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1º SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE XADREZ NAS ESCOLAS CURITIBA, 22 A 26 DE NOVEMBRO DE 1993 BRASIL 2 FIDE PRESIDENTE FLORENCIO CAMPOMANES CBX PRESIDENTE ANTONIO BENTO DE ARA ÚJO LIMA Fº. 3 MINISTRO DA EDUCAÇÃO MURÍLIO HINGEL DELEGADO NO PARANÁ NELON HASSELMANN SECRETÁRIO ESTADUAL DA EDUCAÇÃO NO PARANÁ ELIAS ABRAÃO 4 64º CONGRESSO DA FIDE DIRETOR JAIME SUNYÉ SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE XADREZ NAS ESCOLAS COMITÊ ORGANIZADOR WILSON DA SILVA ANTÔNIO VILLAR MARQUES DE SÁ AUGUSTO TIRADO 5 1° SEMINÁRIO INTERNACIONAL De XADREZ NAS ESCOLAS CURITIBA, 22 A 26 DE NOVEMBRO DE 1993 BRASIL 6 Abertura [Narrador:] Convidamos para fazer uso da palavra este i paranaense que tanto tem orgulhado o nosso estado, o grande mestre internacional de xadrez, Jaime Sunyé Neto. [Jaime Sunyé:] Eu gostaria de agradecer muito a todas as entidades que auxiliaram na realização deste evento que é uma ambição nossa, um objectivo de muitos anos. À Federação Internacional de Xadrez, representada aqui pelo seu presidente Florêncio Campomanes, pelo auxílio da Comissão de Xadrez nas Escolas; ao nosso amigo Nicola Palladino, da Itália, por todo o apoio que nos deu; agradecer ao ministério da educação que hoje tem desenvolvido um pequeno projecto piloto em Brasília, e que já imprimiu e distribuiu 15 mil cartilhas para o ensino de xadrez nas escolas públicas, à Secretaria de Educação do Estado do Paraná, que tem um projecto bastante importante que deve atingir pelo menos 300 escolas até julho do ano que vem; agradecer à Prefeitura de Curitiba, ao Núcleo Regional de Educação de Curitiba, pelo apoio na realização dos seminários de capacitação dos professores; e em especial ao colégio 1° Mundo, pela linda festa que está organizando e por todo o apoio de infra-estrutura que nos deu durante este evento. A gente realmente espera que esta possibilidade de intercâmbio com pessoas de 10 países, instrutores e participantes, realmente dê um impulso forte para o ensino de xadrez nas escolas, e que através do ensino de xadrez a nossa juventude possa aprender mais, possa desenvolver-se melhor em sua totalidade. [Narrado,:] E agora vamos ouvir o presidente da Federação Internacional de Xadrez, Florêncio Campomanes. [Florêncio Campomanes:] Amigos, senhoras e senhores, enxadristas: a Federação Internacional de Xadrez está muito honrada por ( toda esta reunião aqui realizada pelo xadrez nas escolas. Se isto se repetisse em todos os 150 países filiados à FIDE, eu tenho certeza que o xadrez teria um grande desenvolvimento. O ensino de xadrez nas escolas, especialmente o ensino para crianças muito jovens é um beneficio incalculável para que eles possam pensar de maneira lógica e desenvolver sua perseverança. Começando cedo na escola, não há nada que não se possa conseguir com uma boa educação. Esta é apenas uma parte da FIDE, mas que, no meu ponto de vista, se constitui na mais importante. Eu congratulo a cidade de Curitiba, o estado do Paraná e o Brasil pelo grande esforço que têm feito para o desenvolvimento do xadrez nas escolas e entre os jovens. Eu acredito que o Brasil tem hoje o primeiro lugar no desenvolvimento do ensino de xadrez no terceiro mundo e na América Latina. Eu desejo-lhes muito sucesso neste 1° Seminário Internacional de Xadrez nas Escolas, aqui realizado, assim como em todas as outras actividades neste sentido. Obrigado. [Narrador:] 7 Gostaríamos também de ouvir as palavras da professora Eronilce Tesseroli da Costa, que está representando hoje aqui o excelentíssimo Sr. Secretário de Educação, professor Elias Abrahão. Professora, por gentileza! [Eronilce da Costa:] Autoridades nominadas, senhores pais, demais pessoas presentes, queridos alunos, é com muita satisfação que participamos deste evento. Com muita satisfação também, nós, assim como toda a Secretaria de Estado de Educação e o governo do estado do Paraná, sentimos a importância do trabalho do xadrez à nível das escolas e a importância do desenvolvimento do raciocínio lógico a que esta actividade