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História Econômica Geral pt.1

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A revolução inglesa e as pré-
condições da industrialização. In: A 
grande revolução inglesa, 1640-
1780, 1996 
 
Jobson Arruda 
Revolução inglesa e industrialização 
• Pré-condições para a industrialização 
 
• Revolução burguesa (Estado, burguesia e parlamento) 
 
• Transformações na estrutura de propriedade agrária 
(cercamentos) 
 
• Mercados mundiais (imperialismo colonial) 
 
 
 
Revolução inglesa e industrialização 
• Inglaterra, 1640: descompasso entre realidade 
econômica e estrutura social 
 
– Aristocracia em declínio econômico, mas com 
poder político 
 
– Burguesia “gentry” – em ascensão econômica, 
mas sem poder - Revolução 
 
Revolução inglesa e industrialização 
• (I) Revolução burguesa (Hill): além de ser liderada pela 
burguesia, abre espaço para o avanço do capitalismo. 
 
– Resultado da luta de classes (aristocracia x burguesia) 
 
• embora não fosse tão nítida a separação: declining gentry (filhos da 
aristocracia com privilégios) e rising gentry (empreendedores 
individuais que buscam livre iniciativa) 
 
– Revolucionária (porque rompe com a ordem anterior) 
 
– Progressista (rumo à constituição de uma ordem social mais 
avançada) 
 
 
Revolução inglesa e industrialização 
• Transformações essenciais advindas da revolução burguesa 
 
– Classe agrária capitalista e setores mercantis urbanos com 
poder político 
 
– Criação de condições para o avanço das forças produtivas na 
Inglaterra 
 
• Eliminação do antigo modo de produção artesanal 
• Avanço dos cercamentos (sem proteção do Estado) 
• Exploração dos mercados coloniais e mundiais 
 
 
 
Revolução inglesa e industrialização 
– Produção como preocupação do Estado 
 
• Estado tem papel importante na revolução industrial (Jones 
e Supple): liberação da exportação de tecidos em 1689, 
proteção ao mercado inglês (proibição de manufaturas 
concorrentes na colônia e de importação de tecidos leves), 
expansão do comércio marítimo, cercamentos, tributação, 
política econômica (Banco da Inglaterra) 
 
• Não é clara a relação entre Estado e desenvolvimento 
econômico (Kuznets, The State as a Unit of Study of 
Economic Growth, 1951; North e Thomas, An Economic 
Theory of the Growth of Western World, 1970) 
 
 
 
Revolução inglesa e industrialização 
– Mudança na concepção de propriedade: individual e 
absoluta, fundamental para o mercado, para a 
transformação da terra em mercadoria e para a 
desconstrução dos laços feudais 
 
• Confisco de terras da igreja 
• Hipotecas 
• Redistribuição de renda da aristocracia para a burguesia 
• Enriquecimento de parcela reduzida da sociedade 
• Rebaixamento do padrão de consumo dos pobres (Hill) 
 
 
Revolução inglesa e industrialização 
• (II) Cercamentos 
 
– No séc. XVI, para abertura de pasto, atinge áreas 
de cultivo, área menor, resistência da monarquia e 
fixação do camponês no campo. 
 
– No séc. XVII e XVIII, para ampliação de área de 
cultivo [crescimento populacional], não atinge 
área de cultivo, área maior, sem resistência da 
monarquia. 
 
 
 
 
Aumento de produtividade na agricultura inglesa: 
cereais em milhões de quarters 
Revolução inglesa e industrialização 
• Qual a relação entre cercamentos e revolução industrial? 
 
– De um lado: 
 
• Marx: despovoamento do campo e formação do proletariado indispensável à revolução industrial 
 
• O’Brien: excedente agrícola flui para a economia urbana (renda, imposto, empréstimo, consumo) 
 
• Bairoch: ênfase na agricultura como pré-condição para a industrialização. 
 
• Brenner e Mantoux: rompimento da combinação trabalho doméstico e pequeno cultivo que dava 
independência ao trabalhador. Privado da terra, o trabalhador não pode continuar o trabalho 
doméstico. Trabalho assalariado na fábrica e no campo (aumento de produtividade, aumento 
populacional, aumento de mão de obra nas cidades) 
 
– De outro: 
 
• Chambers, Jones e Landes [demografia]: cercamentos, aumento da produtividade e crescimento 
populacional. 
 
 
 
Revolução inglesa e industrialização 
• (III) Expansão comercial 
 
– Revolução burguesa prepara terreno para a expansão comercial 
 
• Regulamentação do comércio (monopólio e monopsônio) 
• Estímulo à manufatura 
• Construção naval 
• Interessante para burguesia mercantil, industrial e armadores 
 
– Agressiva sistematização da política de expansão comercial (ex. atos de navegação) – 
mercantilismo 
 
• Do monopólio das companhias ao monopólio nacional 
• Comércio triangular (mundial) 
 
– Assalto aos mercados coloniais 
 
– Acumulação primitiva e industrialização 
 
 
 Introdução. In: A revolução 
industrial no século XVIII. Estudos 
sobre os primórdios da grande 
indústria moderna na Inglaterra, 
1906 
Paul Mantoux 
A revolução industrial no século XVIII 
• Historiador 
 
• Participou da Conferência de paz de Paris, 
1919, como intérprete de Clemenceau. 
 
 
1. A grande indústria moderna 
• Revolução [industrial] – marca o nascimento da grande 
indústria moderna 
 
– Arnold Toynbee, 1884 [Lectures in the Industrial Revolution in 
England] 
 
– Friedrich Engels, 1845 [A situação da classe operária inglesa] 
 
• Ruptura que remete a causas longínquas 
 
– As características da grande indústria se revelaram 
paulatinamente. 
• O que Mantoux entende por grande indústria [factory system] [passo 
inicial para compreender sua origem]? 
 
