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Aulas de família antonio lago 2018 1

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Aula 01 – 02/04/2018
Noções Introdutórias
Atualmente não existe apenas um conceito de família, de maneira que o objeto de estudo desta disciplina são, justamente, os diferentes arranjos familiares.
Breve evolução histórica da Família
Em geral, historicamente, a família está ligada a ideia de sexualidade humana e proteção. Entre os seres vivos existentes talvez aquele que mais careça de dispêndio de tempo para proteção e desenvolvimento seja a espécie humana – um bebê humano. Não deixa a família, contudo, de estar, desde o início, relacionada às alianças interpessoais, ao modo como as pessoas se organizam, sendo a organização familiar, em seus primórdios, o nascedouro da sociedade.
Estes ideais de a família se formar por amor e romance compõem uma noção contemporânea. As famílias foram surgindo a partir da ideia de saciar necessidades, de privilegiar interesses.
O modelo básico inicial para entender o modelo familiar secular brasileiro é o modelo romano de família, tendo em vista que o Direito que se aplica na sociedade brasileira é oriundo do direito lusitano, inspirado no modelo romano de família vigente na Roma Antiga.
Curioso observar que aspectos que enxergamos hoje como atuais já estavam presentes deste a Roma antiga.
A ideia germinal de família na Roma era centrada no PATER-FAMÍLIA: A FAMÍLIA PATRIARCAL. O pai de família tinha o poder sobre aqueles que estavam sob seu julgo – os ALIENI IURIS – que eram considerados incapazes. O sujeito capaz é SUI IURIS, é o pater-família ou aquele que foi emancipado pelo pai. Inclusive, poderia acontecer de um filho do patriarca, homem, casar com uma mulher e continuar sendo considerado incapaz, por não ser capaz, por ainda não ser sui iuris. O SUI IURIS tinha o poder até mesmo de definir a vida ou a morte daqueles que estavam sob seu julgo. As mulheres que se casavam estavam submetidas aos seus maridos ou eventualmente aos pais de seus maridos. Saíam do julgo do pai passando para o marido ou para o do pai do marido. 
À relação marital em que a mulher não estivesse sob o julgo de seu marido, estando submetida ao poder de seu pai ou de seu sogro, é atribuída o nome SINE MAXNU.
Obviamente, a mulher estava sempre submetida ao homem. Inferiorizada em poder e capacidade.
No Direito Romano havia três formas de casamento:
- Confarreatio: aquele no qual havia CELEBRAÇÃO COM TRAÇOS RELIGIOSOS, embora não houvesse a relação intrínseca do casamento com a igreja católica.
- Coemptio: casamento no qual o marido “comprava” a mulher; havia TROCA DE DINHEIRO para fins de celebração de casamento;
- Usus: o marido tomava “posse” da mulher e passava a ter com ela vida conjugal como se marido e mulher fosse. Aproxima-se da “posse do estado de casado” que está em desuso por causa do reconhecimento da união estável. 
A família no direito Romano era casamentária. Formava-se a família a partir do casamento.
No Direito Brasileiro atual, o divórcio é uma figura recente, reconhecida a cerca de 40 anos. No direito romano, entretanto, já existia a possibilidade de divórcio, ainda que fosse atendendo a certos requisitos, como por exemplo, a exigência de que, entre um casamento e outro, passasse pelo menos 10 meses, a fim de se evitar a TURBATIO SANGUINIS – ou seja, evitar que a mulher se casasse com outro homem, sob a suspeita de que o filho que carregasse no ventre fosse do marido do casamento anterior. E MAIS! Ainda há resquícios da turbatio sanguinis no atual código civil, em que se RECOMENDA a mulher divorciada e grávida que aguarde o nascimento do filho para só então casar-se novamente, ainda que nos dias de hoje já exista exame de DNA.
Um ponto principal a respeito do casamento no Direito Romano, a partir da mescla de elementos do direito romano com os elementos do direito canônico (que se dá com Constantino), é a SACRALIZAÇÃO do casamento. Passa o matrimônio a ter a ideia de ser sagrado e começa a ter uma queda desta ideia com a Rev. Francesa (em 1792), com a edição de uma lei que permitia o divórcio, baseado no sentimento de LIBERDADE e que se consolidou posteriormente no código de Napoleão, em 1804 – a “lei do divórcio”.
A função da família – germinada com a Rev. Francesa, pela influência do liberalismo e da preocupação com a liberdade – passa a ser a PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO. A finalidade de PROCRIAÇÃO, não mais ligada diretamente à perpetuação da espécie por si só, mas a fim de continuar fazendo surgir novos indivíduos que alimentem a sociedade e ofereça mão de obra.
A família brasileira em 1916 estava inserida numa sociedade rural, vivendo momento de desconfiança em relação às vitórias pós-revoluções conquistadas na Europa e nos EUA com a revolução industrial e surgimento do capitalismo, e apesar de já ter se passado mais de 100 anos após o código de Napoleão, o CC brasileiro de 1916 era muito similar à este – às vezes, inclusive, sendo até mais retrógrado que o próprio código de Napoleão, que admitia divórcio, embora o CC-1916 não o reconhecesse, impondo a existência do DESQUITE. Dessa maneira, o CC-1916 já nasce velho, consagrando valores da rev. Francesa, CONSERVADOR, que buscava proteger o patrimônio – tendo sido feito, pois, para os burgueses. 
LEMBRE-SE! O DESQUITE dissolve A SOCIEDADE CONJUGAL – não se fala mais em partilha de bens dali para frente, quando foi decretada a separação de corpus, remanescendo o VÍNCULO CONJUGAL, de maneira que não mais poderia se casar. Por outro lado, o divórcio, admitido a partir da Lei 6.015/77, dissolve o vínculo conjugal, podendo a pessoa divorciada poder casar-se novamente com o reconhecimento jurídico.
O CC-1916 perdurou por muito tempo, mas sofreu ao longo de sua vigência, muitos baques, tendo sido o primeiro ocorrido com um decreto lei em 1946, a respeito dos filhos ilegítimos, que apesar de continuar sendo considerado ilegítimo, passou a ter reconhecido os direitos comuns aos filhos “legítimos”.
Objeto de estudo do direito de família: A (s) Família (s)
Radiografia da família contemporânea
A família do CC-1916 era matrimonializada, calcada na ideia da hierarquia, patriarcal, tendo o pai o PÁTRIO PODER (que atualmente se chama poder familiar). A mulher estava sob o julgo do marido e tinha que pedir autorização ao marido para trabalhar, pois não podia compor patrimônio próprio.
A união era necessariamente HETEROSSEXUAL E HETERONORMATIVA.
As regras de direito tinham a finalidade de proteger o matrimônio, sendo o regime de casamento o de comunhão universal dos bens.
A família casamentária tinha um fim em si mesmo, era institucionalizada; sua finalidade precípua era proteger a instituição do casamento, que era indissolúvel. A família existia por si própria, instituição que deveria ser valorizada em si mesma, independentemente da felicidade dos membros desta família.
Formava-se a família a partir do casamento ou nascendo nela, a partir do vínculo conjugal anteriormente firmado com um casamento.
Aula 02 – 04/04/2018
A visão civil-constitucional da família como instrumento de tutela da pessoa humana
A CF reconhece a família que nasce do CASAMENTO entre homem e mulher, da UNIÃO ESTÁVEL e a MONOPARENTAL. É o que se vê no art. 226 da CF:
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
Os modelos de família presentes na CF são exemplificativos, não têm o condão de esgotar os modelos de família – não são taxativos. Como maneira de demonstrar este CARÁTER PLURALISTA das famílias na constituição, cita-se a recente ADI que reconheceu que, muito embora a constituição EXPRESSAMENTE fale em união estável entre homem e mulher, valendo-se do princípio da dignidade da pessoa humana, é possível ANALOGICAMENTE reconhecer a união estável entre pessoas domesmo sexo.
Atualmente não há na Família proeminência de um membro da família sobre o outro, de maneira que não é mais a família HIERÁRQUICA como outrora foi, mas sim DEMOCRÁTICA. 
O PODER DIRETIVO dos pais sobre os filhos não desvia a relação de igualdade que se estabelece entre os familiares, o que implica dizer que a família não é mais também PATRIARCAL – e sim, IGUALITÁRIA. Impõe o art. 226 da CF, neste sentido:
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
Ademais, a família não é mais HETERONORMATIVA, tendo em vista que atualmente já se reconhece juridicamente o direito dos homossexuais de casar-se. Assim, a família hoje ou é HETEROAFETIVA ou é HOMOAFETIVA.
A família perde seu caráter INSTITUCIONALIZADO e passa a ter caráter INSTRUMENTAL, o que implica dizer que as normas que regem a família não podem salvaguardar um determinado valor, em nome da instituição, em detrimento de algum membro familiar. Era o caso do filho “ilegítimo” que não podia pleitear seus direitos enquanto filho, para não “perturbar” a paz da Família “legítima”, deixando de resguardar os direitos deste filho, as normas de direito de família. Assim, nos dias atuais a Família tem como finalidade proteger a felicidade de seus membros, manter sua dignidade, integridade, igualdade, salvaguardar seus direitos, etc.
Atualmente é reconhecido como laço de parentesco que faz surgir a família tanto o BIOLÓGICO quanto o SOCIOAFETIVO.
A pluralidade da formação familiar
Estes modelos citados são tratados no CC e em lei esparsas, como o ECA.
Família Matrimonial
Consagrada no CC-1916, caracterizada pela união entre homem e mulher, de caráter indissolúvel. 
Ligada à ideia da proteção patrimonial. Quem “dava nome à família” era o cônjuge varão, de maneira que a mulher era OBRIGADA a adotar o nome dele. 
A família era patriarcal e o regime era de comunhão universal de bens.
A partir da Lei 6.015/77 prever-se a possibilidade de divórcio, tornando facultativo à mulher adotar o patronímico do marido e o regime legal de divisão de bens passa a ser o parcial, muito embora tenha sido somente com a CF-88 que todas estas mudanças tenham se tornado relevantes.
