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870-3060-1-PB

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Transação penal: causa de interrupção do 
prazo prescricional?
Mário Henrique Cardoso Brito1
Abdias Lopes Padre2
Resumo: O objetivo desta pesquisa é analisar a existência, ou não, de permissivo 
legal para a interrupção do prazo de prescrição quando houver aceitação da 
proposta de Transação Penal. Cabe entender se a prescrição opera-se quando 
do cumprimento da Transação Penal. Propõe-se ainda uma análise da lei, 
da doutrina e da jurisprudência acerca da questão da grande incidência da 
prescrição nos procedimentos relativos aos JECRIMs, principalmente no 
momento do cumprimento da proposta de Transação Penal. A pesquisa 
objetiva também, na hipótese de ausência de previsão de lei da Transação Penal 
como causa de interrupção da prescrição penal, mostrar a alternativa para o 
suprimento da referida omissão. 
Palavras-chave: Lei nº 9.099/95. JECRIM. Transação penal.Prescrição penal.
Abstract: The objective of this research is to analyze the existence or not of 
permissive law for the interruption of the limitation period when there is 
acceptance of the proposed transaction Criminal. Must be understood if the 
prescription operates when the completion of the Transaction Criminal. It also 
1 Bacharel em Direito. Atendente Judiciário no Juizado Especial Criminal de Vitória da Conquista. 
Professor substituto da cadeira de Direito Processual Penal da Universidade Estadual do Sudoeste 
da Bahia (UESB). E-mail: mariohbrito@terra.com.br
2 Bacharel em Direito pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).
 Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas Vitória da Conquista-BA n. 7 51-78 2009
52 Mário Henrique Cardoso Brito e Abdias Lopes Padre
proposed an analysis of the law, doctrine and jurisprudence on the issue of high 
incidence of prescribing procedures for the JECRIMs mainly upon fulfillment 
of the proposed Criminal Bargain. The research also aims, in case of lack of 
provision of Penal Law of the Criminal Bargain as a cause of interruption of the 
limitation criminal, show the alternative for the supply of that omission.
Keywords: Law nº 9.099/95. JECRIM. Criminal Bargain. Limitation Criminal.
Introdução
A lei 9.099/95, de 26.09.95, inovou profundamente o nosso 
ordenamento jurídico penal. Cumprindo determinação constitucional 
(CF, art. 98, I), o legislador se dispôs a por em prática um novo modelo de 
justiça criminal. É uma verdadeira revolução (jurídica e de mentalidade) 
porque quebra a inflexibilidade do clássico princípio da obrigatoriedade 
da ação penal. Abre-se no campo penal certo espaço para o consenso. Ao 
lado do clássico princípio da verdade material, agora temos de admitir 
também a verdade consensuada.
O que se pretende com o presente estudo é fazer uma análise 
do instituto da Transação Penal, relacionando este com o instituto da 
prescrição, de forma a observar a existência, ou não, de permissivo legal 
para a interrupção do prazo prescricional, quando for aceita a proposta 
feita pelo Ministério Público (MP).
Anteriormente à entrada em vigor da Lei n.º 9.099/95 já 
constituía um problema a questão da prescrição quanto aos crimes de 
menor potencial ofensivo, visto que os delitos eram julgados em varas 
criminais comuns, onde o movimento forense era demasiado, sendo 
tais infrações colocadas em “segundo plano” até mesmo pelo fato do 
seu menor impacto. Com a entrada em vigor da referida legislação, 
surgiram pontos positivos, como, por exemplo, a desburocratização 
da Justiça Criminal, a redução do movimento forense criminal, uma 
maior atuação estatal em relação a esses crimes, entre outros. Mas, 
ao analisarmos a estrutura e o funcionamento dos Juizados Especiais 
Criminais (JECRIMs), percebemos a continuidade de grande incidência 
de prescrição nos procedimentos a eles relacionados, principalmente no 
53 Transação penal: causa de interrupção do prazo prescricional?
momento de se cumprir a proposta de Transação Penal. Isso se deve 
em parte ao fato de os crimes de competência dos JECRIMs terem um 
curto prazo prescricional. Tais fatores contribuem para a impunidade 
dos supostos autores dos fatos delituosos e, em consequência, a um 
descrédito do Poder Judiciário.
Por determinação constitucional do art. 98, I, da vigente Carta 
Magna, juizados especiais responsáveis pelo julgamento e execução de 
infrações penais de menor potencial ofensivo deveriam ser criados. A 
Lei n.º 9.099/95 veio justamente regular a criação desses juizados e, 
após a entrada em vigor do aludido diploma legal, os crimes de menor 
potencial ofensivo passaram a ganhar uma maior atenção por parte 
do Judiciário, o que contribuiu em muito para a desburocratização da 
prestação jurisdicional criminal.
Cumpre destacar, desde logo, que a Transação Penal, apesar de 
trazer benefícios à jurisdição forense criminal, nos termos em que está 
posta, apresenta-se deficiente, ante o tratamento impreciso que lhe 
fora dado pelo legislador. O papel do aplicador do direito, in casu, está 
na busca dos contornos ideais desse novo instituto. As dificuldades 
que naturalmente surgem são incontáveis e necessitam do equilíbrio 
e da sensibilidade para não desacreditar um dos mais revolucionários 
institutos da atualidade, por falta de maturidade no seu trato.
O que se busca com a presente pesquisa é analisar a existência, 
ou não, de permissivo legal para a interrupção do prazo prescricional 
quando houver Transação Penal. Cabe entender se a prescrição opera-se 
no decorrer do cumprimento da proposta de Transação Penal.
1 TRANSAÇÃO PENAL
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO: INOVAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI 
N.º 9.099/95 AO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
Contrariando a ideia de que o Estado possa e deva perseguir 
penalmente toda e qualquer infração, no atendimento ao disposto no 
art. 98, caput, e inciso I da Constituição Federal, que determinou: 
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Art. 98 – A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os 
Estados criarão: I – juizados especiais, providos por juízes togados, 
ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento 
e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações 
penais de menor potencial ofensivo, mediante procedimentos 
oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, 
a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de 
primeiro grau (grifos inexistentes no original). 
Foi estatuída a Lei n.º 9.099, de 26 de setembro de 1995, que 
dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
A Lei n.º 9.099/95 colocou em vigor no ordenamento jurídico 
brasileiro um novo modelo de justiça, fundado mais no método 
consensual, significando, em verdade, uma indiscutível revolução.
