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Luciana Vieira Castilho-WeinertLuciana Vieira Castilho-Weinert Cl´Cláudiaudia a DiehDiehl l Forti-BeForti-Bellanllanii (Editores)(Editores) Fisioterapia em NeuropediatriaFisioterapia em Neuropediatria 20112011 CopyrightCopyright cc2011 Omnipax Editora Ltda2011 Omnipax Editora Ltda Caixa Postal: 16532 - 81520-980 Curitiba, PRCaixa Postal: 16532 - 81520-980 Curitiba, PR A editora disponibiliza por acesso livre a vers˜A editora disponibiliza por acesso livre a vers ão eletrˆao eletrô-o- nica deste livro nonica deste livro no site site :: http://www.omnipax.com.br http://www.omnipax.com.br ,, sob uma licen¸sob uma licençaca Creative Commons Attribution Creative Commons Attribution 3.0. 3.0. Capa:Capa: S´Sérgiergio o AlexAlexandrandre e ProkofiProkofievev ProProjeto jeto gr´gráfico afico e e editoreditora¸açc˜̃aaoo:: Omnipax Editora LtdaOmnipax Editora Ltda IImmpprreesss˜sãaoo:: Pix Bureau Gr´Pix Bureau Gráfica e Editoraafica e Editora FiFicha cha catcatalalogrogr´́afiaficaca:: Adriano Lopes (CRB9/1429)Adriano Lopes (CRB9/1429) Dados Internacionais de Cataloga¸Dados Internacionais de Catalogaç˜cão na Publica¸ao na Publicaç˜cãoao B53B537 7 FisFisiotioteraerapia pia em nem neureuropedopediatiatria ria / ed/ editoitoresres:: LucLucianiana a ViVieireira a CasCastiltilho-ho-WWeineinertert, , Cl´Cláudaudia ia DieDiehlhl Forti-Bellani. — Curitiba, PR, Omnipax, 2011Forti-Bellani. — Curitiba, PR, Omnipax, 2011 338 p.338 p. V´Vários autoresarios autores Inclui biografiasInclui biografias ISBN: 978-85-64619-01-2ISBN: 978-85-64619-01-2 eISBN: 978-85-64619-03-6eISBN: 978-85-64619-03-6 1. Neurologia pedi´1. Neurologia pediátrica. 2. Fisioterapia para crian-atrica. 2. Fisioterapia para crian- ¸̧cas. 3. Crian¸cas. 3. Crianças – Doen¸cas – Doenças – Tratamento. I. Castilho-cas – Tratamento. I. Castilho- WWeinereinert, t, LuciaLuciana na VieiVieira, ra, ed. ed. II. II. FFortiorti-Bell-Bellani, Cl´ani, Cláudiaaudia Diehl, Diehl, ed. ed. IIIII. I. TT́́ıtulo.ıtulo. CDD (22. ed.) 618.928CDD (22. ed.) 618.928 DedicatóriaDedicatória A Deus que me d´A Deus que me dá for¸a forças para continuar a cada manh˜cas para continuar a cada manhã...a... A meu marido Wagner por seu amor incondicional..A meu marido Wagner por seu amor incondicional.. A meus pais Loide e Vilson por seus esfor¸A meus pais Loide e Vilson por seus esfor ços incans´cos incansáveis para que euaveis para que eu chegasse aqui...chegasse aqui... L.V.C-W.L.V.C-W. A A meus meus pais, pais, pelos pelos valores ´valores éticos eticos e e morais.morais. A meu marido, Paulo Roberto e minha filha Isabela, raz˜A meu marido, Paulo Roberto e minha filha Isabela, raz ões da minhaoes da minha felicidade pessoal!felicidade pessoal! A todos os meus pacientes, raz˜A todos os meus pacientes, razões da minha perseveran¸oes da minha perseverança ca cicient´entı́fiıfica ca ee felicidade profissional.felicidade profissional. C.D.F-B.C.D.F-B. .. PrefácioPrefácio A Fisioterapia na ´A Fisioterapia na área da Neuropediatria tem expandido muito naarea da Neuropediatria tem expandido muito na atuaatualidadlidade. e. Os avOs avan¸anços cos t´técniecnico-cco-cientient́́ıficoıficos s pepermitrmitem em paulpaulatinatinamenteamente uma atua¸uma atuaç˜cão ao profissional profissional diferenciadiferenciada, da, embasada embasada em em evidˆevidências encias cien-cien- tt́́ıficas ıficas relacionadrelacionadas as aos aos aspecaspectos tos pl´plásticos do SNC e com resultadosasticos do SNC e com resultados mais promissmais promissoresores. . ConsConsideraiderando-ndo-se se o o desedesenvnvolvimolvimenento to de de recurrecursos sos ee t´técecninicacas s na na ´́area, percebe-se uma necessidade iminente de atualiza¸area, percebe-se uma necessidade iminente de atualiza ç˜cãoao profissional e dissemina¸profissional e disseminaç˜cão ao do do conhecimenconhecimento to cientcient́́ıfico ıfico sobre sobre a a ´́area.area. EstEste e vvoluolume me agragrupa upa tratrabalbalhos hos de de pesqpesquisuisa, a, revrevis˜isão de literatura eao de literatura e estudos de caso, com foco na intersec¸estudos de caso, com foco na intersec ç˜cão da Fisioterapia com a Neu-ao da Fisioterapia com a Neu- ropediaropediatra. tra. A coleA coletˆtânea anea de de capcaṕ́ıtulos ıtulos abrange abrange didaticamedidaticamente nte t´tópicosopicos atuais e relevantes, explorando dire¸atuais e relevantes, explorando dire ç˜cões futuras para a pesquisa e aoes futuras para a pesquisa e a atua¸atuaç˜cão profissional nesta ´ao profissional nesta área. Desta forma, este livro vem suprir aarea. Desta forma, este livro vem suprir a carˆcarênciencia a de de matematerial rial de de refereferˆrênciencia, a, prinprincipacipalmente lmente sobrsobre e t´técniecnicas cas dede interven¸intervenç˜cão, ao, relrelatiativvas as ao ao assassununto. to. EnEntre tre os os divdiversersos os assassununtos tos aborabor-- dados, destacam-se as correla¸dados, destacam-se as correlaç˜cões da neurofisiologia e da neuroplas-oes da neurofisiologia e da neuroplas- ticidade ticidade com com os os processos processos de de aprendizagem motora aprendizagem motora e e reabilita¸reabilitaç˜cão, oao, o desenvolvimento desenvolvimento motor motor tt́́ıpico, ıpico, as as encefalopaencefalopatias tias crˆcrônicas da infˆonicas da infância,ancia, acessibilidade e tecnologias assistiva, escalas de avalia¸acessibilidade e tecnologias assistiva, escalas de avalia ç˜cão em Neuro-ao em Neuro- pediatria, pediatria, e, e, as as principais principais t´técnicas ecnicas e e formas formas de de intervinterven¸enç˜cão na ´ao na área:area: Kabat, Bobath, psicomotricidade, adequa¸Kabat, Bobath, psicomotricidade, adequaç˜cão postural e atua¸ao postural e atuaç˜cão emao em terapia terapia intensintensiviva.a. Luciana Vieira Castilho-Weinert – UFPR-LitoralLuciana Vieira Castilho-Weinert – UFPR-Litoral Cl´Cláudia Diehl Forti-Bellani – IBRATEaudia Diehl Forti-Bellani – IBRATE .. Sumário 1 Desenvolvimento motor t́ıpico, desenvolvimento motor at́ıpico e correlações na paralisia cerebral . . . . . . . . . . . . . . . . 1 Cl´ audia Diehl Forti-Bellani e Luciana Vieira Castilho-Weinert 2 Escalas de avaliação do desenvolvimento e habilidades motoras: AIMS, PEDI, GMFM e GMFCS . . . . . . . . . . . . . . . 23 Tain´ a Ribas Mélo 3 Abordagem fisioterapêutica pelo Conceito Neuroevolutivo Bobath . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Luciana Vieira Castilho-Weinert e Cl´ audia Diehl Forti-Bellani 4 Alcance manual em lactentes t́ıpicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 Aline Martins de Toledo e Elóısa Tudella 5 Função do membro superior em crianças com paralisia cerebral e o uso de tarefas direcionadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 Sheila Schneiberg e Felicia Cosentino 6 Função motora, fadiga e dor em adolescentes e adultos com paralisia cerebral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 Aline Duprat Ramos, Adriana Ferreira Dias, Rosane Luzia de Souza Morais e Ana Paula Santos 7 Terapia ocupacional e tecnologia assistiva: possibilidades de adaptações para pessoas com paralisia cerebral . . . . . . . 125 Cristina Antunes de Almeida e Paula Valéria da Costa Lima 8 Adequação de mobiliário e controle postural da crian ça com paralisia cerebral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 Ĺıgia Maria Presumido Braccialli e Franciane Teixeira O. Codogno 9 Variabilidade da frequência card́ıaca em crianças com paralisia cerebral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163 Andréa Baraldi Cunha, Antonio Roberto Zamunér, Marlene Aparecida Moreno, Eloisa Tudella e Ester da Silva 10 A fonoaudiologia e a facilitação neuromuscular proprioceptiva na śındrome de Down . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179 Kariane Eliza Souza, Luciana Vieira Castilho-Weinert e Cl´ audiaDiehl Forti-Bellani 11 Śındrome de Rett: histórico, expectativa de vida, genética e habilidades funcionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193 Carlos Bandeira M. Monteiro, Zodja Graciani, Camila Torriani-Pasin, Emı́lia Katiane Embiruçu e Fernando Kok 12 Fisioterapia na unidade de terapia intensiva: enfoque na criança cŕıtica neurológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 213 Adriana Yuki Izumi, Dirce Shizuko Fujisawa e M´ arcia Regina Garanhani 13 Avaliação neuromotora em pré-escolares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229 Tereza Cristina Carbonari de Faria, Silvia Regina M. Silva Boschi, Janáına Pereira de Souza e ´ Erica Mie Okumura 14 Análise sequencial do desenvolvimento neuropsicomotor infantil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251 Eliane Roseli Winkelmann, Luciana Meggiolaro Pretto e Elenita Costa Beber Bonamigo 15 Correlações entre o desenvolvimento neuropsicomotor e o estado nutricional infantil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269 Fernanda Hack, Elenita Costa Beber Bonamigo e Eliane Roseli Winkelmann 16 Acessibilidade de crianças portadoras de necessidades especiais em escolas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 289 Silvia Regina M. Silva Boschi, Tereza Cristina Carbonari de Faria, Jéssica dos Santos Tolentino, Wellington Yoshihide Harada e