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Resenha critica

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FAPAN - Faculdade do Pantanal
Resenha critica do livro “A tribo da Caverna do Urso”
Acadêmico: João Victor de Alcântara Santana Ramos.
Professor Orientador: Rubens Marc Soares da Silva.
Cáceres-MT
2019/01
1.OBRA ANALISADA
FULLER, Lon L. O caso dos exploradores de cavernas. Tradução do original inglês e
introdução por Plauto Faraco de Azevedo. 10. reimp. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris. Editor, 1999.
2. CREDENCIAS DO AUTOR
Lon Luvois Fuller (1902-1978) foi um jurista estado-unidense. Fuller estudou Economia e Direito em Stanford e atuou como professor de Teoria do Direito, inicialmente nas Faculdades de Direito de Oregon, Illinois e Duke e, a partir de 1940, na Faculdade de Direito da Universidade de Harvard, onde trabalhou até 1972. Publicou estudos de direito civil, de filosofia e teoria do direito. Deve sua fama a um breve ensaio intitulado como “O caso dos exploradores de caverna”. Esse trabalho, publicado em 1949 como material didático para introduzir a conflitos jurídicos, foi lido e comentado por estudantes e professores de Direito em todo o mundo, tendo sido traduzido para vários idiomas. Sua principal obra jusfilosófica é "The morality of law". Ele defende uma versão moderada de jusnaturalismo procedimental (ou moralismo fraco), indicando em particular as condições sem as quais o direito deixa de ser correto e válido.
Paulo Faraco de Azevedo possui graduação em Bacharel Ciências Jurídicas e sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1963), e doutorado em Direito pela Universidade Católica de Louvain (1971). Atualmente é professor da Escola Superior do Ministério Público – RS. Possui também formação em Teoria Geral do Direito, Introdução ao Estudo do Direito, Hermenêutica Jurídica, Globalização e Economia.
 3. OBJETIVO DO AUTOR
A obra de Lon L. Fuller permite extensos debates acerca do ordenamento jurídico, que vão desde a postura dos poderes públicos e de seus representantes, da ética, da moral até muitos outros temas que permeiam o universo jurídico e social. Lon L. Fuller utiliza do jusnaturalismo e do positivismo, dos métodos hermenêuticos e dogmáticos e da legalidade e legitimidade das normas, adicionando ao caso diferentes formas de abordagem e empregando uma argumentação jurídica mostrando toda a complexidade existente nas análises e aplicação do Direito, demonstrando as diferentes correntes jurídicas existentes. Uma das finalidades do autor ao escrever o livro é conduzir os leitores a reconhecer o Direito dentro de uma totalidade cultural, ou seja, vincular o Direito com uma realidade social. 
4. IDÉIAS CENTRAIS DA OBRA
O Livro retrata a experiência de quatro homens, membros da Sociedade Espeleológica de uma Organização Amadorística de Exploração de Cavernas. A aventura ocorre no ano de 4299, onde quatro membros, inclusive Whetmore, adentraram no interior de uma caverna de rocha para explorar. Já no interior da caverna houve um grande deslizamento e pedras acabaram por fechar a entrada da grande massa rochosa, impossibilitando a saída dos exploradores, deixando-os presos. Preocupados com a ausência dos desbravadores, os parentes noticiaram à Sociedade Antropológica, que acabou enviando um grupo ao local. Chegando ao exterior da caverna, a equipe deparou-se com muitos obstáculos, sendo de extrema necessidade a atuação de homens e máquinas para ajudar na retirada da equipe. O resgate contou com um grande número de pessoas, trabalhadores braçais e técnicos, durante os trabalhos de resgate, houve outro deslizamento, e 10 operários morreram. 
No vigésimo dia a equipe de resgate conseguiu fazer contato com os exploradores por rádio. Um deles, chamado Roger Whetmore, perguntou quanto tempo eles demorariam a ser resgatados. Os engenheiros responderam que, pelo menos, mais dez dias. Então o Whetmore pediu para falar com um médico e perguntou se conseguiriam sobreviver por mais dez dias. O médico disse que as possibilidades eram muito poucas. Depois de oito horas, novamente Whetmore perguntou se eles sobreviveriam se se alimentassem da carne de um deles. O médico, a contragosto, disse que sim. Whetmore falou com os amigos que seria sensato um deles ser morto para que os outros pudessem sobreviver. Perguntado ao médico se seria bom tirar na sorte (jogo de dados), nenhum deles, entre médicos, padres, juízes, e autoridade do governo assumiu em responder nada sobre a pergunta. Depois disso nenhum contato fora estabelecido com os exploradores na caverna, o rádio havia ficado calado, sem pilhas. 
Com isso cessaram as comunicações e, quando os homens foram resgatados, ficou- se sabendo que, no trigésimo terceiro dia após a entrada na caverna, os demais comeram a carne do próprio Whetmore para se manterem vivos. Os quatro sobreviventes foram acusados pelo homicídio de Roger Whetmore e, perante o júri, ficou evidenciado que o Whetmore foi o primeiro a propor que um deles fosse morto para servir de alimento aos demais. Ele mesmo propôs também que fosse tirada a sorte nos dados (curiosamente, ele tinha um par de dados consigo). No entanto, antes de tirarem a sorte, Whetmore desistiu, mais os outros prosseguiram. Quando chegou a vez dele, lançaram os dados para ele. E o “sorteado” foi o próprio Whetmore. Os quatro réus foram condenados à forca em primeiro grau. Apesar da condenação, tanto o júri quanto o juiz enviaram uma petição ao chefe do Poder Executivo para que este comutasse a pena de morte em prisão de seis meses, o que, até o momento do julgamento do recurso pelo tribunal, não tinha acontecido. Da condenação pelo tribunal do júri, houve recurso à Suprema Corte de Newgarth. A Suprema Corte de Newgarth era composta por cinco juízes.
