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SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO: CELAS SUPERLOTADAS GARANTEM UMA SOCIEDADE MENOS VIOLENTA? Denilson Shaffer Gustavo Peres Lozzer Jéssica Ramos Azeredo Letícia Miranda Lourenço Matheus Ferreira RESUMO – O presente artigo salienta a importância e urgência de medidas que podem auxiliar no processo de ressocialização de detentos, com direcionamento voltado à estrutura do sistema prisional, explicitando suas deficiências e demonstrando por meio de dados comparativos a eficácia de inteligentes ações de governo. Para a discussão tem-se como fundamento a argumentação de alguns teóricos do tema. Dessa forma, sob uma ótica puramente racional e não-vingativa compreenderemos que ao passo no qual a sociedade evolui e a realidade nos acorda cada vez mais cedo, faz-se indispensável um investimento na estrutura social e, singularmente, no sistema carcerário para que os reclusos possuam um mínimo de condição e preparo para convívio em sociedade. Palavras-Chave: Violência. Superlotação. Sociedade. ABSTRAT – This article emphasizes the importance and urgency of measures that can help in the process of resocialization of detainees, directed towards the structure of the prison system, explaining their deficiencies and demonstrating, through comparative data, the effectiveness of intelligent government actions. For the discussion one has as basis the argumentation of some theorists of the subject. Thus, from a purely rational and non-vengeful point of view, we will understand that as society evolves and reality awakens us earlier, it becomes indispensable to invest in the social structure and, in particular, in the prison system so that prisoners have a minimum of condition and preparation for living in society. Keywords: Violence. Over crowded. Society. I. INTRODUÇÃO O artigo em questão traz à tona um assunto que diariamente é noticiado pelos canais, especialmente, televisivos de comunicação. Seja qual for sua opinião, é sempre polêmico discutir o sistema carcerário brasileiro. O que as notícias pouco enfatizam são as condições sub-humanas ao qual são submetidos os detentos, muito menos a relação existente entre o Estado e os ex-presidiários, alvos de um alto nível de violência que reflete exclusivamente em suas percepções sociais após possíveis saídas. Discutiremos aqui a importância desse tipo de abordagem no quesito segurança pública, os números alarmantes no tocante a densidade demográfica, bem como, apresentaremos análises comparativas do mesmo sistema em outros países. Esse estudo se fará através de uma revisão literária e análise de dados, para demonstrar o impacto que a falta de estruturação no sistema carcerário causa na sociedade, além de quais medidas seriam viáveis para a reversão dessa infeliz realidade. A necessidade de garantir a paz como um interesse da maioria, surgiu após a criação do Estado, onde a sociedade guiada por sólidas regras via-se em obrigação de punir, constatando que este método com única e exclusiva pretensão de castigar o infrator, suficientemente resguardaria a eficácia das regras comuns de convivência. Na antiguidade, época em que a pena para os que descumprissem as regras era inicialmente de ordem privada, punições poderiam ser fixadas entre sacrifícios e castigos desumanos sobre os que cometessem tais atos, mas a partir do instante que todo processo se reestruturou mediante a Lei de Talião, registrada pelo Código de Hamurabi em 1680 a.C, foi imposto a proporcionalidade entre a conduta do infrator e sua punição. Após a passagem desse momento histórico, as punições alternaram-se para a esfera pública no intuito principal de garantir os interesses do Estado, sendo desta forma iniciada a privação de liberdade como forma de preservar o réu até ser realizado seu julgamento e estipulada a sua sentença, embora ainda utilizassem os julgamentos de forma publica como modelo intimidativo. O objetivo primário embasava os conceitos de fé, para que a população acreditasse em uma representação da ira divina, logo, onde a alma do delinquente no ato de atrocidade seria purificada. A crueldade e os absurdos realizados para execução de penas somente foram contrariados através do Movimento Humanitário, este que se tornou um símbolo de reação ao atual e vigente sistema penal da época, servindo como contexto base para a criação do direito