humanity.” (tradução livre) (TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. 
Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1), Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on 
Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafo 58). 
41 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1), 
Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafo 55. 
42 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1), 
Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafo 58. 
 
 
 24 
normativo. Três são os pontos principais abordados pelos juízes da apelação de forma 
diferente ao arquitetado no pós-Segunda Guerra: (i) uma definição de conflito armado, (ii) 
a divisão entre as proteções conferidas a indivíduos durante conflitos armados internacionais 
e não internacionais e (iii) o vínculo entre crimes contra a humanidade e um contexto de 
conflito armado. 
Tais questões foram desencadeadas quando a defesa questionou a competência do 
TPII para julgar os crimes imputados ao réu. Como os crimes previstos nos artigos 2º, 3º e 5º 
do Estatuto do TPII são limitados ao contexto de conflito armado, a definição deste último 
era condição de existência dos crimes, para os advogados de defesa. Inexistia, contudo, uma 
definição consensual sobre “conflito armado” (ou “guerra”) no direito internacional, seja o 
conflito de caráter internacional ou não – ainda que sua constatação seja condição de 
aplicação do direito internacional humanitário e dos chamados crimes de guerra. 
Na Seção de Julgamento, a defesa de Tadić argumentou que os crimes, se cometidos, 
ocorreram em um conflito armado não internacional e, na Seção de Recursos, que não havia 
conflito armado na região onde os crimes supostamente ocorreram. Para tratar do assunto, 
os juízes da apelação abordaram inicialmente se realmente existia um conflito armado e, 
posteriormente e de uma forma muito mais extensa, sobre os crimes aplicáveis a cada tipo 
de conflito. 
Sobre a definição de conflito armado, a defesa disputou não apenas sua existência, 
mas também quando seria seu início, seu fim e em quais partes do território seria 
considerado (para fins de aplicação de normas humanitárias).43 Os juízes entenderam assim 
que a provocação da defesa exigia um entendimento detalhado da noção de conflito armado. 
Dessa forma, a Seção de Recursos do TPII ofereceu a primeira definição de conflito armado 
por um tribunal internacional, que seria repetida várias vezes em outros julgados e se tornou 
uma das passagens mais tradicionais do direito internacional penal: 
 
(...) um conflito armado existe sempre que há um recurso à força armada entre 
Estados, ou violência armada prolongada entre autoridades governamentais e 
grupos armados organizados, ou entre estes grupos dentro de um Estado. O direito 
internacional humanitário se aplica a partir do início de tais conflitos armados e se 
estende para além da cessação das hostilidades até que quando se chega a uma 
conclusão geral de paz; ou, no caso de conflitos internos, até que uma solução 
pacífica seja alcançada. Até aquele momento, o direito internacional humanitário 
continua a aplicar em todo o território dos Estados em conflito, ou, no caso de 
conflitos internos, em todo o território sob o controle de uma das partes, quer 
aconteça ou não um combate real naquela localidade.44 
 
43 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1), 
Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafo 67. 
44 “(…) an armed conflict exists whenever there is a resort to armed force between States or protracted armed 
violence between governmental authorities and organized armed groups or between such groups within a 
State. International humanitarian law applies from the initiation of such armed conflicts and extends beyond 
the cessation of hostilities until a general conclusion of peace is reached; or, in the case of internal conflicts, a 
peaceful settlement is achieved. Until that moment, international humanitarian law continues to apply in the 
whole territory of the warring States or, in the case of internal conflicts, the whole territory under the control 
of a party, whether or not actual combat takes place there.” (tradução livre) (TRIBUNAL PENAL 
 
