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APLICAÇÃO DA TEORIA DA CEGUEIRA DELIBERADA NOS CRIMES DE LAVAGEM DE CAPITAIS

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MARTHA FALCÃO - WYDEN 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
Marcelo Cardoso Castro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 APLICAÇÃO DA TEORIA DA CEGUEIRA DELIBERADA 
NOS CRIMES DE LAVAGEM DE CAPITAIS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MANAUS 
2019 
Marcelo Cardoso Castro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 APLICAÇÃO DA TEORIA DA CEGUEIRA DELIBERADA 
NOS CRIMES DE LAVAGEM DE CAPITAIS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Curso de Direito da Wyden– Martha Falcão como 
requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel 
em Direito. 
 
Orientador: 
Prof. (a) Cyntia Costa de Lima 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MANAUS 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Castro, Marcelo Cardoso. 
C355a Aplicação da Teoria da Cegueira Deliberada nos Crimes de 
Lavagem de Capitais. / Marcelo Cardoso Castro. Manaus: IESA, 2019. 
 
 21 f. 
 Artigo apresentado ao Instituto de Ensino Superior da Amazônia, 
Faculdade Martha Falcão | Wyden, ao Curso de Direito, 2019. 
 
 Orientador: Prof.ª Cintya Costa Lima. 
 Bibliografia. 
 
 1. Doutrina da cegueira deliberada. 2. Responsabilidade penal. 
3. Princípios da legalidade. 4. Justiça. 5. Lavagem de capitais. 
 I. Faculdade Martha Falcão | Wyden. II. Título. 
 
 CDD 345.81 
 
APLICAÇÃO DA TEORIA DA CEGUEIRA DELIBERADA 
NOS CRIMES DE LAVAGEM DE CAPITAIS. 
 
Marcelo Cardoso Castro1 
Cyntia Costa de Lima2 
 
 
RESUMO 
O presente artigo faz uma breve revisão de literatura acerca da importância da teoria da cegueira deliberada 
e sua aplicabilidade nos crimes de lavagem de dinheiro. Neste contexto verificarmos sua origem, e 
compararmos como é aplicada pelos estadunidenses e pelos Brasileiros, a doutrina, versos o princípio da 
legalidade e dá culpabilidade, se realmente faz justiça. Desta forma demostrar os recentes julgados e 
decisões dos tribunais superiores a respeito desse assunto muito usado nos crimes alcançados pela operação 
lava jato. 
PALAVRAS CHAVES: Doutrina da Cegueira Deliberada. Responsabilidade Penal. Princípio da 
legalidade. Justiça. Lavagem de Capitais. 
ABSTRACT 
The present article briefly reviews the literature on the importance of the theory of deliberate blindness and 
its applicability in money laundering crimes. In this context we verify its origin, and compare how it is 
applied by the Americans and the Brazilians, the doctrine, verses the principle of legality and gives guilt if 
it really does justice. In this way to demonstrate the recent judgments and decisions of the superior courts 
on this subject much used in the crimes reached by the operation lava jet. 
KEYWORDS: Doctrine of Deliberate Blindness. Criminal Responsibility. Principle of legality. Justice. 
Money laundry. 
 
1. INTRODUÇÃO 
Com o advento das operações iniciadas pela polícia federal no combate contra os 
crimes de corrupção, podemos vislumbrar um aumento em consequência do crime de 
lavagem de capitais, crime este tipificado no artigo 1º da lei n. 9.613 de 19983, define a 
lavagem de capitais como “ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, 
disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, 
direta ou indiretamente, de crime”, já a nova legislação no artigo 1º, § 1o, da lei n. 
 
1 Acadêmico de Direito da Faculdade Martha Falcão- Wyden. E-mail: carnivau@gmail.com 
2 Possui graduação em direito pela Universidade do Estado do Amazonas (2009) e Mestrado em Programa 
de Pós-Graduação em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas (2012). Membro da 
comissão de meio ambiente - Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Amazonas, docente da 
Instituição de Ensino Wyden/Martha Falcão, atuando principalmente nos seguintes temas: poluição; 
resíduos sólidos; justiça ambiental, valoração; águas; políticas públicas, direito à cidade, meio ambiente e 
balneabilidade. 
3 artigo 1º da lei n. 9.613 de 1998: “ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, 
movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de 
infração penal”. 
5 
 
12.683/20124, " Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de 
bens, direitos ou valores provenientes direta ou indiretamente, de infração penal”, neste 
contexto podemos vislumbrar a aplicação da teoria da cegueira deliberada, de origem 
anglo-saxônica, mas que teve sua aplicação em definitivo no USA, que certo tempo vem 
sendo usada em nosso pais, nos crimes econômicos e financeiro, de lavagem de capitais, 
crimes contra a administração pública e tráfico de entorpecentes. 
Como sabemos em se tratando do direito penal Brasileiro, a analogia somente 
deve ser utilizada para os julgadores preencherem as lacunas legislativas de forma a 
delimitar a interpretação fiel da lei e desde que, com isso, não traga consequências ao 
acusado, por outro lado, não pode o julgador vale-se desse artificio hermenêutico para 
conceber ou alterar direitos principalmente quando trazer algum malefício ao réu e 
atendendo aos princípios da legalidade e culpabilidade. 
Há uma inclinação visível que a doutrina da Cegueira Deliberada obtenha mais 
seguidores em virtude dê a mesma começar a se firmar como categoria de imputação 
subjetiva pelo tribunal Penal Internacional, por ordem do Estatuto de Roma5, que vigorou 
em 01 de julho de 2002, e está na época atual com 121 países. 
O Brasil assinou também o tratado de Viena no qual se pactuou a coibir lavagem 
de capitais referente ao tráfico de drogas, Convenção contra o tráfico ilícito de 
entorpecentes e substância psicotrópicas (Convenção de Viena), assinado na cidade de 
Viena em 20 de dezembro de 1988, é promulgada pelo brasil por meio do Decreto 
154/19916, que determina os países signatários precisariam adotar providencias para 
tipificar como crime a lavagem ou ocultação de bens oriundos do tráfico de drogas. 
Objetivo do artigo, é discorrer sobre a dificuldade da aceitação da teoria da 
cegueira deliberada e a sua aplicabilidade no direito pátrio, em decorrência ao crime de 
lavagem de capitais, a necessidade ou não do conhecimento do indivíduo antes e durante 
a execução da ilicitude, os efeitos de sua aplicação nos processos em andamento e nas 
condenações baseadas nessa teoria. 
 