penal moderno e a Declaração do Direito dos Homens e do Cidadão durante a Revolução Francesa. Outros fatores foram de caráter decisivo para estimular a aplicação da prisão como sentença; a remoção do processo de castigos físicos, o aumento da criminalidade por toda Europa em razão das guerras e também da urbanidade, geraram um vulto de pobreza e violência. Mediante ao crescimento da delinquência, a pena de morte tornou-se insuficiente e inadequada, ocasionando a conveniência da aplicação de sanções privativas de liberdade. Assim, a pena de prisão solidificou-se como principal modalidade punitiva, embora a sua execução permanecesse primária e desumana. A realidade do sistema penitenciário brasileiro ainda é desumana mesmo nos dias de hoje, se comparando a uma fábrica de doenças e de proliferação das mesmas, isto, em razão de crimes sexuais que ocorrem nos bastidores da superlotação. O artigo 5º, XLIX, da Constituição Federal, prevê que: “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. Mas na prática, não há quem assegure tais direitos. Não deveria, mas essa parcela de população é a última a ser cogitada a receber uma ação, isso quando é lembrada no que tange melhoria de sistema. Um dos reflexos para essa narrativa seria a criação do Comando Vermelho, uma facção criminosa brasileira com o pressuposto de existência mediante aos maus tratos diariamente lapidados dentro da cadeia. Dessa forma, a necessidade de medidas arquitetadas pelo Estado torna-se indispensável, ao passo que a autonomia dos reclusos aumenta gradativamente, cujo auxílio tecnológico e ademais fatores ante apresentados, regulamentam o acesso a aparelhos celulares, formação, e mão de obra criminosa que permite o controle absoluto de detentos por facções de grande porte. A superlotação é inevitável, haja vista que além da falta de novas instalações, muitos ali já cumpriram penas e são esquecidos. A falta de capacitação dos agentes, a corrupção, a falta de higiene e assistência ao condenado também são fatores que contribuem para a falência do sistema. O Estado tenta realizar, na prisão, durante o cumprimento da pena, tudo o que deveria ter proporcionado ao cidadão. Contudo, o próprio Estado contribui para a crescente periculosidade do sistema, permitindo que as prisões fabriquem delinqüentes mais perigosos, e de dentro das cadeias eles próprios possam cometer e comandar novos crimes, modulando uma sociedade individual distinta à nossa. O despreparo dos agentes exalta uma cultura de “disciplina carcerária”, onde pelo uso descabido da violência regras são impostas e comumente, estes ficam impunes. Não diferente da realidade dos detentos que já estando em situação criminalizada, praticam deliberadamente a violência, dominando outros reclusos e instalando uma hierarquia de continuidade similar a uma cadeia alimentar, onde somente os mais fortes sobrevivem. São Paulo, 1992, 111 presos executados, (Revista Veja, 14 de Outubro de 1992) conhecido como o Massacre do Carandiru. Após as rebeliões os detentos eram agrupados e apanhavam dos agentes, vez ou outra essa “punição” extrapolava, e ocorriam mortes, a exemplo o caso citado. II. SUPERLOTAÇÃONASCELAS E CONDIÇÕESSUB-HUMANAS RELACIONADAS À SAÚDE A superlotação e a falência do sistema penitenciário brasileiro são assuntos bastante debatidos. Houve um aumento de 113% dos presos de 2000 a 2010, de acordo com dados do Ministério da Justiça (DIAS, 2016). Combinando isso à falta de investimento e manutenção das penitenciárias e presídios, esses locais tornaram-se verdadeiros depósitos humanos. Essa situação acaba colaborando com fugas e rebeliões. A superlotação das celas, sua precariedade e sua insalubridade tornam as prisões num ambiente propício à proliferação de epidemias e ao contágio de doenças. Todos esses fatores estruturais aliados ainda à má alimentação dos presos, seu sedentarismo, o uso de drogas, a falta de higiene e toda a lugubridade da prisão, fazem com que um preso que adentrou lá numa condição sadia, de lá não saia sem ser acometido de uma doença ou com sua resistência física e saúde fragilizadas (DIAS, 2016). Uma cela fechada que abriga um número maior de pessoas que a sua capacidade acarreta em problemas como o calor e a pouca ventilação, a falta de espaço faz com que os presos precisem se revezar para dormir. “O número de colchões é insuficiente e nem a alternativa de pendurar redes nas