 
 25 
 
Os juízes abordaram também outros detalhes levantados pela defesa. Em sua 
interpretação, mesmo que confrontos substantivos entre os partícipes do conflito não 
estivessem acontecendo no momento e no lugar dos supostos crimes imputados ao réu, 
bastaria que os crimes alegados estivessem “relacionados de forma próxima” com as 
hostilidades que ocorriam em outras partes no território controlado pelas partes do conflito. 
Os magistrados, porém, não entenderam que a situação na ex-Iugoslávia deveria ser 
considerada como um só tipo de conflito, no caso apenas internacional. O conflito naquela 
região, em sua opinião, tinha características internacionais e internas.45 
Em seguida, os magistrados se debruçaram longamente se o Estatuto do TPII 
contemplaria somente a conflitos armados internacionais. Para tanto, apresentam 
interpretações diversas ao texto em apreço, uma “literal”, uma “teleológica” e uma “lógica e 
sistemática”,46 ainda que não as tenham contrastado. O cerce do problema residiu na questão 
se certas condutas podem ser consideradas como crime em contextos de conflito armado não 
internacional. 
O art. 2º do Estatuto é relativo às violações graves das Convenções de Genebra de 
1949, um instrumento internacional claramente direcionado a conflitos armados de 
natureza internacional. Já o art. 3º, “violações das leis e costumes da guerra”, não faz 
referência ao tipo de conflito armado. O art. 5º, sobre crimes contra a humanidade, explicita 
sua aplicação aos dois tipos de conflito. Ao analisar as resoluções e pronunciamentos de 
membros do Conselho de Segurança, os juízes entenderam que não se faziam distinções 
entre os dois tipos de conflito no órgão onusiano. Na interpretação dos magistrados, o 
“Conselho de Segurança estava claramente preocupado em levar à justiça os responsáveis 
por esses atos especificamente condenados, independentemente do contexto [do conflito 
armado].”47 Ou seja, não interessaria ao Conselho de Segurança a distinção entre os dois tipos 
de conflitos armados; seria “ilógico”, nas palavras dos juízes, que o Conselho redigisse um 
Estatuto sem competência para julgar casos nos quais o próprio Conselho sabia que poderia 
ser classificado a partir de um conflito armado internacional ou não internacional. 
Ao contrário da Seção de Julgamento, que tinha entendido que o art. 2º seria aplicável 
a ambos os tipos de conflito armado,48 os julgadores da Seção de Recursos consideraram que 
tal dispositivo se limitava ao contexto de um conflito armado internacional. Entenderam 
 
INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1), Decision on the 
Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafo 70). 
45 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1), 
Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafos 70 e 
72. É relevante notar também a opinião em separado do Juiz Li. 
46 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1), 
Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafos 71-
142. 
47 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1), 
Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafo 74. 
48 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procuradorv. Duško Tadić (IT-94-1-
T), Response to the Motion of the Defence on the Jurisdiction of the Tribunal before the Trial Chamber of the 
International Tribunal, 7 July 1995. D. em: 7 jul. 1995, parágrafos 46-56. 
 
 
 26 
que o art. 2º do Estatuto do TPII está vinculado às Convenções de Genebra e essas, por sua 
vez, seriam relativas às violações graves ao conceito de pessoas e propriedades protegidas. 
Os dispositivos sobre conflitos armados internos estão dispostos apenas no art. 3º comum às 
Convenções, sendo que os outros dizem respeito aos conflitos armados internacionais. 
Contudo, os juízes da instância de apelação chegaram a essa conclusão com um tom 
resignado, tecendo elogios àquelas interpretações, como o amicus curiae submetido pelo 
governo dos EUA, em que se pretende estender a aplicação do referido dispositivo em 
conflitos armados não internacionais.49 
Dentre as conclusões mais controversas dos juízes da Seção de Recursos, está sua 
interpretação sobre os artigos 3º e 5º do Estatuto do TPII. Eles se detiveram longamente 
sobre o art. 3º e entenderam que ele é aplicável em ambos os tipos de conflito, internacional 
e interno. Aproveitaram a discussão para revisitar todo o corpus juris aplicável a conflitos 
armados não internacionais e reconstruíram a longa trajetória das normas consuetudinárias 
relativas às hostilidades, desde a Convenção da Haia de 1907. Concluíram que, através do 
costume, havia sido criado um corpo de normas regulando conflitos armados não 
internacionais.50 Pode-se interpretar que tal decisão tem caráter obiter dicta, uma vez que a 
discussão não tinha relevância direta no caso Tadić. Mas mais significativo foram as 
considerações dos magistrados que aproximaram o corpo de normas que regulam os conflitos 
armados internos dos internacionais e entenderam que o indivíduo que viola o direito 
relativo a conflitos armados internos, incluindo o art. 3º comum às Convenções de Genebra, 
está sujeito à responsabilidade individual segundo o direito internacional. 
Ambas as ponderações destoam do que os Estados regularam nos documentos de 
direito internacional humanitário. Ciosos de suas prerrogativas soberanas e da interferência 
de normas internacionais regulando situações domésticas, os Estados reduziram a proteção 
em situações de conflitos armados internos ao art. 3º comum às Convenções de Genebra.51 
No mesmo sentido, como o próprio Comitê Internacional da Cruz Vermelha comentou, a 
noção de crime de guerra estava restrita a conflitos armados internacionais52 – e, ao entender 
que a violação de normas que regulam conflitos armados internos acarretam em 
responsabilidade individual, os juízes da apelação no caso Tadić alargaram essa categoria 
para conflitos armados não internacionais. 
Por fim, os julgadores na Seção de Recursos consideraram de forma breve – mas 
muito significativa – a necessidade do vínculo entre crimes contra a humanidade e o 
contexto de um conflito armado. O caput do art. 5º do Estatuto do TPII é claro a respeito 
deste ponto: o tribunal terá competência para julgar “pessoas responsáveis pelos seguintes 
 
49 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1), 
Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafos 79-
85. 
50 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1), 
Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafos 87-
ss e 96-137. 
51 BEST, Geoffrey. War and Law since 1945. Nova York: Oxford University Press, 1997. 
52 GREENWOOD, Christopher. International Humanitarian Law and the Tadic Case. European Journal of 
International Law, v. 7, n. 2, p. 265-283, 1996, p. 280. 
 
