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Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela – Fisioterapeuta. Pós-Doutora em Sciences Biomédicales na Université de Montréal, Canadá. Doutora em Anatomy and Cell Biology pela Queen’s University, Canadá. Mestre em Rehabilitation Sciences na Queen´s University, Canadá. Professora Titular do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Vice-Presidente da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Fisioterapia (ABRAPG-Ft). Christina Danielli Coelho de Morais Faria – Fisioterapeuta. Mestre em Ciências da Reabilitação e Doutora em Ciências da Reabilitação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e em Sciences Biomédicales, Option Réadaptation, pela Université de Montréal, Canadá. Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia da UFMG, na Área de Fisioterapia Neurológica do Adulto. Professora Credenciada no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação da UFMG. Janaíne Cunha Polese – Fisioterapeuta. Mestre em Ciências da Reabilitação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Aline Alvim Scianni – Fisioterapeuta. Mestre em Biologia Celular pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutora em Ciências da Reabilitação pela UFMG e pela University of Sydney. Professora Adjunta I da UFMG. 9 LUCI FUSCALDI TEIXEIRA-SALMELA CHRISTINA DANIELLI COELHO DE MORAIS FARIA JANAÍNE CUNHA POLESE ALINE ALVIM SCIANNI EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DE INTERVENÇÕES FISIOTERAPÊUTICAS EM PACIENTES PÓS-ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | ebrauner Realce ■ INTRODUÇÃO Os indivíduos que sobrevivem ao acidente vascular encefálico (AVE), referenciados no presente artigo como indivíduos pós-AVE, apresentam deficiências em diferentes estruturas e funções corporais, entre elas as que envolvem os sistemas sensoriomotor, neuromusculoesquelético, perceptual e cognitivo. Tais deficiências, muitas vezes, são devastadoras e comumente se apresentam associadas a limitações em atividades e restrições na participação social. As incapacidades dos indivíduos pós-AVE afetam tanto o âmbito pessoal, familiar e social como os sistemas de cuidado à saúde. O programa de reabilitação dos indivíduos pós-AVE comumente envolve diferentes e diversas intervenções e estratégias de tratamento. A seleção dessas estratégias de tratamento, assim como a combinação delas para constituir as intervenções e, consequentemente, o programa de reabilitação, deve ser realizada para atender a objetivos claros e específicos, estabelecidos depois de uma cuidadosa avaliação.1,2 Essa avaliação deve ser conduzida com o objetivo de entender o complexo processo de funcionalidade e incapacidade do indivíduo pós-AVE e direcionar a tomada de decisão clínica que permita a melhora da sua saúde, funcionalidade e qualidade de vida. Os princípios básicos de um programa de reabilitação devem ser observados na abordagem dos indivíduos pós-AVE, entre eles: 1,2 ■ abordagem multi/interdisciplinar; ■ abordagem centrada no paciente/família; ■ prática baseada em evidências; ■ processo de funcionalidade e incapacidade humana. Primeiramente, o programa de tratamento dos indivíduos pós-AVE, que envolve diferentes intervenções e estratégias de tratamento, deve ser ofertado por uma equipe multidisciplinar. Esse programa de tratamento é mais efetivo quando todos os membros da equipe estão envolvidos e buscam uma abordagem interdisciplinar. Além disso, os membros dessa equipe devem fornecer aos pacientes pós-AVE e aos seus familiares e cuidadores todas as informações necessárias, em linguagem compreensível, assim como as informações que estejam relacionadas às necessidades do paciente, para que estes possam participar da tomada de decisão clínica. Preconiza-se que a equipe de tratamento tenha uma rotina de encontro com os pacientes pós- AVE, seus familiares e cuidadores, tanto para envolvê-los no programa de reabilitação, com os objetivos traçados e com o planejamento da alta, como para esclarecer e reforçar as informações fornecidas, permitindo, assim, uma oportunidade de acompanhamento. A prática baseada em evidências, que preconiza o uso da melhor evidência científica associada à experiência clínica do profissional e às preferências do paciente, deve ser utilizada para nortear todo o processo de tomada de decisão clínica, inclusive aquela relacionada à seleção de testes e instrumentos de medida utilizados no processo de avaliação. Finalmente, modelos teóricos relacionados ao processo de funcionalidade e incapacidade humana devem nortear as condutas utilizadas, como forma de abordar o paciente em todo o seu contexto, objetivando, assim, o aumento da participação social do indivíduo. 10 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓ S-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O Os indivíduos pós-AVE, ao receberem alta do programa de reabilitação, devem ser encorajados a participar de programas de exercícios comunitários apropriados e de longo prazo. Aqueles indivíduos com deficiências residuais ou que tenham diminuído o seu nível funcional devem ser reavaliados anualmente para que se possa determinar a necessidade de um novo programa de reabilitação. A duração ideal dos programas de reabilitação e a adequada intensidade das estratégias de intervenção propostas para os indivíduos pós-AVE ainda estão sendo discutidas e investigadas. Segundo os guias clínicos mais atuais, de forma geral, deve ser fornecido um mínimo de 1 hora diária de prática ativa para cada terapia, em pelo menos cinco dias da semana. Dependendo da estratégia de tratamento selecionada, entretanto, a duração e a intensidade podem ser maiores ou menores, ou podem ainda não ter sido adequadamente investigadas ao ponto de possuir uma recomendação clara. Possivelmente, algumas estratégias de intervenção não apresentam evidência clara de eficácia ou efetividade por terem sido empregadas em duração e/ou intensidade inadequadas.1,2 No presente artigo, serão apresentadas as estratégias de tratamento mais comumente utilizadas na reabilitação de indivíduos pós-AVE. Serão apresentadas as definições, os princípios e as vantagens de cada estratégia, bem como serão discutidas as evidências acerca de cada uma delas. As evidências claramente estabelecidas foram definidas, neste artigo, como estratégias que foram abordadas em revisões sistemáticas com metanálise e apresentaram resultados positivos. Evidências limitadas foram definidas como aquelas encontradas em ensaios clínicos aleatorizados ou demais estudos. Ao final do artigo será apresentado um quadro contendo as estratégias de tratamento que possuem evidências claramente estabelecidas de melhora para determinados desfechos de medida, de acordo com as diferentes fases pós-AVE. ■ OBJETIVOS Após a leitura deste artigo, o leitor será capaz de: ■ compreender a definição e os princípios de cada estratégia de tratamento utilizada em indivíduos pós-AVE, com evidência científica já estabelecida e publicada; ■ ter uma visão crítica acerca do custo/benefício do uso de cada estratégia de tratamento utilizada em indivíduos pós-AVE para a conduta clínica; ■ escolher a(s) estratégia(s) de tratamento(s) para ser(em) utilizada(s) como conduta clínica em indivíduos pós-AVE, baseando-se na sua evidência científica. 11 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | ■ ESQUEMA CONCEITUAL Biofeedback Conceito Bobath Condicionamento aeróbico Estimulação elétrica Estimulação magnéticatranscraniana Prática mental Realidade virtual Terapia de contensão induzida Terapia do espelho Treinamento específi co da tarefa Síntese das evidências para as estratégias de tratamento para indivíduos Caso clínico Fortalecimento muscular pelo treinamento muscular progressivo Conclusões ■ BIOFEEDBACK DEFINIÇÃO O biofeedback refere-se ao uso de equipamentos (instrumentação ou tecnologia) para fornecer informações ao indivíduo sobre processos fisiológicos durante o desempenho de algum movimento, atividade ou tarefa. A informação é fornecida com o objetivo de melhorar o desempenho e a aprendizagem3,4 (Figura 1). 