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Editado por Mary K. Allert ilustrado por Scott Weldon Os Autores Ásher Hirshberg, MD FACS, é Professor no Departamento de Cirurgia do SUNY Downstate College o f Medicine e Diretor da Cirurgia Vascular dc Emergência no Kings Coünty Hospital Center. Broõklyn, New York. Kenneth L. M attos. Ml) FÁCS, é Professor e Vice-diretor Geral no Departamento dè Cirurgia Michael E. DeBakey, do Baylor College o f Medicine, e Chefe de Equipe/Diretor da Cirurgia no Bcn Taub General Hospital em Houston, Texas. jr tfm Publishing Ltd. 05 19/02/1998. to da editora, poderá ser reproduzida ou íicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou 0 Ilustrador Scott Weldon, MA, é Supervisor de Ilustração Médica na Divisão de Cirurgia Cardio-toráciea no Departamento de Cirurgia Michael E. DeBakey, do Baylor College o f Medicine em Houston. Texas. 0 Editor Mary K. AJlcn, BA. é Administrativa Associada no Departamento de Cirurgia Michael E. DeBakey, do Baylor College of Medicine e Administradora da Divisão de Cirurgia no Ben Taub General Hospital em Houston, Texas. Os Revisores Científicos Dario Birolini Professor Titular do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo {(.'SP) Danieia Paoli de Almeida Lima Cirurgia Geral, Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo Médica do Grupo de Atendimento Médico de Urgência - GRAU - Resgate 193 SP Professora Convidada da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da Escola Paulista de M edicina- Unifcsp Os cuidados normais de segurança devem Incia clínica ampliam nosso conhecimento, em ser necessárias ou apropriadas. Os lei- 3 dos produtos, fornecidas pelos fabricantes ecomendada, o método e a duração da ad io médico, com base na experiência e con- sagens e o melhor tratamento para cada um quer responsabilidade por eventual dano ou slicação. ha / Asher jen; ilustrado por es et al.]. - Rio Surgery 1938-. II.Título. CDD 617.1 CDU 617 ASSOCIACÁÓ KAÜtfll Contributors Autores Asher Hirshberg, MD FACS, é Professor no Departamento de Cirurgia do SUNY Downstate College of Medicine e Diretor da Cirurgia Vascular de Emergência no Kings County Hospital Center, Brooklyn, New York. Kenneth L. MattOX, MD FACS, é Professor e Vice-diretor Geral no Departamento de Cirurgia Michael E. DeBakey, do Baylor College of Medicine, e Chefe de Equipe/Diretor da Cirurgia no Ben Taub General Hospital em Houston, Texas. Ilustrador Scott Weldon, MA, é Supervisor de Ilustração Médica na Divisão de Cirurgia Cardio-torácica no Departamento de Cirurgia Michael E. DeBakey, do Baylor College of Medicine em Houston, Texas. Editor Mary K. Allen, BA, é Administrativa Associada no Departamento de Cirurgia Michael E. DeBakey, do Baylor College of Medicine e Administradora da Divisão de Cirurgia no Ben Taub General Hospital em Houston, Texas. Para nossos residentes — passados, presentes, e futuros Revisão Científica Dario Biroltrti Professor Titular do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Daniela Paoli de Almeida Lima Cirurgia Geral, Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) Médica do Grupo de Atendimento Médico de Urgência - G R A U -R esgate 193 SP Tradução Cláudia Valéria Miranda Teles (Cap. 2) Especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira Hematologista com Residência Médica Concluída no Hospital Universitário Pedro Ernesto - Rio de Janeiro Daniela Paoli de Almeida Lima (Caps. 4,7, 8 e 14) Fernando da Costa Ferreira Novo (Caps. 6,11 e 13) Doutor em Clínica Cirúrgica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Cirurgião do Hospital das Clínicas e do Hospital Sírio- Libanês de São Paulo Renato Sergio Poggetti (Caps. 1 ,5 ,10 e 12) Professor Associado da Disciplina de Cirurgia do Trauma do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo. Rina Maria Ferreira Porta (Caps. 3 ,9 e 15) Doutora pela Faculdade de Medicina da USP Médica do Serviço de Emergência da 3a Clínica Cirúrgica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP Prefácio à Edição Brasileira O exercício correto e sensato da cirurgia exige não apenas treinamento e experiên cia, mas nma grande dose de bom senso e de espírito crítico. No universo represen tado pela cirurgia moderna, cada vez mais rica em alternativas técnicas altamente sofisticadas, a cirurgia de urgência representa um constante exercício de humildade e contribui, como nenhuma outra, para o amadurecimento profissional e humano de quem a exerce. O cirurgião que vive nos serviços de emergência aprende a distinguir o que “pode” ser feito do que “deve” ser feito. Em outras palavras, aprende a deixar em segundo plano sua vaidade, sua auto-estima e sua ambição técnica e a optar pelas alternativas mais seguras, no interesse do doente, ainda que elas não permitam solucionar, em definitivo, a afecção responsável. A cirurgia do trauma, em particular, representa um constante desafio em termos diagnósticos e terapêuticos e exercê-la é uma tarefa árdua. De fato, o trauma não costuma obedecer a padrões definidos. As lesões resultantes de um ferimento por arma de fogo, de uma queda, de uma explosão ou de um atropelamento são impre visíveis, podem ser múltiplas e complexas, afetando diferentes segmentos do orga nismo e diferentes vísceras. 0 resultado final dos investimentos terapêuticos depen de de uma série de fatores inerentes ao atendimento prestado na etapa pré-hospita- lar e hospitalar. Por estes motivos, a tendência a comparar resultados de diferentes serviços com o objetivo de estabelecer protocolos inquestionáveis é freqüentemente estéril e creio não haver dúvidas quanto ao fato de que a presença constante de um profissional qualificado e dedicado é o ingrediente fundamental para o sucesso do tratamento. Não raramente o cirurgião experiente que se dedica ao atendimento reconhece as dificuldades e opta por procedimentos de controle de danos com o intuito espe cífico de salvar a vida do doente, transferindo para um segundo tempo e, por que não, para um profissional mais preparado ou que trabalhe em um ambiente mais apropriado, a responsabilidade de encaminhar a solução definitiva das lesões. Para complicar mais a situação, é comum que, em publicações a respeito do tratamento das lesões traumáticas, sejam apresentadas alternativas técnicas extremamente cria tivas, ilustradas através de imagens sofisticadas. São propostas atraentes para o cirurgião que se inicia na prática profissional e que tem pouca vivência com o de safio. Freqüentemente, entretanto, tais propostas são inviáveis na prática e as figu ras que as ilustram demonstram, apenas, que as páginas de um livro toleram qualquer fantasia, por mais ousada e imaginativa ela seja. Inserido neste espírito, Top Knife procura transmitir uma visão crítica, objetiva e madura dos princípios que devem nortear a atuação do cirurgião do trauma. O livro nos ensina a escolher alternativas terapêuticas mais seguras e que, caso não ofereçam os resultados esperados, resul tem em complicações que sejam mais bem toleradas pelo doente e que permitam transferir para um segundo tempo o tratamento definitivo. Escrito e ilustrado de forma simples, o livro se destaca por suas qualidades tan to em termos didáticos como pedagógicos. A distribuição do assunto, abrangente e complexo por sua própria natureza, é feita de forma adequada, o texto é claro e as ilustrações objetivas, testemunhando a vivência pessoal dos autores. As mensagens transmitidas são claras, honestas e facilmente compreensíveis e a proposta, em seu conjunto, é altamente louvável. Em síntese, estou convencido de que o livrodeveria constituir-se em leitura obrigatória para todos os cirurgiões que se dedicam ao atendimento às vítimas de trauma e, por que não, para os médicos em formação para que aprendam a analisar, de forma crítica, as informações que a literatura lhes oferece. Um comentário final: com o intuito de transformar o texto em leitura, por assim dizer, informal, os autores utilizaram expressões pouco convencionais. Por está ra zão, e pelo desejo de preservar o espírito do livro, a tradução para o português cons- tituiu-se em desafio nem sempre facilmente superável. Apesar disso, o resultado final foi altamente compensador e, estou convencido, o livro se constituirá em su cesso, para o benefício de nossos doentes. Parabéns aos Drs. Hirshberhg e Mattox por esta iniciativa e a você por ter decidido compartilhar esta experiência. Dario Birolini Sumário íx Introdução Sobre o Quê É Este Livro Capítulo 1 O Cirurgião de Trauma (3-D) Capítulo 2 Pare o Sangramento! Capítulo 3 Seu K it Vascular Capítulo 4 A Laparotomia de Emergência Capítulo 5 Consertando Tubos: As Vísceras Ocas Capítulo 6 O Fígado Lesado: Mestre Ninja Capítulo 7 Os Órgãos Sólidos “Retiráveis” Capítulo 8 A Alma Cirúrgica Ferida Capítulo 9 O Grande Vermelho e o Grande Azul: Trauma Vascular Abdominal Capítulo 10 Risco Dobrado: Lesões Toracoabdominais 1 5 17 33 51 69 81 97 113 129 145 X Capítulo 12 169 O Tórax: Dentro e Fora Capítulo 13 179 Trauma Vascular Torácico para o Cirurgião Geral Capítulo 14 195 O Pescoço: Safári em Terra de Tigres Capítulo 15 209 Trauma Vascular Periférico Tomado Simples Epílogo 227 O Prazer da Cirurgia do Trauma índice 229 Capítulo 11 155 A Toracotomia Certa no Trauma Introdução Sobre o Quê É Este Livro Quando você tiver de atirar - atire, não fa le . - Eli Wallach (Tuco) em: O Bom, o M au e o Feio, 19661 Mais cedo ou mais tarde, isto acontece. Você é um jovem residente de cirurgia na sua primeira noite de plantão em um centro de trauma movimentado ou um cirurgião em um hospital pe queno enfrentando um caso de trauma grave, sozinho