– [Produção] É um regime de produção de bens não fornecidos pela natureza 
(diz respeito, portanto, à organização interna e nível técnico da empresa) 
 
– Cujos efeitos se espalham pela ordem econômica e, consequentemente, pela 
ordem social 
 
– Que dominam as condições de crescimento econômico e distribuição da 
riqueza 
 
– Formada por máquinas, trabalhadores e, por trás deles, pelo capital 
 
– Cujo objetivo é o lucro e a lógica o aumento incessante da produção 
 
1. A grande indústria moderna 
Samuel Compton, spinning mule, 1775 
James Hargreaves, spinning jenny, 1764 
• Desbobramentos 
 
– [Circulação] Tendência à superprodução e, paradoxalmente, ruína da 
própria empresa 
 
• Necessidade de vender a mercadoria para realizar o lucro 
 
– Competição por mercados e consumidores em qualquer parte do mundo 
 
– Formação de cidades e aumento populacional 
 
– [Distribuição] Regime social contemporâneo baseado em causas 
puramente econômicas 
 
• Trabalhadores, capitalistas e “capitães da indústria” (“organizadores, 
dominadores, conquistadores”) 
 
 
1. A grande indústria moderna 
• A grande indústria suscitou a questão social, isto 
é, descompasso entre a produção de riqueza e 
sua efetiva distribuição pelo esforço realizado 
para criá-la. 
 
• Oposição entre capital e trabalho. Socialismo. 
 
• Cria a expectativa de transformação, que será 
bem vista por uns e temida por outros: “traço 
palpável de nossa época” 
 
 
1. A grande indústria moderna 
• Definição ampla de indústria [econômica, 
política e social] 
 
• “A grande indústria na ordem econômica, a 
ciência positiva na ordem intelectual e a 
democracia na ordem política são as forças 
mestras que dirigem o movimento das 
sociedades contemporâneas” 
 
1. A grande indústria moderna 
2. Origem da grande indústria 
• Para Mantoux, a grande indústria nasce entre 
1760 e 1880 na Inglaterra 
 
• Antes disso, produção: 
 
– Ligada ao Estado 
– Produtos de luxo 
– Sem lógica de lucro e competição 
– Ex. França de Colbert e Luís XIV, séc. XVII 
 
• Mantoux: Não são origem da grande indústria 
 
• Manufaturas(antes do séc. XVIII) [força de trabalho]: 
 
– Unidade de produção em que há separação entre capital e trabalho, e 
divisão do trabalho, mas uso apenas de ferramentas simples 
 
• Grande indústria (séc. XVIII) [meio de produção]: 
 
– Reúne características da manufatura. Seu traço distintivo é o uso de 
máquinas. 
 
– Máquinas e insumos cada vez mais caros e inacessíveis ao operário. 
 
– Determinação do regime social [proprietários e não-proprietários] 
 
2. Origem da grande indústria 
• Definição legal de indústria (1844) 
 
– “uma fábrica é um local onde se trabalha com o 
concurso de máquinas movidas pela força da água, do 
vapor e de qualquer outro agente mecânico para 
preparar, manufaturar, acabar ou transformar, de 
qualquer forma, o algodão, a lã, a crina, a seda, linho, 
o cânhamo, a juta ou a estopa” (p.17) 
 
– É o aperfeiçoamento técnico sob todas as suas 
formas, a maquinaria é o elemento fundamental da 
grande indústria. 
 
2. Origem da grande indústria 
• Como surgiu a grande indústria? 
 
• Resultado da evolução da troca e da divisão do 
trabalho. 
 
• O momento de crise desses dois aspectos marcou o 
aparecimento da máquina e a revolução industrial. 
 
• “Os movimentos econômicos são como um lento 
crescimento de germes dispersos num imenso terreno” 
(p.20). 
 
2. Origem da grande indústria 
A origem da revolução industrial. In: 
Da revolução industrial inglesa ao 
imperialismo, 1983 
 
Eric Hobsbawm 
Eric Hobsbawm 
• Nascido no Egito, sob dominção britânica 
 
• Historiador e intelectual marxista 
 
• Membro do Partido Comunista Britânico 
 
• Professor da Universidade de Londres 
 
– A era das revoluções 
– A era do capital 
– A era dos impérios 
– A era dos extremos 
 
 
A origem da revolução industrial 
• A revolução industrial é “a mais radical 
transformação da vida humana” (p.13) 
 
• Ela significou uso de máquinas, aumento 
significativo da produção e, consequentemente, 
crescimento econômico [verificado 
anteriormente] 
 
• Mas, o produto essencial da revolução industrial 
foi a transformação econômica e social gerada: o 
capitalismo 
 
 
A origem da revolução industrial 
• Questão: vários países europeus constituíram 
seus Estados a partir do séc. XVI e tinham 
condições de se industrializar. 
 
• Por que a Inglaterra foi a primeira? 
 
• E por que só no final do séc. XVIII? 
 
A origem da revolução industrial 
• Explicações insuficientes para Hobsbawm 
 
– Fatores exógenos (clima, geografia, recursos naturais, etc.): 
relevantes apenas num quadro econômico, social e 
institucional. 
 
– Acidentes históricos (grandes navegações, revolução 
científica, reforma): não valem porque ocorreram antes da 
revolução industrial 
 
– Fatores puramente políticos: na segunda metade do séc. 
XVIII vários países queriam se industrializar, mas só a 
Inglaterra conseguiu 
 
A origem da revolução industrial 
• O que aconteceu então? 
 
– Condições para a industrialização dadas desde o século 
XVII: mão de obra, capital, mercado, manufatura, comércio 
e transporte desenvolvidos. 
 
– Assim, “a questão concernente à origem da revolução 
industrial (...) não é como se acumulou o material para a 
explosão econômica, mas sim como essa explosão foi 
detonada” (p.38) 
 
– Como a economia de iniciativa privada provocou a 
revolução industrial? 
 
A origem da revolução industrial 
• Para Hobsbawm, a explicação está na relação entre 
lucro e inovação. 
 
– O lucro motiva a inovação (e não o contrário) 
 
– Ampliação da produção de bens de consumo 
 
• Necessidade de ocupar mercados existentes e criar 
novos mercados – só fica clara no final do séc. XVIII 
 
• Possibilidade de lucro com a ampliação de mercados. 
 
A origem da revolução industrial 
• A revolução industrial não pode ser explicada 
como fenômeno nacional, mas internacional 
 
• Três fatores em sua origem: 
 
– Mercado interno 
– Mercado externo 
– Governo 
 
 
 
A origem da revolução industrial 
– Mercado interno: demanda razoável e permanente para 
alimento, transporte e carvão. 
 
– Mercado externo: conquista de mercados e colonização. 
“Centelha da revolução” – perspectiva de lucro para 
empresários. Ao dominar mercados de exportação no final do 
XVIII, a Inglaterra viabilizou a revolução industrial. 
 
– Governo: colonização e acordos comerciais subordinaram a 
política externa inglesa a objetivos econômicos. 
 