4 artigo 1º, § 1o a lei n. º 12.683/2012: “Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a 
utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal”. 
5 BRASIL. Decreto n. º 4.388, de 25 de setembro de 2002. Promulga o Estatuto de Roma do Tribunal 
Penal Internacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4388.htm>. 
Acesso em: 01 junho. 2019. 
6 BRASIL. Decreto n. º 154, de 26 de junho de 1991. Promulga a Convenção de Viena Contra o Tráfico 
Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas. 
Disponível:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0154.htm>. Acesso em: 23 junho. 
2019. 
6 
 
 A metodologia utilizada para desenvolver o presente artigo foram, o método 
lógico dedutivo, baseando-se na normativa, com pesquisa bibliográfica sobre o tema, foi 
realizada por meio de artigos jurídicos, doutrina, revistas jurídicas, casos concretos, 
normasconstitucionais e infraconstitucional. 
Se justifica em virtude que há certo tempo os doutrinadores se divide sobre a 
admissibilidade do dolo eventual para crime de lavagem de capitais, não havendo 
previsão legal da lavagem culposa, se o indivíduo não consegue perceber que o produto 
e de origem delitiva fica mascarado por descuido ou imprudência, respondendo o terceiro 
que determinou o erro, se existir, § 2º do art. 20 do código Penal7. 
 Na doutrina aqueles que só a plena consciência pode-se levar a pratica do crime 
de lavagem de capitais, pois e assim está descrito na lei (dolo direto), por outro lado, há 
doutrinadores quem afirmam que basta a mera suspeita da origem infracional (dolo 
eventual), para que se afaste o erro do tipo. 
Inicialmente examinamos o contexto histórico, para capitarmos porque ela existe, 
como acontece e quais são os fundamentos implicados. Em seguida, demonstraremos a 
sua importância. Então, compararemos sua aplicabilidade tanto no Estados Unidos como 
no Brasil. A sua aplicabilidade versos o princípio da legalidade e culpabilidade. 
Concluímos com o questionamento se realmente a teoria faz justiça. 
 
2. CONTEXTO HISTÓRICO 
 A expressão “lavagem de capitais” aparece nos EUA, o primórdio do vocábulo 
tem sua origem na cidade de Chicago, na década de 1920, em que vários chefes do crime 
organizado constituíram lavanderias de aparência nas quais superfaturavam os ganhos 
para que se explicasse seus proventos ilícitos e seu alto nível de padrão de vida. 
Os delinquentes, por conseguinte, lavavam pouca roupa, mas muitas cédulas, em 
cada estado pais, tem sua nomenclatura como, por exemplo na Europa e chama de 
“branqueamento de capitais”, lavar dinheiro é transmudar o dinheiro ora de origem 
desonesta, para presumivelmente honesta. 
A lavagem de capitais precisa para ser tipificada uma infração penal antecedente, 
esta infração varia de estado para estado, em alguns antevê um único crime outrem são 
muitos tipos e outros ainda constituem a ocultação ou dissimulação dos ganhos de 
qualquer infração penal pode caracterizar-se lavagem de capitais. 
 
7 artigo 20, §2º do Decreto Lei 2.848 07/12/1940, §2 “Responde pelo crime o terceiro que determina o 
erro”. 
7 
 
Baseando-se nas dessemelhanças das várias leis, os catedráticos arquitetaram a 
ideia da existência de três progenituras de leis sobre a lavagem de capitais no globo, que 
são: 
Primeira Geração: São os estados que prediz apenas o tráfico de drogas como 
crime antecedente da lavagem de capitais, e chamado assim, pois foi as primas das leis a 
incriminar a lavagem de capitais, e tão-somente prediziam o tráfico de drogas como crime 
antecedente pois, foram editadas após a convenção de Viena, que definia que os estados 
signatários tipificassem como crime a lavagem ou ocultação de bens provenientes do 
tráfico de drogas. 
O de segunda geração: são leis que foram editadas ulteriormente trazendo com 
sigo um arrolamento maior, de crimes antecedentes e em consequência aumentada o braço 
da justiça frente os crimes de lavagem de capitais, estados como Portugal, Brasil a 
Alemanha, no caso do Brasil até o surgimento da lei n. º 12.683/128. 
E por último o de terceira geração que nos fala que qualquer ilícito penal pode ser 
antecedente de lavagem de capitais, a ocultação ou dissimulação dos ganhos obtidos com 
qualquer infração penal pode caracterizar lavagem de capitais, temos como estados os 
EUA, México, Bélgica, Itália, França, Brasil, com o advento da lei n. º 12.683/12. 
Já teoria da cegueira deliberada ou a instruções do (avestruz), historicamente 
falando teve o seu surgimento na Inglaterra, em uma sentença de 1861, no caso de Regina 
V. Sleep9, o ocorrido o senhor sleep colocou em uma embarcação mercantil barris que 
continham parafusos de cobre, alguns dos quais estavam marcados com um sinal em 
forma de flecha, fato que indicava que eram de propriedade do estado, desta forma, o júri 
da primeira instância lhe condenou como autor do delito de malversação de bens públicos. 
Em grau de recurso, Sleep afirmou que não tinha conhecimento de tal 
circunstância, e o juiz willes concluiu que a decisão do júri deveria ser revogada ante a 
inexistência de provas de que o acusado sabia que os bens marcados eram de propriedade 
estatal, bem como por não haver elementos que atestassem que ele se absteve 
intencionalmente de obter tal conhecimento. 
 