leva a criança, principalmente quando iniciada nos primeiros anos de sua escolaridade. Um evento deste porte é um orgulho a todos nós paranaenses, sendo o Paraná o estado que está sediando o 1° Seminário Internacional de Xadrez nas Escolas. Nós vemos como é importante o direccionamento da criança e do jovem, hoje em dia, frente às dificuldades do mundo actual; e estas actividades extras são extremamente importantes à nível de currículo, e na parte pedagógica, cada vez mais preocupada e direccionada com o aprender em toda a sua infinidade, toda a sua integração com outras áreas do conhecimento. Neste momento parabenizamos a iniciativa do colégio 1º Mundo através da sua equipe administrativa e pedagógica e esperamos que este seja o primeiro passo dentro de todo o nosso país para outras iniciativas louváveis como esta. Muito obrigada. [Narrador:] E finalmente o Doutor Nelson Hasselmann, da delegacia regional do ministério da educação no estado do Paraná, representando o ministro da educação, Murílio Hingel. [Nelson Hasselmann:] Boa tarde a todos. Atendendo determinação do excelentíssimo Sr. Ministro da Educação e do Desporto, professor Murílio de Abelar Hingel, a delegacia do MEC no estado do Paraná cumprimenta a todos os participantes do Seminário Internacional de Xadrez nas Escolas. Parabeniza também as entidades promotoras, que num esforço conjugado colaboraram para a disseminação deste esporte nas escolas brasileiras. O MEC prioriza, através do plano decenal de educação, todos os investimentos nesta área da educação fundamental, congregando entidades governamentais das três esferas administrativas: instituições, professores, estudantes e sociedade em geral. O PRONAICA - Programa Nacional de Atenção Integral - se insere como determinante nesta prioridade educacional e eleva o desporto à condição de necessidade básica para os estudantes de educação fundamental. O grau de importância deste evento muito nos honra com a oportunidade de participação, enaltecendo o fato social surgido com a acolhida do xadrez no âmago das escolas como estimulador da intelectualidade e da capacidade mental de nossos estudantes. O governo federal reconhece tal importância e estuda junto ao congresso nacional a liberação de financiamentos nesta área de actividade. Não obstante, o MEC relembra o factor interactivo das responsabilidades, não só governamentais, mas advindas também da conscientização da sociedade e dos estudantes neste processo, para a partir daí procurar a parceria integrada entre governo federal, estadual e municipal. O MEC, assim como a delegacia regional do MEC, parabenizam este grande esforço. desejando sucesso e bons trabalhos no Seminário Internacional de Xadrez nas Escolas. Obrigado. Nicola Palladino (Itália) -A estrutura da comissão de xadrez nas escolas da FIDE Para a FIDE, a ideia de xadrez nas escolas tem uma história: antes dessa comissão 'Chess in Schools' havia a comissão 'Young Chess' -xadrez para jovens. Quando eu cheguei à FIDE em 1970, o que esta comissão fazia era pegar os jovens que já jogavam xadrez, aqueles que prometiam, os que venciam mais torneios, e procurava afiná-los tecnicamente. Porém, em 1968, em Milão, naItália, eu havia começado a trabalhar com o xadrez nas escolas. Nós ensinávamos xadrez às crianças que ainda não sabiam jogá-lo; e foi assim que nasceu esta ideia. Bem, eu pensei logo que aquela comissão da FIDE era uma coisa horrível, do ponto de vista de uma federação mundial, porque não procurava enxadrístas novos, procurava manter os velhos; porque se nós fazemos uma comissão para ajudar as crianças que jogam xadrez, isto significa que não vamos descobrir outras crianças que não jogam. Ora, fazendo uma simples proporção matemática, para 8 cada criança que joga xadrez, existem pelo menos 1500 que não jogam. Estou fazendo previsões, não há dados estatísticos oficiais, mas com certeza é algo assim. Foi então que eu comecei a lutar, na FIDE, para que houvesse uma comissão que tivesse a incumbência de procurar inserir nas escolas o xadrez como matéria optativa, para as crianças entre, mais ou menos, 