Cećılia Augusto Ribeiro 17 Adultos com a paralisia cerebral: implicações para intervenção em neuropediatria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 305 Anna Luisa Macedo Margre, Maria Gabriela Lopes Reis, Rosane Luzia de Souza Morais e Aline Duprat Ramos 18 Marcadores de mineralização e formação óssea em . . Capítulo 1 Desenvolvimento Motor Típico, Desenvolvimento Motor Atípico e Correlações na Paralisia Cerebral Cláudia Diehl Forti-Bellani∗, Luciana Vieira Castilho-Weinert Resumo: Este caṕıtulo tem como ob jetivo discutir aspectos rela- tivos à importância do desenvolvimento motor para a pr ática cĺı- nica do fisioterapeuta. Os conceitos e as etapas do desenvolvimento motor t́ıpico são apresentados e correlacionados com o desenvolvi- mento motor atı́pico. Também são analisadas as implicações para a intervenção na Paralisia Cerebral (PC). Conclui-se que o desenvol- vimento motor t́ıpico é um referencial importante para a atua ção do fisioterapeuta, pois o reconhecimento de seus desvios permite iden- tificar os casos de atraso e anormalidade, como na PC. Além disto, serve como guia para o planejamento e execu ção da terapia e para que se acompanhe a evolu ção dos pacientes. Palavras-chave: Fisioterapia, Desenvolvimento Motor, Paralisia Cerebral. Abstract: This chapter aimed at discussing features related to the importance of the motor development to physical therapist’s prac- tice. Concepts and phases of the typical motor development are presented and correlated to the atypical motor development. Also, we analyze the implications in Cerebral Palsy (CP) intervention. We conclude that the typical motor development is an important reference to the physical therapist. The knowledge about its de- viations allows identify delays and abnormal cases, such as CP. Besides, it is a guide for planning and executing the therapy, as well as following the patient’s evolution. Keywords: Physical therapy, Motor development, Cerebral palsy. ∗Autor para contato: cbellani.neuroibrate@gmail.com 2 Forti-Bellani & Castilho-Weinert 1. Introdução O desenvolvimento motor recebe várias denominações: desenvolvimento neuropsicomotor, desenvolvimento motor normal, desenvolvimento neuros- sensoriomotor, ou como recomendam as nomenclaturas recentes, desenvol- vimento t́ıpico ou desenvolvimento motor t́ıpico. O desenvolvimento motor é o conjunto de caracterı́sticas em constante evolução que permite que um bebê que possui atividade motora essencial- mente reflexa ao nascimento, evolua para a motricidade voluntária e realize movimentos complexos e coordenados, tais como a deambulação, a corrida, os movimentos finos de mão, entre outros (Diament et al., 2010). O conhecimento sobre desenvolvimento neuropsicomotor é fundamen- tal para o fisioterapeuta. A partir do momento que se reconhece o de- senvolvimento t́ıpico ou normal se está apto para reconhecer situações de desenvolvimento at́ıpico. Estas situações incluem os atrasos e as condições patológicas, que requerem intervenção, com o objetivo de prevenção (es- timulação precoce) ou reabilitação (no caso de grandes atrasos) (Halpern et al., 2000). É necessário que se considere que o nome neuropsicomotor remete ao fato do desenvolvimento possuir aspectos neurológicos, ou seja, as estrutu- ras do sistema nervoso devem amadurecer para que haja desenvolvimento. O desenvolvimento também possui aspectos psicológicos ligados as emo- ções, ao afeto e as motivações que levam ao aprendizado do ato motor. E ainda, o desenvolvimento possui o próprio aspecto motor, que diz respeito às especificidades do movimento humano (Willrich et al., 2009). Segundo Papalia et al. (2000) o desenvolvimento infantil é influenciado por uma tŕıade, a tŕıade de Newell (Newell, 1991), que considera o papel do indiv́ıduo, do ambiente e da tarefa. Assim, também cabe ao fisiotera- peuta, identificar que condições podem ser modificadas nesta tŕıade para aprimorar o desenvolvimento neuropsicomotor infantil. Este caṕıtulo motiva-se no fato de que mesmo com todo o avanço e respaldo tecnológico para se obter dados objetivos e mensurações, ainda existem questões subjetivas e qualitativas muito importantes à atuação do Fisioterapeuta, uma delas é o desenvolvimento neuropsicomotor. O fisio- terapeuta precisa reconhecer quando há desvios no desenvolvimento, prin- cipalmente nas condições patológicas em que a atividade reflexa (predomi- nantemente a tônica) permanece e impede a evolução motora voluntária. Além disto, o desenvolvimento neuropsicomotor repercute em outras ques- tões do desenvolvimento, pois é a base para o desenvolvimento cognitivo e para o aprendizado escolar (Mansur & Neto, 2006). O objetivo deste caṕıtulo é descrever brevemente o desenvolvimento motor t́ıpico e relatar as alterações no desenvolvimento at́ıpico, mais espe- cificamente na Paralisia Cerebral (PC). Desenvolvimento motor típico, atípico e correlações na PC 3 2. Fundamentação Teórica O objetivo principal da Fisioterapia é promover e restaurar a funciona- lidade. Segundo Gusman & Torre (2006) o fisioterapeuta, por meio de seu diagnóstico, identifica os distúrbios cinéticos-funcionais prevalentes, elabora a programação progressiva dos objetivos fisioterapêuticos, elege e aplica recursos e técnicas mais adequadas e mantém o controle da evolução cĺınica. Salienta-se a importância da atuação do fisioterapeuta nos diferentes ńıveis de complexidade de atenção à saúde. O profissional está presente desde o nı́vel da baixa complexidade, onde atua na promoção da saúde, at́e a média complexidade, como na reabilitação em cĺınicas, e a alta comple- xidade, como nas unidades de terapia intensiva. As tendências atuais em saúde são de se retirar o foco do conceito de doença (prevenção) e visualizar um ser humano biopsicossocial (promoção da saúde). Para Czeresnia & Freitas (2003) a principal diferença encon- trada entre prevenção e promoção está no olhar sobre o conceito de saúde. Na prevenção a saúde é vista simplesmente como a ausência de doenças. Na promoção, a saúde é encarada como um conceito positivo e multidi- mensional, que resulta em um modelo participativo de saúde na promoção em oposição ao modelo médico de intervenção. Segundo esta visão, a importância da avaliação ou do diagnóstico fi- sioterapêutico,além de determinar o grau de comprometimento ou déficit funcional do indiv́ıduo doente, também está em realizar o levantamento dos fatores determinantes para a saúde do indiv́ıduo saudável ou vulnerá- vel (por exemplo, nos recém-nascidos prematuros). O diagnóstico fisioterapêutico é subśıdio para que se trace uma conduta de intervenção, cuja finalidade é habilitar o indiv́ıduo e capacitá-lo a man- ter sua independência funcional. Uma avaliação correta é fundamental, pois é ela que fornece o diagnóstico fisioterapêutico preciso que, por sua vez, estabelece as diretrizes para a intervenção adequada e individualizada (Levitt, 1995). Quando se trabalha com crianças que apresentam alteração ou defasa- gem do desenvolvimento motor, para que se realize um diagnóstico é neces- sário conhecer o desenvolvimento t́ıpico e assim, reconhecer o at́ıpico. Para tal, as etapas do desenvolvimento infantil servem como guia no processo de diagnóstico, prevenção e promoção em saúde e reabilitação (Gusman & Torre, 2006). 3. Metodologia Este caṕıtulo caracteriza-se por ser um estudo de discussão e revisão da literatura. Para tal, realizou-se uma revisão a cerca do desenvolvimento motor t́ıpico, agrupando dados relevantes da evolução motora da criança 4 Forti-Bellani & Castilho-Weinert no primeiro ano de vida. Procurou-se estabelecer subśıdios qualitativos representativos desta evolução, que sirvam como parâmetros de suspeita ou reconhecimento do atraso do desenvolvimento motor. Posteriormente discutiu-se alguns conceitos sobre PC, e relatou-se bre- vemente a sua caracterização e a provável evolução do desenvolvimento at́ıpico nesta população. Na busca de um aprofundamento a cerca do tema correlacionou-se a intervenção em fisioterapia neuropediátrica para o tratamento da PC ba- seada nas teorias modernas de comportamento e aprendizagem motora. 