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Lei de Responsabilidade Fiscal na Administração Pública

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Lei de Responsabilidade Fiscal na Administração Pública.
A Lei de Responsabilidade Fiscal, com sustentáculo nos artigos 163 a 169 da Constituição Federal, constitui o principal instrumento regulador das contas públicas no Brasil, e fundamenta a administração financeira eficiente.
Aprovada em 04 de maio de 2000, a Lei Complementar nº 101/2000, está estruturada por setenta e cinco artigos e promoveu uma mudança no trato com as finanças públicas.
Na dicção balizadora de Marcos Nóbrega:[1: NÓBREGA, Marcos. Lei de Responsabilidade Fiscal e Leis Orçamentárias. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2002, p. 20.]
A responsabilidade fiscal representa um conceito inovador no ordenamento jurídico brasileiro. Transcende a mera responsabilidade civil do Estado e invade outros campos como a prestação de contas, a transparência, a cidadania. Responsabilidade fiscal também é um parâmetro comportamental que busca estabelecer um novo modelo de gestão fiscal no Brasil. Advém do conceito alienígena de accountability, porém vai além, posto que assume uma dimensão ampla, abrangendo ideários tão caros em um país com déficit de cidadania e desestímulo ao controle social como o Brasil. 
De fato, Lei de Responsabilidade Fiscal-LRF se trata de uma demanda oriunda da crise econômico-fiscal, asseverada em meados dos anos 80, com o alto endividamento dos entes federativos, os elevados déficits orçamentários e elevada carga tributária.
Tanto que em 1998, quando a Lei passou a ser concebida, o diagnóstico da situação fiscal brasileira indicava a presença de déficits imoderados e reiterados em todos os níveis de governo, historicamente financiados através de inflação, impostos, dívidas e privatização.
Nesse sentido, é bastante elucidativa a lição de Régis Fernandes de Oliveira, acerca do contexto existente nessa época:[2: OLIVEIRA, Régis Fernandes de. Curso de Direito Financeiro, 2ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 397.]
A experiência brasileira, em todos os planos de governo, mostra que há um verdadeiro descalabro no tocante à gestão da coisa pública. O dinheiro público é confundido com o particular. Políticos inescrupulosos cuidam do dinheiro oficial como coisa particular. Destinam-no aos mais diversos fins, longe daqueles de atingimento das finalidades públicas. O endividamento alcança as raias do absurdo. É comum que se onere o Município ou o Estado, porque está em vias de terminar o mandato do governante. O outro que pague. Os restos a pagar sobejam nos orçamentos. A emissão de títulos dá se acima dos limites permitidos”.
Por certo, a solução identificada foi consequência de um longo processo de evolução das instituições orçamentárias no Brasil, o que germinou na sociedade a noção de que o governante não deve gastar mais do que arrecada. 
Com efeito, a Lei de Responsabilidade Fiscal é consequência da mudança de paradigma na gestão da coisa pública operada pela Constituição de 1988, na medida em que prioriza o equilíbrio orçamentário, e impõe à Administração Pública deveres de eficiência, moralidade e demais princípios preconizados em seu art. 37.[3: TORRES. Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional, Financeiro e Tributário, Vol.V, 2ª Ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000., p. 286]
Dos avanços conduzidos pela LRF, destaca-se o incremento da atividade de controle dos gastos públicos, instrumento importante para nortear a gestão governamental, bem como o incentivo à participação da sociedade no modelo de gestão governamental, por meio de mecanismos que possibilitam maior qualidade no planejamento, da edição à execução do orçamento.[4: Dentre as principais mudanças introduzidas pela LRF ainda podemos citar a exigência de estabelecimento de metas fiscais trienais e de corte de despesas nos três poderes, em caso de previsão de descumprimento das metas; o mecanismo de compensação para renúncia de receita e geração de despesas de caráter continuado; a imposição de limites e exigências para as despesas de pessoal, por Poder, e para o endividamento, bem como para a recondução aos limites fixados; a vedação de condutas consideradas indesejáveis, em especial no que se refere a endividamento entre entes da federação; regras de transparência, incluindo a publicação frequente e o acesso público aos relatórios que atestem o cumprimento das regras; e a imposição de penalidades, inclusive pessoais, aos administradores públicos que infringirem as regras acima. ]
Mecanismos de interação entre as instituições públicas, órgãos de controle e os cidadãos foram implementados. Promoveu-se a participação através de audiências públicas para que validem ou não a geração e alocação dos recursos públicos, tudo a aperfeiçoar e a maximizar os resultados em prol do bem comum da sociedade.
