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Quando se pensa em conexão do ator analisado em relação às aulas de inserção internacional do Brasil ministradas, a aula de número seis intitulada “Movimentos sociais organizados e informais - ONGs e o ativismo social no brasileiro” é a que mais se relaciona com os dois temas; devido não apenas a presença do ator ONU nos textos da aula, como também a relação deste com os próprios movimentos sociais e ONGs. O Grupo de trabalho de Direitos Humanos e Multinacionais (GT), como ferramenta do próprio conselho de direitos humanos da ONU, fornece as informações necessárias para as análises do mesmo, e por isso neste relatório e incorporado ao ator ONU, mais abrangente e que é melhor trabalhado na aula elencada. No Policy Paper escrito por Camila Asano, a ONU é apresentada como um espaço coletivo de discussão sobre os Direitos Humanos Universais, já que esta abriga o Conselho de Direitos Humanos, o qual demais países participam; assim como a revisão periódica universal, o qual a cada 4,5 anos oferece uma análise sobre os países em critérios de Direitos Humanos, indicando recomendações e avaliando o progresso em relação às dadas em revisões anteriores. Esses espaços dentro da organização permitem que o Brasil participe de discussões e também que seja discutido, como ocorreu na revisão de 2017 em que a ONU criticou a pouca atenção dada pelo governo brasileiro aos efeitos da tragédia no Rio Doce, após o rompimento da Barragem de Fundão, no relatório apresentado ao conselho, e classificou como insuficiente as ações tomadas pelo governo brasileiro em relação ao ocorrido, por meio do próprio relatório redigido pelo GT. O papel de realizar recomendações é visto por várias vezes ao se analisar o comportamento do ator; a ONU indicou pontos a serem trabalhados por meio do Grupo de trabalho, como por declarações feitas ao decorrer dos acontecimentos como. Ainda dentro do argumento da ONU como espaço de discussão, encontra-se a atuação dos movimentos vinculados às tragédias e seus papéis de denunciantes ao conselho. Como por exemplo a denúncia realizada pela ONG Justiça Global sobre o acordo firmado a portas fechadas entre as empresas envolvidas e o governo brasileiro, que não levou em consideração a participação popular. A Justiça Global enviou ainda ao conselho um relatório contendo as violações aos Direitos Humanos decorrentes do desastre. Levantando outro ponto da aula elencada, a participação civil como potencializador das vozes das camadas sociais menos privilegiadas, advogando pelas suas causas em âmbitos domésticos e internacionais. Um ponto sobre a participação civil é que ao levarem as denúncias a órgãos como a ONU, possibilitam que os casos sejam potencializados no internacional e retornem com uma pressão maior sobre o Estado, por terem repercussão externa e a atenção de outros atores do sistema. É justamente esse o papel que o GT e por consequente a ONU exercem nos casos de Mariana e Moatize, pressionando o Estado e as empresas com seus comprometimentos com os Direitos Humanos. Essa pressão ocorre por meio de críticas sobre as ações tomadas, como ocorreu em relação aos acordos firmados entre governo e as empresas responsáveis, a falta de assistência aos afetados e também no processo de culpabilização e punição aos envolvidos, ou também recomendações sobre quais atitudes deveriam ser realizadas, como manter ativa a participação da população sobre as soluções para o conflito, garantir que as empresas de fato estão cumprindo com seus deveres e disponibilizar as necessidades básicas aos afetados. Comportamento: Mariana Com o rompimento da barragem de Fundão, em 5 de novembro de 2015, que foi considerado o maior desastre de mineração da história brasileira na cidade de Mariana, cuja mineradora responsável era a empresa Samarco, a ONU, e mais especificamente o Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos se manifestou com relação à tragédia. Após vinte dias do ocorrido, a ONU se pronunciou para criticar duramente o governo brasileiro e as empresas envolvidas com relação à demora para divulgação de dados referentes ao desastre ambiental, alegando negligência das partes envolvidas. Os especialistas da ONU que se pronunciaram diante do caso afirmaram que as providências tomadas pelos responsáveis a fim de evitar maiores danos à população afetada e ao meio ambiente foram insuficientes e muito lentas. Além disso, outro ponto levantado pela ONU é o de inconsistência de informações divulgadas. A insistência da Samarco ao dizer que a lama não possuía substâncias tóxicas em contraposição ao detalhado relatório divulgado que descrevia toda a destruição causada por essa lama, incluindo sua chegada ao mar, foi o maior ponto de atenção levantado com relação à essa questão. Ainda nesse ponto, a ONU criticou também o governo brasileiro por não disseminar suficientemente sua legislação das atividades mineradoras, além de falhar na supervisão do cumprimento da