• Pela guerra, 
 
– Inglaterra conseguiu monopólio naval e colonial 
– Promoveu desenvolvimento da indústria com demanda e inovação 
 
 
 
A origem da revolução industrial 
 
“Podemos, pois, resumir o papel dos três principais 
setores da demanda na gênese do industrialismo. As 
exportações, apoiadas pelo auxílio sistemático e 
agressivo do governo, proporcionaram a centelha e 
constituíram – juntamente com a produção têxtil do 
algodão – o ‘setor básico’ da industrialização” (p.48) 
 
 
 
A origem da revolução industrial 
• De volta às perguntas iniciais: por que Inglaterra? 
 
– França recuperando-se de depressão econômica, Holanda 
preocupada com comércio. 
 
• Por que final do séc. XVIII? 
 
– Colonização [mercados externos exclusivos] e expansão do 
mercado interno. 
 
– A Inglaterra capturou esses mercados e, por isso, foi 
pioneira na revolução industrial. 
 
A origem da revolução industrial 
• O pioneirismo foi vantajoso para a Inglaterra (caso 
muito específico) 
 
– Influência e poder mundiais sem paralelo 
 
• Produção, comércio exterior, transporte, Investimento externo 
 
• As desvantagens do pioneirismo aparecem na segunda 
metade do XIX – fuga da competição com outros países 
e queda de produtividade 
 
– Perda da hegemonia depois da I guerra mundial 
 
 
A revolução industrial 1780-1840. In: 
Da revolução industrial inglesa ao 
imperialismo, 1983 
 
Eric Hobsbawm 
A revolução industrial, 1780-1840 
• Nova forma de sociedade: capitalismo 
industrial 
 
• Nova forma de produção: fábrica 
 
• Principais setores: algodão, carvão e ferro 
 
• Lancashire e Manchester 
 
A revolução industrial, 1780-1840 
• Algodão 
 
– Liga metrópole às colônias 
– M algodão (sul dos EUA), X tecidos (África, Ásia) 
– Externamente: monopólio (marinha mercante e 
militar) 
– Internamente: conflito com produtores de lã, linho e 
seda 
– Algodão e escravidão: “o mais moderno centro de 
produção mantém e amplia a mais primitiva forma de 
exploração do trabalho” 
 
 
A revolução industrial, 1780-1840 
• Algodão 
 
– 1760 e 1780, mecanização da produção 
– A partir de 1805: iluminação a gás e química 
– 1815 e 1840, disseminação da mecanização 
 
• Inovações simples, sem exigência de conhecimento científico ou 
energia a vapor 
 
• Hobsbawm: ideias simples, às vezes já conhecidas, foram aplicadas 
na revolução industrial e produziram um resultado espetacular 
 
• Novidade: homens de negócio e artesãos hábeis aplicam 
conhecimento na produção para o mercado 
 
 
Samuel Compton, spinning mule, 1775 
James Hargreaves, spinning jenny, 1764 
A revolução industrial, 1780-1840 
• Algodão 
 
– Pioneirismo inglês [sem concorrência] minimiza 
necessidade de qualificação, capital, volume de 
produção ou organização estatal para inovação 
[requisitos necessários para industrialização 
retardatária]; 
– Consequências do processo espontâneo de inovação: 
 
• Descentralização e desintegração das fábricas 
• Aparecimento de sindicato forte 
 
 
A revolução industrial, 1780-1840 
• Algodão 
 
– “Com notável rapidez efacilidade, surgiu entre as fazendas 
e aldeias brumosas de Lancashire um novo sistema 
industrial baseado numa nova tecnologia. E (...) surgiu 
através de uma combinação do novo e do tradicional. A 
inovação prevaleceu sobre o já estabelecido. O capital 
acumulado dentro da atividade substituiu as hipotecas de 
fazendas e as poupanças dos donos de estalagens; 
engenheiros ocuparam o lugar de tecelões-carpinteiros; 
teares mecânicos alijaram os tecelões manuais; e um 
proletariado fabril tomou o lugar de alguns 
estabelecimentos mecanizados operados por uma massa 
de trabalhadores domésticos dependentes” (p.60). 
 
 
 
A revolução industrial, 1780-1840 
• Outros setores: 
 
– Embora se pudesse observar crescimento da produção, 
continuavam a empregar métodos de produção 
tradicionais [crescimento extensivo] 
 
– “A industrialização edificou fábricas de móveis e roupas, 
mas também fez com que marceneiros hábeis e 
organizados se transformassem em trabalhadores 
subremunerados e gerou aqueles exércitos de costureiros 
e camiseiros famintos e tuberculosos que comoviam a 
opinião da classe média mesmo naquela época 
extremamente insensível” (p.67) 
 
 
 
 
A revolução industrial, 1780-1840 
• Para Hobsbawm, a indústria têxtil foi revolucionária para o padrão do séc. XVIII: novo sistema de 
produção, nova relação econômica entre as pessoas, novo ritmo de vida, nova sociedade, nova era 
da história. 
 
• Três visões da nova sociedade: 
 
– Os que não viam nada de errado com ela 
– Os que a rejeitavam inteiramente 
– Os que distinguiam capitalismo e industrialização 
 
• O problema estaria na forma capitalista de industrialização que conduzia à exploração e pobreza 
 
– Entre 1780 e 1840, instabilidade social: luditas e radicais; sindicalistas e socialistas utópicos; 
democratas e cartistas [carta do povo, 1838]. 
 
• Lentidão na melhoria de vida, dificuldade de adaptar à nova sociedade. 
• Espectro do comunismo ronda a Europa [Manifesto comunista, 1848] 
O capitalismo atrasado. In: Processo 
de industrialização: do capitalismo 
originário ao atrasado, 2003. 
 
Carlos Alonso Barbosa de Oliveira 
Carlos Alonso 
• Estudou no Chile 
 
• Professor da Unicamp e da Facamp 
Processo de industrialização 
• Olhar global sobre os processos de 
industrialização 
 
– A industrialização depende da etapa do 
capitalismo em que acontece e da estrutura 
econômica vigente anteriormente 
 
- Industrialização originária: 
 
Inglaterra (séc. XVIII). 
 