Apesar dos avanços, ainda muitos desafios devem ser superados para que alcancemos o almejado, mediante o fortalecimento da cultura da transparência em nosso país, seja nas organizações públicas como nas não-governamentais.
Uma transparência que exceda o campo da gestão fiscal e possibilite a construção de uma governança ética e democrática, favorável ao desenvolvimento includente e gerador de oportunidades, em que o equilíbrio fiscal e o crescimento econômico sejam meios, e não um fim em si mesmo.
Em suma, a Lei de Responsabilidade Fiscal se fundamenta em quatro pilares que respaldam uma boa gestão pública, quais sejam, o planejamento; a transparência; o controle e a responsabilidade.[5: Artigo 1º, §1º, da Lei de Responsabilidade Fiscal - Lei Complementar nº 101/2000.]
Para a Administração Pública, o planejamento tem como principal propósito “identificar os objetivos e gerar processo capaz de garantir, no tempo adequado, a disponibilidade da estrutura e dos recursos necessários para a execução de determinada ação concreta ou atitude decisória considerada relevante que possibilite um controle imediato”.[6: CRUZ, Flávio et al. Lei de responsabilidade fiscal comentada, São Paulo: Atlas, 2001, p. 16.]
Nesse contexto, é o planejamento que garante o suporte à gestão fiscal, por meio de mecanismos como o Plano Plurianual (PPA), a Lei Orçamentária Anual (LOA) e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), instrumentos que viabilizam a programação e execução orçamentária, bem como o alcance de objetivos e metas prioritárias. [7: Plano Plurianual é “um instrumento de planejamento público previsto na Constituição Federal que tem como finalidade estabelecer as diretrizes, os objetivos e as metas para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas a programas de duração continuada. É enviado ao Legislativo por meio de Projeto de lei”. Cf. MARQUES DA SILVA. Moacir; ANTONIO DE AMORIM, Francisco; LEÔNCIO DASILVA, Valmir. Lei de responsabilidade fiscal para os Municípios. São Paulo: Atlas, 2004, p. 22. ][8: Lei Orçamentária Anual é “também um instrumento de planejamento público, por meio do qual são previstas as receitas e fixadas as despesas de acordo com as regras previstas na Lei de Diretrizes Orçamentárias e no Plano Plurianual”. Cf. MARQUES DA SILVA. Moacir; ANTONIO DE AMORIM, Francisco; LEÔNCIO DASILVA, Valmir. Lei de responsabilidade fiscal para os Municípios. São Paulo: Atlas, 2004, p. 29. ][9: A Lei de Diretrizes Orçamentárias tem a finalidade precípua de orientar a elaboração dos orçamentos fiscais e da seguridade social e de investimentos das empresas estatais. Busca sintonizar a Lei Orçamentária Anual - LOA com as diretrizes, objetivos e metas da administração pública, estabelecidas no PPA. De acordo com o parágrafo 2º do art. 165 da CF, a LDO: compreenderá as metas e prioridades da administração pública, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente; orientará a elaboração do LOA; disporá sobre as alterações na legislação tributária; e estabelecerá a política de aplicação das agencias financeiras oficiais de fomento. De acordo com pesquisas realizadas no sítio digital do Tesouro Nacional. Lei de diretrizes orçamentárias. Disponível em: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/web/stn/-/execucao-orcamentaria.Acesso em 16/04/2019.][10: Artigo 3º a 7º, da Lei de Responsabilidade Fiscal - Lei Complementar nº 101/2000.]
