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MARTHA FALCÃO - WYDEN CURSO DE DIREITO Marcelo Cardoso Castro APLICAÇÃO DA TEORIA DA CEGUEIRA DELIBERADA NOS CRIMES DE LAVAGEM DE CAPITAIS. MANAUS 2019 Marcelo Cardoso Castro APLICAÇÃO DA TEORIA DA CEGUEIRA DELIBERADA NOS CRIMES DE LAVAGEM DE CAPITAIS. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Wyden– Martha Falcão como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. (a) Cyntia Costa de Lima MANAUS 2019 Castro, Marcelo Cardoso. C355a Aplicação da Teoria da Cegueira Deliberada nos Crimes de Lavagem de Capitais. / Marcelo Cardoso Castro. Manaus: IESA, 2019. 21 f. Artigo apresentado ao Instituto de Ensino Superior da Amazônia, Faculdade Martha Falcão | Wyden, ao Curso de Direito, 2019. Orientador: Prof.ª Cintya Costa Lima. Bibliografia. 1. Doutrina da cegueira deliberada. 2. Responsabilidade penal. 3. Princípios da legalidade. 4. Justiça. 5. Lavagem de capitais. I. Faculdade Martha Falcão | Wyden. II. Título. CDD 345.81 APLICAÇÃO DA TEORIA DA CEGUEIRA DELIBERADA NOS CRIMES DE LAVAGEM DE CAPITAIS. Marcelo Cardoso Castro1 Cyntia Costa de Lima2 RESUMO O presente artigo faz uma breve revisão de literatura acerca da importância da teoria da cegueira deliberada e sua aplicabilidade nos crimes de lavagem de dinheiro. Neste contexto verificarmos sua origem, e compararmos como é aplicada pelos estadunidenses e pelos Brasileiros, a doutrina, versos o princípio da legalidade e dá culpabilidade, se realmente faz justiça. Desta forma demostrar os recentes julgados e decisões dos tribunais superiores a respeito desse assunto muito usado nos crimes alcançados pela operação lava jato. PALAVRAS CHAVES: Doutrina da Cegueira Deliberada. Responsabilidade Penal. Princípio da legalidade. Justiça. Lavagem de Capitais. ABSTRACT The present article briefly reviews the literature on the importance of the theory of deliberate blindness and its applicability in money laundering crimes. In this context we verify its origin, and compare how it is applied by the Americans and the Brazilians, the doctrine, verses the principle of legality and gives guilt if it really does justice. In this way to demonstrate the recent judgments and decisions of the superior courts on this subject much used in the crimes reached by the operation lava jet. KEYWORDS: Doctrine of Deliberate Blindness. Criminal Responsibility. Principle of legality. Justice. Money laundry. 1. INTRODUÇÃO Com o advento das operações iniciadas pela polícia federal no combate contra os crimes de corrupção, podemos vislumbrar um aumento em consequência do crime de lavagem de capitais, crime este tipificado no artigo 1º da lei n. 9.613 de 19983, define a lavagem de capitais como “ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime”, já a nova legislação no artigo 1º, § 1o, da lei n. 1 Acadêmico de Direito da Faculdade Martha Falcão- Wyden. E-mail: carnivau@gmail.com 2 Possui graduação em direito pela Universidade do Estado do Amazonas (2009) e Mestrado em Programa de Pós-Graduação em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas (2012). Membro da comissão de meio ambiente - Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Amazonas, docente da Instituição de Ensino Wyden/Martha Falcão, atuando principalmente nos seguintes temas: poluição; resíduos sólidos; justiça ambiental, valoração; águas; políticas públicas, direito à cidade, meio ambiente e balneabilidade. 3 artigo 1º da lei n. 9.613 de 1998: “ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal”. 5 12.683/20124, " Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes direta ou indiretamente, de infração penal”, neste contexto podemos vislumbrar a aplicação da teoria da cegueira deliberada, de origem anglo-saxônica, mas que teve sua aplicação em definitivo no USA, que certo tempo vem sendo usada em nosso pais, nos crimes econômicos e financeiro, de lavagem de capitais, crimes contra a administração pública e tráfico de entorpecentes. Como sabemos em se tratando do direito penal Brasileiro, a analogia somente deve ser utilizada para os julgadores preencherem as lacunas legislativas de forma a delimitar a interpretação fiel da lei e desde que, com isso, não traga consequências ao acusado, por outro lado, não pode o julgador vale-se desse artificio hermenêutico para conceber ou alterar direitos principalmente quando trazer algum malefício ao réu e atendendo aos princípios da legalidade e culpabilidade. Há uma inclinação visível que a doutrina da Cegueira Deliberada obtenha mais seguidores em virtude dê a mesma começar a se firmar como categoria de imputação subjetiva pelo tribunal Penal Internacional, por ordem do Estatuto de Roma5, que vigorou em 01 de julho de 2002, e está na época atual com 121 países. O Brasil assinou também o tratado de Viena no qual se pactuou a coibir lavagem de capitais referente ao tráfico de drogas, Convenção contra o tráfico ilícito de entorpecentes e substância psicotrópicas (Convenção de Viena), assinado na cidade de Viena em 20 de dezembro de 1988, é promulgada pelo brasil por meio do Decreto 154/19916, que determina os países signatários precisariam adotar providencias para tipificar como crime a lavagem ou ocultação de bens oriundos do tráfico de drogas. Objetivo do artigo, é discorrer sobre a dificuldade da aceitação da teoria da cegueira deliberada e a sua aplicabilidade no direito pátrio, em decorrência ao crime de lavagem de capitais, a necessidade ou não do conhecimento do indivíduo antes e durante a execução da ilicitude, os efeitos de sua aplicação nos processos em andamento e nas condenações baseadas nessa teoria. 