celas faz com que todos possam descansar ao mesmo tempo” (DIAS, 2016). Outro problema é a falta de mobilidade, a comida tem que passar de mão em mão para chegar aos apenados que estão no interior da cela e a dificuldade de chegar aos banheiros fazem os presos procurarem alternativas, tais como a utilização das embalagens das marmitas para satisfazer as necessidades e até mesmo urinar para fora da cela. Não há privacidade alguma em penitenciárias e presídios superlotados. O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, admitiu que o sistema prisional chega a ser praticamente medieval, após a divulgação de um estudo da Anistia Internacional, apontando a degradação do sistema penitenciário nacional. Para reduzir o problema da superlotação, foi criada a Lei nº 12.403, de 4 de maio de 2011, possibilitando alternativas à prisão provisória para presos não reincidentes que cometeram delitos leves com pena privativa de liberdade de até quatro anos, como fiança e monitoramento eletrônico. A liberação desses acusados pode causar uma sensação de insegurança (DIREITONET, 2016). Os presos adquirem as mais variadas doenças no interior das prisões, as mais comuns são a tuberculose e a pneumonia já que são doenças respiratórias, além de AIDS, hepatite e doenças venéreas. Para serem levados para o hospital necessitam de escolta da Polícia Militar (PM), o que dificulta ainda mais o tratamento do doente. Apesar de todo o planejamento da cartilha sobre o Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário, é totalmente duvidosa a concretização de tais projetos, pois já é visto que neste país é difícil os recursos públicos serem reservados para o que deveriam ser propriamente destinados (DIREITONET, 2017). Podemos citar como exemplo o sistema prisional de Campinas, no qual a tuberculose é considerada como ameaça já que sem o devido controle dentro das prisões, talvez não seja possível controlar a reincidência fora delas. Pouca ventilação, superlotação, condições sanitárias adversas, baixo nível sócio econômico, tempo de permanência na penitenciária e uso de drogas favorece a proliferação de doenças como a tuberculose. Portanto, risco de contaminação e possível epidemia para com a comunidade perto da penitenciária, como os familiares e policiais, é incisivo (DIREITONET, 2016). (...) A AIDS no meio carcerário é muito comum devido à possibilidade de ser transmitida com o uso de drogas injetáveis, podendo ser considerada como epidemia. A doença na prisão põe em perigo a vida dos “pacientes” por causa da falta ao acesso de médicos especialistas em HIV/AIDS e, do acesso limitado a todos os tratamentos disponíveis e terapias alternativas. Por isso, os prisioneiros com HIV/AIDS não têm as mesmas taxas de esperança de vida que uma pessoa com HIV/AIDS que vive na parte externa. Todavia, mais uma vez o Estado deixa a desejar no que diz respeito à saúde pública, demonstrando assim, que o preso com HIV/AIDS já adquiriu fora da cadeia ou contagiou-se por alguém que já tinha antes de ser detido (DIREITONET, 2016). A manutenção do encarceramento de um preso com um estado deplorável de saúde estaria fazendo com que a pena não apenas perdesse o seu caráter ressocializador, mas também estaria sendo descumprindo um princípio geral do direito, consagrado pelo artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, o qual também é aplicável subsidiariamente à esfera criminal, e por via de consequência, à execução penal, que em seu texto dispõe que “na aplicação da lei o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum” (DIREITONET, 2016). Dessa forma, fica claro que o sistema é falho e deixa de cumprir seu papel ressocializador, tendo os presos seus direitos mínimos negados e ocorrendo assim a dupla penalização, devido a falta de estrutura e manutenção, descumprindo a preceito expostos na Lei de Execução Penal. A ineficácia do sistema penitenciário brasileiro no âmbito de ressocialização de ex-detentos nos dias atuais está evidente no Brasil, e se torna um reflexo das condições e do tratamento que o condenado é submetido ao ambiente prisional. A indiferença no qual são tratados após readquirir sua liberdade é outro fator agravante para o insucesso desse processo. Após a conquista da liberdade, o Estado como um todo se mostra em um total desamparo para com o ex-detento, de forma a fazê-lo enxergar como única forma de sobrevivência