e sem retaguarda. Ou talvez você seja um cirurgião militar com uma equipe de cirurgia de campo ou na linha de frente. Mais cedo ou mais tarde, você vai se encontrar na saia de cirurgia, com um paciente sangrando abundantemente e mor rendo em suas mãos. Você rapidamente abre a barriga e o sangue jorra. Alças de intestino estão boiando em uma poça de sangue e coágulos. Há uma agitação à sua volta com a equipe de anestesia lutando para conseguir mais acessos ve- nosos enquanto as equipes de enfermagem e instrumentação montam as bandejas de instrumentos rapidamente. Você nem precisa olhar para os números alarmantes no monitor para saber que este é O Momento. As téc nicas que você trabalhou duro para adquirir são colocadas à prova em um teste brutal. Você vai superar este desafio? Estes casos invariavelmente atravessam as portas das salas de emer gências quando você não se sente no seu melhor momento. Você está can sado e já está utilizando suas pilhas de reserva. Sua instrumentadora “não tem muita experiência”. Os anestesiologistas estão fazendo o máximo, in jetando seringas e mais seringas de um agente inotrópico particularmente agressivo. A enfermeira circulante de saía desapareceu há cinco minutos da tela do seu radar em busca da sua pinça vascular preferida. Sim, esta 1N.T.: Filme western dirigido por Sergio Leonecom Clint Eastwood, Eli Wallach e Lee Van Cleef. O filme é conhecido no Brasil como “Três Homens em Conflito”. definitivamente não é uma boa hora, mas, podemos lhe assegurar, nunca será. O sangramento audível na barriga, o caos em volta de você, as luzes vermelhas piscando na sua cabeça e um auxiliar sem noção alguma do outro lado da mesa são partes de uma cirurgia do trauma na vida real. Ah, e antes que eu me esqueça, você reparou no camarada anorético de capa preta e capuz, em pé no canto da sala de cirurgia, segurando sua foice, e pacientemente esperando que você faça apenas um erro? Ele, também, é uma parte integrante da cirurgia do trauma. A cirurgia do trauma é uma arte que combina tomada de decisão com habilidade técnica e capacidade de liderança. O objetivo deste íivro é aju dá-lo a levar um paciente gravemente ferido para a sala de cirurgia, orga nizar-se e organizar a sua equipe, batalhar com algumas das lesões mais terríveis, sair com um paciente vivo e com o melhor resultado possível. O atlas-padrão de cirurgia pode lhe mostrar o que você deve fazer com suas mãos, mas não como pensar, planejar ou improvisar. Este livro é diferente. Aqui você vai encontrar conselhos práticos de como usar a cabeça e as mãos quando você estiver operando um paciente traumatizado que está morrendo. Quem deve ler este livro? Você é um residente ou estagiário nos últimos meses de um treinamento em cirurgia? Um cirurgião geral interessado em trauma? Um fellowem trauma e terapia intensiva? Se você for um destes, nós escrevemos este livro pensando principalmente em você. Se você atualmente está em treinamento, deve estar consciente das grandes forças que reduzem dramaticamente sua experiência em cirurgia do trauma. O trauma penetrante em áreas urbanas está em declínio, con dutas não-cirúrgicas (conservadoras) estão em alta, e o treinamento em cirurgia se encontra em um processo de evidente revolução. Embora este livro não possa ser um substituto para molhar realmente seus sapatos em uma sala cirúrgica real, ele pode otimizar o valor educativo de todas as ci rurgias de trauma que você fizer, porque você estará preparado. Muitos desafios cirúrgicos com lesões graves acontecem em circunstân cias difíceis. O cirurgião de uma cidade pequena do interior que atende ocasionalmente e sozinho um caso de trauma grave, o cirurgião militar no campo de batalha e o time de apoio a desastres em uma missão humani tária, são exemplos de cirurgia do trauma com recursos extremamente li mitados. Enfrentar uma lesão complexa no fígado em um grande centro de atendimento ao trauma já é ruim o suficiente. Fazê-lo na única sala de ci rurgia de um hospital de 20 leitos requer toneladas de coragem e desen voltura. Se você é um destes cirurgiões, você está mais interessado nas Introdução Sobre o Quê É Este Livro 1 3 soluções técnicas simples que funcionam, em vez de manobras técnicas complexas que você nunca irá aplicar. Muitos dos problemas nas cirurgias do trauma têm mais de uma resposta eficaz, e o truque reside no ajuste de uma solução simples e possível para as suas circunstâncias específicas. Neste livro, nós mostramos como fazer justamente isto. Isto nos leva ao controle de danos, a expressão mais badalada em ci rurgia do trauma na última década. Você pode estranhar por que não exis te um capítulo sobre controle de danos neste livro. A resposta é simples. Controle de danos tornou-se um tema tão central na cirurgia do trauma que não faz mais sentido restringi-ío a um único capítulo. Peío contrário, descri ções detalhadas de indicações e técnicas de controle de dano são parte de cada capítulo. Considerar este livro como um guia amplo para o controle de danos não seria um erro. Por que Top Knife? Top Gun é o nome popular para a Escola de Armamento dos Fuzileiros Navais2 cuja missão é treinar os melhores pilotos de caça para a Marinha Americana. Chamamos nosso livro Top Knife em reconhecimento às muitas semelhanças entre os cirurgiões de trauma e pilotos de caça: raciocínio preciso sob pressão, respostas exatas em situ ações que mudam rapidamente, e um treinamento árduo e longo. Assim como no combate aéreo, a cirurgia do trauma é, antes e primordialmente, uma disciplina. Você não pode se tornar um piloto de caça ou um cirurgião de trauma sem muito trabalho pesado e disposiçãopara enfrentar adversi- dades. Este livro começa e termina na sala de cirurgia. Se você estiver buscan do por informações sobre cuidados para um paciente acidentado antes ou após a cirurgia, busque em outro lugar. Nós também supomos que você está familiarizado com os princípios e as técnicas da cirurgia geral. Se você busca instrução sobre como ressecar e anastomosar o intestino ou como realizar uma anastomose vascular clássica, não vai encontrar aqui. Entretanto, se você quer aprender como fazer uma laparotornia de emer gência, “sem frescuras”, como lidar com um pulmão sangrando, ou como reparar uma artéria poplítea, continue sua leitura. A primeira seção do livro, Ferramentas do Ofício, apresenta os princípios de uma cirurgia do trauma que “não dá muita bola” para a natureza da lesão e para as regiões anatômicas. Nosso foco não é tanto em como você deve 2Nava! Fighters Weapons School. 4 I TOP KNIFE suturar, mas como você deve pensar e reagir. Estas técnicas raramente são ensinadas durante o treinamento em cirurgia. Se alguma vez alguém lhe mostrou como obter um plano alternativo enquanto está lutando com um sangramento da artéria subclávia ou a prestar atenção no que a enfermei ra circulante está fazendo enquanto você comprime manualmente um fíga do estilhaçado, consídere-se uma pessoa de sorte. Habitualmente, espera- se da maioria dos residentes e estagiários que eles captem, intuitivamente, estes conhecimentos em algum lugar, ao longo do caminho. Muitos nunca conseguem. O restante do livro é sobre a cirurgia do trauma como um “corpo a cor po”. Aqui lhe mostraremos como lidar com lesões específicas. Um tema importante é como as coisas podem sair errado, um aspecto pouco abor dado da cirurgia do trauma nos textos-padrão. Enfatizamos as armadilhas porque reconhecê-las é parte essencial no aprendizado de como operar. Reconhecemos que a arte e a manha da cirurgia do trauma variam en tre os cirurgiões. Não fique surpreso em encontrar algumas diferenças nas abordagens dos problemas cirúrgicos entre os autores. Os princípios bási cos são os mesmos, mas as técnicas são por vezes diferentes. Onde estas variações existirem, nós as apontaremos. Nenhum “tamanho único” serve a todo mundo. No desenvolvimento deste livro, tivemos a sorte de nos associar com Scott Weldon, um jovem ilustrador médico de talento extraordinário. A tra dução de idéias e conceitos cirúrgicos para a forma gráfica é sempre uma tarefa ardilosa. Graças ao talento do Scott e à sua excelente intuição, fomos capazes de expressar esta parceria autor-artista como uma voz única, que une sem costuras texto e arte. Mary Allen, a editora/revisora mais talentosa com quem já trabalhamos, realizou algumas cirurgias radicais no texto e “bateu sem dó” até que o co locou na forma correta. Sem seus esforços memoráveis, este livro teria saído muito mais longo - e consideravelmente menos legível. Nikki Bramhill, nossa editora, foi uma participante constante neste pro jeto desde o estágio embrionário até o produto final. Ela comprou nossa idéia de escrever um livro cirúrgico informal, “pé no chão”, sobre cirurgia do trauma, e trilhou conosco todos os passos do caminho para fazê-lo acon tecer. Seu entusiasmo contagiante, trabalho duro e olhar perfeito estão evi dentes em cada página. E agora, é hora de parar de falar - e começar a cortar... Capítulo 1 O Cirurgião de Trauma (3-D) Perito ê um homem que cometeu todos os erros possíveis em campo muito limitado. •- Neils Bohr A primeira coisa que você nota ao entrar na cavidade peritoniai é um sangramento a partir de um buraco grande e feio no lobo direito do fígado. Surpreendentemente, você estava exatamente na mesma situação há 1 semana. Não tem nem mesmo que dar uma olhada no monitor para saber que a pressão sistólica será 60. Lembrando-se do caso da semana passa da, você rapidamente tampona o fígado com compressas para fazer parar o sangramento. Entretanto, desta vez o fígado lesado continua a sangrar através