 
- Industrializações atrasadas: 
 
a) Países que se industrializaram na etapa do capitalismo concorrencial (1830-
1890) – industrialização com autonomia tecnologia e financeira 
 
1ª onda (até 1870) – França, Alemanha, EUA 
2ª onda (1870-1890) – Itália, Rússia e Japão 
 
b) Países que se industrializaram na etapa do capitalismo monopolista (séc. XX) 
– industrialização com dependência tecnológica e financeira 
 
América Latina 
Capitalismo concorrencial 
(1830-1890) 
• Estrutura concorrencial do capitalismo formada por 
 
– sistema industrial (setores de bens de produção e de consumo), 
sistema de crédito e classe operária 
 
– Predominância de capitais individuais pequenos e médios – baixo 
investimento e tecnologia simples 
 
– Processo de centralização em marcha 
 
• Elemento econômico fundamental: livre concorrência 
 
– Regula relação entre capitais (produtividade e lucro) e entre capital e 
trabalho (salário) 
 
Capitalismo concorrencial (1830-1890) 
• Contrapartida política: Estado liberal 
 
– [Relação íntima com o capitalismo industrial que condiciona suas 
características não intervencionistas] 
 
• No âmbito do comércio internacional: livre cambismo (mercadorias 
e capitais) e padrão-ouro [relação monetária entre países] 
 
– Livre cambismo para Inglaterra, monopolista no mercado mundial de 
bens industrializados: M alimentos e matérias primas e X 
industrializados 
 
– Movimento migratório (EUA, Brasil) 
Capitalismo concorrencial (1830-1890) 
• Outros países, além da Inglaterra, ao acessarem o 
mercado mundial dinamizaram suas economias – por 
isso, apoio ao livre cambismo 
 
• Articulação de interesses entre Inglaterra e outros 
países desenvolvidos [X de bens de produção e 
capitais, e ferrovias] e América Latina [rompimento do 
pacto colonial, IE para X, aumento da X] 
 
• Inglaterra como fornecedora de mercado e capital. 
Capitalismo concorrencial (1830-1890) 
• Divisão Internacional do Trabalho (DIT) 
 
– Inglaterra hegemônica. 
 
– EUA e outros países da Europa, embora X de matéria prima e M de 
produtos industriais não têm posição subordinada à Inglaterra 
 
• Porque seu capital comercial desenvolvia-se apoiado não somente no mercado 
interno, mas também no internacional, onde concorria com a metrópole. 
• Essa inserção no mercado mundial impulsionava a produção mercantil e o 
desenvolvimento manufatureiro internos – dinamismo próprio 
 
– América Latina, África e Ásia têm posição subordinada [reforço da 
posição como X de alimentos e matéria prima e M de industriais. 
Dinâmica econômica dependente do mercado externo]. 
Capitalismo concorrencial (1830-1890) 
 
• A Inglaterra se torna hegemônica na economia mundial: produção 
industrial, capital, comércio e transporte 
 
• Inglaterra e livre cambismo difundem capitalismo para o mundo no 
século XIX, sobretudo a partir de 1850 
 
• Dada a hegemonia inglesa, estabelecimento do padrão libra-ouro, moeda 
de reserva e troca nas transações comerciais e financeiras 
 
• Desenvolvimento da Inglaterra e de outros países – interesses comuns – 
industrialização nos países europeus e nos EUA e progresso econômico na 
América Latina - estabilidade da nova ordem internacional [capitalismo 
concorrencial] – “pax britannica” 
 
 
1ª onda (até 1870): EUA, França e Alemanha 
 
• EUA: colonização europeia produziu estrutura social heterogênea 
 
– Sul escravista 
– Centro e Norte com pequena propriedade 
 
 
• Diferentes relações com o capital comercial inglês: 
 
– Exploração no Sul 
– Povoamento no Centro e Norte: organização econômica semelhante à europeia 
 
• Dinamismo das colônias de povoamento acirram conflitos com a metrópole: guerra de independência em 1776 
 
– Finda a guerra, estrutura econômica semelhante à da Europa pós-feudalismo: pequena produção independente, divisão social 
do trabalho, acumulação de capital comercial, putting-out e manufatura ao lado do artesanato. 
 
– Estado: estímulo à produção e protecionismo. Avanço no comércio exterior (Antilhas, AL, Oriente e Europa – guerras 
napoleônicas – algodão). Também mercado interno (integração econômica e marcha para o Oeste) 
 
• Industrialização entre 1840 e 1870 
 
1ª onda (até 1870): EUA, França e Alemanha 
 
• EUA: especificidades 
 
– Agricultura mercantil escravista e de pequena 
propriedade e ferrovias 
 
– Dinâmica que estimulava a produção para 
mercado interno e externo, inclusive produtos 
industriais 
1ª onda (até 1870): EUA, França e Alemanha 
 
• França: revolução francesa (1789) acabou com Antigo Regime 
 
• Estado: protecionismo e construção de infra-estrutura (integração 
de mercados) 
 
• Internamente, baixa produtividade da agricultura, mas 
desenvolvimento do putting out, manufaturas, bancos (Banco da 
França, 1800) e indústria têxtil 
 
• Guerras napoleônicas (1803-1815) – perda de colônias e marinha 
mercante 
 
• Industrialização na década de 1840 
1ª onda (até 1870): EUA, França e Alemanha 
 
• França: especificidades 
 
– Luta política entre a velha riqueza (bancos comerciais 
e indústrias familiares) e a nova riqueza (bancos de 
investimento e SAs)vencida pela primeira 
 
– Proteção à agricultura 
 
– Processo lento de proletarização 
1ª onda (até 1870): EUA, França e Alemanha 
 
• Alemanha: ainda não unificada (só em 1871). 
 
• Pequenos Estados absolutistas fizeram reformas capitalistas, mas preservaram 
privilégios da nobreza. Burguesia não detinha poder político, mas conseguiu 
concessões de governos conservadores (legislação comercial) 
 
• Zollverein, 1830: união aduaneira sob liderança da Prússia iniciou processo de 
unificação. 
 
• Processo lento de transição da servidão para o trabalho assalariado, da nobreza 
para a burguesia. 
 