retornar ao mundo do crime. Além disso, a partir do momento em que o preso passa a ser tutelado pelo Estado, ele não perde somente o direito à liberdade, mas também é perdido todos os outros direitos fundamentais previstos que não foram atingidos pela sentença que se faz cumprir, passando por mais variados atos de castigos, degradação de sua personalidade e perda de sua dignidade, sendo um processo que não oferece qualquer tipo de condições para prepará-lo para o seu retorno à sociedade. As garantias aos direitos fundamentais previstas em diversos estatutos legais e em nível mundial como na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem e a Resolução da ONU são os órgãos que prevêem acima de tudo regras mínimas para o tratamento de um preso. No entanto, o que tem ocorrido na prática é a constante violação destes direitos e a total ineficácia da execução das normas para essa garantia. Em nível nacional a nossa Carta Magna contém 32 incisos do artigo 5° que trata dos direitos e das garantias fundamentais do preso, e ainda a legislação específica contida nos incisos I a XV do artigo 41 da Lei de Execução Penal. Se tratando de legislação o estatuto Executivo Penal é tido como um dos mais avançados, onde se lapida que a execução de uma pena privada de liberdade, acima de tudo, deve se estabelecer sobre os princípios da humanidade, sendo qualquer punição desnecessária, cruel ou degradante considerada como um ato de ilegalidade. Contudo, ainda podemos observar como um paralelo, vinculando o aumento do índice de criminalidade ao agravamento da crise no sistema carcerário. O fato de o crime ser um ato de cunho social faz com que o aumento da criminalidade venha ser refletido diretamente no quadro de segurança em que o país se encontra atualmente. III. SISTEMAS PRISIONAIS EM OUTROS PAÍSES: COMO O BRASIL SE COMPARA COM RESTO DO MUNDO? O Brasil é o terceiro país commais presos no mundo. Segundo um levantamento feito pelo departamento Penitenciário Nacional (Infopen) de 2015 e 2016, a população carcerária foi de 698.618, em 2015 para 726.712 em 2016. A comparação com outras nações só foi feita em 2015. O Infopen é um banco de dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) do Ministério da Justiça. Nesse mesmo ano, o Brasil (698,6 mil) ultrapassou a Rússia (646,1 mil) e só ficou abaixo de Estados Unidos (2,14 milhões) e China (1,65 milhão). Logo após o Brasil, vem a Índia, em quinto, com 419,62 mil detentos. O Marrocos tem a menor população carcerária em números absolutos: 79,37 mil. O número de internos mais do que dobrou em relação a 2005, quando 316,4 mil pessoas estavam presas. Em 1990, começo da série histórica, a quantidade era oito vezes menor do que a de hoje: 90 mil. O Brasil é o terceiro em taxa de ocupação das cadeias (188,2%), atrás apenas de Filipinas (316%) e Peru (230,7%), e o quarto em taxa de aprisionamento por cem mil habitantes. O índice brasileiro, ainda para 2015, é de 342, menor somente do que Estados Unidos, Rússia e Tailândia. "Nos últimos cinco anos, Estados Unidos, Rússia e China diminuíram suas taxas de aprisionamento, enquanto no Brasil esta taxa aumentou", ressalta o estudo. Verifica–se que a superlotação não é a única causa da crise no sistema carcerário brasileiro, outros fatores determinantes são: o excesso de prisões provisórias e prisões que não cumprem seu papel de ressocialização o que acaba fortalecendo o crime. Dos mais de 600 mil presos no Brasil hoje, cerca de 250mil, ou 40% do total, são presos provisórios. A maior parte dessas prisões surge depois de uma prisão em flagrante, que levam a prisões provisórias em 94,8% dos casos, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O Infopen revela que 26% desses presos ficam detidos por mais de três meses. Há relatos de pessoas que viram o juiz pela primeira vez depois de passar mais de dois meses no cárcere. Esses números demonstram que a prisão provisória tem sido usada mais como regra do que exceção – e que ela se tornou uma forma de antecipar a execução da pena. Tomar medidas para alterar esse quadro pode melhorar a situação do sistema, pois uma parte desses presos poderia ser liberada. Uma forma de atenuar o problema é a audiência de custódia, em que o preso em flagrante tem acesso a um juiz em até 24 horas após a prisão. O Ministro Ricardo Lewandowski, apresentou uma proposta de reforma do Código de Processo Penal (CPP). A mudança na lei obriga os juízes a se manifestarem sobre a possibilidade de aplicação das medidas cautelares alternativas previstas no artigo 319 do CPP, antes de ser determinada a prisão em flagrante ou preventiva. Lewandowski disse que a proposta tem como objetivo mudar o que ele chamou de “cultura do encarceramento” que existe no País. Segundo ele, qualquer pessoa detida nos dias de hoje fica presa por meses ou anos, sem maiores indagações e sem que haja um exame mais apurado da sua situação concreta, explicou. Cerca de 40% dos mais de 500 mil presos, no Brasil, são presos provisórios. “Isso, obviamente, contribui para a superlotação dos presídios”, disse o Ministro do STF. Com o problema da superlotação e cadeias precárias, é quase impossível pensar em políticas de ressocialização no Brasil. Nesses ambientes insalubres, o crime organizado encontra espaço para se fortalecer e desenvolver suas atividades. É das cadeias que facções têm planejado e executado a venda e distribuição de drogas. As prisões também são oportunidades de aliciamento de novos traficantes. Para garantir sua própria sobrevivência, outros presos, menos perigosos, acabam se submetendo à hierarquia das gangues presentes nos presídios. Quando tais pessoas deixam o cárcere, voltam ainda piores para o convívio social. Finalmente, é preciso destacar que o Estado também falha em fornecer estrutura adequada nas penitenciárias, de forma que em muitos casos não ocorre separação adequada dos presidiários, nem atividades que visem à ressocialização do preso, como educação e cursos profissionalizantes.Na contramão do Brasil, dois países podem servir de modelos para a mudança do nosso sistema carcerário, são eles: Noruega e Holanda. Os dados básicos sobre cada sistema prisional são da World Prison Brief, base de dados da International Centre for Prison Studies. A Noruega com uma quantidade de presos de 3.874 (128º do mundo), taxa de encarceramento de 74 (169º do mundo) e taxa de ocupação de vagas de 89,8(141ºno mundo) consegue manter baixo nível de encarceramento e garantir tratamento mais humano aos condenados. Parte do sistema penitenciário do país é composto por “casas de adaptação”, que são descritas como algumas das melhores dependências para detentos no mundo. Para a Noruega, a rotina na prisão deve ser a mais normal possível, sem maiores diferenças com a vida fora dela, por isso, os presos podem fazer diversas atividades como jogar videogame e xadrez, ver televisão, cozinhar, praticar esportes, tocar instrumentos musicais, entre outras coisas. A Noruega também evita penas longas: a maior parte dos presos não fica um ano – e a sentença máxima é de 21 anos. Isso também torna a reabilitação dos presos uma questão de necessidade, pois rapidamente eles voltam ao convívio social. As políticas prisionais da Noruega se refletem em baixa taxa de reincidência estando na casa de 20%, entre as mais baixas do mundo. A Holanda também possui políticas mais liberais em relação ao sistema prisional penal. Tendo uma quantidade de presos de 11.603 (85º no mundo), taxa de encarceramento de 69 (174º no mundo) e taxa de ocupação de vagas de 77% (170º no mundo). As cadeias holandesas em nada lembram as do Brasil: contam com amplas áreas verdes, bibliotecas, mesas de piquenique e redes de vôlei. Os detentos são autorizados a circular livremente por esses espaços e podem até usar facas para cozinhar. Adota-se, novamente a ideia de que a rotina na cadeia não deve ser muito diferente da rotina fora dela. Essa abordagem ajudaria o preso a retomar a vida mais facilmente ao sair da prisão. Por fim, a recuperação do preso é personalizada e procura abordar as causas que levaram a pessoa a cometer o crime. Assim como na Noruega, as sentenças também são curtas, 91% dos condenados na Holanda cumprem penas de um ano ou menos. Com cada vez menos detentos, o governo holandês tem fechado várias prisões. Estas acabam servindo para outros fins: viram centros de triagem de refugiados, hotéis de luxo ou prisões para detentos de países vizinhos. Além disso, penas alternativas têm sido adotadas mais frequentemente pelos juízes, especialmente quando o indivíduo é pouco perigoso. IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS O sistema carcerário brasileiro é defasado, algo inegável em concepção dos dados anteriormente apresentados no texto. Outro fator imprescindível é visto