Inspirada, mas não copiada, em institutos do direito penal 
estrangeiro, como, por exemplo, o probation, o plea bargaining e o guilty 
plea (todos do direito anglo-saxão, em que a submissão voluntária do 
agente à sanção penal significa o reconhecimento da culpabilidade penal), 
sobretudo no nolo contendere (do direito italiano, em que o acusado não 
contesta mas também não assume a culpa), foram criados institutos até 
então nunca vistos no direito penal pátrio, a exemplo da Transação Penal 
e da Suspensão Condicional do Processo, que colocaram em prática um 
dos mais avançados programas de despenalização do mundo. E não se 
cuidou de qualquer descriminalização, isto é, não retirou o caráter ilícito 
de nenhuma infração penal. Mas disciplinou, isso sim, quatro medidas 
despenalizadoras penais ou processuais alternativas, que procuram evitara pena de prisão, a saber: 1ª) nas infrações de menor potencial ofensivo 
de iniciativa privada ou pública condicionada, havendo composição 
civil, resulta extinta a punibilidade (art. 74, § único); 2ª) não havendo 
composição civil ou tratando-se de ação pública incondicionada, a lei 
prevê a aplicação imediata de pena alternativa (restritiva ou multa) (art. 
76); 3º) as lesões corporais culposas ou de natureza leves passam a 
requerer representação (art. 88); 4º) os crimes cuja pena mínima não seja 
superior a um ano permitem a suspensão condicional do processo.
55 Transação penal: causa de interrupção do prazo prescricional?
Os juizados especiais criminais tiveram um papel importante 
na política interna do Poder Judiciário, qual seja o de esvaziar os 
escaninhos das já tumultuadas varas criminais. Aliado a isso, a criação 
dos JECRIMS atingiu diretamente o instituto da prescrição, tendo 
em vista que eram as infrações de menor potencial ofensivo que 
frequentemente prescreviam, por causa da preferência pela apuração 
dos crimes mais graves.
A urgência em disponibilizar à sociedade um instrumento ágil 
acabou por deixar sem resposta algumas situações, a exemplo do que 
é discutido neste trabalho, ou seja, a interrupção, ou não, do prazo 
prescricional, quando aceita a proposta de Transação Penal por parte 
do suposto autor do fato, cuja omissão pode fomentar o descrédito 
na justiça.
1.2 DEFINIÇÃO E NATUREZA DA TRANSAÇÃO PENAL
A Transação Penal vem sendo apontada na atualidade como uma 
das mais importantes formas de despenalizar sem descriminalizar, porque 
é mais econômica, desafoga o Judiciário, porém, sobretudo, porque evita 
os efeitos criminógenos da prisão.
O instituto tem sua previsão legal no artigo 76 da Lei n.º 9.099/95 
com a textual redação: Art. 76 – Havendo representação ou tratando-
se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de 
arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata 
de pena restritiva de direitos ou multa, a ser especificada na proposta.
Em estudo sobre a Lei n.º 9.099/95, por parte da Escola Paulista 
do Ministério Público (MIRABETE, 1998, p. 84) resultou formulado 
o seguinte conceito:
A Transação Penal é instituto jurídico novo, que atribui ao 
Ministério Público, titular exclusivo da ação penal pública, a 
faculdade de dispor desta, desde que atendidas as condições 
previstas na Lei, propondo ao autor da infração penal de menor 
potencial ofensivo a aplicação, sem denúncia e instauração de 
processo, de pena privativa.
56 Mário Henrique Cardoso Brito e Abdias Lopes Padre
Para Damásio de Jesus (1995, p. 76) “não se trata de um negócio 
entre o Ministério Público e a defesa: cuida-se de um instituto que 
permite ao juiz, de imediato, aplicar uma pena alternativa ao autuado, 
justa para a acusação e defesa, encerrando o procedimento”. 
Na prática, a Transação Penal é um acordo em que o Ministério 
Público (titular do direito de ação penal), de um lado, abdica o direito 
de propor ação penal, sugerindo que o suposto autor submeta-se a uma 
sanção alternativa, e o suposto autor do fato, do outro, aceita, ou não, 
a proposta, ciente de que a aceitação implicará o cumprimento de uma 
medida penal sem que, no entanto, seja discutida a culpabilidade no 
fato delituoso. Não se discute mérito. O que ocorre não raras vezes é a 
aceitação da proposta pelo suposto autor do fato, com a finalidade de 
livrar-se do estigma de um procedimento criminal.
Discute-se em doutrina acerca dessa faculdade atribuída ao 
Ministério Público na aplicação da proposta de Transação Penal. Em 
verdade trata-se de um poder-dever, pois fazendo jus o suposto autor do 
fato a receber o benefício, por preencher os requisitos previstos no § 2º 
(parágrafo segundo) do art. 76 da Lei n.º 9.099/95, torna-se obrigatória 
a apresentação da proposta por parte do membro do Ministério Público. 
Assim, eis a conclusão da Confederação Nacional do Ministério Público 
(MIRABETE, 1998, p. 84, grifo nosso): “Conclusões – 4 – Antes 
do oferecimento da denúncia, o Promotor de Justiça deve propor a 
Transação Penal, desde que presentes os seus requisitos”.
Tal entendimento decorre do princípio da discricionariedade 
(limitada, regulada ou regrada) da ação penal em que o Ministério Público 
poderá dispor (poder-dever) da ação penal. O Ministério Público aprecia 
a conveniência de não ser proposta a ação penal, oferecendo ao suposto 
autor do fato o imediato encerramento do procedimento pela aceitação 
de “pena” menos severa. Esse princípio quebra a inflexibilidade do 
clássico princípio da obrigatoriedade da ação penal.
Além do citado princípio da discricionariedade “regrada”, está 
presente na Transação Penal o princípio da verdade consensual, em 
contraposição ao princípio da verdade material.
57 Transação penal: causa de interrupção do prazo prescricional?
Desde quando o Ministério Público não ofereça a proposta de 
Transação Penal sua decisão deve ser fundamentada. Há quem entenda 
nessa hipótese que, caso o juiz considere improcedentes as razões 
apresentadas pelo parquet para deixar de propor a Transação Penal, 
deve aplicar a regra do art. 28 do Código de Processo Penal (CPP), 
que prevê a remessa dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, a quem 
caberá decidir sobre a manutenção da proposta ou oferecimento da 
denúncia. Esse é o entendimento majoritário, fundamentado na adoção 
de entendimento contrário, em que se o juiz oferece a proposta de ofício, 
ele estaria usurpando função do MP. A crítica a esse posicionamento 
reside no fato de que ele conflitaria com os princípios contidos no art. 
2º da Lei nº 9.099/95.
Doutrinadores de renome (GRINOVER et al., 1996, p. 125; 
JESUS, 1995, p. 67) entendem, na hipótese do art. 79 da Lei n.º 
9.099/95, em que é iniciado o procedimento sumaríssimo e já houve 
o oferecimento da denúncia, ser cabível ao juiz substituir a vontade do 
promotor e, ex offício, oferecer a proposta de Transação Penal.
O instituto da Transação Penal deve ser entendido como de 
natureza híbrida, com características processual e penal ao mesmo tempo. 