• Heterogeneidade: Sul e Oeste, pequena propriedade. Leste, grande propriedade 
[agricultura junker] 
 
• Estado: protecionismo [List], IE e estímulo à produção. Nas cidades, putting out, 
manufaturas e indústria têxtil. 
1ª onda (até 1870): EUA, França e Alemanha 
 
• Alemanha: especificidades 
 
– Aliança entre o capital industrial e bancário – 
capitalismo financeiro 
 
– O capital financeiro garantia o capital necessário 
para tecnologia avançada e expansão de 
mercados. 
Ferrovias 
 
• Ferrovias e financiamento em países de industrialização atrasada 
 
– Ferrovias 
 
• Integram mercados 
• Ampliam mercado para bens de produção: ferro, carvão e máquinas [mineração, metalurgia e 
mecânica] 
• Salto tecnológico – incorporação de tecnologia com M de máquinas inglesas e posterior produção 
interna – transferência de conhecimento técnico pela imigração de trabalhadores especializados 
ingleses 
 
– Financiamento 
 
• Estado 
• Capital estrangeiro – formação de SAs (ferrovias, serviços, bancos e seguros) 
• Bancos de investimento – centralização da poupança + crédito = especulação e industrialização 
 
• Com essas condições, os países atrasados assemelhavam-se à Inglaterra e 
participavam da concorrência em nível mundial – competitividade, redução de 
tarifas e livre comércio. 
Transição ao capitalismo monopolista 
(1870-1890) 
 
• A Inglaterra perde o monopólio da produção industrial 
 
• Onda protecionista [grande depressão, 1873-1896] 
 
• Centralização de capital: formação de grandes empresas e barreiras à entrada de novas empresas 
no mercado 
 
• Novo padrão tecnológico [2ª revolução industrial]: aço, eletricidade, motor à combustão e química 
– conhecimento científico aplicado à produção – pesquisa e inovação 
 
• Nova corrida colonial 
 
• 1890: capitalismo monopolista: produção, crédito e tecnologia 
 
– Estados Unidos e Alemanha: articulação bancos e indústria 
– Inglaterra: sem articulação bancos e indústria [bancos ligados ao comércio e ao mercado externo] 
2ª onda (a partir de 1870): Japão e Rússia 
 
• Japão: declínio do feudalismo japonês (1867) e desenvolvimento do capitalismo 
[manufatura e mercado] 
 
– Em 1853, EUA exigem abertura dos portos japoneses [agressão externa]. Agressão provocou 
queda do regime Tokugawa e início do período Meiji, com reformas pró-industrialização e 
abertura da economia japonesa 
 
– Reformas conservadoras preservaram privilégios da nobreza 
 
– Base agrícola mercantil (M de máquinas) e estímulos do governo às X. 
 
– Estado monta empresas estatais e bancos. A partir de 1880 transfere-os para o setor 
privado. Formação de conglomerados (capital industrial, bancário e comercial) – zaibatsu – 
capital nacional. 
 
– Proletarização e investimento do governo em IE. 
 
– Preocupação militar 
2ª onda (a partir de 1870): Japão e Rússia 
 
• Rússia: do feudalismo à industrialização. 
 
• Industrialização da Europa Ocidental e derrota na guerra da 
Criméia (1853-1856) estimularam reformas pré-industrialização. 
 
• X de cereais garantia recursos para M de máquinas 
 
• Estado patrocinou ferrovias, forneceu crédito e demanda 
industrial 
 
• Capital estrangeiro 
 
• Preocupação militar 
2ª onda (a partir de 1870): Japão e Rússia 
 
• Pontos em comum Japão e Rússia 
 
– Desenvolvimento prévio do capitalismo. Transição do 
capitalismo concorrencial para o monopolista 
 
– Burguesia não foi capaz de mobilizar capitais para 
implantar a grande indústria. Financiamento 
dependeu diretamente do Estado 
 
– Necessidade de grande salto: grandes indústrias e 2ª 
revolução industrial 
 
 
O padrão-ouro. In: A globalização 
do capital, 2003. 
Barry Eichengreen 
Barry Eichengreen 
• Professor da Universidade da Califórnia, Berkeley 
 
• Assessor do FMI, 1997-98 
 
• Presidente da Associação de História Econômica 
(2010-11) 
 
• Golden Fetters: The Gold Standard and the Great 
Depression, 1919–1939. Oxford University Press, 
1992 
Padrão-ouro 
• Uma vez que os países se industrializavam e o 
mercado mundial, sobretudo as relações N-N, 
se avolumavam, é preciso falar sobre como se 
davam as relações entre países com diferentes 
moedas (câmbio) 
 
Pré-história do padrão-ouro 
• Metais eram usados como moeda/dinheiro 
 
• Ouro, prata e cobre eram os metais usados no 
comércio internacional 
 
– até 1870, bimetalismo: ouro e prata 
 
– depois de 1870, padrão-ouro: predominância do 
ouro nas transações internacionais 
 
O advento do padrão-ouro 
• Padrão-ouro: valor fixo de uma moeda 
nacional em ouro 
 
– Implicação: emissão de moeda e lastro em metal 
 
• Fluxo de moedas metálicas, de David Hume. 
Modelo simplificado: não considerava bancos 
e todos os pagamentos eram feitos em Au. 
 
A B 
A B 
I 
II 
X = 100 
M=50 
X = 50 
M=100 -50 +50 
+50 -50 
Au=+50 
 
P 
Au=-50 
 
P 
X = 50 
M=100 
X = 100 
M=50 
Au=-50 
 
P 
Au=-50 
 
P 
Como funcionava o padrão-ouro? 
Padrões-ouro 
• Por volta do séc. XX, havia um sistema 
internacional baseado no padrão-ouro 
 
• Variações: sistemas mais puros eram 
encontrados nos EUA, França, Inglaterra e 
Alemanha. 
• Ponto positivo: estabilidade de preços (Milton 
Friedman) 
 
• Ponto negativo (não percebido à época): 
deflação (crise de 1875 e grande depressão) 
 
 
Uma economia mudando de 
marcha. In: A era dos impérios 
(1875-1914), 2007 
 
Eric Hobsbawm 
Uma economia mudando de marcha 
• 1786 – 1875: liberalismo e industrialização 
 
– O contexto da era dos impérios (final do XIX) 
 
• 1875 -1896: grande depressão e 
protecionismo 
 
• 1896 – 1914: belle époque e recuperação 
1875-1896: crise 
• Período chamado de “grande depressão”, mas 
 
– Aumento da produção e do comércio (ainda que com quedas agudas em 
alguns anos) 
– Industrialização de novos países (Rússia, Japão, Suécia) 
– Investimento estrangeiro e ferrovias se estendem para a periferia (Brasil e 
Argentina) 
 
• Questão de Hobsbawm: havia mesmo uma “grande depressão”? 
 
