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Fisiologia Humana FUNÇÃO RENAL NA REGULAÇÃO DO BALANÇO ÁCIDO-BÁSICO 1 Sumário Introdução ...........................................................................................................................................2 Objetivos ..............................................................................................................................................2 1. O balanço ácido-básico .............................................................................................................2 2. Excreção efetiva de ácidos pelos rins .......................................................................................3 2.1. Reabsorção de bicarbonato pelo néfron .........................................................................4 2.2. Regulação da secreção de H+ ............................................................................................5 2.3. Síntese de bicarbonato .....................................................................................................5 3. Respostas a distúrbios ácido-básicos ......................................................................................7 3.1. Resposta renal à acidose ...................................................................................................7 3.2. Resposta renal à alcalose ..................................................................................................7 Exercícios .............................................................................................................................................7 Gabarito ...............................................................................................................................................7 Resumo ................................................................................................................................................8 2 Introdução Na apostila sobre manutenção dos níveis de potássio, cálcio e fosfato, conhecemos mais detalhadamente os mecanismos de regulação dos níveis dos elementos potássio, cálcio e fosfato. Nesta apostila, vamos estudar mais profundamente como nosso organismo mantém seu pH constante apesar de nossa alimentação e o metabolismo de nossas células liberarem várias substâncias que podem alterar esse equilíbrio. Praticamente todos os processos que ocorrem em nosso organismo, sejam no nível celular ou orgânico, são sensíveis ao pH. Assim, o pH de nosso fluído extracelular é mantido na faixa de 7,35 a 7,45 e, do fluído intracelular, na faixa de 7,10 a 7,20. Diariamente, ingerimos ácidos e bases que podem, na ausência de mecanismos adequados de controle, afetar o pH do nosso organismo. Além disso, nossas células liberam constantemente substâncias que também podem alterar o pH dos fluídos. Objetivos • Conhecer os principais processos que podem perturbar o equilíbrio ácido- básico do organismo. • Conhecer os mecanismos de regulação do pH do organismo. 1. O balanço ácido-básico Como mencionado anteriormente, a nossa dieta e o metabolismo celular produzem muitas substâncias que podem ser ácidos ou bases. Normalmente, as bases são excretadas diariamente por meio das fezes e os ácidos são enviados para nossos fluídos corporais. Porém, os ácidos também devem ser excretados na mesma intensidade em que são absorvidos. Se a absorção dos ácidos for maior do que a sua excreção, o resultado será a acidose do meio. Por outro lado, se a excreção do ácido for maior do que a sua absorção, o resultado é a alcalose do meio. Durante o metabolismo de nossas células, várias substâncias ingeridas podem afetar o balanço ácido-básico. Assim, por exemplo, o metabolismo dos aminoácidos metionina e cisteína resulta na produção de ácido sulfúrico. Da mesma forma, o metabolismo dos aminoácidos arginina, histidina e lisina resulta na produção de ácido clorídrico. Por outro lado, o metabolismo dos também aminoácidos aspartato e glutamato resulta na produção de bicarbonato (HCO3-) que acaba compensando, em parte, a produção dos ácidos. De uma maneira geral, a 3 ingestão