8 BRASIL. Lei nº 12.683/12, de 09 de julho de 2012. Altera a Lei no 9.613, de 3 de março de 1998. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12683.htm>. Acessado 
em: 23 de junho de 2019. 
9 ROBBINS, Ira P. The Ostrich Instruction: Deliberate Ingnorance as a Criminal Mens Rea. The Jumal of 
Criminal Law and Criminology, 81, (1990), p.196. 
8 
 
Essa questão pode dizer que aí nascia o que seria a teoria da cegueira deliberada 
anglo-saxônica, apesar de não ser aplicado no caso em questão, mas como podemos 
verificar se tivesse elementos probatórios que pudesse demostrar que o recorrente se 
prescindiu intencionalmente de saber de quem era os bens em questão, a sentença seria a 
mesma ao primeiro gral, igualara-se ao desconhecimento intencional com o 
conhecimento pleno. 
Em 1875, o caso Bosley v. Davies surgiu com ênfase à Willful Blindness, 
recomendando a sua aplicabilidade, Daveis era dono de uma pensão e foi acusado de 
autorizar jogos ilícitos nas dependências de seu estabelecimento, o réu declarava que não 
tinha conhecimento do ato ora ilegal que vinha sucedendo em sua pensão, e que tal 
consciência era primordial para a pertinência penal da ação. 
O fórum, contudo, divergiu, alegando que o discernimento real não é essencial, 
mas deve haver circunstâncias a partir das quais se pode presumir que Davies ou os seus 
empregados eram coniventes com a prática ilícita dos jogos. 
Assim, até o final do século XIX, a Doutrina da Cegueira Deliberada foi 
estabelecida como uma alternativa ao conhecimento no ordenamento jurídico penal 
inglês. 
3. A IMPORTANCIA DO ESTUDO DA TEORIA. 
O estudo dessa teoria e de supra importância, pois a mesma já vem sendo aplicada 
analogamente em nosso país, em jugados exarados pelos tribunais, principalmente com o 
advento da operação “lava jato”, encabeçada pelo juiz Sérgio Moro um fervoroso dessa 
teoria, que já vem usando a mesma em sentenças exaradas por ele na mesma operação. 
Há de se observar a necessidade de que os legisladores, contemplem essa teoria 
e acrescente em nosso ordenamento jurídico, visto que a mesma já vem sendo usada 
analogicamente, dessa forma trazendo segurança jurídica para as decisões emanadas pelas 
cortes, como o direito se molda conforme a necessidade da sociedade, e conforme também 
as novas técnicas usadas por aqueles que tem a intenção de sempre burlar as normas 
vigentes em benefício próprio ou de outrem, e com o advento dos crimes transnacionais 
temos que está um passo afrente neste contexto, pois se as outras cortes com Espanha10 
já aplicam também essa teoria conforme: 
 
 
9 
 
Na entrega do dinheiro para José J., Miguel estava acompanhado de Hebe, e 
José J. cobrava uma comissão de 4%. A Câmara chega à conclusão de que José 
J. estava ciente de que o dinheiro vinha da indústria farmacêutica - o que ele 
nega - de fatos tão óbvios quanto o fato de que a quantia era muito importante 
e da natureza claramente clandestina das operações, então que quem se coloca 
em uma situação de ignorância deliberada, isto é, não quer saber o que pode e 
deve ser conhecido, e mesmo assimse beneficia dessa situação - ele recebeu 
uma comissão de 4% - está assumindo e aceitando todas as possibilidades da 
origem do negócio em que participa e, portanto, deve responder por suas 
consequências.11 
 
Deve-se considerar a celeuma doutrinária com relação à aplicação dessa teoria, o 
que não se pode e deixar impunes elementos que se prevalecem das brechas deixadas pela 
legislação para fugir da responsabilidade que lhe e devia em virtude de seus atos 
praticados com o intuito de lesar o patrimônio nacional, dosando-se bem a sociedade 
como um todo sai ganhando com aplicação dessa teoria, mas tem que ser observado a sua 
aplicação para que não se cometa injustiças, para tanto a necessidade de estudos para 
mesma ser incluída em nosso ordenamento jurídico como dito anteriormente. 
Verificando o artigo 1.º da lei n. º 9.613/98, que ora fora alterada pela lei n. º 
12.683/12, podemos observar que os comportamentos alternativamente presumidos são 
ocultar e dissimular, com isso o legislador almejou uma atuação múltipla tanto comissiva 
como omissiva de lavagem de capitais. 
Prosseguindo na leitura do referido artigo, vislumbramos que é imposto tão 
meramente o dolo genérico para a composição do delito, ou seja, consciência e vontade 
de consumação dos elementos objetivos do tipo, a lei brasileira não reivindica alguma 
intencionalidade típica, bastando com isso compreender e desejar o resultado típico. 
Com o advento da lei n. º 12.683/12, podemos verificar uma nova análise do tipo 
de dolo eventual nos crimes de lavagem de capitais. Pierpaolo Bottini, tange o dolo 
eventual na lavagem de capitais, apesar disso, percebe que é viável nivelar a Teoria da 
 
10 Versão original: “En la entrega del dinero a José J., Miguel estuvo acompañado de Hebe, y José J. 
cobrara un 4% de comisión. La Sala extrae la conclusión de que José J. tuvo conocimento de que el 
dinero procedía del negocio de drogas -cosa que él niega- de hechos tan obvios como que la cantidad era 
muy importante y de la natureza claramente clandestina de las operaciones, por lo que quien se pone en 
situación de ignorancia deliberada, es decir no querer saber aquello que puede y debe conocerse, y sin 
embargo se beneficia de esta situación -cobraba un 4% de comisión-, está asumiendo y aceptando todas 
las posibilidades del origen del negocio em que participa, y por tanto debe responder de sus 
consequências”. 
11 RAGUÈS I VALLÈS, Mejor no saber, sobre la doctrina de la ignorancia deliberada en Derecho penal. 
Barcelona. 2013. p. 20. 
10 
 
