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O DIREITO DAS FAVELAS NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS DE REGULARIZAÇÃO Com a crescente ocupação urbana a infraestrutura das cidades torna-se insuficiente para atender a demanda de uma grande população. Com isso, as pessoas menos favorecidas se veem obrigadas a ocupar espaços retirados do grande centro, originando assim um crescimento desordenado, sem um planejamento urbano e sem a intervenção do Estado. As favelas estão inseridas dentro das cidades, porém com suas próprias leis, normas e entidades. Portanto, as regras impostas na favela valem somente dentro da mesma. Essas comunidades são cosequências de problemas políticos, sociais, econômicos e da má distribuição de renda, populacional e territorial. Para a melhoria das condições de vida e moradia nas favelas é fundamental a adoção de políticas públicas para a regularização e uso disciplinado do espaço, levando em consideração as características físico-territoriais e socioculturais dessas comunidades, respeitando a estrutura interna das mesmas, garantindo dessa forma o planejamento e, consequentemente, o crescimento ordenado desses espaços. Para que isso se concretize é necessário um olhar mais atento por parte do Estado, que é o grande intermediador de investimentos, tendo por objetivo principal integrar as favelas à cidade, ou seja, promover a integração social e urbana. O QUE SE VENDE E COMO SE PAGA Em muitas favelas vê-se comum o ato de invasão da terra e sua apropriação sem qualquer intermédio do Estado ou das legislações vigentes. Outro ato costumeiro culmina-se na doação de lajes para a construção de novos pavimentos. Contudo, em algumas favelas hoje há um sistema de compra e venda. Esse sistema vigente não é legal, visto que não procede nas bases das leis do Estado. Entro da favela há a possibilidade de compra desde um lote até um barraco de madeira. Nas comunidades o processo de verticalização está em progressão, visto que muitas casas foram vendendo suas lajes para os vizinhos. Um caso importante verificado na favela em análise é o fato das pessoas no âmbito de conseguirem sua casa “própria” tentam utilizar dos mais variados recursos. Um aspecto importante desse processo de imobiliário é as formas de pagamento. Os compradores tem a possibilidade de pagamento parcelado, sem juros. Algo notável são os “acordos de demissão” que ocorrem para a liberação do FGTS, para a compra de imóveis. Legalmente os imóveis na favela não possuem nenhuma legalização junto ao Estado, partindo disso seria é impossível utilizar o FGTS para a compra, por isso ocorrem tais acordos. Outro ponto importantíssimo é que os vendedores também agem como concedentes de crédito; Esses imóveis ilegais não possuem a possibilidade de adesão as programas do governo federal (Minha Casa, Minha Vida), o que vê-se são as pessoas que possuem lojas de materiais de construção cedendo empréstimos da mesma maneira dos programas. A INTERVENIÊNCIA DA ASSOCIAÇÃO DE MORADORES Todo o ato de compra e venda de imóveis é acompanhado pela Associação de Moradores, sendo esta a entidade que “governa” a favela, mesmo não possuindo nenhuma função pública. Dessa forma, a mesma conhece todos os moradores e tem maior controle sobre quem entra e sai da comunidade. Particularidade das instituições: Sem a assinatura do presidente da Associação o contrato de compra e venda não é válido - “Termo de Transferência de Benfeitoria”: documento criado pela Associação no qual consta todos as informações sobre o ato de compra ou venda. Associação: - Função de notatário, que redige o contrato - Função de registrador, registra a compra ou venda em um arquivo mantido e administrado pela mesma. Com base neste documento a Associação tem controle de quem é o proprietário de determinado imóvel. “Princípio da Comunidade Registrária”: - A Associação somente emite o contrato de compra e venda se o ato for realizado pela pessoa que tenha adquirido previamente o imóvel e esteja contida no registro da associação. Dualidade de conceito de Propriedade: - Proprietários: possuidores de imóveis (moradores) X donos de imóveis (Estado) Os moradores da favela exercem posse do imóvel e do lote como se fossem ‘donos’, no entanto, a propriedade, na verdade, pertence à União. Existem regras, obrigações e instituições validas para dentro da favela e para fora da mesma. - Falta de integração entre a favela e a cidade como um todo. O PREÇO DA INTERMEDIAÇÃO Associação de moradores – Estado Legal Não gratuita “Termo de transferência de benfeitoria” vendedor – comprador Porcentagem sobre o valor de venda “Direitos de costume” Cláusula inadequada Percentual não fixo – espaço em branco no contrato modelo Taxas entre 2% e 5% pelo presidente Valor do imóvel Metragem do terreno Poder de barganha “Esse dinheiro não vai nem para a Associação, não vai nem para ele comprar lâmpada para colocar nos postes, porque isso é serviço da prefeitura” Minimizar custos da transação Declarar valores diferentes Compra sem intermédio da Associação Homo aeconomicus Legitimidade não questionada Preço – serviços prestados Analogia: Moradores da favela – Associação Contribuintes – Estado-Físico Justificação da taxa é ambígua Condição necessária à legitimação na prefeitura Reconhecimento coletivo – somente a associação pode oferecer Segurança Associação = poder e legitimidade Somente contrastado pelo poder dos grupos armados “Informalidade dentro da formalidade” Vigora o processo perante à associação, não Estado “Direito de costume” específico e único para sua “jurisdição” Formalidade (interior à favela) driblada para intermediações mais simples e menos onerosas Negociações – flexibilidade, conformismo “O que dá à Associação o direito de cobrar aquele valor?” “O que dá ao morador o direito de contestá-lo se ele seria cobrado de todos os que estão na mesma situação?” Tratamento diferenciado em frente a situações semelhantes Falta de legitimidade dos processos Desigualdade A INSEGURANÇA DO COMPRADOR EM SEUS DIREITOS Quais leis predominam na favela? Incidente ao qual vendedor desfez a negociação, sem possuir motivos relevantes, causando prejuízos aos compradores. Legislação em vigor determina que o casal comprador não seria obrigado a desfazer a negociação, visto que já haviam pago parte do imóvel e estavam morando no imóvel. Contrato verbal: a lei o valida quando sua existência é provada, seja por meio de testemunhas, documentos, ou outras formas adequadas. A lei auxilia nos direitos dos cidadãos, no caso ocorrido, o vendedor deveria devolver o que foi pago, com o valor adequado, pagaria também uma indenização por perdas e danos, pois a lei consideraria uma desistência sem motivos justos, visto que o casal comprador obteve despesas extras com a ruptura da negociação. Por lei o caso pode ser anulado por mútuo acordo dos contratantes. Porém, através das entrevistas, conclui-se que as leis fora da favela não se validam dentro dela. Mas por qual razão o casal não adquiriu um imóvel nos conjuntos habitacionais existentes no entorno da favela, onde as leis vigoram?
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