Aula 3 – 09/04/2018
Família Informal
É aquela que, no contexto do CC-1916, surgia de RELAÇÃO CONCUBINÁRIA e que, se porventura gerasse filhos, estes seriam ilegítimos. NÃO POSSUÍA STATUS DE FORMAÇÃO FAMILIAR, NEM TAMPOUCO GARANTIA DIREITOS AOS SEUS MEMBROS.
Podia acontecer, eventualmente, de os juízes aplicarem analogicamente, com o fito de realizar a justiça, o entendimento de sociedade de fato (de direito empresarial) ao âmbito familiar, compondo a SOCIEDADE FAMILIAR DE FATO – assim, A FIM DE GARANTIR A DIVISÃO PATRIMONIAL, entendia-se que, muito embora não houvesse constituída família, havia constituída SOCIEDADE ENTRE OS CONCUBINOS.
Esse reconhecimento da sociedade familiar de fato era muito comum na situação da mulher desquitada que constituía nova relação, muito embora continuasse com o vínculo conjugal intacto. 
A CF-88 integra todas as relações concubinárias ao direito de família, passando a proteger estes modelos familiares. A partir do CC-2002, no entanto, é que passa a ser assegurado o DIREITO SUCESSÓRIO, embora já estivesse garantido anteriormente o direito de acrescer aos seus membros “o nome” (o patronímico do marido/pai) e a questão da pensão – direitos de base familiar. 
Impende anotar que existiam duas espécies distintas de relação concubinária: a IMPURA e a PURA.
Concubinato impuro era aquele em que as pessoas eram desquitadas, não tinham mais constituída de fato a relação conjugal, mas não podiam casar-se novamente, por um mero impedimento formal – o fato de terem o vínculo conjugal mantido, embora a sociedade conjugal estivesse desfeita.
E o concubinato puro? Aquele que nascia efetivamente do adultério?
Em 1996 passou a viger lei que reconhecia a união estável. O CC-2002 equiparou, então, em muitos de seus dispositivos o tratamento dispensado a união estável e ao casamento formal.
A doutrina aponta que há certo desserviço entre fazer a comparação entre união estável e casamento, sob o forte argumento de que quem convive em união estável não quer todo o peso e formalidade do casamento, como por exemplo, obrigatoriamente ter o dever de coabitação e fidelidade. Há doutrinador que debocha dizendo que a união estável ficou formalmente tão parecida com o casamento que passou a ser um “casamento por usucapião”. No entanto, há nuances que diferenciam também a união estável do casamento, em alguns momentos sendo até discriminatórias, como o foi na hora em que se estabeleceu o direito sucessório: deu-se tratamento diferenciado na cota sucessória hereditária para o companheiro sobrevivente e o cônjuge sobrevivente, tendo este último maior cota. O STF, adotando a interpretação conforme, apesar de não reduzir o texto do CC, passou a entender que este artigo diferenciador do CC é inconstitucional. 
Família monoparental 
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
Como o nome sugere, este tipo de família é aquela que resulta da convivência entre um dos pais e sua prole, TENDO SOMENTE ESTE PAI OU ESTA MÃE RESPONSABILIDADE (PODER FAMILIAR) EM RELAÇÃO AO FILHO. 
Atualmente isto é possível em face da inseminação artificial (produção independente), da barriga de aluguel, do desfazimento do casamento ou da união estável, do falecimento de um cônjuge ou companheiro, etc. 
Diferencia-se a família monoparental do LUGAR MONOPARENTAL. 
Na guarda compartilhada se fala em lugar monoparental e não em família monoparental.
Na guarda unilateral há família monoparental. 
O lugar monoparental se refere à questão transitória: estando a criança com o pai em determinado momento, tem este lugar monoparental. E ao estar com a mãe, em outro momento, haverá com esta outro lugar monoparental. 
O CC-2002 não traz nenhum dispositivo que trate da família monoparental, muito embora esta seja a realidade de 1/3 das famílias brasileiras.
Família parental ou anaparental
A família parental é o vínculo familiar, estabelecido entre pessoas que sejam parentes ou não, não havendo entre elas nenhum vínculo direto de ascendência. Assim, não se considera o vínculo entre pais ou mães. Pense em dois irmãos.
São requisitos que juntos desembocam na família parental:
NÃO HÁ O ELEMENTO SEXUAL (função reprodutora, de proteção patrimonial);
HÁ O VÍNCULO AFETIVO;
AUSÊNCIA DE PAIS – NÃO ESTÁ PRESENTE ASCENDÊNCIA MATERNA OU PATERNA;
Não há dúvidas que a lei da impenhoralibilidade dos bens de família alcança este tipo familiar.
É possível que pessoas que sem ser parentes, mas que vivem como se família fossem, possam formar a família anaparental, desde que realmente haja o vínculo afetivo.
Dentro do pressuposto da ausência de ascendência DIRETA, pondera-se a família formada entre o neto e o avô ou avó, ou entre mãe e filho solteiro maior de idade. Para saber se está formada ou não formalmente esta espécie familiar, se tem que observar a questão do PODER FAMILIAR. Se entre esse avô e seu neto, por exemplo, há exercício do poder familiar (ao avô foi dada a guarda do neto), considera-se existente ascendência, de maneira que não se formará família anaparental.
O problema deste tipo familiar é que não está assegurado por lei.
O termo parental não é unívoco. Há quem entenda que família conjugal é diferente de família parental, a qual seria NECESSARIAMENTE resultante de duas pessoas do sexo oposto que sem relação sexual ou afetiva decidem por inseminação artificial ter um filho, sem que vivam juntos. Tendo em vista esta definição, família parental não seria sinônima de família anaparental.
Família mosaico, composta ou pluriparental
Esta espécie familiar é a DECORRENTE DA UNIÃO DE DOIS NÚCLEOS FAMILIARES QUE TIVERAM SUAS FAMÍLIAS INICIAIS DESFEITAS por qualquer motivo (divórcio, morte de cônjuge ou companheiro, etc).
Diz-se família “mosaico” porque há pessoas adotandodiferentes funções, inclusive, havendo sobreposição de funções. Ex: o padrasto que assume o papel de pai; o “meio-irmão”; os filhos e enteados.
O CC não traz nenhum dispositivo que aborde este tipo familiar.
Para não dizer que a legislação nada diz, o art. 41 do ECA permite a adoção unilateral de uma criança pelo padrasto ou madrasta, desde que a mãe ou o pai biológico permita. Neste caso, a criança passa a estar inserida como filho daquele que deixa de ser seu padrasto e passa a ser seu pai, tendo a criança perdido definitivamente o vínculo de filiação com o pai ou mãe biológico, com exceção do que se refere ao impedimento de relação matrimonial com o pai ou mãe biológico. 
Há a situação de não ter havido adoção pelo padrasto ou madrasta, mas o juiz reconhecer DEVER DE ALIMENTO do padrasto em relação ao enteado – PATERNIDADE ALIMENTAR – em que o padrasto será “pai” pelo menos nesse efeito. 
Ademais, enteado é sempre enteado para fins jurídicos, a fim de evitar relações matrimoniais – cunho moral.
No art. 57 da lei 6.015, prever-se a possibilidade de o enteado acrescentar aos seus filhos o patronímico de seu padrasto ou madrasta, desde que seu pai ou mãe biológicos o permitam.
As características essenciais destas famílias são:
Multiplicidade de vínculos;
Ambiguidade de funções – ao mesmo tempo quem se é pai de uma criança, é padrasto de outra;
FORTE GRAU DE INTERDEPENDÊNCIA entre os dois núcleos familiares;
Família homoafetiva
Em 2011 foi decidido por ativismo judicial, com norma de efeito vinculante, por ter sido decidida em sede de ADIN e ADPF, que seria possível a união estável entre pessoas do mesmo sexo, independente da existência de filhos, compondo formalmente, assim, a família homoafetiva.
Tratou-se a união homoafetiva como se união estável fosse, mas que distinta dela é. 
Em 2013 foi atribuída aos cartórios A OBRIGAÇÃO DE ACEITAR OS TRÂMITES da conversão da união homoafetiva cujo tratamento legal dispensado é equiparado à união estável, em casamento, uma vez que se, se se deve tratar a união homoafetiva como se união estável fosse, e há a previsão de converter união estável em casamento, deve haver esta possibilidade de conversão também para as relações homoafetivas.
Atualmente, então, a família homoafetiva que tem tratamento normativo equiparado à união estável, pode ser convertida em casamento ou pode surgir diretamente do casamento civil, tendo em vista a Resolução 175/2013 do CNJ.
Aula 04 – 11/04/2018 
Família Natural – Art. 25, caput, do ECA.
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes.
Este nome “dá a ideia” de que estaria esta espécie de família ligada aos laços de sangue (biológica), o que não se confirma. 
A família natural é a COMUNIDADE FORMADA PELOS PAIS OU QUALQUER DELES E A SUA PROLE. Logo, evidentemente, ainda que não haja laços de sangue, se terá família natural, desde que estejam presentes pais e filhos e para ser pai ou mãe de uma criança, o que é necessário é o laço afetivo. Assim, o filho adotivo inserido em família substituta compõe também uma família natural. 
Observe que as classificações de família não excluem uma a outra. Assim, a família natural pode ser também monoparental, por exemplo, quando formada por um dos pais e sua prole.
O art. 227 da CF relata, especificamente, a respeito da convivência familiar e comunitária. O filho tem direito a convivência familiar, independentemente de qual seja o tipo de família.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O art. 19 do ECA reproduz este direito da criança e do adolescente à convivência familiar e comunitária.
Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral.
Família Extensa
À criança que eventualmente for colocada em adoção (família substituta) deve se dar preferência à família extensa – PARENTES QUE CONVIVAM COM O MENOR E QUE TENHAM COM ESTE VÍNCULO DE AFINIDADE E AFETIVIDADE. Ex.: Irmãos mais velhos ou emancipados, tios, tias, primos, etc.