das compressas. Você supôs que para ri a. Assim aconteceu na se mana passada. O que está errado? O que está diferente? Você realiza uma manobra de Príngle, que não ajuda muito. A voz metálica do anestesiolo- gista agora adverte que a pressão sistólica do paciente não pode mais ser obtida. Ele está morrendo. O que está acontecendo? O que fazer agora? Você permanece surpreendentemente calmo para um residente em ci rurgia com apenas três ou quatro anos de treinamento. A razão é simples: Você sabe exatamente o que acontecerá a seguir. Logo em seguida as lu zes no Laboratório de Realidade Virtual Cirúrgica se acendem e a simulação vai parar. Usando um holograma giratório do fígado lesado e veias retroe- páticas, seu instrutor explicará o que deu errado e por quê. Esta abordagem do tipo "simulação” está se tornando rapidamente uma parte importante no treinamento cirúrgico. Um simulador poderá auxiliá-lo a aprender a operar, entretanto algo fundamental está faltando. Quando você trabalha num simulador, opera animais de grande porte em um laboratório, ou trabalha na sala de cirurgia com um assistente qualificado, você aprende a dimensão tática da operação. Você aprende a selecionar a mais indicada entre as várias opções técnicas e a executá-la em condições operató- rias específicas. Você passa o maior tempo de seu treinamento cirúrgico foca lizado em táticas operatórías dos procedimentos eletivos e emergenciais. Somente quando começa a operar por conta própria você se dá conta das ou tras duas dimensões de cada operação: estratégia e liderança de equipe. 6 TOP KNIFE A dimensão estratégica de uma operação é a ampia consideração de metas, meios e alternativas. Quan do você opera auxiliado por um preceptor experiente, ele geralmente cuida da dimensão estratégica por você. Enquanto você está entretido com a mobiliza ção do ângulo esplênico, seu professor já está ava liando as opções de uma laparotomia rápida de con trole de dano versus um tratamento definitivo que toma tempo. Quando você está trabalhando por conta própria, a dimensão estratégica repentinamen te cai nos seus ombros. Não pode mais focalizar exclusivamente os orifícios no cólon, mas tem de considerar também o “Quadro Total”. A terceira dimensão de cada operação é a liderança de equipe. Ser um cirurgião significa certificar-se de que os esforços dos membros da equipe da sala de cirurgia estão coordenados e focalizam as mesmas metas. Você não pode presumir que o seu instrumentador saiba o que fazer em segui da somente porque ele ou ela é inteligente e possui experiência. Você deve comunicar seu plano claramente. Da mesma forma, o anestesiologista não possui percepção extra-sensorial e não pode adivinhar seu piano a não ser que você o compartilhe com ele. Manejar mal a dimensão de equipe durante um procedimento cirúrgico no trauma é um dos piores erros que você pode cometer. Para operar de forma eficaz um paciente ferido, você deve treinar para ser um cirurgião tridimensional que constantemente entra e sai das dimen sões táticas, estratégicas e de equipe, monitorando o progresso e reava liando as opções em cada uma delas. Colocando o cérebro em funcionamento antes de colocar o bisturi em ação Pensamento estratégico é essencial mesmo antes de fazer a incisão. Considere, por exemplo, o “buraco negro” da cirurgia, termo que nunca ou 1 0 Cirurgião de Trauma (3-D) j 7 viu mas que encontra todos os dias. O buraco negro é o tempo entre a en trada do paciente na sala de cirurgia e a incisão na pele. É um intervalo logístico obrigatório, durante o qual o paciente é movimentado, posicionado e preparado, mas nada é feito para parar o sangramento interno. Se você opta por passar um “tempo infinito” diante da pia para escovar as mãos, você poderá acabar comas unhas das mãos limpas, mas quando você entrar na sala de cirurgia, você encontrará o paciente mal posicionado, a instru- mentadora preparando o campo errado, e o esforço da equipe da sala de cirur gia descoordenado. Você pode muito bem ter perdido a batalha antes de dis parar o seu primeiro tiro. Para evitar isto, permaneça o máximo de tempo pos sível junto ao seu paciente e use o buraco negro para preparações eficientes. O paciente está adequadamente posicionado? A equipe cirúrgica sabe qual é o campo operatório que deverá ser preparado e quais caixas de ins trumentos deverão estar à disposição? A equipe de anestesia precisa de ajuda para as cateterizações vasculares? Você não pode abordar estas ques tões a partir da pia de lavagem das mãos. Vá para a pia e lave suas mãos somente quando você tiver certeza de que tudo está organizado e pronto. Se o paciente está em choque, não perca tempo em se lavar. Cada se gundo é importante. Pegue um avental e as luvas, apanhe um bisturi e ra pidamente mergulhe no tórax ou abdome. Esterilidade é um luxo no choque hemorrágico grave A maneira como você posiciona o paciente e define o campo operatório são outros indicadores de sua visão estratégica. Sempre se prepare para o cenário mais grave. No trau ma de tronco, este preparo en volve, tipicamente, acesso a ambos os lados do diafragma e as regiões inguinais. O cam po operatório do caso mais grave se estende do queixo até a região proximal dos joelhos, entre as linhas axilares poste riores. Afaste ambos os braços para permitir à equipe de anes- tesiologia acesso total às extre midades superiores. \ ; 8 TOP KNIFE Para trauma isolado de extremidade, inclua a extremidade lesada intei ra no campo para facilitar a manipulação, e prepare uma extremidade infe rior não-lesada para acesso à veia safena. Para a exploração do pescoço prepare o tórax inteiro, uma vez que o mediastino superior é a continuação do pescoço. Prepare-se sempre para o cenário mais grave ABC do pensamento tático Faça um autotreinamento para pensar em toda a operação como uma se qüência de passos bem definidos, mas memorizar os passos não é o sufi ciente. Você deve adquirir discernimento quanto ao procedimento apren dendo as manobras-chave e as armadilhas em cada passo. Uma manobra-chave é o ato técnico isolado mais importante num passo operatório. A manobra-chave na mobilização de um baço lesado é cortar o ligamento esplenorrenal e entrar no plano correto entre o baço e o rim. Muitas vezes, uma manobra-chave é identificar uma “porta de entrada”, uma estrutura que serve como guia para a dissecção ou que abre o plano teci- dua! correto. A porta de entrada da artéria carótida no pescoço é a veia facial comum. Identificá-la e ligá-la é a manobra-chave. Ao mobilizar o ân gulo hepático do cólon, a manobra-chave é encontrar o plano entre o lado direito do cólon transverso e o duodeno. Armadilha é uma grande cilada que o espera em todo passo operatório. Escolher a incisão incorreta de toracotomia ou realizá-la no espaço intercos- tal errado será uma grande armadilha. Deixar de assegurar um controle proximat antes de entrar num hematoma contido é outra cilada clássica. Familiaridade, tanto com a manobra-chave quanto com armadilha clás sica de cada passo operatório, é a diferença entre o cirurgião de trauma profissional e o amador. Conhecer as manobras-chave e armadilhas de um procedimento permite que você o realize independentemente e, com a ex periência, o ensine aos outros. Conheça a manobra-chave e as armadilhas em cada passo operatório 1 0 Cirurgião de Trauma (3-D) | 9 Já ouviu falar em insistir no erro? É uma ação repetitiva e ineficiente. É um dos erros táticos mais comuns da pessoa inexperiente. Por exemplo, ima gine-se tentando controlar um local de sangramento com um ponto hemos- tático. Você passa o ponto e amarra o fio, mas o sangramento continua. Você tenta de novo. Ainda não funciona. Você tenta de novo; pode ser que funcione desta vez. Podemos contar-lhe sem estarmos presentes que, pro vavelmente, não funcionará - você está perdendo tempo. Muito freqüente mente, a insistência no erro será mais óbvia para a equipe cirúrgica do que para você. Como evitá-lo? Acostume-se com a idéia de que no mundo real manobras cirúrgicas nem sempre funcionam. Mesmo o cirurgião tecnicamente mais dotado não tem sucesso com todos os movimentos. Você deve aprender a lidar eficien temente e não emocionalmente com a falha técnica. Quando a manobra não funciona, não leve isto como uma falha pessoal. Pare e considere as opções disponíveis. Em primeiro lugar, reconside re a necessidade do ato maisu- cedido. É realmente necessário? O sangramento necessita de su tura? Talvez pare com compres são temporária e paciência. Outra opção é recuar e obter ajuda. Se tiver sorte de contar com apoio, use-o. Alguém com mais experiência muitas vezes tem melhor chance de solucionar o problema. Reconhecer a ne cessidade de ajuda e procurá-la (não importa se você é um resi dente ou cirurgião de trauma experiente) é sinal de bom discernimento, O que acontecerá se você estiver totalmente por conta própria e a ajuda não estiver disponível? Aí você deve considerar técnicas alternativas ou uma abordagem diferente do problema. Se sua solução original não funcio nar, você deve imaginar uma que funcione. Que tal tentar novamente? Em gerai, repetir um ato ou manobra que falhou só vale a pena se você mudou algo no ambiente tático: exposição Um dilema tático comum 10 TOP KNIFE melhor, ângulo melhor, porta-agulha maior, agulha maior, ou um assistente melhor. Tal mudança tática melhora sua chance de ter sucesso com a pró xima tentativa. Repetição idêntica de ato técnico sem sucesso é um erro porque quase sempre falha. Esta é a verdadeira definição de uma insistên cia no erro e é exatamente o que você deve evitar. Lembre-se destas quatro opções para