diária de carne resulta em uma maior produção de ácidos do que de bicarbonato. O tamponamento intra e extracelular é a primeira linha de defesa contra distúrbios ácido-básicos. Assim, por exemplo, quando temos a adição de ácido aos fluídos corporais, estes são rapidamente neutralizados pelo bicarbonato no fluído extracelular resultando em sais de sódio (Na+). Desta forma, o bicarbonato é responsável por manter o equilíbrio ácido-básico em nosso fluído extracelular. Para que o processo de neutralização ocorra de forma eficiente e constante, o bicarbonato utilizado deve ser reposto frequentemente pelos nossos rins. Além do bicarbonato, proteínas e o próprio fosfato auxiliam no tamponamento extracelular. A combinação do tamponamento por proteínas, bicarbonato e fosfato é responsável por cerca de 50% da neutralização de ácidos e 70% da neutralização de bases. A carga de ácido ou base restante é neutralizada no interior das nossas células. Neste caso, o movimento de H+ para dentro ou fora das células está envolvido no processo. A segunda linha de defesa contra distúrbios ácido-básicos é realizada pelos nossos pulmões. Eles são responsáveis por regular a ventilação (respiração) e, consequentemente, a concentração parcial de dióxido de carbono e o pH do sangue. Assim, por exemplo, um aumento na ventilação reduz a pressão parcial de dióxido de carbono e aumenta o pH sanguíneo. Da mesma forma, a redução na ventilação aumenta a pressão parcial de dióxido de carbono e reduz o pH do sangue. Os ajustes na eliminação de ácidos pelos rins representam a última linha de defesa contra os distúrbios ácido-básicos. Desta forma, os rins corrigem a eliminação de bicarbonato e ácidos com base no pH e pressão efetiva de dióxido de carbono. Esta é a última linha de defesa pois pode demorar de horas a até dias para entrar em ação. 2. Excreção efetiva de ácidos pelos rins Normalmente, a quantidade de ácidos excretados é igual a sua produção. Além disso, nossos rins devem evitar a perda de bicarbonato via urina. A redução da perda de bicarbonato é muito importante já que ele é muito filtrado em nossos rins. Para reabsorver o bicarbonato filtrado e eliminar ácidos, nossos rins secretam H+ pelos néfrons. A maior parte do H+ excretado atua na reabsorção do bicarbonato. Devido à excreção de H+, nossa urina é ácida. Porém, nossos rins não podem excretar urina com pH menor do que 4,0. Para eliminar quantidades maiores de H+, os rins excretam tampões (fósforo, por exemplo) junto. Adicionalmente, nossos rins produzem e excretam amônio (NH4+) para auxiliar no equilíbrio ácido-básico. Cada molécula de amônio excretada permite o 4 retorno de uma molécula de bicarbonato à circulação. Assim, a reabsorção do bicarbonato filtrado junto com a quantidade de ácido excretada é conhecida como excreção efetiva de ácido. 2.1. Reabsorção de bicarbonato pelo néfron Como mencionado anteriormente, normalmente, pouco ou nenhum bicarbonato é liberado na urina. Assim, apesar do bicarbonato ser filtrado no néfron, ele deve ser reabsorvido. Abaixo discutiremos o papel de cada um dos segmentos do néfron na sua reabsorção. A maior parte do bicarbonato filtrado é reabsorvido no túbulo proximal. Neste local, o H+ é secretado por meio dos antiporters Na+-H+ e H+-ATPase. O primeiro é a principal via de secreção de H+e está acoplada à de sódio. Nas células do túbulo proximal, o bicarbonato e o H+ são produzidos pela ação da enzima anidrase carbônica (Figura 1). Em seguida, o H+ é secretado para o fluído tubular e bicarbonato é enviado via membrana basolateral para o sangue peritubular. Este movimento está acoplado ao dos íons N+ (co-transportador bicarbonato de sódio: NBC1) e Cl- (antiporter Cl—HCO3- dependente ou independente de sódio). Podemos ver na figura 1 que a anidrase carbônica também é encontrada na borda das células tubulares. Ali, ela catalisa a desidratação do ácido carbônico no fluído luminal facilitando a reabsorção de bicarbonato. 1 Figura 1. Resumo dos mecanismos envolvidos na reabsorção do bicarbonato pelas células do néfron (Adaptado de Koeppen et al., 2009). 