É de grande mérito a integração entre as peças orçamentárias (PPA, LDO e LOA) pela Lei de Responsabilidade Fiscal, pois proporciona ao planejamento do gasto público uma sistemática que evidencia a estrutura de seu financiamento num período mais longo, permitindo maior controle social sobre o gasto.
Com vinte e oito artigos tratando direta ou indiretamente sobre planejamento, a LRF criou novas informações, metas, limites e condições para a renúncia de receita, para a geração de despesas, inclusive com pessoal e de seguridade, para assunção de dívidas, realização de operações de crédito, incluindo antecipação de receita orçamentária, e para a concessão de garantias, o que evidencia que a disciplina fiscal somente poderá ser alcançada com o adequado planejamento das ações de governo e da execução orçamentária.[11: op. cit. VIGNOLI, Francisco Humberto, MORAES, Adelaide M. Bezerra et alli. A Lei de Responsabilidade Fiscal comentada para municípios. São Paulo. FGV / EAESP. 2002.]
Assim, regulamentou a relação entre planejamento e orçamento “impondo normas de Planejamento e Controle das Contas Públicas, estabelecendo critérios transparentes para a estimativa da Receita e severos controles da Despesa Pública, definindo o conteúdo da pesquisa e em todo o processo de prestação de contas e fiscalização, buscando assegurar a transparência da gestão fiscal”.[12: VIGNOLI, Francisco Humberto. Legislação e execução orçamentária -capítulo 19 in Economia do Setor Público no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, 4ª impressão, p. 365 et seq.]
Como mencionado alhures, a Lei de Responsabilidade Fiscal se trata de verdadeira inovação legislativa em vista da antiga tradição, pouco prudente e tantas vezes refutada em diagnósticos de problemas fiscais. 
Com o desígnio de garantir o equilíbrio orçamentário e implementar a responsabilidade na gestão pública, a LRF introduziu mecanismos para prevenção de riscos capazes de afetar a sustentabilidade das contas públicas, seja através do controle e restrição da expansão dos gastos públicos e do endividamento estatal, seja em relação à garantia da efetiva entrada das receitas necessárias ao desenvolvimento da atividade estatal. 
É notório que a Lei de Responsabilidade Fiscal apresenta especial uma preocupação com a receita pública.
Na conceituação de Sainz de Bujanda e Celso Ribeiro Bastos, receitas públicas “são as somas de dinheiro que recebem o Estado e os demais entes públicos para cobrir com elas seus gastos”.[13: Apud BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Financeiro e de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 36.]
Todo numerário que ingressa nos cofres públicos pode ser conceituado como “entrada”, mas nem sempre será classificado como receita pública.
Conforme notável explicação de Luiz Emygdio Rosa Jr., a receita pública compreende três requisitos essenciais: [14: ROSA JR., Luiz Emygdio F. da. Manual de Direito Financeiro e Direito Tributário. 13. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 50.]
a) que o dinheiro integre de modo permanente o patrimônio público (logo, as entradas de natureza provisória como a fiança não podem ser consideradas receitas públicas); 
b) que este numerário não esteja sujeito à devolução (portanto, os empréstimos não constituem receitas públicas); 
c) que o patrimônio público venha a ser acrescido com esse elemento novo (a venda de um bem determinará uma baixa patrimonial, logo o numerário decorrente não constituirá um elemento novo, não podendo ser considerado receita, embora determine uma entrada).
Portanto, receita é a entrada definitiva de dinheiro nos cofres públicos.[15: OLIVEIRA, Regis Fernandes de; HORVATH, Estevão, op. cit., p. 32. No mesmo sentido: BALEEIRO, Aliomar. Uma Introdução à Ciência das Finanças. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 116. DENARI, Zelmo. Curso de Direito Tributário. 6. ed. São Paulo: Forense, 1996, p. 16.]
Á luz da doutrina, as receitas públicas recebem diversas classificações a partir de aspectos relevantes, tais como: a periodicidade do ingresso, a origem da receita, as decorrentes de transferência entre várias.