Em primeiro lugar, produz efeitos imediatos dentro da fase preliminar 
ou do processo (onde reside o aspecto processual). Por conseguinte, 
conta com reflexos na pretensão punitiva estatal. A transação, pela 
aceitação da proposta de aplicação de medida alternativa, constitui 
forma de despenalização.
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE PRESCRIÇÃO PENAL
2.1 CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA DO INSTITUTO
Segundo Damásio E. de Jesus (2003, p. 717) “prescrição penal é 
a perda da pretensão punitiva ou executória do Estado pelo decurso 
do tempo sem o seu exercício”. Mirabete (2005, p. 404), em conceito 
semelhante, diz que 
58 Mário Henrique Cardoso Brito e Abdias Lopes Padre
[...] justifica-se o instituto pelo desaparecimento do interesse 
estatal na repressão do crime, em razão do tempo decorrido, 
que leva ao esquecimento do delito e à superação do alarma 
social causado pela infração penal. Além disso, a sanção perde 
sua finalidade quando o infrator não reincide e se readapta à 
vida social.
Para alguns autores, a prescrição é instituto de direito material; 
para outros, é de direito processual. No ordenamento jurídico brasileiro, 
contudo, é instituto de direito material, regulado pelo Código Penal, e, 
nessas circunstâncias, conta-se o dia do seu início. A prescrição é de 
ordem pública, devendo ser decretada de ofício, a requerimento do 
Ministério Público ou do interessado. Constituipreliminar de mérito: 
ocorrida a prescrição, o juiz não poderá enfrentar o mérito, deverá, de 
plano, declarar a prescrição em qualquer fase do processo.
2.2 ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO PENAL
As espécies de prescrição estão disciplinadas nos artigos 109 e 110 
do Código Penal pátrio. No art. 109 do Código Penal está prevista a prescrição 
punitiva; no art. 110, caput, está prevista a prescrição executória.
2.2.1 Prescrição da pretensão punitiva
A prescrição da pretensão punitiva só poderá ocorrer antes 
de a sentença penal transitar em julgado e tem como consequência a 
eliminação de todos os efeitos do crime: é como se este nunca tivesse 
existido. Constitui o lapso temporal da consumação do direito até a 
sentença final sem efetivo exercício do poder-dever de punir do Estado. 
Uma vez ocorrida a prescrição, não cabe exame de mérito, impedindo, 
portanto, a absolvição ou condenação do réu, tanto em primeira quanto 
em segunda instância.
A prescrição da pretensão punitiva pode ocorrer de três formas 
diferentes, são elas: prescrição da pretensão punitiva abstrata; prescrição 
59 Transação penal: causa de interrupção do prazo prescricional?
da pretensão punitiva retroativa; prescrição da pretensão punitiva 
intercorrente ou subsequente. Trataremos de forma mais específica da 
prescrição punitiva em abstrato, pois é a esta que o presente trabalho 
está diretamente relacionado.
2.2.2 Prescrição da pretensão punitiva abstrata
Denomina-se prescrição abstrata porque ainda não existe pena 
concretizada na sentença para ser adotada como parâmetro aferidor do 
lapso prescricional.
Nos termos do art. 109, caput, do Código Penal, os prazos 
prescricionais são regulados pela pena em abstrato cominada no tipo 
legal, isto é, pelo máximo da pena privativa de liberdade abstratamente 
prevista para o crime. Despreza-se a pena de multa, seja ela cumulativa 
ou alternativamente cominada, não se distinguindo entre as penas as 
restritivas de direitos ou privativas de liberdade (art. 109, § único, CP).
Para ser encontrado o prazo prescricional cabe ser observado o 
seguinte: 1º) Deve-se observar o máximo de pena privativa de liberdade 
cominado à infração penal; 2º) Verificar, no art. 109 do CP, o prazo 
prescricional correspondente àquele limite de pena cominado (prazo 
preliminar); 3º) Averiguar se há alguma das causas modificadoras desse 
prazo (majorantes ou minorantes).
2.3 CAUSAS SUSPENSIVAS DA PRESCRIÇÃO
Verificando-se uma causa suspensiva, o curso da prescrição 
suspende-se para retomar o seu curso depois de suprimido ou 
desaparecido o impedimento. Na suspensão o lapso prescricional 
já decorrido não desaparece, permanece válido. Superada a causa 
suspensiva, a prescrição recomeça a ser contada pelo tempo que falta, 
somando-se com o anterior. No dizer de Damásio de Jesus (2003, p. 
739): “cessado o efeito da causa suspensiva, a prescrição recomeça a 
correr, computando-se o tempo decorrido antes dela”.
60 Mário Henrique Cardoso Brito e Abdias Lopes Padre
Tal matéria é tratada no art. 116 do Código Penal, ao dispor:
Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a 
prescrição não corre:
I – enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que 
dependa o reconhecimento da existência do crime;
II – enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.
Parágrafo único. Depois de passar em julgado a sentença 
condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que 
o condenado está preso por outro motivo.
A primeira hipótese apresentada no Código Penal é a existência 
de questão prejudicial, regulada pelos arts. 92 a 94 do CPP, cuja relação 
com o delito é tão profunda que a sua decisão, em outro juízo, pode 
determinar a existência ou inexistência da própria infração penal. 
Exemplo citado pela doutrina é o crime de bigamia, em que se discute 
a validade do casamento anterior.
A segunda hipótese prevista no Código Penal é o cumprimento de pena 
pelo agente no estrangeiro. Bitencourt (2000, p. 679) justifica tal hipótese: 
O fundamento político-jurídico dessa causa suspensiva é que 
durante o cumprimento de pena no estrangeiro não se consegue 
a extradição do delinquente. E a pena em execução pode ser tão 
ou mais longa que o próprio lapso prescricional do crime aqui 
cometido. Por isso, se justifica a suspensão da prescrição.
A terceira hipótese apresentada no parágrafo único é causa de 
suspensão da prescrição da pretensão executória. Enquanto estiver preso, 
o agente não pode invocar a prescrição da pena que lhe falta cumprir, pois 
sua condição de preso impede a satisfação dessa pretensão executória.
Além das hipóteses previstas no Código Penal, a Constituição 
Federal (art. 53, § 2º) acrescentou mais duas: 1ª) enquanto não houver 
licença do Congresso Nacional para que o parlamentar seja processado, 
o prazo prescricional será suspenso; 2ª) ausência de deliberação. Nesta 
situação o STF já decidiu que, tanto na hipótese de indeferimento do 
pedido de licença, quanto na de ausência de deliberação, a suspensão da 
61 Transação penal: causa de interrupção do prazo prescricional?
prescrição ocorre da data do despacho do Ministro Relator determinando 
a remessa do pedido ao parlamento.
2.3.1 Causas suspensivas da prescrição previstas na legislação 
ordinária
Além das hipóteses previstas no Código Penal e na Constituição 
Federal o legislador ordinário, em duas outras oportunidades, Leis nº 
9.099/95 e 9.271/96, erigiu mais duas hipóteses de suspensão do prazo 
prescricional.