lidar com falhas técnicas. São suas alternativas para sair de situações frustrantes e perigosas. Cirurgiões eficientes não consideram falha técnica uma ofensa pessoal. Eles rapida mente reavaliam a situação e optam por uma solução alternativa. Evite insistir no erro; aprenda a lidar com a falha técnica Flexibilidade Tática Independentemente de sua experiência, você vai se encontrar em situações nas quais seu inventário de técnicas-padrão simplesmente não resolverá o problema, forçando-o a conceber novas soluções. Flexibilidade tática é a habilidade de projetar novas soluções para situações operatórias incomuns. É uma habilidade adquirida que você pode desenvolver aprendendo a pen sar além das condições normais. Ao enfrentar um problema não-familiar, coloque para si mesmo as se guintes perguntas: ♦ Já encontrei situação semelhante em outro contexto? Em cirurgia ele tiva? Em outro órgão lesado ou em outra região anatômica? ♦ Posso modificar ou adaptar uma técnica-padrão para a situação? ♦ Que tal resolver parte do problema? ♦ Posso deixar o problema sem solução durante algum tempo e voltar mais tarde? ♦ Qual é a opção mais aceitável para lidar com o problema? Será que drenagem da lesão (e criando umafístula controlada) é bom o suficien te? Posso ligar o vaso em vez de repará-lo? Numa situação complexa sempre procure simplificar o problema. Avalie as lesões e decida quais órgãos têm de ser consertados e quais podem ser retirados rapidamente (ou ressecados) e, assim, eliminados da equação. Faça de suas reconstruções as mais simples possíveis. O melhor é fazer o mínimo de linhas de sutura. Em cirurgia de trauma, soluções simples fun cionam; soluções complexas muitas vezes ricocheteiam e atingem você. 1 0 Cirurgião de Trauma (3-D) 1 11 Simplifique situações táticas complexas A decisão estratégica-chave Toda operação de trauma obedecea uma seqüência genérica de passos reproduzíveis. Você consegue acesso à cavidade lesada, controla sangra- mentos e vazamentos utilizando medidas temporárias e depois explora a cavidade para definir as lesões. Agora você enfrenta a decisão estratégica-chave da operação: a escolha eníre tratamento definitivo e controle do dano. Tratamento definitivo signifi ca çessecção ou reparo dos órgãos lesados e fechamento definitivo da ca vidade. Controle do dano significa recuo rápido usando medidas temporárias de controle e fechamento temporário da cavidade, com volta mais tarde, planejada sob circunstâncias mais favoráveis. Você tem de tomar a decisão precocemente. Não espere o paciente entrar em colapso para recuar abrup tamente no meio da operação. Como você escolhe o perfil operatório? Considere quatro fatores-chave: padrão da lesão, impacto do trauma, fisioíogia e sistema. ♦ Qual é o padrão da lesão? Por exemplo, numa iesão importante de fígado, uma vez que você re conheça a necessidade de tamponar o fígado, sua única escolha é o controle do dano. De maneira semelhante, a combinação de grande lesão vascular abdominal e perfurações intestinais em geral requer que você recue rapidamente porque no momento em que você termina de iidar com a artéria ilíaca lesada, o paciente não estará em condições de ser submetido à ressecção de intestino e anastomose. Tratamento definitiva Controle do dano 12 TOP KNIFE ♦ Qual é o impacto total do trauma do paciente? Olhe para dentro da barriga lesada: quantos órgãos você tem de con sertar? Quanto trabalho será envolvido? O que me diz do tórax? Há preocupações prementes quanto às extremidades? O paciente poderá precisar de 2 horas de trabalho de reconstrução, mas com lesão da cabeça e pupila direita dilatada você não terá este tempo. O impacto total do trauma de um paciente é a combinação das lesões, sua urgên cia relativa, e o quanto de trabalho (e tempo) será necessário para lidar com eles. Investir um tempo precioso no tratamento definitivo de lesões abdominais que não colocam em perigo a vida na presença de grandes incertezas na cabeça, tórax, ou pescoço é uma atitude muito ruim. ♦ O que é o comportamento fisiológico do paciente? Os números que você vê no monitor do anestesiologista não são de muita ajuda porque você não está interessado na fotografia instantânea da pressão arterial ou saturação de oxigênio do paciente. Você está interessado no impacto fisiológico da lesão ao longo do tempo. Os nú meros instantâneos que vê no monitor significam muito pouco. Você saberá mais sobre isto nos próximos capítulos ♦ Que sistema e circunstâncias estão em jogo? Você é um cirurgião de trauma experiente trabalhando em um centro de trauma ou um cirurgião geral operando numa tenda na África? De quanto sangue dispõe? Quão experiente é seu anestesiologista? Estas considerações têm de ser incorporadas na sua decisão. Controle do dano é o “grande equalizador” da cirurgia de trauma, permitindo que você compense a sua inexperiência e a limitação de recursos. Controle do dano é o “grande equalizador'’ da cirurgia do trauma A decisão de recuar e o contexto fisiológico Se a atual pressão artérial do paciente é 120/70 com boa saturação de oxi gênio, o anestesiologista freqüentemente lhe dirá que o paciente está es tável. E se o paciente esteve em choque por 1 hora antes da operação e perdeu todo seu volume de sangue antes que você conseguisse controlar o problema? Você irá realizar uma ressecção do intestino e anastomose? Se você respondeu “Sim”, por favor diga que está brincando. O paciente que parece “estável” de fato sofreu um golpe fisiológico terrível, e a respos ta inflamatória sistêmica o golpeará com toda força logo, logo. Os intestinos e a parede abdominal vão inchar, a oxigenação cairá, e o paciente neces sitará de reanimação maciça com fluidos e talvez mesmo suporte inotrópi- co. Você deve recuar e levar o paciente para a unidade de terapia intensiva 1 0 Cirurgião de Trauma (3-D) I 13 AGORA! Sua avaliação da agressão fisiológica cumulativa, não os números na tela do monitor, deve guiar sua decisão. Na literatura de controle do dano há muita discussão so bre a “tríade letal” de hipoter- mia, coaguíopatia e acidose. Estes três distúrbios fisiológi cos marcam os limites do con texto fisiológico do paciente além dos quais há choque ir reversível e morte. Tempe ratura central abaixo de 32°C durante a laparotomía de trau ma é universalmente conside rada fatal. Infelizmente, em cirurgia de trauma na vida real, a tríade letal não o aju dará muito. Se você tiver só lido domínio estratégico da situação, você recua bem antes que o contexto fisiológico do paciente esteja em qualquer lugar perto do ponto sem retorno. Ser forçado a sair do tórax por causa de temperatura central de 33°C, pH 6,9 e um anestesiologista desesperado não é sinal de bom discernimento. Você deveria ter saído daquele tórax há muito tempo. Não use a “tríade letal” como guia para recuar Em vez da tríade letal, confie numa série de sinais sutis para indicar o desenvolvimento de um ambiente fisiológico hostil. Evidências Intra-operaíórias de Fisioiogia Hostil Edema da mucosa intestinal ; Distensão do intestino nò seü segmento médio Superfícies serosas escurecidas Tecidos frios ao toque | Parede abdominal inchada rião-complacente Sangramento difuso nas incisões cirúrgicas 14 TOP KNIFE Edema e distensão do intestino delgado são sinais de alarme relativa mente precoces, ao passo que sangramento difuso da incisão operatória é sinal tardio. Cirurgiões de trauma experientes optam pelo controle de dano em mi nutos ao entrar no abdome e às vezes antes mesmo de fazer a incisão! Freqüentemente reconhecem o padrão de lesão e de comportamento fisio lógico que, na sua experiência, quase sempre levam ao controle do dano. Você saberá mais sobre isto no capítulo sobre lesões toracoabdominais. Qual é a solução com a menor complicação? Se você escolhe como opção operatória o tratamento definitivo, em gera! há mais do que uma opção de trataménto. O dilema típico é entre um tra tamento mais rápido e simples e uma reconstrução complexa que leva mais tempo. Ao escolher entre várias soluções técnicas, considere não somente quão bem uma opção particular funciona, mas, mais importante, considere qual a possibilidade dela falhar. Que acontecerá se a anastomose vazar? Que será se o baço suturado começar a sangrar novamente? Há uma diferença enorme entre uma linha de sutura colônica que vaza e uma anastomose pancreatojejuna! que complicou. A primeira pode facil mente ser corrigida por derivação proximal; a segunda é uma complicação muito mais tenebrosa que não é fácil de tratar. O seu paciente pode tolerar uma complicação? Um paciente jovem saudável com lesão intestinal isola da sobreviverá a uma deiscência da linha de sutura gastrointestinal (Glj, Um paciente gravemente lesado, em falência de múltiplos órgãos, não. Escolha uma opção de tratamento definitivo com a menor complicação Liderança de equipe Imagine deparar-se com um furo inacessível numa veia ilíaca que se en contra no fundo da pelve. Seu paciente está em choque profundo e san grando abundantemente. Sua equipe tem apenas um circulante na sala. Dependendo de seu próximo pedido, o circulante irá atrás de seu porta- agulhas pessoal que tem o ângulo ideal para seus próximos 2-3 pontos, vai 1 0 Cirurgião de Trauma (3-D) j 15 trazer um cateter de Fogarty com balão que pode liberar seus dedos que estão comprimindo o sangramento, ou pendurar um dispositivo de auto- transfusão. Que é mais importante? Um circulante, três peças essenciais de equipamento ao mesmo tempo - a decisão é sua. Reavalie constantemente suas prioridades e sua equipe, adapte-se à situação e faça concessões. Diz-semuitas vezes que um cirurgião excelen te “pode operar com uma faca e um garfo”. O cíamp especial que você pe diu é mesmo essencial? Você pode se virar com um clamp não tão especial, porém disponível de imediato? O que vai precisar dentro de 5 minutos? E dentro de 10 minutos? A chave para uma operação tranqüila e bem coordenada é ficar adiante do jogo. Como regra, a instrumentadora deve estar pelo menos um passo na frente da operação em qualquer momento. Quando você estiver expon do um vaso lesado, a instrumentadora já deve ter clamps vasculares para controle proximal e distai. O circulante deve estar pelo menos dois passos adiante, certificando-se de que o cateter de Fogarty com balão e os fios de sutura de que você necessitará para trombectomia e reparo, estejam pre parados. Você, o cirurgião, deve estar pelo menos três passos adiante, con siderando suas opções de reconstrução. Assim como no jogo de xadrez, tanto melhor você é como jogador quanto mais adiante na operação você estiver. Fique bem adiante na operação Mantenha diálogo contínuo com a equipe de anestesiologia através da cortina que chamam de "barreira hematoencefálica” e forneça-lhe as in formações necessárias para que se mantenha adiante na operação. Lembre-se de que está trabalhando em uma de várias cavidades potencial mente lesadas, e muitas vezes o único sinal de que algo está incorreto em outro compartimento visceral será óbvio somente para o anestesiologista. Treine-se para ouvir o monitor enquanto está trabalhando e capte qualquer movimento ou barulho não-usual do outro lado da barreira hematoence fálica. Algumas vezes a parte mais crítica da operação acontece aí, fora de seu campo visual. Enquanto não puder vê-la, você pode treinar-se para senti-la. Mudanças freqüentes no plano operatório são aspectos salientes de ci rurgia do trauma, e é a sua responsabilidade de assegurar que os membros da equipe cirúrgica não fiquem para trás quando o plano operatório muda 16 TOP KNIFE repentinamente. Evite surpresas, compartilhando suas decisões táticas e estratégicas com eles. Por exemplo, considere o simples ato de transportar um paciente em controle de dano para a unidade de terapia intensiva (UTI) cirúrgica. Se a equipe não souber precocemente a sua intenção de recuar, você se encontrará na situação ridícula de ter realizado, neste mo mento, uma laparotomia de controle do dano com a velocidade da luz, só para ter de esperar por um tempo quase igual por uma cama. Diferente do xadrez, cirurgia do trauma é um processo dinâmico. No xa drez, as peças encontram-se simplesmente paradas, esperando que você dê um lance. A cirurgia de trauma avança inexoravelmente, você gostando ou não, confrontando-o com situações que mudam rapidamente. Se você for um cirurgião tridimensional eficiente, seu manejo das dimensões táticas, estratégicas e de equipe se traduzirá em um procedimento tranqüilo e efi ciente. P O N T O S - C H A V E . ► Esterilidade é um luxo no choque hemorrágico grave. ► Prepare-se sempre para o cenário mais grave. ► Conheça a manobra-chave e as armadilhas em cada passo operatório. ► Evite insistir no erro; aprenda a lidar com a falha técnica. ► Simplifique situações táticas complexas. ► Controle do dano é o “grande equalizador” da cirurgia do trauma. ► Não use a “tríade letal” como guia para recuar. ► Escolha uma opção de tratamento com a menor complicação. Fique bem adiante na operação. I 17 Capítulo 2 Pare o Sangramento! Sempre que você encontrar um sangramento maciço, a primeira coisa a lembrar é: não é o seu sangue. ^ Raphael Adar, M D , FACS Em 1989, enquanto discutia um artigo sobre lesões hepáticas, o Dr. Francis Carter Nance, de Nova Orleans, fez o seguinte comentário: “Eu gostaria de apresentar a classificação de Nance para lesões, a qual tem a vantagem de não necessitar olhar para o órgão lesado, mas sim para o médico residente que está em campo... Se ele olha para a ferida, boceja e delega o serviço para o residente júnior; então... tudo vai correr bem e haverá uma grande taxa de sobrevida. Se ele olha para a ferida e saliva,... significa que o residente terá de fazer algumas suturas e realmente ajudar o paciente; a taxa de mortalidade não será alta, e ele vai se sair muito bem durante a sessão de complicações e óbitos do hospital. Se o residente suar em bicas,... significa que ele irá suturar bastante, enfrentar uma complica ção, terá de se defender na sessão de complicações e óbitos do hospital e, provavelmente, sofrerá muita pressão. E se o residente grita e chama pelo assistente mais experiente,... você sabe que o paciente sairá mal.” (.Annals of Surgery 1990; 211; 673-674) Quando você está operando um paciente sangrando, tudo converge para uma simples pergunta: você pode parar o sangramento antes do sangue do paciente acabar? A chave para o sucesso não é como lidar com um clampe vascular, mas, sim, como lidar com você mesmo e com a sua equi pe. O controle do sangramento não significa fazer algumas manobras de mestre. Depende da habilidade de selecionar rapidamente as opções he- mostáticas apropriadas e empregá-las seqüencialmente de uma forma dis ciplinada e eficaz. Aqui está como fazer isso. Escolhendo uma opção hemostática Não pule de forma reflexa sobre um vaso sangrante com o primeiro clamp disponível na mão. Em vez disso, treine-se para pensar em cada situação 18 | TOP KNIFE de sangramento como um problema que precisa de uma solução efetiva. Existe sempre mais de uma alternativa. Seu trabalho é achar uma solução que funcione para a situação específica que se descortina à sua frente. Assim, a primeira regra do controle de sangramento é sempre selecionar a opção hemostática mais simples e mais rápida. Comece com a opção hemostática mais simples Quais são suas opções? Se você tem alguma experiência em cirurgia, sua lista deve começar com “não faça nada”. Esta, com freqüência, é uma ótima escolha, pois depender da hemostasia intrínseca funciona surpreen dentemente bem para algumas hemorragias pequenas, como a “babação” superficial de órgãos sólidos. Sua lista de opções provavelmente continua rá com eletrocauterização e ligadura e então gradualmente progredirá para o uso de suturas hemostáticas, aplicação de compressas, tamponamento com balonete, chegando até um reparo vascular clássico. Você não fará uma sutura hemostática a menos que meios mais simples tenham falhado ou sejam impróprios. Assim, o segundo princípio básico é uma resposta escalonada ao problema. O controle de sangramento é uma resposta escalonada Se a primeira solução que você escolher não funcionar, aumente gradual mente os seus esforços. Um cirurgião experiente rapidamente considera duas a três opções hemostáticas mais adequadas para uma dada situação. Este princípio da resposta escalonada tem um importante corolário: enquanto você emprega uma solução hemostática, pense adiante e prepare uma alternativa para o caso de a técnica escolhida não funcionar. Por que isso é importante? Quanto mais complexa for a próxima técnica hemostática, mais tempo esta levará para ser preparada. Quando achamos um sangramento maciço oriundo de um sítio inacessível, preparar uma alternativa passa a ser cru cial. Se a sua solução escolhida não funcionar e você não tiver uma alter nativa pronta de imediato, você estará em maus lençóis. Ter uma opção hemostática pronta não é um acidente. Requer planejamento cuidadoso e íntima familiaridade com o equipamento ou ferramenta que você vai preci sar e saber onde estes poderão ser encontrados. 2 Pare o Sangramento! 1 19 Tenha pronta uma opção hemostática alternativa Controle temporário e definitivo O controle temporário é como tapar um buraco em um balde com o seu dedo. O tratamento definitivo é consertar o balde. Em sangramento maciço,o controle temporário é sempre o primeiro passo porque permite abordar a situação e empregar a medida hemostática apropriada e definitiva. Soluções temporárias devem ser rápidas, efetivas e atraumáticas. Em certas situações, especialmente quando a fonte de sangramento é inaces sível ou de difícil controle, sua manobra de controle temporário (como apli cação de compressas ou tamponamento com balão) pode passar a ser a medida definitiva por que não há melhor opção^e você aplicou tempora riamente compressas em um fígado gravemente lesado e o sangramento parou, não remova as compressas. Você conseguiu a hemostasia efetiva - isso está bom o suficiente. Vamos à próxima. Obtendo controle temporário A pressão manual ou digital é uma excelente primeira esco lha. Controle o sangramento de uma laceração cardíaca com o seu dedo. Pince uma fonte de sangramento mesentérico en tre o seu indicador e o polegar. Comprima uma veia jugular in terna sangrante com o seu dedo. Insira um dedo numa ferida sangrante na virilha. 