12 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓ S-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O Figura 1 – Uso de instrumento de eletromiografia como biofeedback, com respectivo sinal eletromiográfico. Fonte: Arquivo de imagens das autoras. PRINCÍPIOS Os princípios do biofeedback estão relacionados com os princípios da aprendizagem de determinada habilidade. Para que a aprendizagem ocorra, é necessário praticar; e, para que a prática seja efetiva, é necessário que o indivíduo receba informações sobre o seu desempenho. Durante a aprendizagem motora, o indivíduo recebe feedback biológico intrínseco via sistemas sensoriais. Também pode ser fornecido feedback extrínseco, como aquele fornecido por equipamentos ou pelo fisioterapeuta – que, neste caso, assume o papel de coach. Esse feedback extrínseco pode ser fornecido como conhecimento de resultado (informação sobre a acurácia do movimento, atividade ou tarefa executada) ou como conhecimento de desempenho (informação sobre a maneira como o movimento, a atividade ou a tarefa foi executada).3,4 VANTAGENS Na estratégia de biofeedback, a informação sobre o processo fisiológico durante o desempenho é fornecida continuamente, de forma específica, objetiva e simultaneamente ao movimento, atividade ou tarefa desempenhada.4 EVIDÊNCIAS Já foi estabelecida evidências científicas suficientes para que o biofeedback seja recomendado para pacientes pós-AVE nas fases aguda, subaguda e crônica; porém, deve-se ter cautela para a sua indicação. 13 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | Apesar de o biofeedback poder ser aplicado na reabilitação de membros superiores e inferiores,1,4,5 evidências científicas foram claramente estabelecidas apenas para os desfechos relacionados ao desempenho de atividades que envolvam os membros inferiores, como ficar de pé, levantar de uma cadeira e andar. Os benefícios obtidos para esses desfechos foram mantidos após um período de 1 a 5 meses após o término da intervenção, sugerindo a retenção dos efeitos do biofeedback e da aprendizagem.4 Há evidências limitadas do biofeedback para os seguintes aspectos: deficiências sensoriomotoras, atividades que envolvam os membros superiores e espasticidade que interfere no desempenho de atividades como aquelas relacionadas aos cuidados pessoais.1,4,5 LEMBRAR ■ CONCEITO BOBATH DEFINIÇÃO O conceito Bobath, ou terapia neuroevolutiva, originalmente desenvolvido na década de 1950, por Berta e Karel Bobath, é uma abordagem de resolução de problemas para a avaliação e o tratamento de adultos e crianças com distúrbios de função, movimento e controle postural decorrentes de uma lesão do sistema nervoso central.7 Segundo a Associação Internacional de Instrutores de Treinamento do Conceito Bobath (IBITA), o objetivo do método é identificar e analisar as limitações de atividades e restrições de participação nas atividades de vida diária, além de analisar as deficiências contribuintes para os distúrbios do movimento. Esse conceito utiliza estratégias terapêuticas para a recuperação do movimento normal de forma geral, incluindo tanto o lado parético quanto o lado não parético. O conceito de Bobath é utilizado para permitir o desempenho adequado de movimentos e tarefas, no que se refere aos aspectos dos componentes do movimento, sequência funcional dos movimentos, reconhecimento da tarefa e motivação para completar uma tarefa (Figura 2). LEMBRAR 14 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓ S-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O ebrauner Realce Figura 2 – Uso do conceito Bobath como estratégia de tratamento. Fonte: Arquivo de imagens das autoras. PRINCÍPIOS A premissa central do conceito Bobath é o alinhamento dos segmentos corporais por meio de facilitação manual, com o objetivo de alcançar a simetria funcional. As sessões são conduzidas predominantemente pelo fisioterapeuta, que inibe ou impede movimentos incorretos gerados pelo paciente, até que um padrão normal de movimento seja alcançado.6 Uma vez que um padrão incorreto de movimento é considerado deletério à reabilitação, a prática não supervisionada é fortemente desencorajada. A manipulação de impulsos sensoriais para melhorar o desempenho motor é chamada, no conceito Bobath, de facilitação. A facilitação permite ao paciente experimentar os padrões de movimento e o sucesso no desempenho da tarefa. Envolve a manipulação de impulsos aferentes, incluindo os somatossensoriais, visuais, vestibulares e auditivos. O fisioterapeuta especifica a sequência do movimento e a atividade muscular que vai produzir o desempenho eficiente da tarefa. Por meio de manuseios, os componentes-chave dos aspectos temporais e espaciais de um movimento ou tarefa são produzidos para que o paciente tenha a experiência do movimento.7 VANTAGENS O conceito Bobath é uma estratégia de tratamento global, com abordagem holística do paciente, que exige um treinamento específico para a sua aplicação. 15 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | EVIDÊNCIAS Não existem estudos que avaliaram a eficácia do conceito Bobath em comparação com um grupo placebo ou com um grupo sem intervenção. Uma recente revisão sistemática avaliou a efetividade do conceito Bobath em comparação com outras estratégias utilizadas na reabilitação pós-AVE e não evidenciou superioridade do conceito Bobath no controle sensoriomotor de membros superiores e inferiores, em aspectos como destreza, mobilidade, atividades de vida diária, qualidade de vida e relação custo/benefício. ATIVIDADE 1. Quais são os princípios básicos de um programa de reabilitação que devem ser observados na abordagem dos indivíduos pós-AVE? ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 2. Aponte os princípios que norteiam a estratégia de biofeedback. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ...........................................................................................................................................3. A respeito da estratégia de biofeedback, correlacione as colunas associando cada desfecho ao grau de evidência encontrado. (1) Evidências claramente estabelecidas (2) Evidências limitadas ( ) Deficiências sensoriomotoras ( ) Espast icidade que interfere no desempenho de atividades ( ) Atividades com os membros inferiores ( ) Atividades com os membros superiores Resposta no final do artigo 16 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓ S-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O ebrauner Realce 4. Em relação ao conceito Bobath, assinale a alternativa INCORRETA. A) A premissa central é o alinhamento dos segmentos corporais por meio de facilitação manual, com o objetivo de alcançar a simetria funcional. B) Utiliza estratégias terapêuticas para a recuperação do movimento normal, trabalhando de forma intensiva somente o lado parético. C) É utilizado para permitir o desempenho adequado de movimentos e tarefas, no que se refere aos aspectos dos componentes do movimento, sequência funcional dos movimentos, reconhecimento da tarefa e motivação para completar uma tarefa. D) Não se evidenciou superioridade do conceito Bobath em relação a outros métodos de tratamento no controle sensoriomotor de membros superiores e inferiores. Resposta no final do artigo 5. Explique o conceito de facilitação no contexto da estratégia do conceito Bobath. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ■ CONDICIONAMENTO AERÓBICO DEFINIÇÃO O condicionamento aeróbico compreende atividades planejadas e estruturadas, com intensidade adequada, que envolvam movimentos rítmicos e contínuos e vários grupos musculares, objetivando a manutenção ou o aumento de componentes relacionados à aptidão física.8,9 Diferentes atividades podem ser utilizadas para proporcionar a melhora do condicionamento aeróbico; além da marcha, podem ser feitas atividades como subida e descida escadas, circuitos e atividades realizadas na água.8,9 Além disso, o condicionamento pode ser realizado por meio de diversos ergômetros, como esteiras com ou sem suporte parcial de peso e cicloergômetros (Figura 3). 17 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | Figura 3 – Uso de diferentes ergômetros para realização de condicionamento aeróbico. Fonte: Arquivo de imagens das autoras. Precauções devem ser tomadas na escolha de qual ergômetro utilizar, visto que fatores como equilíbrio, força muscular, nível cognitivo e adaptação do indivíduo ao ergômetro influenciam fortemente no treinamento.9 PRINCÍPIOS O condicionamento aeróbico baseia-se em princípios fisiológicos que aumentam a habilidade para transportar e utilizar oxigênio durante uma atividade física contínua.9 Para a sua realização, deve ser cuidadosamente estabelecida a intensidade do treinamento, independentemente da modalidade escolhida. Os protocolos atuais utilizam uma duração mínima do treino de 20 minutos diários, com frequência semanal mínima de três vezes. Até o presente momento, a zona-alvo de treinamento utilizada é aquela desenvolvida para indivíduos saudáveis, que deve ser calculada por meio da fórmula de Karvonen: ■ FCalvo= [40-85% (FCmax - FCrep)] + FCrep Onde FCmax= 220 - idade; FCrep = frequência cardíaca ao repouso. Quando o paciente utilizar medicamentos betabloqueadores, a fórmula deve ser ajustada da seguinte forma: ■ FCalvo= [40-85% (FCmax-pred - FCrep)] + FCrep Onde: FCmax-pred = 85% (220 - idade); FCrep = frequência cardíaca ao repouso. 