5 2.2. Regulação da secreção de H+ Como mencionado anteriormente, a reabsorção de bicarbonato está intimamente associada à secreção de H+. Desta forma, alterações na secreção deste íon afetarão diretamente a reabsorção do bicarbonato. Vários fatores influenciam a secreção de H+, dentre eles, podemos citar o balanço ácido-básico e as variações no volume do fluído extracelular. Quando temos uma redução do pH nos fluídos do organismo (acidose), a secreção de H+ é estimulada. Para lidar com a acidose, nossos rins possuem dois mecanismos, um deles atua a curto prazo e o outro a longo prazo. A primeira delas mudanças na atividade e/ou no número de transportadores presentes na membrana celular. A longo prazo, as alterações ocorrem diretamente na síntese dos transportadores. A redução do volume do fluido extracelular causa um aumento na secreção de H+. Isto ocorre devido a ativação de mecanismos para aumentar a reabsorção de sódio nos néfrons. 2.3. Síntese de bicarbonato Como mencionamos anteriormente, a reabsorção do bicarbonato filtrado é importante para o seu papel na excreção de ácido. Porém, a fim de manter o balanço ácido básico, nossos rins devem sintetizar novas moléculas de bicarbonato. Conforme discutimos anteriormente, a maior parte do bicarbonato é reabsorvida pelo túbulo proximal do néfron. Assim, o fluido que avança para os próximos segmentos do néfron praticamente não possui mais bicarbonato em sua composição. A hidratação do CO2 nas células leva a produção de H+ (Figura 2) Neste momento, também temos a produção de bicarbonato que será enviado para o fluido extracelular para neutralizar moléculas de ácido. 6 2 Figura 2. Síntese do bicarbonato pelas células do néfron (Adaptado de Koeppen et al., 2009). O bicarbonato também é sintetizado no momento da síntese e excreção de amônio (NH4+) (Figura 3). O amônio é produzido através do metabolismo da glutamina. Porém, para que ocorra a síntese de novas moléculas de bicarbonato por essa via, é necessário que o amônio seja sintetizado e eliminado. Se, por algum motivo, o amônio não for eliminado e entrar na circulação, ele será convertido em ureia. Essa conversão irá produzir H+ que, por sua vez, deverá ser neutralizado com bicarbonato. Assim, a falha na eliminação do amônio bloqueia a síntese de novas moléculas de bicarbonato e consome algumas das moléculas presentes. 3 Figura 3. Síntese do bicarbonato pelas células do néfron durante a síntese e excreção de amônio (Adaptado de Koeppen et al., 2009). 7 3. Respostas a distúrbios ácido-básicos Conforme discutimos anteriormente, o pH do nosso fluido extracelular é mantido dentro de uma estreita faixa (entre 7,35 e 7,45). Aquelas variações no balanço ácido-básico que resultam em alterações na concentração de bicarbonato no fluído extracelular são chamados de distúrbios metabólicos ácidos-básicos. 3.1. Resposta renal à acidose A acidose metabólica pode ocorrer em pessoas diabéticas em casos onde a dosagem de insulina não é adequada. Neste caso, a pessoa pode apresentar uma respiração rápida e profunda como forma de compensar a acidose. Este tipo de respiração é chamado de respiração de Kussmaul e, no caso de longos períodos, pode levar a musculatura envolvida à fadiga. Nesse momento, a compensação respiratória é reduzida e, a acidose é aumentada. 3.2. Resposta renal à alcalose A alcalose metabólica pode ocorrer em pessoas que perderam conteúdo gástrico via, por exemplo, vômito. Nos casos onde a perda do fluido gástrico é significativa, a contração do volume da região extracelular é observada. Nestes casos, os rins são incapazes de excretar quantidades suficientes de bicarbonato para tamponar a alcalose. Isto ocorre, pois, a contração do volume da região extracelular reduz a carga de bicarbonato que é filtrado estimulando a sua reabsorção pelo néfron pois os rins precisam reduzir a excreção de sódio. A correção da alcalose ocorre somente após o restabelecimento do equilíbrio dos fluídos. Exercícios 1. Cite e explique os mecanismos de reabsorção de bicarbonato pelos néfrons. 2. Explique o mecanismo de síntese de novas moléculas de bicarbonato evidenciando a importância da excreção do amônio no processo. 