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História Econômica Geral pt.2

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O historiador e seus fatos 
Edward Carr 
Quem é o autor? 
• Formado em história em Cambridge; 
 
• Trabalhou no Foreign Office e foi editor do Times; 
 
• Crítico do empirismo na história; 
 
• Escreveu uma história da revolução russa em seis 
tomos. 
Que é história? 
 
• Coletânea de conferências proferidas em 
Cambridge, em 1961; 
 
• “O historiador e seus fatos” é uma delas. 
O historiador e seus fatos 
• O que está em jogo com a pergunta “Que é 
história”? O modo de pensar e fazer História – 
exercício de filosofia da história; 
 
• Debate: 
– Lord Acton, em 1896, falava da possibilidade de uma 
história definitiva; 
– George Clark, em 1950, falava da impossibilidade de 
uma história definitiva. 
 
• Se há divergência a pergunta se justifica 
 
O historiador e seus fatos 
• Carr: pergunta reflete posição do historiador no tempo: 
 
– Acton, séc. XIX: positivismo, era vitoriana – “caroço dos fatos” 
• História como conjunto de fatos 
• Tarefa do historiador: “apenas mostrar como realmente aconteceu” 
[wie es eigentlich gewesen] – descrição dos fatos (recepção passiva: 
objeto separado do sujeito); 
 
– Clark, séc. XX: ceticismo, geração beat – “polpa envolvente da 
interpretação discutível 
• História como interpretação dos fatos, mas ainda baseada na 
descrição dos fatos. 
 
• Pergunta certa: qual a visão de sociedade do historiador? 
 
O historiador e seus fatos 
• Carr: história como descrição dos fatos ou 
história como interpretação baseada na descrição 
dos fatos não satisfazem. 
 
• Por quê? Constatação fundamental: porque nem 
todos os fatos do passado são fatos históricos. 
 
• Logo, o que é um fato histórico? O que distingue 
fatos do passado e fatos históricos? 
O historiador e seus fatos 
• Fatos do passado são todos os fatos acontecidos – não 
falam por si. Dependem de sua apresentação: ordem e 
contexto; 
 
• Dependem, portanto, da abordagem dada pelo historiador. 
 
• “O fato é como um saco: só para em pé se puser algo 
dentro” 
– Ex. atravessar o Rubicão é um fato do passado. Quando César 
atravessou o Rubicão, a travessia se tornou um fato histórico 
(porque algum historiador contou assim a história e outros 
historiadores a aceitaram) 
O historiador e seus fatos 
• Carr: a história é um conjunto de fatos selecionados e quem os 
seleciona é o historiador – o historiador e seus fatos. 
 
• “A convicção num núcleo sólido de fatos históricos que existem 
objetiva e independentemente da interpretação do historiador é 
uma falácia absurda” 
 
• Há, portanto, uma transformação do fato do passado em fato 
histórico. 
 
• A tarefa do historiador é descobrir os fatos importantes e descartar 
os insignificantes como não históricos (quanto melhor fizer isso, 
mais convincente será sua história). 
Fatos do passado 
Matéria-prima do 
historiador 
Fatos históricos 
História 
O historiador e seus fatos 
• Como se dá a transformação de fatos do 
passado em fatos históricos? Pelo trabalho do 
historiador e aceitação de sua tese ou 
interpretação por outros historiadores. 
 
• O fato histórico depende, portanto, de um 
problema de interpretação. 
O historiador e seus fatos 
• História como recorte da realidade 
 
• História antiga e medieval: ilusão de termos todos os fatos 
disponíveis sobre o passado. 
 
• Carr: na verdade o que se tem é o retrato feito por um 
pequeno grupo de pessoas da época. 
 
• Barraclough: “a história que nós lemos, embora baseada 
em fatos, não é, para dizer a verdade, absolutamente 
factual, mas uma série de julgamentos aceitos” 
O historiador e seus fatos 
• De onde são extraídos os fatos do passado? De 
documentos, mas os documentos também não falam por 
si; 
 
• O historiador processa e usa esses fatos. 
 
• Seleciona os fatos e os apresenta, e, dependendo da 
recepção, passam a ser aceitos por outros historiadores. 
 
• Fatos e documentos são essenciais ao historiador, mas não 
constituem a história – não se pode acreditar no “fetiche 
dos fatos” 
O historiador e seus fatos 
• Carr: “ A reconstituição do passado na mente 
do historiador está na dependência da 
evidência empírica. Mas não é em si mesma 
um processo empírico e não pode consistir de 
uma mera narração de fatos. Ao contrário, o 
processo de reconstituição governa a seleção 
e interpretação dos fatos: isto, aliás, é o que 
faz deles fatos históricos” 
O historiador e seus fatos 
• Consequências: 
 
– Fatos não chegam puros à mente do historiador: são sempre 
refratados através da mente do registrador – “Estude o historiador 
antes de começar a estudar os fatos” 
 
– Compressão imaginativa dos personagens. O historiador tenta 
entender o que se passava em suas mentes à época 
 
– Visualização e compreensão do passado com olhos do presente. A 
linguagem impede a neutralidade do historiador, ele pertence ao 
presente 
 
– A função do historiador é dominar o passado e entendê-lo como chave 
para a compreensão do presente. 
O historiador e seus fatos 
• A história é o que o historiador faz? Não há 
objetividade na história? Tudo é relativo? 
 
• Carr: falso problema. O historiador deve ter 
compromisso com os fatos [a história não é 
um produto meramente subjetivo da mente 
do historiador] 
O historiador e seus fatos 
 
 
• “O historiador sem seus fatos não tem raízes e 
é inútil; os fatos sem seu historiador são 
mortos e sem significado” 
Os antigos e sua economia 
Moses Finley 
Quem é o autor? 
• Ensinou na Universidade de Columbia (EUA) e 
na Universidade de Cambridge (Inglaterra); 
 
• Na década de 1950, perseguido pelo 
McCarran Committee acusado de comunismo 
(Joseph McCarthy); 
 
• Emigra para a Inglaterra. 
 
 
Quem é o autor? 
 
 
x 
A economia antiga 
• Publicado em 1973 
 
• Resultado de conferências proferidas na 
Universidade da Califórnia, Berkeley, em 
1972; 
 
• Principal livro de Moses Finley 
 
A economia antiga 
• Questiona a análise que aplica as relações econômicas capitalistas 
(cálculo, troca, lucro, etc.) para outras épocas, como a Antigüidade 
 
– Por ex. inadequado estudar preços ou usar o conceito de classe social 
ou ainda de modo de produção escravo para a economia antiga; 
 
• Diálogo com economistas e relações econômicas atemporais – 
economia autônoma de outras relações e controlada pelas forças 
de mercado 
 
• O capitalismo é um produto da história e não resultado de uma 
evolução natural e necessária da sociedade – especificidade dos 
modos de produção; 
 
A economia antiga 
• Finley e Karl Polanyi: 
 
– Em formações não capitalistas a economia está imersa 
(embedded) nas instituições sociais, políticas e 
culturais. 
– A economia não se distingue de outras esferas da vida 
 
• É o caso da economia Antiga – história política, 
social e econômica ao mesmo tempo 
 
 
 
A economia antiga 
• O que é Antigo para Finley: 
 
– Grécia e Roma 
 
 
 
Os antigos e sua economia 
• Antes de Finley (1972), Karl Bücher (1893): 
– Os antigos não tinham o mesmo conceito de economia que temos 
 
– Não fazia sentido para eles falar em trabalho, produção, capital, 
investimento, rendimento, circulação, procura, empresário, utilidade 
do modo abstrato exigido pela análise econômica (pretensamente 
atemporal) 
 
– Os antigos faziam tudo isso, mas não combinavam essas atividades 
particulares conceitualmente numa unidade [ou numa esfera 
específica e autônoma da realidade] 
 
– Então, economia na antigüidade não podia ser só economia (tal como 
no capitalismo)! 
Os antigose sua economia 
• Discussão sobre o próprio conceito de economia 
 
– Sua economia: a economia dos antigos não é o que se 
entende por economia no capitalismo; 
 
– Termos atuais possuíam significados diferentes na 
Antigüidade. Ex. economia = administração da casa; família 
= pessoas sob o domínio do paterfamilias (potestas, 
manus e dominium) 
 
– Economia para Aristóteles (Política): direção dos filhos, da 
esposa e da casa em geral – Ética a Nicômaco 
 
Os antigos e sua economia 
• Até 1750 (séc. XVIII) – economia mais referida à 
política do que às relações econômicas 
propriamente; 
 
• Economia política como riqueza das nações só na 
segunda metade do XVIII 
 
• Economia tout court só no final do XIX, com 
Alfred Marshall 
Economia 
Política 
Religião 
Ética 
Costumes 
Embedded 
Economia 
Religião 
Ética 
Política 
Costumes 
Os antigos e sua economia 
• A má compreensão do conceito de economia 
aplicado à Antiguidade é um erro intelectual ou 
consequência da estrutura da sociedade antiga? 
 
– Para Finley, a economia antiga não tinha um sistema 
econômico formado por um enorme conglomerado de 
mercados independentes 
 
– Assim, não se aplicaria o conceito de economia que 
temos a essa sociedade 
Os antigos e sua economia 
• O conceito de economia (tal como o 
conhecemos) só se aplicaria ao sistema 
capitalista? 
 
– Sim. Porque é preciso considerar sua especificidade 
histórica; 
 
– Ex. Modelos de investimento modernos [lógica da 
acumulação] não se aplicam às preferências dos 
homens que dominavam a sociedade antiga 
[racionalidade não-econômica] 
Os antigos e sua economia 
• Por isso é difícil encontrar dados estatísticos da 
Antiguidade 
 
• Não havia a preocupação em contar, medir – não 
se pode entrar nesse caso no “fetichismo dos 
números” 
 
• Em suma, a análise centrada no mercado não se 
aplica ao mundo antigo (Max Weber, Karl Polanyi, 
etc.) 
Os antigos e sua economia 
• Por que Finley está fazendo essa defesa? 
 