10 e 13 anos, o que na Itália é chamado de „Escola Média‟, obrigatória. Contemporaneamente, na Sociedade Enxadristica Milanesa, da qual eu era, e ainda sou presidente, começavam então os cursos de xadrez de três anos, isto é, as crianças vinham estudar e depois de 3 anos lhes era dado um diploma de frequência. A partir desta experiência eu tive a convicção de que se podia trabalhar deste jeito; assim, lutei na FIDE para que fosse fundada essa comissão, que teve como 10 presidente um espanhol, porque eu era jovem demais. Depois a presidência me foi confiada e desde então sou o presidente da comissão 'Chess in Schools' da FIDE. Ora, por que todo este interesse? A ideia de introduzir o xadrez nas escolas tem um aspecto social, antes de mais nada; além de ter também um aspecto cultural e esportivo. Vocês, brasileiros, têm um governo inteligente: colocaram esporte e cultura no mesmo ministério. Isso foi uma idéia muito inteligente, e já explico por quê: quando buscava fundos junto ao meu governo para realizar este projecto nas escolas, eu ia ao ministério da instrução pública da Itália e lá me respondiam que não havia dinheiro porque não éramos 'escola', éramos 'esporte'. Então eu ia ao ministério do esporte e me diziam: „O que é que nós temos a ver com isso? Nós não podemos dar dinheiro a você porque você é da cultura‟. No ministério da cultura respondiam: „Mas por que nós deveríamos dar-lhe dinheiro? Vá pedir ao ministério da „escola‟ ou do „esporte‟. No final desta maratona, eu continuava do mesmo jeito, sem uma lira. E isso já vem se repetindo há muitos anos. Por sorte, vocês, no Brasil, têm um ministério único para esporte e cultura. Mas por que eu, que não tenho filhos - sou casado, mas não tenho filhos - tenho me interessado tanto pelos jovens e pelo xadrez? Pelo xadrez me interesso porque foi o único jogo que conseguiu fazer com que eu me desligasse do pôquer. Ao invés de ir jogar pôquer, depois de um certo tempo, descobri que preferia ir jogar xadrez. Porém, neste tempo, eu já estava com 40 anos de idade e era um pouco velho demais para aprender a jogar bem; então os meus sócios, não sabendo o que fazer comigo, me fizeram presidente, primeiro do Círculo, depois da Federação. Mas por que esta paixão? Porque vi no xadrez um aspecto social considerável aliás, enorme. Porque este é um jogo onde as diferenças são de pensamento - pensem, por exemplo, que jogam xadrez os deficientes físicos, aqueles com anomalias nas mãos, nas pernas, mas que conseguem jogar e muito bem, não se pode facilitar com eles. Quando estas pessoas se sentam na frente de um „normal‟ como nós, neste momento não se sentem absolutamente inferiores, porque o que está funcionando é o cérebro delas, que pode ser melhor que o nosso. Não tem importância que não tenham pernas, que não tenham um braço, que não escutem ou não enxerguem - saibam que existe a Federação dos Enxadristas Deficientes Visuais. Eis aí o primeiro valor. o da redenção social para aqueles cidadãos e jovens que têm anomalias físicas. Estive também em sanatórios tentando ensinar xadrez para doentes mentais. Dei oito aulas no manicômio de Milão e recebi pedidos de clínicas particulares na Suíça, porque através do jogo de xadrez eu consegui manter os pacientes bastante calmos. Ficavam lá me escutando e pensavam, jogavam uma partida e pensavam, iam para a cama e pensavam... Pensavam em quê? Pensavam nos movimentos que tinham feito. E seja como for, o cérebro deles começava a funcionar: eis uma grande propriedade do xadrez. E aqui entramos em uma segunda parte, o xadrez como um esporte da mente. O cérebro é o órgão do corpo que nós menos usamos. Porque o pensamento que temos é sempre dirigido às coisas normais de todos os dias. Pensamos na noite, quando estamos em casa com nossas esposas, pensamos no trabalho, na diversão, na partida de futebol, pensamos em tudo, mas não trabalhamos efetivamente com o nosso cérebro. isto é, não damos a ele motivos para ir mais fundo, ver mais do que o superficial. E eis que o xadrez se propõe simplesmente a ser um instrumento para treinar cérebros. Através