4. Discussão 4.1 O desenvolvimento motor típico O desenvolvimento motor, descrito por vários autores como Diament et al. (2010), Levitt (1995), Bly (1994), Bobath (1971), Milani-Comparetti & Gidoni (1967) e outros, serve como guia e parâmetro para que se avalie a alteração e a disfunção que a criança com distúrbio neurológico pode apresentar no funcionamento do seu Sistema Nervoso Central (SNC). Segundo Gusman & Torre (2006), ao longo do desenvolvimento motor infantil, a grande variabilidade de movimentos é normal e a diminui̧cão desta variabilidade leva a suspeitar de sinais patológicos. As mudanças durante o primeiro ano de vida são as mais importantes modificações, onde se processam os maiores saltos evolutivos em curtos peŕıodos de tempo (Bly, 1994). No primeiro ano, a criança passa de uma posição horizontal para uma posição vertical, quando aprende a se mover contra a gravidade (caminhar) (Levitt, 1995). Também é nesta faixa etária motora que se encontram a maior parte das crianças que possuem atrasos motores, devido à permanência de reflexos tônicos (Levitt, 1995). As modificações nos marcos do desenvolvimento t́ıpico geralmente são percebidas e relatadas pela literatura mês a mês, de forma que as crianças podem ser classificadas como pertencentes a uma determinada faixa etária motora (Flehmig, 2005; Bly, 1994). Segundo Castilho-Weinert & Lopes (2010), para determinar a faixa etária motora se considera a presença dos seguintes critérios que compõem o desenvolvimento t́ıpico: reações, reflexos, planos de movimento, padrões de movimento e habilidades motoras voluntárias (Figura 1). Cada um destes critérios pode assumir diferentes caracterı́sticas, com variações mês a mês. Estes critérios são analisados para que o fisioterapeuta determine a faixa etária motora de seu paciente ou cliente, e verifique se esta é condizente com sua idade cronológica, ou se há defasagem (Castilho- Weinert & Lopes, 2010). A Figura 1 apresenta os principais marcos do desenvolvimento t́ıpico agrupados segundo estas categorias. Um reflexo pode ser conceituado como uma mesma resposta motora a um determinado est́ımulo sensorial. Os reflexos são movimentos simples, 56 Castilho-Weinert & Forti-Bellani Figura 11. Exemplo de tapping de pressão para dorsiflexão. necessárias para a estabilidade e a fixação, ou em posições intermediárias necessárias para que se alcance posições estáveis (Centro Bobath, 1997). A Figura 12 apresenta um exemplo de tapping para extensão do punho. O tapping alternado estimula o controle de posi̧cões intermedíarias, isto é, a graduação apropriada da inervação rećıproca. Este tapping é aplicado quando o paciente é capaz de manter uma posição intermediária de maneira eficaz. Ele é muito útil em atetóides e atáxicos porque melhora a contração e o relaxamento dos músculos agonistas e antagonistas. Nos pacientes com espasticidade serve para estimular e regular as reações de balance (equiĺıbrio, proteção e retificação). Este tapping ocorre por meio de um toque suave e que busca desestabilizar uma posição alcançada pelo paciente. Apresenta-se um exemplo na Figura 13. Uma posśıvel sequência para a aplicação das técnicas de inibição, faci- litação e estimulação é o exemplo que segue. Primeiramente executa-se os PIT, seguido de um tapping de inibição para a redução da espasticidade e a organização do tônus. Na sequência, aplica-se um tapping de desliza- mento para ativar o grupo muscular inativo, e segue-se com um tapping de pressão para a sustentação da postura. A seguir, aplica-se um tapping alternado para estimular o controle de posições intermediárias e finaliza-se com o placing e o holding . 3. Metodologia Nesta seção se descreve as caracteŕısticas e objetivos em cada perfil de paci- ente e na sequência a metodologia de aplicação do Conceito Neuroevolutivo Bobath em alguns destes perfis. Abordagem fisioterapêutica pelo conceito neuroevolutivo Bobath 57 Para Gusman & Torre (2010) na maioria dos casos deve-se utilizar as técnicas básicas do Conceito, como transferência de peso, mudanças de postura, tapping , placing e holding . Como o Conceito é Neuroevolutivo segue-se a sequência do desenvol- vimento t́ıpico tanto durante os atendimentos como nas metas a serem atingidas em curto e médio prazo. Assim, começa-se em posturas mais simples e evolui-se para posturas mais complexas e que demandam maior controle motor. Durante o atendimento a sequência de manuseios obedece ao sentido céfalo-caudal e inicia-se sempre com os manuseios mais proxi- mais ou axiais. Os manuseios devem ser realizados por pontos-chave de controle e em PIT. Os alongamentos são executados de forma ativa e em contextos fun- cionais, durante atividades espećıficas. O uso de recursos como bola, rolo, mobiliários, andadores e brinquedos deve ser criteriosamente avaliado e indicado somente se adequado ao perfil do paciente. Além da capacidade motora, o programa de tratamento também precisa ser adequado à idade e aos interesses da criança. 3.1 Objetivos nos diferentes perfis dos pacientes Embora se saiba que a maioria dos pacientes possui caracteŕısticas mis- tas, devido a sua finalidade didática, este caṕıtulo aborda os objetivos e as sugestões de intervenção para determinados perfis de pacientes. Os paci- entes foram agrupados de acordo com o tônus em: hipotônicos, espásticos, flutuantes e atáxicos. Os espásticos foram divididos em quadriparéticos, diparéticos e hemiparéticos. Figura 12. Exemplo de tapping de deslizamento. 58 Castilho-Weinert & Forti-Bellani Figura 13. Tapping alternado na abdução do membro superior. 3.1.1 Características e objetivos na hipotonia Na hipotonia, a ativação muscular ocorre por somação de est́ımulos e todos os tappings são bastante úteis. O paciente hipotônico geralmente possui acometimento em todos os segmentos corporais e grande dificuldade em reagir contra a gravidade. Os principaisobjetivos com este tipo de paciente são organizar o tônus, prevenir contraturas e deformidades, e estimular a aquisição das posturas anti-gravitacionais de acordo com a sequência do desenvolvimento t́ıpico. 3.1.2 Características e objetivos na espasticidade Na hipertonia, devido à mobilidade escassa, deve-se optar por manuseios de inibição combinados com facilitação, por meio dos PIT. O paciente com quadriparesia espástica possui acometimento no tronco e nos quatro membros, porém os membros superiores são mais acometidos. Além disto, ocorre a presença de reflexos patológicos em muitos casos, como o reflexo tônico cervical assimétrico e o reflexo tônico labiŕıntico. Os objetivos nestes casos são organizar o tônus e inibir a atividade reflexa, promover a simetria corporal, evitar as complicações respiratórias, as con- traturas e as deformidades, e, se posśıvel, estimular o controle das posturas do desenvolvimento t́ıpico. Na diparesia espástica o paciente possui os quatro membros e o tronco acometidos, porém com membros superiores mais funcionais. A atividade Abordagem fisioterapêutica pelo conceito neuroevolutivo Bobath 59 reflexa predominante na diparesia é o reflexo tônico cervical simétrico. Neste perfil de paciente os objetivos são organizar o tônus, transferir o peso e facilitar as mudanças de postura, ganhar mobilidade pélvica, forta- lecer a musculatura abdominal, inibir as assimetrias e ganhar mobilidade de tronco. Na hemiparesia ocorre acometimento principalmente em um hemicorpo e no tronco, e o membro superior é o segmento mais afetado. Há um excelente prognóstico de marcha e o cognitivo está preservado. Não há presença de atividade reflexa que dificulte a terapia, porém deve-se cuidar com a presença das reações associadas. Como objetivos para este paciente deve-se organizar o tônus, transferir o peso para o lado afetado, promover a simetria e fornecer noções de linha média, favorecer a mobilidade e o controle de tronco, promover a integração bimanual, evitar a instalação de deformidades, inibir as reações associadas e treinar a marcha. 3.1.3 Características e objetivos nas flutuações Os discinéticos ou flutuantes possuem como caracterı́sticas o acometimento global dos quatro membros e tronco, porém os membros superiores são mais afetados. Além disto, possuem movimentos involuntários, assimetrias e di- ficuldades em manter a simetria e a linha média. Geralmente, há desordem postural desencadeada pelo posicionamento da cabeça, e o cognitivo é pre- servado. Os objetivos para estes pacientes são organizar o tônus, promover a estabilidade, estimular o controle de cabeça e de tronco, e evitar as assi- metrias. Deve-se conter os movimentos involuntários com manuseios que forneçam estabilidade proximal e movimentos mais controlados. Isto pode ser alcançado com facilitações e tappings de pressão (co-contração). 3.1.4 Características e objetivos na ataxia Na ataxia há acometimento dos quatro membros e do tronco, geralmente o tônus de base é hipotônico e há importantes dificuldades de coordena- ção e de equiĺıbrio. Nestes pacientes se tem os objetivos de estimular as reações de equiĺıbrio e as transferências, ganhar mobilidade pélvica, rea- lizar transferências de peso e melhorar a coordenação e a alternância de movimentos. 3.2 Exemplos de manuseios em pacientes Esta seção considera três exemplos de pacientes hipotéticos e alguns ma- nuseios que podem ser utilizados com os mesmos. É muito importante considerar que o tratamento deve ser individualizado e adequado a cada paciente. Assim, estas sugestões devem ser adaptadas às necessidades e interesses de cada criança ou indivı́duo, principalmente no que diz respeito ao uso de recursos lúdicos que devem estar de acordo com a faixa etária. 