• Porque nem todos concordam com ele e analisam a Antiguidade 
com conceitos modernos 
 
• Ideia de que a economia descreve o comportamento humano 
abstrato e atemporal 
 
• Razão profunda: especificidade da Antiguidade marca 
especificidade do capitalismo – possibilidade de superação 
 
• Para Finley: é preciso procurar conceitos e modelos apropriados à 
economia antiga [e não à nossa economia] 
O modo de produção escravo 
Perry Anderson 
Quem é o autor? 
• Professor de história e sociologia na 
Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA) 
 
• Marxista, new-left 
 
• Foi editor da New Left Review. 
Passagens da antiguidade ao 
feudalismo 
 
• Publicado em 1974 
 
• Prólogo de Linhagens do Estado Absolutista 
 
 
O modo de produção escravo 
• Lógica do estudo: por que se preocupar com o modo 
de produção escravo? 
 
– Marxismo: preocupa-se com a gênese do capitalismo. O 
feudalismo é visto como um tipo de transição para um 
novo modo de produção. 
 
– A gênese do feudalismo resulta do colapso do modo de 
produção escravo (Roma) e dos modos de produção 
primitivos dos invasores germânicos 
 
– A recombinação de seus elementos desintegrados liberou 
a síntese feudal 
O modo de produção escravo 
• Como se deu a desintegração do modo de 
produção escravo? – Pergunta que guia o estudo 
 
• A matriz da civilização do mundo clássico é Grécia 
e Roma. 
 
• Ambas constituíram um universo centralizado 
baseado em cidades (pólis grega e república 
romana) 
O modo de produção escravo 
• NO ENTANTO, avanço inigualável na 
organização social e cultura não tinha 
correspondência na economia urbana 
 
• A riqueza material era extraída 
majoritariamente do campo 
 
• [Marx, FEPC] “O campo produz a cidade” 
O modo de produção escravo 
• A agricultura (milho, azeite, vinho) era o setor 
predominante de produção e fornecia a 
fortuna das cidades 
 
• As cidades eram conglomerados urbanos de 
proprietários de terras 
 
• As mercadorias urbanas eram simples: têxteis, 
móveis e cerâmica 
 
 
O modo de produção escravo 
• As cidades greco-romanas e a geografia: 
 
– As cidades greco-romanas eram costeiras. Isso foi 
fundamental porque viabilizou o comércio de média e 
longa distância via transporte marítimo; 
 
– O mar era o meio de comunicação e comércio que 
possibilitava o crescimento da concentração de pessoas e a 
sofisticação das cidades, diferente do interior rural 
 
– A posição geográfica da Antiguidade clássica às margens 
do Mediterrâneo (Braudel) não pode ser negligenciada: 
velocidade do transporte marítimo. 
 
 
O modo de produção escravo 
• O modo de produção escravo foi uma invenção 
decisiva do mundo greco-romano, que constituiu 
a base de suas realizações e de seu ocaso; 
 
• Escravidão não era novidade na Antiguidade. A 
originalidade grega é que a escravidão passa a ser 
predominante como modo de produção 
 
• Isto é, escravidão maciça e generalizada entre 
outros sistemas de trabalho. 
 
O modo de produção escravo 
• Embora, como adverte Finley, o mundo helênico 
também contasse com o trabalho de camponeses 
livres, artesãos urbanos e rendeiros 
independentes 
 
• O modo de produção dominante na Grécia 
clássica e em Roma foi a escravidão 
 
– Grécia V a IV a.C 
– Roma II a.C a II d.C 
 
O modo de produção escravo 
• Cidades e escravidão caminhavam juntas. Na Grécia 
clássica, escravos empregados em atividades 
artesanais, serviços domésticos (cidades) e agricultura 
(campo). 
 
• Escravidão e liberdade são dois polos indivisíveis. A 
escravidão eleva a cidadania grega ao máximo da 
liberdade jurídica consciente 
 
– Surgem as noções de cidadania livre e propriedade servil 
que não existiam na escravidão do Oriente ou em outras 
experiências da Antiguidade (tb originalidade grega) 
 
O modo de produção escravo 
• A escravidão permite vida urbana baseada numa economia 
rural, porque libera os proprietários de terra da produção e 
assim podem viver nas cidades; 
 
• Permite uma disjunção permanente entre a residência e o 
rendimento. 
 
• A escravidão é, ao mesmo tempo, degradação do trabalho 
rural e comercialização urbana de trabalho. 
 
• Esses dois aspectos paradoxais colocam a escravidão 
colocam a escravidão na base da cidade e a liga ao campo, 
em desmedido benefício para a cidade. 
 
 
 
O modo de produção escravo 
• Qual era o preço a pagar por esse esquema? Alto. Apesar de 
melhoramentos técnicos, havia uma tendência à estagnação da 
produtividade na agricultura e na produção em geral 
 
• Claro descompasso entre o avanço cultural da cidade e a baixa 
produtividade do campo explicado pela escravidão. 
 
• O trabalho escravo dita o ritmo (lento) da economia e do trabalho 
livre. 
 
– Além disso, trabalho material associado à perda de liberdade, 
dissociado de qualquer valor humano e não essencial ao ser humano. 
 
 
 
O modo de produção escravo 
• Por isso, a expansão do mundo clássico, da 
Antiguidade, não se dava pela economia 
[aumento de produção], mas pela geografia: com 
uma expansão tipicamente colonial. 
 
• Três grandes ciclos de expansão na Antiguidade 
com base numa civilização urbana: ateniense, 
macedônico e romano. 
 
• Limite da expansão territorial, limite do modo de 
produção escravo. 
 
 
 
O modo de produção feudal 
In: Passagens da Antiguidade ao 
Feudalismo 
 
Perry Anderson 
O modo de produção feudal 
• O modo de produção feudal surgiu na Europa 
Ocidental. 
 
• Regido pela terra e por uma economia natural na qual 
nem otrabalho nem o produto do trabalho eram bens 
[mercadorias] 
 
• O camponês estava ligado à terra [meio de produção] 
por uma relação social específica: a servidão 
 
• A propriedade da terra era do senhor feudal. 
O modo de produção feudal 
• O senhor feudal extraía um excedente de produção do 
camponês. 
 
• Como? Por meio de uma relação político-legal de coação: 
 
– Serviços; 
– Arrendamento em espécie; 
– Obrigações consuetudinárias. 
 
• Havia no feudo terras senhoriais e terras de arrendamento. 
A coação era exercida em ambas – amálgama de 
exploração econômica e autoridade política. 
O modo de produção feudal 
• De onde vem a propriedade do senhor feudal? 
 
– A propriedade da terra era concedida por um nobre 
superior (suserano), a quem o senhor feudal (vassalo) 
ficava devendo serviços de cavalaria [militares] 
 
• Assim, um senhor feudal poderia ser vassalo de 
outro (suserano) e no limite do sistema estaria o 
rei, dono de todas as terras e, em última 
instância, emitente do domínio sobre elas. 
O modo de produção feudal 
• No feudalismo, havia um complexo sistema de relações sociais e políticas: 
 
– Entre os senhores e o monarca, havia relações intermediárias: castelania, 
baronato, condado e principado. 
 
• Consequência desse sistema: as funções de Estado ficavam desagregadas 
com relações econômicas e políticas integradas em cada nível. 
 
• A soberania política estava dividida entre os feudos e não concentrada no 
rei. 
 
• A parcelarização da soberania seria constitutiva do modo de produção 
feudal. 
O modo de produção feudal 
• Decorrem da parcelarização da soberania: 
 
– 1) Nos interstícios dos feudos, havia terras comunais 
(pastos, campos, florestas) e lotes alodiais (sem 
encargos), embora os senhores feudais tentassem 
colocar em prática o nulle terre sans seigneur. 
 
– Por que isso é importante, para Anderson? Porque 
eram espaços de autonomia e resistência camponesa, 
com consequências importantes para a produtividade 
agrícola. 
O modo de produção feudal 
– 2) A parcelarização da autonomia produz o fenômeno das 
cidades medievais na Europa Ocidental. 
 
– O modo de produção feudal foi o primeiro a permitir um 
desenvolvimento autônomo da produção de bens de 
consumo urbano dentro de uma economia agrária natural; 
 
• Na Antiguidade: cidades baseadas na propriedade senhorial e 
agricultura 
 
• Na Idade Média: o campo começa como local da história até o 
desenvolvimento da oposição entre campo e cidade. 
 
– “a história moderna é a urbanização do campo e não como entre os 
antigos, a ruralização da cidade” [Marx, FEPC] 
 
 
O modo de produção feudal 
– Assim, uma oposição dinâmica entre campo e 
cidade só foi possível no modo de produção 
feudal. Mas preponderava a economia rural. 
 
• Economia urbana: comércio de bens, controlado por 
mercadores e organizado em associações e corporações 
 
• Economia rural: troca natural, controlada por nobres e 
organizada em terras senhoriais e pequenas 
propriedades. 
O modo de produção feudal 
– 3) A parcelarização da soberania fazia com que o monarca estivesse ligado aos 
vassalos por laços de feudalidade e não se apresentasse como um soberano 
supremo colocado acima de seus súditos; 
 
– Nessa forma de governo, o poder político abaixo do monarca era de tal forma 
fragmentado que o monarca não detinha autoridade separada de seus 
vassalos [ou plenipotenciária] – ameaça e instabilidade permanente para o 
monarca. 
 
– Contradição entre a parcelarização da soberania e a exigência de um centro 
final de autoridade para promover uma recomposição: Estado centrífugo. 
 
– Além disso, não é possível constituir um Estado com burocracia (para 
aplicação de leis – as leis são tradicionais [consuetudinárias] 
 
– Dada a dispersão do poder feudal, a Igreja se torna um poder autônomo cuja 
fonte de autoridade era o domínio sobre as crenças e valores das pessoas. 
Introdução de História Econômica e 
Social da Idade Média, 1973 
Henri Pirenne 
Henri Pirenne 
• Belga, 1862-1935 
 
• Especialista em Idade Média: renascimento do 
comércio e modelo de desenvolvimento de 
cidades medievais 
 
• “Teses de Pirenne” 
 
• Inspirou Annales, história econômica e social 
 
 
Introdução 
• Por que Pirenne estuda a Idade Média? 
– Para compreender o renascimento comercial europeu no 
século XI. 
 