– Apesar dos dados à primeira vista não confirmarem a depressão, o mal estar 
econômico e social da época era explicado pela queda não da produção, mas 
da lucratividade. 
– Outro problema deflação causada pelo aumento da oferta (tecnologia), 
concorrência e demanda insuficiente (sem mercado de consumo de massa) 
– Relação deflação e lucratividade: queda de preços = queda de lucratividade, 
pois os custos de produção (salários) eram mais ou menos estáveis. 
1875-1896: crise 
• Respostas imediatas à crise: 
 
– Protecionismo [sobretudo por pressão do setor 
agrícola, um dos mais atingidos pela crise. EUA, 
Alemanha e França; Inglaterra mais liberal, afinada 
aos interesses da City e da indústria] 
 
– Imigração [déc. de 1880 ocorreu a maior migração 
ultramarina, válvula de escape para a pressão social 
na Europa] 
 
– Formação de cooperativas. 
1875-1896: crise 
• Debate de soluções para a crise: 
 
1) Volta aobimetalismo (crise associada ao padrão-ouro); 
 
2) Protecionismo 
• Estados-nação e interesse nacional. 
• Nos países pobres, interesse nacional misturado à subordinação aos países ricos: “república de 
bananas” 
• Nacionalismo e concorrência entre países: os ganhos de um país pareciam ameaçar a posição do 
outro. 
 
3) Formação de trustes e administração científica (taylorismo) 
• Tentativa de reduzir custos e aumentar lucro 
• Lei Sherman (1890, EUA). 
 
4) Imperialismo 
• Pressão do capital pela valorização 
• Pressão da produção para encontrar mercados e políticas expansionistas 
 
 
 
1896 – 1914: prosperidade 
• A economia mundial prosperou: Belle Époque. O que aconteceu? 
 
• Para Hobsbawm: industrialização e urbanização 
 
– Industrialização: países industrializados e em via de se industrializar 
agiam como motores do crescimento econômico global ao servirem, 
simultaneamente, como produtores e consumidores: Inglaterra, 
Alemanha, França, Bélgica, Suiça, EUA; Escandinávia, Holanda, norte 
da Itália, Hungria, Rússia e Japão (80% do mercado mundial) 
 
– Urbanização: mercado de consumo de massa (“os filósofos políticos 
temiam a emergência das massas ao passo que os vendedores a 
saudavam”), propaganda e cultura do consumo. 
Síntese da economia mundial na 
Era dos impérios 
 
• Mais países no mercado mundial (1ª globalização x imperialismo) 
 
• Mais países industrializados 
 
• Países desenvolvidos e subdesenvolvidos 
 
• Revolução tecnológica (telefone, cinema, automóvel, avião, bicicleta, eletricidade, química, motor à 
combustão) 
 
• Grande empresa e racionalização da produção 
 
• Mercado de consumo de massa (transformação quantitativa e qualitativa) 
 
• Crescimento do setor de serviços (escritórios, lojas, white collar) 
 
• Novo papel dos governos (nacionalismo, protecionismo e imperialismo, apesar do peso ainda 
modesto na economia). 
Síntese da economia mundial na 
Era dos impérios (1875-1914) 
 
• Mais países no mercado mundial (1ª globalização x imperialismo) 
 
• Mais países industrializados 
 
• Países desenvolvidos e subdesenvolvidos 
 
• Revolução tecnológica (telefone, cinema, automóvel, avião, bicicleta, eletricidade, química, motor à 
combustão) 
 
• Grande empresa e racionalização da produção 
 
• Mercado de consumo de massa (transformação quantitativa e qualitativa) 
 
• Crescimento do setor de serviços (escritórios, lojas, white collar) 
 
• Novo papel dos governos (nacionalismo, protecionismo e imperialismo, apesar do peso ainda 
modesto na economia). 
A era dos impérios. In: A era dos 
impérios (1875-1914), 2007 
Eric Hobsbawm 
A era dos impérios 
• Um mundo de império significa um mundo em que países avançados 
dominam países atrasados. 
 
• Entre 1875 e 1914, houve a divisão do mundo entre um pequeno número 
de Estados. 
 
• Depois de um período sem expansão colonial entre o final do XVIII e o 
último quartel do XIX, reapareceram os impérios coloniais 
 
– África, Ásia e Oceania divididas entre Inglaterra, França, Alemanha, Itália, 
Holanda, Bélgica, EUA e Japão. 
 
– América preservada em função da Doutrina Monroe, de James Monroe, de 
1823, a qual não aceitava a intervenção de países europeus no continente 
americano (exceção para colônias do Caribe) 
A era dos impérios 
• Mudança em relação ao padrão de desenvolvimento anterior (fim do XVIII a 1875) 
com livre comércio e livre concorrência – (nacionalismo e protecionismo). 
 
• Duas formas de imperialismo: 
 
– Colônia (administração direta) 
– Zona de influência (independência formal apenas) 
 
• Hobsbawm: antes havia império e imperadores (poder político e militar), 
agora há imperialismo (poder econômico) – novidade e debate: 
 
– Imperialismo com caráter pejorativo 
 
– Colonialismo visto apenas como expansão nacional de países capitalistas (1ª globalização) 
 
– Imperialismo como nova fase do capitalismo. Hobson (1902) e Lênin (1916). 
A era dos impérios 
• Quais as causas do imperialismo? Outro 
debate: 
 
– Não-marxistas: imperialismo sem causa 
econômica (não era novidade); passível de acordo 
entre as potências; não teria levado à guerra 
 
– Marxistas: imperialismo com causa econômica 
(era novidade); irreconciliável entre potências; 
teria levado à guerra 
A era dos impérios 
• Por que os países industriais dividiram o mundo? 
 
• John Hobson: X de capitais. 
 
• Outros autores: rentabilidade do investimento externo 
 
• Hobsbawm: procura de mercados [para diminuir a pressão da 
superprodução]. 
 
– A necessidade de busca de novos mercados, via anexação de territórios, 
aumentou com políticas protecionistas – economia e política 
 
• Assim, “o ‘novo imperialismo’ foi o subproduto natural de uma economia 
internacional baseada na rivalidade entre várias economias industriais 
concorrentes, intensificada pela pressão econômica de 1880”. 
A era dos impérios 
• Para Hobsbawm: o fato mais importante do 
XIX foi “a criação de uma economia global 
única (...) uma rede cada vez mais densa de 
transações econômicas, comunicações e 
movimento de bens, dinheiro e pessoas 
ligando os países desenvolvidos entre si e ao 
mundo não desenvolvido” 
 
• Esse processo se intensifica entre 1875 e 1914 
A era dos impérios 
• Nos países desenvolvidos, necessidade de matérias-primas 
(petróleo), alimentos (consumo de massa: banana, chá, café). 
 