60 Castilho-Weinert & Forti-Bellani 3.2.1 Quadriparesia espástica Neste primeiro exemplo considera-se um paciente com quadriparesia cujo tônus apresenta uma espasticidade importante, e na atividade reflexa pos- sui reflexo tônico cervical assimétrico e reflexo tônico labirı́ntico. A Figura 3 apresenta uma inibição do reflexo tônico labiŕıntico, em que uma das mãos do fisioterapeuta utiliza o ponto-chave esterno e a outra inibe a extensão da cabeça pelo apoio na região occipital. Assim cumpre-se com o objetivo de inibir a atividade reflexa e promover simetria corporal. Para organizar o tônus do paciente o mesmo é posicionado em decúbito lateral, e realiza-se os PIT em sua cintura escapular por meio da circundu- ção, no sentido da rotação externa (Figura 14). Figura 14. Organização do tônus em cintura escapular. Em todos os manuseios deste paciente deve-se cuidar com o posiciona- mento de sua cabeça. Ele apresenta reflexo tônico labiŕıntico, e este reflexo é desencadeado pelo posicionamento da cabeça, principalmente a extensão. Na sequência, enfoca-se o ob jetivo de evitar os encurtamentos e as con- traturas. Para que se ganhe extensão de cotovelo, aproveita-se o decúbito para realizar tapping de inibição (Figura 15) e deslizamento sobre o mús- culo tŕıceps. Nesta posição ainda é possı́vel trabalhar o alongamento dos músculos peitorais e todas as amplitudes de movimento para as articula ções de ombro e cotovelo. Na Figura 16 apresenta-se uma sugestão de manuseio para organizar o tônus em cintura pélvica. Em decúbito lateral, utilizam-se os pontos-chave quadril e ombro, e move-se uma cintura em direção oposta a outra, no sentido ântero-posterior. Nesta mesma postura também é posśıvel alongar os músculos flexores de quadril, por meio dos pontos-chave de controle. Para estimular a aquisição de posturas anti-gravitárias, mais especifi- camente o controle de cabeça e de tronco, evolui-se para a posição sentada, com o uso de pontos-chave de controle. Nesta posi̧cão pode-se trabalhar a transferência de peso entre membros superiores e inferiores, e a rotação de tronco (Figura 17). Também é posśıvel realizar alguns manuseios para Abordagem fisioterapêutica pelo conceito neuroevolutivo Bobath 61 Figura 15. Tapping de inibição para extensão do cotovelo. Figura 16. Dissociação de cinturas. membros inferiores, como o tapping de pressão ou a co-contração em jo- elhos e tornozelos para melhorar o apoio podal (Figura 11). Salienta-se que o apoio podal adequado é fundamental para o equiĺıbrio, e a manuten- ção do equiĺıbrio em posturas estáveis evita a desorganização do tônus do paciente. 3.2.2 Diparesia espástica O segundo exemplo é um paciente com diparesia espástica. Considerando- se os objetivos expostos com este perfil de paciente (Seção 3.1.2), pode-se 62 Castilho-Weinert & Forti-Bellani Figura 17. Transferência de peso e rota ção de tronco utilizando ponto-chave. iniciar a intervenção com enfoque em organizar o tônus, e simultaneamente promover o ganho de mobilidade pélvica e estimular a transferência de peso. A Figura 18 apresenta a facilitação para a aquisição da postura em gatas, na qual parte-se do sentado de lado e retorna-se a esta posição. Uma possibilidade de continuidade da intervenção é a solicitação da rotação ativa do tronco com o objetivo de organizar o tônus, dissociar as cinturas, ganhar mobilidade de tronco e fortalecer os músculos abdominais. Para a criança deve-se associar esta solicitação a um contexto funcional, como colocar ao seu lado um brinquedo de seu interesse. Para melhorar o controle de tronco, sugere-se o sentado em plano incli- nado (mais baixo anteriormente). Esta posição, com adequado apoio po- dal, incentivará a extensão ativa do tronco. Ainda, na diparesia utiliza-se com sucesso a postura ortostática, se necessário encostado em uma parede. Nesta postura, o alinhamento biomecânico e a descarga de peso auxiliam na organização do tônus, na redução do padrão de adução em membros inferiores e na inibição das assimetrias.Para treino de marcha utiliza-se a marcha lateral com apoio em uma barra ou na parede, com o objetivo de estimular a abdu ção em membros inferiores e inibir o padrão de adução. Também se deve realizar o treino de marcha com suporte do fisioterapeuta em pontos-chave cotovelo, ou ombro, ou quadril, posicionado atrás do paciente. 3.2.3 Sugestões na hemiparesia Na hemiparesia, para se atingir os objetivos de organizar o t ônus e favo- recer a mobilidade e o controle de tronco deve-se procurar atividades que envolvam a rotação ativa do tronco, e os manuseios que realizem a disso- ciação entre as cinturas escapular e pélvica. Uma sugestão é o treino em Abordagem fisioterapêutica pelo conceito neuroevolutivo Bobath 63 Figura 18. Facilitação do sentado de lado para gatas. atividades funcionais como retirar a meia de um pé com a mão do lado oposto. Para melhorar as reações de balance (equiĺıbrio, proteção e retificação), ganhar simetria e evitar a negligência do lado afetado, é muito importante o trabalho das transferências de peso em posições variadas, associado ao aumento de est́ımulos pelo lado afetado. Para transferir peso ao mem- bro inferior afetado, pode-se fazer uso de um degrau sob o outro membro inferior (Figura 19). Este degrau pode ser mantido durante a execução de várias atividades, por exemplo, com uma mesa à frente do paciente em atividades para os membros superiores na linha média. As atividades em linha média têm o importante objetivo de promover simetria e realizar a integração bimanual. As reações de balance (equilı́brio, proteção e retificação) devem ser treinadas ao se desestabilizar o equiĺıbrio do paciente nas posições sentada 64 Castilho-Weinert & Forti-Bellani Figura 19. Transferência de peso ao membro inferior parético. e em pé. E a prevenção de encurtamentos deve ser executada por meio de alongamentos funcionais, durante as atividades propostas. Com estes pacientes, ainda é preciso inibir a ocorrência de reações asso- ciadas, que são caracterizadas pela desorganização do tônus no lado afetado durante a execução de atividades. Para tal, não se pode exigir mais que o controle motor do paciente permite, nem submetê-lo a atividades em superfı́cies muito instáveis que perturbem demais o seu equiĺıbrio. Como neste perfil funcional tem-se excelente prognóstico de marcha, deve-se utilizar estratégias para treinar a sua deambulação. A condução do paciente, quando necessária, é feita pelos pontos-chave e com o fisiote- rapeuta atrás do mesmo. Quando são necessários treinos mais refinados para adequar compri- mento, altura, largura e tempo dos passos e da passada, pode-se executar alguns exerćıcios como: caminhar sobre uma linha reta, caminhar encos- tando o calcâneo de um pé nos artelhos do outro, caminhar como Chaplin, em rotação externa de membro inferior, encostando o calcâneo de um pé na borda medial do outro, caminhar de costas, e caminhar ultrapassando obstáculos. 4. Discussão Nesta seção apresenta-se os resultados de alguns estudos que utilizaram o Conceito Neuroevolutivo Bobath em intervenção com pacientes. No que diz respeito a terapia com perfis funcionais espećıficos de pa- cientes a literatura dispońıvel recente traz vários estudos com enfoque na hemiparesia. Pomeroy & Tallis (2002) investigaram a reabilitação funcional Abordagem fisioterapêutica pelo conceito neuroevolutivo Bobath 65 em pacientes com acidente vascular encefálico e relataram que a interven- ção pelo Conceito Bobath tem relevância neurofisiológica e influencia os mecanismos de neuroplasticidade. Porém sugere-se mais estudos cient́ıfi- cos para comprovar a eficîencia da abordagem. Estes autores relatam a escassez de embasamento teórico e cient́ıfico sobre o Conceito. Hesse et al. (1998) investigaram os efeitos do treino de marcha pelo Conceito Bobath em indiv́ıduos hemiparéticos e observaram melhora na transferência e na sustentação de peso, aĺem de aumento na velocidade da marcha. Hesse et al. (1993) analisaram a simetria da marcha de 40 crianças antes e após o tratamento pelo Conceito Neuroevolutivo Bobath e constataram ganhos de velocidade máxima e de velocidade de subida. Bütefisch et al. (1995) analisaram os efeitos da intervenção com Bobath nas habilidades motoras manuais de vinte e sete hemiparéticos e constata- ram melhoras porém não significativas. Edwards et al. (1990) propuseram um protocolo para reabilitação do ombro hemiparético e verificaram que a intervenção combinada com Bobath e crioterapia é eficiente. As intervenções conjugando mais de uma técnica também são frequen- temente relatadas na literatura. Wu et al. (2007) analisaram os efeitos da terapia combinando o Método Vojta e o Conceito Bobath e como resulta- dos verificaram que as crianças participantes, cujo perfil era de alto risco para atraso, desenvolveram muito bem suas habilidades motoras, sociais, inteligência e fala. Li et al. (2007a) analisaram os efeitos de baclofem e terapia neuroe- volutiva em pacientes com espasmos e verificaram significativa melhora se comparado a pacientes que utilizam somente a terapia medicamentosa. Li et al. (2007b) utilizaram o Conceito Bobath, o método Vojta e a acupun- tura em cento e trinta e oito crianças com Paralisia Cerebral e observaram melhores resultados quanto mais jovens e menos acometidas eram as cri- anças. Lettinga et al. (1997) buscaram comparar qualitativamente os efeitos das abordagens Bobath e Brunnstrom e verificaram que ambas são eficien- tes, porém possuem objetivos diferenciados e, consequentemente os resul- tados atingidos também são diferentes e de dif́ıcil análise. Nos poucos estudos sistemáticos dispońıveis utilizando-se o Conceito Neuroevolutivo Bobath como forma de intervenção terapêutica percebe-se que há uma tendência para a focalização e a análise de segmentos corporais isolados. As análises globais e em contextos funcionais ainda s ão pouco realizadas. 