2.3.1.1 A suspensão condicional do processo como causa de suspensão 
da prescrição
A Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, que criou os juizados 
especiais cíveis e criminais, dispõe, em seu Art. 89, acerca do instituto 
da suspensão condicional do processo com a seguinte redação: 
Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou 
inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério 
Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão 
do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não 
esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro 
crime, presentes os demais requisitos que autorizam a suspensão 
condicional da pena (art. 77 do CP). 
O mesmo artigo 89, em seu § 6º, dispõe que “não correrá a 
prescrição no prazo de suspensão do processo”.
Significa que oferecida a denúncia e, em separado, ofertada pelo 
Ministério Público a suspensão do processo, esta só poderá ocorrer 
mediante o preenchimento de condições objetivas e subjetivas por parte 
do denunciado. O juiz poderá suspender o processo pelo período de 
dois a quatro anos, porém, ao término deste prazo, sem a ocorrência 
de descumprimento das condições expostas, a punibilidade será extinta. 
Contudo, salienta-se que, uma vez assinalado o período de prova, 
62 Mário Henrique Cardoso Brito e Abdias Lopes Padre
também estará suspensa a prescrição. Contudo, revogada a suspensão 
do processo, automaticamente será reiniciada a contagem do prazo 
prescricional.
Interessante é o comentário de Bitencourt (2000, p. 680) acerca 
do instituto:
Esse dispositivo dispensa um tratamento isonômico à defesa 
e à acusação: o denunciado é beneficiado pela suspensão 
do processo, mas em contrapartida a sociedade não fica 
prejudicada pelo curso da prescrição. Na hipótese de revogação 
do benefício, o Ministério Público disporá do tempo normal 
pra prosseguir na persecutio criminis. Como, de regra, a suspensão 
do processo deverá ocorrer no momento do recebimento da 
denúncia, a prescriçãovoltará a correr por inteiro. No entanto, 
em razão dessa fase transitória, poderá haver suspensão de 
muitos processos que já se encontravam em curso. Nessas 
hipóteses, havendo revogação da suspensão do processo, o 
novo curso prescricional deverá somar-se ao lapso anterior que 
foi suspenso, uma vez que, como causa suspensiva, o prazo 
prescricional não recomeça por inteiro.
2.3.1.2 Causas suspensivas de prescrição na Lei n.º 9.271/96
Ao dar nova redação aos arts. 366 e 368 do Código de Processo 
Penal, a Lei nº 9.271, de 17-04-96, criou mais duas hipóteses de suspensão 
do curso do prazo de prescrição. Segundo o primeiro dispositivo, se o 
acusado, citado por edital, não comparecer para ser interrogado nem 
constituir advogado, fica suspenso o processo e o prazo prescricional, 
estendendo-se a suspensão até que ele ou seu procurador intervenha 
nos autos do processo. Não prevê a lei limite para a suspensão do prazo, 
o que acarretaria a vedada imprescritibilidade, mas se tem acenado, 
como parâmetro, com o lapso temporal referente ao máximo da pena 
cominada ao delito. Nos termos do segundo artigo acima citado, também 
fica suspenso o prazo da prescrição enquanto o acusado é citado por 
rogatória por se encontrar, em lugar sabido, ou em legação estrangeira, 
cessando a causa suspensiva quando a carta é cumprida.
63 Transação penal: causa de interrupção do prazo prescricional?
Com relação à primeira hipótese, Bitencourt (2000, p. 680), 
ao citar Damásio de Jesus, diz ser necessário que estejam presentes, 
simultaneamente, três requisitos: 1º) citação por meio de edital; 2º) não-
comparecimento em juízo para interrogatório; 3º) não-constituição de 
defensor. E mais: que a ausência de qualquer desses requisitos impede a 
configuração dessa nova causa suspensiva da prescrição. A constituição 
de advogado por parte do infrator, durante a fase policial, ainda que 
este venha a ser citado por edital, impedirá o reconhecimento da causa 
suspensiva da prescrição.
O curso prescricional suspenso somente recomeçará a correr na 
data do comparecimento do acusado, computando-se o tempo anterior 
(art. 366, § 2º). Interrompida a suspensão da prescrição, esta volta a 
correr, levando-se em consideração o tempo anteriormente decorrido, 
isto é, somando-se.
Em relação ao segundo dispositivo, com a entrada em vigor da 
referida lei, o acusado que se encontrar no estrangeiro, em lugar sabido, 
será citado por meio de carta rogatória, independentemente de a infração 
penal imputada ser ou não afiançável. No entanto, segundo a nova redação 
conferida pela Lei nº 9.271/96 ao artigo 368 do CP, o prazo prescricional 
ficará suspenso até o cumprimento da carta rogatória. Atualmente, a 
citação de quem se encontrar no estrangeiro somente poderá ser por 
edital quando for desconhecido o seu paradeiro. Anteriormente, a citação 
por edital seria possível quando fosse desconhecida a localização do 
citando ou quando a infração imputada fosse afiançável.
2.4 CAUSAS INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO
Ocorrendo uma causa interruptiva, o curso da prescrição 
interrompe-se, desaparecendo o lapso temporal já decorrido, recomeçando 
sua contagem desde o início. Uma vez interrompida, a prescrição volta a 
correr novamente, por inteiro, do dia da interrupção, até atingir seu termo 
final, ou até que ocorra nova causa interruptiva. O lapso prescricional que 
foi interrompido desaparece, como se nunca tivesse existido.
64 Mário Henrique Cardoso Brito e Abdias Lopes Padre
Mirabete (2005, p. 412), citando Franco et al., define as causas 
interruptivas da prescrição como sendo todos os atos demonstrativos de 
um exercício ativo do poder punitivo e, como tais, incompatíveis com uma 
pretensão de renúncia, em relação a este exercício, por parte do Estado.
Tal matéria está disciplinada no art. 117 do Código Penal, que 
dispõe:
Art. 117 – O curso da prescrição interrompe-se:
I – pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
II – pela pronúncia;
III – pela decisão confirmatória da pronúncia;
IV – pela sentença condenatória recorrível;
V – pelo início ou continuação do cumprimento da pena;
VI – pela reincidência.
Os quatro primeiros incisos tratam de hipóteses de interrupção 
da pretensão punitiva, enquanto os dois últimos tratam de interrupção 
da pretensão executória.
O recebimento da denúncia ou da queixa, em primeira instância 
ou em julgamento de recurso, é causa interruptiva. O que caracteriza o 
recebimento é o despacho inequívoco do juiz. O aditamento da denúncia 
ou queixa somente interromperá a prescrição se incluir a imputação 
de nova conduta típica, não descrita anteriormente, limitando-se a 
essa hipótese. Em relação à inclusão de novo réu, em aditamento, há 
entendimentos divergentes na doutrina: Mirabete (2005, p. 412) entende 
ser motivo de interromper a prescrição em relação aos demais; Bitencourt 
(2000, p. 683) não considera a inclusão de novo réu na denúncia como 
motivo de interrupção da prescrição. Em grau recursal ocorrerá a 
prescrição na data em que a instância superior vier a recebê-la.