3. Cite os três mecanismos que atuam na minimização do efeito de distúrbios acido-básicos no pH. Gabarito 1. A maior parte do bicarbonato filtrado é reabsorvido no túbulo proximal. Neste local, o H+ é secretado por meio dos antiporters Na+-H+ e H+-ATPase. No primeiro, a secreção de H+ está acoplada à de cálcio. O bicarbonato produzido 8 ali pela ação da anidrase carbônica sai das células e retorna ao sangue. Esse movimento de saída está acoplado a outros íons (N+ e Cl-, por exemplo). 2. O bicarbonato também é sintetizado no momento da síntese e excreção de amônio (NH4+). O amônio é produzido através do metabolismo da glutamina. Porém, para que ocorra a síntese de novas moléculas de bicarbonato por essa via, é necessário que o amônio seja sintetizado e eliminado. Se, por algum motivo, o amônio não for eliminado e entrar na circulação, ele será convertido em ureia. Essa conversão irá produzir H+ que, por sua vez, deverá ser neutralizado com bicarbonato. Assim, a falha na eliminação do amônio bloqueia a síntese de novas moléculas de bicarbonato e consome algumas das moléculas presentes. 3. Os mecanismos envolvem o tamponamento intra e extracelular, ajustes na ventilação e, consequentemente na pressão parcial de dióxido de carbono e ajustes na eliminação de ácidos pelos rins. Resumo Praticamente todos os processos que ocorrem em nosso organismo, sejam no nível celular ou orgânico, são sensíveis ao pH. Assim, o pH de nosso fluído extracelular é mantido na faixa de 7,35 a 7,45 e, do fluído intracelular, na faixa de 7,10 a 7,20. Diariamente, ingerimos ácidos e bases que podem, na ausência de mecanismos adequados de controle, afetar o pH do nosso organismo. Além disso, nossas células liberam constantemente substâncias que também podem alterar o pH dos fluídos. Durante o metabolismo de nossas células, várias substâncias ingeridas podem afetar o balanço ácido-básico. Assim, por exemplo, o metabolismo dos aminoácidos metionina e cisteína resulta na produção de ácido sulfúrico. Da mesma forma, o metabolismo dos aminoácidos arginina, histidina e lisina resulta na produção de ácido clorídrico. Por outro lado, o metabolismo dos também aminoácidos aspartato e glutamato resulta na produção de bicarbonato (HCO3-) que acaba compensando, em parte, a produção dos ácidos. De uma maneira geral, a ingestão diária de carne resulta em uma maior produção de ácidos do que de bicarbonato. Os ácidos não ficam circulando por nosso organismo, eles são rapidamente neutralizados pelo bicarbonato no fluído extracelular resultando em sais desódio (Na+). O nosso organismo utiliza uma série de mecanismos para se defender dos impactos de um distúrbio ácido-básico. Porém, esses mecanismos não corrigem o distúrbio, mas, minimizam os seus efeitos sobre o pH. Estes mecanismos envolvem o tamponamento intra e extracelular, ajustes na ventilação e, consequentemente na pressão parcial de dióxido de carbono e ajustes na eliminação de ácidos pelos rins. Para reabsorver o bicarbonato filtrado e eliminar ácidos, nossos rins secretam H+ pelos néfrons. A maior parte do H+ excretado atua na reabsorção do bicarbonato. Devido à excreção de H+, nossa urina é ácida. Porém, nossos rins não podem excretar urina com pH menor do que 4,0. Para eliminar quantidades maiores de H+, os rins excretam tampões (fósforo, por exemplo) junto. A maior parte do 9 bicarbonato filtrado é reabsorvido no túbulo proximal. Neste local, o H+ é secretado por meio dos antiporters Na+-H+ e H+-ATPase. No primeiro, a secreção de H+ está acoplada à de cálcio. O bicarbonato é produzido pela hidratação do CO2 nas células e também no momento da síntese e excreção de amônio (NH4+). O amônio é produzido através do metabolismo da glutamina. Porém, para que ocorra a síntese de novas moléculas de bicarbonato por essa via, é necessário que o amônio seja sintetizado e eliminado. 10 Referências bibliográficas KOEPPEN, BRUCE M., STANTON, BRUCE A. BERNE e LEVY: Fisiologia. 6ª edição. Editora ELSEVIER, Rio de Janeiro. 2009.
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