5. Conclusões Este caṕıtulo teve como objetivo principal desenvolver um material de apoio para o estudo, a aplicação e a divulgação do Conceito Neuroevo- lutivo Bobath em fisioterapia neuropediátrica, em ĺıngua portuguesa. No 66 Castilho-Weinert & Forti-Bellani entanto, compreende-se que este é um conteúdo introdutório e que deve ser complementado com outras fontes de conhecimento, tais como os cur- sos espećıficos sobre o Conceito. Conforme relatos da literatura esta abordagem pode ser considerada uma das mais importantes formas de intervenção em fisioterapia em neu- ropediatria. Porém, os relatos sobre sua forma de utilização e sobre estudos cient́ıficos que comprovem a sua eficiência ainda são escassos, mesmo em outros idiomas. Desta forma abre-se importante oportunidade e necessi- dade de trabalhos futuros relativos a este tema. Como considerações finais, talvez a mais importante seja o papel fun- damental de Berta Bobath no desenvolvimento deste Conceito. Ela viveu em uma época de pequeno conhecimento sobre Neurociências, e mesmo assim realizou muitas descobertas e acrescentou grande contribuição para a atuação da fisioterapia em neurologia e neuropediatria. Agradecimentos Agradecemos ao bebê Bento Straub Perlin e a seus pais Michele e Hugo que tão pacienciosamente contribuı́ram com as fotos para ilustrar este caṕıtulo. Referências Bütefisch, C.; Hummelsheim, H.; Denzler, P. & Mauritz, K., Repetitive training of isolated movements improves the outcome of motor reha- bilitation of the centrally paretic hand. Journal of the Neurological Sciences , 130(1):59–68, 1995. Centro Bobath, , Notas para Acompanhamento do Curso de 8 Semanas em Pararalisia Cerebral . 1a edi̧cão. Londres, Reino Unido: The Bobath Center, 1997. Davidson, I. & Walters, K., Physiotherapy working with stroke patients: a national survey. 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Abordagem fisioterapêutica pelo conceito neuroevolutivo Bobath 67 Hesse, S.A.; Jahnke, M.T.; Schreiner, C. & Mauritz, K.H., Gait symme- try and functional walking performance in hemiparetic patients prior to and after a 4-week rehabilitation programme. Gait & Posture , 1(2):166–171, 1993. IBITA, , Theoretical assumptions and clinical practice. Dispońıvel na in- ternet em: http://www.ibita.org/pdf/assumptions-EN.pdf , 2008. Aces- sado em: 11/06/2011. Lennon, S., Physiotherapy practice on stroke rehabilitation: a survey. Di- sability and Rehabilitation , 25(9):455–461, 2003. Lettinga, A.T.; Helders, P.J.M.; Mol, A. & Rispens, P., Differentiation as a qualitative research strategy: a comparative analysis of Bobath and Brunnstrom approaches to treatment of stroke patients. Physiothe- rapy , 83(10):538–546, 1997. Li, H.; Yu, H.; Sang, L. & Ma, H., Association of therapeutic occasion, gross motor function grading and developmental level with gross mo- tor functional recovery in children with cerebral palsy. Neural Rege- neration Research , 2(9):548–551, 2007b. Li, S.; Xue, S.; Li, Z. & Liu, X., Effect of baclofen combined with neural facilitation technique on the reduction of muscular spasm in patients with spinal cord injury. Neural Regeneration Research , 2(8):510–512, 2007a. Mayston, M.J., Some Aspects of the Physiological Basis for Intervention Techniques . 1a edi̧cão. London, UK: Association of Paediatric Char- tered Physiotherapists Newsletter, 1995. Pomeroy, V.M. & Tallis, R.C., Restoring movement and functional ability after stroke: now and the future. Physiotherapy , 88(1):3–17, 2002. Raine, S., Defning the Bobath concept using the Delphi technique. Physi- otherapy Research International , 11(1):4–13, 2006. Raine, S.; Meadows, L. & Lynch-Ellerington, M., Bobath Concept: Theory and Clinical Practice in Neurological Rehabilitation . 1a edição. Oxford, UK: Blackwell Publishing, 2009. Schleichkorn, J., The Bobaths: A Biography of Berta and Karel Bobath . 1a edição. Tucson, USA: Neuro-Developmental Treatment Association, 1992. Wu, C.; Peng, X.; Li, X.; Niu, Q.; Guo, H. & Huang, H., Vojta and Bobath combined treatment for high risk infants with brain damage at early period. Neural Regeneration Research , 2(2):121–125, 2007. 68 Castilho-Weinert & Forti-Bellani Notas Biográficas Luciana Vieira Castilho-Weinert é Fisioterapeuta (PUC-PR, 2003), Espe- cialista em Fisiologia Humana e da Nutri ção (PUC-PR, 2006), Mestre e Doutor em Ciências – Engenharia Biomédica (UTFPR, 2004 e 2010, respectivamente) e tem formação pelo Conceito Neuroevolutivo Bobath. Atualmente é Professor Adjunto da UFPR – Setor Litoral, no Curso de Fisioterapia. Claudia Diehl Forti-Bellani é Fisioterapeuta (ULBRA-RS, 2001), Mestre em Ciências Biológicas – Neurociências (UFRGS, 2005) e tem formação pelo Conceito Neuroevolutivo Bobath. Atualmente é coordenadora e docente do Curso de P ós- Graduação Lato Sensu em Neurologia com ênfase em Neuropediatria do IBRATE. Capítulo 4 Alcance Manual em Lactentes Típicos Aline Martins de Toledo, Eloísa Tudella∗ Resumo: O alcance manual é uma importante habilidade motora, pois sua emergência é uma das primeiras fases do desenvolvimento motor voluntário durante a infância. Identificar precocemente quais- quer desvios na aquisição ou aprimoramento do alcance manual em lactentes é extremamente importante, pois tais desvios podem es- tar relacionados com disfunções futuras do desenvolvimento infantil. Desta forma, este caṕıtulo tem como ob jetivos mostrar como ocorre o alcance manual em lactentes t́ıpicos, as variáveis utilizadas para a avaliação desta habilidade, os fatores que influenciam o seu desen- volvimento e suas implicações terapêuticas. Palavras-chave: Alcance manual, Lactentes, Desenvolvimento motor, Avaliação e intervenção fisioterapêutica. Abstract: The reaching behavior is an important motor skill, be- cause its emergence is one of the first stages of voluntary motor de- velopment during childhood. The early identification of deviations in the acquisition or improvement of reaching behavior in infants is extremely important, because such deviations may be related to future dysfunctions of the child development. Thus, the objective of this chapter is to show how the reaching behavior takes place in ty- pical infants, the variables used to evaluate this ability, the factors that influence their development and their therapeutic implications. Keywords: Reaching behavior, Infants, Motor development, Phy- siotherapeutic assessment and intervention. ∗Autor para contato: tudella@terra.com.br 70 Toledo & Tudella 1. Introdução Quem não se encanta ao olhar para um bebê e ver seu interesse quando busca um objeto que lhe é mostrado ? Desde muito cedo no desenvolvi- mento os lactentes se vislumbram por objetos que estão ao seu redor e tentam alcançá-lo. Os movimentos iniciais dos membros superiores proporcionam as expe- riências sensório-motoras pelas quais as crianças aprendem primeiramente o controle neuromotor necessário para que o contato com os objetos visu- alizados possa ser realizado (Thelen et al., 1993). Os lactentes aprendem sobre as relações entre o movimento e a propriocepção, explorando suas próprias ações, pela movimentação dos membros superiores (Piaget, 1953). O alcance manual ocorre consequentemente a movimentação espontâ- nea dos membros superiores. Os lactentes aprendem a controlar e a mo- dular seu padrão de movimento por meio do alcance (Corbetta, 1998). O alcance possibilita as primeiras explorações e manipulações no ambiente, contribuindo amplamente para o desenvolvimento motor (Corbetta & Bo- jezyk, 2002), social (Fogel et al., 1992), perceptual (Corbetta et al., 2000) e cognitivo (Thelen et al., 2001). Identificar precocemente quaisquer desvios na aquisição ou no apri- moramento do alcance manual em lactentes é extremamente importante. Tais desvios podem estar relacionados com disfunções futuras do desen- volvimento infantil. Desta forma, o presente caṕıtulo tem como objetivos demonstrar como ocorre o alcance manual em lactentes t́ıpicos, quais são as variáveis utilizadas para a avaliação desta habilidade, os fatores que influenciam o seu desenvolvimento e suas implicações terapêuticas. 