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Estado Uniaxial de Tensões Nadine Machado Ficher(1), Rafael Thibes(1), Raissa Hammes(1), Tonilson Rosendo(2). (1) Discente do Programa de Pós-Graduação em Engenharias da Universidade Federal do Pampa (2) Docente do Programa de Pós-Graduação em Engenharias da Univerdade Federeam do Pampa, responsável pela disciplina de Fundamentos da Análise Experimental de Estruturas. Resumo: Designa-se estado uniaxial quando a componente da tensão é considerada em apenas uma direção, a resistência dos materiais estabelece considerações lineares e elásticas que envolvem os carregamentos e geometria a fim de realizar à definição e à análise do estado de tensão e propriedades da estrutura nos seus diversos pontos. No experimento realizado, a aplicação de uma carga uniaxial na extremidade livre de uma viga em balanço gerou deflexões que foram medidas através de um relógio comparador e de um escalimetro, assim como a deformação gerada pela mesma força foi medida através de um “strain gage”. O experimento avaliou a diferença nos resultados encontrados para o módulo de elasticidade do material, entre as técnicas utilizadas e também entre os valores que constam na literatura, concluindo posteriormente que a utilização do “strain gage” é mais fidedigna. Ainda foram avaliadas as tensões e deformações encontradas experimentalmente e analiticamente, podendo ressaltar que existem divergências nos resultados encontrados analiticamente para aqueles que foram encontrados experimentalmente. Palavras-chave: Tensões uniaxiais, deformações, módulo de elasticidade. 1. Introdução Os procedimentos experimentais de tensões têm como objetivos determinar as tensões e deformações que atuam nos corpos e objetos em análise. Esta análise nos permite representar os pontos críticos e permite estabelecer suas tensões equivalentes e, embasado em critérios de resistência, permitir a mensuração de seu estado limite último de operação e, assim, a segurança à falha do corpo. A resistência dos materiais estabelece metodologias que trabalham sob considerações lineares e elásticas e que abrange carregamentos, materiais e geometria para proceder à definição e à análise dos estados de tensão dos pontos críticos das estruturas. Neste experimento estão apresentados alicerces da resistência dos materiais que relacionam os estados de tensões e os estados de deformações. A Resistência dos Materiais procura definir os estados de tensões nos diversos pontos e, nos valendo do experimento e resultados, extrair e comparar estes estados empiricamente e teoricamente, correlacionando ambos para um resultado aprimorado e mais fidedigno. Para determinação do comportamento de um material ou até mesmo uma estrutura, quando esse é solicitado, utilizam-se dados analíticos e experimentais. No caso deste trabalho buscamos por meio de um experimento laboratorial analisar o comportamento mecânico e a deformações de uma viga em balanço sob o estado uniaxial de tensões. Com o auxílio de um “strain gage”, um relógio comparador digital e um escalímetro também se realizou a comparação entre os métodos de avaliação experimentais que podem ser utilizadas para encontrar, por exemplo, o módulo de Elasticidade do material. 2. Fundamentação Teórica Para análise do comportamento mecânico da viga em balanço, sob estado uniaxial de tensão, foram calculados alguns componentes importantes, para isso utilizou-se das fórmulas descritas por Beer (2010) para a análise dos esforços que agem sofre o elemento. Para o cálculo da tensão máxima que ocorre na viga, temos a equação 1: 𝜎 = 𝑀𝑓𝐶 𝐼 (1) Onde Mf é o momento fletor máximo da viga; C é a distância da linha neutra da seção da viga, até o ponto mais afastado da seção transversal (ST) e I é o momento de inércia da ST. Sendo que Mf é definido por 𝑀𝑓 = 𝐹𝑑 , em que F é a força aplicada e d a distância de atuação da força até o local em que se calcula o momento. Aplicando a Lei de Hooke, ainda podemos dizer que: 𝜎 = E𝜀 (2) Onde a tensão máxima de flexão é definida pelo módulo de elasticidade do material (E) e pela deformação do mesmo (𝜀). Considerando ainda, que a solicitação da viga em balanço