20 TOP KNIFE Peça ao seu assis tente para comprimir um fígado lesado entre as palmas de ambas as mãos. Usar suas mãos é rápido, instintivo, com pletamente atraumático e muito eficaz. Um erro clássico dos cirurgiões inexperientes é pegar uma pinça e ten tar aplicá-la às cegas em meio a uma poça de sangue. Isso nunca funciona. Pinças vasculares são efetivas quando o vaso-alvo estiver dissecado e iso lado, não quando estiver retraído para dentro do tecido ou for de difícil vi sualização. Pinçamento às cegas é um sinal de pânico. Você não só falha rá em controlar o sangramento, mas também vai terminar provocando uma lesão iatrogênica. O clampeamento inconseqüente da aorta torácica des cendente pode facilmente resultar numa avulsão da uma artéria jntercostal. Uma pinça aplicada grosseiramente à aorta supracelíaca pode perfurar o esôfago. Pinçamento às cegas da artéria de um membro em meio a um monte de sangue vai esmagar o nervo adjacente ou lesar a veia vizinha. A menos que você seja surpreendentemente talentoso, vai ser difícil conse guir perfurar o esôfago ou esmagar o nervo mediano com o seu dedo. O dedo é mais poderoso que o clamp Aplicação temporária de compressas é uma boa opção para superfícies difusamente sangrantes ou cavidades. Também libera suas mãos. Entretanto, aplicar compressas não controlará hemorragia arterial de grande monta. O controle do pedículo é outra opção. O órgão lesado tem um pedículo vascular facilmente acessível? O baço, o rim e o pulmão têm, assim como o intestino. Um dos dois pedículos vasculares do fígado é facilmente aces sível e pode ser rapidamente pinçado entre o polegar e o indicador ou pin- çado com uma pinça que não o esmague. É a famosa manobra de Pringle. Da mesma forma, se você mobilizar o baço ou rim, poderá rapidamente controlar o pedículo com seus dedos ou com uma pinça. Torcer o pulmão em torno dele mesmo é uma técnica simples e efetiva para o controle de hemorragia, como você descobrirá mais tarde (Capítulo 11). O controle temporário faz você ganhar tempo. Você pode relaxar por um momento, recuperar a circulação da sua mão que estava comprimindo o tecido, avaliar a situação e decidir como proceder. Verifique se o órgão sangrante tem um pedícuIo vascular Pequeno problema ou GRANDE CONFUSÃO? Agora que você conseguiu o controle temporário e o sangue não está mais se derramando por todo o campo operatório, você chegou à decisão tática principal no controle de hemorragia: a distinção entre um pequeno problema e uma GRANDE CONFUSÃO. Um pequeno problema é o sangramento que você pode controlar usan do uma manobra hemostática direta como pinçamento, sutura ou ressecção do órgão lesado. A hemorragia de um baço lesado é um pequeno problema, assim como uma laceração periférica do pulmão ou uma íesão hepática de grau leve. A grande maioria das situações de sangramento encontradas durante uma cirurgia de trauma pertence a esta categoria. GRANDE CONFUSÃO é outra coisa, totalmente diferente - uma lesão complexa ou inacessível que claramente impõe perigo imediato à vida do seu paciente. Uma lesão hepática complexa é o protótipo da GRANDE CONFUSÃO. Sangramento da veia ilíaca ou de uma artéria intercostal pos terior bem profunda na parte inferior do tórax são outros exemplos. A distinção entre um pequeno problema e uma GRANDE CONFUSÃO repousa numa combinação da velocidade do sangramento e da acessibili dade do vaso que está sangrando. Vários vasos mesentéricos periféricos rotos podem sangrar mais que um hematoma contido na raiz do mesenté- rio. Já fontes de sangramento mesentérico periférico são pequenos proble mas porque são acessíveis e de fácil controle. Sangramento da raiz do mesentério é GRANDE CONFUSÃO porque implica necessidade de repa ro vascular de um vaso mesentérico superior inacessível. A aorta abdominal superior é difícif de ser acessada e controlada; assim, um hematoma supramesocólico da linha média é sempre uma GRANDE CONFUSÃO, independentemente de quanto sangramento ele proporcionou. Hemorragia livre das veias retroepáticas é GRANDE CONFUSÃO, não ape nas porque é rápida e abundante, mas também porque você não pode che 2 Pare o Sangramento! 1 21 22 TOP KNIFE gar até !á. A acessibilidade depende da posição do paciente e da sua inci são. Por exemplo, uma lesão da parede posterior do tórax pode ser inaces sível mediante uma incisão de toracotomia ântero-íaterai, mas fácil de ser alcançada por uma toracotomia póstero-lateral. Aprenda a d istinguir entre um pequeno problema e uma GRANDE CONFUSÃO Pequenos problemas e GRANDE CONFUSÃO requerem pensamentos diferentes e táticas operatórias distintas. Você pode resolver um pequeno problema empregando diretamente soluções hemostáticas apropriadas de imediato até que o sangramento pare. Uma dessas soluções certamente funcionará, e a perda sanguínea sérá limitada, Se você tentar ficar “cabeça a cabeça” com uma GRANDE CONFUSÃO, você perderá. O paciente está profundamente hipotenso devido à perda sanguínea maciça. A equipe cirúrgica não tem idéia de quão grave é a si tuação, ou como você planeja lidar com ela. A visibilidade é ruim. As 10-12 unidades de sangue que o paciente vai precisar ainda estão no banco de sangue. Os instrumentos vasculares de que você vai precisar estão guar dados fora da sala de cirurgia. Em outras palavras, as circunstâncias estão pendendo contra você e seu paciente, mesmo antes de você começar. Um ataque frontal (como você fez para um pequeno problema) será como uma queda livre sem pára-quedas. A menos que faça algo para igualar as pro babilidades, você está acabado mesmo antes do início. E aí, o que fazer? A resposta pode surpreendê-lo. 2 Pare o Sangramento! | 23 Uma vez que você tenha conseguido o controle temporário - PARE! Resista à tentação de proceder ao controle definitivo logo de saída. Em vez disso, organize e otimize o seu ataque: ♦ Fale para a equipe de anestesiologistas que você está se preparando para perda sanguínea maciça, insista para que melhorem a reposição volêmica e obtenha pelo menos oito a 10 unidades de sangue e uma bomba de infusão rápida, ♦ Consiga um aparelho de autotransfusão preparado e funcionando. ♦ Peça à equipe cirúrgica para abrir e preparar as bandejas de instru mentos vasculares e de toracotomia. Peça a instrumentadora para deixar montados nos porta-agulhas apropriados vários fios de polipro- piieno (geralmente 3:0 a 5:0). ♦ Estabeleça suas próximas duas ou três opções hemostáticas, se você puder. Você vai precisar de equipamento adicional, como uma sonda de Foley ou cateter de Fogarty? Você vai precisar improvisar um tam ponamento com balão? ♦ Avalie a capacidade da sua equipe cirúrgica. Eles podem lidar com a tempestade que se aproxima? Você devechamar ajuda extra? ♦ Melhore a exposição ampliando sua incisão através da inserção de um afastador auto-estático ou através de um melhor posicionamento de seus assistentes. Enquanto todas essas preparações estão em andamento, não mexa no seu controle temporário. Deixe as compressas quietas, mantenha a pressão manual, e não movimente as pinças. 24 TOP KNIFE Não “fuce” - seja uma rocha Permaneça calma e pacientemente com sua mão na fonte de sangra mento e espere até que a equipe esteja pronta, o paciente tenha sido rea- nimado e os instrumentos e a ajuda apropriados estejam em campo. Você acabou de preparar o seu ataque cuidadosamente; agora, inicie a sua ba talha sob circunstâncias favoráveis. Quando lidar com a GRANDE CONFUSÃO, resista à tentação de se manter em movimento. O drama de hemorragia exsangüinante é tão gran de que a equipe espera que você “faça algo”. Parar a cirurgia no meio é exatamente a última coisa que eles esperam. Não obstante, insista em completar todos os preparativos mesmo que isso leve um tempo conside rável. Ocasionalmente, nós já mantivemos nossas mãos na fonte de san gramento por 15 minutos ou mais enquanto a equipe cirúrgica completava os preparativos para a guerra e o paciente estava sendo reanimado. Paciência, preparo e planejamento lhe conferem uma grande vantagem técnica e melhoram muito as chances do seu paciente. Nunca é demais enfatizarmos como é crítico distinguir entre um peque no problema e uma GRANDE CONFUSÃO. Essa pode ser a decisão mais importante de toda a operação; é com freqüência uma decisão subjetiva que depende da sua experiência e autoconfiança. Uma situação que um cirurgião com experiência lim itada em trauma considera GRANDE CONFUSÃO pode vir a ser um pequeno problema para um colega expe riente. Não obstante, se a sua impressão é que a situação merece um ata- que organizado, você jamais errará abordando a situação como uma GRANDE CONFUSÃO. Sempre peque por excesso de cautela Técnicas selecionadas de hemostasia Tamponamento 10Í O tamponamento por compressas é uma das técnicas pouco valorizadas e mais mal ensinadas na cirurgia do trauma. É também uma das suas me lhores armas para lidar com a GRANDE CONFUSÃO. Os cirurgiões tendem 2 Pare o Sangramento! I 25 a achar que aplicar compressas é um talento tão intuitivo que raramente se incomodam em ensiná-lo corretamente. Afinal, você não tem de ser um gênio cirúrgico para enfiar alguns pedaços de pano em volta de um fígado que está sangrando - errado! A primeira regra da aplicação de compressas é fazê-la precocemente. Uma vez que a aplicação de compressas depende da formação do coágu lo, ela apenas poderá ser eficaz se realizada quando o paciente ainda pode formar bons coágulos. Aplicar compressas como última cartada quando o paciente está com coagulopatia e vertendo sangue por todos os lados é inútil. Aplique compressas precocemente! Existem duas formas principais de colocação das compressas. Aplicar compressas de fora para dentro é criar um sanduíche. Aplicar compressas de dentro para fora é preencher uma cavidade. Aplique compressas de fora para dentro por meio do posicionamento de compressas de laparotomia por fora do órgão lesado para reaproximar pla nos de tecido lesados. Para atingir uma hemostasia efetiva, você deve criar dois vetores opostos de pressão que comprimem o tecido lesado entre eles; de outra forma, seu tamponamento não vai funcionar. O tamponamento efetivo é um sanduíche, não um embrulho. Esta técnica é fre qüentemente utilizada no fígado lesado. Um bom sanduíche ao redor do fígado consiste em duas camadas de com pressas (acima e abaixo ou anterior e posterior), aproximando entre elas os planos teciduais lesa dos. Essas camadas são suportadas, por sua vez, pela parede abdominal, pelo diafragma, ou por órgãos abdominais ad 26 I TOP KNIFE