do xadrez nós somos obrigados a pensar, do contrário, perdemos o jogo. Temos que imaginar, usando o cérebro, as novas posições que derivarão do movimento que fizermos. Porque cada movimento prevê um contra-movimento do adversário, e cada plano deve ser feito sem que se toque no tabuleiro. Temos que imaginar como chegaremos ao final e julgar se aquele final é vantajoso para nós ou para o nosso adversário. Este estímulo cerebral contínuo cria idéias ou cria fatos, mas não é, jamais, inútil. Na minha escola, por exemplo, tive um aluno que hoje é professor, outro é o diretor da escola, outros trazem seus filhos...eis a continuidade. 9 Quando fazemos o cérebro trabalhar, não estamos fazendo mais do que usar um órgão do nosso corpo e desenvolver os seus músculos. Por isso o xadrez é um esporte. Cada esporte nasceu para desenvolver uma parte de nós. Existe o salto em altura, o salto em distância, a ginástica, o futebol, o pugilismo; todos os esportes tendem a desenvolver os órgãos do corpo, e o único que tende a desenvolver a mente é o xadrez. O único! Então, o que dizemos ao jovem que está aprendendo? Diferentemente de todas as outras matérias, nós não dizemos: „Se você não vencer a partida, não passa de ano e apanha dos pais!‟ Nós dizemos simplesmente: „Se você não estudar, vai perdera partida!‟ Só isso. Suscitamos nele a vontade instintiva de competir. Todo jovem quer competir com outro jovem. Todo jovem quer chegar em primeiro. Quando eu era criança, eu queria ser sempre o primeiro, assim como os outros. Através disso, nós os fazemos jogar xadrez, e a pensar, e o círculo se fecha. Já dissemos que o xadrez desenvolve a inteligência, mas isto não acaba por aqui. Não sei se já notaram, mas há rapazes que, quando jogam, sacrificam tudo no intento de dar xeque-mate no adversário. A estes rapazes dizemos: „Calma‟ Não precisa empurrar o rei adversário para fora do tabuleiro. Tome cuidado ao gastar o seu dinheiro - que no xadrez são os peões e as peças - porque não são os socos que você dá no adversário que o farão vencer a partida. Você tem que prestar muito mais atenção, porque fazendo isto, está sendo presunçoso, achando que os outros fazem aquilo que você quer; os outros fazem sempre o que eles querem‟. E isso é uma lição. Também dizemos a ele: „Pode continuar a sacrificar as peças como quiser, mas não vai vencer partida alguma!‟ Há também um outro tipo de rapaz, que não sacrifica nem um peão, mesmo que tenha certeza de dar mate no adversário. Mantém-se todo na defesa, preocupa-se em não perder nada; a este nós dizemos: „Preste atenção, porque deste jeito você nunca vai vencer nenhuma partida! Às vezes é preciso sacrificar um peão. Você não deve considerá-los como uma propriedade aser defendida; eles são um meio para jogar‟. A estes rapazes que, em geral são muito tímidos, aconselhamos: „Vai, jogue!‟ Obrigamos aqueles primeiros rapazes, os que sacrificam tudo, a jogar sem sacrificar nenhuma peça, e aqueles que não sacrificam nada, ao contrário, que sacrifiquem desde a abertura. Porque o que queremos é mudá-los, torná-los mais normais, sabendo avaliar as coisas, as posições; porque neste jogo, e ele talvez seja o único, estas possibilidades não existem no jogo de damas. O jogo de damas também tem algumas possibilidades, não as mesmas do xadrez, porque as combinações da dama são infinitamente inferiores. Quando se faz um torneio de damas, é preciso fazer um sorteio na abertura, como se fosse uma loteria. No xadrez isto não acontece, porque ele é muito mais complicado e completo. Bem, passamos em revista os aspectos que acho de maior utilidade e como justificativa para a introdução do xadrez nas escolas, ou seja, o ensino do próprio jogo, a socialização, a formação da personalidade e o treinamento do cérebro: a função esportiva do xadrez. Tocamos todas as possibilidades e os motivos pelos quais pedimos e sempre pediremos às autoridades o direito de sermos considerados cidadãos, não digo de primeiro ou segundo nível, mas cidadãos Iguais aos outros. Porque não é justo que se joguem fora milhões no mundo para se fazer