• Séc. V, após a queda do império romano, os reinos 
bárbaros mantêm o caráter mediterrâneo da antiga 
civilização 
 
• Pirenne: relações econômicas do Ocidente com o 
Oriente (Império Bizantino) devem ser vistas como 
prolongamento da Antiguidade [continuidade]. 
 
Introdução 
• Só que: ascensão do islã no séc. VII e fechamento 
do Mediterrâneo (Mare nostrum) para o 
comércio 
 
• Pirenne: o equilíbrio econômico da Antiguidade 
sobreviveu às invasões bárbaras, mas não à 
invasão do islã. 
 
• Divisão religiosa: cristãos do Ocidente (cruz) x 
islâmicos do Oriente (crescente) 
 
 
X 
Introdução 
• Os islâmicos dominaram o Mediterrâneo e a 
costa da Europa. 
 
• No interior, Carlos Magno e império 
continental – sem força para retomar o mar 
dos islâmicos 
 
• Disso surge a ordem econômica da Baixa 
Idade Média (séc. VIII a XV) 
 
 
x 
Introdução 
• A partir do séc. VIII, regressão do caráter comercial ao caráter 
agrícola da Europa Ocidental. 
 
• A terra é novamente a única fonte de subsistência e riqueza. 
 
• Toda existência social fundava-se na propriedade da terra – poder 
ligado à terra (feudo) – impossibilidade de manter sistema militar: 
desintegração da soberania do monarca. 
 
• Pirenne: “o aparecimento do Feudalismo, na Europa Ocidental, no 
decorrer do século IX, nada mais é do que a repercussão, na ordem 
política, do retorno da sociedade a uma civilização puramente 
rural”. 
Introdução 
• Do séc. IX ao XI, o Ocidente permanece bloqueado em 
função dos conflitos entre cristãos e islâmicos [bloqueio da 
navegação = bloqueio do comércio] – navegação, com 
muita dificuldade, apenas para peregrinos 
 
• Declínio do comércio significou também declínio das 
cidades. 
 
• As cidades perderam significado econômico e manifestou-
se um empobrecimento geral na Europa Ocidental - 
rompimento com a economia antiga ou mediterrânea 
 
• Carlos Magno e retrocesso econômico 
 
 
Introdução 
• O latifúndio é o fenômeno econômico característico do feudalismo 
(civilização rural) 
 
– No entanto, o latifúndio não era novidade (existia na Antiguidade), 
mas seu funcionamento nesse período foi uma inovação. 
 
• Na Antiguidade, com cidades e comércio, o latifúndio tem relação com o 
exterior [economia aberta] 
• Na Idade Média, sem cidades e comércio, o latifúndio se fecha [economia 
fechada] - feudo 
 
• Pirenne: “o latifúndio não se adaptou a essa situação por livre 
escolha, mas por necessidade. Deixou de vender não tanto porque 
não quisesse vender, mas porque não passavam compradores a seu 
alcance”. 
 
 
Introdução 
• Sem comércio não quer dizer que não existisse 
qualquer comércio: havia comércio ocasional 
 
– Realizado por necessidade (condições climáticas ou busca 
por produtos específicos, como o sal) 
– Não constituía atividade profissional – era feito por servos 
(“mercadores improvisados”) – não havia mercador 
– Exceção: judeus – vendem para a aristocracia, mas público 
muito restrito 
 
• Pirenne: atividade comercial secundária na Idade 
Média 
 
 
Introdução 
• Ao mesmo tempo, surgem novos mercados no 
início do século IX. Contradição? 
 
• Não. Por serem muitos, são mercados pequenos, 
insignificantes [por não serem integrados]– 
maior deles: feira de Saint-Denys 
 
• Serviam para troca do necessário ou do 
excedente e diversão – sociabilidade para quem 
vivia imobilizado na terra. 
 
Introdução 
• A sociedade a partir do séc. IX: 
 
– Proprietários de terra (senhores – eclesiásticos e 
nobres): tempo, liberdade e poder 
– Não proprietários de terra (camponeses – servos ou 
rendeiros) 
 
• A servidão é a condição social mais comum: gera, 
ao mesmo tempo, proteção pelo senhor e 
dependência e exploração. 
 
 
Introdução 
• A igreja estava no topo da hierarquia social. Por quê? 
 
– Ascendência moral 
 
– Ascendência cultural: instrução, leitura e escrita – fornece 
quadro para reis e príncipes (chanceleres, secretários e 
notários) e influencia a arte. 
 
– Ascendência econômica: proprietária de terras e recursos 
monetários via doações 
 
• Predomina o “espírito” da igreja na Idade Média. 
 
 
Queda dos anjos, Peter Bruegel, o velho 
Hyeronimus Bosch, Jardim das delícias, Museu do Prado 
Painel central da Catedral de Siena, Itália 
Nossa Senhora e criança, Berlinghiero 
N
o
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Se
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h
ar
tr
es
 
Pietás 
Catedral de Exeter, sul da Inglaterra 
Introdução 
• Trabalho: “a finalidade do trabalho não é enriquecer, mas conservar-se na 
condição em que cada um nasceu, até que, desta vida mortal, passe à vida eterna” 
 
– [Muito diferente da ideia de trabalho no capitalismo. Trabalho = mercadoria = salário = 
consumo] 
 
• Riqueza: procurar a riqueza era cair no pecado. 
 
– [Muito diferente da ideia de riqueza no capitalismo. Riqueza = poder = reconhecimento social] 
 
• Usura e comércio para acumulação de dinheiro condenados pelos tribunais 
eclesiásticos 
 
– No entanto, prática da própria igreja diferente da pregação. Não obstante, a igreja só aceitará, 
sem reservas, a legitimidade do lucro comercial, da valorização do capital e dos empréstimos a 
juros com renascimento econômico posterior. 
 
 
 
O renascimento do comércio. In: 
As cidades da Idade Média, 1977 
Henri Pirenne 
O renascimento do comércio 
• Fim do séc. IX na Europa – auge da crise econômica e social; 
 
• Séc. X 
– Estabilização econômica 
 
• Esforço para melhorar a vida do povo 
 
– Relativa paz 
 
• Necessidade de paz 
 
• Reunião do cristianismo contra o islamismo: Cruzadas (1096) e expulsão dos islâmicos da Espanha (fim 
em 1492) 
 
– Expansão demográfica 
 
• Ocupação e ampliação da área de cultivo até o séc. XIII [proxy para deduzir estabilização] 
 
• Aumento da população como causa e efeito da melhora econômica, do “renascimento econômico” 
O renascimento do comércio 
 
• “Renascimento econômico” vinculado à 
reabertura do Mediterrâneo ao comércio 
 
• Veneza (S) e Flandres (N) são expressão da 
vitalidade das cidades comerciais 
O renascimento do comércio 
• Veneza 
– Posição geográfica privilegiada e ligação com 
Constantinopla 
 
• Eixo comercial entre Ocidente e Oriente – cidades italianas 
costeiras do S e do N seguem Veneza – expulsão dos islâmicos 
 
• Misticismo e riqueza – soldados de Cristo e navegação 
 
– Mercadores cuja religião eram os negócios 
 
• “pouco lhes importa que os muçulmanos sejam inimigos de Cristo, 
se o comércio com eles pode ser proveitoso” 
 
 
Canaletto 
O renascimento do comércio 
• Recuo do islamismo a partir do séc. XI: o 
Mediterrâneo é reaberto ao comércio 
 
• Para Pirenne, a principal conquista dos 
cristãos foi a expansão do comércio – ela 
possibilitou ressurgimento e revigoramento 
das cidades 
O renascimento do comércio 
• Flandres 
– Feira comercial. 
 
– Os comerciantes do S chegam à costa de Flandres, 
que se torna eixo comercial entre o S e o N da 
Europa 
 
 
 
Bruges 
Castelo dos Condes de Flandres (Ghent) 
O renascimento do comércio 
• Integração econômica em marcha desde o 
séc. XI. 
 
• No séc. XII, transformação definitiva da 
Europa Ocidental – comércio e indústria agem 
sobre a agricultura 
 
– Como? Produção para o mercado 
 
 
 
O renascimento do comércio 
• O campo volta a se orientar para as cidades 
[como na Antiguidade] 
 
– Cidade na Antiguidade – política 
– Cidade na Idade Média - economia 
 
• O renascimento das cidades estabelece a divisão 
do trabalho entre campo e cidade 
 
– As cidades fornecem produtos manufaturados ao 
campo. O campo abastece as cidades com alimentos. 
 
 
 
O renascimento do comércio 
• Pirenne: “a vida física do burguês depende do 
camponês, mas a vida social do camponês depende do 
burguês” 
 
– A cidade estabelece o padrão de vida desejado – visto 
como progresso social 
 
• “a expansão comercial que começou pelos dois pontos 
graças aos quais a Europa se encontrava em contato 
através de Veneza e Flandres com o mundo Oriental 
espalhou-se como uma epidemia benfazeja por todo o 
continente” 
 
 
 
O renascimento do comércio 
• Outro aspecto muito importante do 
renascimento das cidades (em Pirenne): o 
trabalho deixa de ser servil (a pessoa não está 
mais ligada à terra) e passa a ser livre 
 
• Pirenne: “o renascimento econômico de que o 
século XII viu a expansão revelou o poder do 
capital” 
 
 
 
A influência das cidades na 
civilização europeia. In: As cidades 
da Idade Média 
 
Henri Pirenne 
A influência das cidades na civilização 
europeia 
• O renascimento das cidades marca uma novidade na 
história da Europa Ocidental: o surgimento da burguesia 
 
• A burguesia dividiu o topo da hierarquia social com o clero 
e a nobreza até o fim do Antigo Regime – passou a dividir 
também privilégios 
 
– Parte da burguesia viveu de monopólios e teve espírito de 
“casta” (defesa e ampliação dos privilégios) 
 
– Ao mesmo tempo, parte da burguesia se encarregou de 
promover a liberdade [de iniciativa] 
A influência das cidades na civilização 
europeia 
• Com pequenas cidades e pequenos mercados 
 
– A formação das cidades alterou a organização econômica no 
campo. Por quê? Produção apenas para subsistência, o senhor 
não tem estímulo para ampliar a produção, embora tivesse 
meios (terra) para fazê-lo - feudalismo 
 
• Com crescimento das cidades a partir do século XI 
 
– Crescem os mercados e eles estimulam a produção no campo: 
comércio. Áreas desocupadas (bosques, florestas, pastos, etc.) 
tornam-se produtivas por produção direta do senhor ou 
arrendamento (carnes e vegetais em maior escala) 
A influência das cidades na civilização 
europeia 
• As cidades são fundadas por senhores laicos ou 
eclesiásticos. 
 