Cegueira Deliberada ao dolo eventual, desta forma sua utilização no mencionado delito. 
Assim entende o Pierpaolo Bottini12 
Pessoalmente discordo da possibilidade de dolo eventual na lavagem de 
dinheiro. Mas, caso se admita a hipótese, algumas cautelas são necessárias. 
Antes de tudo, é fundamental notar que o dolo eventual, ainda que careça da 
vontade de resultado e da ciência plena da origem ilícita do bem, exige uma 
consciência concreta do contexto no qual se atua. Como ensina Roxin, não 
basta uma consciência potencial, marginal, ou um sentimento. Deve-se 
averiguar se o agente percebeu o perigo de agir, e se assumiu o risco de 
contribuir para um ato de lavagem. A mera imprudência ou desídia não é 
suficiente para o dolo eventual. 
 
A operação Lava Jato, sendo considerada absoluta devassa nos crimes de lavagem 
de capitais que já houve no estado brasileiro, conta-se que as riquezas apartadas resultem 
em bilhões de reais. O Parquet Federal descobriu uma enorme estrutura criminosa, 
buscando e demandando quatro instituições infratora encabeçada por doleiros, fora 
constatado uma estrutura criminosa de aliciamento comprometendo a Petrobrás. 
Conforme o Parquet Federal13, a alcunha de Operação Lava Jato explica-se pois: 
 
O nome do caso, “Lava Jato”, decorre do uso de uma rede de postos de 
combustíveis e lava a jato de automóveis para movimentar recursos ilícitos 
pertencentes a uma das organizações criminosas inicialmente investigadas. 
Embora a investigação tenha avançado para outras organizações criminosas, o 
nome inicial se consagrou. 
 
O juiz federal Sérgio Moro, nos autos da ação penal n.º 5013 405-
59.2016.4.04.7000 (2007)14, nesta mesma operação, sentenciou Mônica Regina Cunha 
Moura e João Cerqueira de Santana filho pelo crime de lavagem de capitais, 
argumentando seu julgamento conforme os parâmetros da teoria da Cegueira deliberada: 
 
Sem embargo do que mais se poderia escrever, é possível concluir que, desde 
que se tenha prova de que o agente tinha conhecimento da elevada 
probabilidade da natureza e origem criminosas dos bens, direitos e valores 
envolvidos nas condutas de ocultação e de dissimulação e de que ele escolheu 
agir e permanecer alheio ao conhecimento pleno desses fatos, mesmo tendo 
condições de aprofundar seu conhecimento, ou seja, desde que presentes os 
elementos cognoscitivo e volitivo, é possível e necessário reconhecer a prática 
do crime de lavagem por dolo eventual diante da previsão geral do art. 18, I, 
do CP e considerando a sua progressiva admissão pelas Cortes brasileiras. 
 
 
12 BOTTINI. Pierpaolo Cruz. A tal cegueira deliberada na lavagem de dinheiro. Revista Consultor 
Jurídico: 2012. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2012-set-04/direito-defesa-tal-cegueira-
deliberada-lavagem-dinheiro>. Acesso em 07 de junho de 2019. 
13 Ministério Público Federal. Grandes casos, Lava-Jato: <http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-
lava-jato/entenda-o-caso>. Acesso em 24 de junho de 2019. 
14 Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/wp-
content/uploads/sites/41/2017/07/LULA-CONDENADO.pdf>. Acesso em 24 de junho de 2019. 
11 
 
Continuando em seu julgamento, o Juiz Federal nos autos da ação penal n.º 
501340559.2016.4.04.7000 (2007)15, manifestou as seguintes exasperações: 
 
A postura de não querer saber e a de não querer perguntar caracterizam 
ignorância deliberada e revelam a representação da elevada probabilidade de 
que os valores tinham origem criminosa e a vontade realizar a conduta de 
ocultação e dissimulação a despeito disso. Encontram-se, portanto, presentes 
os elementos necessários ao reconhecimento do agir com dolo, ainda que 
eventual, na conduta de Mônica Regina Cunha Moura e de João Cerqueira de 
Santana Filho. Segundo, tinham Mônica Regina Cunha Moura e de João 
Cerqueira de Santana Filho presentes os riscos concretos, de que se tratava de 
valores oriundos de crimes de corrupção, não só pelas circunstâncias ilícitas da 
transação, com adoção de expedientes sofisticados de ocultação e 
dissimulação, mas também pelo exemplo da Ação Penal 470. Mesmo tendo 
eles presentes esses riscos, persistiram na conduta delitiva, ou seja, receberam 
os valores, com ocultação e dissimulação. Tinha ainda condições não só de 
recusar o pagamento na forma feita, mas de aprofundar o seu conhecimento 
sobre as circunstâncias e a origem do dinheiro, tendo preferido não realizar 
qualquer indagação a esse respeito. 
 
Neste diapasão, o Juiz federal Sérgio Moro, percebeu que os citados réus 
procederam com dolo ao oficializarem uma transação de fornecimento de atividades 
viciadas a fim de sustentar dolosamente os depósitos, e de não investigado a se terem 
aprofundado seus conhecimentos sobre a proveniência do numerário ora aferido. 
 
4. APLICABILIDADE USA X BRASIL. 
Nos Estados Unidos da América o crime de lavagens de capitais a legislação e de 
forma semelhante à do Brasil, não se explica quanto a aceitação ou não do dolo eventual, 
e faz uma relação do crime de lavagem ao crime antecedente específico,ainda que o rol 
seja bastante amplo. Exigindo que o autor conheça que o objeto do delito de lavagem 
seja oriundo de delito criminoso, não precisando saber especificamente quanto à o deleito 
criminoso, levando nós a entender que não é necessário que o autor tenha conhecimento 
das circunstâncias e elementos do delito antecedente, assim dando pretexto, para o uso da 
doutrina das Instruções da Avestruz 
O maior defensor é posso dizer o precursor do uso desta doutrina no Brasil com 
já fora dito anteriormente e o Juiz Federal Sergio Moro, que demostra como exemplo a 
aplicação da doutrina ao delito de lavagem de capitais, o case Uniten States vs. 
 