4 artigo 1º, § 1o a lei n. º 12.683/2012: “Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal”. 5 BRASIL. Decreto n. º 4.388, de 25 de setembro de 2002. Promulga o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4388.htm>. Acesso em: 01 junho. 2019. 6 BRASIL. Decreto n. º 154, de 26 de junho de 1991. Promulga a Convenção de Viena Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas. Disponível:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0154.htm>. Acesso em: 23 junho. 2019. 6 A metodologia utilizada para desenvolver o presente artigo foram, o método lógico dedutivo, baseando-se na normativa, com pesquisa bibliográfica sobre o tema, foi realizada por meio de artigos jurídicos, doutrina, revistas jurídicas, casos concretos, normasconstitucionais e infraconstitucional. Se justifica em virtude que há certo tempo os doutrinadores se divide sobre a admissibilidade do dolo eventual para crime de lavagem de capitais, não havendo previsão legal da lavagem culposa, se o indivíduo não consegue perceber que o produto e de origem delitiva fica mascarado por descuido ou imprudência, respondendo o terceiro que determinou o erro, se existir, § 2º do art. 20 do código Penal7. Na doutrina aqueles que só a plena consciência pode-se levar a pratica do crime de lavagem de capitais, pois e assim está descrito na lei (dolo direto), por outro lado, há doutrinadores quem afirmam que basta a mera suspeita da origem infracional (dolo eventual), para que se afaste o erro do tipo. Inicialmente examinamos o contexto histórico, para capitarmos porque ela existe, como acontece e quais são os fundamentos implicados. Em seguida, demonstraremos a sua importância. Então, compararemos sua aplicabilidade tanto no Estados Unidos como no Brasil. A sua aplicabilidade versos o princípio da legalidade e culpabilidade. Concluímos com o questionamento se realmente a teoria faz justiça. 2. CONTEXTO HISTÓRICO A expressão “lavagem de capitais” aparece nos EUA, o primórdio do vocábulo tem sua origem na cidade de Chicago, na década de 1920, em que vários chefes do crime organizado constituíram lavanderias de aparência nas quais superfaturavam os ganhos para que se explicasse seus proventos ilícitos e seu alto nível de padrão de vida. Os delinquentes, por conseguinte, lavavam pouca roupa, mas muitas cédulas, em cada estado pais, tem sua nomenclatura como, por exemplo na Europa e chama de “branqueamento de capitais”, lavar dinheiro é transmudar o dinheiro ora de origem desonesta, para presumivelmente honesta. A lavagem de capitais precisa para ser tipificada uma infração penal antecedente, esta infração varia de estado para estado, em alguns antevê um único crime outrem são muitos tipos e outros ainda constituem a ocultação ou dissimulação dos ganhos de qualquer infração penal pode caracterizar-se lavagem de capitais. 7 artigo 20, §2º do Decreto Lei 2.848 07/12/1940, §2 “Responde pelo crime o terceiro que determina o erro”. 7 Baseando-se nas dessemelhanças das várias leis, os catedráticos arquitetaram a ideia da existência de três progenituras de leis sobre a lavagem de capitais no globo, que são: Primeira Geração: São os estados que prediz apenas o tráfico de drogas como crime antecedente da lavagem de capitais, e chamado assim, pois foi as primas das leis a incriminar a lavagem de capitais, e tão-somente prediziam o tráfico de drogas como crime antecedente pois, foram editadas após a convenção de Viena, que definia que os estados signatários tipificassem como crime a lavagem ou ocultação de bens provenientes do tráfico de drogas. O de segunda geração: são leis que foram editadas ulteriormente trazendo com sigo um arrolamento maior, de crimes antecedentes e em consequência aumentada o braço da justiça frente os crimes de lavagem de capitais, estados como Portugal, Brasil a Alemanha, no caso do Brasil até o surgimento da lei n. º 12.683/128. E por último o de terceira geração que nos fala que qualquer ilícito penal pode ser antecedente de lavagem de capitais, a ocultação ou dissimulação dos ganhos obtidos com qualquer infração penal pode caracterizar lavagem de capitais, temos como estados os EUA, México, Bélgica, Itália, França, Brasil, com o advento da lei n. º 12.683/12. Já teoria da cegueira deliberada ou a instruções do (avestruz), historicamente falando teve o seu surgimento na Inglaterra, em uma sentença de 1861, no caso de Regina V. Sleep9, o ocorrido o senhor sleep colocou em uma embarcação mercantil barris que continham parafusos de cobre, alguns dos quais estavam marcados com um sinal em forma de flecha, fato que indicava que eram de propriedade do estado, desta forma, o júri da primeira instância lhe condenou como autor do delito de malversação de bens públicos. Em grau de recurso, Sleep afirmou que não tinha conhecimento de tal circunstância, e o juiz willes concluiu que a decisão do júri deveria ser revogada ante a inexistência de provas de que o acusado sabia que os bens marcados eram de propriedade estatal, bem como por não haver elementos que atestassem que ele se absteve intencionalmente de obter tal conhecimento. 8 BRASIL. Lei nº 12.683/12, de 09 de julho de 2012. Altera a Lei no 9.613, de 3 de março de 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12683.htm>. Acessado em: 23 de junho de 2019. 9 ROBBINS, Ira P. The Ostrich Instruction: Deliberate Ingnorance as a Criminal Mens Rea. The Jumal of Criminal Law and Criminology, 81, (1990), p.196. 