O primeiro a votar é o presidente da Suprema Corte o Juiz Truepenny. É ele quem relata o caso, e recomenda ao Tribunal que mantenha a condenação, mas fazendo o mesmo que o juiz de primeiro grau e o júri. No entanto, no caso da Suprema Corte, diz que o mais adequado, diante das circunstâncias do caso, seria não pedir, mas recomendar ao Chefe do Poder Executivo comutar a pena. Com isso, eles ficariam dentro da legalidade, porque a comutação da pena pelo Chefe do Poder Executivo também está prevista no direito positivo. E é por isso que o Presidente da Corte, Juiz Truepenny, pode ser considerado um “positivista com crise de consciência”.
O Juiz Foster, Abre seu voto criticando o presidente do colegiado, o juiz Truepenny. Foster se diz espantado com este “esforço para escapar às dificuldades deste trágico caso”, mediante adoção de “solução simultaneamente tão sórdida e tão simplista”. Devido à repercussão do caso se manifestou no sentido de que as pessoas acusadas fossem inocentadas. Sendo ele juiz defensor do estado natural, alegou que todos foram vítimas, privados da razão, colocados a condições extremas da resistência humana, levados ao originário da evolução, e que dentro da caverna não poderia aplicar as leis em vigor em Newgarth. Argumentou ainda que, a conclusão de que aqueles homens eram assassinos não fazia sentido, concluindo então que, os quatro homens eram inocentes.
Depois disso vem o Juiz Tatting, o terceiro a votar e o segundo positivista com crise de consciência. Racionalmente, ele entende que tem de ser aplicada a lei, mas suas emoções dizem o contrário. E quando ele pensa no ato cometido pelos réus (canibalismo), suas emoções ficam ainda mais confusas. Por isso, ele toma uma atitude inédita e se abstém de votar.
O Juiz Keen, o quarto a votar. Este é um positivista rigoroso. Nenhum dos argumentos do juiz Foster o sensibiliza. Pelo contrário, ele encontra um jeito de refutá-los todos. E mais, ele ainda critica o Juiz Truepenny, o Presidente do Tribunal, por sugerir ao Chefe do Poder Executivo que comute a pena. Como é típico de um positivista, o Juiz Keen é bastante apegado à literalidade da lei e à separação de poderes. Assim, ele vota pela manutenção da condenação.
Por fim, o quinto e último a votar é o Juiz Handy. Ele questiona a validade do acordo realizado internamente na cavernae aceito por todos do grupo. Esse questionamento é levado à opinião pública, no qual o magistrado apresenta uma pesquisa popular onde noventa por cento da sociedade concorda que os réus deveriam ser isentos de pena, ou seja, absolvidos. Conclui-se, portanto que a partir do momento em que o ser humano sai das cavernas para o convívio em sociedade, surgem regras com efeitos “erga omnes”, ou seja, tanto as instituídas pela sociedade, quanto pelo Estado e aquelas normas sociais estabelecidas no decorrer da convivência humana, bem como as regras morais e religiosas deverão ser respeitadas e aplicadas às sanções a todos os cidadãos, sem exceção. O Juiz Handy inocentou os réus. 
Contabilizando os votos, temos dois para manter a condenação, dois pela absolvição, e uma abstenção. Como consequência do empate, a condenação foi mantida (assim determinavam as regras que regulamentam aquele Tribunal). Em consequência, foi marcada a execução dos réus por meio da forca para o dia 2 de abril do ano 4.300.
5. APRECIAÇÃO CRÍTICA DA OBRA 
A obra é essencial para a matéria de introdução do estudo do Direito devido à multiplicidade de correntes (como o positivos, o jusnaturalismo e o realismo) dogmas, preceitos e posições filosóficas recorrentes no campo jurídico. As pronuncias de cada juiz representam ao longo do texto tais correntes, proporcionando uma noção concreta, ainda que se trate de um caso fictício, de como cada linha de pensamento encaixa-se nos postulados do Direito.
Concluo expressando que não concordo com o desfecho da obra, pois na minha opinião os réus devem ser absolvidos da acusação de terem cometido crime de homicídio contra Roger Whetmore e apoio a reformulação da sentença. Baseio minha decisão nos argumentos do Juiz Foster e Handy. Acredito que o ato cometido pelos acusadores foi fundamentado em um acordo estabelecido dentro da caverna para que quatro vidas fossem salvas, sendo este a única forma de lei estabelecida, devendo assim ser obedecida por todos. Concordo que a ação dos réus tenha sido algo frio e inaceitável, porém é necessário levar em conta o ambiente e as circunstâncias que estes homens se encontravam no momento dos fatos ocorridos. 
A morte de Whetmore foi uma questão de sobrevivência, não havendo outra escolha, e que o contrato celebrado entre os cinco exploradores dentro da caverna foi justo para que se decidisse quem seria o sacrificado. Ademais, após todo o esforço que foi feito para resgata-los, sem contar as dez vidas de operários que foram perdidas, e todos os sofrimentos passados por aqueles homens, acredito que a pena que foi sentenciada não é válida precisando, portanto ser reformulada. 
1 Estudante do Curso de Direito - FAPAN; E-mail:joao_vitoralcantara@hotmail.com
2 Docente do Curso de Direito da Faculdade do Pantanal - FAPAN; rubensmarc.advogado@gmail.com

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