Nos crimes cuja apuração é da competência do Tribunal do Júri 
o prazo prescricional sofre nova interrupção pela pronúncia. O marco 
interruptivo da prescrição será a data da publicação da pronúncia em 
cartório e não a data de sua lavratura, que pode não coincidir com sua 
publicação, isto em aplicação do princípio in dubio pro reo. A impronúncia 
ou a absolvição sumária não a interrompem.
65 Transação penal: causa de interrupção do prazo prescricional?
Também há interrupção quando a Superior Instância pronuncia o 
réu em razão de recurso da acusação e quando a sentença de pronúncia 
for confirmada pela Corte. O acórdão confirmatório da condenação, 
não incluído no art. 117, não interrompe a prescrição.
A prescrição também se interrompe na data da publicação da 
sentença condenatória recorrível nas mãos do escrivão, isto é, a partir 
da lavratura do respectivo termo (art. 389 do CPP). Antes disso a 
sentença não tem vida, sendo considerado mero trabalho intelectual 
do juiz. Em relação à sentença em que se concede o perdão judicial, a 
existência de força interruptiva, ou não, depende da orientação seguida 
quanto à natureza jurídica de tal decisão, que, para o Supremo Tribunal 
Federal, é condenatória, mas que para o Superior Tribunal de Justiça, 
conforme a Súmula 18, é declaratória de extinção da punibilidade. Na 
conformidade da primeira orientação, haverá a interrupção; ao adotar 
a segunda, não.
A primeira hipótese de interrupção da prescrição da pretensão 
executória é a do início ou continuação do cumprimento da pena (art. 
117, V). A fixação do termo inicial dessa espécie de prescrição está 
prevista no art. 112 e incisos do CP e no art. 117, V e VI. Preso o 
agente condenado para o cumprimento da pena, interrompe-se o prazo 
prescricional iniciado com o trânsito em julgado da sentença para a 
acusação. Tendo havido evasão ou revogação do livramento condicional, 
a recaptura ou a prisão do sentenciado interrompe a prescrição. Nessas 
hipóteses, o prazo não começa a correr novamente (art. 117, § 2º). A 
segunda hipótese de interrupção da prescrição da pretensão executória 
é a reincidência. 
Consoante uma corrente, o momento de interrupção da prescrição 
não é determinado pela prática do segundo crime, mas pela sentença 
condenatória que reconhece a prática do ilícito, pressuposto daquela 
(MIRABETE, 2005, p. 415). Em sentido contrário, outra corrente, 
minoritária, entende que a interrupção ocorre na data do novo crime, 
uma vez que a reincidência seria fática e não jurídica.
66Mário Henrique Cardoso Brito e Abdias Lopes Padre
3 A TRANSAÇÃO PENAL É CAUSA DE INTERRUPÇÃO DA 
PRESCRIÇÃO?
3.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
O direito penal-processual pátrio sofreu uma grande reformulação 
em seus conceitos e ideias a partir da edição da Lei dos Juizados Especiais 
Criminais, previstos no art. 98, inciso I da Constituição Federal, e 
disciplinados a partir do art. 60 do texto da Lei 9.099 de 1995.
O espírito reformador há muito já tinha convencido, mais em 
particular, as comunidades política e jurídica pátrias da necessidade de 
mudança da legislação penal e processual penal brasileiras, precisamente 
para adaptar-se à tendência mundial, pelo menos dos sistemas jurídicos 
ocidentais, de despenalização e descarcerização.
Essa tendência político-criminal, que abrange os chamados 
crimes de bagatela, aqueles de pequena e média criminalidade, havia 
impulsionado vários países dos continentes europeu e americano 
a criarem mecanismos para tornar realidade a ideia atual de que o 
“encarceramento, a não ser para os denominados presos residuais, é uma 
injustiça flagrante” (BITENCOURT, 1996, p. 20).
Assim, como saída, propugnaram os principais idealizadores 
desse novo pensamento por medidas que pudessem alcançar o objetivo 
ressocializador, transformado em utopia diante da estigmatização 
que sofre o delinquente com a pena privativa de liberdade. Dentre as 
várias sugestões, algumas chegaram à harmonia quase que plena entre 
os defensores de cada doutrina, como, por exemplo, a aplicação de 
substitutivos penais e a mitigação ou até mesmo a extinção do princípio 
da indisponibilidade da ação penal, que assevera a perseguição pelo 
Estado de toda e qualquer infração penal.
Nesse contexto, houve a implantação dos Juizados Especiais 
Criminais justamente para efetivar esse novo pensamento. O diploma 
legal que disso cuida é considerado um marco inicial dentro do nosso 
ordenamento jurídico, uma vez que introduziu novos conceitos no 
67 Transação penal: causa de interrupção do prazo prescricional?
Direito Nacional. Tal processo evolutivo se destaca principalmente no 
que diz respeito à tentativa de introduzir uma moderna política, cujo 
objetivo é estabelecer alternativas às penas de detenção e, por outro lado, 
a criação de novos institutos dentro do direito de punir, especialmente 
a Transação Penal e a suspensão condicional do processo, institutos os 
quais já discorremos anteriormente.
3.2 O CURTO PRAZO DE PRESCRIÇÃO DOS DELITOS QUE 
CABEM APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA DE TRANSAÇÃO 
PENAL NO JECRIM
O instituto da Transação Penal, no entanto, da maneira como foi 
criado, não resolve por completo os problemas referentes aos delitos 
de menor potencial ofensivo. Pelo contrário foram deixadas algumas 
lacunas que podem levar a um descrédito dos Juizados Criminais e, por 
conseguinte, da própria Justiça.
A competência dos Juizados Especiais Criminais, conforme 
análise anterior, reside na apuração dos delitos em que a pena máxima 
não exceda a 2 (dois) anos, competência essa que foi ampliada com a 
entrada em vigor da Lei n.º 10.259/01, tendo em vista que a competência 
inicial dos JECRIMS era para a apuração dos delitos em que a pena 
máxima não fosse superior a 1 (um) ano (art. 61 da Lei n.º 9.099/95). Em 
razão disso, os delitos de competência dos Juizados Especiais Criminais 
têm um rápido prazo de prescrição, como se pode constatar da análise do 
art. 109, incisos V e VI do Código Penal. É que os delitos da competência 
dos JECRIMS prescrevem em no máximo 4 (quatro) anos.
Talvez, ao observar esse fato, em relação à proposta de suspensão 
condicional do processo, previu o legislador que durante o prazo de 
suspensão do processo não correrá a prescrição. Trata-se, portanto, de 
uma causa de suspensão da prescrição.