irá causar uma deflexão (y) sobre a mesma, o comportamento da deflexão é descrito pela equação abaixo: 𝑦 = 𝐹𝑥2 6𝐸𝐼 (𝑥 − 3𝐿) (3) Segundo Hebbeler (2005) na prática da engenharia é importante determinarmos a máxima e a mínima tensão normal que a atuam sobre a viga, bem como a orientação que causará o maior esforço de cisalhamento do plano. Essas tensões máximas (𝜎1) e mínimas (𝜎2), são conhecidas como tensões principais, e são dadas pelas fórmulas a seguir: 𝜎1,2 = 𝜎𝑥+𝜎𝑦 2 ± √( 𝜎𝑥−𝜎𝑦 2 ) 2 + 𝜏𝑥𝑦2 (4) Onde 𝜎𝑥 , 𝜎𝑦 correspondem as tensões normais atuantes nos eixos x e y, e 𝜏𝑥𝑦 é a tensão normal de torque, que para esse caso será zero. Assim como ocorre com as tensões normais, que ocorrem em seus máximos e mínimos, com as deformações também o ocorrem da mesma maneira. As deformações principais (𝜀1,2) são dadas pela seguinte equação: 𝜀1,2 = 𝜀𝑥+𝜀𝑦 2 ± √( 𝜀𝑥−𝜀𝑦 2 ) 2 + ( 𝛾𝑥𝑦 2 ) 2 (5) As deformações 𝜀𝑥 , 𝜀𝑦 são aquelas que ocorrem nos eixos x e y, assim como acontece com as tensões principais. 3. Metodologia Os materiais utilizados para realização do experimento foram: Uma barra de aço maciça; Elementos de fixação (sargento); Computador com software Catman; Um Spider para ligação em ¼ de ponte; Um peso-padrão de massa conhecida; Um relógio comparador; Um extensômetro de resistência elétrica, “strain gage”; Uma régua metálica; Um escalímetro; Um paquímetro. 3.1. Montagem do Experimento Uma barra de aço maciça de comprimento de 726,35mm, com seção retangular de 9,59mm de base e altura de 9,70mm, foi fixada uma mesa, através de sargentos, de modo a formar um sistema engastado de uma viga em balanço. O esquema da viga em balanço é ilustrado na Fig. 1 Fig. 1- Esquema de Viga em balanço utilizada no experimento. 3.2. Relógio Comparador O relógio comparador foi posicionado adequadamente, a uma distância de 645,55mm do engaste da viga, de modo a realizar a medida da deflexão naquele ponto, no momento em que uma carga da 20,5N era aplicada na extremidade livre da barra. O experimento foi repetido por cinco vezes, de modo a obter uma média dos resultados posteriormente. A Fig. 2 Fig. 2representa a configuração do sistema experimental. Fig. 2- Esquema de viga em balanço, com instalação do relógio comparador. 3.3. Escalimetro Após a retirada do relógio comparador a medição da deflexão causada pela carga de 20, 5N foi lida através do uso de um escalimetro com o auxílio de uma haste metálica que serviu como referência. A leitura por esse método foi realizada 5 vezes, para posterior média dos daos. Na Fig. 3 é possível visualizar o posicionamento do escalimetro, conforme foi realizado o experimento. Fig. 3- Esquema da viga em balanço com indicação da localização do escalimetro 3.4. Strain Gage (SG) Conforme a Fig. 4 ilusta, um strain gage foi colado perto do engaste, na parte superior da viga, o mesmo foi conectado ao Spider em uma ligação de ¼ de ponte. O software Catman foi configurado com um fator de sensibilidade k=2,11, uma tensão de 2,5 V e uma aquisição dedados com 5Hz. A carga de 20,5N foi aplicada na extremidade da viga em balanço, e logo após a leitura da deformação foi realizada pelo sistema, o procedimento foi realizado 5 vezes, para posteriormente realizar a média dos resultados. Fig. 4-Esquema da viga em balanço com a localização do SG 4. Análise dos Resultados 4.1. Avaliação experimental do Módulo de Elasticidade Na Tabela 1 é possível visualizar os valores das medições para os três experimentos realizados, bem como a média encontrada para para a deflexão (y), correspondente ao relógio comparador e ao escalimentro, e a média das deformações obtidas pelo SG. Tabela 1: Medidas obtidas experimentalmente. Medições Relógio (cm) Escalimetro (cm) SG (μm/m) 1ª 2,12 1,90 539,82 2ª 2,11 1,90 539,60 3ª 2,11 2,00 540,28 4ª 2,12 2,00 540,28 5ª 2,11 2,00 540,50 Média 2,11 1,96 540,10 A partir das médias encontradas foi possível calcular o módulo de elasticidade (E) referente ao material, para os três casos, sendo elas 141,59 GPa, 171,88 GPa e 179,31 GPa, para o relógio comparador, escalimentro e SG, respectivamente. Quando comparamos esses valores de módulo de elasticidade com os valores sugeridos por Beer (2010) de 