Aproxima-se da ideia de família anaparental, uma vez que há afeto, não há ascendência nem relação sexual, mas a finalidade conceitual de existir essa espécie familiar tem importância maior no contexto da adoção.
A família substituta é a que adota a criança ou o adolescente. Pode ser composta por membros adotantes que não tenham relação prévia alguma com o menor, os quais se inscreveram na lista de cadastro para adoção, ou, preferencialmente, por membros da família extensa da criança ou do adolescente, que em que pese não estarem inscritos na lista de adoção, podem acabar efetivamente adotando, seguindo, no entanto, o mesmo trâmite/rito legal que aqueles que se inscreveram na lista de adoção.
Conclui-se: Família Substituta e Família Extensa são conceitos diversos, mas que se relacionam. A família extensa pode ser uma família substituta.
Família Substituta
É, em última instância, aquela que se habilita, se cadastra para fins de adoção, seja a família de que modelo for – inclusive a homoafetiva.
NÃO HÁ FORMALMENTE UMA PREFERÊNCIA DE UM MODELO DE FAMÍLIA EM RELAÇÃO A OUTRO NA FILA DE ADOÇÃO, mas para a escolha da família substituta se leva em consideração os direitos que são assegurados a cada tipo de família. Assim, por exemplo, dar-se preferência às famílias casamentárias, às famílias monoparentais, às famílias que se formam com união estável, às famílias mosaico e às famílias homoafetivas porque estas têm, na lei, previsão e proteção de todos e mesmos direitos.
Família Eudemonista
É um conceito de família: seria o núcleo familiar que é propício ao desenvolvimento e felicidade de seus membros; aquela que PROTEGE A DIGNIDADE DO HOMEM, desde o primeiro momento de sua interação social – na família. 
A família deve ter a VOCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO PESSOAL E PARA A FELICIDADE de seus membros.
Não se enxerga a Família como instrumento de proteção patrimonial. 
Conceito contemporâneo de Família
A Constituição, em seu art. 226, não traz nenhum conceito de família, apenas exemplifica o que é família.
O núcleo essencial do conceito de Família segundo o que se extrai da Doutrina é a AFETIVIDADE.
Augusto César Bellucio
“Direito das famílias é um conjunto de normas jurídicas que regulariza as múltiplas relações familiares”.
Nelson Rosenvald e Christiano Chaves
“Conjunto de normas-princípios e normas-regras que regulam as relações decorrentes do vínculo afetivo, mesmo sem casamento, tendentes a formação da personalidade humana, através de efeitos patrimoniais, assistenciais e pessoais”. 
A família também envolve aspectos sociais e morais formando um caráter ASSISTENCIAL da Família – como o idoso deve ser tratado, como as pessoas com deficiência devem ser tratadas, como a criança deve ser tratada, etc.
Aula 05 – 16/04/2018
Fontes do Direito de Família
	1ª) Constituição Federal; 
	2ª) Código Civil;
	3ª) Leis esparsas
Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha – no que toca à violência nas relações domésticas; 
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente; 
Lei 6.515/77 – Lei do divórcio e EC 66/2010;
Lei 8.560/1992 – Lei de Investigação de Paternidade;
Lei 10.741/2003 – Estatuto do Idoso;
Lei de Adoção; 
 Lei 12.318 – Lei da Alienação Parental;
Natureza e características das normas de direito de família
Embora tenha sido controvertido ao longo dos anos, o direito de família é do ramo do direito privado, composto de normas cogentes.
Qualquer ato que invada o âmbito do direito público (normas cogentes) será inválido,geralmente nulo.
Na maior parte das vezes se aplica o efeito típico da revelia, mas se envolver interesses de ordem pública e aspectos humanistas e assistencialistas seu efeito será relativizado, como seria a ação que tratasse de destituição do poder familiar, investigação de paternidade, etc – art. 345, II, CPC, haja vista ser o direito existencial indisponível; direito personalíssimo.
No tocante aos direitos existenciais/típicos do direito de família, os poderes instruntórios do juiz são mais amplos, não estando este tão preso aos pedidos da parte – o juiz poderá atuar mesmo à revelia do pedido da parte, haja vista tratar de situação existencial e de ordem pública. Ex: em investigação de paternidade, não se ter pedido realização de perícia; em ação de divórcio e visitas, decidir de pronto, também, alimentos.
Aula 06 – 18/04/2018
Princípios que são aplicados ao Direito de família
Muitos destes princípios estão garantidos na CF.
Genéricos:
Dignidade da pessoa humana
Não é possível que o ordenamento jurídico esgote em si mesmo e não consiga enxergar que o objetivo de toda a ordem jurídica é o próprio homem. Assim, o homem não pode ser meio para um fim, deve ser fim em si mesmo. Não pode servir como instrumento para realização de interesses outros, sendo O HOMEM O VALOR SUPREMO DO DIREITO e sendo a dignidade expressão deste valor. 
Dentro das classificações de família, este princípio está relacionado intrinsecamente à Família Eudemonista. 
Deixa-se para trás o entendimento da proteção da família como um instituto em si mesmo, pelo qual, na realidade, se defendia o patrimônio, e se passa a proteger o homem, salvaguardando seus direitos e sua dignidade, seu desenvolvimento pessoal e sua felicidade. 
*Recomenda-se a leitura de INGO WOLFGANG SARLET a respeito deste princípio. 
	2. Princípio da Igualdade
Não se realiza o princípio da igualdade se não se tratar os diferentes na medida de sua desigualdade.
A igualdade não pode ser apenas formal/legal – perante a lei. É preciso que a própria lei faça a distinção naquilo que for importante a fim de garantir a igualdade: dar o tratamento diferenciado a quem se encontra em situação diferenciada (igualdade material). É necessário que a própria lei eleja elementos de DISCRIMINEN para ser ela mesma instrumento de realização da igualdade.
Em relação à aplicação da igualdade no seio familiar, temos:
- Art. 226, §5º, CF – igualdade entre os cônjuges
§5º – Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
Homem e mulher devem ter o mesmo tratamento e os mesmos direitos e deveres na relação conjugal.
- Art. 227, §6º – igualdade na filiação
§6º – Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
Filho fora do casamento ser considerado filho indistinto em relação ao filho fruto do casamento, bem como o adotivo. Todos os filhos são legítimos, tendo os mesmos direitos. 
- Art. 226, §7º
§7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.
É permitido AO CASAL e é uma decisão do casal o planejamento familiar. 
O planejamento familiar é LIVRE, não pode ser determinado em lei quantos filhos ou a forma como se terá filhos. É decisão do CASAL, o que também implica dizer que o desígnio familiar é de decisão tanto do homem como da mulher – em verdade, dos cônjuges ou companheiros, INDEPENDENTEMENTE DE GÊNERO. Não é nem o homem, nem a mulher quem determina. É uma decisão conjunta.
*Relacionado ao princípio da paternidade responsável e da dignidade da pessoa humana.
- Art. 1.567 do CC
Art. 1.567. A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos.
Deixa para trás a ideia do PÁTRIO PODER – de ser o pai quem toma decisões em relação a filiação.
Atualmente se fala em PODER FAMILIAR, em que todas as decisões em relação aos filhos e também ao patrimônio familiar devem ser resolvidas por decisão conjunta.
- Art. 1631 e 1690 do CC
Art. 1.631. Durante o casamento e a união estável, compete o poder familiar aos pais; na falta ou impedimento de um deles, o outro o exercerá com exclusividade.
Art. 1.690 – Compete aos pais, e na falta de um deles ao outro, com exclusividade, representar os filhos menores de dezesseis anos, bem como assisti-los até completarem a maioridade ou serem emancipados.
Parágrafo único. Os pais devem decidir em comum as questões relativas aos filhos e a seus bens; havendo divergência, poderá qualquer deles recorrer ao juiz para a solução necessária.
Só se admite o poder familiar sendo exercido EXCLUSIVAMENTE por um dos pais na hipótese de impossibilidade do outro exercer este poder. É diferente da situação de guarda compartilhada, alternada ou unilateral.
Em relação ao patrimônio, a decisão também deve ser conjunta. 
Quem tem o poder, por excelência, de emancipar? Os pais em conjunto. O juiz só supre esse poder em casos excepcionais. 
Princípio da Liberdade
Uma das grandes preocupações do Direito é assegurar o uso da liberdade. Não existe uma liberdade plena ou absoluta, o que há são espaços regulados, levando em consideração as desigualdades, de maneira que é muito difícil dissociar liberdade de igualdade.
A CF instaura entre nós o regime democrático e na família este modelo também é adotado. 
Os filhos devem ter ampla liberdade; no ECA se vê esta liberdade demonstrada pelo valor que se dá a palavra do menor de 12 anos quando este pode deliberar se quer ou não ser adotado por aquela família substituta.
Ademais, vê-se esta liberdade também quando os cônjuges podem decidir qual será o regime de casamento, podendo, inclusive, alterar este regime durante o casamento. Ou mesmo, a liberdade de poder divorciar-se, independentemente de condição temporal (prazo).
No passado havia uma maior ingerência do Estado na relação familiar. Atualmente, contudo, as relações familiares são geridas com maior liberdade.
Específicos:
Solidarismo ou Solidariedade Familiar 
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
É por meio deste princípio que se enxerga o já citado caráter assistencial da Família.
Ex: dever de assistir aos idosos e às pessoas com deficiência.
Ex: art. 1.511, o casamento estabelece a comunhão de vidas (mútua assistência).
Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.
Ex: art. 1.694, a possibilidade de assistência genérica alimentar entre os parentes, companheiros e cônjuges. 
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.
Princípio da diversidade familiar
Está implicitamente previsto na CF no art. 226, a partir dos modelos de família reconhecidos pela Magna Carta, §§1º ao 4º.