• Mas são cidades livres [diferente do feudo], 
porque as pessoas que recebem as terras não 
têm obrigações servis com o senhor – são 
camponeses livres (burgueses rurais) [diferente 
dos servos] 
 
• Por que são livres? Por causa da demanda 
econômica gerada pelo surgimento das cidades. 
A influência das cidades na civilização 
europeia 
• Cidades, comércio e liberdade transformaram os 
domínios em vias de desaparecer 
 
– já não era preciso ser domínio autossuficiente, pois o 
comércio nas cidades atendia às necessidades 
 
• O comércio e a economia urbana desmontaram o 
antigo sistema senhorial (senhor proprietário do servo) 
 
– Libertação das classes rurais, desprendimento do homem 
do solo – aparecimento de uma burguesia rural 
A influência das cidades na civilização 
europeia 
• No feudalismo 
 
– Ou senhor/ proprietário de terra ou servo/ não 
proprietário – a terra era a riqueza 
 
• Nascidades 
 
– Burgueses não eram proprietários de terra 
[arrendatários], mas podiam enriquecer produzindo 
valores de troca – classe de homens livres e em 
ascensão [mobilidade] 
A influência das cidades na civilização 
europeia 
• Nova concepção de riqueza com o comércio e o 
desenvolvimento das trocas monetárias: 
 
– Riqueza mercantil (dinheiro e mercadorias) [capital 
mobiliário] ao lado da terra [capital imobiliário] 
 
– Capital mobiliário: poder econômico e político para a 
burguesia 
 
– Capital imobiliário: poder econômico e político na 
nobreza e no clero 
A influência das cidades na civilização 
europeia 
• Consequências da nova riqueza: 
 
– Aumento de preços e desenvolvimento do crédito 
• Proprietários de terra que não se adaptaram à nova situação recorriam a empréstimos 
com mercadores [mudança social] – séc. XII em diante – [banqueiros italianos do séc. 
XIII] 
 
– Reflexo na administração do Estado 
• Agentes administrativos pagos [bailio] – inovação política e transformação da suserania 
em soberania – processo de formação do Estado com ajuda do financiamento da 
burguesia 
 
– Movimento cultural 
• Educação de burgueses e idiomas nacionais. O clero perde exclusividade na instrução 
 
– Parte espírito laico (Renascimento) 
– Parte misticismo (Reforma) 
 
O capitalismo. In: A evolução do 
capitalismo, 1947 
Maurice Dobb 
Maurice Dobb 
• Professor de economia em Cambridge 
 
• Studies in the Development of Capitalism, título 
original do livro 
 
• Teorias do valor e distribuição desde Adam Smith, 
1973 
 
• Análise marxista 
Pergunta-chave: 
o que é o 
capitalismo? 
 
1. Para alguns economistas, o termo 
capitalismo não faz sentido 
 
• Economistas usam pouco o termo, aparece pouco na teoria 
econômica. Por quê? 
 
– Abordagem teórica ahistórica da economia. 
 
– Conceitos econômicos (produção, troca, preço, etc.) tomados 
como naturais: universais e atemporais 
 
– Mercado (abstrato) x Mercado na Europa Ocidental no séc. IX 
(concreto) 
 
– Economia como ordem natural 
 
 
2. Dinâmica da história, para Dobb 
• Sistemas econômicos distintos no decorrer da 
história 
 
– Para Dobb, há divisões claras entre os sistemas 
econômicos na história. 
 
– Cada período histórico é moldado sob a influência 
predominante de uma forma econômica única, mais 
ou menos homogênea, e deve ser caracterizado de 
acordo com natureza desse tipo predominante de 
relação social e econômica. 
O capitalismo 
– O importante seria detectar o estágio em que uma 
forma de organização nova, que vai brotando dentro 
da forma de organização atual, atinge uma magnitude 
suficiente para marcar o todo da sociedade e apontar 
a tendência do desenvolvimento. 
 
– Por exemplo, os elementos que surgem na sociedade 
feudal e que vão desestruturando aquela sociedade e 
apontando o desenvolvimento em direção a um novo 
sistema econômico 
O capitalismo 
– É certo que o processo de modificação histórica é 
gradual e contínuo, mas na concepção do 
desenvolvimento dividido em períodos ou épocas, 
cada uma caracterizada por um sistema econômico 
diferente, é que há pontos decisivos no 
desenvolvimento econômico nos quais o ritmo dos 
acontecimentos se acelera e a continuidade é 
rompida. 
 
– Que pontos são esses? Revoluções sociais que 
marcam a transição de um velho sistema para um 
novo. O desenvolvimento seria caracterizado por 
revoluções contínuas. 
3. Para Dobb, Capitalismo como etapa 
histórica 
 
• O uso do termo define uma etapa histórica, 
isto é, localizada no tempo e no espaço e 
constituída como processo histórico (dinâmica 
no tempo e no espaço) – análise historicizada 
da economia 
 
– Economia como construção 
 
 
4. Mas o que é o capitalismo? Qual o 
significado do termo? 
 
• Não há definição única – diferentes significados 
atribuídos ao termo 
 
– Por que isso é relevante? Por que a interpretação 
histórica dependerá do significado dado ao termo 
 
– Necessidade de definir capitalismo (daí o primeiro 
capítulo do livro que tratará do desenvolvimento do 
capitalismo) 
 
 
 
O capitalismo 
• Três concepções que não valem a pena, na avaliação de Dobb 
 
– 1) Uso do termo capital ou capitalista num sentido puramente técnico 
relacionado à produção – “capitalismo desde sempre” – período amplo 
 
– 2) Concepção do capitalismo como uma economia de concorrência livre e 
justa pelo lucro e que oferece oportunidade de trabalho para todos – 
“capitalismo idealizado” – nem existiu 
 
– 3) Capitalismo como um sistema de livre empresa (individual) em 
contraposição a qualquer tipo de controle estatal – “capitalismo em período 
restrito” – Inglaterra e EUA no início do XIX 
 
• Não valem a pena porque estendem ou restringem demais o período 
caracterizado como “capitalismo” 
O capitalismo 
• Três concepções que valem a pena, na avaliação de Dobb 
 
– 1) O capitalismo seria caracterizado por um espírito (geist) inspirador 
da vida num período histórico que combina o espírito do 
empreendimento (de aventura) com o espírito burguês (de prudência 
e racionalidade). A acumulação do capital é a principal razão da 
atividade econômica e as pessoas, numa atitude racional e calculada, 
subordinam todos os outros aspectos da sociedade a esse fim, 
provocando evidentemente uma reviravolta nos valores da vida. 
 
– Essa é a caracterização de Werner Sombart. É a mesma linha seguida 
por Max Weber, que caracteriza o capitalismo pela busca racional e 
sistemática do lucro. A essência do capitalismo é o espírito. 
 
– [crítica de Dobb: se o espírito capitalista precede o capitalismo, se a 
ideia precede a prática, o que o originou?]. 
O capitalismo 
• Três concepções que valem a pena, na avaliação de 
Dobb 
 
– 2) Pirenne: O capitalismo identificado com a organização 
da produção para um mercado distante, isto é, capitalismo 
definido como sistema comercial em que o objetivo da 
produção é a venda no mercado com vistas à obtenção de 
lucro. A essência do capitalismo está nas trocas com 
objetivo de ganho. 
 
– [crítica de Dobb: se a peculiaridade do capitalismo é o 
mercado, a troca e o lucro, ele pode ter estado presente na 
maior parte da história]. 
O capitalismo 
• Três concepções que valem a pena, na avaliação de Dobb 
 
– 3) Marx: O capitalismo é identificado com a transformação da capacidade de trabalho em 
mercadoria. A pré-condição histórica para isso seria a concentração da propriedade. 
 
– Por que isso é tão importante? A transformação do trabalho em mercadoria permite ao capital 
sujeitar o trabalho à criação de mais-valia no processo de produção. Não basta o espírito, não 
basta a expansão do mercado. A condição necessária e suficiente para definir o capitalismo é 
a extração de mais-valia do trabalho (teoria do valor-trabalho). 
 
– E Dobb escolhe a terceira definição para guiar sua análise do desenvolvimento: “não 
pretendemos aqui debater os méritos das definições rivais, mas simplesmente tornar claro 
que nos ensaios seguintes será no último desses três sentidos que empregaremos o termo 
capitalismo” (p.18). 
 
– Por que usar essa definição? Porque, segundo Dobb, ela é capaz de explicar o processo real de 
desenvolvimento histórico. 
5. Início do capitalismo na história 
• Historicamente, quando começa o capitalismo? 
 
– Século XII, com a expansão do comércio? 
 
– Século XVI, com a reforma e o surgimento de um 
“espírito capitalista” (95 teses em 31 de outubro de 
1517)? 
 
– Século XVIII, com a revolução industrial? 
 
O capitalismo 
• A periodização depende da definição de capitalismo. 
 
• Para Dobb, os elementos da mudançasurgem na 
Inglaterra, metade do século XVI e início do XVII, 
quando o capital começa a penetrar na produção em 
escala considerável. 
 