bobagens e não se consiga encontrar uma única lira para o xadrez. Temos um exército que não ganha nada e somente pretende dar algo, os nossos professores, que ensinam na Itália, na Argentina, aqui, em todo o mundo. Nós, enxadristas, somos um pouco poetas, mas a nossa poesia é a que forma o mundo, que o toma melhor e nos distancia um pouco das coisas ruins desta vida malvada. Obrigado. Eduardo A. Tomassi (Argentina) - O projecto de xadrez em Santa Fé Eu já estive em muitos congressos porque o plano da província de Santa Fé não é o único em nosso país. Lamentavelmente, na maioria deles, dedicamos tempo demais em teorizações, discussões políticas, instrumentações. Eu vou tratar aqui do aspecto prático, da vivência de todos os professores na sala de aula, na experiência que nos faz melhorar dia a dia um pouquinho mais, enriquecer o xadrez que tanto amamos. Acredito que todos concordamos que vivemos realidades diferentes, realidades que condicionam o xadrez nas escolas como regulamenta a educação. É por isso que começo contando um pouco da realidade histórica-política de onde vivemos. A Argentina tem profundas raízes enxadrísticas. O xadrez em nosso país, em nossa província, tem uma alta consideração. Basta lembrar a quantidade de clubes e campeonatos que se realizam, o resultado de nossos jogadores, da nossa região e do nosso país, pelo aspecto positivo. 10 Como aspecto negativo, nosso país está atravessando uma situação econômica muito difícil, que obriga cada uma das províncias a fazer importantes „ajustes‟ econômicos e na área educativa, na qual está inserido o xadrez escolar, o qual não podemos fazer crescer como desejamos e necessitamos. Não podemos realizar partidas da maneira apropriada que, ano após ano, somente incrementaram-se de forma muito lenta. Vou contar como conseguimos que o nosso plano reunisse 18000 crianças, 150 professores, vivendo dignamente das aulas de xadrez, e mais de 100 escolas que ensinam xadrez em turno direto, de caráter obrigatório. O caminho que utilizamos para chegar a isso pode ser dividido em três etapas. A primeira etapa é a experiência piloto. Para poder começar as aulas, não basta somente a vontade dos enxadristas, necessitamos de um decreto ministerial, que foi o de 1989. Para ser sincero, devo dizer que não havia ninguém convencido de que o xadrez era importante na área educativa. Porém a amizade com o ministro e seus colaboradores nos deu essa oportunidade. Eu os aconselho a começar mais ou menos como nós: somente 10 escolas em 6 localidades diferentes, nas quais tínhamos a certeza da idoneidade do responsável por ministrar aulas, o apoio firme das diretoras, e a garantia de que a cooperativa destas escolas estava disposta a comprar todo o material didático. Ao final do primeiro ano, as 10 diretoras fizeram uma avaliação muito positiva, o que nos permitiu, no ano seguinte, a prosseguir com a segunda etapa, que chamamos de „afiançamento‟ (consolidação). Esta etapa nos permitiu aumentar de 8 para 60 escolas. Provavelmente esta tenha sido a etapa mais rica, mais valiosa, em que mais coisas surgiram e se concretizaram. Por exemplo, há uma lei, com a máxima formalidade jurídica, que nos garante este trabalho. A partir de 1993, começamos a operacionalizar a terceira etapa, a da extensão. Hoje em dia, são mais de 120 escolas, e a extensão não tem mais limites, estando condicionada somente às verbas que nos destinam à área educativa, alguns meses antes do começo das aulas, em Janeiro ou Fevereiro. E isso vai depender muito do êxito, da dedicação, da vontade com que trabalhem os professores em cada escola. Quando falamos de xadrez na escola, não buscamos excelência, não buscamos a competência por si mesma, mas o que pretendemos é que seja uma ferramenta pedagógica destinada a formar as crianças. Temos que levar em conta que o xadrez é uma atividade recreativa, que possibilita o exercício do pensar intuitivo, utilizando a fantasia e a imaginação como suporte da comprovação lógica. Por isso tem o crédito de pauta de conduta que permite à criança operar concreta, lógica e reflexivamente, agilizar