 
 27 
crimes, quando cometidos durante um conflito armado, de natureza internacional ou 
interna, e dirigido contra qualquer população civil”.53 
O vínculo entre essa categoria de crime e um conflito armado foi afirmado pela 
primeira vez no Estatuto e nos julgamentos de Nuremberg, no contexto do pós-Segunda 
Guerra. Fazia sentido, para os juristas à época, vincular a noção de crimes que se tinha ao 
contexto em que era entendido como condição de possibilidade da sua existência. Robert 
Jackson, o promotor estadunidense no julgamento em Nuremberg, defendia que os aliados 
só poderiam julgar crimes cometidos pelos nazistas contra sua própria população, caso estes 
tivessem uma conexão com a guerra – do contrário, a narrativa costumeira era de que “os 
assuntos internos de outro governo não são normalmente dos nossos interesses”.54 
De forma oposta, os juízes consideraram que essa limitação exigida no dispositivo não 
refletiria o direito internacional contemporâneo e desconsideraram o disposto no caput do 
referido artigo. Em sua opinião, 
 
[...] [o] costume internacional não pode exigir uma conexão entre crimes contra a 
humanidade e qualquer tipo de conflito. Assim, ao exigir que crimes contra a 
humanidade sejam cometidos em um conflito armado interno ou internacional, o 
Conselho de Segurança pode ter definido o crime no artigo 5º [de forma] mais 
restrita do que o necessário pelo costume internacional.55 
 
O critério para chegarem à essa conclusão foi uma noção do que seria “desumano”. 
Em suas palavras, “o que é desumano e, consequentemente, proscrito, em guerras 
internacionais, não pode deixar de ser desumano e inadmissível em conflitos civis”.56 Tal 
arrazoamento desvincula a noção de justiça penal internacional do contexto político do 
conflito armado interestatal e encontra outro critério que não precisa ser obstaculizado pela 
soberania, os direitos humanos. A qualidade do que é “desumano” não seria restrita a 
critérios exógenos ao próprio antônimo da noção de humanidade. No final, os magistrados 
da Seção de Recursos não entraram em uma discussão detalhada sobre esse dispositivo, ao 
contrário da análise do art. 3º, reiterando que ele não refletiria mais o direito internacional 
contemporâneo.57 
 
53 CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS. Resolução 827 (S/RES/827) 23 de maio de 1993. 
Anexo: Estatuto do Tribunal Penal Internacional. Disponível em: 
<http://www.un.org/Docs/scres/1993/scres93.htm>. Acesso em: 10 de novembro de 2015. 
54 JACKSON, Robert. Minutes of Conference Session of July 23, 1945. Report of Robert H. Jackson, United 
States Representative to the International Conference on Military Trials. Washington: US Government 
Printing Office, 1949, p. 331. 
55 “(…) customary international law may not require a connection between crimes against humanity and any 
conflict at all. Thus, by requiring that crimes against humanity be committed in either internal or 
international armed conflict, the Security Council may have defined the crime in Article 5 more narrowly 
than necessary under customary international law.” (tradução livre) (TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL 
PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1), Decision on the Defence Motion for 
Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafo 141). 
56 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško Tadić (IT-94-1), 
Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995, parágrafo 119. 
57 A jurisprudência que se seguiu tanto no TPII quanto em outras cortes reafirmou a desnecessidade de tal 
vínculo. Essa restrição tampouco consta no art. 7º do Estatuto de Roma relativo a crimes contra a humanidade. 
 