• No século XVII intensifica-se com a revolução inglesa 
de 1640 (luta contra o monopólio, cercamentos) e, no 
XVIII, com a revolução industrial (produção em massa, 
trabalho assalariado). 
 
Surgimento do capitalismo 
• “O capital começou a penetrar na produção 
em escala considerável, seja na forma de uma 
relação bem amadurecida entre capitalista e 
assalariados, seja na forma menos 
desenvolvida da subordinação dos artesãos 
domésticos, que trabalhavam em seus 
próprios lares, a um capitalista, própria do 
assim chamado ‘sistema de encomendas 
domiciliar’” (15); 
 
O capitalismo 
• O capitalismo não surge logo após o colapso do feudalismo. 
 
• Transição: “um equilíbrio de elementos discretos, inerentemente instáveis” – 
Ainda não há relação econômica e social predominante 
 
• As mudanças são dadas pela estrutura das classes sociais 
 
– Os interesses das classes estão relacionados à “maneira de extrair e distribuir os frutos do 
trabalho excedente, além e acima do trabalho que vai suprir o consumo do produtor efetivo” 
 
– No capitalismo o excedente se dá pela extração da mais-valia, a qual depende da compra e 
venda da força de trabalho, num sistema baseado em aumentos de produtividade 
 
• Na transição de um sistema para outro, novas forças produtivas e potencialidades econômicas 
reduzem o poder da classe dominante e uma nova classe dominante ligada às transformações surge 
e afirma seu poder. 
 
 
 
 
 
O capitalismo 
• Para terminar, Dobb justifica a análise do desenvolvimento 
de uma economia especificamente capitalista para: 
 
– desmistificar seu caráter natural; 
 
– que a troca se dá entre equivalentes; 
 
– que o proprietário contribui tanto quanto o trabalhador para o 
processo de produção; 
 
– e para mostrar que a essência do capitalismo é a forma 
particular com que uma classe de proprietários com poder e 
privilégios econômicos se apropria do trabalho excedente de 
uma classe de não-proprietários. 
O declínio do feudalismo e o 
crescimento das cidades. In: A 
evolução do capitalismo, 1963 
 
Maurice Dobb 
O declínio do feudalismo 
• A definição de feudalismo é fundamental para estabelecer uma 
periodização [assim como a definição de capitalismo] e isso depende da 
análise do historiador 
 
– Critica definição de feudalismo como economia natural em oposição à 
economia de troca (Pokrovsky, Schmoller) 
 
• Feudalismo para Dobb: modo de produção baseado 
 
– na relação entre o produtor direto [camponês na terra ou artesão na oficina] e 
seu superior imediato, o senhor, 
 
– na obrigação [pela força e independente da vontade do produtor direto] que o 
une ao senhor [servidão]. 
 
• Força coercitiva: militar ou costume 
• MDP = servidão [relação de trabalho] – essência da definição de Dobb (Marx) 
O declínio do feudalismo 
• MDP escravo [escravidão], MDP feudal [servidão]. Qual a diferença entre 
escravidão e servidão? 
 
– Na servidão, o vínculo entre produtor e senhor se dá pela terra e não pela 
compra/conquista, como na escravidão. O camponês/servo tem a posse da 
terra, embora não tenha sua propriedade. 
 
– O que há de comum é a coerção e privação de liberdade. 
 
• Qual a diferença entre servidão e trabalho assalariado? 
 
– No trabalho assalariado, há separação do trabalhador do meio de produção e 
liberdade formal para trocar de patrão, a relação de obrigação é, portanto, 
contratual. 
– Na servidão, a subsistência é derivada da produção na terra. No trabalho 
assalariado, derivada do salário. 
 
 
O declínio do feudalismo 
• Como era a produção servil? 
 
– Na historiografia, produção servil caracterizada por 
baixo nível técnico, pequena divisão do trabalho, 
produção para atender necessidade local e 
descentralização política 
 
– Para Dobb: características variavam de lugar para 
lugar 
 
• Questionamentos à historiografia 
 
 
O declínio do feudalismo 
• Dobb [como Pirenne]: o renascimento do comércio 
produz “efeito perturbador sobre a sociedade feudal” 
[comerciante, troca, dinheiro – “solvente destruidor do 
poder senhorial” – interdependência de mercados – 
em oposição à subsistência 
 
• Questão de Dobb: a ligação entre o renascimento do 
comércio e o declínio do feudalismo era tão simples e 
direta como se afirmava? A ampliação do mercado 
teria sido condição suficiente para o declínio do 
feudalismo? 
O declínio do feudalismo 
• Por que Dobb questiona? 
 
– Havia economia de troca e dinheiro em partes da Europa e nem por isso o 
feudalismo se desestruturou – [expansão do comércio compatível com 
servidão] 
 
• Para Dobb, o que teria provocado então o declínio do feudalismo? 
 
– As próprias forças internas do feudalismo, isto é, “a ineficiência do feudalismo 
como sistema de produção” e as “necessidades crescentes de renda por parte 
da classe dominante” 
 
– Crescimento dos mercados urbanos e do comércio no séc. XIII intensificou a 
pressão sobre os camponeses para aumentar a produção e gerar excedente 
para a troca – hipótese tão bem fundamentada quanto o renascimento do 
comércio {Engels: “segunda servidão” no final do séc. XV]. 
 
 
O declínio do feudalismo 
• “A interpretação tradicional carece claramente de 
uma análise das relações internas do feudalismo 
como um modo de produção e da parte por elas 
desempenhada na determinação da 
desintegração ou sobrevivência do sistema” 
 
• A mudança para um novo modo de produção não 
depende de fatores externos, mas de fatores 
internos do antigo modo de produção. 
 
O declínio do feudalismo 
• Como se dá o declínio do feudalismo 
motivado por fatores internos? 
 
– Busca de produção de excedente para a troca 
 
• Aumento da exploração do trabalho (servo, camponês 
ou livre) – deveres, subenfeudação*, pilhagens, 
cruzadas 
 
– Exaustão da força de trabalho e emigração ilegal das 
propriedades senhoriais – burgos – crises dos sécs. XIV e XV 
O declínio do feudalismo 
• Esse processo provocou escassez de mão de obra 
 
– Aumento demográfico e da área cultivada nos sécs. XII 
e XIII amenizam o problema em algumas regiões 
– Séc. XIV, retração do crescimento demográfico: fome, 
peste e guerras 
– Competição entre senhores por servos [captura de 
fugitivos e atração de servos] 
 
• E uma “reação feudal” [não uniforme em 
diferentes regiões da Europa] 
O declínio do feudalismo 
• Reação feudal: servidão, arrendamento ou 
assalariamento? 
 
• Dobb: havia, na verdade, uma combinação de relações de 
trabalho 
 
• A escolha dependia do preço do trabalho em função 
de sua abundância ou escassez – essa consideração 
 
– “deve ter prevalecido onde a preocupação da economia 
feudal era produzir para um mercado e não apenas prover 
diretamente a casa senhorial” (p.63) 
 
O declínio do feudalismo 
• Condições para o arrendamento: 
 
– Custos administrativos, instabilidade de preços no 
mercado dos produtos cultivados, camponeses 
demandando terras para cultivo 
 
• Condições para o assalariamento: 
 
– Oferta de mão de obra, produtividade do trabalho 
assalariado maior do que seu custo 
O declínio do feudalismo 
• Arrendamento e assalariamento foram efeitos da 
expansão comercial. Contudo, o que estimulou 
essas relações de trabalho foi a crescente 
diferenciação social e econômica entre os 
próprios camponeses-agricultores 
 
– > produtividade do solo, > lucro 
 
• Camponeses mais produtivos acumulam com o comércio 
local e ampliação do mercado, e subordinam os menos 
produtivos adquirindo mais terras 
O declíniodo feudalismo 
• Advertência! Arrendamento e assalariamento não significam 
substituição da servidão por uma relação contratual livre entre 
proprietário da terra e cultivador 
 
– Havia diferentes relações de trabalho entre a servidão e o 
assalariamento [em que se mantinham encargos feudais] 
 
– Permanecia a obrigatoriedade do pagamento de tributos ao senhor 
mesmo com arrendamento e assalariamento [ideia de processo] 
 
• Terra disponível, MDO abundante e trabalho barato incentivam a comutação. 
 
• Apesar do encarecimento do trabalho no séc. XIV [peste negra], a comutação 
[do trabalho em troca de serviços por trabalho em troca de dinheiro] era uma 
tendência “que iria operar com força muito maior no século XV” (p.74) 
 
 
 
O declínio do feudalismo 
• Final do séc. XV – enfraquecimento e desintegração da 
ordem feudal 
 
– Revolta de camponeses (fuga para florestas ou cidades para 
trabalhar como artesãos ou jornaleiros) 
– Nobreza dividida [competição por MDO] e proprietários 
menores em maior crise 
– Mercadores e camponeses comprando terras e mercadores 
emprestando dinheiro sob garantia de terra. 
 
• Dobb: Mas isso não marcou o fim do MDP feudal, pois 
continuavam o trabalho servil e suas obrigações eram 
reconhecidas legalmente, e a liberdade de movimento do 
trabalhador no campo continuava legalmente restrita. 
Crescimento das cidades 
• Séc. XVI 
 
• Dobb: Comércio e cidades têm influência desintegradora sobre a 
estrutura do feudalismo [igual a Pirenne]. 
 
• Mas seria errado encarar as cidades, neste estágio, como 
“microcosmos do capitalismo” [diferente de Pirenne] 
 
– (Maior) parte das cidades subordinadas à autoridade feudal 
– Forma de produção mercantil simples [artesanato urbano sem 
separação entre produtor e meio de produção] – produção não 
capitalista. 
– Com o tempo, libertação das cidades da autoridade feudal e 
diferenciação de classe dentro da comunidade urbana (oligarquia 
comercial) 
Crescimento das cidades 
• Dobb contesta parcialmente a teoria segundo a qual cidades 
medievais seriam continuidade de cidades da Antiguidade [Pirenne] 
 
– Aceita para cidades maiores, mas considera que instituições e modo 
de vida mudam de maneira geral com a Idade Média 
 
• Contesta a ideia de origem rural da cidade [surgimento natural da 
cidade] (Por que uma comunidade agrícola se tornaria comercial?) 
 