As receitas originárias são auferidas pelo Estado através da exploração de seus próprios bens. Geraldo Ataliba esclarece que as receitas originárias decorrem da exploração pelo Estado de seus instrumentos, bens ou serviços, ou do uso de seu poder de constranger os submetidos à sua força ao concurso compulsório. Via de regra são receitas voluntárias e contratuais de direito privado (receitas patrimoniais).[16: Apud OLIVEIRA, Regis Fernandes de; HORVATH, Estevão, op. cit., p. 33.]
As receitas derivadas decorrem do exercício do poder de império estatal sobre o patrimônio particular, quem é compelido a promover o recolhimento de determinada importância ao cofre público.
São receitas obrigatórias, de direito público, legais, compreendendo os Tributos, as Multas (fiscais ou administrativas), e o Confisco (decorrente de contrabando, apreensão de armas de criminosos, etc)
Ricardo Lobo Torres leciona que o Estado Liberal vive da receita derivada representada pelos tributos, sendo escassas as receitas originárias, que têm como principais formas o preço público, as compensações financeiras e os ingressos comerciais.[17: TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Financeiro e Tributário. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 160.]
As receitas transferidas são as que, apesar de constituírem tributo, não há utilização exclusiva pelo ente arrecadador, decorrem do disposto no art. 157 a 162 da Constituição Federal, onde há fixação de competência para instituição do tributo e expressa determinação de partição da arrecadação como os demais Entes da Federação.
Há também a classificação de aspecto econômico, dada pela Lei nº 4.320/64: Receitas Correntes e Receitas de Capital. 
Receitas Correntes são as receitas tributárias, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras, e ainda as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender a despesas classificáveis em Despesas Correntes. A Lei de Responsabilidade Fiscal adotou o conceito de Receita Corrente Líquida.[18: Artigo 2º, IV, da Lei de Responsabilidade Fiscal - Lei Complementar nº 101/2000: Receita corrente líquida: somatório das receitas tributárias, de contribuições, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes e outras receitas também correntes, deduzidos.]
 Receitas de Capital são as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão em espécie de bens e direitos; dos recursos recebidos de outras despesas de direito público ou privado, destinados a atender a despesas classificáveis em Despesas de Capital, e ainda, o superávit do orçamento corrente.[19: ROSA JR., Luiz Emygdio F.da, op. cit., p. 61.]
Certo é que a obtenção de receita é essencial para que o Estado desenvolva suas atividades. Neste ponto, a lei prenuncia ao Estado que empenhe toda a sua capacidade de arrecadação tributária nos seguintes termos, in verbis:
Art. 11. Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação.[20: Art. 11, da Lei de Responsabilidade Fiscal - Lei Complementar nº 101/2000.]
Portanto, é determinado aos Entes federados que ultimem esforços para maximizar suas receitas próprias, tudo mediante metodologias transparentes e economicamente consistentes. 
Ora, equilíbrio das contas públicas exige não somente o controle dos gastos, mas igualmente a responsabilização no manejo das receitas públicas, assim a boa aplicação dos recursos depende, antes, da devida cautela na arrecadação.
Demais disso, um instrumento bastante utilizado por Governos é a renúncia de receita, com previsão no artigo 14 da LRF,que objetiva incentivar atividades econômicas especificas, até mesmo alavancar o desenvolvimento de regiões mais carentes.
Quanto ao tratamento dado pela Lei de Responsabilidade Fiscal à concessão de benefícios fiscais que importem em renúncia de receita, elucida Estevão Horvath:[21: HORVATH, Estevão. A Constituição e a Lei Complementar n. 101/2000 (“Lei de Responsabilidade Fiscal”): algumas questões. In: Aspectos Relevantes da Lei de Responsabilidade Fiscal.Valdir de Oliveira Rocha (coord). - São Paulo: Dialética, 2001. p.160. ]
A concessão de benefícios fiscais, pela própria natureza destes, é feita para buscar minorar desigualdades regionais e sociais. Diríamos, até, que a concessão de uma isenção, por exemplo, é forma legítima de procurar a igualdade. É desigualando-se que, muitas vezes, se iguala. Certos incentivos, outorgados com vistas a estimular determinadas atividades, estão proibidos de ser concedidos por um Município, por exemplo? Queremos crer que não.