8 Essa questão pode dizer que aí nascia o que seria a teoria da cegueira deliberada anglo-saxônica, apesar de não ser aplicado no caso em questão, mas como podemos verificar se tivesse elementos probatórios que pudesse demostrar que o recorrente se prescindiu intencionalmente de saber de quem era os bens em questão, a sentença seria a mesma ao primeiro gral, igualara-se ao desconhecimento intencional com o conhecimento pleno. Em 1875, o caso Bosley v. Davies surgiu com ênfase à Willful Blindness, recomendando a sua aplicabilidade, Daveis era dono de uma pensão e foi acusado de autorizar jogos ilícitos nas dependências de seu estabelecimento, o réu declarava que não tinha conhecimento do ato ora ilegal que vinha sucedendo em sua pensão, e que tal consciência era primordial para a pertinência penal da ação. O fórum, contudo, divergiu, alegando que o discernimento real não é essencial, mas deve haver circunstâncias a partir das quais se pode presumir que Davies ou os seus empregados eram coniventes com a prática ilícita dos jogos. Assim, até o final do século XIX, a Doutrina da Cegueira Deliberada foi estabelecida como uma alternativa ao conhecimento no ordenamento jurídico penal inglês. 3. A IMPORTANCIA DO ESTUDO DA TEORIA. O estudo dessa teoria e de supra importância, pois a mesma já vem sendo aplicada analogamente em nosso país, em jugados exarados pelos tribunais, principalmente com o advento da operação “lava jato”, encabeçada pelo juiz Sérgio Moro um fervoroso dessa teoria, que já vem usando a mesma em sentenças exaradas por ele na mesma operação. Há de se observar a necessidade de que os legisladores, contemplem essa teoria e acrescente em nosso ordenamento jurídico, visto que a mesma já vem sendo usada analogicamente, dessa forma trazendo segurança jurídica para as decisões emanadas pelas cortes, como o direito se molda conforme a necessidade da sociedade, e conforme também as novas técnicas usadas por aqueles que tem a intenção de sempre burlar as normas vigentes em benefício próprio ou de outrem, e com o advento dos crimes transnacionais temos que está um passo afrente neste contexto, pois se as outras cortes com Espanha10 já aplicam também essa teoria conforme: 9 Na entrega do dinheiro para José J., Miguel estava acompanhado de Hebe, e José J. cobrava uma comissão de 4%. A Câmara chega à conclusão de que José J. estava ciente de que o dinheiro vinha da indústria farmacêutica - o que ele nega - de fatos tão óbvios quanto o fato de que a quantia era muito importante e da natureza claramente clandestina das operações, então que quem se coloca em uma situação de ignorância deliberada, isto é, não quer saber o que pode e deve ser conhecido, e mesmo assimse beneficia dessa situação - ele recebeu uma comissão de 4% - está assumindo e aceitando todas as possibilidades da origem do negócio em que participa e, portanto, deve responder por suas consequências.11 Deve-se considerar a celeuma doutrinária com relação à aplicação dessa teoria, o que não se pode e deixar impunes elementos que se prevalecem das brechas deixadas pela legislação para fugir da responsabilidade que lhe e devia em virtude de seus atos praticados com o intuito de lesar o patrimônio nacional, dosando-se bem a sociedade como um todo sai ganhando com aplicação dessa teoria, mas tem que ser observado a sua aplicação para que não se cometa injustiças, para tanto a necessidade de estudos para mesma ser incluída em nosso ordenamento jurídico como dito anteriormente. Verificando o artigo 1.º da lei n. º 9.613/98, que ora fora alterada pela lei n. º 12.683/12, podemos observar que os comportamentos alternativamente presumidos são ocultar e dissimular, com isso o legislador almejou uma atuação múltipla tanto comissiva como omissiva de lavagem de capitais. Prosseguindo na leitura do referido artigo, vislumbramos que é imposto tão meramente o dolo genérico para a composição do delito, ou seja, consciência e vontade de consumação dos elementos objetivos do tipo, a lei brasileira não reivindica alguma intencionalidade típica, bastando com isso compreender e desejar o resultado típico. Com o advento da lei n. º 12.683/12, podemos verificar uma nova análise do tipo de dolo eventual nos crimes de lavagem de capitais. Pierpaolo Bottini, tange o dolo eventual na lavagem de capitais, apesar disso, percebe que é viável nivelar a Teoria da 10 Versão original: “En la entrega del dinero a José J., Miguel estuvo acompañado de Hebe, y José J. cobrara un 4% de comisión. La Sala extrae la conclusión de que José J. tuvo conocimento de que el dinero procedía del negocio de drogas -cosa que él niega- de hechos tan obvios como que la cantidad era muy importante y de la natureza claramente clandestina de las operaciones, por lo que quien se pone en situación de ignorancia deliberada, es decir no querer saber aquello que puede y debe conocerse, y sin embargo se beneficia de esta situación -cobraba un 4% de comisión-, está asumiendo y aceptando todas las posibilidades del origen del negocio em que participa, y por tanto debe responder de sus consequências”. 11 RAGUÈS I VALLÈS, Mejor no saber, sobre la doctrina de la ignorancia deliberada en Derecho penal. Barcelona. 2013. p. 20. 