– Para ele, diferença entre cidades livres (comerciantes – ex. Hansa, 
Reno e Londres, Pirenne) e refúgio, sauveté (cidades submetidas à 
autoridade do senhor e importante fonte de renda feudal) 
 
Crescimento das cidades 
• E, assim, conflito entre burgueses e autoridade 
feudal: luta das cidades por autonomia enseja 
guerra civil (sécs. XII a XIV) 
 
• “O fato de os próprios estabelecimentos feudais 
se empenharem no comércio e muitas vezes 
terem alimentado um mercado local para se 
suprirem de uma fonte barata de provisões foi 
evidentemente um dos principais motivos pelos 
quais os clamores dos burgueses pela autonomia 
encontraram resistência tão vigorosa” (p.90). 
A acumulação de capital e o 
mercantilismo 
 
Maurice Dobb 
Acumulação de capital 
Para situar: 
 
Periodização de Dobb 
 
 - Séculos XIV-XVI: crise do feudalismo 
 
 - Séculos XVI - XVII, XVIII: transição do feudalismo para o 
capitalismo - acumulação de capital ou acumulação primitiva  
origem, inícios do capitalismo, penetração do capital na produção 
 
 - Final do XVIII: Capitalismo pleno: Revolução Industrial 
 
 
159 
A acumulação de capital 
• Houve uma acumulação prévia de capital nas 
mãos de uma classe capitalista necessária para 
viabilizar o investimento capitalista? 
 
– Alguns autores acham que não houve processo 
específico de acumulação de capital (acumulação via 
poupança e, depois, investimento) 
 
– Para Marx (e também para Dobb), houve uma 
acumulação primitiva de capital anterior no tempo 
ao florescimento da produção capitalista (sécs. XVI, 
XVII e XVIII) 
A acumulação de capital 
• O processo de acumulação de capital nas mãos de uma classe 
específica (que vai converter o capital em meios de produção, ou 
seja, que realizará o investimento capitalista) corresponde: 
 
– à transferência de propriedade de bens (que se tornarão capital) de 
uma classe que entesoura e não tem iniciativa (nobreza) para outra 
que investe e tem iniciativa (burguesia, parvenue, nouveaux-riches). 
 
– à concentração da posse da riqueza em mãos muito menos 
numerosas 
 
• Se correspondesse apenas à transferência, bastaria a existência de bancos para 
intermediar a riqueza entre as duas classes e viabilizar o investimento 
capitalista. 
A acumulação de capital 
• Então, para Dobb, houve um período específico, 
anterior ao capitalismo (transição do feudalismo para o 
capitalismo), de acumulação de capital ou acumulação 
primitiva de capital. 
 
• Como se dá a acumulação de capital? 
 
– Por um processo que envolve 2 fases 
 
• 1ª: compra, valorização no tempo e revenda de um bem [terra] 
• 2ª: aquisição de meios de produção. 
 
 
A acumulação de capital 
• 1ª fase: 
 
– Compra de um bem a preço baixo (aquisição); venda por preço mais 
alto (realização) 
– A acumulação depende da diferença entre aquisição e realização 
– São necessárias circunstâncias especiais que façam baixar o preço de 
aquisição ou subir o preço na realização 
 
• Política deliberada do Estado, influenciado pelo poder ascendente da 
burguesia 
• Crises e endividamento dos senhores feudais (consumo de luxo) [Inglaterra, 
sécs. XV e XVI] 
• Tomada à força (comércio colonial, por exemplo) 
 
– Para que houvesse realização, era preciso haver demanda pelos bens 
adquiridos anteriormente 
A acumulação de capital 
• Por que é preciso haver condições especiais 
para valorizar o bem adquirido? 
 
– Se não houvesse, na aquisição, o movimento de 
compra de certo tipo de bem faria seu preço subir. 
– Depois, na realização, o movimento de venda faria 
seu preço cair. 
– Não seria possível acumular. 
 
 
A acumulação de capital 
• 2ª fase: 
 
– Compra de meios de produção 
– Condições para o investimento industrial 
 
• Abundância de mão de obra 
• Matérias-primas baratas 
• Produção de ferramentas e maquinarias (tecnologia) 
 
– Sem essas condições não haveria incentivo para que a 
burguesia fizesse o investimento industrial 
 
 
A acumulação de capital 
• Para Dobb, a acumulação tinha que se dar em duas fases. Por quê? 
 
– A primeira fase (aquisição/realização) causa desapossamento [os que 
venderam os bens] e cria uma classe substancial de destituídos 
 
– Isso favorece, via aumento da oferta de mão de obra, a criação de 
condições favoráveis à segunda fase (compra de meios de produção) – 
 
– A essência da acumulação primitiva de capital é a separação de 
pequenos produtores dos meios de produção [transformação do 
trabalho em força de trabalho] – via transferência de propriedade e 
desapossamento de pequenos proprietários pela burguesia. 
 
– Nascimento de um exército de proletários – pauperização e mão de 
obra barata. 
 
A acumulação de capital 
• Outras duas influências poderosas que 
promoviam a acumulação burguesa [sécs. XIV-
XVIII]: 
 
– Bancos 
– Dívida estatal 
 
 
A acumulação de capital 
• Bancos 
 
– Câmbio, coleta de impostos e empréstimos (Casa 
di San Giorgio, Gênova) 
 
• Advertência: empréstimos feitos por grandes 
financistas (haute bourgeoisie) e agiotas menores. 
 
 
A acumulação de capital 
• Dívida estatal 
 
– Marx: “Como pelo toque de uma varinha mágica, 
ela confere ao dinheiro estéril o poder de 
multiplicar-se e assimo transforma em capital, 
sem a necessidade de se expor aos riscos e 
dificuldades inseparáveis de seu emprego, ou 
mesmo da usura” (p.194) 
 
 
A acumulação de capital 
• Séc. XVII – estímulo ao investimento industrial – cias por ações e 
alto preço da terra (principal ativo no séc. XVI) 
 
• Não obstante, competição entre investimento comercial (comércio 
externo, alto lucro) e industrial, mas investimento comercial restrito 
um círculo privilegiado – alta burguesia. 
 
• Por isso, investimento industrial não foi feito pela alta burguesia ou 
pelas companhias de comércio, mas pela média burguesia 
 
– Conflito entre industriais (liberdade de comércio) e grandes 
comerciantes (monopólio de comércio) 
 
A acumulação de capital 
• Indústria: necessidade de mercados 
 
– Mercados externos 
– Bens de luxo (ascensão da burguesia) 
– Guerras (Estado) 
 
• Quanto mais se desenvolvem relações capitalistas, maiores os 
mercados por meio de lucros (I) e salários (C). 
 
• Garantia de lucro: 
 
– 1º privilégio político e regulamentação 
– 2º tecnologia (produtividade): mecânica e divisão do trabalho 
 
Mercantilismo 
• Enquanto o investimento industrial ainda não havia se tornado o 
elemento mais importante da economia, a preocupação com um 
mercado exportador crescente ocupou seu lugar – pensamento 
mercantilista (sécs. XVI-XVIII) 
 
• Para Dobb, a característica principal desse pensamento era “a 
crença na regulamentação econômica como condição essencial 
para o surgimento qualquer lucro no comércio “ (p.202) 
 
• Ou seja, o Estado deveria garantir a margem de lucro derivada da 
diferença entre o preço de compra e o de revenda – é o Estado 
quem define os preços e não o mercado 
 
• Daí a necessidade de monopólios: se houvesse concorrência, como 
manter a margem de lucro ? 
 
Mercantilismo 
• Outra peculiaridade, apesar de divergências entre os autores 
conhecidos como mercantilistas: acumulação de metais como 
riqueza - “crença impregnada”, “generalização axiomática” sobre a 
ordem econômica [principal diferença em relação ao liberalismo 
clássico do séc. XVIII] 
 
• O que havia de mais comum no pensamento mercantilista era a 
defesa de uma balança comercial favorável (Heckscher: “homem 
algum tem lucro a não ser pelo prejuízo alheio”) 
 
– Necessidade de criar e manter mercados externos para consumo de 
mercadorias nacionais (comércio colonial e companhias de comércio) 
– Restrição às importações (exceto matérias primas) 
– Regulamentação para impedir aumento de preços e salários derivado 
da entrada de metais no país 
 
Mercantilismo 
• Por quê acumulação de metais como riqueza? Vigorava o “pequeno 
modo de produção”, consequentemente, era pequeno o lucro 
derivado do investimento na produção e o trabalho assalariado 
estava na infância 
 
• O que muda nos séc. XVIII? O progresso técnico [divisão do 
trabalho] que aumentará a produtividade do trabalho 
 
• Com ele, surge a percepção de que investimento industrial e 
trabalho assalariado são capazes de garantir lucro sem necessidade 
de regulamentação 
 
• Condição para o surgimento da economia como uma ordem 
natural, isto é, relações econômicas com leis específicas de 
funcionamento – liberalismo em oposição à regulamentação 
 
Mercantilismo 
• Para Dobb, mercantilistas eram porta-vozes antes do capital industrial do que do 
mercantil. Por quê? 
 