Esta previsão de modelo de famílias são apenas exemplificativos, havendo a possibilidade de existirem diversos outros tipos de família além daquelas postas na CF.
Aula 07 – 23/04/2018
Princípio da proteção integral das crianças, adolescentes e idosos
Vem consagrado, de alguma forma, quando se determina que nenhum filho pode ser discriminado, independente da filiação.
Está também determinado no teor do art. 227 da CF, ao se determinar quea criança e o adolescente devem ser prioridade absoluta do Estado e que devem ter assegurados a elas, pelo Estado e pela sociedade civil, o direito a convivência familiar e comunitária: o jovem tem direito a uma convivência familiar sadia que possibilite a formação de sua personalidade. 
Durante a infância a criança vive situação de vulnerabilidade, sendo justamente esta a razão jurídica pela qual seu tratamento é diferenciado.
O ECA regulamenta os direitos e princípios que devem nortear a criança, sendo os principiais o da paternidade responsável, o da proteção integral da criança e defesa do melhor interesse da criança. 
Num primeiro momento, atribui-se aos pais e à família a ASSISTÊNCIA do menor – não apenas financeiramente, mas também o DEVER DE ASSISTÊNCIA MORAL, PSÍQUICA, EDUCACIONAL. Refere-se, pois, a um DEVER ASSISTENCIAL da família para com as crianças e adolescentes.
No segundo momento, atribui-se este mesmo dever assistencial ao Estado, notadamente na busca da proteção integral da criança e de seu melhor interesse, procurando sempre garantir à criança o convívio na família natural e que seja este convívio sadio. Em última instância, sua colocação em família substituta, quando esta for a opção que restar para atender o melhor interesse da criança.
No que se refere aos Idosos, também se atribui, a partir do art. 230 da CF, à família, o dever de assisti-los, tendo em vista sua situação de vulnerabilidade.
O Estatuto do Idoso reconhece como Idoso o maior de 60 anos de idade. A partir de 65 anos, a preocupação é mais específica e rígida, tratando-se com maior higidez e assegurando direitos exclusivos a esta faixa etária.
Princípio da vedação ao retrocesso social
Direitos que foram uma vez assegurados não podem ser futuramente retirados pelo Estado.
É princípio possível de ser alegado diante das relações dentro do direito de família.
Princípio da autonomia familiar = princípio da intervenção mínima
Está relacionado ao livre planejamento familiar. O ESTADO NÃO DEVE INTERVIR NAS RELAÇÕES FAMILIARES, a não ser que sua intervenção tenha o objetivo de aplicar políticas públicas que visem educar ou coletar dados para elaborar perfis da família brasileira.
Não estará autorizado, no entanto (e, por exemplo) a intervir na família a fim determinar que mulheres façam laqueadura ou até definir a quantidade de filhos que uma família possa ter.
No âmbito de família há espaço para AUTODETERMINAÇÃO, primeiramente, na escolha do regime de bens. No direito de família, sem dúvida, há, no que diz respeito ao regime de bens aplicado aos consortes, companheiros, conviventes, cônjuges a possibilidade de escolher o regime do casamento e, durante a constância do casamento, poder inclusive alterar este regime inicialmente definido. 
Esta autodeterminação existiria apenas no tocante à questão patrimonial, na escolha do regime de bens ou se estenderia para possível renúncia de certos deveres entre os cônjuges/companheiros (como o dever de conviver, de monogamia, de fidelidade...)?
Atualmente se reconhece a possibilidade de os cônjuges/companheiros poderem estabelecer regras a fim de regular como seria a relação existencial. 
Princípio da Afetividade
As relações familiares NÃO se assentam em critérios exclusivamente biológicos, mas também sócio-afetivos. Quando se fala deste princípio na relação familiar não se dá apenas na relação entre pais e filhos (filiação), mas entre todos os membros da família.
Alguns autores, como Maria Berenice Dias, sustentam que o este princípio decorre necessariamente do princípio da dignidade, tendo, portanto, valor jurídico, podendo dele ser exigido deveres e direitos, gerando a possibilidade de se exigir juridicamente, inclusive, o afeto. 
Será que efetivamente a afetividade é um principio? Porque se princípio for, o raciocínio acima estaria correto. Mas será que é realmente possível exigir de alguém afeto? Ou seria o afeto condizente apenas com a espontaneidade?
Afeto seria fato, circunstância, sentimento, mas não princípio? Seria, no máximo, um postulado?
Qual a relação desta afetividade com o abandono afetivo do pai ou da mãe? Seria, então, a afetividade um dever?
Será que este dever de PRESENÇA do pai ou da mãe em relação ao filho não pode ser juridicamente e suficientemente suprido diante do cumprimento do dever de assistência, uma vez que o dever assistencial é moral, social, psíquico, para além de financeiro? 
Mas e quando o filho ou filha passa a ser maior de idade, como seria suprida esta necessária afetividade? Nesse caso, não cabe mais falar em dever de assistência, porque este se encerra com a maioridade. 
Princípio da Monogamia
Depois de casado, durante a constância de seu casamento, o sujeito não pode casar de novo (crime de bigamia) nem tampouco trair; tem o dever de fidelidade. Atualmente, entretanto, não cabe responsabilidade criminal para o adultério.
A cultura ocidental dominante é uma cultura monogâmica. 
Em tese, também cabe este dever de ser monogâmico nas uniões estáveis.
O problema reside na obrigação de ser monogâmico para os demais modelos de família, que são menos formais que o casamento e a união estável. Atualmente, na verdade, até se questiona este dever na união estável, considerando que esta é menos formal que o casamento, mas que teve pelo CC seu tratamento em muito (e equivocadamente) equiparado ao casamento.
Será que na união estável caberia relação de poliamor ou a formação de famílias paralelas? Ou então, seria cabível ter envolvimentos eventuais com outras pessoas, durante um relacionamento (“casamento aberto”)? 
Aula 08 – 25/04/2018
CASAMENTO
O casamento no Brasil está relacionado a questões religiosas.
Retomando o ano de 1837, o Estado brasileiro não era laico, adotando a religião católica como oficial, até a proclamação da república, quando houve a secularização do Estado brasileiro, deixando o direito de família de ser tratado com ideais religiosos e passando a existir o CASAMENTO CIVIL (em 1890). Até antes disso, como havia uma mistura entre os interesses do Estado e da igreja, só havia o casamento religioso. 
A lei, em 1890, que instituiu o casamento civil era uma lei inútil, pois as pessoas continuavam a casar pelo casamento religioso. Então veio o CC-1916, com a ideia de que o casamento civil seria indissolúvel, embora admitisse o desquite (que desfazia a sociedade conjugal, mas não dissolvia o casamento, havia o vínculo conjugal que as unia por toda a vida). Ainda nesta época, as pessoas continuavam a casar pelo religioso.
A lei 379/1937 instituiu o CASAMENTO RELIGIOSO COM EFEITOS CIVIS. 
A lei 6.515/1977 (lei do divórcio) permitiu que o sujeito se divorciasse, seja pelo divórcio direto (período de 5 anos de separação de fato e pedido direto de divórcio), seja pelo divórcio resultante da separação judicial (conversão da separação judicial em divórcio) – a separação judicial seria “ante-sala” ao divórcio.
Todas as instituições republicanas consagraram este modelo de casamento que é o casamento civil.
A CF-88 consagrou o casamento civil. É o que dispõe seu art. 226, §§1º e 2º:
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
§1º – O casamento é civil e gratuita a celebração.
§2º – O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
O CC-2002 em seu art. 1.512, caput, reproduz o artigo constitucional acima em seu §1º.
O CC-2002 de certa forma aderiu à possibilidade de discutir a CULPA de um dos cônjuges, podendo penalizá-lo por perda da pensão alimentícia ou do nome, tendo sido a origem desta ideia de culpabilidade a lei do divórcio.
O CC-2002 regulou exaustivamente o casamento, em 110 artigos e destinou à união estável 6 artigos, muitas vezes copiando ou remetendo o intérprete ao casamento. Ademais, não regulou em nada os outros modelos de família.
O CC-2002 não conceituou o casamento; trata de estabelecer quais são os requisitos e pressupostos do casamento, bem como a questão da habilitação (o procedimento prévio necessário para aferir os requisitos), a celebraçãodo casamento, os efeitos de ordem pessoal e patrimonial. Trata do conteúdo e da finalidade e não se preocupa em estabelecer o conceito de casamento. 
Mas qual seria o conceito de casamento? Qual a natureza jurídica do casamento? O casamento integra direito público ou privado? 
Historicamente se entendia que o casamento era O ÚNICO MEIO DE CONSTITUIR FAMÍLIA (família casamentária), e como a família seria a célula-mater da sociedade, havia um interesse do Estado em regular quais os direitos e deveres que eram intrínsecos a esta relação. Por outro lado, a corrente privatista, entendia o casamento como instituto de direito privado, calcada na ideia de autonomia da vontade. Mais do que qualquer coisa, o direito de família como núcleo de desenvolvimento de proteção do indivíduo, espaço de exercício do individualismo, deve ser um espaço de liberdade. 
Atualmente há um misto entre o defendido pela teoria publicista e a teoria privatista: o casamento estaria inserido nesse universo de liberdade, de exercício do individualismo, contudo o exercício pessoal da vontade estaria submetido a certos limites determinados por lei – por normas de ordem pública, não se falando mais em autonomia da vontade, mas em AUTONOMIA PRIVADA.
Para discutir a natureza jurídica do Casamento, dentro da corrente privatista há a corrente individualista/contratualista, a institucionalista, a corrente eclética e a corrente do ato-condição. 
Contratualista, individualista ou clássica
Foi adotada pelo CC Napoleônico, no século XIX, em 1804, considerando o casamento civil como um CONTRATO cuja validade e eficácia decorreria exclusivamente da vontade das partes. Assim, para que o casamento fosse válido e gerasse seus efeitos, notadamente os patrimoniais, bastaria que as partes expressassem sua vontade de casar. 