10 Cegueira Deliberada ao dolo eventual, desta forma sua utilização no mencionado delito. Assim entende o Pierpaolo Bottini12 Pessoalmente discordo da possibilidade de dolo eventual na lavagem de dinheiro. Mas, caso se admita a hipótese, algumas cautelas são necessárias. Antes de tudo, é fundamental notar que o dolo eventual, ainda que careça da vontade de resultado e da ciência plena da origem ilícita do bem, exige uma consciência concreta do contexto no qual se atua. Como ensina Roxin, não basta uma consciência potencial, marginal, ou um sentimento. Deve-se averiguar se o agente percebeu o perigo de agir, e se assumiu o risco de contribuir para um ato de lavagem. A mera imprudência ou desídia não é suficiente para o dolo eventual. A operação Lava Jato, sendo considerada absoluta devassa nos crimes de lavagem de capitais que já houve no estado brasileiro, conta-se que as riquezas apartadas resultem em bilhões de reais. O Parquet Federal descobriu uma enorme estrutura criminosa, buscando e demandando quatro instituições infratora encabeçada por doleiros, fora constatado uma estrutura criminosa de aliciamento comprometendo a Petrobrás. Conforme o Parquet Federal13, a alcunha de Operação Lava Jato explica-se pois: O nome do caso, “Lava Jato”, decorre do uso de uma rede de postos de combustíveis e lava a jato de automóveis para movimentar recursos ilícitos pertencentes a uma das organizações criminosas inicialmente investigadas. Embora a investigação tenha avançado para outras organizações criminosas, o nome inicial se consagrou. O juiz federal Sérgio Moro, nos autos da ação penal n.º 5013 405- 59.2016.4.04.7000 (2007)14, nesta mesma operação, sentenciou Mônica Regina Cunha Moura e João Cerqueira de Santana filho pelo crime de lavagem de capitais, argumentando seu julgamento conforme os parâmetros da teoria da Cegueira deliberada: Sem embargo do que mais se poderia escrever, é possível concluir que, desde que se tenha prova de que o agente tinha conhecimento da elevada probabilidade da natureza e origem criminosas dos bens, direitos e valores envolvidos nas condutas de ocultação e de dissimulação e de que ele escolheu agir e permanecer alheio ao conhecimento pleno desses fatos, mesmo tendo condições de aprofundar seu conhecimento, ou seja, desde que presentes os elementos cognoscitivo e volitivo, é possível e necessário reconhecer a prática do crime de lavagem por dolo eventual diante da previsão geral do art. 18, I, do CP e considerando a sua progressiva admissão pelas Cortes brasileiras. 12 BOTTINI. Pierpaolo Cruz. A tal cegueira deliberada na lavagem de dinheiro. Revista Consultor Jurídico: 2012. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2012-set-04/direito-defesa-tal-cegueira- deliberada-lavagem-dinheiro>. Acesso em 07 de junho de 2019. 13 Ministério Público Federal. Grandes casos, Lava-Jato: <http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso- lava-jato/entenda-o-caso>. Acesso em 24 de junho de 2019. 14 Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/wp- content/uploads/sites/41/2017/07/LULA-CONDENADO.pdf>. Acesso em 24 de junho de 2019. 11 Continuando em seu julgamento, o Juiz Federal nos autos da ação penal n.º 501340559.2016.4.04.7000 (2007)15, manifestou as seguintes exasperações: A postura de não querer saber e a de não querer perguntar caracterizam ignorância deliberada e revelam a representação da elevada probabilidade de que os valores tinham origem criminosa e a vontade realizar a conduta de ocultação e dissimulação a despeito disso. Encontram-se, portanto, presentes os elementos necessários ao reconhecimento do agir com dolo, ainda que eventual, na conduta de Mônica Regina Cunha Moura e de João Cerqueira de Santana Filho. Segundo, tinham Mônica Regina Cunha Moura e de João Cerqueira de Santana Filho presentes os riscos concretos, de que se tratava de valores oriundos de crimes de corrupção, não só pelas circunstâncias ilícitas da transação, com adoção de expedientes sofisticados de ocultação e dissimulação, mas também pelo exemplo da Ação Penal 470. Mesmo tendo eles presentes esses riscos, persistiram na conduta delitiva, ou seja, receberam os valores, com ocultação e dissimulação. Tinha ainda condições não só de recusar o pagamento na forma feita, mas de aprofundar o seu conhecimento sobre as circunstâncias e a origem do dinheiro, tendo preferido não realizar qualquer indagação a esse respeito. Neste diapasão, o Juiz federal Sérgio Moro, percebeu que os citados réus procederam com dolo ao oficializarem uma transação de fornecimento de atividades viciadas a fim de sustentar dolosamente os depósitos, e de não investigado a se terem aprofundado seus conhecimentos sobre a proveniência do numerário ora aferido. 4. APLICABILIDADE USA X BRASIL. Nos Estados Unidos da América o crime de lavagens de capitais a legislação e de forma semelhante à do Brasil, não se explica quanto a aceitação ou não do dolo eventual, e faz uma relação do crime de lavagem ao crime antecedente específico,ainda que o rol seja bastante amplo. Exigindo que o autor conheça que o objeto do delito de lavagem seja oriundo de delito criminoso, não precisando saber especificamente quanto à o deleito criminoso, levando nós a entender que não é necessário que o autor tenha conhecimento das circunstâncias e elementos do delito antecedente, assim dando pretexto, para o uso da doutrina das Instruções da Avestruz O maior defensor é posso dizer o precursor do uso desta doutrina no Brasil com já fora dito anteriormente e o Juiz Federal Sergio Moro, que demostra como exemplo a aplicação da doutrina ao delito de lavagem de capitais, o case Uniten States vs. 15 Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/wp- content/uploads/sites/41/2017/07/LULA-CONDENADO.pdf>. Acesso em 24 de junho de 2019. 