– Porque o comércio externo visava a troca de produtos manufaturados nacionais por produtos 
coloniais, principalmente matérias-primas, o que reduzia o custo e, consequentemente, 
aumentava o lucro industrial 
 
– Além disso, coerção para impedir manufaturas nas colônias que pudessem concorrer com as 
metrópoles (Heckscher: “medo às mercadorias”) 
 
• O objetivo da política mercantilista era reduzir custo (matérias primas e salário) da 
manufatura nacional (Heckscher: “riqueza para o país baseada na pobreza da 
maioria dos seus cidadãos) 
 
• Em suma, “o sistema mercantil foi um sistema de exploração regulamentado pelo 
Estado e executado através do comércio, que desempenhou um papel 
importantíssimo na adolescência da indústria capitalista: foi essencialmente a 
política econômica de uma era de acumulação primitiva” (p.212) 
 
Mercantilismo 
• Desde o séc. XVII – contradição entre a necessidade de expandir os 
mercados para ofertar a produção ampliada pelo investimento 
industrial e a necessidade de restringir os mercados, via 
monopólio ou proteção, para manter a rentabilidade do capital 
 
• Consequência: conflito entre a velha geração de capitalistas [ligada 
ao comércio e à usura] e a nova geração [ligada a novas indústrias e 
métodos de produção] – [burguesia reacionária e revolucionária] 
 
• Mas ficava cada vez mais clara a oportunidade de aumento de 
ganho com aumento de produtividade do trabalho com 
consequências importantes no reino da prática [investimento 
industrial] e da doutrina [liberalismo clássico] 
O modelo mercantil e seu legado. In: 
A origem do capitalismo, 2001 
Ellen Wood 
Ellen Wood 
• Professora de ciência política na Universidade 
de York, em Toronto, Canadá 
 
• Editora da Monthly Review 
 
1. A origem do capitalismo 
• Crítica: 
 
– tentativa de naturalizar o capitalismo; 
 
– ideia de que a racionalidade da ação humana e o 
avanço da técnica estariam presentes desde o 
início e o progresso conduziria ao capitalismo 
 
– capitalismo como destino inescapável 
1. A origem do capitalismo 
• “Na maioria das descrições do capitalismo e de sua origem, na 
verdade, não há origem. O capitalismo parece estar sempre lá, em 
algum lugar, precisando apenas ser libertado de suas correntes – 
dos grilhões do feudalismo, por exemplo – para poder crescer e 
amadurecer” (p.14) 
 
• Wood: enfatiza especificidade do capitalismo [como outros autores 
marxistas]. 
 
– Sua origem não é resultado de uma evolução natural, mas de uma 
construção histórica que rompe com formações sociais anteriores. 
 
• Por que isso é importante? “Se o capitalismo é a culminância 
natural da história, superá-lo é inimaginável” (p.17) 
2. Debate com historiadores 
• Wood tenta mostrar que os modelos de 
interpretação do processo histórico de longo 
prazo naturalizam o capitalismo 
 
– Modelo mercantil 
– Modelo demográfico 
– Karl Polanyi 
2. Debate com historiadores 
• Modelo mercantil (Smith, Pirenne, Weber, Braudel) 
 
– Pressupõe que o capitalismo resultou naturalmente de 
práticas humanas existentes desde sempre (por ex. 
mercado) 
 
– Seu surgimento requereu apenas a eliminação de 
obstáculos externos que impediam sua materialização (por 
ex. o feudalismo) 
 
– Indivíduos racionais auto-interessados desde o início 
buscariam o tempo todo eliminar obstáculos à expansão 
do mercado e do desenvolvimento tecnológico. 
 
 
– Apesar de pressupor a existência do capitalismo, reconhece uma 
grande mudança dos princípios econômicos do feudalismo para 
o capitalismo. 
 
• Por ex. passagem de uma economia natural para uma economia 
monetária ou da produção para o uso para a produção para a troca. 
 
– Nesse caso, a transformação não está na economia [mercado], 
mas em outras instituições [políticas, culturais, jurídicas, 
tecnológicas e ideológicas]. 
 
– Se as leis de movimento capitalista sempre existiram, não 
haveria razão para explicar sua origem, mas os obstáculos que 
impediram seu desenvolvimento. 
 
 
2. Debate com historiadores 
• Problemas: 
 
– Presume a existência do capitalismo. O processo histórico 
interpretado a partir da lógica de eliminação de obstáculos 
e não da criação de uma lógica econômica nova 
 
– O modelo mercantil não reconhece a especificidade 
histórica dasrelações sociais capitalistas, porque é visto 
como resultado natural da evolução histórica 
 
– Se não há especificidade do capitalismo, as leis 
econômicas seriam universais e atemporais – teoria 
econômica abstrata. 
 
 
2. Debate com historiadores 
“A lógica do mercado teria permanecido a 
mesma: sempre uma oportunidade a ser 
aproveitada em todas as ocasiões possíveis; 
sempre conducente ao crescimento econômico 
e ao aperfeiçoamento das forças produtivas, 
sempre fadada a acabar o capitalismo industrial, 
se lhe fosse dada liberdade para colocar em 
prática sua lógica natural” (p.25) 
 
 
• Modelo demográfico (neomalthusianos) 
• Postan, M. M. & John Hatcher (1978). ‘Population and Class Relations in Feudal 
Society,’ Past & Present, 78, February, pp. 24–37. 
 
 
– Visão alternativa ao modelo mercantil (urbanização e comércio) 
 
– A transição para o capitalismo foi determinada pela lei da oferta e demanda e, por sua vez, 
essa seria determinada pelo comportamento demográfico 
 
• Aumento e declínio populacional como estímulo ou barreira ao desenvolvimento do capitalismo 
(cidades, mercados, etc.) 
 
• Padrões cíclicos de crescimento demográfico explicariam a transição para o capitalismo 
 
• Problema: 
 
– Não questiona natureza do mercado capitalista. 
 
 
2. Debate com historiadores 
• Karl Polanyi (“uma exceção digna de nota”) 
 
– A grande transformação, 1944: 
 
• A “sociedade de mercado” é específica 
 
• Lucro individual como motivo para ação humana [nem sempre essa foi 
a motivação] 
 
• Mercados competitivos [antes os mercados eram complementares] 
 
• Mercados integrados pelo Estado [e não por um processo natural] 
 
• Relações econômicas separadas de relações não-econômicas [antes 
essas relações se misturavam] 
 
 
2. Debate com historiadores 
• Problema: 
 
– Na explicação sobre a origem da “sociedade de mercado”, 
Polanyi enfatiza a expansão do mercado e o aspecto tecnológico 
[e não a mudança primeiro nas relações sociais] 
 
– A predominância do mercado nas relações sociais teria sido 
inevitável, a diferença em relação aos outros modelos é que 
considera a intervenção estatal como elemento que dita o ritmo 
do processo 
 
– A ordem de causação da expansão do mercado (comércio e 
indústria) para a sociedade de mercado torna impossível tratar 
o mercado capitalista como forma social específica 
 
 
 
 
 
 
2. Debate com historiadores 
Debates marxistas. In: A origem 
do capitalismo, 2001 
Ellen Wood 
Debates marxistas 
• Há controvérsias sobre a origem do capitalismo entre autores marxistas 
 
• Marx apresenta duas narrativas do processo: 
 
– I) Na Ideologia alemã e no Manifesto comunista: a história seria uma sucessão 
de etapas rumo ao capitalismo. O avanço tecnológico e a burguesia teriam 
originado o capitalismo pelo fato de se libertarem das relações feudais 
 
• Próximo do modelo mercantil, cidades e comércio seriam a antítese do feudalismo 
 
– II) Em Elementos para a crítica da economia política e em O capital: a 
mudança nas relações de propriedade (expropriação do produtor direto) 
originou o capitalismo como uma nova forma de exploração e com novas leis 
de movimento sistêmicas 
 
• Distante do modelo mercantil, cidades e comércio compatíveis com o feudalismo 
 
 
 
 
Debates marxistas 
• Maurice Dobb e Rodney Hilton: luta de classes 
entre senhores e servos foi motor primordial da 
transição 
 
• Paul Sweezy: renascimento do comércio e 
“produção mercantil pré-capitalista” 
 
• Perry Anderson: Estado absolutista fundamental 
para explicar a transição, pois libera a economia 
para evoluir de acordo com sua própria lógica 
interna. 
 
 
 
 
 
 
 
Debates marxistas 
• Wood sobre Dobb: 
 
– Dobb vê o declínio do feudalismo e a ascensão do capitalismo como único 
processo, parece aceitar que o capitalismo seria inevitável 
 
• Wood sobre Sweezy e Anderson: 
 
– Permanece a ideia de retirada de obstáculos para que o capitalismo 
florescesse. Ele teria sido resultado da libertação da economia do feudalismo. 
 
• Mesmo nas interpretações marxistas sobre a origem do capitalismo, ainda 
que com matizes, permanecem traços do modelo mercantil: 
 
– Capitalismo inevitável 
 
– Retirada de obstáculos 
 
 
 
 
 
 
Do capitalismo agrário ao 
capitalismo industrial. In: A origem 
do capitalismo, 2001. 
 
Ellen Wood 
Do capitalismo agrário ao capitalismo 
industrial 
• Brenner, Robert. "Agrarian Class Structure and Economic Development in Pre-
industrial Europe". Past and Present 70 (1976), pp. 30–74 
 
• Inglaterra, antes do séc. XVI: riqueza gerada predominantemente na agricultura. 
 
• A partir do séc. XVI: riqueza gerada cada vez mais no comércio [maximização do 
valor de troca] ligado à produção [aumento da produtividade, redução de custo 
por meio da especialização, acumulação e inovação] 
 
– Nova forma de prover necessidades: produção para a troca (mercados) e acumulação 
ilimitada. 
 
– Nova forma de expropriação: criação de uma massa de não proprietários. 
 
• Agricultura, comércio e manufatura: capitalismo agrário. 
 
• Proposição: o capitalismo industrial nasce do capitalismo agrário 
 
 
Do capitalismo agrário ao capitalismo 
industrial 
• Por que capitalismo agrário? 
 
– 1) a transformação das relações sociais de 
propriedade [que fomentou expansão demográfica, 
comércio e indústria] se deu no campo; 
 
– 2) embora não houvesse ainda predominância do 
trabalho assalariado, existia uma tríade agrária [Marx: 
latifundiários rentistas, arrendatários capitalistas que 
visavam lucro e trabalhadores assalariados] que já 
funcionava com a lógica capitalista da competição e 
produção para o mercado. 
 