mesma. Em dezembro de 2015, representantes da ONU visitaram Mariana a fim de avaliar a situação e elaborar um relatório mais profundo acerca do desastre. A reunião, que ocorreu com os moradores de nove comunidades atingidas, tinha como maior foco a garantia de que os direitos humanos estavam sendo respeitados por parte do governo brasileiro e das empresas envolvidas. Além disso, a ONU também se reuniu com representantes da mineradora para acompanhar o processo de assistência às vítimas, discutindo o auxílio dado a essas pessoas e a acessibilidade das famílias impactadas diante das informações das empresas. Após a visita, o Grupo de Trabalho sobre Empresas e Direitos Humanos divulgou um relatório aconselhando o Brasil a como ter um desenvolvimento econômico que respeitasse os direitos humanos. O relatório apresenta questões importantes sobre a proteção dos direitos humanos no Brasil, principalmente em relação ao corporativo, como por exemplo no caso da Samarco. Há também relatos de denúncias sobre violação de direitos humanos por parte das empresas mineradoras, como a Belo Sun, na Baía de Sepetiba, entre outros. Um ano depois da tragédia, a ONU divulgou um comunicado falando que as ações empregadas pelas autoridades e empresas competentes foram insuficientes para reparar os danos socioambientais, econômicos e de saúde causados. O governo brasileiro ainda não havia providenciado provas de que as águas dos rios estariam próprias para consumo, além de não ter solucionado a questão das comunidades que tiveram de ser realocadas, bem como não transmitiu transparência suficiente sobre inúmeras questões ainda em aberto. Moatize Desde a última década Moçambique tem recebido muitos investimentos no setor de mineração; e a Vale do Rio Doce foi uma das empresas que investiram nesse processo. Em 2004 a empresa teve permissão paraa exploração de carvão em Moatize, e as operações iniciaram em 2011. Com isso houve várias violações dos Direitos Humanos por parte da Vale, como o deslocamento de aproximadamente 1.300 famílias para casas que se encontravam em situações precárias, infertilidade das terras, além da falta de água potável , da presença de alimentos contaminados e da falta de transportes. Não foi permitida a participação das populações locais no processo decisório de concessão de terras à Vale e 12,000 empregos gerados para as construções das instalações foram temporários, o que levou ao mesmo número de pessoas ao desemprego já que para a operação das minas seria necessária uma mão de obra melhor qualificada. Neste contexto, a ONU-Habitat (Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos) já em 2012 manifestou a sua posição quanto ao reassentamento da população local, reafirmando que durante esse processo as multinacionais têm a obrigação de respeitar as leis nacionais e a necessidade das famílias serem devidamente ressarcidas. Neste mesmo ano Joan Clos, o diretor executivo do órgão, fez visitas ao país onde encontrou-se com membros do governo, organizações internacionais, acadêmicos e representantes das multinacionais para discutir sobre o assunto. Além disso, a entidade tem como objetivo de coordenação desses assentamentos, o encorajamento do desenvolvimento sustentável nestes locais e o de auxiliar os países em questão “com políticas e assessoria técnica”. De 2008 à 2015, a ONU-Habitat investiu um total de US$ 7,104,743 em reassentamentos e urbanização, além de desenvolver 14 projetos na região. Ademais, no final de 2014 o relatório “O que é uma casa sem comida?” cuja autoria é da Human Rights Watch junto às recomendações da ONG sobre as atitudes da Vale resultaram na inserção dessa pauta na agenda do Fórum Business and Human Rights da ONU em Genebra. É indiscutível que a empresa também trouxe benefícios à região, principalmente no que se diz à geração de empregos, porém, é necessário reafirmar que a Vale havia se responsabilizado em realocar a população em uma região de segurança e acessível, e infelizmente não foi isso que está sendo reportado. É dever do governo garantir que as necessidades básicas de sua população estão sendo supridas, bem como o bem estar social. BIBLIOGRAFIA Guilherme Guimarães, Brasil é avaliado pela ONU no Conselho de Direitos Humanos. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/05/1881067-brasil-e-avaliado-pela-onu-n o-conselho-de-direitos-humanos.shtml>. Acesso em 15 de outubro de 2017. Justiça Global, ONG Justiça Global denuncia acordo do governo com mineradoras à ONU e OEA. Disponível em: <http://www.canalibase.org.br/ong-justica-global-denuncia-acordo-do-governo-com- mineradoras-a-onu-e-oea/ >. Acesso em 14 de outubro de 2017. BBC, ONU critica Brasil, Vale e BHP por resposta ‘inaceitável’ a desastre de Mariana. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151125_onu_brasil_mariana_fd>. Acesso em 14 de outubro de 2017. G1 MG, ONU faz reuniões em Mariana sobre rompimento da Barragem de Fundão. 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