15 Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/wp-
content/uploads/sites/41/2017/07/LULA-CONDENADO.pdf>. Acesso em 24 de junho de 2019. 
12 
 
Compebell, de 1992,16 Ellen Campbell17, corretora de imóveis, teria vendido a Lawing 
(traficante de drogas) um imóvel pago por meio de Us$ 182.500,00, sendo US$ 60.000,00 
pagos “por fora” em dinheiro e em pequenos pacotes de compras, e escriturado o bem 
pela diferença. Consta que nos encontros realizados entre Campbell e Lawing, o cliente 
aparecia sempre com veículos de luxo, e certa vez teria mostrado US$ 20.000,00 em 
espécie à vendedora como forma de comprovar seu poder de compra. Uma das 
testemunhas relatou que a acusada teria declarado que o dinheiro poderia ser proveniente 
de drogas. 
Campbell foi condenada pelo júri, sob o fundamento que teria “fechado os olhos”, 
deliberadamente, para o que, de outra maneira lhe seria óbvio. Sua condenação foi 
mantida, diante da Corte Distrital, mas, em apelação 4.º Circuito, a decisão do júri foi 
mantida, diante da demonstração de que, apesar de a acusada não ter agido com o 
propósito específico de lucrar com dinheiro originário do tráfico, tinha o interesse em 
fechar o negócio e coletar sua comissão, não importando a fonte do numerário. Como 
refere parte da sentença, questão relevante no caso não é o propósito de Campbell, mas 
sim seu conhecimento a respeito do proposito de Lawing 
Já Brasil o primeiro caso foi da sentença exarada do furto ocorrido do Banco 
Central do Brasil, em Fortaleza-CE, do dia 5 para o dia 6 de agosto de 2005, que os 
meliantes escavaram um túnel de aproximadamente de 89 metros, e furtaram a quantia de 
R$ 164.755.150,00, em notas de R$ 50,00, montante que foi considerado o maior furto 
da história do pais e o segundo maior roubo a banco do mundo. 
Os militantes foram denunciados como incurso nos crimes de furto qualificado, 
formação de quadrinha, ocultação de bens e valores de documentos falso, falsa identidade, 
posse ilegal de arma de fogo de uso restrito e lavagem de dinheiro. Segundo narra a 
sentença exarada em primeiro grau, com a finalidade de “lavar” o dinheiro oriundo do 
referido furto, dois acusados, José Vieira e Francisco Vieira, sócios da empresa 
revendedora de veículos Brilhe Car Automóveis venderam a terceiros, por intermédio de 
José Charles, onze veículos no valor de R$ 730.000,00, deixando um saldo de R$ 
230.000,00 para quitação futura de veículos na revenda, perfazendo o montante de R$ 
 
16 MORO, Sergio Fernando. Crime de lavagem de dinheiro. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 64-5. 
17 ESTADOS UNIDOS DA AMERICA. United States vs. Campbell. 05 jun. 1982. Disponível em: 
<https://law.resource.org/pub/us/case/reporter/F2/977/977.F2d.854.91-5695.html>. Acesso em: 07 junho. 
2019 
13 
 
980.000,00, que foram levados ao estabelecimento pelo próprio intermediador, em notas 
de R$ 50,00, armazenadas em sacos de náilon. O juiz singular, ao proferir a sentença, 
considerou que o acusado José Charles, de fato, possuía conhecimento quanto à origem 
ilícita do dinheiro utilizado para a aquisição dos veículos. Em quanto a José Vieira e 
Francisco Vieira, o magistrado entendeu que, embora não tivesse conhecimento da 
origem ilícita dos valores, tinha elementos suficientes para desconfiar da origem do 
dinheiro, aplicado, desta forma, a doutrina das instruções da avestruz ao caso. 
Em recurso de apelação, Charles sustentava em sua defesa que não tinha ocorrido 
no delito de Lavagem de Dinheiro em face o delito de furto não integra o rol de delitos 
antecessores que constava na lei 9.613/98 e a ausência de dolo ante o desconhecimento 
da origem do dinheiro que lhe fora entregue para intermediação na compra dos veículos. 
José Vieira e Francisco Vieira alegaram a ausência de dolo e de provas convincentes que 
pudessem justificar um juízo condenatório, e que a venda dos carros ao correu José 
Charles foi de boa-fé, pugnando, em último caso, ao instituto do in dúbio pro reo. 
O tribunal da regional federal da 5.º região18, ao apreciar a apelação interposta 
pelos réus, considerou que o conjunto probatório existente contra o réu José Charles é 
suficiente para condená-lo pelo delito de lavagem de capitais. No que se refere a análise 
das apelações interpostas pelos sócios da empresa Brilha Car, José e Francisco Viera, o 
relator analisa o ponto, sustentando que as provas constantes nos autos são suficientes 
para a condenação dos então recorrentes: 
O problema reside em saber se é possível a responsabilização criminal dos 
empresários sem a presença de prova segura de que soubessem ou devessem 
saber da origem espúria do dinheiro que receberam e transação comercial 
aparentemente regular. [...] O recebimento antecipado de numerário (mais de 
duzentos mil, reais), para escolha posterior dos veículos é intrigante, mas, a 
meu sentir, não autoriza presumir que, por essa circunstância, devessem os 
empresários saber que se tratava de reciclagem de dinheiro. A própria sentença 
recorrida realçou que aos “irmãos José Elizormarte e Francisco Dermival, ao 
que tudo indica, não possuíam” a percepção de que o numerário utilizado tinha 
origem no furto do Banco Central (fls. 3949), mas “certamente sabia ser de 
origem ilícita”. Aplicou, assim, a teoria da CEGUEIRA DELIBERADA ou de 
EVITAR A CONCIÊNCIA (willful blindness ou conscious avoidance 
doctrine), segundo a qual a ignorância deliberada equinale a dolo eventual, não 
se confundindo com a mera negligência (culpa consciente). A sentença 
recorrida procura justificar a adequação da àquela doutrina, originaria das 
ostrich instructions (instruções do avestruz), utilizadas por tribunais norte-
americanos, ao dolo eventual admitido no Código Penal brasileiro, [...]. 
Entendo que a aplicação da cegueira deliberada depende de sua adequação ao 
 