12 Compebell, de 1992,16 Ellen Campbell17, corretora de imóveis, teria vendido a Lawing (traficante de drogas) um imóvel pago por meio de Us$ 182.500,00, sendo US$ 60.000,00 pagos “por fora” em dinheiro e em pequenos pacotes de compras, e escriturado o bem pela diferença. Consta que nos encontros realizados entre Campbell e Lawing, o cliente aparecia sempre com veículos de luxo, e certa vez teria mostrado US$ 20.000,00 em espécie à vendedora como forma de comprovar seu poder de compra. Uma das testemunhas relatou que a acusada teria declarado que o dinheiro poderia ser proveniente de drogas. Campbell foi condenada pelo júri, sob o fundamento que teria “fechado os olhos”, deliberadamente, para o que, de outra maneira lhe seria óbvio. Sua condenação foi mantida, diante da Corte Distrital, mas, em apelação 4.º Circuito, a decisão do júri foi mantida, diante da demonstração de que, apesar de a acusada não ter agido com o propósito específico de lucrar com dinheiro originário do tráfico, tinha o interesse em fechar o negócio e coletar sua comissão, não importando a fonte do numerário. Como refere parte da sentença, questão relevante no caso não é o propósito de Campbell, mas sim seu conhecimento a respeito do proposito de Lawing Já Brasil o primeiro caso foi da sentença exarada do furto ocorrido do Banco Central do Brasil, em Fortaleza-CE, do dia 5 para o dia 6 de agosto de 2005, que os meliantes escavaram um túnel de aproximadamente de 89 metros, e furtaram a quantia de R$ 164.755.150,00, em notas de R$ 50,00, montante que foi considerado o maior furto da história do pais e o segundo maior roubo a banco do mundo. Os militantes foram denunciados como incurso nos crimes de furto qualificado, formação de quadrinha, ocultação de bens e valores de documentos falso, falsa identidade, posse ilegal de arma de fogo de uso restrito e lavagem de dinheiro. Segundo narra a sentença exarada em primeiro grau, com a finalidade de “lavar” o dinheiro oriundo do referido furto, dois acusados, José Vieira e Francisco Vieira, sócios da empresa revendedora de veículos Brilhe Car Automóveis venderam a terceiros, por intermédio de José Charles, onze veículos no valor de R$ 730.000,00, deixando um saldo de R$ 230.000,00 para quitação futura de veículos na revenda, perfazendo o montante de R$ 16 MORO, Sergio Fernando. Crime de lavagem de dinheiro. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 64-5. 17 ESTADOS UNIDOS DA AMERICA. United States vs. Campbell. 05 jun. 1982. Disponível em: <https://law.resource.org/pub/us/case/reporter/F2/977/977.F2d.854.91-5695.html>. Acesso em: 07 junho. 2019 13 980.000,00, que foram levados ao estabelecimento pelo próprio intermediador, em notas de R$ 50,00, armazenadas em sacos de náilon. O juiz singular, ao proferir a sentença, considerou que o acusado José Charles, de fato, possuía conhecimento quanto à origem ilícita do dinheiro utilizado para a aquisição dos veículos. Em quanto a José Vieira e Francisco Vieira, o magistrado entendeu que, embora não tivesse conhecimento da origem ilícita dos valores, tinha elementos suficientes para desconfiar da origem do dinheiro, aplicado, desta forma, a doutrina das instruções da avestruz ao caso. Em recurso de apelação, Charles sustentava em sua defesa que não tinha ocorrido no delito de Lavagem de Dinheiro em face o delito de furto não integra o rol de delitos antecessores que constava na lei 9.613/98 e a ausência de dolo ante o desconhecimento da origem do dinheiro que lhe fora entregue para intermediação na compra dos veículos. José Vieira e Francisco Vieira alegaram a ausência de dolo e de provas convincentes que pudessem justificar um juízo condenatório, e que a venda dos carros ao correu José Charles foi de boa-fé, pugnando, em último caso, ao instituto do in dúbio pro reo. O tribunal da regional federal da 5.º região18, ao apreciar a apelação interposta pelos réus, considerou que o conjunto probatório existente contra o réu José Charles é suficiente para condená-lo pelo delito de lavagem de capitais. No que se refere a análise das apelações interpostas pelos sócios da empresa Brilha Car, José e Francisco Viera, o relator analisa o ponto, sustentando que as provas constantes nos autos são suficientes para a condenação dos então recorrentes: O problema reside em saber se é possível a responsabilização criminal dos empresários sem a presença de prova segura de que soubessem ou devessem saber da origem espúria do dinheiro que receberam e transação comercial aparentemente regular. [...] O recebimento antecipado de numerário (mais de duzentos mil, reais), para escolha posterior dos veículos é intrigante, mas, a meu sentir, não autoriza presumir que, por essa circunstância, devessem os empresários saber que se tratava de reciclagem de dinheiro. A própria sentença recorrida realçou que aos “irmãos José Elizormarte e Francisco Dermival, ao que tudo indica, não possuíam” a percepção de que o numerário utilizado tinha origem no furto do Banco Central (fls. 3949), mas “certamente sabia ser de origem ilícita”. Aplicou, assim, a teoria da CEGUEIRA DELIBERADA ou de EVITAR A CONCIÊNCIA (willful blindness ou conscious avoidance doctrine), segundo a qual a ignorância deliberada equinale a dolo eventual, não se confundindo com a mera negligência (culpa consciente). A sentença recorrida procura justificar a adequação da àquela doutrina, originaria das ostrich instructions (instruções do avestruz), utilizadas por tribunais norte- americanos, ao dolo eventual admitido no Código Penal brasileiro, [...]