• Essas necessidades não mudaram o caráter dos países 
industrializados ou em industrialização, mas mudaram o resto do 
mundo, transformando-o num complexo de territórios coloniais e 
semi-coloniais que se especializaram na produção de um ou dois 
produtos primários de exportação para o mercado mundial e eram 
totalmente dependentes dele – [volatilidade e vulnerabilidade]. 
 
• Eram complementos das economias metropolitanas e não 
concorrentes delas. 
 
• Imperialismo, portanto, ligado ao desenvolvimento do capitalismo e 
divisão do mundo entre centro e periferia. 
A era dos impérios 
• Consequência social do imperialismo 
 
– Unificador ideológico em torno do nacionalismo e racismo (superioridade 
branca) 
– Civilização burguesa: ciência e tecnologia, manufatura, colônias. 
 
• Outras consequências do imperialismo 
 
– Desigualdade entre países (relações assimétricas entre ricos e pobres, e 
concentração do comércio entre os ricos); 
– Supremacia inglesa na economia e na cultura (modelo de sociedade vinha dos 
países desenvolvidos. Ocidentalização do mundo); 
– Exotismo (aspectos dos países subdesenvolvidos que chegavam aos 
desenvolvidos, pensamento sobre a diversidade); 
– Democracias e autocracias; 
– Incertezas (trabalho na periferia e ganhos no centro) 
A era da guerra total. In: A era 
dos extremos (1914-1991), 1995. 
Eric Hobsbawm 
I Guerra Mundial 
• Início em 28 de julho de 1914 quando a Áustria declara 
guerra à Sérvia 
 
• Por que a guerra não foi resolvida por diplomacia? 
 
• Para Hobsbawm, o motivo é que se buscava objetivos e 
metas ilimitadas. “As fronteiras naturais da Standard Oil, do 
Deutsche Bank ou da De Beers Diamond Corporation, 
estavam no fim do universo, ou melhor, nos limites de sua 
capacidade de expansão” 
 
• Daí a disputa entre potências pelo mundo e a guerra total: 
só interessava a vitória total. 
I Guerra Mundial 
• Resultados da guerra: 
 
– Perdas econômicas para os países; 
– Instabilidade política na Europa (Tratado de Versalhes, 1919 – Wilson, 
Lloyd George e Clemenceau) 
 
• Enfraquecimento da Alemanha (reparações e “corredor polonês”) 
• Cuidado com a Rússia revolucionária (“cordão sanitário” para isolar a Rússia) 
• Reordenamento do mapa europeu (criação de Estados-nação étnico-linguísticos. Ex. Iugoslávia (Sérvia, Eslovênia, Croácia e Montenegro) 
• Divisão do Oriente Médio entre Inglaterra e França 
 
• Criação da Liga das Nações (sem EUA): tentativa do Tratado era 
evitar uma nova guerra, mas fracassou 
 
A crise de 1930 
• A crise de 1930 levou ao poder forças do 
militarismo e da extrema direita. 
 
• Era previsível à época que uma nova guerra 
estava para acontecer... 
 
II Guerra Mundial 
• Marcos da II Guerra Mundial 
– Invasão da Manchúria pelo Japão (1931) 
– Invasão da Etiópia pela Itália (1935) 
– Invasão da Áustria pela Alemanha (1938) 
 
• Em 1940, a Alemanha havia tomado a Europa 
continental (inclusive a França). Só restava a Inglaterra 
(Churchill) 
 
• Em junho de 1941, apesar do acordo Hitler-Stalin de 
1939, a Alemanha invadiu a URSS. Para Hobsbawm, 
primeira data decisiva da guerra... 
 
 
 
 
 
II Guerra Mundial 
• No mesmo ano, em dezembro, o Japão atacou Pearl 
Harbour como resposta ao embargo econômico imposto 
pelos EUA em função da invasão japonesa à Indochina 
[Laos, Vietnam e Camboja] 
 
• Em 1942, a Alemanha declarou guerra aos EUA. Para 
Hobsbawm, segunda data decisiva da guerra... 
 
• Grande aliança contra o Eixo: vitória total dos aliados 
 
• Acordo de Potsdam, 1945. Estados perdedores ocupados 
pelos vencedores. 
II Guerra Mundial 
• Hobsbawm adverte que, no século XX, as guerras 
mundiais foram de massa, ou seja, envolveram toda a 
sociedade 
 
• Mobilização para a guerra viabilizada pela 
produtividade industrial e agrícola, e trabalho 
feminino. 
 
• A guerra em massa exigia produção em massa. Essa 
produção exigia organização e administração [logística, 
caso IBM: IBM e o Holocausto, de Edwin Black] 
 
II Guerra Mundial 
• Hobsbawm: “Falando em termos gerais, a 
guerra total era o maior empreendimento até 
então conhecido do homem, e tinha de ser 
conscientemente organizado e administrado” 
 
• Origem da indústria militar e complexos civis-
militares (Ex. armamentos e governo) 
 
II Guerra Mundial 
• Avanço tecnológico: bomba atômica, aviação, 
computadores (aceleração das inovações) 
 
• Problema: como financiar a guerra? 
Empréstimos, impostos? 
– Planejamento para controlar a economia e 
interferência dos Tesouros e Ministérios das Finanças. 
 
• A guerra promoveu crescimento econômico? 
Depende. Crescimento na Rússia. 
 
 
II Guerra Mundial 
• Impacto humano das guerras. Guerra sem 
limite explicaria brutalidade e desumanidade 
no séc. XX – sentimentos nacionais [problema 
do nacionalismo] 
 
• Impessoalidade da guerra 
– baionetas x bombas 
– crueldades sistemáticas e rotineiras [holocausto, 
Eichmann em Jerusalém] 
 
 
O colapso financeiro de 1929: por 
que houve uma grande depressão 
nos anos 1930? In: Nova história das 
crises financeiras, 2016 
 
Carlos Marichal 
Grande depressão 
• Maior crise econômica do século XX atingiu 
principalmente os EUA e a Europa, mas 
também o resto do mundo 
 
• Vasta literatura sobre as causas da grande 
depressão. Consenso: legado da I guerra 
mundial. 
Da guerra à paz instável (1920-21) 
• 1918-1920: grande inflação em diversos países. Por quê? 
 