REPISE-SE! O consentimento dos contraentes seria o elemento essencial da celebração do casamento. HAVENDO VONTADE DAS PARTES, BASTARIA PARA QUE HOUVESSE CASAMENTO VÁLIDO E EFICAZ.
Aplicar-se-ia ao casamento, todas as regras comuns aos contratos, sendo possível, inclusive, a DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO, a partir do firmamento pelas partes, em comum acordo, do DISTRATO.
Em que pese ser moderna, ao ponto de admitir a possibilidade de dissolução do casamento, dependeria esta dissolução da MÚTUA VONTADE de dissolver o matrimônio. Assim, se um cônjuge quisesse encerrar o casamento e o outro não, não seria possível realizar o distrato e dissolver a relação, que se manteria ao menos legalmente. 
Ao entender o casamento como contrato, postava-se contra a concepção do casamento religioso, ato de sacramento. 
Sinteticamente: O CASAMENTO TOMA EXISTÊNCIA COM A SIMPLES MANIFESTAÇÃO DA VONTADE, consistindo num mero contrato – instrumento através do qual se firma esta vontade.
Institucionalista ou supraindividualista
O casamento não se compunha apenas de vontade. A vontade por si só seria insuficiente para constituir o casamento, em que pese ser relevante. A essência do casamento seriam as regras dispostas pelo Estado em que se estabeleceria um conteúdo mínimo para o casamento, cabendo apenas aos interessados aderir a estas regras. Apenas o Estado é que poderia ditar as regras do casamento.
Surgida em 1865, de imponência no CC Italiano, defendia o casamento como instituição social, compondo SITUAÇÃO JURÍDICA QUE DEPENDE DA VONTADE INDIVIDUAL DOS PRETENSOS CÔNJUGES PARA NASCER, MAS QUE A PARTIR DE SEU NASCIMENTO, NÃO MAIS DEPENDE DE SUAS VONTADES, OPERANDO SEUS EFEITOS SEGUINDO A AUTORIDADE DA LEI, em consequência de ser uma Instituição.
Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves:
“Constitui um conjunto de regras impostas pelo Estado, que forma um todo ao qual as partes têm apenas a faculdade de aderir, pois uma vez dada a referida adesão (através da manifestação da vontade), a vontade dos cônjuges torna-se impotente e os efeitos da instituição produzem-se automaticamente. (...) A vontade individual é livre para fazer surgir a relação, mas não pode alterar a disciplina estatuída pela lei”.
Ato-condição
DUGUIT defende dentro da concepção sociológica que o casamento deve ser compreendido em dois momentos: o primeiro momento, de formação, em que a vontade livre, consciente, manifestada de forma inequívoca é essencial; e, em seguida a esta manifestação, um segundo momento, de chancela estatal.
Seria um ATO VOLITIVO E JURÍDICO que pressupõe como condição para seu exercício a chancela estatal.
Eclética ou Mista
O ato é um só. Não é um ato condição.
É um ato complexo/composto, resultante da fusão de dois momentos, sendo ao mesmo tempo contrato e instituição. No entanto, não se trata de qualquer contrato: é um contrato especial, suis generis, CONTRATO DE DIREITO DE FAMÍLIA, que não gira em torno somente de questões patrimoniais, pois se prende a interesses morais e pessoais. 
Afirma Silvio Rodrigues:
“O casamento assume a feição de ato complexo, de natureza institucional, que depende da manifestação livre da vontade dos nubentes, mas que se completa pela celebração, que é ato privativo de representante do Estado”.
E nessa linha segue Pontes de Miranda:
“Por meio de contrato faz-se o casamento, mas contrato de direito de família. Por outro lado, é o registro civil que em verdade lhe dá existência jurídica e os efeitos civis; e tais efeitos não são, em regra, contratuais, resultam do instituto casamento”.
O casamento em si mesmo é um ato só, mas dividido em dois momentos: o da manifestação da vontade, em que opera a autonomia privada, e o da celebração, em que se opera o cumprimento às normas de direito público impostas ao matrimônio. Sem vontade das partes não há casamento, bem como sem o cumprimento às normas cogentes.
Aula 09 – 02/05/2018 – Ausente; velório de meu avô
MODALIDADES OU ESPÉCIES DE CASAMENTO
Aula 10 – 07/05/2018 
Casamento de pessoas do mesmo sexo – união homoafetiva
O SFT deu uma INTERPRETAÇÃO CONFORME para excluir do art. 1.723 do CC qualquer interpretação que restringisse a união estável a pessoas de sexos diferentes. 
Se o STF entende que o artigo 1.723 não pode ser reduzido apenas a união entre homem e mulher, dizendo inclusive que deve-se aplicar todo o regulamento da união estável à união homoafetiva, poderia também ser aplicada a conversão da união homoafetiva em casamento. 
O STF EQUIPAROU AS NORMAS que se aplicam à união estável à união homoafetiva, e, assim, pela possibilidade de conversão, permitiu-se o casamento entre homoafetivos.
Observe que não foi a união homoafetiva equiparada à união estável. A união homoafetiva é uma “espécie” diferente de união, mas a qual se aplicam as mesmas normas da união estável.
Não se pode dizer que união homoafetiva é a igual à união estável porque a CF determinou que a união estável se daria entre homem e mulher e para alterar isto, seria necessária uma EC, que não houve. 
Apenas houve pelo STF a aplicação de uma interpretação conforme ao art. 1.723 do CC – houve mutação no sentido legal e não constitucional. 
Conversão da União Estável em Casamento – art. 226 da CF
A conversão da união estável em casamento, e, igualmente, da união homoafetiva, DAR-SE POR MEIO DE AÇÃO JUDICIAL, o que é criticável, haja vista que a CF mandou “facilitar” a conversão em casamento e a interposição de ação judicial não é trâmite que facilita nada: é mais fácil casar, simplesmente, em que pese não poder dar efeitos retroativos aos anos anteriores de comunhão de vida, ou simplesmente, pedir reconhecimento de união estável, em vez de convertê-la em casamento. 
Capacidade
A idade é relevante para a capacidade no Casamento.
A IDADE NÚBIL – idade a partir da qual os indivíduos podem casar – é de 16 anos, seja para o homem, seja para mulher. No CC-1916 havia diferença entre os sexos para a idade núbil, sendo a do homem 18 e a mulher 16. 
Para que o menor de 18 anos possa casar, tendo em vista que é possível, pois a idade núbil é de 16 anos, devem, contudo, ter a concordância dos pais. Ainda que o sujeito esteja sobre guarda unilateral do pai ou da mãe, aquele pai ou aquelaque não tem a guarda, deve anuir para a celebração do casamento. Ambos, então, devem ser ouvidos. Isso se justifica pelo poder de decisão que os pais têm pelos filhos, ainda que não detenha a guarda. 
Veja que se ambos os pais discordarem do casamento, apresentando justificativa sofrível, os nubentes podem ingressar em juízo para obter autorização judicial. Nesse caso, sabendo-se que o menor de 18 e maior de 16 precisa de alguém que represente seus interesses numa ação processual, e que legalmente este representante é o responsável por ele, sendo seu pai ou sua mãe, e eles já são contra o desejo do menor, HÁ CONFLITO DE INTERESSES. Por este motivo é que o CPC, no art. 72, I, determina a nomeação de um curador especial.
Se for apenas um dos pais quem discordar do casamento, poderá ele mesmo procurar o juiz para suprir a autorização do outro.
(...) “Divergindo os pais quanto ao exercício do poder familiar” – por exemplo, um autorizando que o menor em idade núbil casa e o outro, não.
Tudo isto discutido está exposto no art. 1550, II:
O casamento em idade núbil é uma das hipóteses de emancipação, a ocorrência do casamento. Ser o sujeito casado. Isto é diferente de ter a autorização dos pais para casar. Não basta a autorização, que é prévia ao casamento. Deve ter ocorrido o casamento efetivamente.
O art. 1.520 do CC estava conectado a dispositivo do CP que em 2005 foi revogado, sendo, portanto, a revogação uma lei nova. Como a lei no direito penal não pode retroagir para prejudicar, quem praticou tal conduta e casou “para evitar persecução penal” até 2005, continua podendo se valer dos efeitos do art. 1.520 e daqueles revogados do CP. Após 2005, contudo, uma parte da doutrina defende que o art. 1.520 perdeu sua eficácia, estando obsoleto, em que pese não ter sido retirado do CC.
Impedimentos
É diferente de não ter capacidade. Lembra, um pouco, a ideia de legitimidade. O sujeito por algum motivo está impedido de casar. Por exemplo, um pai não pode se casar com a filha, assim como o irmão não pode se casar com a irmã, nem tampouco o padrasto com a enteada. Todos estes exemplos de impedimento estão ligados a uma questão moral. 
As hipóteses aqui tratadas perpassam pelas relações de parentesco, existência de vínculo patrimonial, e de genética, que não deixam de ser também, morais. Preocupa-se precipuamente em evitar o incesto.
Aula 11 – 09/05/2018
Impedimentos Absolutos (art. 1.521)
Em relação ao inciso III, entende-se: o cônjuge de quem me adotou, se não for pai ou mãe adotivo, é padastro ou madastra. 
Em relação ao inciso IV, entende-se: o que se chama de primo carnal pode casar, não havendo impedimento nem moral nem jurídico. O impedimento é até o tio ou tia.
Em relação ao inciso IV, V e parte final do I: O inciso IV não supre a proibição de casamento entre irmãos, existindo para isso o inciso V, haja vista a necessidade de se especificar a situação do vínculo socioafetivo (adoção), pois quando uma criança é adotada ela não perde o vínculo, para fins de impedimento de casamento, com a família biológica.
O inciso I também tem a mesma implicação, por proibir o casamento entre ascendentes e descendentes sendo o vínculo natural ou civil.
Nesta discussão, para o impedimento de casamento remanesce o vínculo NATURAL entre pais e filhos, mesmo que estes últimos tenham sido adotados.