Ao renunciar impostos o Governo busca impulsionar empresários a destinar recursos próprios aos empreendimentos, ampliando assim os recursos disponíveis para investimentos.
A esse respeito, esclarece Ives Gandra da Silva e Carlos Valder do Nascimento sobre a renúncia de receita: [22: NASCIMENTO, Carlos Valder e, MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários à lei de responsabilidade fiscal. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 135.]
[...] desistência do direito sobre determinado tributo, por abandono ou desistência expressa do ente federativo competente para sai instituição. De sorte que importa sempre um abandono ou numa desistência voluntária, pela qual o titular de um direito deixa de usá-lo ou anuncia que não quer utilizar. Nesse caso, a renúncia decorre de incentivos fiscais. 
Não raras vezes, a doutrina classifica a renúncia de receita como gasto tributário, já que se trata de mecanismo referente a benefício tributário que produz os mesmos resultados econômicos de despesa, na medida em que importa na diminuição da entrada de recursos nos cofres públicos.
Destarte, para o equilíbrio orçamentário é necessário controlar as despesas públicas, como também evitar demasiada renúncia de receitas. Assim, a Lei de Responsabilidade Fiscal, em seu artigo 14, estabelece regras a serem observadas.[23: Art. 14. da Lei de Responsabilidade Fiscal - Lei Complementar nº 101/2000: A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes condições:I - demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo próprio da lei de diretrizes orçamentárias;II - estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição.§ 1o A renúncia compreende anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de alíquota ou modificação de base de cálculo que implique redução discriminada de tributos ou contribuições, e outros benefícios que correspondam a tratamento diferenciado.§ 2o Se o ato de concessão ou ampliação do incentivo ou benefício de que trata o caput deste artigo decorrer da condição contida no inciso II, o benefício só entrará em vigor quando implementadas as medidas referidas no mencionado inciso.§ 3o O disposto neste artigo não se aplica:I - às alterações das alíquotas dos impostos previstos nos incisos I, II, IV e V do art. 153 da Constituição, na forma do seu § 1º;II - ao cancelamento de débito cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobrança.]
Não se pode cogitar a renúncia sem que se verifique previamente sua repercussão no orçamento, de modo que a renúncia que ocasione diminuição na receita pública deve estar acompanhada de estimativa de impacto orçamentário-financeiro no exercício de sua vigência, e nos dois exercícios seguintes.
Ainda, nos moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal, deve ser demonstrado que a renúncia de receita foi considerada na Lei Orçamentária Anual e sua implementação não prejudicará as metas previstas na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Além disso, o ato que implica em renúncia somente produzirá efeitos quando assegurada sua compensação através de aumento de receita, proveniente de elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, aumento ou criação de tributo ou contribuição. 
Ademais, outro objetivo pretendido pela Lei de Responsabilidade Fiscal refere-se à diminuição dos gastos com pessoal, em regulamentação ao disposto no art. 169 da Constituição Federal.[24: Art. 169, CF: A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.]
A LRF instituiu o conceito de “despesa total com pessoal” de forma ampla, consoante teor do art. 18, que serve de parâmetro para a fixação de limites de despesas com pessoal pelos Entes da Federação e Poder de que cuidam os artigos 19 e 20.
A despesa total com pessoal consiste no somatório dos gastos do Ente da Federação com ativos, inativos e pensionistas (despesa bruta com pessoal), deduzidos alguns itens exaustivamente explicitados pela própria LRF (despesas deduzidas).[25: Artigo 18, da Lei de Responsabilidade Fiscal - Lei Complementar nº 101/2000.][26: Artigo 19, §1º, da Lei de Responsabilidade Fiscal - Lei Complementar nº 101/2000.]