18 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓ S-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O VANTAGENS A estratégia de condicionamento aeróbico apresenta como vantagens a fácil administração e o custo relativamente baixo. Além disso, há possibilidade de realizar a intervenção em grupo. EVIDÊNCIAS Existem evidências claramente estabelecidas que permitem o uso do condicionamento aeróbico em indivíduos pós-AVE com comprometimento de leve a moderado, tanto na fase aguda quanto na fase crônica, em desfechos como capacidade e velocidade para a marcha, além do consumo máximo de oxigênio.9 Existem evidências científicas limitadas para a melhora da qualidade de vida.9 ■ ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA DEFINIÇÃO A estimulação elétrica envolve a estimulação de um neurônio motor inferior intacto por uma corrente elétrica gerada por um equipamento. Pode ser utilizada para ativar tanto músculos paralisados quanto músculos paréticos, com o objetivo de gerar uma contração muscular ou de modular a atividade neural para reobter a contração muscular voluntária ou para evitar reações musculares indesejadas. Pode ser utilizada a estimulação transcutânea (ou superficial), aplicada com eletrodos sobre a pele, ou a estimulação percutânea (ou implantada), aplicada por eletrodos que perfuram a pele e são implantados tanto em pontos motores como nas proximidades dos músculos10,11 (Figura 4). A estimulação elétrica pode ser divida em duas categorias, cada uma delas com métodos e propósitos distintos de aplicação:12 ■ estimulação elétrica funcional – envolve a estimulação elétrica de um ou mais músculos durante o desempenho de uma atividade com o objetivo de melhorar tal desempenho; ■ estimulação elétrica cíclica – envolve a estimulação elétrica repetitiva de um músculo próximo à sua contração máxima com o objetivo de fortalecer o músculo. 19 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | Figura 4 – Uso da estimulação elétrica em extensores de punho. Fonte: Arquivo de imagens das autoras. PRINCÍPIOS A estimulação elétrica se baseia em princípios neurofisiológicos. A corrente elétrica é utilizada para excitar o tecido nervoso periférico, com consequente geração da contração muscular.11 A corrente elétrica estimula o nervo diretamente ou o ponto motor do nervo proximal à junção neuromuscular.10,11 VANTAGENS A estimulação elétrica pode ser utilizada para ativar músculos com neurônio motor inferior intacto, que estejam paralisados ou com grau de força muscular insuficiente para movimentar o segmento na amplitude desejada. Nos músculos paralisados, a estimulação elétrica na magnitude e na sequência precisas pode permitir, diretamente, a realização de uma atividade funcional. EVIDÊNCIAS Já foram estabelecidas evidências científicas suficientes para que a estimulação elétrica seja aplicada na prática clínica na maior parte das situações, sem nenhum efeito adverso, para pacientes pós-AVE nas fases subaguda e crônica. Evidências científicas já foram claramente estabelecidas para os desfechos relacionados à força muscular (tanto para indivíduos fracos quanto muito fracos), fraqueza muscular generalizada associada ao risco de subluxação do ombro e desempenho de atividades, principalmente aquelas relacionadas aos membros superiores.1,12,13 20 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓS-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O Há evidências limitadas, requerendo cautela, para a indicação dessa estratégia de tratamento para os seguintes desfechos:1,13 ■ prevenção e tratamento de edema nas extremidades; ■ disfagia (quando aplicada por profissional com treinamento específico e experiência clínica para essa indicação); ■ espasticidade moderada a severa. Para a força muscular e o desempenho de atividades, os efeitos positivos se mantiveram após o período de intervenção. Ainda não foi claramente estabelecido se essa estratégia de tratamento é mais benéfica do que outras cujo propósito seja aumentar a força muscular.13 ■ ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA DEFINIÇÃO A estimulação magnética transcraniana é um método não invasivo de estimulação do cérebro humano que permite alterar a excitabilidade do córtex motor. Essa estratégia de tratamento tem sido proposta para alterar os níveis de atividade de circuitos corticais em pacientes pós-AVE. Tem sido sugerido que o hemisfério cerebral lesado pode ser comprometido tanto pelo próprio AVE quanto por uma inibição exacerbada proveniente do hemisfério cerebral não lesado. A estimulação magnética transcraniana pode aumentar a atividade no hemisfério cerebral afetado para promover a recuperação do lado parético, além de diminuir a inibição do hemisfério cerebral não acometido14,15 (Figura 5). Figura 5 – Uso da estimulação magnética transcraniana. Fonte: Arquivo de imagens das autoras. 21 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | PRINCÍPIOS A estimulação magnética transcraniana usa o princípio da indutância para obter energia elétrica em todo o couro cabeludo e no crânio, sem a dor da estimulação elétrica percutânea direta. Consiste na colocação de uma pequena bobina sobre o couro cabeludo para transmitir uma corrente. Isso produz um campo magnético sem resistência e relativamente indolor através dos tecidos da cabeça. VANTAGENS A estimulação magnética é uma estratégia de tratamento que pode ser utilizada em indivíduos com acometimento motor grave. EVIDÊNCIAS Há evidências limitadas para os benefícios de curto e longo prazo na recuperação motora de pacientes agudos e crônicos pós-AVE. Contudo, embora nenhum evento adverso tenha sido reportado até o momento, incertezas permanecem acerca dos diferentes protocolos de aplicação da estimulação magnética transcraniana e da possibilidade de riscos ou eventos adversos.14,15 ATIVIDADE 6. Em relação ao condicionamento aeróbico, assinale a alternativa correta. A) A intensidade do treinamento utilizada em pacientes pós-AVE deve ser sempre baixa, uma vez que eles apresentam risco elevado para novos eventos cardiovasculares e recorrências de AVE. Assim, o aumento da intensidade do treinamento deve ser evitado, mesmo que os indivíduos já possuam pré-requisitos para esse aumento. B) A preferência do paciente é de extrema importância na escolha do ergômetro a ser utilizado no condicionamento, visto que diversos déficits motores podem influenciar na performance dos indivíduos. C) Considerando-se um paciente pós-AVE, de 60 anos, usuário de betabloqueadores, com indicação para o condicionamento aeróbico e com frequência cardíaca de repouso de 98bpm, a zona-alvo de treinamento é de 132bpm (90%). D) Para essa estratégia de treinamento, deve-se preferir o uso de esteiras, uma vez que o uso desse equipamento é bem aceito por todos os pacientes pós-AVE, devido à sua facilidade de uso, além do seu baixo custo. Resposta no final do artigo 22 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓ S-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O 7. Aponte os protocolos atualmente estabelecidos para a prática da estratégia de condicionamento aeróbico. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 8. Sintetize as informações apresentadas no artigo a respeito das evidências científicas do uso da estratégia de condicionamento aeróbico para indivíduos pós-AVE. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 9. A respeito da estimulação elétrica, assinale a alternativa INCORRETA. A) Envolve a estimulação de um neurônio motor inferior intacto por uma corrente elétrica gerada por um equipamento, podendo ser utilizada para ativar tanto músculos paralisados quanto para músculos paréticos. B) A estimulação pode ser transcutânea, aplicada com eletrodos sobre a pele, ou percutânea, aplicada por eletrodos que perfuram a pele e são implantados tanto em pontos motores como nas proximidades dos músculos. C) A estimulação elétrica é considera funcional, ou seja, envolve a estimulação elétrica de um ou mais músculos durante o desempenho de uma atividade com o objetivo de melhorar o desempenho nessa atividade. D) A estratégia se baseia em princípios neurofisiológicos. A corrente elétrica é utilizada para excitar o tecido nervoso periférico, com consequente geração da contração muscular. A corrente elétrica estimula o nervo diretamente ou o ponto motor do nervo proximal à junção neuromuscular. Resposta no final do artigo 10. Quais são as evidências científicas estabelecidas para o uso da estratégia de estimulação elétrica em pacientes pós-AVE? ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 23 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | 11. Em relação à estimulação magnética transcraniana, assinale a alternativa correta. A) É um método invasivo de estimulação do cérebro humano que permite alterar a excitabilidade do córtex motor. B) É utilizada para aumentar a inibição do hemisfério cerebral não acometido. C) Pode gerar um incômodo, como dor, uma vez que usa o princípio da indutância para obter energia elétrica em todo o couro cabeludo e o crânio. D) Apresenta a vantagem de poder ser utilizada em indivíduos com paralisia total no membro superior acometido, condição impeditiva para o treino específico da tarefa. Resposta no final do artigo ■ FORTALECIMENTO MUSCULAR PELO TREINAMENTO MUSCULAR PROGRESSIVO DEFINIÇÃO O treinamento muscular progressivo é uma estratégia de tratamento que envolveo aumento progressivo da sobrecarga aplicada a um grupo muscular específico.8,16 Diferentes recursos podem ser utilizados para o treinamento muscular progressivo, entre eles a própria sobrecarga gerada pelos segmentos corporais do indivíduo em diferentes posicionamentos, além de caneleiras, halteres, faixas e tubos elásticos, equipamentos de carga comumente encontrados em academias (como banco extensor, banco flexor, leg press, voador), equipamento isocinético e resistores pressóricos, como o Threshold® – especificamente para o treinamento da musculatura respiratória16 (Figuras 6A-D e 7). 24 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓ S-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O A B C D Figura 6 – Fortalecimento muscular de membros inferiores com o uso de equipamento de musculação (A); skate, para pacientes muito fracos (B); faixa elástica (C). Fortalecimento muscular de membros superiores com o uso de aparelho de musculação (D). Fonte: Arquivo de imagens das autoras. Figura 7 – Fortalecimento da musculatura respiratória com o uso de Threshold®. Fonte: Figura gentilmente cedida pelo fisioterapeuta Rodrigo Costa Schuster. PRINCÍPIOS O treinamento muscular progressivo baseia-se em princípios neurofisiológicos que induzem tanto adaptações musculares (hipertrofia, por exemplo) quanto adaptações neurais (melhora do 25 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | recrutamento da unidade motora, por exemplo).8,17 Os parâmetros essenciais para o treinamento muscular progressivo envolvem os seguintes fatores:8 ■ sobrecarga progressiva – aumento gradual e sistemático da demanda aplicada ao músculo ou grupo muscular, que pode ser obtida alterando-se uma ou mais das seguintes variáveis: intensidade do exercício/carga absoluta ou relativa a determinado exercício ou movimento, número total de repetições realizadas, velocidade/tempo da repetição, períodos de descanso e volume do treinamento. ■ especificidade – as adaptações fisiológicas ao treinamento são específicas ao estímulo aplicado. Entre os vários fatores a serem observados para a obtenção dessas adaptações, destacam-se a ação muscular envolvida, a velocidade e a excursão do movimento, o grupo muscular treinado, o sistema de energia envolvido, a intensidade e o volume do treinamento. ■ variação ou periodização – processo sistemático de alterar uma ou mais variáveis do programa ao longo do tempo, para permitir que o estímulo ao treinamento permaneça desafiador e efetivo. Ainda não foi claramente estabelecido um protocolo padronizado de treinamento muscular progressivo para o fortalecimento muscular específico em pacientes pós-AVE. Entretanto, baseados em estudos clínicos já realizados, Pak e colaboradores recomendaram parâmetros básicos para a implementação do treinamento muscular progressivo na prática clínica relacionada aos indivíduos pós-AVE,17 os quais são apresentados no Quadro 1. O American College of Sports Medicine estabeleceu parâmetros mais detalhados, mas que foram estabelecidos para a população geral de indivíduos saudáveis.8 Quadro 1 PARÂMETROS BÁSICOS RECOMENDADOS POR PAK E COLABORADORES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO TREINAMENTO MUSCULAR PROGRESSIVO NA PRÁTICA CLÍNICA RELACIONADA AOS INDIVÍDUOS PÓS-AVE Parâmetro Recomendação Resistência De 60 a 80% de 1-RM Número de repetições Máximo de 12 repetições por série Número de séries 3 séries em um grupo de 8 a 10 exercícios Número de repetições por semana 3 Frequência de reavaliação para ajustar a resistência 1-RM determinada a cada duas semanas Intervalo total de treinamento Período mínimo de 6 a 12 semanas Precauções Evitar que o paciente realize a manobra de Valsava e monitorar os sinais vitais, principalmente a pressão arterial Contraindicações Pacientes sem estabilidade clínica; doença associa- da em que o treinamento muscular progressivo seja contraindicado (por exemplo, hemofilia) 1-RM: uma repetição máxima. Refere-se à resistência máxima que, ao ser imposta ao movimento/exercício de interesse, permite que este seja realizado uma única vez, sem compensação. Fonte: Pak e Patten (2008).17 26 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓ S-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O VANTAGENS O fortalecimento muscular pelo treinamento muscular progressivo é uma estratégia de fácil administração e custo relativamente baixo. Existe a possibilidade de realizar a intervenção em grupo. EVIDÊNCIAS Já foram estabelecidas evidências científicas suficientes para que o treinamento muscular progressivo seja aplicado na prática clínica na maior parte das situações, sem nenhum evento adverso, nem mesmo no grau de espasticidade. O treinamento muscular progressivo pode ser utilizado para os músculos de diferentes segmentos corporais (membros superiores, membros inferiores e tronco), assim como para a musculatura respiratória. As evidências científicas foram claramente estabelecidas para os seguintes desfechos:1,2,18,19 ■ força muscular de membros superiores e inferiores; ■ força da musculatura inspiratória; ■ atividade de marcha; ■ qualidade de vida; ■ consumo de oxigênio. Além disso, há evidências limitadas para a melhora da mobilidade, da independência, do desempenho da atividade de sentado para de pé, da subida de escadas, de atividades funcionais com os membros superiores e do desempenho funcional em geral.2,17 A eficácia do treinamento muscular progressivo foi observada, principalmente, para pacientes com grau fraco de força muscular nas fases aguda e crônica.18 Esses benefícios não foram observados em pacientes muito fracos, mesmo na fase aguda. ■ PRÁTICA MENTAL DEFINIÇÃO A prática mental é uma estratégia de intervenção cognitiva em que uma área cerebral relacionada a determinada ação motora é ativada repetidamente, por meio da imaginação da ação, com o objetivo de melhorar o seu desempenho.20 Sugere-se que, durante a prática mental, uma representação interna do movimento seja ativada e a sua execução seja simulada mentalmente repetidas vezes, dentro de um contexto específico, sem que ocorra a ação motora. Essa ação motora pode estar relacionada a movimentos isolados ou a tarefas completas.20 27 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | PRINCÍPIOS A prática mental é considerada um ensaio mental de propriedades cinestésicas e/ou visuais dos movimentos. Seus princípios teóricos se baseiam em conceitos neurofisiológicos, estando relacionados diretamente à ativação da área motora e de áreas do córtex somatossensorial. Embora o mecanismo envolvido no efeito da prática mental não tenha sido claramente esclarecido, a similaridade entre a tarefa executada e a imaginada foi demonstrada, em indivíduos com lesões cerebrais, por meio de dados psicofísicos, neurofisiológicos e imagens cerebrais. Foi observada uma congruência temporal entre a execução de uma tarefa e a imaginação