Em relação ao inciso IV: tecnicamente é hipótese de incapacidade absoluta, insuprível pelo juiz. É hipótese de nulidade. Está relacionado também ao crime de BIGAMIA, a fim de proteger o patrimônio, embora não se deixe de ver aqui, o imperativo da MONOGAMIA nas relações familiares. Caráter monogâmico este, inclusive, que atualmente vem sendo questionado, se é princípio ou não do direito de família, tendo em vista que as pessoas vêm constituindo famílias poliamorosas.
Em relação ao inciso VII, entende-se haver um forte conteúdo moral.Veda-se que a pessoa se case com aquele que assassinou ou tentou assassinar seu cônjuge anterior.A questão temporal aqui é controversa. O professor entende não ser aplicável esta vedação 
Em “até o momento da celebração do casamento” leia-se: no processo de habilitação para o casamento. Ademais, deve ser uma declaração expressa e a pessoa pode, inclusive, responder por falso testemunho.
Obs.: o processo de habilitação geralmente é anterior ao casamento, mas eventualmente pode ser posterior. 
Na fase de habilitação qualquer pessoa capaz pode suscitar o impedimento.
Aquele sujeito que eventualmente conseguir casar, embora seja impedido, pode ter o casamento afetado pela NULIDADE, tornando a celebração NULA. Essa nulidade, contudo, depende da alegação de terceiros. Quem seriam esses terceiros legitimados a suscitar a NULIDADE do casamento por impedimento? Ex: o cônjuge, um familiar próximo, o MP em nome da sociedade – pessoas que tem interesse jurídico na nulidade do casamento.
Justifica-se a necessidade de se ter apenas legitimados para suscitar a nulidade (não sendo qualquer pessoa capaz, como antes de celebrado o casamento) em razão de PROTEGER A FAMÍLIA.
Após o casamento já constituído, só podem alegar nulidade do matrimonio em razão de impedimento, INTERESSADOS.
O art. 1.595 deixa claro que TAMBÉM SE APLICAM ESTES IMPEDIMENTOS ÀS RELAÇÕES DE PARENTESCOS ORIUNDAS DA UNIÃO ESTÁVEL.
Obs.: PESQUISAR O Enunciado 98 da Jornada de Direito Civil (possibilidade de tia ou tio casar com sobrinho (a), desde que prova, com laudos de dois médicos diferentes, que se tiverem filhos, este n]ao está prejudicado pela proximidade da genética). Denomina-se este casamento, AVUNCULAR. 
Causas Suspensivas (art. 1.523)
Veja que não se fala na IMPOSSIBILIDADE de casar. Recomenda-se que não haja o casamento. Há, portanto, a possibilidade de celebrar-se o casamento nestas hipóteses, ainda que haja CONDIÇÕES para este casamento.
Observa-se que os incisos I, III e IV tratam, em seu cerne, das mesmas situações, VISANDO EVITAR A TURBAÇÃO PATRIMONIAL (A CONFUSÃO DOS PATRIMÔNIOS). 
O inciso II visa EVITAR A TURBATIO SANGUINIS (rever página 02) e se enlaça com o art. 1.597, II. Começa-se a contar o prazo de 10 meses a partir da morte do marido do casamento anterior ou do desfazimento do casamento, haja vista presumir-se encerradas as relações sexuais entre eles (ter havido a separação de corpus).
Em relação ao § único, um exemplo de HIPÓTESE EM QUE O JUIZ PODE RELEVAR a aplicação da causa suspensiva que foi pensada a fim de evitar a turbação patrimonial, é a circunstância de o sujeito ter apenas um BEM a partilhar.
Muito embora se apliquem as regras dos impedimentos do casamento à União Estável, as causas suspensivas não são aplicáveis, haja vista que não há como se ter este controle, em razão da informalidade desta união.
Aula 12 e Aula 13 – o professor não veio; passou estudo dirigido;
Aula 14 – 21/05/2018
Habilitação
O procedimento de proclamas tramitará no cartório onde os cônjuges tiverem município, e se eles tiverem domiciliados em locais distintos, poderá ser em quaisquer deles.
A habilitação pode ser entendida como o próprio procedimento ou a habilitação ato, que é a certidão que o serventuário do cartório entrega aos nubentes, que poderá entregar a ao padre se o casamento for religioso.
Pode em situação emergencial, como no caso de casamento nucunpativo e de moléstia grave em que se dispense proclamas, não ser necessária esta certidão.
Havendo impugnação por impedimento absoluto ou causa suspensiva, quem decide a questão é o juiz de direito, e é este remetido ao juiz por meio de ato do oficial do cartório. É garantida aos nubentes a ampla defesa e o contraditório. 
Se a pessoa que impugna a habilitação e gera todo o constrangimento, tem manifesta sua intenção pessoal de atrapalhar o casamento, poderá responder civil e penalmente, desde que tenha agido com culpa lato sensu e grave – isto é, que tenha agido dolosamente ou que tenha agido sem a mínima cautela, sendo grave sua negligência ou imprudência.É um procedimento que em regra não há participação judicial, apenas se houver impugnação, ficando os nubentes irresignados com o fato obstativo e defendendo-se deste. Neste caso, caberá ao juiz decidir, em decisão recorrível, pela improcedência ou procedência do impedimento alegado. 
Celebração
O casamento civil é um ato solene, de passagem do estado de solteiro para o estado de casado. 
Solenidade é todo e qualquer elemento agregado ao suporte fático para dar maior confiança à exteriorização da vontade, dela em si mesma se distinguindo (que é apenas forma).
O casamento é ato solene, o que implica em dizer que tem uma forma, e esta sua forma é especial, começando com a habilitação e terminando com o assentamento no livro de registro, sendo o produto da inobservância das normas cogentes que o regem a inexistência do casamento. A exigência dessa forma especial confere ao casamento seriedade, segurança jurídica e validade. 
Seja o casamento civil ou religioso é ato solene, que deve obedecer a exigências determinadas.
O casamento se entende por constituído não somente com a expressão da vontade dos nubentes, mas também com a declaração solene da autoridade celebrante, por meio das palavras sacramentais, quais sejam: “De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados”.
Pode ser a autoridade celebrante o juiz de paz ou a autoridade eclesiástica.
Os que não podem faltar: nubentes, autoridade celebrante, os respectivos procuradores (se for o caso), as testemunhas (que não instrumentárias; são representantes do interesse da sociedade) e o oficial do registro. 
O assentamento ou o registro é o fato que comprova, CERTIFICA, a realização do casamento. Dá certeza da prática do ato (de casar). É o elemento hábil a fazer a prova do casamento.
A prova precípua da realização do casamento é o REGISTRO do casamento no livro próprio de registro. 
A certidão é ato do oficial do cartório que comprova que foi realizado anteriormente um assentamento o qual por sua vez comprova que o casamento foi realizado. Assim, não se confunde com o registro, que é o assentamento. 
A prova do casamento é o registro. Mas apenas existe certidão, se tiver havido o assentamento do casamento no livro de registro. PODEM EXISTIR MÚLTIPLAS CERTIDÕES, MAS HÁ APENAS UM ASSENTAMENTO. 
O assentamento fica registrado no livro do cartório em que foi registrado o nascimento dos nubentes.
A certidão é sempre um espelho do que está no registro, o qual é sempre a prova.
Da prova do casamento e da Posse do Estado de Casado
O casamento é um negócio jurídico contratual, solene, bilateral, cheio de formalidades, com a presença de pessoas indispensáveis, que merece prova como qualquer outro ato jurídico.
As formas de provar o casamento são:
O assentamento ou o registro – prova DIRETA E PRINCIPAL.
Nem sempre foi assim. Até antes do casamento civil, o casamento no Brasil era essencialmente religioso, ficando os registros dos casamentos nos livros eclesiásticos, de maneira que a prova do casamento não era tão relevante.
Com o casamento civil a lei erigiu um sistema rígido de provas, sendo a prova do casamento por meio da certidão do registro ou assentamento.
Pode-se perder a certidão, sem maiores dificuldades. Mas e se perder o assentamento (extravio do livro de registro ou um incêndio no cartório)?
Provas indiretas (que provam a posse do estado de casado)
Prova-se, subsidiariamente, o casamento, por meio de prova testemunhal ou documental.
A eficácia destas provas são precárias – na verdade o que elas provam é a posse do estado de casado. Elas não substituem o registro/assentamento, de maneira que não suprimem o registro do casamento. A prova da posse do estado de casado é utilizada para fins especificados/restritos.
A posse do estado de casado é uma SITUAÇÃO DE FATO, que carece de reconhecimento jurídico, o qual será dado, ainda que não plenamente, porque de finalidade especificada, por meio das provas testemunhais ou documental. 
Nomem – que os sujeitos se denominam/se proclamam marido e mulher.
Tractatus – é preciso que se tratem como marido e mulher; que se comportem como marido e mulher; acreditando piamente que estão na condição de casados.
Fama – é importante que sejam reconhecidos por todos como casados.
Há posse do estado de casado quando os sujeitos se reconhecem como marido e mulher, se denominam como marido e mulher; são reconhecidos pela sociedade como marido e mulher; e se tratam como marido e mulher. Estes três elementos são apurados por meio de testemunhas ou de documentos. 
Por que alguém ainda pediria atualmente a posse do estado de casado, se há a união estável?
Basicamente esse artigo atende a finalidade com que foi criado: que era permitir ao “filho ilegítimo” provar ser filho.
Em que pese a posse do estado de casado não substituir o assentamento, PODE SER REQUERIDO AO JUIZ QUE avalie as provas subsidiárias apresentadas, e CERTIFIQUE (POR MEIO DE SETENÇA) QUE O CASAMENTO DE FATO EXISTIU, sendo a sentença procedente uma certificação do casamento, com os mesmos efeitos do assentamento ou registro. 