210GPa e por Hibbeler (2005) de 200GPa, vemos que existe uma variação nos resultados obtidos experimentalmente e com os resultados encontrados em literatura. Na Tabela 2, podemos conferir as diferenças em percentual, para as duas literaturas citadas anteriormente. Tabela 2: Módulos de Elasticidade experimentais e segundo literatura. Técnicas Experimental Beer (2010) Hibbeler (2005) Er (GPa) 141,59 32,57(%) 29,20(%) Ep (GPa) 171,88 18,15(%) 14,06(%) Esg (GPa) 179,31 14,62(%) 10,35(%) É possível ver que o módulo de elasticidade calculado a partir da deformação medida com o “strain gage” é o valor que melhor se aproxima dos resultados encontrados nas literaturas, com discrepância de 14,62 % e 10,35%, para Beer (2010) e Hibbeler (2005), respectivamente. O módulo de elasticidade calculado através da deflexão medida pelo escalimetro aparece com valores mais próximos aos da literatura, após os dados do SG, sendo de 18,15% e 14,06%, para Beer (2010) e Hibbeler (2005), respectivamente. Quanto aos resultados encontrados a partir da deflexão medida pelo relógio comparador, os mesmos foram os que mais se distanciaram dos dados encontrados nas literaturas, 32,57% e 29,20% afastados, em relação a Beer (2010) e Hibbeler (2005), respectivamente. 4.2. Análise das tensões e deformações teóricas e experimentais Considerando apenas o E do aço como 210GPa, sugerido em Beer (2010), foi calculado analiticamente a deformação (ε) esperada para a viga, através da equação 2 e a tensão de flexão teórica pode ser calculada a partir da equação 1. Com esses resultados os valores da tensão e da deformação teórica, puderam ser comparados com a tensão e a deformação experimental. Os resultados encontrados podem ser conferidos na Tabela 3: Tabela 3: Tensão e Deformação, teóricas e experimentais Propriedades Teórico Experimental 𝜎 (MPa) 96,84 113,42 𝜀 (μm/m) 461,16 540,10 Nota-se que os resultados obtidos experimentalmente foram 17,12% acima dos resultados teóricos esperados. A partir das equações 4 e 5 foi possível calcular as tensões e deformações principais que atuam sobre o elemento. Com os resultados obtidos foi possível traçar o círculo de Mohr para ambos os casos, os mesmos podem ser visualizados nas Fig. 5 e Fig. 6, respectivamente. Fig. 5: Tensões principais para o cálculo teórico e experimental. Fig. 6: Deformações principais para o cálculo teórico e experimental. É possível ver que a diferença de 17,12% encontrada entre os resultados teóricos e experimentais se replicam para as tensões e deformações principais. Através da análise gráfica percebe-se que os resultados teóricos são mais conservadores, em relação aos esforços que realmente estão atuando sobre a estrutura. 5. Conclusões Quanto ao estudo das diferentes maneiras experimentais de se obter o módulo de elasticidade de barra de aço, pode-se concluir que o “strain gage” por ser uma técnica com menor possibilidade de ser influenciada por fatores externos, uma vez que o mesmo é fabricado para evitar influências de temperatura, por exemplo, e ao mesmo tempo sensível a pequenas deformações realmente sofridas pela estrutura. Enquanto que as outras técnicas, são possíveis de serem influenciadas por fatores externos, assim como a leitura da deflexão não é precisa em ambas técnicas. Em relação as tensões encontradas teoricamente e experimentalmente percebe-se que utilização das ferramentas teóricas, para a análise do comportamento da estrutura, são de suma importância, uma vez que nos ajudam a determinar como se comportará a estrutura em serviço. No entanto através da análise experimental realizada pode se observar que é possível, devido a fatores externo, que a estrutura apresente um comportamento diferente do esperado analiticamente, sendo nesse caso 17,12% superior ao esperado, isso mais do que justifica o motivo do uso de coeficientes de segurança que nos permite trabalhar já supondo que possam existir fatores que venham por ventura gerar esforços maiores dos que os esperados analiticamente. 6. Referências R. C. Hibbeler, Resistência dos Materiais, Pearson, 2005. F. P. Beer, Resistência dos Materiais, AMGH, 2010.
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