18 BRASIL.TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL(5º região). Apelação Criminal 5520-CE 
2005.81.00.014586-0. Relator Rogério Moreira. 09 nov. 2008. Disponível em: 
<http://www.trf5.jus.br/archive/2008/10/200581000145860_20081022.pdf>. Acesso em: 24 junho. 2019. 
14 
 
ordenamento jurídico nacional. No caso concreto, pode ser perfeitamente 
adotada, desde que o tipo legal admita a punição a titulo de dolo eventual. [...] 
No que tange ao tipo utilizar “na atividade econômica ou financeira, bens, 
direitos ou valores que sabe serem provenientes de qualquer dos crimes 
antecedentes referidos neste artigo” (inciso I do § 2º), a própria redação do 
dispositivo exige que o agente SABIA que o dinheiro é originado de algum dos 
crimes antecedentes. O núcleo do tipo não se utiliza se quer da expressão 
DEVERIA SABER (geralmente denotativa do dolo eventual). Assim sendo, 
entendo que, ante as circunstâncias do caso concreto, não há como se aplicar a 
doutrina da willful blindness. As evidencias não levam a conclusão de que os 
sócios da BRILHE CAR sabiam efetivamente da origem criminosa dos ativos. 
Não há a demonstraçãoconcreta sequer do dolo eventual. 
A turma entendeu por dar provimento ao recurso interposto pelos sócios da 
revenda de automóveis, aplicando o princípio do in dubio pro reo, com base nos art. 386, 
inciso VII do Código de processo Penal19, por não entender presentes os requisitos 
necessários para a aplicação da Willful Blindness Doctrina ao caso. 
Vislumbramos também e Teoria sendo empregada nos crimes de aliciamento 
eleitoral vejamos: 
Corrupção eleitoral. Eleições 2006. Fornecimento continuo de sopa, cesta 
básica e patrocínio de curso. Propósito de voto em candidata à reeleição a 
deputado estadual. Período eleitoral. Filantropia. Desvirtuamento. 
Oportunismo Eleitoreiro. Materialidade de autoria comprovadas. Atos 
conhecidos e provas relevantes do ilícito. Articulação à prova oral. Inteligência 
do código de processo penal, artigo 239. Presidência de prova direta quanto à 
pratica ilícita. Manobras sub-receptícias e “mise-en-scène”. Delimitação de 
autoria: crédito do domínio do fato. Princípio do livre convencimento 
motivado. Dolo configurado. Teoria da Cegueira Deliberada. Crime formal. 
Acolhimento da pretensão punitiva estatal. Condenação. Continuidade aberto. 
Penas substitutivas de prestação de serviços à comunidade e prestação 
pecuniária. Multa (89 RO, Relator: Élcio Arruda, Data de Julgamento: 
23/11/2010, Data de Publicação: DJE/TER-RO-Diário Eletrônico da justiça 
Eleitoral, Data 30/11/2010). 
Embargos Infringentes corrupção Eleitoral. Eleições 2004. Oferecimento de 
Alimentação, Doação de bonés, camisetas e canetas, a troco de voto em 
candidatos a prefeito e vereador. Materialidade e autorias comprovadas. 
Confissão. Delação. Prova direta conjugada à indireta. Manobras sub-reptícias 
e “Mise-em-scène: “ Reunião”. Princípio do livre convencimento motivado. 
Dolo configurado. Teoria da Cegueira Deliberada. Crime formal. Embargos 
desprovidos. 
Neste terreno, os agentes, por si ou interpostos pessoas, atuam de modo sub-
reptício, dissimuladamente, sem deixar vestígios cabais. E, permitidas. Do 
“mise-em-scène” da encenação, o julgador há de extrair as nuanças 
permissivas ao descontinho do verdadeiro escopo do agente. “Dolusdirectus” 
presente, Imitação viável, no mínimo, a título “doluseventualis” (CP, artigo 18. 
I, 2º parte): mesmo seriamente considerando a possibilidade de realização do 
tipo legal, os agentes não se detiveram, conformando-se ao resultado. Teoria 
da “cegueira deliberada” (“willfulblindness” ou 
“consciousavoidancedoctrine”). A corrupção eleitoral, em qualquer de suas 
modalidades, inclui-se no rol dos crimes formais. Para configura-la, “basta o 
 
19 BRASIL. DECRETO Nº 3.669, DE 03 DE OUTUBRO DE 1941. Código Processo Penal, Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm>. Acesso em: 24 junho. 2019. 
15 
 
dano potencial ou o perigo do dano ao interesse jurídico protegido, cuja 
segurança fica, destarte, pelo menos, ameaçada”, segundo Nélson Hungria. (65 
RO, Relator: ÉLCIO ARRUDA, Data de Julgamento: 13/12/2007, Data de 
Publicação: DJ – Diário de justiça, Volume 003, 07/01/2008, Página 37) 
Os dois casos apresentados, identificou-se a possibilidade de a aplicação da Teoria 
da Cegueira Deliberada acatando-se a probabilidade da consumação do tipo licito e a 
compleição com ela. A teoria em questão se encontra configurada quando os candidatos 
aos pleitos eleitorais não encheram a ilicitude de seus atos, a fim se tirar proveito da 
situação. 
 