Veja, portanto, que a posse do estado de casado não substitui o registro, até porque tem seu reconhecimento jurídico para situações específicas. No entanto, provando-se a posse do estado de casado, se pode pedir ao juiz que por meio de sentença certifique que o casamento existiu, e A SENTENÇA TERÁ OS MESMOS EFEITOS QUE O REGISTRO.
47min-51min
No caso de dúvida a respeito de ter ou não havido o casamento, em razão de provas contrárias, a posse do estado de casado “pesará” para que se decida por ter ocorrido este.
Estado Civil
Casamento é um dos fatores de mudança de estado civil. Assim, EM TORNO DO CASAMENTO SE DETERMINAM ESTADOS CIVIS.
Solteiro, casado, separado judicialmente, divorciado e viúvo, todos eles relacionados a ideia de casamento.
Solteiro é quem nunca casou.
Casado é quem se mantém casado.
Separado judicialmente é aquele que ainda é casado, mas NÃO se opera sociedade conjugal.
Divorciado é aquele que teve o vínculo e a sociedade conjugal dissolvidos por meio de sentença. 
O viúvo é quem foi casado e deixou de ser pela morte.
A razão de estabelecer estado civil é DAR SEGURANÇA de ORDEM PESSOAL OU PATRIMONIAL. 
De efeitos pessoais: saber se pode o sujeito casar ou não – se for viúvo ou separado judicialmente, compondo causa suspensiva de casamento;
De efeitos patrimoniais: a depender do regime com que se casa, o bem que ele compra ou vende ou doa, enfim, não é só dele, mas também de seu cônjuge; 
A lei nega a prática de certos atos aos indivíduos porque são casados. Faltará legitimação. 
57min-
O convivente, a união estável, gera estado civil? Não. A lei não exige que seja dado estado civil de quem é convivente.
No entanto, o convivente ao celebrar a união estável também estabelece regime de comunhão de bens. Não seria interessante então dar a segurança patrimonial?
Acontece que a união estável é informal.
Aula 15 – 11/06/2018 (1ª aula após prova)
EFEITOS DO CASAMENTO
São de 3 ordens: ordem social, ordem pessoal e ordem patrimonial.
Todo e qualquer casamento, com maior ou menor intensidade, a depender do regime de bens adotados, geram efeitos patrimoniais, ainda que a separação seja total de bens – que não descarta a possibilidade de formar um patrimônio comum na prática, o ARQUESTROS.
Efeitos Sociais do Casamento
O primeiro efeito social que decorre do casamento é o fato de que, uma vez casando, os casados compõem uma família, ainda que não se constitua prole. Logo, o primeiro efeito é a CONSTITUIÇÃO DE FAMÍLIA.
O segundo efeito é a MUDANÇA DE ESTADO CIVIL. Esse estado de casado coloca o sujeito na posição de exigir e de ser exigido determinados comportamento. Nesse meio, também, a mudança de estado patrimonial, como por exemplo, o fato de se exigir de ambos os cônjuges a autorização para alienação de bens ou comprometimento de outorga de fiança, aval, etc (atos de liberalidade).Assim, se passa a ostentar uma posição de ilegitimação pessoal para prática de determinados atos.
O terceiro efeito é a FORMAÇÃO DE PARENTESCO (LAÇOS AFINS) COM OS PARENTES DE SEU CÔNJUGE, o qual, todavia, não passa da pessoa do cônjuge. Assim, por exemplo, meu sogro não é parente de meu irmão, nem a esposa de meu irmão é parente de meu marido.
Por força dos art. 1.723 e 1.724 o parentesco por afinidade não se estabelece apenas entre cônjuges, mas também entre companheiros. 
O último efeito social importante é a AQUISIÇÃO ANTECIPADA DE CAPACIDADE CIVIL PLENA por meio do casamento, no que se diz EMANCIPAÇÃO.
Efeitos pessoais do casamento
O exame dos efeitos pessoais do casamento perpassa pelo cumprimento do conjunto de DIREITOS E DEVERES RECÍPROCOS estabelecidos entre os cônjuges. Ex: dever de fidelidade; dever de coabitação.
A maioria dos autores clássicos impõe que estes direitos e deveres são irrenunciáveis, indisponíveis. No pacto nupcial não se poderia, portanto, “liberar” o cônjuge para ter relações sexuais com outras pessoas na constância do casamento. No entanto, este entendimento não é indiscutível. 
Há parte doutrinária que pensa ostentar alguns destes deveres a natureza de disponibilidade, embora exista um grupo de deveres que seriam sempre indisponíveis/irrenunciáveis, fixados em normas públicas, como o dever de sustento e educação dos filhos. 
O primeiro efeito de ordem pessoal é a imposição do DEVER DE FIDELIDADE RECÍPROCA.
É dever de conteúdo negativo, pois exige uma abstenção.
Ser infiel significa quebrar a expectativa que o outro tem de uma relação monogâmica, indicando a FALÊNCIA DA MORAL FAMILIAR. 
Será que ainda existe a realidade de uma relação monogâmica? 
Na sociedade ocidental em que pese haver possibilidade suficiente de discutir o poliamor, não se pode desconsiderar que o casamento tem como característica que o marca a monogamia, tanto o é, que o casamento com mais de uma pessoa gera a bigamia e que até pouco tempo atrás manter relação com pessoa além do cônjuge configurava crime de adultério.
O adultério não é mais um tipo penal, embora seja um ILÍCITO CIVIL. Há quem defina o adultério como mantimento de relações carnais com pessoa do sexo oposto. Indubitavelmente constitui FATOR DE PERTUBAÇÃO DA ESTABILIDADE do lar e da família.
A primeira questão que se põe diante desse conceito é: será que é mesmo necessário ser a relação sexual mantida com pessoa de sexo oposto? Obviamente que não. Também a relação sexual com pessoa do mesmo sexo configura quebra da fidelidade.
Sem dúvida, quando se fala em fidelidade, pode-se falar em seu aspecto material/físico OU moral. 
Será que a pessoa casada que mantém encontros furtivos com terceiro sem praticar atos sexuais estaria configurando o adultério? 
É óbvio que nessa situação ainda não foi configurado o adultério no viés material, mas há configurado no aspecto moral. 
Havia autor que chamava isto de “QUASE-ADULTÉRIO”. 
E há autores que preferem encartar essas situações que não figuram propriamente adultério, por não haver contato sexual (de que é exemplo o “adultério virtual”) como CONDUTA DESONROSA, em que não se quebraria o dever de fidelidade, mas o DEVER DE RESPEITO RECÍPROCO.
Para o professor, seja o adultério material ou moral, há adultério. Não faria sentido separar adultério e conduta desonrosa: tudo seria quebra da fidelidade, e, portanto, adultério.
Vê-se afinal que, o que o professor categorizou como adultério moral, corresponde ao que alguns autores denominam conduta desonrosa – que não é, para eles, adultério (e que quebra o dever de respeito mútuo, mas não o de fidelidade).
Além da ação de separação judicial, poderia o adultério gerar o direito de responsabilizar civilmente o adúltero? 
Para o professor, concordando com a maior parte da doutrina, há a possibilidade de responsabilização civil do cônjuge adúltero, desde que da relação extraconjugal tenha surgido para o cônjuge traído um verdadeiro dano moral, um menoscabo, uma situação vexatória. Nessa situação SE VINCULA a ideia de responsabilidade civil à existência de dano que ofenda a honra objetiva da pessoa e há uma tendência da Doutrina em seguir esta vinculação.
É discutível, no entanto, se seria possível a responsabilidade civil no caso de ofensa à honra subjetiva, quando a traição não se torna pública, sem configurar situação vexatória. Há quem entenda simplesmente que seria possível desde que se ferisse um dever decorrente do matrimônio. Há julgados do STJ em que se manteve indenização decorrente de adultério, por não ter a esposa contado ao marido traído que o filho que ele pensa ser seu, é, na verdade, do amante. Vê-se, aqui, caso extremo de quebra não somente do dever de fidelidade, mas de respeito entre os cônjuges.
De qualquer modo, é certo que A INFIDELIDADE PODE DECORRER TANTO DA RELAÇÃO SEXUAL MANTIDA COM UM TERCEIRO QUANDO DA RELAÇÃO NÃO SEXUAL.
O dever de fidelidade dura (e é exigível) enquanto durar o casamento, se desfazendo pela morte, nulidade ou anulação do casamento ou pelo divórcio. 
Mas e pela separação?
Separação judicial – aquela que é registrada ou homologada em sentença. Nesses casos, é certo que não haverá mais os deveres da sociedade conjugal, entre eles a fidelidade. 
Separação de fato – A primeira corrente doutrinária entende que este tipo de separação NÃO extingue o dever de fidelidade. Está baseada no art. 1.576 do CC, lido numa interpretação lógica, segunda a qual a separação judicial põe a termo ao dever de fidelidade, em que nada se diz a respeito da separação de fato. E onde o legislador não distinguiu, não cabe ao intérprete fazê-lo. Não é a posição majoritária.
A segunda corrente, por sua vez, entende que a separação de fato pode extinguir o dever de fidelidade em determinadas circunstâncias, decorrendo o entendimento do art. 1.723, §1º.
Para efeito de união estável, tanto faz ser o sujeito separado judicial ou factualmente, desde que seja separado, podendo assim contrair nova união estável. Nesse sentido, se subentende que independentemente do tipo da separação, os laços estarão desfeitos, logo, também, os direitos e deveres conjugais, entre eles a fidelidade.
O que a lei, de fato, deseja evitar é que um sujeito que tem ainda com outro, vínculo afetivo, possa manter com um terceiro o mesmo vínculo, desfrutando da chancela estatal. Assim, estando os laços desfeitos, não há porque impedir que possam se relacionar novamente, com outra pessoa.
O segundo dever decorrente do casamento é o DEVER DE COABITAÇÃO.
Há situações excepcionais em que a lei permite uma flexibilização do dever de coabitar. 