jacentes, como o estômago ou o intestino grosso. Você não pode criar um bom sanduíche pendurando dois pedaços de pão no meio do ar. Seu san- Aplicar compressas de dentro para fora é rechear uma fenda ou cavidade sangrando ativamente com gaze absorvente. O pre enchimento deve consistir na utilização de uma tira de gaze, que fica empur rando as paredes do pa- rênquima lesado de den tro para fora. Sua técnica de aplica ção de compressas deve ser concebida de acordo com a forma da lesão. Se está lidando com uma grande superfície hemor rágica ou múltiplas lesões em um órgão sólido, aplique compressas de fora para dentro. Quando aplicar compressas numa fenda com sangramento, como uma ferida perineal profunda de uma fratura pélvica aberta, aplique compressas de dentro para fora. Em lesões hepáticas graves, como a fra tura estrelada da cúpula do lobo direito, você vai, com freqüência, se en contrar usando uma combinação de ambas as técnicas. Aplicar compressas de fora para dentro ou de dentro para fora funciona em direções opostas A terceira regra da aplicação de compressas é evitar excesso de com pressas. Enquanto estiver construindo o seu sanduíche em volta do fígado lesado, preste atenção especial à pressão arterial do paciente. Se ela cair de repente, e o anestesiologista demonstrar sinais de nervosismo, as suas compressas podem estar comprimindo a veia cava inferior (VCl) e reduzin do o retorno venoso para o coração. Cuidadosamente remova algumas compressas e reavalie. duíche precisa ter um sentido mecânico. Excesso de compressas é ruim A quarta (e última) regra da aplicação efetiva de compressas é ser pa ranóico. Há sempre perigo de as suas compressas não funcionarem, mas isto geralmente leva tempo para ser descoberto. Compressas de laparoto- mia têm uma formidável capacidade de absorção, e o paciente pode conti nuar a sangrar debaixo delas. Se a fisiologia do paciente permitir, gaste pelo menos alguns minutos fazendo algo mais e então retorne à área tampona- da com as compressas e reexamine-a com olhos desconfiados. O sangue está começando a se acumular novamente nos cantos? As compressas estão ficando lentamente encharcadas? Se você não tem certeza, tire a camada mais superficial do sanduíche e dê uma boa olhada nas camadas mais profundas. Elas estão ficando cor-de-rosa e úmidas? Em caso afirma tivo, você terá de desfazer o sanduíche porque não atingiu uma hemostasia efetiva. Nunca confie no mecanismo de coagulação do paciente para com pensar um tamponamento ineficiente de compressas. A melhor hora de conseguir hemostasia é antes de deixar a sala de cirurgia, não 2 horas (e 12 unidades de sangue) mais tarde. E se o seu tamponamento não funcionar? Primeiro remova as compres sas molhadas uma a uma e inspecione mais uma vez a área lesada. Você tinha um bom sanduíche sustentado solidamente pelas estruturas circun- jacentes ou construiu um “sanduíche flutuante” no meio do ar, sem nenhum suporte? Você precisa colocar mais compressas? Você deve acrescentar compressas de dentro para fora ou de fora para dentro? Há uma fonte de sangramento arterial na área ferida? Em caso afirmativo, você deve lidar com ela diretamente usando outra técnica hemostática. Você pode fazer algo a mais para ajudar a parar o sangramento? Adicionar um agente he- mostático tópico? Uma sutura hemostática às cegas? Reaplique compres sas e espere novamente até que esteja certo de ter alcançado o controle efetivo do sangramento. Seja paranóico com seus tamponamentos Inserindo uma sutura hemostática às cegas (em forma de 8) Use uma sutura hemostática às cegas para controlar uma fonte de sangra mento que está invisível ou retraída dentro dos tecidos. Você não pode ver a fonte de sangramento, nem pode pinçá-la e ligá-la, mas pode imaginar onde ela está. Depois de usar suturas hemostáticas às cegas tantas vezes em cirurgia eletiva e emergencial, você pode sesentir confiante de que sabe como usá-la corretamente. Existe, entretanto, uma possibilidade de que você não saiba. Aqui estão algumas dicas: 2 Pare o Sangramento! | 27 ♦ Certifique-se de que a situação anatômica é apropriada para uma su tura hemostática às cegas. Se o sangramento está próximo a um vaso de grande calibre que não está exposto, considere sempre que este vaso de grande calibre é a fonte de sangramento e exponha-o. ♦ Use uma sutura monofilamen- 28 1 TOP KNIFE é alcançar a hemostasia, mas “pegar” uma boa parte do te cido, de tal forma que você possa suspendê-lo puxando gentilmente a sutura com a sua mão não-domínante. Agora você po derá ver de que lado da sua primeira “pegada” a fonte de sangramen to está espirrando. Sua próxima “pegada” será para hemostasia, e uma vez que ela está, agora, bem direcionada, vai fazer um bom trabalho. ♦ Se alguma vez alguém se preocupou em ensinar-lhe sobre suturas hemostáticas às cegas, você provavelmente sabe que o seu objetivo é dar um ponto em forma de 8, ponto este que corre sob o vaso proxi- mal e distalmente ao local de sangramento. Isso é simples em teoria, mas na prática você pode não ter certeza sobre em qual direção estão os vasos sangrantes. Por isso, esta sutura é denominada em ponto cego. Não fique desapontado se você precisar de mais pontos. Está correto dar três ou quatro “pegadas” em vez de duas, desde que este jam bem próximas e funcionem. Nós chamamos essa sutura de quatro “pegadas” de uma “figura em forma de 16”. ♦ Freqüentemente, se você tracionar sua sutura cega, vai parar o san gramento. Você precisa então decidir se quer usá-la meramente como uma manobra hemostática temporária ou amarrá-la como uma solução permanente. Se você decidir amarrá-la, lembre-se de deixar as pontas compridas, porque você pode desejar removê-la mais tarde. ♦ Posicione a sua primeira “pe gada” o mais próximo possível ao local de sangramento. O propósito desta “pegada” não tar que irá escorregar através do tecido em vez de funcionar como uma “serra” . Por mais estranho que possa parecer, a chave para o sucesso não é a sutura, mas o tamanho da agulha. Escolha a maior agu lha que seja apropriada à situ ação. 2 Pare o Sangramento! j 29 Enquanto estiver inserindo um ponto cego, planeje sua próxima alterna tiva hemostática. A experiência nos ensinou que se você não obteve he mostasia com quatro “pegadas”, provavelmente não vai consegui-la com esse ponto. Não amoleça. Tente algo mais. A primeira “pegada” de um ponto hemostático serve para tracionar os tecidos Clampeamento aórtico O clampeamento aórtico é uma das manobras heróicas tradicionais na ci rurgia do trauma. Use-o como um adjunto à reanimação em um paciente que está entrando em choque ou para controle global proximal em um gran de trauma vascuiar abdominal. Você dificilmente aprenderá como controlar adequadamente a aorta abdominal supracelíaca se tentar fazê-!o pela pri meira vez numa barriga cheia de sangue. Aprenda e pratique a técnica sob circunstâncias eletivas. Use o clampeamento aórtico criteriosamente, não reflexamente. Quando usado como um adjuvante da reanimação, corrige temporariamente os va lores da pressão arterial, mas ao preço da isquemia visceral global. Como com qualquer sangra mento importante, a melhor ferramenta disponível imediata mente é a sua mão. Puxe o es tômago para baixo e pressione diretamente o pequeno omento em sua porção avascular. Sinta a aorta pulsando imediatamen te abaixo e à direita do esôfago, e comprima contra a coluna. Se você está ocluindo a aorta como uma manobra de reanimação, a compressão manual é fre qüentemente suficiente. Se você realmente precisa do controle aórtico, continue com o ciam- peamento da aorta supraceíía- ca aíravés do abdome. 30 TOP KNIFE A principal consideração anatômica no clampeamento supraceliaco é que você está clampeando a aorta torácica baixa, mas fazendo isso através do abdome. No local em que passa entre os ligamentos diafragmáticos, a aorta é envolvida por tecido denso fibroso e neural. Nesse segmento aór- tico, particularmente, é difícil se obter uma boa aquisição de tecido com um clamp vascular sem fazer a dissecção ao redor da aorta. Sua melhor chan ce, portanto, é ascender para o interior do tórax inferior. Clampele a aorta torácica baixa através do abdome Se você tiver tempo, mobilize v- ■----- .... o lobo lateral esquerdo do fíga do realizando uma incisão do ligamento triangular esquerdo. Isso melhora o seu espaço de trabalho, mas não é essencial para chegar à aorta. Divulsione com os dedos abrindo o peque no omento imediatamente à direita da pequena curvatura do estômago, e insira um afastador de Deaver dentro do orifício. A tração do estômago e do duo- deno para a esquerda expõe o peritônio posterior da retrocavi- dade e, embaixo dele, o pilar direito do diafragma. Palpe o pulso da aorta aci ma da borda superior do pân creas para se orientar. Divul- sionando com os dedos, faça um orifício no retroperitônio, e, então, usando o seu dedo ou tesouras de Mayo com pontas rombas, separe os dois feixes do pilar direito do diafragma para expor a parede anterior da parte mais baixa da aorta torá cica. 2 Pare o Sangramento! I 31 Usando os dedos da sua mão esquerda, crie espaço suficiente dos dois lados da aorta para acomodar uma pinça. Essa é toda a dissecção que você precisa. Pegue um clamp aórtico e leve-o até a posição correta, usando os dedos da sua mão es querda cómo guia, Clampeie e cheque a pulsação da aorta dista). O clampeamento aórtico tende a se aprofundar dentro da ferida. Envolva-a com uma fita umbilical1 e fixe a fita ao campo acima do tórax inferior do paciente para fixar os clamps. Você terminou. p í o n í -ó .s - ç j í :À y é . Comece com a opção hemostática mais simples. O controle de sangramento é uma resposta escalonada. Tenha pronta uma opção hemostática alternativa. O dedo é mais poderoso que o clamp. Verifique se o órgão sangrante tem um pedículo vascular. Aprenda a distinguir entre um pequeno problema e uma GRANDE CON FUSÃO. Não “fuce” - seja uma rocha. Sempre peque por excesso de cautela. 