– Desregulamentação do comércio (Tawney, 1943, p/ ING) 
– Aumento da demanda pós-guerra 
– Expansão da oferta monetária 
 
• 1920-21 (Europa): câmbio flutuante e emissão monetária 
 
• 1920-21 (EUA): reversão da alta dos preços 
 
– Atuação fraca do FED (Benjamin Strong) e do Banco da Inglaterra (Montagu 
Norman) para impedir a deflação 
– Flexibilização do crédito, mas com taxas de juros ainda altas: recessão rápida 
– Reforço da visão ortodoxa de combate à crise (não intervenção) 
 
As reparações e a hiperinflação alemã 
(1922-23) 
• As reparações (em mercadorias e metal) levaram à 
hiperinflação alemã (Eichengreen) 
 
• Taxa de câmbio marco/dólar em 1923: 4,2 bilhões de 
marcos por dólar! 
 
• Não pagamento das reparações alemãs comprometia 
acerto de contas entre outros países europeus e EUA 
 
• 1924: Plano Dawes (diante da dificuldade da Alemanha em 
pagar as reparações): cortou juros e estabeleceu 
empréstimos dos EUA à Alemanha 
 
Retorno ao padrão-ouro (1925-28) 
• Sucesso do Plano Dawes e retorno ao padrão-ouro 
 
• Processo irreversível com adesão da Inglaterra em 1925 
 
• Reservas em ouro ou em moedas estrangeiras conversíveis (libra e dólar) 
 
– Na AL, volta ao padrão-ouro e diplomacia do dólar, daí ajuda dos EUA para 
organizar sistemas financeiros – “money doctors” 
– Movimento triangular: EUA emprestavam dólares para AL, AL enviava dólares 
para a Europa (para pagar M) e a Europa enviava dólares para os EUA (para 
pagar M). 
 
• Por que padrão-ouro? Estabilização das economias e volta à Belle Époque. 
 
• Problemas: peso da dívida pública e desconfiança na manutenção do 
padrão-ouro 
 
O auge internacional das bolsas nos 
anos 1920 
• Estabilidade econômica, recuperação do crédito bancário e 
alta no movimento das bolsas; 
 
• Confiança, inovação e consumo: empresas e capital na 
bolsa – “Get rich quick” e The Gold Rush, Chaplin, 1925. 
 
• Auge mais marcante: Wall Street entre 1922 e 1929. 
 
• Empresas grandes - GM, Ford, Dupont, Sears, GE atraíam 
boa parte das aplicações (Eugene White) 
 
• Como medir o movimento? Índice S&P 
O auge internacional das bolsas nos 
anos 1920 
• Questão: especulação ou fundamentos reais para a 
expansão bursátil? 
 
• White (2006): crescimento econômico, baixo desemprego, 
inflação baixa, ciclo de inovações e multiplicação dos 
fundos de investimento. 
 
• A partir de 1927 na Europa: queda das bolsas (socorro 
promovido por Strong e Norman), restrição do crédito e do 
comércio internacional 
 
– Fluxo de capital para os EUA 
– Boom de Wall Street em 1929 
O crash de Wall Street em 1929 e suas 
consequências 
• 24 de outubro de 1929: quinta-feira negra. 
 
• Nos anos seguintes: 
– Desconfiança (redução do mercado financeiro); 
– Falências bancárias (1930-33); 
– Redução do crédito; 
– Queda do comércio internacional (entre 1928 e 1932, 
redução de 60%) 
– Redução da produção e desemprego 
– Deflação - Depressão 
Walker Evans 
Dorothea Lange 
O crash de Wall Street em 1929 e suas 
consequências 
• Causas da crise: 
 
– Milton Friedman: FED e restrição do crédito (explicação monetarista) 
 
– Peter Temin: redução nos setores agrícola, industrial e moradias; 
queda da renda e do consumo, problema na bolsa e nos bancos 
(explicação keynesiana) 
 
– Ben Bernanke: oferta de moeda, demanda e, especialmente, 
contração do crédito devido à fragilidade do sistema financeiro 
levaram à recessão e à depressão. 
 
– Cristina Romer: quebra da bolsa, reversão de expectativas e 
contaminação da economia real 
Fracasso da cooperação internacional 
e abandono do padrão-ouro 
• Resposta à crise em diversos países: nacionalismo e protecionismo 
(queda do comércio internacional e da produção, 1929-32) 
 
• Recuperação do comércio, recuperação da produção. 
 
• Por outro lado, padrão-ouro como causa da rigidez na gestão das 
emissões e do crédito (Eichengreen, 1995) 
 
• Abandono do padrão-ouro a partir de 1931 (Inglaterra) e 
recuperação da economia 
 
• Em 1933, divisão do mundo em três blocos monetários: dólar, libra 
e ouro – tensão entre países. 
Respostas da economia política à crise: 
New Deal nos EUA 
• Bradford De Long (1990): por que o governo não interveio 
antes de 1933? 
 
– Postura liquidacionista (esperar o mercado se recuperar): 
Schumpeter, Robbins e Hayek (academia); Mellon (governo) e 
ocupantes do FED (Wood, 2005) – Não funcionou.• 1933, aumento do gasto público: 
– Criação de agências governamentais (TVA) 
– Políticas de combate ao desemprego e segurança aos 
trabalhadores (seguridade social, 1935) 
– Regulação: mercado hipotecário (Fannie Mae); mercado 
bancário (FDIC) e Glass-Steagal; mercado financeiro (SEC). 
Consequências perversas da crise: 
nazismo na Alemanha nos anos 1930 
• Alemanha, República de Weimar (1919-32) e 
austeridade monetária (depois da hiperinflação) – 
Hjalmar Schacht - crise econômica que permitiu a 
ascensão do nazismo – ditadura a partir de 1934 
 
• Itália – fascismo 
 
• Espanha – guerra civil 
 
• Japão – imperialismo, Manchúria, 1932. 
América Latina nos anos 1930: 
crise e recuperação 
• 1929-1931: grande impacto 
 
– Redução do comércio internacional 
– Queda no preço dos produtos de exportação 
 
• A partir de 1932: rápida recuperação 
 
– Recuperação do comércio internacional 
– Moratórias (exceção Argentina e Venezuela) 
– Intervenção estatal e industrialização

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