dessa mesma tarefa, sugerindo que as estruturas ou sistemas mediando a simulação mental e a execução física sejam semelhantes. A prática mental similar à ação motora pode melhorar o desempenho de tarefas motoras por meio de mudanças fisiológicas e plásticas do sistema nervoso central.20 LEMBRAR VANTAGENS A estratégia da prática mental tem como vantagens sua fácil administração e o baixo custo. Uma vez que a prática mental permite a imaginação de um amplo repertório motor, pode ser usada como estratégia de treinamento de diferentes ações motorasem pacientes nas fases aguda, subaguda ou crônica. LEMBRAR Para muitos indivíduos com lesão no sistema nervoso central, a execução de determinados movimentos é muito difícil e, muitas vezes, até impossível, o que dificulta a sua participação ativa no processo de reabilitação. Entretanto, a capacidade de imaginar o movimento é um pré-requisito essencial para a aplicação da prática mental. Assim, o fisioterapeuta deve assegurar-se de que o paciente tenha habilidade suficiente para imaginar a ação motora a ser treinada, utilizando-se de técnicas específicas.21 EVIDÊNCIAS Não foram observados eventos adversos com o uso da estratégia de prática mental em pacientes pós-AVE nas fases aguda, subaguda e crônica. Há evidências limitadas dos benefícios da adição da prática mental a outras estratégias de reabilitação para as medidas de função do membro superior. Não existe um consenso sobre a dosagem necessária da prática mental para que essa estratégia de intervenção resulte em benefícios.20 28 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓ S-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O ebrauner Realce ■ REALIDADE VIRTUAL DEFINIÇÃO Realidade virtual é uma abordagem relativamente recente que permite altas doses de prática simulada de tarefas funcionais. A realidade virtual é definida como o uso de simulações interativas geradas a partir de processadores de imagens, como o computador, fornecendo ao usuário a oportunidade de interagir com ambientes que simulem objetos e eventos reais. Por meio de um ambiente virtual rico em detalhes, a realidade virtual simula tarefas funcionais que são praticadas intensivamente22 (Figura 8). Figura 8 – Prática da realidade virtual com o uso de jogos de computador. Fonte: Figura gentilmente cedida pelo fisioterapeuta Ramon Távora Viana. PRINCÍPIOS Os princípios teóricos da realidade virtual se baseiam em conceitos neurofisiológicos. Acredita-se que a realidade virtual induza uma reorganização cortical, além de mudanças comportamentais. Os conceitos-chave relacionados à realidade virtual incluem a imersão e a presença.22 A imersão refere-se à extensão na qual os pacientes percebem que estão no ambiente virtual, e não no mundo real, e está relacionada aos desenhos de software e hardware. A presença está relacionada ao grau de imersão dos pacientes. A graduação da dificuldade das atividades e o feedback instantâneo fornecidos pela realidade virtual parecem ser os principais motivos de sucesso dessa estratégia de tratamento.22 LEMBRAR 29 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | VANTAGENS Intervenções que fazem uso da realidade virtual podem utilizar desde jogos mais simples, com preços mais acessíveis, a jogos especificamente delineados, que podem ser mais caros. A realidade virtual apresenta algumas vantagens, uma vez que permite o treinamento de tarefas orientadas a metas e favorece a repetição, parâmetros importantes para a reabilitação neurológica. O treinamento em ambientes virtuais enriquecidos permite o desempenho de diversas tarefas funcionais, com uma ampla variedade de ambientes simulados. Programas de realidade virtual simulam atividades funcionais da vida real de forma interessante e desafiadora, podendo estimular a prática de um número maior de repetições. Além disso, a dificuldade das tarefas pode ser graduada, e o fisioterapeuta pode estimular o treino de tarefas que não poderiam ser treinadas em ambientes clínicos – por exemplo, atravessar uma rua. Muitos programas de realidade virtual são delineados para serem utilizados sem supervisão, favorecendo o aumento da dosagem do treinamento, sem necessidade de aumentar o número de sessões com o fisioterapeuta.22 LEMBRAR EVIDÊNCIAS Não foram observados eventos adversos em pacientes pós-AVE nas fases aguda, subaguda e crônica. Há evidências limitadas dos benefícios da realidade virtual, quando comparadas com a mesma dosagem de estratégias convencionais de reabilitação para as medidas de função do membro superior e das atividades de vida diária.22 Há evidências limitadas sobre a eficácia da realidade virtual nas medidas de força de preensão e velocidade de marcha. Ainda não existe um consenso sobre a dosagem necessária de realidade virtual, mas se especula que intervenções acima de 15 horas no total resultem em maiores benefícios. ATIVIDADE 12. Sobre o fortalecimento muscular pelo treinamento muscular progressivo, assinale a alternativa INCORRETA. A) Essa estratégia de t ratamento pode induzir mudanças no s istema neuromusculoesquelético. B) Os parâmetros essenciais para essa estratégia de tratamento são sobrecarga progressiva, especificidade e variação (ou periodização) do estímulo. C) O treinamento muscular progressivo deve ser evitado em indivíduos com espasticidade. D) O treinamento muscular progressivo envolve o aumento progressivo da sobrecarga aplicada a um grupo muscular específico. Resposta no final do artigo 30 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓ S-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O 13. De acordo com o artigo, a estratégia da prática mental é considerada um ensaio mental de propriedades cinestésicas e/ou visuais dos movimentos. Explique os princípios envolvidos nessa técnica. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 14. Aponte as vantagens da estratégia da prática mental aplicada a indivíduos pós-AVE. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 15. Com relação à realidade virtual, assinale a alternativa INCORRETA. A) Por meio de um ambiente virtual rico em detalhes, simula tarefas funcionais que podem ser praticadas de forma intensiva. B) Mesmo com evidências limitadas, os seus benefícios independem da dosagem e da intensidade do treinamento. C) Seus princípios teóricos se baseiam em conceitos neurofisiológicos pela indução da reorganização cortical e de mudanças comportamentais. D) Uma das vantagens é o seu potencial de estimular o treino de tarefas que não poderiam ser treinadas em ambientes clínicos. Resposta no final do artigo 16. Explique os conceitos de imersão e presença relacionados à estratégia de realidade virtual em indivíduos pós-AVE. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ...................................................................................................................................................................................................................................................................................... 31 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | ■ TERAPIA DE CONTENSÃO INDUZIDA DEFINIÇÃO A terapia de contensão induzida (TCI), também conhecida por terapia de restrição e indução do movimento (TRIM), é uma abordagem comportamental que foca na melhora e no aumento do uso do membro parético em pessoas que apresentam o uso assimétrico dos membros. Originalmente, a técnica envolve a indução do uso do membro superior parético e a contensão do membro superior não parético por 90% do tempo em que o paciente permanece acordado, durante duas semanas consecutivas. Durante esse período, o treino repetitivo direcionado a tarefas específicas com o membro parético é realizado por um período que varia entre 3 e 6 horas diárias (excluindo-se os finais de semana), dependendo do protocolo adotado.23,24 A restrição do uso do membro superior não parético é feita pelo uso de uma luva. Já para o membro inferior, utiliza-se como recurso uma palmilha com protuberâncias no membro inferior não parético, para reforçar o deslocamento de peso para o membro inferior parético23-25 (Figura 9). Figura 9 – Prática da TCI para membros superiores com o uso da luva no membro superior não parético. Fonte: Figura gentilmente cedida pela fisioterapeuta Natália Duarte Pereira. A TCI deve ser composta por três pilares: ■ restrição do membro superior não parético pela maioria das horas em que o indivíduo permanece acordado durante os dias que envolvem o treinamento; ■ treino intensivo de tarefa orientada com repetição no membro parético, seguindo os princípios de progressão de dificuldade e envolvendo o treino funcional (feito pelo shaping e task practice); ■ pacote de transferência, conjunto de métodos comportamentais designados a transferir os ganhos ocorridos durante o treino supervisionado para o mundo real do indivíduo. 