Dessa forma, a distribuição dos limites para as despesas com o pessoal para cada Ente da Federação está estipulada da seguinte forma:
União: 50% da Receita Corrente Líquida;
Estados e Municípios: 60% da Receita Corrente Líquida;
Outro quesito trazido pela LRF é a possibilidade de inclusão das despesas com serviços terceirizados nos limites estabelecido para cada Poder, isso para evitar que a contratação de funcionários ultrapasse o efetivo necessário.
A coerência na definição de limites para gastos com pessoal tem lógica econômica, já que vincula os gestores públicos a elaborar um planejamento eficiente para as despesas pública, considerando que a folha de pagamentos nas três esferas de governo representa um dos principais itens de despesa.
Certo é que o Brasil enfrenta um preocupante desequilíbrio fiscal decorrente no crescimento das despesas públicas nas últimas décadas, o que resultou no aumento do déficit e da dívida pública, além da elevação da carga tributária.
Diga-se, a própria Constituição de 1988 criou e estendeu benefícios previdenciários sem qualquer previsão de quais recursos seriam necessários para fazer frente às despesas numa sequência de períodos ou de qual seria a forma de financiamento. Tal concessão foi uma das responsáveis pela gravíssima crise da previdência.
De acordo com dados divulgados no sítio digital do Ministério de Planejamento, a proposta orçamentária enviada ao Congresso Nacional prevê um gasto de R$ 326,87 bilhões com os servidores públicos para este ano, conforme quadro demonstrativo:[27: Imagem disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/09/21/gastos-com-servidores-passarao-de-r-302-bi-para-r-326-bi-em-2019-preve-governo.ghtml. Acesso em 22.04.2019.]
A situação fiscal dos Estados é mais alarmante do que da União, é originada pelo aumento dos gastos com salários de ativos e inativos. Segundo relatório divulgado pelo Tesouro Nacional em fevereiro de 2019, com o agravamento da crise fiscal, sete Estados descumpriram limites de gastos com pessoal e de endividamento previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e terminaram o ano de 2018 com a dívida consolidada líquida acima do permitido pela lei.
A economistaSelene Peres Nunes, uma das responsáveis pela elaboração do Projeto da Lei de Responsabilidade Fiscal, em entrevista ao jornal Correio Braziliense, avaliou que “o grande problema dos estados não é a dívida, mas o gasto com pessoal. O refinanciamento da dívida, portanto, não resolverá essa questão, porque o problema de caixa persistirá”.[28: Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2018/11/19/internas_economia,720151/gastos-com-folha-aumentaram-mais-que-a-receita-em-15-das-27-ufs.shtml. Acesso em 22.04.2019.]
Pois bem, a vista disso, a Lei de Responsabilidade Fiscal proporciona diversos mecanismos de correção de desvios, com trajetórias, prazos, formas de adequação e sanções institucionais, sem os quais ingressaríamos em total cataclismo fiscal. 
Ainda estabelece limites percentuais aos Entes em relação à receita corrente líquida (RCL), que uma vez ultrapassados, serão acionadas algumas medidas preventivas. A exemplo da suspensão da concessão de novas vantagens ou aumento de remuneração, a criação de cargos e novas admissões, bem como, contratação de hora extra.
De modo que, sujeitos a esse sistema de controle institucional múltiplo, todos os Poderes estejam sujeitos igualmente ao cumprimento das regras e à fiscalização. [29: O controle dos gastos é assegurado pelo sistema de controle interno, pelos Legislativo com auxílio dos Tribunais de Contas e pelo Ministério Público.]
Enfim, todo o conjunto de transformações refletidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal aponta para um equilíbrio das finanças públicas, como consequência de maior adequação das políticas públicas.
Outorga consistência perene à política fiscal e assegura que o orçamento reflita os anseios da sociedade, em termos de determinação do volume e destino dos gastos, e equilíbrio entre receitas e despesas.
Embora grande a dificuldade para aplicação da Lei do modo como foi idealizada, uma vez que não condiz com o pretérito modelo político-cultural brasileiro, é notável o esforço de ajuste, que, inclusive, obteve o voto soberano do eleitorado na maioria dos Estados, a indicar que a sociedade brasileira reclama a gestão austera dos recursos que confia ao Poder Público.