2. Fundamentação Teórica O alcance manual é definido como o movimento do membro superior em direção a um objeto (Thelen et al., 1996) e está entre uma das demons- trações mais precoces de integração entre os diferentes sistemas motores e perceptuais. Esta é uma importante habilidade motora, pois sua emergên- cia é uma das primeiras fases do desenvolvimento motor voluntário durante a infância (Fallang et al., 2003). Quando se observa um lactente alcançando e apreendendo um objeto não se imagina como este movimento é complexo e quantas variáveis estão envolvidas para que isto aconteça. Para que os objetos sejam alcançados e apreendidos com precisão vários tipos de ajustes no movimento dos membros superiores devem ocorrer. Dentre estes ajustes destacam-se aqueles relacionados a análise cinemática do movimento (variáveis cont́ınuas) e aos ajustes proximaise distais do alcance (variáveis categóricas). Alcance manual em lactentes típicos 71 2.1 Variáveis contínuas A análise cinemática ocorre por meio da reconstrução tridimensional do movimento pelo deslocamento das marcas afixadas nos centros articulares dos membros superiores. O sistema de análise tridimensional oferece as coordenadas X, Y e Z das marcas afixadas em cada quadro do movimento capturado. Por meio desta reconstrução tridimensional é posśıvel analisar, dentre outras, as seguintes variáveis cont́ınuas do alcance: • Índice de retidão: obtido pela razão entre a distância percorrida pela mão e a menor distância que poderia ser percorrida nesta trajetória. Quanto mais próximo de um for o ı́ndice, mais próximo de um seg- mento será sido a trajetória (Thelen et al., 1996; Toledo & Tudella, 2008), o que indica que o lactente realiza o movimento na menor trajetória posśıvel (Figura 1); • Velocidade média: obtida pela razão entre a distância percorrida e o tempo gasto ao longo do movimento (Mathew & Cook, 1990); • Unidade de movimento: definida como a velocidade máxima entre duas velocidades mı́nimas, sendo a diferença maior que um cent́ıme- tro por segundo (Thelen et al., 1996). A velocidade é obtida pela norma do vetor, calculada pela raiz quadrada da soma dos quadrados do vetor velocidade em X, Y e Z (Figura 2); • Índice de ajuste: calculado pela razão entre o tempo após o pico de velocidade e a duração do alcance. Indica a proporção de tempo que foi necessário para desacelerar o movimento do braço até que a mão tocasse o objeto (Toledo & Tudella, 2008). Quanto maior o ı́ndice de ajuste, maior o tempo gasto para desacelerar o movimento do braço; • Velocidade final: indica a velocidade da mão no momento em que o lactente toca o objeto (Toledo & Tudella, 2008). 2.2 Variáveis categóricas A análise das variáveis categóricas ocorre por meio da observação visual do comportamento do alcance. O observador analisa qualitativamente como o movimento acontece. Dentre as variáveis categóricas do alcance, destacam- se: • Ajustes proximais: considerados como a iniciativa de direcionar um ou ambos os membros superiores ao alvo apresentado. Os a justes proximais podem ser classificados como: a) Alcance unimanual: ocorre quando o lactente desloca somente um dos membros superiores em direção ao alvo (Corbetta et al., 2000), ou quando ambos os membros saem em direção ao ob- jeto com uma diferença superior à vinte quadros do ińıcio do Capítulo 5 Função do Membro Superior em Crianças com Paralisia Cerebral e o Uso de Tarefas Direcionadas Sheila Schneiberg∗, Felicia Cosentino Resumo: A terapia por tarefas direcionadas utiliza atividades que focalizam nos déficits principais da criança, baseadas na biomecâ- nica do movimento, nos prinćıpios de aprendizagem motora, nos fatores ambientais e nos contextos pessoais. Este estudo investigou o efeito de um protocolo inovador de terapia por tarefas direcionadas em um ambiente padronizado que inclui atividades com realidade virtual no aumento da fun ção do membro superior em um grupo de onze crianças com paralisia cerebral, com idade entre seis e onze anos. Foram usadas escalas que investigam a independência funci- onal, a satisfação e a colaboração. A maioria das crianças (60%) que participaram deste estudo melhorou a independência funcional, mostraram plena satisfação com o protocolo de interven ção e coo- peraram na maior parte dos quinze atendimentos. Palavras-chave: Tarefas direcionadas, Membro superior, Paralisia cerebral, Independência funcional. Abstract: The task oriented therapy consists of activities that con- cern with children’s deficits. These activities are based on the bi- omechanics of movements, motor learning principles, environment constrains and personal factors. This study investigated the effect of an original protocol with task oriented approach in a standard environment with application of virtual reality to improve the up- per limb functionality in a group of eleven children with cerebral palsy, aged from six to eleven. The outcomes were functional in- dependence during performance of specific activities, satisfaction and collaboration. The majority of children (60%) improved func- tional independence. They demonstrated full satisfaction with the intervention and cooperated most of the time during all the fifteen sessions. Keywords: Task oriented, Upper limb, Cerebral palsy, Functional independence. ∗Autor para contato: sheilaschneiberg@gmail.com 88 Schneiberg & Cosentino 1. Introdução Durante a aprendizagem de uma nova habilidade motora as crianças t̂em que coordenar fatores cognitivos e perceptuais, e as restrições impostas pela tarefa e pelo contexto ambiental (Newell, 1989, 1991). Crianças com paralisia cerebral (PC) podem apresentar dificuldades na aprendizagem motora (Olney & Wright, 2006). A aprendizagem motora engloba uma nova aquisição e a recuperação ou a modificação de um movimento (Gabbard, 2004). As crianças com PC possuem déficits sensoriais e motores que impe- dem a habilidade de perceberem e agirem como crianças que tenham um desenvolvimento t́ıpico (DT). A maneira que uma criança com PC aprende ou adquire um novo padrão motor pode ser muito diferente de uma criança com DT. Apesar de vários estudos terem investigado a aprendizagem mo- tora em adultos com sequelas neuromotoras, poucos investigaram a apren- dizagem motora em crianças com PC. A criança com PC aprende melhor quando obtém o conhecimento do seu desempenho ( feedback de como ela realizou o movimento) combinado com uma estratégia cognitiva adequada. Ou seja, só o resultado final da tarefa realizada não é suficiente. A criança precisa de um conhecimento dos componentes de movimento necessários e de um est́ımulo cognitivo adequado para aprender a realizar uma tarefa com sucesso (Wann & Turnbull, 1993; Thorpe & Valvano, 2002). A habilidade de realizar movimentos de preensão, manipulação e al- cance de objetos e de manter o equiĺıbrio durante a marcha, são funções dos Membros Superiores (MMSS) que requerem integridade dos sistemas motores e somatosensoriais. A criança com PC frequentemente apresenta um déficit nestes sistemas que resulta em uma diminuição da função dos MMSS prejudicando sua habilidade de interagir e participar no meio am- biente usando os braços e mãos. Há poucos estudos que demonstram a eficiência de tratamentos fisioterapêuticos no aumento da atividade dos MMSS em crianças com PC (Boyd et al., 2001). Uma terapia promissora, mas sem investigação emṕırica até o momento, é a terapia por tarefas di- recionadas. O objetivo deste caṕıtulo é apresentar o efeito de uma intervenção por tarefas direcionadas sobre os aspectos de independência funcional nas Atividades Funcionais (AFs) dos MMSS, na satisfação, e, na colaboração da criança com PC, durante os atendimentos. Esta pesquisa faz parte de um estudo maior (ensaio cĺınico randomizado) que utilizou a mesma intervenção para comparar tarefas direcionadas com e sem restrição de movimentos compensatórios do tronco (Schneiberg et al., 2010). Função do membro superior em crianças com PC e o uso de tarefas direcionadas 89 2. Fundamentação Teórica 2.1 Paralisia cerebral: uma síndrome com múltiplas etiologias A obtenção de uma definição consensual de PC é um desafio há muitos anos. As principais razões da dificuldade de elaborar um conceito que capte a essência não amb́ıgua do amplo aspecto desta patologia são sua etiologia múltipla e a diversidade de sintomas que ocorrem nesta śındrome (Shevell & Bodensteiner, 2004). Em 2004, uma força tarefa formada por profissionais da pesquisa e da prática cĺınica foi realizada em um workshop internacional, com o objetivo de elaborar uma definição da PC que repre- sente da melhor forma todo o seu amplo aspecto e que possa ser utilizada de forma multidisciplinar (Bax etal., 2005). A definição eleita como a mais eficiente foi: “A PC consiste em um grupo de desordens do desenvolvimento do movimento e da postura que causam limitações nas atividades, e podem ser atribuı́das a distúrbios que ocorrem durante o desenvolvimento fetal ou no encéfalo durante a infân- cia. As desordens motoras da PC são frequentemente acompanhadas por distúrbios na sensibilidade, na cognição, na comunicação, na percepção e no comportamento, e por ataques convulsivos” (Bax et al., 2005). Esta nova definição engloba os aspectos multidimensionais da śındrome e, consequentemente, facilita o diagnóstico, o tratamento, a comunicação e a transferência de conhecimentos multidisciplinar com a finalidade de aprimorar cada vez mais a prática cĺınica com esta população. 