32 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓ S-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O O pacote de transferência é considerado o mais importante dos três pilares da TCI. Considerando-se os princípios da aprendizagem motora, na TCI inicia-se o trabalho das partes pelo shaping, e o trabalho do todo acontece pelo task practice.23,24 Para ser submetido a essa estratégia de tratamento, o paciente deve, a priori, atender a alguns critério: ■ apresentar incapacidade no membro parético, avaliada por meio do escore qualitativo de 2,5 a 0 no teste motor activity log; ■ possuir amplitude de movimento do membro superior parético de, no mínimo, 45º de flexão e abdução de ombro, 20º de extensão de cotovelo, 10º de extensão na articulação radiocárpica e movimentação ativa das metacarpofalangeanas; ■ ser capaz de ficar em apoio unipodal sozinho por, no mínimo, 2 minutos, levantar-se de uma cadeira e fazer transferências de forma independente e segura. PRINCÍPIOS A TCI é uma abordagem comportamental, baseada em princípios relacionados à teoria do aprendizado do não uso e na reorganização cortical uso-dependente. De acordo com essa estratégia de tratamento, haveria uma reversão do aprendizado do não uso pela indução do movimento repetido e direcionado às necessidades do paciente. Adicionalmente, acredita-se que, a partir do aumento da quantidade de uso do membro parético pela prática intensiva, haveria também um aumento da área de representação cortical, influenciando positivamente na recuperação motora.23,24 VANTAGENS A TCI apresenta a vantagem de que as atividades utilizadas nessa estratégia de tratamento podem ser aquelas que fazem parte do dia a dia do paciente, realizadas de forma contextualizada, diversificada e repetitiva.23,24 EVIDÊNCIAS Evidências científicas já foram claramente estabelecidas para o uso da TCI em pacientes agudos, subagudos e crônicos, em desfechos relacionados à quantidade e à qualidade do uso do membro superior parético em atividades de vida diária, destreza e recuperação motora. O protocolo utilizado para pacientes agudos e subagudos compreendeu o uso da terapia de 2 a 3 horas diárias, durante duas semanas. Já para os pacientes crônicos, a TCI foi administrada de 5 a 6 horas diariamente, durante 2 a 3 semanas.23,24 Em relação à TCI para membros inferiores, existem evidências limitadas acerca da eficácia dessa estratégia em desfechos relacionados à força muscular desses membros e à marcha.25 33 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | ■ TERAPIA DO ESPELHO DEFINIÇÃO A terapia do espelho é uma estratégia de tratamento relativamente recente. Seu foco é o movimento do membro não parético e a criação de uma ilusão visual de melhora da capacidade de movimento do membro parético. A terapia do espelho é realizada colocando-se um espelho no plano médio sagital do paciente, refletindo o seu membro não parético como se fosse o seu membro parético. Dessa forma, quando o paciente movimenta o membro não parético e observa esse movimento no espelho, é criada a ilusão de um movimento normal do membro parético26,27(Figura 10A-B). A B Figura 10 – Prática da terapia do espelho em membros superiores (A) e membros inferiores (B). Fonte: Figuras gentilmente cedidas pelo fisioterapeuta Rodrigo Costa Schuster. PRINCÍPIOS A terapia do espelho é baseada em estimulação visual, e seus princípios teóricos se baseiam em conceitos neurofisiológicos. Entretanto, o mecanismo preciso para o efeito da terapia do espelho em indivíduos acometidos pelo AVE ainda não foi esclarecido. Acredita-se que a ilusão visual criada evite ou até mesmo reverta o aprendizado do não uso do membro parético. Além disso, pela modulação da excitabilidade da região cortical associada ao controle muscular, acredita-se que a terapia do espelho estimule diretamente a recuperação motora.26,27 34 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓ S-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O A terapia do espelho já foi associada como uma variação do treinamento da prática mental, a qual se baseia em imaginação repetitiva e mental de tarefas motoras.26,27 LEMBRAR VANTAGENS Dentre as vantagens da estratégia de terapia do espelho, destacam-se sua fácil administração e seu baixo custo. Além disso, há possibilidade de o próprio paciente, mesmo com deficiências motoras graves, realizar a intervenção de forma independente no seu domicílio.26,27 EVIDÊNCIAS Já foram estabelecidas evidências científicas suficientes para que a terapia do espelho seja recomendada, sem nenhum evento adverso, em pacientes pós-AVE nas fases aguda, subaguda e crônica. Contudo, deve-se ter cautela para a sua indicação. Embora a terapia do espelho possa ser aplicada em membros superiores e inferiores, evidências científicas foram claramente estabelecidas apenas para os desfechos relacionados aos membros superiores, a saber: ■ dor (especificamente para os pacientes com síndrome dolorosa regional complexa); ■ função motora; ■ atividades de vida diária. Há, ainda, evidências limitadas para os seguintes desfechos:1,26,27 ■ amplitude de movimento; ■ negligência visuoespacial; ■ independência funcional. ■ TREINAMENTO ESPECÍFICO DA TAREFA DEFINIÇÃO O treinamento específico da tarefa envolve o treinamento de atividades de vida diária fundamentando-se na ciência do movimento, particularmente no campo da biomecânica e do aprendizado motor, assim como no conhecimentoda patologia e das deficiências associadas às lesões neurais. 35 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | A prática de uma atividade ou de uma tarefa, com ou sem supervisão, constitui uma condição necessária para a aquisição da habilidade especificamente treinada (Figura 11A-C). LEMBRAR A B C Figura 11 – Diferentes formas de realização do treinamento específico da tarefa. Fonte: Arquivo de imagens das autoras. PRINCÍPIOS Preconiza-se que a tarefa a ser adquirida seja treinada em sua plenitude, uma vez que um componente da ação depende de componentes precedentes. Contudo, alguns indivíduos não apresentam capacidade suficiente para realizar a tarefa em sua plenitude. Em alguns casos, necessitam praticar a tarefa em partes, ou seja, em subtarefas ou atividades. É importante, portanto, que o fisioterapeuta identifique acuradamente o componente da tarefa que deve ser treinado separadamente.28 Existem três tipos de prática de parte da tarefa mencionados na literatura: 28 ■ fracionalização – tipo de prática de parte da tarefa em que uma ou mais partes da tarefa complexa são praticadas separadamente; ■ segmentação (ou prática progressiva de parte da tarefa) – uma habilidade-alvo é praticada por um tempo, então uma segunda parte é adicionada à primeira parte, e as duas são praticadas juntas, e assim por diante, até que a tarefa completa desejada seja praticada; ■ simplificação – tipo de prática em que a complexidade de algum aspecto da tarefa desejada é reduzida. A modificação da tarefa ou do ambiente representa uma forma de reduzir a dificuldade. Essa estratégia permite a prática de uma forma simplificada da ação. A repetição também representa um importante aspecto da prática. Além disso, deve ser fornecido um conhecimento do resultado relacionado ao desempenho adequado. Para o desenvolvimento da flexibilidade da ação, a prática de ações motoras variadas em diferentes tarefas e contextos ambientais deve ser implementada. 