5. A PLICAÇÃO DA TEORIA VERÇOS O PRINCIPIO DA LEGALIDADE E 
CULPABILIDADE 
O Princípio da culpabilidade20 possui três sentidos fundamentais: 
 
1) culpabilidade como elemento integrante do conceito analítico de crime; 
 
2) culpabilidade como princípio medidor de pena; 
 
3) culpabilidade como princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva 
(responsabilidade penal sem culpa ou pelo resultado). 
Culpabilidade como elemento integrante da teoria analítica do crime, a 
culpabilidade é a terceira característica ou elemento integrante do conceito analítico de 
crime, sendo estudada, sendo Welzel, após a análise do fato típico e da ilicitude, ou seja, 
após concluir que o agente praticou um injusto penal; 
Culpabilidade como princípio medidor da pena, uma vez concluído que o fato 
praticado pelo agente é típico, ilícito e culpável, podemos afirmar a existência da infração 
penal. Deverá o julgador, após condenar o agente, encontrar a pena correspondente à 
infração praticada, tendo sua atenção voltada para a culpabilidade do agente como critério 
regulador. 
Culpabilidade como princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva, ou 
seja, da responsabilidade penal sem culpa, o princípio da culpabilidade impõe a 
subjetividade da responsabilidade penal. Isso significa que a imputação subjetiva de um 
 
20 JUS.COM.BR. Disponível em:<https://jus.com.br/artigos/67749/principio-da-culpabilidade-
responsabilidade-penal-subjetiva-ou-objetiva>. Acessado 24 junho. 2019. 
16 
 
resultado sempre depende de dolo, ou quando previsto, de culpa, evitando a 
responsabilização por caso fortuito ou força maior. 
Já o princípio da legalidade21 é um conceito jurídico parte dos direitos e garantias 
fundamentais do indivíduo, e estabelece que não existe crime se não estiver previsto em 
lei. 
A palavra princípio significa algo que vem logo no começo, a causa, o que dá a 
base é, portanto, uma definição pela qual a teoria se desenvolve. No universo jurídico, os 
princípios são postulados criados para estruturar o Estado de Direito. 
Legalidade vem de legal, que significa a característica daquilo que está dentro da 
lei ou toda ação criada em conformidade com a legislação integra a legalidade. 
O princípio da legalidade é, portanto, uma das bases do ordenamento jurídico 
brasileiro, e todas as normas devem respeitar esta noção da nulidade de punição no caso 
de inexistência de regra prévia. O postulado aparece desde a Constituição Federal de 
1988, assim como também faz parte do Código Penal Brasileiro. 
A síntese do princípio da legalidade seria a frase latim nullum crimen nulla poena 
sine lege, que na tradução do latim quer dizer que nenhum crime será punido sem que 
haja uma lei. 
Também de acordo com o Princípio da Legalidade ninguém está obrigado a fazer 
ou deixar de fazer algo, a menos que seja previsto em lei. É o que consta no artigo 5º, 
Inciso II, da Constituição Brasileira de 198822. 
Da perspectiva do Direito Penal, o Princípio da Legalidade pode ser entendido 
como a garantia individual de que o legislador não vai atuar na criação de leis e 
penalizações sobre fatos acontecidos anteriormente. 
Como já podemos constatar e encima dessa celeuma doutrinária em que se 
encontra a discussão se sua aplicabilidade, pois, vai de encontro com o princípio da 
legalidade e culpabilidade, sem dúvida a celeuma aqui presente é de fundamental 
importância para estabelecer uma atuação é dolosa ou culposa, o que pode se lançar em 
graves seguimentos punitivos, com relação à lavagem de capitais, a diferenciação 
corresponderá, como dito, à deliberação através de punir ou não, com a visão no delito, 
 
21 Significado. Disponível em:<https://www.significados.com.br/principio-da-legalidade/>. Acessado em 
13 de setembro de 2018. 
22 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível 
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 24 junho. 2019. 
17 
 
no ordenamento jurídico brasileiro, não está previsto esse tipo de categoria imprudente. 
Para Viana23, pode-se orientarem três maiores vias: 
 
i) a primeira delas composta por um grupo de teorias o qual se poderia 
denominar genericamente teorias da disposição de ânimo; grosseiramente, essa 
via não permite renunciar à dupla programação volitiva do dolo e, portanto, 
exige que a decisão sobre a maior ou menor punição do comportamento seja 
realizada com base nas balizas indicadas pela vontade do agente; ii) a segunda 
via é integrada pelo grupo que rivaliza com o anterior, um grupo de teorias que 
poderíamos denominar genericamente teorias da representação; basicamente, 
os seus defensores negam a necessidade de um elemento volitivo dentro da 
estrutura do crime doloso e preferem traçar os limites entre as duas 
modalidades intermediárias de imputação a partir de uma base meramente 
cognitiva; iii) finalmente, o terceiro grupo de teorias, aqui também 
genericamente denominadas teorias do risco. Igualmente vinculada a uma 
concepção cognitiva, mantem o elemento intelectual do dolo, posto que 
irrenunciável, mas alteram a programação do seu conteúdo: no lugar do 
resultado, a representação do perigo de realização do tipo passa a ser o objeto 
de referência do comportamento doloso. 
 