A omissão legislativa, porém, ocorreu em relação ao instituto 
da Transação Penal. Nada disse o legislador em referência a se, 
quando houver aceitação, por parte do suposto autor do fato, da 
68 Mário Henrique Cardoso Brito e Abdias Lopes Padre
proposta feita pelo representante do Ministério Público, corre ou não 
o prazo prescricional, ou de esta ser uma hipótese de interrupção do 
prazo prescricional, de forma que resta aos aplicadores do direito o 
preenchimento desta lacuna.
A questão que se tem é a seguinte: o suposto autor do fato 
delituoso aceita a proposta de Transação Penal e não existe previsão 
legal sobre o momento em que é homologada a transação, isto é, se o 
prazo prescricional é interrompido ou não e, ainda, se a homologação 
seria uma hipótese de suspensão do curso do prazo prescricional.
Da maneira como se encontra o instituto, nada impede que o 
suposto autor do fato aceite a proposta de Transação Penal, inicie o 
cumprimento e após, injustificadamente, deixe de cumprir o acordado, 
ou também, diferentemente, após a aceitação da proposta de Transação 
Penal, nem inicie o cumprimento da proposta, aguardando apenas que a 
pretensão punitiva estatal se pereça pelo instituto da prescrição, o que, 
como já visto, não ocorre em um período muito longo.
Deve-se buscar garantir a aplicação da sanção alternativa que 
resultou aceita pelo suposto autor do fato, com a finalidade de evitar o 
sentimento de descrença na Justiça Consensual.
Não são raros os casos em que o suposto autor do fato aceita 
a proposta de Transação Penal, não a cumpre e ocorre a prescrição, 
conforme pode se observar da análise do julgado do Superior Tribunal 
de Justiça:
Transação – multa - cobrança
RECURSO ESPECIAL Nº 172.951 – SP
RELATOR: MIN. JOSÉ ARNALDO
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. 
LEI 9.099/95, ART. 76. TRANSAÇÃO PENAL. PENA 
DE MULTA. DESCUMPRIMENTO DO ACORDO 
PELO AUTOR DO FATO. OFERECIMENTO DE 
DENÚNCIA PELO MP. INADIMISSIBILIDADE. 
SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA. NATUREZA JURÍDICA 
CONDENATÓRIA. EFICÁCIA DE COISA JULGADA 
FORMAL E MATERIAL. 
69 Transação penal: causa de interrupção do prazo prescricional?
A sentença homologatória da Transação Penal, por ter natureza 
condenatória gera a eficácia de coisa julgada formal e material, 
impedindo, mesmo no caso de descumprimento do acordo pelo 
autor do fato, a instauração da ação penal. 
Havendo Transação Penal homologada e aplicada pena de multa, 
não sendo paga esta, impõe-se a aplicação conjugada do art. 85 da 
Lei 9.099/95 com o art. 51 do CP, com a consequente inscrição 
como dívida ativa da Fazenda Pública, a fim de ser executada 
pelas vias próprias. 
Recurso do Ministério Público conhecido, mas desprovido, 
declarando-se, de ofício extinta a punibilidade do recorrido 
Romanely Romero Mansur, em face da ocorrência da prescrição 
da pretensão punitiva do Estado, nos termos do art. 107, inciso 
IV, c/c os artigos 110, caput, e 114, I, todos do Código Penal 
(DJU, Seção 1, p. 169, de 31.05.99).
Em relação às infrações penais de menor potencial ofensivo é 
aplicado subsidiariamente o art. 110, caput do Código Penal, correndo o prazo 
da prescrição da pretensão executória da pena imposta em transação efetuada 
nos termos do art. 76 da Lei nº 9.099/95. O termo inicial, por aplicação 
analógica, é o do trânsito em julgado da sentença de homologação para a 
acusação. Assim, transcorrido o prazo prescricional sem que se tenha sido 
executada a sanção aplicada na transação, não ocorrendo causa interruptiva, 
declarar-se-á a prescrição da pretensão executória.
Nesse sentido é o enunciado nº 44 do Fórum Nacional dos 
Juizados Especiais:
ENUNCIADO 44 – No caso de Transação Penal homologada 
e não cumprida, o decurso do prazo prescricional provoca 
a declaração de extinção da punibilidadepela prescrição da 
pretensão executória. (XVII FONAGE)
E também a orientação do Tribunal de Justiça do Rio Grande do 
Sul: “TARS: Decorrendo mais de dois anos da transação de que trata 
a Lei nº 9.099/95, na inexistência de marco interruptivo, está extinta a 
pena de multa por força da prescrição”.
70 Mário Henrique Cardoso Brito e Abdias Lopes Padre
3.3 TRANSAÇÃO PENAL COMO CAUSA DE INTERRUPÇÃO 
DA PRESCRIÇÃO
É importante observar que o debate acerca do fato de a Transação 
Penal ser ou não causa de interrupção do curso do prazo prescricional 
tem afinidade com outra problemática amplamente discutida, as 
consequências do descumprimento da Transação Penal.
Em definição de Mirabete (2005, p. 412), citando Franco et al., 
as causas interruptivas da prescrição são todos os atos demonstrativos 
de um exercício ativo do poder punitivo e, como tais, incompatíveis 
com uma pretensão de renúncia, em relação a esse exercício, por parte 
do Estado.
Adverte, porém, o citado autor, que as causas interruptivas 
da prescrição são apenas aquelas enumeradas no art. 117 do Código 
Penal, justificando-se no fato de ser a matéria da prescrição penal de 
direito substantivo, em que não se admite entendimento ampliativo ou 
interpretação analógica.
Preceitua o referido dispositivo:
Art. 117 – O curso da prescrição interrompe-se:
I – pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
II – pela pronúncia;
III – pela decisão confirmatória da pronúncia;
IV – pela sentença condenatória recorrível;
V – pelo início ou continuação do cumprimento da pena;
VI – pela reincidência. (grifos nossos).
Ao analisar o instituto da Transação Penal pode-se considerar que 
ele se encaixa no conceito supracitado, vez que, quando o Estado, por 
meio da representação do Ministério Público, na qualidade de titular da 
ação penal pública, faz uma proposta de Transação Penal ao suposto 
autor do fato, não é inerte em relação ao jus puniendi.
O Art. 117 do Código Penal, contudo, não menciona expressamente 
a Transação Penal como causa de interrupção do curso do prazo 
prescricional, mencionando, porém, nos incisos IV e V do referido artigo, 
71 Transação penal: causa de interrupção do prazo prescricional?
que o prazo prescricional interrompe-se “pela sentença condenatória 
recorrível” (inciso IV) ou pelo “início ou continuação do cumprimento 
da pena” (inciso V).
Pelo considerado aspecto, faz-se necessária uma análise a 
propósito da natureza jurídica do provimento judicial que homologa a 
Transação Penal com a finalidade de perquirir se tal decisão é ou não 
causa de interrupção do curso do prazo prescricional.