1N.T.: No Brasil, geralmente é utilizada a fita cardíaca ou fita vascular. ► Aplique compressas precocemente! ► Aplicar compressas de fora para dentro ou de dentro para fora funcio na em direções opostas. ► Excesso de compressas é ruim. ► Seja paranóico com seus tamponamentos. ► A primeira “pegada” de um ponto hemostático serve para tracíonar os tecidos. ► Clampeie a aorta torácica baixa através do abdome. 32 I TOP KN1FE Capítulo 3 Seu Kit Vascular 33 Seres humanos são quase únicos na habilidade de aprender por meio da experiência de outros; são também extraordinários pela sua aparente inclinação a não fazê-lo. -■ Douglas Adams Imagine que você está se preparando para reparar uma lesão causada por um tiro de revólver na artéria femoral. O paciente de 29 anos de idade tem uma fístula arteriovenosa bem abaixo da virilha direita. Você sente um frêmito forte e ouve um sopro. Isto definitivamente é o que nossos residen tes chamam de “um grande caso”. Você tem um pequeno problema: não há angiografia da área lesada. Pensando bem, você não tem nem heparina nem fio monofilamentar para sutura. Você não tem nem mesmo um clamp vascular apropriado. Seu gran de caso está rapidamente se tornando um pesadelo. Como você se sentiria se suas únicas ferramentas fossem algumas suturas de fios de algodão, com agulhas retas e um par de clampes vasculares? Você consegue se imaginar pegando um bisturi e simplesmente indo atrás do vaso lesado? Isso foí exatamente o que J.B. Murphy, um surpreendente cirurgião de Chicago, fez em 1897. Eletratou uma fístula arteriovenosa armado apenas com um conhecimento detalhado de anatomia, anos de prática em reparos vasculares em laboratório e com coragem. A operação durou 2,5 horas, correu tranqüilamente e sem complicações. Mais de 100 anos depois, você encontra uma fascinante gama de ins trumental vascular à disposição para enfrentar grandes traumas vasculares. No entanto, você não pode se concentrar em uma artéria poplítea lesada e esquecer que ela pertence a um paciente criticamente ferido que também tem uma fratura de pelve, uma contusão pulmonar e possivelmente uma hemorragia intracraniana. Primeiramente, este capítulo irá familiarizá-lo com princípios gerais úteis para guiá-lo quando você se deparar com uma lesão vascular. Acreditamos que você esteja familiarizado com técnicas vasculares básicas e lhe mos traremos como adaptá-las a uma situação de trauma. Em segundo lugar, 34 TOP KNIFE apresentaremos um conjunto de opções técnicas úteis para o controle de danos e tratamento definitivo de lesões vasculares. Lembre-se, um bom resultado em trauma vascular depende muito mais de se pensar claramen te e estabelecer as prioridades certas do que de equipamentos modernos e técnicas elaboradas. Tenha seu kit em mente quando for aprender a lidar com lesões vasculares específicas nos capítulos subseqüentes. Seqüência e prioridades Como em qualquer outra cirurgia de trauma, ao se deparar com lesões vasculares graves, evite fazer “descobertas interessantes” mediante uma seqüência bem-definida de passos. Controle temporário de sangramento Exposição ampla Controle definitivo Decisão Sfam f Sangramento e isquemia, as duas manifestações de trauma vascular, representam prioridades diferentes. Uma artéria carótida sangrando é uma ameaça imediata à vida do paciente e deve ser controlada IMEDIATAMENTE! Ao contrário de uma perna isquêmica causada por lesão da artéria femoral superficial, quando você tem um certo tempo para salvar a perna. Por isso o sangramento é parte do ABC do atendimento inicial do traumatizado; e a isquemia, não. Sangramento e isquemia são prioridades diferentes 3 Seu Kit Vascular 35 Controle do sangramento externo Obtenha o coníroie inicial da hemorragia externa simples mente por pressão digitai ou manual. Se possível, transfira rapidamente a responsabili dade de comprimir o vaso que está sangrando para um as sistente e prepare-se para a operação. Seu assistente pode continuar a aplicar pressão enquanto você faz uma inci são para expor o vaso lesado, proximal à lesão (ou em torno) da mão que o está comprimindo. Use um cateter com balão quando a fonte do sangramento for profunda e o ferimento for estreito (p. ex., ferimento por arma de fogo), especialmente em zonas de transição entre o tronco e os membros, como a virilha, a fossa supra- cfavicular, a axila ou o pescoço. Nesses locais, a compressão manual é menos eficiente. Insira uma sonda de Foley no local do sangramento, insufle o balão até que o sangramento pare, e depois feche a válvula principal da sonda de Foley. Se o ferimento for largo e o balão escapar, suture as bordas do ferimento para ajudar a mantê-lo no lugar certo. O tamponamento com balão controla o sangramento externo em zonas de transição 36 1 TOP KNIFE Antes de começar Não inicie uma exploração vascular sem o conhecimento da gravidade do trauma do paciente. Quanto tempo se passou desde a lesão? Quanto o paciente sangrou? Qual é a urgência da contusão cerebral? Qual é o plano de ação para a fratura na extremidade em que você está trabalhando? Você deve incorporar todas essas informações para tomar decisões ou acabará fazendo uma formidável reconstrução vascular - em um paciente morto. Conheça a gravidade do trauma do paciente e suas condições fisiológicas A adoção de uma seqüência adequada é um fator fundamental no trau ma vascular periférico, pois lesões em membros tipicamente também en volvem ossos, nervos e partes moles. Em geral, o realinhamento ósseo deve ser feito antes da correção vascular. Redução de fraturas envolve ati vidades bizarras como martelar, cortar, perfurar, manipular ossos e outros truques que um fio 5:0 não tolera muito bem. Sendo assim, se o membro não estiver muito isquêmico e o procedimento ortopédico planejado for cur to (p. ex., fixação externa), deixe o ortopedista trabalhar antes da exploração vascular. Se o membro estiver muito isquêmico ou se a lesão estiver san grando ativamente, você deve iniciar imediatamente. Controle a artéria le sada, insira um shunt temporário e faça uma fasciotomia para aumentar a tolerância do membro à isquemia. Deixe o ortopedista terminar o realinha mento ósseo e só então faça o reparo vascular definitivo na extremidade estável. Realínhe os ossos antes da reconstrução arterial Angiografia Angiografia pré-operatória não é uma opção para o paciente hemodinami- camente instável ou sangrando ativamente. Em um paciente estável, tente conseguir uma angiografia, especialmente se não tiver certeza do local da lesão. Considere um paciente com múltiplos ferimentos por arma de fogo ou diversas fraturas na mesma extremidade. Como você saberá onde está a lesão sem um “mapa”? Uma lesão penetrante única é mais simples por que você pode encontrá-la através de uma exploração limitada, sendo des necessária a angiografia. 3 Seu Kit Vascular I 37 Dependendo da sua experiência e das circunstâncias locais, você tem três opções para obter uma angiografia: 1. Uma angiografia rápida de imagem única na sala de emergência - cada vez menos utilizada. 2. Um estudo formal em uma sala de angiografia ou na sala de operação - a intervenção endovascular pode eliminar a necessidade de cirurgia aberta. 3. Uma angiografia intra-operatória por cateterização da artéria exposta - melhores resultados são obtidos por clampeamento do fluxo aferen- te antes de injetar o contraste. Se o paciente estiver estável, consiga uma angiografia Fasciotomia preemptiva Considere a realização de uma fasciotomia antes de começar o reparo vas cular, e não quando a síndrome compartimental estiver clinicamente óbvia. Ao operar uma extremidade isquêmica, você geralmente sabe que o repa ro formal vai levar algum tempo. A opção mais segura é a fasciotomia pre- empíiva. Um reparo na artéria poplítea é um bom exemplo. Independentemente da sua experiência, reconstruções poplíteas sempre demoram mais do que você espera. A natureza imperdoável dessas lesões e a escassez de cola terais ao redor do joelho praticamente garantem que você não terminará esse procedimento sem uma fasciotomia. Seja esperto. Faça uma fascioto- mía antes da reconstrução vascular. ^ Fazemos uma fasciotomia dos quatro compartimentos usando uma téc nica de incisão dupla. Faça uma incisão lateral aproximadamente a dois dedos ao lado da borda lateral da tíbia. Abra a fáscia amplamente em dire ção ao tornozelo; identifique e faça uma incisão no septo intermuscular separando os compartimentos anterior e lateral. Evite lesar o nervo pero- neiro lateral que passa nas proximidades da cabeça dafíbula. A seguir, faça uma incisão mediai de aproximadamente um dedo atrás da borda mediai do corpo tibial. Lesão da veia safena interna não é parte dessa incisão, portanto tenha cuidado. Usando um bisturi elétrico, solte o músculo sóleo da face mediai da tíbia para descomprimir o compartimento profundo pos terior. 38 TOP KNIFE Faça uma fasciotomia preemptiva antes da correção cirúrgica da artéria poplítea Exposição ampla e principais pontos de referência O princípio fundamental da exploração vascular é a exposição extensa que significa que você deve ser capaz de estender sua incisão proximal ou dis- talmente ao longo do mesmo eixo da incisão original. Os exemplos óbvios são
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