2.2 Classificação da paralisia cerebral: grupamento de uma popula- ção extremamente heterogênea A PC pode ser classificada de diversas maneiras, tradicionalmente a classi- ficação é feita de acordo com a distribuição anatômica, ou seja, de acordo com as partes do corpo afetadas. Por exemplo, na monoplegia (condição rara) apenas um membro é afetado, a diplegia acomete os principalmente os Membros Inferiores (MMII), na hemiplegia há acometimento de apenas um Membro Superior (MS) e um Membro Inferior (MI) de um lado do corpo, e, na quadriplegia todos os membros são afetados, com predomı́nio dos MMSS. Há também a classificação por distúrbio do tônus muscular baseada na alteração de tônus mais evidente, por exemplo: espástico, atetóide ou atáxico (Olney & Wright, 2006; Baxter, 2005). Porém, a classificação tra- dicional ainda gera confusão, pois na prática cĺınica há muitas descrições de tônus como misto, sem maiores detalhes. Rosenbaum & Stewart (2004) e Bax et al. (2005) propõem que se utilize os prinćıpios da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) para classificação da PC, agregando os seguintes elementos: 90 Schneiberg & Cosentino • Tipo de desordem motora e de tônus muscular: os termos amb́ıguos ou classificações duvidosas do tônus (como tônus misto) devem ser evitados. • Habilidades motoras: as funções e atividades motoras devem ser classificadas de acordo com escalas padronizadas como a Gross Mo- tor Function Classification System (GMFCS) para MMII (Palisano et al., 1997) e o Sistema de Classificação da Habilidade Manual (MACS) para MMSS (Eliasson et al., 2006). Estas escalas avaliam o ńıvel de acometimento (severidade) da PC no desempenho de diver- sas atividades de deambulação e manipulação respectivamente. Sua classificação varia do ńıvel I a V, onde o ńıvel I é o menos afetado, menos comprometido ou mais leve, e o ńıvel V é o mais comprome- tido, mais afetado ou mais grave. • A classificação por distribuição anatômica deve ser mantida. Porém, é fortemente recomendado que o comprometimento motor e postural de outras áreas do corpo, como o tronco, cada membro e região da orofaringe, seja descrito detalhadamente. 2.3 Impacto da paralisia cerebral na função do membro superior e abordagem terapêutica por tarefas direcionadas A importância dos movimentos dos MMSS para a realização de atividades de vida diária (AVDs) é reconhecida pelos cĺınicos e pesquisadores que tra- balham com movimento. Sem o movimento do braço a habilidade motora da mão fica limitada e muitas funções de motricidade fina da mão podem se tornar difı́ceis ou impossı́veis. As principais atividades afetadas pelos déficits dos MMSS são os mo- vimentos de alcance, preensão e manipulação de objetos. Os movimentos dos MMSS também contribuem para habilidades motoras grossas como o engatinhar, o andar e a manutenção do equiĺıbrio (Shumway-Cook & Wo- ollacott, 2001). Além disto, os problemas de função nos MMSS podem representar sérias barreiras nas atividades e nas interações sociais em cri- anças com PC (Shikako-Thomas et al., 2008; Wright et al., 2008). Arner et al. (2008) realizaram um estudo na Suécia com 367 crianças com PC. Nesta pesquisa 36% das crianças examinadas foram classificados no ńıvel III do MACS, isto é, não eram independentes em tarefas manuais mesmo utilizando os dois braços. O estudo de (Hanna et al., 2003) inves- tigou o desenvolvimento da função da mão em crianças com PC de um a cinco anos de idade. O resultado deste estudo demonstrou que as crianças com PC possuem um desenvolvimento da função motora da mão bem mais lento do que o das crianças com DT. O resultado também demonstrou que o desenvolvimento da função da mão era relacionado com a severidade da PC. Assim, as crianças mais acometidas, ou com MACS maior que III, tinham o desenvolvimento motor manual bem mais lento. Função do membro superior em crianças com PC e o uso de tarefas direcionadas 91 Os resultados dos dois estudos citados denotam que o impacto da PC na função motora dos MMSS é evidente. Porém, nenhum tratamento em fisioterapia ou terapia ocupacional tem um nı́vel de evidência e sucesso alto. Isto torna a reabilitação dos MMSS em crianças com PC uma lamentável lacuna a ser preenchida. O uso de tarefas orientadas ou direcionadas é uma forma de terapia que parece promissora para a obtenção de ganhos funcionais em crianças com PC. Porém, esta terapia ainda não foi extensamente investigada (Shumway- Cook & Woollacott, 2001). As tarefas direcionais seguem o modelo da CIF (Farias & Buchalla, 2005) e consideram os fatores da função e da estrutura do corpo, as atividades, a participação, e os fatores ambientais e pessoais na elaboração das estratégias de intervenção. A intervenção por tarefas direcionais origina-se nos novos conhecimentos adquiridos em desenvolvi- mento motor, biomecânica do movimento e aprendizagem motora (Smith & Thelen, 2003). As tarefas direcionais consideram também a criança e os seus familiares como o centro da terapia, e, utilizam estratégias individualizadas e moti- vadoras para preencher a necessidade f́ısica e cognitiva de cada criança. A terapia direcionada tem o objetivo de facilitar a atividade, tratando os componentes básicos do movimento (funções e estrutura do corpo). É importante enfatizar que a terapia por tarefas direcionadas realizadas pelos fisioterapeutas não tem como objetivo final a realização da Atividade Fun- cional (AF), pois este objetivo cabe aos terapeutas ocupacionais. O fisio- terapeuta utiliza as tarefas direcionadas para tratar padrões de movimento necessários à atividade e que como consequência podem vir a facilitá-la. Logo, não se deve confundir a terminologia tarefas direcionadas e AFs. As primeiras podem significar um tipo de intervenção terapêutica para os fi- sioterapeutas e, as últimas, outro tipo de abordagem para os terapeutas ocupacionais. Nas tarefas direcionadas no contexto fisioterapêutico os componentes do movimento (funções e estrutura do corpo, como a amplitude de movi- mento) são tratados de forma sequencial e com um objetivo funcional na atividade. Utiliza-se como exemplo uma criança que tem dificuldades de se alimentar sozinha e na avaliação percebe-se que o seu maior problema é a Amplitude de Movimento (ADM), mais especificamente a supinação do antebraço. Pode-se utilizar atividades ou jogos como o de cartas ou de memória, onde a criança deve virar cartas de diversos tamanhos e espes- suras, aumentado sempre o grau de dificuldade e visando o aumento da ADM. Assim, brincando de uma forma dinâmica e funcional trabalha-se a supinação. Na abordagem terapêutica através de tarefas direcionadas o fisiotera- peuta deve avaliar de forma detalhada como a criança realiza a AF dese- jada, quais componentes de movimento ela usa e quais estão faltando. Para 92 Schneiberg & Cosentino isto necessita-se de um bom embasamento em conceitos de cinesiologia e biomecânica do movimento. Há poucos estudos publicados sobre a abordagem terapêutica por tare- fas direcionadas, pois estaainda é uma forma de intervenção considerada recente. Os trabalhos de Salem & Godwin (2009) e Schneiberg et al. (2010) descrevem as bases de tal abordagem. O estudo que segue é um exemplo de intervenção por tarefas direcionadas com um grupo bastante heteroĝeneo de crianças com PC. 3. Metodologia Este estudo foi do tipo coorte, experimental, descritivo, para verificar a viabilidade do protocolo de intervenção por tarefas direcionais em crianças com PC. O pro jeto de pesquisa foi aprovado pelo comitê de ética do Centro Inter- disciplinar de Pesquisa em Reabilitação da área metropolitana de Montreal (CRIR), e, os pais ou responsáveis legais e as crianças com mais de onze anos assinaram o formulário de consentimento voluntário de participação no estudo. A pesquisa ocorreu em cinco centros de reabilitação pediátrica no es- tado do Québec, no Canadá. As onze crianças inclúıdas na amostra ti- nham PC do tipo espástica, déficits sensórios-motores em pelo menos um dos MMSS (hemiplegia, ou diplegia, ou quadriplegia), idade entre cinco a doze anos, permanência na posição sentada sem suporte, e capacidade de entender instruções básicas. As crianças com PC de origem traumática, com presença de desordens motoras do tipo atetose, ataxia e coreoatetose, com problemas ortopédicos ou dor em MMSS, tronco ou pescoço, e com contraturas de mais de dez graus em cotovelo ou mão não foram incluı́das no estudo. 3.1 Medidas As caracteŕısticas cĺınicas de cada criança foram avaliadas com seis tipos de testes de função sensório-motora: 1. ADM passiva dos MMSS: testada com uma escala onde o valor má- ximo de 24 representa amplitude passiva completa e sem dor; 2. Sensibilidade proprioceptiva quanto a posição e ao toque dos MMSS: testada com uma escala onde o valor máximo de 8 e 20, respectiva- mente, representam propriocepção e sensibilidade ao toque normais; 3. Discriminação tátil e pressão: a discriminação foi testada com o aparelho de discriminação de dois pontos e a pressão com o teste de monofilamentos Semmes-Weinstein. Nestes testes as crianças com Função do membro superior em crianças com PC e o uso de tarefas direcionadas 93 DT e idade de 5 a 9 anos obtém como valor normal para a discri- minação de dois pontos, 2 a 3 miĺımetros; e para os monofilamentos Semmes-Weinstein, 2,83 a 3,61 miĺımetros (Cooper et al., 1995); 4. Classificação do ńıvel funcional dos MMSS: avaliada pelo MACS (Eli- asson et al. 2006). O MACS possui 5 ńıveis, no ńıvel I a criança não apresenta incapacidade quando comparada aos pares e no ńıvel V apresenta uma incapacidade manual grave; 5. Espasticidade: avaliada com o index composto de espasticidade (Composite Index of Spasticity ). Esta escala tem validade compro- vada (Levin & Hui-Chan, 1992) e verifica os três componentes básicos da espasticidade: a excitabilidade fásica do reflexo, a resistência ao estiramento muscular, e a presença de clônus. O valor máximo de 16 representa espasticidade grave; 6. Habilidade de reconhecimento de objetos sem o aux́ılio da visão (es- tereognesia). Todas as avaliações visavam obter as caracteŕısticas cĺınicas de cada criança e nortear a elaboração das tarefas direcionadas (Figura 1). Para avaliar se as tarefas direcionadas facilitaram à aprendizagem de uma função, cada criança escolheu uma tarefa funcional que considerava importante e na qual tinha dificuldades de realização com os MMSS. A independência funcional durante a realização desta tarefa foi testada através de uma escala adaptada da Medida de Independência Funcional (MIF) modificada (pediátrica), continuamente, durante todos os atendi- mentos. Na pontuação da MIF os valores podem variar de um a cinco, onde um representa total dependência e cinco, total independência na rea- lização da AF. O Anexo I ilustra o registro do estado inicial e final de cada criança. Para medir a satisfação da criança com a terapia utilizou-se uma escala de cinco pontos com faces. A face um refletia insatisfação total e a face cinco, satisfação completa (Anexo II). A colaboração durante os atendimentos foi julgada pelos fisioterapeutas em uma escala de cinco pontos. A criança que não colaborava na maior parte do tempo recebia 1 e a criança que colaborava recebia 5: 1 : não colabora durante toda a sessão; 2 : não colabora em quase toda sessão; 3 : colabora em metade da sessão; 4 : colabora na maior parte da sessão; 5 : colabora durante toda a sessão. 