ao utilizar o reflexo de ademais nações como fonte de estudo, perpassando diretamente o fato de que uma boa estruturação, em longo prazo, pode ser a resposta para a diminuição abrupta da criminalidade por meio da ressocialização dos detentos. Sabe-se que a população brasileira é retida historicamente por grandes índices de violência diária, seja nos televisores e meios de comunicação ou cotidianamente em suas próprias casas, o que pode influenciar de forma direta em complexos vingativos ou indiferença com tais indivíduos e a situação precária ao qual se encontram. A má administração governamental e o desinteresse em tais espectrospode ser uma das principais razões para o descaso. Entende-se, entretanto, através dos dados dissertados durante o texto, que a violência não é a resposta imediata para a diminuição da criminalidade, tampouco um método efetivo. Ao replicar métodos violentos, estamos forjando armamentos psicológicos para a entrada de facções dentro dos presídios, e principalmente, fundamentando a ausência de esperança dos detentos, que vêem no crime a única forma de sobreviverem. Não se espera, entretanto, que uma nação de escala continental possa reproduzir economicamente, ou mesmo efetivamente, processos utilizados em países que investem há décadas em formas efetivas de diminuição da criminalidade. O mínimo que deve ser garantido, como predisposto na Organização das Nações Unidas, é o direito à dignidade humana, um fator completamente secundário em meio ao ambiente antagônico dos presídios nacionais. Portanto, com este estudo, não existe uma crença utópica de que o Brasil torne-se uma nação tão distante quanto a Noruega, mas que consiga garantir prioritariamente a saúde, alimentação e privacidade dos detentos com o intuito de possivelmente ressocializá-los para viver em sociedade. Seja através de trabalhos remunerados ou investimentos no sistema carcerário, desde estrutura à formação de novos agentes penitenciários. Com isso, não somente a diminuição da criminalidade é ambicionada, como também métodos funcionais de trabalho correlacionados às inúmeras camadas sociais pertencentes ao nosso país. V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução à sociologia do direito penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Ed. Revan. 2002. Acesso em: 31 mai. 2017. BBC. Holanda enfrenta 'crise penitenciária': sobram celas, faltam condenados. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional- 37966875. Acesso em: 20 jun. 2019. BBC. Por que a Noruega é melhor país do mundo para ser preso. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/03/160317_prisoes_noruega_tg. Acesso em: 12 jun. 2019. BOCALETI, J. M. D. R; OLIVEIRA, D. G. P. Superlotação e o sistema penitenciário brasileiro: É possível ressocializar?. Actio, Maringá, PR, v. 1, n. 27, p. 1-13, ago./2017. Disponível em: <http://www.actiorevista.com.br/index.php/actiorevista/article/view/62>. Acesso em: 18 jun. 2019. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Geopresídios. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/inspecao_penal/mapa.php. Acesso em: 20 jun. 2019. CORRÊA, P. C. M. et al. A Progressiva Violência Urbana adstrito à criminalidade: seu impacto perante o corpo social. Jornal Eletrônico, Juiz de Fora, Minas Gerais, v. 10, n. 2, p. 1-20, dez./2018. Disponível em: <https://www.vianna.edu.br/wp-content/uploads/anais-feira-livro-2019/Art-1-A- PROGRESSIVA-VIOLENCIA-URBANA-ADSTRITA-A-CRIMINALIDADE.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2019. DIAS, Cláudio Cassimiro. Realidade do Brasil. Disponível em: <http://www. direitonet.com.br/artigos/exibir/3481/A-realidade-atual-do-sistema-penitenciario- brasileiro>. Acesso em: 13 set. 2016. DIREITONET. Problemas relacionados a saúde com acompanhamento médico. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/7926/A- realidade-do-sistema-penitenciario-brasileiro-e-o-principio-da-dignidade-da- pessoa-humana>. Acesso em: 13 set. 2016. POLITIZE!. Sistemas prisionais em outros países. Disponível em: https://www.politize.com.br/sistemas-penitenciarios-outros-paises/. Acesso em: 17 jun. 2019. SENADO NOTÍCIAS. País tem superlotação e falta de controle em presídios. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/01/24/pais- tem-superlotacao-e-falta-de-controle-dos-presidios. Acesso em: 19 jun. 2019.
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