3.3.1 Reflexos da natureza jurídica da Transação Penal no curso 
do prazo prescricional
A doutrina não é uníssona quando trata o tema da natureza 
jurídica da decisão que homologa a Transação Penal.
Há o entendimento de que a homologação da transação 
proposta pelo Ministério Público e aceita pelo acusado e seu defensor 
tem natureza de decisão condenatória, uma vez que culmina com a 
aplicação de pena restritiva de direitos ou de multa. Nesse sentido, a 
sentença que homologa a transação cria uma nova situação jurídica 
para o autor do fato, impondo-lhe uma obrigação que se mostra como 
ponto fundamental de diferença entre a mera sentença constitutiva e a 
sentença condenatória.
O posicionamento de Mirabete (1998, p. 95) é:
A sentença homologatória da transação tem caráter condenatório 
e não é simplesmente homologatória, como muitas vezes se tem 
afirmado. Declara a situação do autor do fato, tornando certo o 
que era incerto, mas cria uma situação jurídica ainda não existente 
e impõe uma sanção penal ao autor do fato. Essa imposição, que 
faz a diferença entre a sentença constitutiva e a condenatória, 
que se basta a si mesma, na medida em que transforma uma 
situação jurídica, ensejará um processo autônomo de execução, 
quer pelo Juizado, quer pelo Juiz da Execução, na hipótese de 
pena restritiva de direitos. 
Para o eminente doutrinador a sentença “tem efeitos processuais e 
materiais, realizando a coisa julgada formal e material e impedindo a instauração 
72 Mário Henrique Cardoso Brito e Abdias Lopes Padre
da ação penal”, e ainda entende que, por não reconhecer a culpabilidade do 
agente nem produzir os demais efeitos da sentença condenatória comum, 
trata-se de “uma sentença condenatória imprópria”.
Essa é a diretriz traçada pelo Superior Tribunal de Justiça:
TRANSAÇÃO PENAL HOMOLOGADA. DESCUM-
PRIMENTO. O trânsito em julgado da decisão que homologa 
a transação criminal produz a eficácia da coisa julgada. Com a 
superação da fase de conhecimento, a pretensão cabível é a de 
cunho executório, e não acusatória. Correição parcial indeferida 
(Correição n.º 7100017026, Turma Recursal Criminal, Ijuí, Rl. 
Dr. Nereu José Giacomolli, 08-02-01, à unanimidade).
Patenteia a doutrina de Damásio de Jesus (1995, p. 61 e ss) que 
o instituto da Transação Penal, inserido na Lei nº 9.099/95, antecede o 
processo, e trata-se de medida despenalizadora que oferece ao infrator 
a oportunidade de transacionar acerca da pena recebida, possibilitando 
um rápido procedimento, sem reconhecimento de culpa, vale dizer, sem 
que a decisão homologatória da Transação Penal possa ser utilizada como 
título executivo no juízo cível, a fim de se obter um ressarcimento dos 
danos eventualmente sofridos.
No dizer do citado autor “o juiz aplica a pena restritiva de 
direitos alternativa ou a multa alternativa”, mas “a sentença não é 
condenatória” (JESUS, 1995, p. 68). E, ainda, que “a sentença do juiz 
especial, homologando a aceitação da proposta não gera: a) condenação; 
b) reincidência; c) lançamento do nome do autor do fato no rol dos 
culpados; d) efeitos civis; e) maus antecedentes”, com a justificativa no 
Art. 76, § 4º da Lei n.º 9.099/95 que prevê: o registro da sentença é 
apenas para impedir novamente a concessão do benefício no prazo de 
cinco anos.
Outra corrente entende que o ato prolatado pelo Juízo Especial 
Criminal não é condenatório, pois apenas homologa a Transação 
Penal.
Ao derredor do ponto, diz Grinover (1996, p. 134), com outros 
autores de compêndio doutrinador: 
73 Transação penal: causa de interrupção do prazo prescricional?
A aplicação da sanção penal será feita por sentença, que não 
se poderá considerar condenatória, uma vez que não houve 
acusação. 
Trata-se de sentença nem condenatória nem absolutória, mas 
simplesmente de sentença homologatória de Transação Penal, 
com eficácia de título executivo.
A citada autora assevera ainda que apesar da natureza jurídica 
da aceitação da proposta penal ser de submissão voluntária à sanção 
penal, não significa reconhecimento da culpabilidade penal, nem de 
responsabilidade civil, o que parece ser contraditório.
Justifica a inexistência de culpabilidade em função de que:
a sanção é aplicada antes mesmo do oferecimento da denúncia, 
na audiência prévia de conciliação;
a aplicação da sanção não imporá em reincidência;
a imposição da sanção não constará de registros criminais, 
salvo para o efeito de impedir nova Transação Penal no prazo 
de cinco anos, nem de certidão de antecedentes (GRINOVER 
et al., 1996, p. 132).
Esta trilha é também seguida pelo Tribunal de Alçada Criminal 
de São Paulo ao anotar:
“A sanção aplicada através de Transação Penal está fora do alcance 
da prescrição retroativa, prevalecendo a regra geral contida no art. 109 do 
CP, uma vez que não se trata de sentença condenatória, nem absolutória, 
mas homologatóriade um acordo celebrado entre as partes, que fazem 
uma opção bilateral, visando somente tornar líquida a responsabilidade 
por elas assumida, em relação a determinado ato, e constituindo forma 
de despenalização diferente do modelo tradicional.” Para a corrente que 
entende a natureza jurídica da decisão que homologa a Transação Penal 
como condenatória, a transação é uma pena, sendo dessa forma causa 
de interrupção da prescrição penal.
No momento em que o Juiz Especial homologa a Transação Penal 
estar-se-ia proferindo uma sentença condenatória recorrível, sendo esta 
uma causa de interrupção do curso do prazo prescricional, prevista no 
74 Mário Henrique Cardoso Brito e Abdias Lopes Padre
Art. 117, IV, do Código Penal. Nesse sentido, o início do cumprimento 
da Transação Penal também seria uma causa de interrupção da prescrição 
prevista no Art. 117, V, do Código Penal. Porém, o reflexo dessa interrupção 
é apenas na pretensão punitiva executória visto que na hipótese de 
descumprimento da Transação Penal não é cabível o prosseguimento do 
feito, com a instauração da competente ação penal.
A sentença homologatória possui natureza jurídica definitiva, 
pois, ao aceitar a proposta, o infrator implicitamente assume a culpa, de 
forma que essa sentença tenha força de sentença imprópria, pondo-se, 
desde já, fim ao processo com julgamento do mérito, restando apenas 
ser executada.
A crítica a esse posicionamento reside no fato de que considerar a 
Transação Penal como pena seria uma ofensa ao devido processo legal. 
Entender a Transação Penal como pena seria admitir que o suposto autor 
do fato assumiu a culpabilidade quando nem chegou a existir processo. 