94 Schneiberg & Cosentino Figura 1. Avaliação sensorial. 3.2 Intervenção por tarefas direcionadas A abordagem da terapia era realizar tarefas em um ambiente f́ısico padroni- zado que possibilitasse a realização de movimentos variados para os MMSS. Este ambiente utilizava vantagens biomecânicas para capacitar funcional- mente o uso dos MMSS. A motivação era mantida com jogos e tarefas de acordo com a preferência da criança. Estes jogos e tarefas foram adaptados pelo terapeuta (com base nas avaliações individuais prévias) e direcionados para tratar os déficits existentes na forma de um treinamento funcional. Cada intervenção tinha uma hora de duração com a frequência de três vezes por semana, durante cinco semanas, totalizando quinze atendimen- tos. O atendimento era dividido em cinco blocos. No primeiro ocorriam os alongamentos ativos e passivos que duravam em torno de cinco minutos. No segundo, as tarefas direcionadas eram feitas no ambiente padronizado durante de vinte minutos. Após um intervalo de cinco minutos, começava o bloco com realidade virtual que tinha a duração de vinte minutos. A in- tervenção finalizava com o bloco de prática das AFs escolhidas pela criança ou por seus responsáveis, durante dez minutos. O ambiente f́ısico consistia de uma caixa de madeira colocada sobre uma mesa, uma cadeira adaptada com altura ajustável e diversos brinquedos com dificuldade, tamanhos, pesos e texturas diversos (Figura 2). A caixa de madeira possúıa dois planos principais: um horizontal e um vertical. O plano horizontal era dividido em ipsilateral e contra lateral, baseado na linha média da criança sentada em frente à caixa, de acordo com o MS utilizado na tarefa, quando esta era unilateral. O plano horizontal era Função do membro superior em crianças com PC e o uso de tarefas direcionadas 103 Damiano, D.L., Is addressing impairments the shortest path to improving function? Physical & Occupational therapy in Pediatrics , 28(4):327– 330, 2008. Eliasson, A.C.; Krumlinde-Sundholm, L.; Rosblad, B.; Beckung, E.; Arner, M.; Ohrvall, A.M. & Rosenbaum, P., The manual ability classification system (MACS) for children with cerebral palsy: scale development and evidence of validity and reliability. Developmental Medicine & Child Neurology , 48(7):549–554, 2006. Farias, N. & Buchalla, C.M., A classificação internacional de funcionali- dade, incapacidade e saúde da organização mundial da saúde: concei- tos, usos e perspectivas. Revista Brasileira de Epidemiologia , 8(2):187– 193, 2005. 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Função do membro superior em crianças com PC e o uso de tarefas direcionadas 105 Anexo 1: Escala Utilizada para a Avaliação da Independência Funcional Anexo 2: Escala de Satisfação com Faces 106 Schneiberg & Cosentino Notas Biográficas Sheila Schneiberg Valença Dias é graduada em Fisioterapia (Universidade Católica de Salvador, 1996), tem Mestrado em Ciências Biomédicas opção Reabilitação (Université de Montreal, Canadá, 2002) e Doutorado em Ciências da Reabilitação (McGill University, Montreal, Canadá, 2009). Atualmente realiza estágio pós-doutoral em Neurociências na Universidade Federal do Rio de Janeiro e é professora do curso de p ós-graduação em Reabilitação Neurofuncional da Faculdade Inspirar (Curitiba). Felicia Cosentino é graduada em Fisioterapia (McGill University, Montreal, Canadá, 1985) e tem Mestrado Profissional em Reabilita ção (McGill University, 2010). Atualmente atua como fisioterapeuta no Centro de Reabilitação para Crianças MacKay, Montreal, Quebéc, Canadá. Capítulo 6 Função Motora, Fadiga e Dor em Adolescentes e Adultos com Paralisia Cerebral Aline Duprat Ramos∗, Adriana Ferreira Dias, Rosane Luzia de Souza Morais, Ana Paula Santos Resumo: Neste capı́tulo investigou-se a percep ção da fadiga e da dor cotidiana em vinte adolescentes e adultos com Paralisia Cerebral (PC), idade superior a 12 anos e cognição preservada. Os instrumen- tos instrumentos utilizados foram os questionários sociodemográfico, de fadiga e de dor, Medida de Fun ção Motora Grossa (GMFM), Sis- tema de Classificação da Função Motora Grossa (GMFCS), Sistema de Classificação de Habilidade Manual (MACS), e Critério de Deam- bulação. Os dados obtidos foram relacionados com a função motora (FM). Todos os sujeitos da pesquisa relataram dor no corpo e fadiga mental ou f́ısica, porém de baixa intensidade para a maioria. Houve correlação significativa apenas entre fadiga mental e o MACS. Palavras-chave: Fadiga mental, Dor, Atividade motora, Paralisia cerebral. Abstract: This chapter investigated the daily fatigue and pain per- ception in twenty adolescents and adults with Cerebral Palsy (CP), with age 12 and above, and with preserved cognition. The instru- ments used were: Sociodemographic, fatigue and pain questionnai- res, Gross Motor Function Measure (GMFM), Gross Motor Func- tion Classification System (GMFCS), Manual Ability Classification System (MACS), and the Ambulation Criteria. Acquired data were correlated with the motor function (MF). All the individuals re- ported body pain as well as mental or physical fatigue, however of low intensity, for most of them. We found a positive correlation between mental fatigue and manual motor function. Keywords: Mental fatigue, Pain, Motor activity, Cerebral palsy. ∗Autor para contato: alineduprat@gmail.com 108 Duprat Ramos et al. 1. Introdução A Paralisia Cerebral (PC) é um grupo de perturbações permanentes no desenvolvimento do movimento e da postura, que causa limitações nas atividades funcionais, atribuı́das a distúrbios não progressivos que ocorrem no encéfalo imaturo (Rosenbaum et al., 2007). A PC é uma condição permanente e, embora a lesão neurológica possa ser estática, as sequelas musculoesqueléticas mudam significativamente ao longo da vida (Paterson, 2004). A expectativa de vida de indiv́ıduos com PC tem aumentado (Jones, 2009), e junto a isto complica ções como: deformidades ósseas (Paterson, 2004) degeneração articular (Carter & Tse, 2009), fraqueza e diminuição de força muscular (Moreau et al., 2009; Shortland, 2009) déficits de equiĺıbrio corporal (Opheim et al., 2009), fadiga (Jahnsen et al., 2003) e dor (Jahnsen et al., 2004a). As alterações musculoesqueléticas, como a fadiga e a dor, contribuem para a deterioração da função motora de indiv́ıduos com PC e a marcha é a mais estudada (Jahnsen et al., 2004b; Moreau et al., 2008; Opheim et al., 2009; Maanum et al., 2010). Opheim et al. (2009) analisaram a marcha, a dor e a fadiga de 226 adultos com PC num peŕıodo de sete anos. Os autores observaram que a deterioração da marcha estava associada à fadiga f́ısica e a relatos de aumento da frequência, da intensidade e do número de regiões do corpo com dor, além de um alto impacto causado pela dor nas atividades de vida diária. Segundo Jahnsen et al. (2004b), em um estudo com 406 adultos com PC, a fadiga e a dor influenciaam na deteriora ção da marcha. Embora estudos descritivos indiquem uma associação entre a fadiga, a dor e a função, apenas Moreau et al. (2008) investigaram a relação entre a função motora grossa e a fadiga em indiv́ıduos adultos com PC. Estes auto- res estudaram a fadiga muscular induzida por um protocolo de atividades f́ısicas realizado em um ambiente controlado com o uso de um dinamômetro isocinético. Como conclusão, observaram que a fadiga muscular mensurada poderia ou não estar relacionada a um relato subjetivo do sintoma. Deve-se considerar que as demandas fisioĺogicas requeridas para a deambulação e a realização de atividades de vida diária podem aumentar a percepção de es- forço, pois ocorre maior geração de força muscular associada e contribuição do sistema cardiorrespiratório. Embora a literatura (Andersson & Mattsson, 2001; Jahnsen et al., 2003, 2004a,b; Moreau et al., 2008; Jones, 2009; Opheim et al., 2009) reporte a presença
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