36 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓ S-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O VANTAGENS O treinamento específico à tarefa pode ser organizado em formato de circuito com uma série de estações. Esse tipo de organização permite ao paciente a prática intensiva, variada, contextualizada e progressiva das tarefas. Tal estratégia se ajusta às necessidades individuais, além de utilizar o tempo do fisioterapeuta de modo eficiente. A estratégia de treinamento específico da tarefa pode também ser utilizada em dinâmicas de grupo que incluam o suporte do parceiro ou cuidador e a interação social. LEMBRAR EVIDÊNCIAS Já foram estabelecidas evidências científicas suficientes para que o treinamento específico à tarefa seja aplicado para guiar a prática clínica, sem nenhum evento adverso, relacionada aos seguintes desfechos: ■ equilíbrio; ■ desempenho durante a atividade de sentado para de pé; ■ alcance e manipulação de objetos; ■ desempenho da marcha. Essas evidências se aplicam aos indivíduos nas fases subaguda e crônica após o AVE com acometimentos de leves a moderados.29,30 A dosagem depende da tarefa a ser treinada, e ainda não existe um consenso na literatura. ■ SÍNTESE DAS EVIDÊNCIAS PARA AS ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO PARA INDIVÍDUOS PÓS-AVE O Quadro 2, a seguir, sintetiza as evidências claramente estabelecidas para as diferentes estratégias de tratamento apresentadas, de acordo com os diferentes desfechos, em indivíduos pós-AVE. Quadro 2 EVIDÊNCIAS CLARAMENTE ESTABELECIDAS PARA AS ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO, DE ACORDO COM OS DIFERENTES DESFECHOS, EM INDIVÍDUOS PÓS-AVE Estratégia Desfecho Instrumento de medida 37 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | ebrauner Realce ebrauner Realce EVIDÊNCIAS CLARAMENTE ESTABELECIDAS PARA AS ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO, DE ACORDO COM OS DIFERENTES DESFECHOS, EM INDIVÍDUOS PÓS-AVE Biofeedback ■■ Desempenho de atividades ■■ Distribuição de peso entre os mem- bros inferiores ao levantar de uma cadeira e ao ficar de pé (plataforma de força)4 ■■ Rivermead mobility index4 ■■ Escala de equilíbrio de Berg4 ■■ Parâmetros espaciais e temporais da marcha4 Condicionamento aeróbico ■■ Desempenho na marcha (velocidade e distância percorrida) ■■ Teste de caminhada de 10 metros9 ■■ Teste de caminhada de 6 minutos9 ■■ VO29 Estimulação elétrica Força muscular ■■ Dinamometria9 ■■ Teste muscular manual9 Subluxação do ombro ■■ Medida radiográfica, em milímetros, da relação entre o úmero e a fossa glenoide no plano anteroposterior13 Desempenho de atividades ■■ Teste da caixa e blocos12 ■■ Action research arm test12 ■■ Índice de Barthel12 Fortalecimento muscular pelo treinamento muscular progressivo Força muscular ■■ Dinamometria18 Marcha ■■ Teste de caminhada de 10 metros18 Terapia do espelho Dor ■■ Escala visual analógica26,27 Função motora de membro superior ■■ Brunnstrom (estágios de recuperação da mão e do membro superior)26,27 ■■ Escala de Fugl-Meyer (subescala para membro superior)26,27 ■■ Action research arm test26,27 ■■ Motor assessment scale26,27 ■■ Wolf motor function test26,27 ■■ Índice de motricidade (pontuação para o membro superior) 26,27 Atividades de vida diária ■■ Medida de independência funcio- nal26,27 ■■ Índice de Barthel26,27 Terapia de contensão induzida Função do membro superior ■■ Escala de Fugl-Meyer23,24 ■■ Action research arm test23,24 ■■ Motor activity log23,24 38 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓ S-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O EVIDÊNCIAS CLARAMENTE ESTABELECIDAS PARA AS ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO, DE ACORDO COM OS DIFERENTES DESFECHOS, EM INDIVÍDUOS PÓS-AVE Treinamento específico da tarefa Desempenho na marcha (velo- cidade e distância percorrida) ■■ Teste de caminhada de 10 metros29,30 ■■ Teste de caminhada de 6 minutos29, 30 Desempenho durante o passar de sentado para de pé ■■ Tempo gasto para passar de sentado para de pé29,30 Atividade motora global ■■ Motor assessment scale29, 30 Atividades de vida diária ■■ Índice de Barthel29, 30 ■■ Rivermead motor assessment gross function29, 30 ATIVIDADE 17. Com relação à TCI, assinale a alternativa INCORRETA. A) Trata-se de uma estratégia de tratamento com abordagem comportamental, por meio do pacote de transferência, que objetiva transferir os ganhos obtidos no tratamento para a vida real do paciente. B) São utilizadas duas diferentes abordagens: o task practice, que busca o treinamento de partes do movimento, e o shaping, que é o trabalho do movimento como um todo. C) Para realizar a restrição do membro inferior não parético, deve-se utilizar uma palmilha com protuberâncias. D) Uma das vantagens da TCI é a possibilidade da realização de um treino individualizado, focado em atividades que reflitam o cotidiano do paciente. Resposta no final do artigo 18. De acordo com o artigo, quais são os critérios que o paciente deve atender para que haja a indicação da estratégia de TCI? ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ...................................................................................................................................................................................................................................................................................... 19. Explique os princípios que norteiam a estratégia da terapia do espelho em pacientes pós-AVE. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 39 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | 20. Quais são as evidências científicas apontadas no artigo a respeito da indicação da terapia do espelho para pacientes pós-AVE? ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 21. Apresente a definição da estratégia de treinamento específico da tarefa no contexto de reabilitação de pacientes pós-AVE. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 22. Em relação ao treino específico da tarefa, assinale a alternativa correta. A) A fracionalização representa um tipo de prática de parte da tarefa, na qual uma habilidade-alvo é praticada por um tempo, então uma segunda parte é adicionada à primeira parte, e as duas são praticadas juntas, e assim por diante, até que a tarefa completa desejada seja praticada. B) A modificação da tarefa ou do ambiente representa uma forma de reduzir a dificuldade. Essa estratégia representa um tipo de simplificação da prática de parte da tarefa. C) A simplificação representa um tipo de prática de parte da tarefa, no qual uma ou mais partes da tarefa complexa são praticadas separadamente. D) A tarefa a ser adquirida deve ser treinada em sua plenitude, independentemente da capacidade funcional do paciente, uma vez que um componente da ação depende de componentes precedentes. Resposta no final do artigo ■ CASO CLÍNICO Um homem de 62 anos, diabético e hipertenso, sofreu um AVE no hemisfério cerebral direito, resultando em hemiparesia à esquerda. É advogado aposentado e vive com sua esposa de 60 anos em um apartamento de três quartos, no quarto andar de um prédio localizado em uma região comercial da capital de seu Estado. O paciente recebeu alta do hospital seis semanas após o evento e foi encaminhado ao serviço de fisioterapia ambulatorial. 40 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓ S-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O No momento da admissão ao serviço de fisioterapia, o paciente apresentava deficiências motoras, caracterizadas por fraqueza muscular em membros superior (grau 2, no teste muscular manual – TMM) e inferior (grau 3, no TMM) paréticos. Apresentava sensibilidades tátil e proprioceptiva intactas. A cognição estava preservada, avaliada pelo miniexame do estado mental (29/30). O paciente não apresentava déficits visuais ou negligência visuoespacial e nenhum déficit de linguagem. As atividades de alcance e manipulação, assim como a deambulação, encontravam-se limitadas. O paciente alcançava objetos posicionados à frente de seu corpo com excessiva inclinação anterior de tronco, uma vez que não possuía amplitude total de extensão ativa de cotovelo. Apresentava perda de destreza ao manipular objetos pequenos, com velocidade e amplitude de movimento diminuídas. O paciente deambulava em ambiente domiciliar e comunitário com auxílio de uma bengala e utilizava órtese de tornozelo-pé. A velocidade da marcha encontrava-se diminuída (0,64m/s). Apresentava também diminuição da capacidade da marcha, avaliada por meio da distância percorrida no teste de caminhada de 6 minutos (203m). Antes do AVE, ele participava de atividades comunitárias em seu bairro, como reuniões para a implementação de melhorias no bairro e promoções de festas religiosas. Atualmente, não participa de tais eventos pela dificuldade de acesso ao centro comunitário, uma vez que o acesso ao local é dificultado pela presença de escadas e rampas. ATIVIDADE 23. Estabeleça os objetivos de tratamento fisioterapêutico específicos, alcançáveis e realistas para o paciente apresentado no caso clínico. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... Resposta no final do artigo 24. Aponte as possíveis combinações de estratégias de tratamento do membro inferior parético para as deficiências, limitações e restrições do paciente, considerando o nível de evidência para cada uma delas. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... Resposta no final do artigo 41 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | 25. Aponte as possíveis combinações de estratégias de tratamento do membro superior parético para as deficiências, limitações e restrições do paciente, considerando o nível de evidência para cada uma delas. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... Resposta no final do artigo ■ CONCLUSÕESApesar de existirem diversas evidências científicas disponíveis acerca das diferentes estratégias de tratamento para indivíduos pós-AVE, são poucos os estudos que utilizaram como desfecho medidas relacionadas à participação social dos indivíduos. Além disso, os estudos, em sua maioria, se basearam em indivíduos com acometimentos motores de leves a moderados, não permitindo, assim, realizar inferências sobre o uso das estratégias de tratamento em indivíduos com acometimento motor grave. Assim, estudos futuros são necessários a fim de compreender a eficácia das diferentes estratégias de tratamento em indivíduos pós-AVE com acometimento motor grave. Outra questão importante a ser abordada é a dosagem e a intensidade do tratamento. A duração da dosagem do tratamento de pelo menos 16 horas no total é necessária para que se obtenham os efeitos favoráveis relacionados ao desempenho das atividades de vida diária e à velocidade de marcha em pacientes nos primeiros seis meses pós-AVE. Cabe ressaltar, entretanto, que a dosagem a ser utilizada para cada estratégia é dependente de diversos fatores, como a preferência do paciente, o nível de acometimento motor, os instrumentos e o espaço físico disponível, eentre outros. O uso de uma estratégia de tratamento não limita o uso das demais como coadjuvantes no processo reabilitativo. Várias estratégias, portanto, podem ser utilizadas em conjunto na prática clínica para que os objetivos propostos a partir da avaliação fisioterapêutica possam ser alcançados. Finalmente, o grande desafio dos fisioterapeutas é elaborar um plano de tratamento apropriado para cada paciente em particular. Apesar das várias estratégias descritas na literatura, uma determinada estratégia pode não ser a melhor opção para todos os pacientes, nem mesmo para pacientes que tenham o mesmo tempo de lesão e um grau de acometimento motor semelhante. Por exemplo, um paciente que não tem nenhuma capacidade de gerar contração muscular provavelmente não se beneficiará do fortalecimento muscular progressivo, mas pode se beneficiar da prática mental e/ou da eletroestimulação. Para que uma abordagem adequada seja implementada, portanto, torna-se imprescindível uma avaliação minuciosa dos domínios relacionados à estrutura e à função, das atividades e da participação social, além dos fatores pessoais e ambientais, levando-se também em conta as preferências do paciente. 42 EV IDÊ NC IAS CI EN TÍF ICA S D E I NT ER VE NÇ ÕE S F ISI OT ER AP ÊU TIC AS EM PA CIE NT ES PÓ S-A CID EN TE VA SC UL AR EN CE FÁ LIC O ■ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS Atividade 3 Resposta: 2 – 2 – 1 – 2 Atividade 4 Resposta: B Comentário: A alternativa B está incorreta, pois o conceito Bobath utiliza estratégias terapêuticas para a recuperação do movimento normal de uma forma geral, incluindo tanto o lado parético quanto o lado não parético. A alternativa A está correta, uma vez que a premissa central do Conceito Bobath é o alinhamento dos segmentos corporais por meio de facilitação manual, com o objetivo de alcançar a simetria funcional. As sessões são conduzidas predominantemente pelo fisiotera- peuta, o qual inibe ou impede movimentos incorretos gerados pelo paciente, até que um padrão normal de movimento seja alcançado. A alternativa C está correta, uma vez que o Conceito Bobath é utilizado para permitir o desempenho adequado de movimentos e tarefas, no que se refere aos aspectos dos componentes do movimento, sequência funcional dos movimentos, reconhecimento da tarefa e motivação para completar uma tarefa. A alternativa D está correta porque a literatura não evidenciou superioridade do Conceito Bobath em relação a outros métodos de tratamento no controle sensoriomotor de membros superiores e inferiores – destreza, mobilidade, atividades de vida diária, qualidade de vida e relação custo-benefício. Atividade 6 Resposta: B Comentário: Fatores como força muscular, equilíbrio, medo de cair, enter outros, influenciam na performance e na aceitação dos indivíduos; assim, o ergômetro deve ser utilizado de acordo com a preferência do paciente. A alternativa A está incorreta, já que o aumento da intensidade do treinamento deve ocorrer sempre que possível e com as precauções devidas, para que haja a promoção do aumento da aptidão cardiorrespiratória. A alternativa C está incorreta, uma vez que a zona-alvo de treinamento para indivíduos pós-AVE deve ser calculada de acordo com a fórmula FCalvo = [40-85% (FCmax-pred - FCrep)] + FCrep, ajustada para usuários de betabloqueadores (FCmax-pred = 85% (220 - idade). Assim, para o paciente em questão, a zona-alvo de treinamento deve ser entre 113 e 125 bpm. A alternativa D está incorreta porque cada ergômetro possui a sua especificidade, e, por isso, nem todos os pacientes se adaptam às esteiras ou preferem seu uso. Atividade 9 Resposta: C Comentário: A estimulação elétrica pode ser divida em duas categorias, cada uma delas com métodos e propósitos distintos de aplicação: estimulação elétrica funcional e estimulação elétrica cíclica. A estimulação elétrica funcional envolve a estimulação elétrica de um ou mais músculos durante o desempenho de uma atividade com o objetivo de melhorar o desempenho nessa atividade. A estimulação elétrica cíclica envolve a estimulação elétrica repetitiva de um músculo próximo à sua contração máxima com o objetivo de fortalecer o músculo. Atividade 11 Resposta: D Comentário: Esta estratégia de tratamento pode ser utilizada em indivíduos com acometimento motor grave. A alternativa A está incorreta, uma vez que se trata de um método não invasivo de estimulação do cérebro humano, que permite alterar a excitabilidade do córtex motor. A alternativa B está incorreta, já que a técnica pode aumentar a atividade no hemisfério cerebral afetado para 43 | P RO FI SI O NE UR OF UN CI ON AL | C icl o 1 | Vo lu m e 2 | promover a recuperação do lado parético, além de diminuir a inibição do hemisfério cerebral não acometido. A alternativa C está incorreta porque a estimulação magnética transcraniana usa o princípio da indutância para obter energia elétrica em todo o couro cabeludo e o crânio, sem a dor da estimulação elétrica percutânea direta. Atividade 12 Resposta: C Comentário: Como reportado no artigo, já foram estabelecidas evidências científicas suficientes para que o treinamento muscular progressivo seja aplicado na prática clínica na maior parte situações, sem nenhum evento adverso, nem mesmo relacionado ao grau de espasticidade. A alternativa A está correta, pois o treinamento muscular progressivo baseia-se em princípios neuro- fisiológicos que induzem tanto mudanças musculares (como, por exemplo, hipertrofia) quanto mudanças neurais (por exemplo, melhora do recrutamento das unidades motoras). A alternativa B está correta, já que os parâmetros essenciais para o treinamento muscular progressivo envolvem sobrecarga progressiva, especificidade e variação ou periodização do estímulo. A alternativa D está correta, pois, por definição, o treinamento muscular progressivo é uma estratégia de tratamento que envolve o aumento progressivo da sobrecarga aplicada a um grupo muscular específico. Atividade 15 Resposta: B Comentário: Como reportado no artigo, ainda não existe um consenso sobre a dosagem necessária de realidade virtual, mas parece que intervenções acima de 15 horas no total resultam em maiores benefícios. A alternativa A está correta, pois a realidade virtual proporciona um ambiente virtual rico em detalhes e permite a simulação de tarefas funcionais de forma intensiva. A alternativa C está correta, uma vez que os princípios teóricos da realidade virtual se baseiam em conceitos neurofisiológicos, podendo induzir a reorganização cortical
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