. Entendo que a aplicação da cegueira deliberada depende de sua adequação ao 18 BRASIL.TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL(5º região). Apelação Criminal 5520-CE 2005.81.00.014586-0. Relator Rogério Moreira. 09 nov. 2008. Disponível em: <http://www.trf5.jus.br/archive/2008/10/200581000145860_20081022.pdf>. Acesso em: 24 junho. 2019. 14 ordenamento jurídico nacional. No caso concreto, pode ser perfeitamente adotada, desde que o tipo legal admita a punição a titulo de dolo eventual. [...] No que tange ao tipo utilizar “na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores que sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste artigo” (inciso I do § 2º), a própria redação do dispositivo exige que o agente SABIA que o dinheiro é originado de algum dos crimes antecedentes. O núcleo do tipo não se utiliza se quer da expressão DEVERIA SABER (geralmente denotativa do dolo eventual). Assim sendo, entendo que, ante as circunstâncias do caso concreto, não há como se aplicar a doutrina da willful blindness. As evidencias não levam a conclusão de que os sócios da BRILHE CAR sabiam efetivamente da origem criminosa dos ativos. Não há a demonstraçãoconcreta sequer do dolo eventual. A turma entendeu por dar provimento ao recurso interposto pelos sócios da revenda de automóveis, aplicando o princípio do in dubio pro reo, com base nos art. 386, inciso VII do Código de processo Penal19, por não entender presentes os requisitos necessários para a aplicação da Willful Blindness Doctrina ao caso. Vislumbramos também e Teoria sendo empregada nos crimes de aliciamento eleitoral vejamos: Corrupção eleitoral. Eleições 2006. Fornecimento continuo de sopa, cesta básica e patrocínio de curso. Propósito de voto em candidata à reeleição a deputado estadual. Período eleitoral. Filantropia. Desvirtuamento. Oportunismo Eleitoreiro. Materialidade de autoria comprovadas. Atos conhecidos e provas relevantes do ilícito. Articulação à prova oral. Inteligência do código de processo penal, artigo 239. Presidência de prova direta quanto à pratica ilícita. Manobras sub-receptícias e “mise-en-scène”. Delimitação de autoria: crédito do domínio do fato. Princípio do livre convencimento motivado. Dolo configurado. Teoria da Cegueira Deliberada. Crime formal. Acolhimento da pretensão punitiva estatal. Condenação. Continuidade aberto. Penas substitutivas de prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária. Multa (89 RO, Relator: Élcio Arruda, Data de Julgamento: 23/11/2010, Data de Publicação: DJE/TER-RO-Diário Eletrônico da justiça Eleitoral, Data 30/11/2010). Embargos Infringentes corrupção Eleitoral. Eleições 2004. Oferecimento de Alimentação, Doação de bonés, camisetas e canetas, a troco de voto em candidatos a prefeito e vereador. Materialidade e autorias comprovadas. Confissão. Delação. Prova direta conjugada à indireta. Manobras sub-reptícias e “Mise-em-scène: “ Reunião”. Princípio do livre convencimento motivado. Dolo configurado. Teoria da Cegueira Deliberada. Crime formal. Embargos desprovidos. Neste terreno, os agentes, por si ou interpostos pessoas, atuam de modo sub- reptício, dissimuladamente, sem deixar vestígios cabais. E, permitidas. Do “mise-em-scène” da encenação, o julgador há de extrair as nuanças permissivas ao descontinho do verdadeiro escopo do agente. “Dolusdirectus” presente, Imitação viável, no mínimo, a título “doluseventualis” (CP, artigo 18. I, 2º parte): mesmo seriamente considerando a possibilidade de realização do tipo legal, os agentes não se detiveram, conformando-se ao resultado. Teoria da “cegueira deliberada” (“willfulblindness” ou “consciousavoidancedoctrine”). A corrupção eleitoral, em qualquer de suas modalidades, inclui-se no rol dos crimes formais. Para configura-la, “basta o 19 BRASIL. DECRETO Nº 3.669, DE 03 DE OUTUBRO DE 1941. Código Processo Penal, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm>. Acesso em: 24 junho. 2019. 15 dano potencial ou o perigo do dano ao interesse jurídico protegido, cuja segurança fica, destarte, pelo menos, ameaçada”, segundo Nélson Hungria. (65 RO, Relator: ÉLCIO ARRUDA, Data de Julgamento: 13/12/2007, Data de Publicação: DJ – Diário de justiça, Volume 003, 07/01/2008, Página 37) Os dois casos apresentados, identificou-se a possibilidade de a aplicação da Teoria da Cegueira Deliberada acatando-se a probabilidade da consumação do tipo licito e a compleição com ela. A teoria em questão se encontra configurada quando os candidatos aos pleitos eleitorais não encheram a ilicitude de seus atos, a fim se tirar proveito da situação. 5. A PLICAÇÃO DA TEORIA VERÇOS O PRINCIPIO DA LEGALIDADE E CULPABILIDADE O Princípio da culpabilidade20 possui três sentidos fundamentais: 1) culpabilidade como elemento integrante do conceito analítico de crime; 2) culpabilidade como princípio medidor de pena; 3) culpabilidade como princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva (responsabilidade penal sem culpa ou pelo resultado). Culpabilidade como elemento integrante da teoria analítica do crime, a culpabilidade é a terceira característica ou elemento integrante do conceito analítico de crime, sendo estudada, sendo Welzel, após a análise do fato típico e da ilicitude, ou seja, após concluir que o agente praticou um injusto penal; Culpabilidade como princípio medidor da pena, uma vez concluído que o fato praticado pelo agente é típico, ilícito e culpável, podemos afirmar a existência da infração penal. Deverá o julgador, após condenar o agente, encontrar a pena correspondente à infração praticada, tendo sua atenção voltada para a culpabilidade do agente como critério regulador. Culpabilidade como princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva, ou seja, da responsabilidade penal sem culpa, o princípio da culpabilidade impõe a subjetividade da responsabilidade penal. Isso significa que a imputação subjetiva de um 20 JUS.COM.BR. Disponível em:<https://jus.com.br/artigos/67749/principio-da-culpabilidade- responsabilidade-penal-subjetiva-ou-objetiva>. Acessado 24 junho. 