Fora as hipóteses legais, podem os cônjuges que não desejam coabitar estabelecer cláusula neste sentido no pacto nupcial, ainda que haja dúvida a respeito de sua legalidade. É recomendável que no pacto nupcial os noivos disponham o desejo de não coabitarem e ainda quaisquer outras liberalidades (disponibilizações) que desejem fazer, mesmo que não se tenha certeza da possibilidade jurídica de fazê-lo (legalidade).
O dever de coabitação se manifesta em dois vieses: objetivo e subjetivo. 
Viés objetivo: MORE UXORIA – viver no mesmo imóvel.
Viés subjetivo: JUS IN CORPUS – direito do exigir do outro cônjuge que mantenha consigo relações sexuais, conhecido também como DÉBITO CONJUGAL.
O débito conjugal chancelou por muito tempo a manutenção de relações sexuais conjugais FORÇADAS. Isto é, que o marido exigisse da mulher manter relação sexual, em razão de ter o DIREITO DE MANTER RELAÇÕES SEXUAIS. Atualmente o débito conjugal não autoriza a relação sexual forçada, porque se assim fizesse seria chancelar o estupro. O que o débito conjugal significa atualmente é a possibilidade de separar-se ou divorciar-se em razão da RECUSA SISTEMÁTICA do outro em manter relações sexuais consigo, podendo implicar isso, inclusive, na causa de uma SEPARAÇÃO POR CULPA do outro.
Observemos o art. 1.572, caput:
Conclui-se do exposto até então:
- O dever de coabitação não é um dever absoluto.
- O débito conjugal podejustificar não a exigência forçada de sexo conjugal (estupro), mas um pedido de divórcio CULPOSO, fundamentado em reiterada recusa do cônjuge de manter relações sexuais.
Quando é que se dá a quebra do viés objetivo? 
Por meio da evasão do lar/ABANDONO DO LAR, DURANTE UM ANO CONTÍNUO. Mas não se trata simplesmente de sair de casa. É sair de casa, SEM O ÂNIMO DE REGRESSAR, porque o modo como está o relacionamento não permite mais a coabitação (o que é diferente de sair do lar por questões profissionais, por exemplo).
No entanto, não há a quebra do dever de coabitar nas hipóteses em que a lei aceita EXCEPCIONALMENTE que vivam separados os casados, sem configurar o abandono de lar. 
Vê-se estas possibilidades no art. 1.569:
Há hipóteses que cessam o dever de coabitar por JUSTA CAUSA, estando previstas no art. 1.573, que por força do § único não é taxativo. Vejamos. 
Obs.: a violência doméstica pode dar justa causa ao fim do dever de coabitar, dentro da amplitude do § único, seguindo-se nesse sentido o princípio comum de todas as convenções: uma parte não pode exigir o cumprimento da obrigação da outra se ela própria não cumpre com a sua (dever de respeito e consideração mútuos).
O CC-16 dizia que o domicílio do casal seria definido pelo marido (cônjuge varão). Assim, necessariamente o lar da mulher era o do domicílio do cônjuge.
Atualmente O LAR FAMILIAR não é o lar do cônjuge varão, mas aquele em que escolherem os cônjuges, juntos, coabitar – o que é uma expressão da igualdade no Direito de Família. 
O CC traz a ideia de PLURALIDADE DOMICILIAR, de maneira que podem os cônjuges ter mais de um domicílio, por alternadamente manterem duas ou mais residências. Foi o exemplo em que um cônjuge mora em Lauro de Freitas, durante a semana, e o outro em Salvador, mas nos finais de semana ficam juntos ou em Lauro ou em Salvador. 
Como a escolha do domicílio conjugal deve ser feita em conjunto pelos cônjuges, por força do art. 1.567, § único, eventual desacordo no tocante a essa escolha poderá ser sanado em juízo. 
O terceiro efeito de ordem pessoal do casamento decorre do DEVER DE MÚTUA ASSISTÊNCIA, previsto no art. 1.566, III do CC.
O dever de assistência recíproca também apresenta um viés de subjetivo (moral) e outro objetivo (material).
O viés material/objetivo é o apoio financeiro que paira sobre AMBOS os cônjuges, um para com o outro. Assim, o cônjuge A tem de dar suporte financeiro ao cônjuge B, assim como B tem de dar suporte a A. Vê-se este dever se manifestando escancaradamente quando um dos cônjuges “não anda muito bem”, quando se encontra desempregado, por exemplo, recaindo sobre o outro uma maior parcela do suporte financeiro, devendo assisti-lo e suportar as finanças do casal, dos filhos, da residência, etc.
IMPORTANTE! O dever de assistência mútua não se confunde com o dever alimentar destinado ao cônjuge, que decorre, justamente, da quebra do dever de assistência mútua. É um substitutivo deste primeiro dever, que é fundamento para a ação de alimentos. 
“Se qualquer dos cônjuges faltar ao dever de assistência, pode ser compelido compulsoriamente à prestação alimentar”.
O aspecto moral/subjetivo do dever de mútua assistência implica em dizer que o cônjuge não tem apenas o dever de auxiliar financeiramente o outro, mas também o de prover APOIO EMOCIONAL.
No contexto do dever de assistência recíproca, aponta Carlos Roberto G. como relevante o art. 1.565 do CC, o qual ao falar em “responsáveis mutuamente pelos encargos da família” revela o aspecto objetivo deste dever e que ao falar em serem os cônjuges “mutuamente consortes e companheiros” indica seu lado subjetivo, por refletir a parceria de INTERESSES E DEDICAÇÃO que devem envolver a vida em comum do casal.
O descumprimento do dever de mútua assistência pode ensejar a prática do crime do art. 244 do CP, ABANDONO MATERIAL, principalmente no que toca ao seu aspecto material (financeiro). 
O quarto efeito de ordem pessoal do casamento é o DEVER DE SUSTENTO, GUARDA E EDUCAÇÃO DOS FILHOS, que não são alterados pela separação ou pelo divórcio dos pais, nem pela contração de novo casamento. Por isso, assim como em relação aos cônjuges, o sustento que os pais devem aos filhos se impõe de forma inexorável, previsto em norma de ordem pública.
São deveres que devem ser observados por ambos os cônjuges, na constância ou não do casamento, na proporção de seus recursos e possibilidades. É o que impõe o art. 1.703 e o final do art. 1.568:
Na situação em que haja recusa injustificada dos pais de sustentar os filhos pode-se configurar o ABANDONO MATERIAL.
Obs.: O crime de abandono material, como se vê, se dá diante da quebra do dever de assistência mútua, em situação de recusa financeira entre cônjuges, e, também, quando os pais se recusam injustificadamente a prover financeiramente os filhos. 
A relação de assistência entre pai e filho prolonga-se até os 24 anos do descendente, se o filho estiver estudando, desde que esteja se falando da relação paterno-filial.
Contudo, pode ser que surja essa necessidade de alimentos em decorrência não da relação paterno-filial, mas em razão da SOLIDARIEDADE ENTRE OS PARENTES, observando-se os pressupostos do binômio necessidade-possibilidade, sendo desimportante a questão da idade.
Todo pai e toda mãe tem o direito de ter consigo os filhos. Nesse contexto é que surge o DIREITO E O DEVER DE GUARDA.
Em relação à guarda dos filhos, a partir do divórcio, a regra é que a guarda seja compartilhada/bilateral, mas é comum (embora não desejável) se estabelecer a guarda unilateral, o que, por sua vez, não quer dizer que o pai ou a mãe que não tem a guarda do filho, não tenha o direito de opinar sobre as escolhas em relação à vida dele – tanto o é que tem o direito à regulamentação de visitas. 
A guarda é sempre estabelecida no contexto de PRIVILEGIAR O MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA e, para o professor, não ter o pai ou a mãe a guarda do filho, não implica na redução ou limitação de seu poder familiar.
No tocante ao DEVER DE EDUCAÇÃO, todo pai e toda mãe tem o direito de decidir a respeito de como educará seu filho, tanto no contexto da educação doméstica, como no da educação formal.
Veja que existe um direito de decidir como educar, mas EDUCAR é um dever e não uma escolha.
Se se deixa de educar o menor, notadamente no que diz respeito a sua educação formal, corre-se o risco de responder por crime de ABANDONO INTELECTUAL. 
Aula 16 – 18/06/2018
Na ordem de efeitos pessoais, como decorrência da igualdade entre os cônjuges, a doutrina aponta a possibilidade de se ACRESCER AOS SEUS OS PATRONÍMICOS/APELIDOS/SOBRENOMES DE SEU CONSORTE.
Atualmente se trata de uma faculdade, mas antes da lei de divórcio (em 1977) a mulher era OBRIGADA A INCLUIR em seu nome o patronímico do cônjuge varão.
Com o CC-2002 tanto pode o marido, como a esposa, acrescer o patronímico ou os apelidos do cônjuge.
À luz da lei do divórcio, havia uma circunstância no mínimo pitoresca: a mulher que eventualmente pedisse a separação (para depois divorciar-se, já que não havia divórcio direto, sendo a separação a “antessala” do divórcio) perderia o direito de usar o sobrenome do cônjuge depois de separada, bem como o perderia se fosse considerada culpada pela separação ou após o divórcio. 
Isto muda com CC-2002, ainda que não amplamente. Vejamos.
Art. 1.571:
Segundo este artigo, É ASSEGURADO TANTO AO HOMEM QUANTO A MULHER ACRESCER OS APELIDOS DE FAMÍLIA, DESDE QUE O QUEIRA. Entretanto, permanece o entendimento segundo o qual, se qualquer dos cônjuges for considerado culpado pela separação ou divórcio, e o cônjuge inocente expressamente requerer que o culpado retire o seu patronímico do nome, será deste obrigatoriamente retirado o apelido, a não ser que demonstre, excepcionalmente, que a retirada desse sobrenome gerará: 
Constrangimento ou confusão relacionado aos filhos, por não ter o mesmo nome destes;
Por razão profissional, quando é muito conhecido pelo nome de casado, sendo sua retirada prejudicial;
Qualquer situação de

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