6. REALMENTE A TEORIA FAZ JUSTIÇA 
 
 
Como pudemos vislumbrar a teoria da Cegueira Deliberada, vem realmente suprir 
uma lacuna deixada pelo direito penal, pois, com o advento dos crimes transnacionais não 
poderia ser de outra forma a aplicabilidade de uma teoria ora não prataria, pois, apesar de 
sua incompatibilidade com o ordenamento jurídico pátrio, mais aqui pode ser usar o 
princípio do “in dubio pro societate”, insculpido no art. 413 do Código de Processo 
Penal24, apesar de sua incompatibilidade com o ordenamento jurídico vigente, vem se 
mostrando eficiente e cada vez mais vem sendo usada pelas cortes em seus julgados. 
Como o da ação penal 470/MG, apelidada de “Mensalão”, quando o Supremo 
Tribunal Federal verificou incidentalmente a teoria, condenando, em sede de dolo 
eventual, pelos crimes previstos no art. 1º da Lei de Lavagem de capitais, efetuados 
mesmo antecedentemente às transformações postas pela Lei nº 12.683/12. No julgamento, 
ergueu-se a discussão o ministro Celso de Mello, que se manifestou pela admissibilidade 
 
23 VIANA, 2017, passim; PORCIÚNCULA, José Carlos. Lo “objetivo” e do “subjetivo” en el tipo penal. 
Hacia la “exteriorización de lo interno”. Barcelona: Atelier Libros Jurídicos, 2014, passim; BUSATO, 
Paulo César (coord.). Dolo e direito penal: modernas tendências. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, passim. 
24 BRASIL. DECRETO Nº 3.669, DE 03 DE OUTUBRO DE 1941. Código Processo Penal, Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm>. Acesso em: 24 junho. 2019. 
18 
 
da aplicação da teoria da cegueira deliberada para a responsabilização por dolo eventual, 
conforme o Informativo nº 684 do STF25 (BRASIL, 2012, p. 04): 
Ato contínuo, o decano da Corte, Min. Celso de Mello, admitiu a possibilidade 
de configuração do crime de lavagem de valores mediante dolo eventual, com 
apoio na teoria da cegueira deliberada, em que o agente fingiria não perceber 
determinada situação de ilicitude para, a partir daí, alcançar a vantagem 
pretendida. 
Pelos, os argumentos que emanam das várias decisões prolatadas pelas cortes 
superiores há de ser seguidas pelas demais cortes no pais para que se tenha a segurança 
jurídica e assim pacificar o seu uso, no entendimento o Congresso Nacional ser a mesma 
incluída no ordenamento pátrio. 
Nunca se viu no pais uma devassa nos crimes de Lavagem de Capitais, e surtindo 
seus efeitos, julgando e condenando aqueles que ora dilapidavam o patrimônio Nacional, 
agora se encontram desprovidos do fruto de seus crimes, e presos ou pelo menos 
condenados e sem o fruto do seu desvio de conduta. 
Nesta perspectiva a teoria da cegueira deliberada vem sendo aplicada no 
ordenamento jurídico brasileiro, mais ainda o dolo eventual, mais há de haver uma 
organização de suas cláusulas para que seja utilizada pelos magistrados, para que haja 
segurança jurídica no ordenamento jurídico-penal, desta forma se evite as injustiças na 
imputação das responsabilidades penais dos indivíduos. 
 
7. CONCLUSÃO 
 
A partir do que foi apresentado, é demostrado casos exemplificados que foram 
aplicados a Teoria da Cegueira Deliberada, sendo esses casos aplicados no delito de 
lavagem de capitais, desta forma foi possível demostrar também que a mesma pode ser 
aplicada em outras áreas como a eleitoral, tráfico de drogas, receptação, ambientais, 
previdenciários, improbidade administrativa, são exemplos e assim se moldando a 
necessidade do povo. 
Fica demostrado que na atualidade não há óbices jurisprudências referente à 
utilização da teoria da cegueira deliberada no estado brasileiro, isso nada mais é do que 
as reações contra a evolução dos tipos de crimes, principalmente sua expansão que ora 
era realizada em um só estado agora passa a ser usar em vários países estados, se 
 
25 BRASIL. STF Informativo nº. 684: AP 470/MG – 135. Brasília: 15 a 19 out. 2012.Disponível 
em:<http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo684.htm>. Acesso em: 24junho. 
2019. 
19 
 
moldando a cada legislação os chamados crimes transnacionais que não conhece 
fronteiras. 
Essa metamorfose e acompanhada de perto pelo direito para que cada vez mais 
possa ser eficaz, se moldar para combater o crime organizado e diminua a força do 
mesmo, apreendendo e confiscando o fruto desse tipo de crime que se internacionalizou 
e ora vem perdendo sua força em nosso pais, retirando o combustível que alimenta estas 
organizações, deixando os militantes sentados no fruto do seu ato ilegal. 
As dúvidas que ora rodeavam aplicação da teoria ficaram demostrado que a pesar 
de sua incompatibilidade com o ordenamento jurídico pátrio e mesma está sendo aplicada 
pelas cortes superiores é seguindo o princípio “in dubio pro societate”, vem fazendo 
justiça é o que se achava impossível anteriormente, agora ver chefes dos crimes de 
colarinho branco sendo presos condenados pelos seus crimes, e mais o retorno das divisas 
que hora tinham sido surrupiadas. 
Isto posto, a teoria da cegueira deliberada é um momentoso regulamento jurídico 
que vem contribuindo no confronto das organizações criminosas tanto nacionais como as 
Transnacionais, mais há de haver um padrão a ser seguido para que neste sentido não haja 
a pratica de injustiças, para que se possa trazer segurança jurídica em sua aplicação, com 
observância ao Direito Penal de jeito que a evidencia da culpabilidade e outros 
fundamentos não venha se deturpados. 
 
8. BIBLIOGRAFIA 
 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível 
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 
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_______. DECRETO Nº 3.669, DE 03 DE OUTUBRO DE 1941. Código Processo 
Penal, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm>. 
Acesso em: 24 junho. 2019; 
20 
 
_______. Lei nº 12.683/12, de 09 de julho de 2012. Altera a Lei no 9.613, de 3 de março 
de 1998. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12683.htm>. Acessado em: 23 de junho de 2019; 
_______. Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 20002. Promulga o Estatuto de Roma 
do Tribunal, Penal, Internacional. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/S4388.htm>. Acesso em: 01 junho. 
2019; 
_______. TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL (5º região). Apelação Criminal 5520-
CE 2005.81.00.014586-0. Relator Rogério Moreira. 09 nov. 2008. Disponível 
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em: 13 setembro. 2018; 
_________. STF Informativo nº. 684: AP 470/MG – 135. Brasília: 15 a 19 out. 
2012.Disponível em:< 
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