2019. 16 resultado sempre depende de dolo, ou quando previsto, de culpa, evitando a responsabilização por caso fortuito ou força maior. Já o princípio da legalidade21 é um conceito jurídico parte dos direitos e garantias fundamentais do indivíduo, e estabelece que não existe crime se não estiver previsto em lei. A palavra princípio significa algo que vem logo no começo, a causa, o que dá a base é, portanto, uma definição pela qual a teoria se desenvolve. No universo jurídico, os princípios são postulados criados para estruturar o Estado de Direito. Legalidade vem de legal, que significa a característica daquilo que está dentro da lei ou toda ação criada em conformidade com a legislação integra a legalidade. O princípio da legalidade é, portanto, uma das bases do ordenamento jurídico brasileiro, e todas as normas devem respeitar esta noção da nulidade de punição no caso de inexistência de regra prévia. O postulado aparece desde a Constituição Federal de 1988, assim como também faz parte do Código Penal Brasileiro. A síntese do princípio da legalidade seria a frase latim nullum crimen nulla poena sine lege, que na tradução do latim quer dizer que nenhum crime será punido sem que haja uma lei. Também de acordo com o Princípio da Legalidade ninguém está obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, a menos que seja previsto em lei. É o que consta no artigo 5º, Inciso II, da Constituição Brasileira de 198822. Da perspectiva do Direito Penal, o Princípio da Legalidade pode ser entendido como a garantia individual de que o legislador não vai atuar na criação de leis e penalizações sobre fatos acontecidos anteriormente. Como já podemos constatar e encima dessa celeuma doutrinária em que se encontra a discussão se sua aplicabilidade, pois, vai de encontro com o princípio da legalidade e culpabilidade, sem dúvida a celeuma aqui presente é de fundamental importância para estabelecer uma atuação é dolosa ou culposa, o que pode se lançar em graves seguimentos punitivos, com relação à lavagem de capitais, a diferenciação corresponderá, como dito, à deliberação através de punir ou não, com a visão no delito, 21 Significado. Disponível em:<https://www.significados.com.br/principio-da-legalidade/>. Acessado em 13 de setembro de 2018. 22 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 24 junho. 2019. 17 no ordenamento jurídico brasileiro, não está previsto esse tipo de categoria imprudente. Para Viana23, pode-se orientarem três maiores vias: i) a primeira delas composta por um grupo de teorias o qual se poderia denominar genericamente teorias da disposição de ânimo; grosseiramente, essa via não permite renunciar à dupla programação volitiva do dolo e, portanto, exige que a decisão sobre a maior ou menor punição do comportamento seja realizada com base nas balizas indicadas pela vontade do agente; ii) a segunda via é integrada pelo grupo que rivaliza com o anterior, um grupo de teorias que poderíamos denominar genericamente teorias da representação; basicamente, os seus defensores negam a necessidade de um elemento volitivo dentro da estrutura do crime doloso e preferem traçar os limites entre as duas modalidades intermediárias de imputação a partir de uma base meramente cognitiva; iii) finalmente, o terceiro grupo de teorias, aqui também genericamente denominadas teorias do risco. Igualmente vinculada a uma concepção cognitiva, mantem o elemento intelectual do dolo, posto que irrenunciável, mas alteram a programação do seu conteúdo: no lugar do resultado, a representação do perigo de realização do tipo passa a ser o objeto de referência do comportamento doloso. 6. REALMENTE A TEORIA FAZ JUSTIÇA Como pudemos vislumbrar a teoria da Cegueira Deliberada, vem realmente suprir uma lacuna deixada pelo direito penal, pois, com o advento dos crimes transnacionais não poderia ser de outra forma a aplicabilidade de uma teoria ora não prataria, pois, apesar de sua incompatibilidade com o ordenamento jurídico pátrio, mais aqui pode ser usar o princípio do “in dubio pro societate”, insculpido no art. 413 do Código de Processo Penal24, apesar de sua incompatibilidade com o ordenamento jurídico vigente, vem se mostrando eficiente e cada vez mais vem sendo usada pelas cortes em seus julgados. Como o da ação penal 470/MG, apelidada de “Mensalão”, quando o Supremo Tribunal Federal verificou incidentalmente a teoria, condenando, em sede de dolo eventual, pelos crimes previstos no art. 1º da Lei de Lavagem de capitais, efetuados mesmo antecedentemente às transformações postas pela Lei nº 12.683/12. No julgamento, ergueu-se a discussão o ministro Celso de Mello, que se manifestou pela admissibilidade 23 VIANA, 2017, passim; PORCIÚNCULA, José Carlos. Lo “objetivo” e do “subjetivo” en el tipo penal. Hacia la “exteriorización de lo interno”. Barcelona: Atelier Libros Jurídicos, 2014, passim; BUSATO, Paulo César (coord.). Dolo e direito penal: modernas tendências. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, passim. 24 BRASIL. DECRETO Nº 3.669, DE 03 DE OUTUBRO DE 1941. Código Processo Penal, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm>. Acesso em: 24 junho. 2019. 18 da aplicação da teoria da cegueira deliberada para a responsabilização por dolo eventual, conforme o Informativo nº 684 do STF25 (BRASIL, 2012, p. 04): Ato contínuo, o decano da Corte, Min. Celso de Mello, admitiu a possibilidade de configuração do crime de lavagem de valores mediante dolo eventual, com apoio na teoria da cegueira deliberada, em que o agente fingiria não perceber determinada situação de ilicitude para, a partir daí, alcançar a vantagem pretendida. Pelos, os argumentos que emanam das várias decisões prolatadas pelas cortes superiores há de ser seguidas pelas demais cortes no pais para que se tenha a segurança jurídica e assim pacificar o seu uso, no entendimento o Congresso Nacional ser a mesma incluída no ordenamento pátrio. Nunca se viu no pais uma devassa nos crimes de Lavagem de Capitais, e surtindo seus efeitos, julgando e condenando aqueles que ora dilapidavam o patrimônio Nacional, agora se encontram desprovidos do fruto de seus crimes, e presos ou pelo menos condenados e sem o fruto do seu desvio de conduta. Nesta perspectiva a teoria da cegueira deliberada vem sendo aplicada no ordenamento jurídico brasileiro, mais ainda o dolo eventual, mais há de haver uma organização de suas cláusulas para que seja utilizada pelos magistrados, para que haja segurança jurídica no ordenamento jurídico-penal, desta forma se evite as injustiças na imputação das responsabilidades penais dos indivíduos. 7. CONCLUSÃO A partir do que foi apresentado, é demostrado casos exemplificados que foram aplicados a Teoria da Cegueira Deliberada, sendo esses casos aplicados no delito de lavagem de capitais, desta forma foi possível demostrar também que a mesma pode ser aplicada em outras áreas como a eleitoral, tráfico de drogas, receptação, ambientais, previdenciários, improbidade administrativa, são exemplos e assim se moldando a necessidade do povo. Fica demostrado que na atualidade não há óbices jurisprudências referente à utilização da teoria da cegueira deliberada no estado brasileiro, isso nada mais é do que as reações contra a evolução dos tipos de crimes, principalmente sua expansão que ora era realizada em um só estado agora passa a ser usar em vários países estados, se 25 BRASIL. STF Informativo nº. 684: AP 470/MG – 135. Brasília: 15 a 19 out. 2012.Disponível em:<http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo684.htm>. Acesso em: 24junho. 2019. 19 moldando a cada legislação os chamados crimes transnacionais que não conhece fronteiras. Essa metamorfose e acompanhada de perto pelo direito para que cada vez mais possa ser eficaz, se moldar para combater o crime organizado e diminua a força do mesmo, apreendendo e confiscando o fruto desse tipo de crime que se internacionalizou e ora vem perdendo sua força em nosso pais, retirando o combustível que alimenta estas organizações, deixando os militantes sentados no fruto do seu ato ilegal. As dúvidas que ora rodeavam aplicação da teoria ficaram demostrado que a pesar de sua incompatibilidade com o ordenamento jurídico pátrio e mesma está sendo aplicada pelas cortes superiores é seguindo o princípio “in dubio pro societate”, vem fazendo justiça é o que se achava impossível anteriormente, agora ver chefes dos crimes de colarinho branco sendo presos condenados pelos seus crimes, e mais o retorno das divisas que hora tinham sido surrupiadas. Isto posto, a teoria da cegueira deliberada é um momentoso regulamento jurídico que vem contribuindo no confronto das organizações criminosas tanto nacionais como as Transnacionais, mais há de haver um padrão a ser seguido para que neste sentido não haja a pratica de injustiças, para que se possa trazer segurança jurídica em sua aplicação, com observância ao Direito Penal de jeito que a evidencia da culpabilidade e outros fundamentos não venha se deturpados. 8. BIBLIOGRAFIA BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 24 junho. 2019; _______.Decreto Lei 2.848 07/12/1940, Código Penal, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acessado 26 junho. 2019; _______. Decreto n. º 154, de 26 de junho de 1991. Promulga a Convenção de Viena Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas. 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STF Informativo nº. 684: AP 470/MG – 135. Brasília: 15 a 19 out. 2012.Disponível em:< http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo684.htm>. Acesso em: 24junho. 2019; BOTTINI. Pierpaolo Cruz. A tal cegueira deliberada na lavagem de dinheiro. Revista Consultor Jurídico: 2012. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2012-set- 04/direito-defesa-tal-cegueira-deliberada-lavagem-dinheiro>. Acesso em 07 de junho de 2019; Disponívelem:<https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/wp- content/uploads/sites/41/2017/07/LULA-CONDENADO.pdf>. Acesso em 24 de junho de 2019; Exposição de Motivos da Lei 9.613/98. Item 28. Disponível em: <https://www.coaf.fazenda.gov.br/downloads/Lei%209613.pdf/view>. Acesso em: 02 junho 2019; EDWARDS, J. Ll. J. (1954) Criminal Degrees of Knowledge. The Modern Law Review 17, p.298 ss; ESTADOS UNIDOS DA AMERICA. United States vs. Campbell. 05 jun. 1982. 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