 
 28 
4. Considerações finais 
 
Os tribunais militares em Nuremberg e Tóquio não se desvencilharam do contexto 
pós-guerra em que os vitoriosos constituíam a corte, os perdedores se sentavam em bancos 
de réus e normas eram cristalizadas após fatos. Responder às críticas sobre sua legitimidade 
significaria enfrentar o argumento de “justiça dos vencedores”. O marco fundacional da 
justiça penal internacional se aproximava muito mais da noção de que certos estadistas se 
engajaram em uma guerrailegal, os “crimes contra a paz”, e a partir dessa outros crimes 
deveriam ser julgados. 
Os tribunais ad hoc tampouco foram isentos de críticas sobre sua legitimidade. Os 
juízes do TPII, no entanto, enfrentaram questões polêmicas com uma narrativa em ascensão 
nas últimas décadas do século XX, os direitos humanos. Distanciaram-se da perspectiva 
tradicional soberanista, mais próxima do Estado e cuja principal preocupação era a guerra, e 
quando tiveram que apresentar argumentos convincentes, encontraram nos direitos 
humanos um recurso útil. A existência de crimes internacionais não mais dependia (da 
ilegalidade) da guerra. O caso Tadić marca, na história das decisões de tribunais penais 
internacionais, a aproximação com a linguagem em ascensão dos direitos humanos. 
Ao contrário dos tribunais militares do pós-Segunda Guerra Mundial que não se 
envolveram longamente em desafios à sua legitimidade, é possível visualizar o embate entre 
os dois discursos nas brechas das questões enfrentadas pelos juízes do TPII. O legado da 
decisão em apreço do caso Tadić não é, entretanto, consensual. Por mais que a decisão aqui 
analisada tenha lastro muito mais próximo no léxico dos direitos humanos, o discurso 
soberanista ainda marca diversas outras decisões não apenas do TPII, mas de outras cortes 
internacionais, híbridas e nacionais. Além de jurisprudências concorrentes, o reforço de 
argumentos estatais também está presente em negociações, práticas e discursos estatais que 
recepcionam esse viés liberal com menos entusiasmo. 
 
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TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško 
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TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško 
Tadić (IT-94-1-T), Decision on the Defence Motion on Jurisdiction. J. em: 10 ago. 1995. 
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško 
Tadić (IT-94-1-T), Decision on the Defence Motion for Interlocutory Appeal on 
Jurisdiction. J. em: 02 out. 1995. 
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA. Procurador v. Duško 
Tadić (IT-94-1-T), Response to the Motion of the Defence on the Jurisdiction of the 
 
 
 30 
Tribunal before the Trial Chamber of the International Tribunal, 7 July 1995. D. em: 7 jul. 
1995. 
 
 
Procurador vs. Dražen Erdemović, Julgamento (07 de outubro de 1997) 
 
 
Janaína Rodrigues Valle Gomes 
 
 
1. Introdução 
 
O presente texto se propõe a discutir o julgado do caso Procurador v. Erdemović 
(doravante, “caso Erdemović”) pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII) 
com ênfase no julgamento da Seção de Apelação. Depois de contextualizar o cenário 
histórico e político da instalação do tribunal, o presente artigo efetua uma análise crítica de 
alguns temas abordados em referido julgamento no que tange a regras de interpretação, 
garantias do acusado, institutos como a confissão de culpa e a coação moral, comentando 
também o tema atinente à condenação por crime contra a humanidade. Por fim, admitindo-
se que a instalação do tribunal foi um ato político, propõe-se uma reflexão sobre eventual 
politização da decisão proferida no caso Erdemović e, buscando enfocar a constante 
interação entre o direito internacional e a política, discute-se a contribuição de referido 
julgado para o desenvolvimento do direito humanitário e do direito internacional penal. 
 
2. Da instalação do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia 
 
1991. A então República Federativa Socialista da Iugoslávia, que era composta de seis 
repúblicas (Eslovênia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Montenegro, Macedônia e Sérvia, 
com duas regiões autônomas denominadas Kosovo e Vojvodina) se encontrava em processo 
de dissolução. Após a morte do general Tito em 1981, as amarras do caldeirão de etnias 
existentes naquele país se afrouxaram. As repúblicas buscavam independência, uma onda de 
nacionalismo exacerbado tomou conta da Sérvia e Croácia, disputas étnicas proliferavam, as 
diferentes etnias lutavam pela conquista de seus territórios. Em agosto de 1992, o exército 
Bósnio da Sérvia controlava setenta por cento do território da antiga Iugoslávia e atos de 
assassinatos em massa, torturas, estupro de mulheres e massacres tomaram conta do país e 
um movimento de limpeza étnica. Um conflito interno envolvendo graves violações de 
direitos humanos e direito humanitário, localizado no território europeu, chamava a atenção 
do mundo. Observadores internacionais monitoravam o país. 
Diante de tal quadro, após mal sucedido embargo econômico, em 25 de maio de 1993, 
através da Resolução nº 827 do Conselho de Segurança das Organizações das Nações Unidas 
(ONU), o TPII foi criado para processar e punir os responsáveis pelas sérias violações ao 
direito humanitário ocorridas no território da ex-Iugoslávia entre 01 de janeiro de 1991 e 
uma data a ser determinada pelo Conselho de Segurança da ONU. 
A criação do TPII somente foi possível

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