Estar-se-ia constituindo uma ofensa às garantias constitucionais do 
contraditório e da ampla defesa.
Na sustentação expendida pela corrente que considera a decisão 
que homologa a Transação Penal como meramente homologatória, a 
Transação Penal é tida como uma “sanção especial”, em que há submissão 
voluntária por parte do agente à sanção penal, não significando nem 
reconhecimento da culpabilidade nem da responsabilidade civil.
Nesse sentido a aceitação da proposta por parte do suposto autor 
do fato, livre e tecnicamente orientado, não se constituiria em nenhuma 
ofensa às garantias constitucionais.
Por essa concepção, na hipótese de descumprimento da proposta 
de Transação Penal, seria possível o prosseguimento do feito, com 
a propositura da competente ação penal, vez que a homologação da 
decisão não fez coisa julgada. No entanto, nesse entendimento não 
é vislumbrada nenhuma hipótese de interrupção do curso do prazo 
prescricional, fato que pode facilitar a impunidade em um eventual 
descumprimento da proposta de Transação Penal.
75 Transação penal: causa de interrupção do prazo prescricional?
4 CONCLUSÃO
É impossível negar que o Juizado Especial Criminal surgiu como 
proposta não só para desafogar as varas criminais, como também para 
acompanhar tendência internacional de descriminalização de condutas, 
associada à ideia do direito penal mínimo.
Esse novo fórum de debate tornou-se um poderoso instrumento 
de combate à pequena criminalidade. Com inegáveis resultados positivos, 
sem o anacronismo característico da justiça comum, muito embora 
já experimente algumas críticas, pela contaminação da indesejada 
morosidade, causada pela demanda sempre mais ampliada, que resulta, 
em grande parte, do desequilíbrio social cada vez mais latente na 
sociedade brasileira.
A urgência em disponibilizar à sociedade um instrumento ágil 
deixou sem resposta algumas situações, cuja omissão pode fomentar 
o descrédito na justiça, pois a falibilidade, como se sabe, é intrínseca 
à condição humana. Com o legislador da Lei nº 9.099/95 não poderia 
ser diferente e não haveria possibilidade de se prever, em um único 
momento e em apenas um texto legislativo, todos os desdobramentos 
das medidas despenalizadoras criadas.
A Transação Penal é um instituto despenalizante em que é 
formulada pelo Ministério Público uma proposta para imediata aplicação 
de “pena” em procedimento jurisdicional especial. Essa “pena” em 
verdade constitui-se em uma sanção especial que caracteriza o caráter 
consensual da prestação jurisdicional. Vê-se, assim, que o instituto não 
apresenta qualquer vício de inconstitucionalidade.
Sem perder o foco do caráter ínsito penal, tem-se a desistência da 
ação criminal pelo Ministério Público com o cumprimento dos termos do 
consenso preliminar, como de natureza da sanção especial, igualando-se 
às condições da suspensão condicional do processo.
Tendo em vista que os dois institutos são idênticos quanto aos 
princípios que abalizam e à formalização, pois se regem pela mitigação 
do princípio da indisponibilidade da ação penal e pela aplicação de penas 
76 Mário Henrique Cardoso Brito e Abdias Lopes Padre
substitutivas, bem como se caracterizam pelo consenso (a conciliação), 
fixar o posicionamento de que as condições da suspensão condicional 
do processo não possuem natureza de sanção penal, precipuamente não 
se analisa existência de crime e de culpabilidade, haja vista nem serem 
produzidas provas para tanto. Desse modo, não se pode também admitir 
caráter penal à sanção consensuada em audiência preliminar, porquanto 
na Transação Penal sequer foi instaurado processo, muito menos teve 
apresentação de qualquer prova.
A decisão que homologa a Transação Penal não é condenatória ou 
absolutória, mas simplesmente homologatória de acordo firmado entre 
o Ministério Público e o autor do fato. O pronunciamento judicial não se 
restringe apenas em mero ato homologatório, pois poderá o juiz indeferir 
o acordo caso vislumbre alguma ilegalidade; a atividade ministerial possui 
limites na Transação Penal, impostos pela própria Lei nº 9.099/95 (art. 
76). E justamente sobre estes limites que o pronunciamento judicial 
subsume-se, e não sobre a linha de disponibilidade do Ministério 
Público.
Nesse sentido não há previsão legal a respeito de quando o 
suposto autor do fato aceita a proposta de Transação Penal, se o curso 
do prazo prescricional é interrompido. Não sendo impedido também 
o Ministério Público, na hipótese de descumprimento da Transação 
Penal, de dar prosseguimento ao feito com a instauração da competente 
ação penal.
Entrementes, para dar melhor amparo ao Ministério Público, 
quando da instauração da ação penal, faz-se necessária uma alteração 
no dispositivo legal que trata do instituto da Transação Penal, 
no sentido de haver previsão de interrupção do curso do prazo 
prescricional logo que ocorra aceitação da proposta pelo suposto 
autor do fato.
Com a previsão legal da interrupção do curso do prazo 
prescricional é possível evitar que muitos dos procedimentos atinentes 
ao JECRIM pereçam em função da prescrição, e, por consequência, 
evitar-se-á a sensação de impunidade que tanto prejudica a prestação 
77 Transação penal: causa de interrupção do prazo prescricional?
jurisdicional e as vítimas que são as verdadeiras excluídas nos 
procedimentos criminais.
Por fim, é mister informar que o presente trabalho não teve a 
pretensão de esgotar o tema. Em torno dos Juizados Especiais Criminais 
existem muitos temas controvertidos que esperam ser discutidos pela 
doutrina e jurisprudência, com a finalidade de se buscar uma prestação 
jurisdicional mais eficaz.
Importante observar que os Juizados Especiais representam 
o instrumento de ruptura com a velha forma do sistema penal, 
caracterizado pela morosidadee excessiva burocracia. 
5 REFERÊNCIAS 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Juizados especiais criminais e alternativas 
à pena de prisão. 2. ed. rev. ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 
1996.
_______. Manual de Direito Penal: parte geral, volume 1. 6. ed. rev. e atual. 
São Paulo: Saraiva, 2000.
GONCALVES, Wilson José. Monografia jurídica – técnicas e procedimentos 
de pesquisa. Campo Grande: UCDB, 2001.
GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados especiais criminais: comentários 
à Lei 9.099, de 26.09.1995. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 
1996.
JESUS, Damásio E. de. Lei dos juizados especiais criminais anotada. São 
Paulo: Saraiva, 1995.
______. Direito Penal – parte geral, volume 1. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 
2003.
MACHADO, Fábio Guedes de Paula. Prescrição penal: prescrição 
funcionalista. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000.
78 Mário Henrique Cardoso Brito e Abdias Lopes Padre
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, 
jurisprudência, legislação. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1998.
______. Manual de Direito Penal. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
Recebido em: ?
Aprovado em: ?

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