Do capitalismo agrário ao capitalismo 
industrial 
• O elemento principal da tríade seriam os arrendatários 
capitalistas dependentes do mercado. 
 
• Para Wood, é a dependência do mercado que causa a 
proletarização das massas [perda do acesso direto não 
mercadológico aos meios de produção] 
 
• A dependência do mercado estabelece a dinâmica 
específica do capitalismo já presente na agricultura 
inglesa no séc. XVI. 
 
Do capitalismo agrário ao capitalismo 
industrial 
• Como explicar capitalismo sem predominância de trabalho assalariado? 
 
• Para Wood, a agricultura inglesa no séc. XVI já funcionava segundo leis de 
movimento diferentes dos que haviam prevalecido em qualquer outra sociedade 
desde o alvorecer da história 
 
• A agricultura inglesa atendia aos imperativos da competição (avanço técnico) e 
produção para o mercado (consumo) 
 
– Concentração da propriedade fundiária, declínio da população rural, alta produtividade da 
agricultura 
 
– Massa de não proprietários desloca-se para as cidades (Londres, sobretudo). 
 
– Londres “simbolizou o capitalismo emergente da Inglaterra: seu mercado cada vez mais único, 
unificado, integrado e competitivo, sua agricultura produtiva e sua população desapropriada” 
(p.106) – desenvolvimento de um mercado interno. 
 
Do capitalismo agrário ao capitalismo 
industrial 
• Então, o capitalismo inglês surge com as leis de 
movimento nascidas na agricultura [e não no 
comércio]. 
 
• Essas leis transformaram as antigas regras de comércio 
[troca de excedente, comércio complementar] e 
criaram um tipo novo de sistema mercantil [produção 
para a troca, comércio competitivo] 
 
• Produção para um mercado cada vez maior: interno 
(trabalho assalariado) e externo (imperialismo colonial) 
Do capitalismo agrário ao capitalismo 
industrial 
• Para Wood, o mercado interno era mais importante para a 
economia inglesa do que o externo: “o capitalismo agráriofoi a raiz do desenvolvimento econômico britânico” (p.108) 
 
• Por quê não o externo? Wood sustenta sua tese mostrando 
que outros países também foram imperialistas e 
exploraram a escravidão, mas o resultado não foi 
industrialização. 
 
• Portanto, a peculiaridade inglesa estaria no 
desenvolvimento de um mercado interno e de uma lógica 
capitalista de competição e acumulação a partir da 
produção. 
Do capitalismo agrário ao capitalismo 
industrial 
• Imperialismo e comércio externo importantes, 
mas não fundamentais no desenvolvimento 
industrial inglês. 
 
• Mercado interno formado pelo capitalismo 
agrário: desapossamento, concentração 
fundiária, produtividade, força de trabalho, 
consumo de massa, industrialização. 
Do capitalismo agrário ao capitalismo 
industrial 
• A difusão do capitalismo se deu a partir da 
pressão competitiva que a Inglaterra 
industrializada impunha a outros países. 
 
• Por isso, diz ela, “sem o capitalismo inglês, 
provavelmente não haveria nenhum tipo de 
sistema capitalista” (p.110). 
Do capitalismo agrário ao capitalismo 
industrial 
• Em suma, o capitalismo agrário possibilitou a 
industrialização 
 
– Transformação das relações de propriedade 
– Tamanho e natureza do mercado interno 
– Composição da população 
– Natureza e extensão do comércio e imperialismo britânico 
 
• Essas mudanças constroem uma nova lógica 
[competição e consumo] cujo resultado foi o 
capitalismo industrial. 
O Estado absolutista no Ocidente. 
In: Linhagens do Estado absolutista, 
1974 
 
Perry Anderson 
O Estado absolutista no Ocidente 
• Qual o resultado político da crise do feudalismo na Europa 
Ocidental? 
 
• Emergência do Estado absolutista no século XVI 
 
– Monarquias centralizadas na França (Luís XI), Espanha 
(Fernando e Isabel) e Inglaterra (Henrique VII) romperam 
soberania fragmentada do feudalismo 
 
– Integração territorial e centralização administrativa 
 
• Formação do exército, burocracia, tributação, comércio e diplomacia. 
Luís XI 
Fernando de Aragão e Isabel de Castela 
Henrique VII 
O Estado absolutista no Ocidente 
• O ponto de partida de Anderson é a tese de 
Engels e Marx: 
 
– O Estado absolutista representaria o equilíbrio (ou 
atuaria como árbitro) de interesses da aristocracia 
fundiária e da burguesia, marcando a passagem 
do poder da nobreza para a burguesia. 
O Estado absolutista no Ocidente 
• Anderson discorda da tese de Engels e Marx: 
 
– Para ele, o Estado absolutista era “um aparelho de 
dominação feudal recolocado e reforçado, destinado 
a sujeitar as massas camponesas à sua posição social 
tradicional – não obstante e contra os benefícios que 
elas tinham conquistado com a comutação 
generalizada de suas obrigações” (p.18) 
 
– Era uma nova forma de poder da nobreza 
determinada pela difusão da economia mercantil 
(produção e troca de mercadorias) 
 
O Estado absolutista no Ocidente 
• Qual a origem do Estado absolutista? Ele foi produzido por 
transformações na estrutura do Estado aristocrático e da propriedade 
feudal. 
 
– O feudalismo era caracterizado por unidades de produção e dominação 
política, portanto, com soberania fragmentada. 
 
– Os senhores feudais perderam poder com o fim da servidão [comutação do 
trabalho servil para o arrendamento ou trabalho assalariado] 
 
– O resultado desse processo [no plano político] foi o “deslocamento da 
coerção político-legal no sentido ascendente, em direção a uma cúpula 
centralizada e militarizada – o Estado absolutista” (p.19) – do nível local para o 
nível nacional. 
 
– [No plano econômico] foi a consolidação das unidades produtivas feudais. 
 
 
O Estado absolutista no Ocidente 
• Para Anderson, os “Estados monárquicos da Renascença [sécs. XV e XVI] 
foram em primeiro lugar e acima de tudo instrumentos modernizados 
para a manutenção do domínio da nobreza sobre as massas rurais” (p.20) 
 
• E a burguesia? 
 
– Para Engels e Marx, eram “contrapeso ao poder da nobreza” ou “pedra 
angular” do Estado 
 
– Para Anderson, essas noções são incorretas. 
 
• Havia pressão da burguesia sobre um Estado representante da aristocracia rural. 
 
• A burguesia manipulava a nobreza, mas não a dominava (p.38). 
 
 
O Estado absolutista no Ocidente 
• Mudanças jurídicas expressavam nova ordem econômica que se 
constituía: adoção do direito romano renovado. 
 
– Caráter absoluto da propriedade privada [da terra] e regras de 
comércio. 
 
• “A assimilação do direito romano na Europa do Renascimento foi 
um indício da difusão das relações capitalistas nas cidades e no 
campo” (p.26) e correspondeu aos interesses da burguesia 
comercial e manufatureira. 
 
• Ao mesmo tempo, era expressão da tendência de centralização do 
poder em governos monárquicos [reação da nobreza ao 
fortalecimento da burguesia = poder discricionário do monarca] 
 
Luís XIV, rei sol 
 
Rigaud 
O Estado absolutista no Ocidente 
• Transformações estruturais do Estado aristocrático ou inovações institucionais do 
Estado absolutista: 
 
– Exército: ainda não era força nacional formada por recrutas, mas massa heterogênea de 
pessoas, inclusive com mercenários estrangeiros [receio de armar os camponeses]. 
Permanece a racionalidade voltada para a guerra como resquício feudal. 
– Burocracia: burocracia tratada como propriedade vendável a indivíduos privados [o que 
adquire o cargo ressarce o curso com abuso de privilégios e corrupção] e troca de favores 
entre a burocracia e o monarca. 
– Tributação: o maior peso da tributação recaía sobre os pobres (servicios, na Espanha; ou taille 
ou gabelle, na França). A classe senhorial era isenta de impostos diretos. Motivos de rebeliões 
de pobres e camponeses contra coletores de impostos. 
– Comércio: guiado pela teoria mercantilista atende à lógica belicista da conquista e do 
monopólio comercial. Riqueza e guerra estavam interligados. Reforça, no entanto, o caráter 
nacional dos mercados. 
– Diplomacia (séc. XVI): marca do surgimento do Estado absolutista, pois define um conjunto de 
unidades políticas claramente definidas num “sistema estatal internacional”. Apesar disso, a 
noção de nacionalismo ainda era difusa, pois o Estado era visto como patrimônio do monarca. 
O Estado absolutista no Ocidente 
• Anderson: “todas as estruturas do Estado 
absolutista revelam, portanto, a influência à 
distância da nova economia em ação no 
quadro de um sistema mais antigo: 
proliferavam as ‘capitalizações’ híbridas de 
formas feudais, cuja própria perversão das 
instituições futuras (exército, burocracia, 
diplomacia e comércio) constituía uma 
apropriação de objetos sociais passados para 
reproduzi-los” (p.39). 
O Estado absolutista no Ocidente 
• No entanto, a burguesia já era forte o suficiente 
para deixar marcas no Estado absolutista 
 
– Paradoxo: o absolutismo representa um aparelho 
criado para proteção da propriedade e privilégios da 
aristocracia e, ao mesmo tempo, assegurava 
interesses da burguesia mercantil e manufatureira 
emergente 
 
– Ex. integração de mercados, protecionismo, dívida 
pública, confisco de terras da igreja, colonização e 
companhias de comércio 
O Estado absolutista no Ocidente 
• O Estado absolutista “cumpriu certas funções 
parciais na acumulação primitiva necessária ao 
triunfo ulterior do modo de produção capitalista” 
(p.40) 
 
• Isso foi possível por causa da compatibilidade 
entre programa do Estado absolutista e 
operações do capital mercantil e manufatureiro. 
 
– Monarquia e incentivo ao comércio, apesar do caráter 
feudal do absolutismo. 
O Estado absolutista no Ocidente 
• Para Anderson, o Estado absolutista estava “fundamentado na 
supremacia

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