esquemas de pensamento criativo. Por outro lado, adquirir o hábito de ordem, trabalho metódico, reflexão e silêncio. Também descobrir o valor de suas próprias decisões e assumi-las conscientemente, em atividade autocrítica; alcançar atitudes solidárias, responsáveis e de respeito mútuo; dispor de recursos práticos e eficientes na execução de qualquer atividade. Também resolver situações concretas da vida diária, com autonomia e equilíbrio. Estes são os objetivos educativos do plano de xadrez de Santa Fé. Os destinatários são os alunos das escolas públicas e particulares de nível primário, da província de Santa Fé, da 4ª a 6ª série. Como disse antes, o caráter do xadrez nas escolas é obrigatório. Todos os cursos têm xadrez. As aulas são dadas nos mesmos horários que as de matemática, língua, geografia ou história, pela manhã ou à tarde. Dessa maneira estamos convictos de cumprir plenamente o espírito do que falamos há pouco. Por exemplo, em uma turma de 30 alunos, que é a média das sobrecarregadas escolas da Argentina, uma terça parte, apenas uma terça parte interessa-se pelo xadrez, em um primeiro momento. Eu diria mais exatamente 27% - é o que nos dizem as estatísticas. Há cerca de 39% de indecisos, mais inclinados ao não do que ao sim, porém indecisos. E depende da vontade, da perfeição, da paciência do professor em conquistá-los. E há cerca de 34% que estão muito próximos de não querê-lo. - também a nossa função fazer com que estes se aproximem de alguma maneira do xadrez. Se com este quadro nós deixássemos que o xadrez fosse optativo somente esses 25%, que com certeza são os talentosos, fariam xadrez, e não estaríamos cumprindo aquele espírito de que falava. Aqueles que mais necessitam de ginástica mental, por razões de preconceito, ou porque em casa lhes dizem não, ou por tantas outras razões, justamente estes não teriam a oportunidade de estudar xadrez. Esta é a explicação do porquê considerarmos firmemente a inclusão do xadrez na escola para todas as crianças. Em vista do que acabamos de ver não é nada simples manter a atenção, a motivação de toda a turma. É por isso que temos que lançar mão de uma bagagem didática, uma engenhosidade muito grande para conseguir com que estas duas terças partes se integrem ao invés de atrapalhar edesconcentrar toda a turma. 11 Bom, vou falar um pouco sobre a duração e a freqüência das aulas. Em nossa província temos duas aulas semanais de 45 minutos cada distribuídas naturalmente em dias diferentes, certificando-se de que haja pelo menos um dia intermediário sem xadrez, ou seja, 2ª e 4ª, 3ª e 5ª, 2ª e 5ª. Temos que programar isto cerca de 40 dias antes do começo das aulas integrados à planta escolar. Junto com os outros docentes e diretoras, faz-se o cronograma das atividades de cada série no ano letivo. Vou lhes falar um pouco sobre a distribuição do tempo em cada aula. As aulas são divididas em introdução, desenvolvimento e verificação. O tempo que sugerimos aos professores para a introdução oscila em torno de 5 minutos. E é uma introdução em todo o sentido da palavra não somente a introdução do tema; porque, às vezes, deve-se levantar o ânimo da turma. e não podemos dizer que tivemos sorte com a Austrália e ganhamos de um a zero, raspando, mas ganhamos esperamos que a turma, a partir de então, preste mais atenção. A seguir, o desenvolvimento de 30 minutos, e a conclusão ou encerramento de aproximadamente 10 minutos. Agora vou lhes falar sobre a elaboração, e nem tudo o que eu lhes conto é 100% de elaboração. Isto tem um pouco a ver com a nossa marca registrada, que é o sistema de ministração de cada lição. Uma lição pode durar várias aulas, um tema pode ser extenso e durar várias classes. Todos sabemos que existem crianças que aprendem com mais facilidade e maior rapidez, mas se nós sistematizamos o modo de ensinar teremos uma maior probabilidade de um entendimento mais rápido pela maioria das crianças. Portanto, cada lição é dividida em fases. Vejamos, por exemplo, o momento em que ensinamos o roque: falamos um pouco sobre a história do roque e dos conhecimentos prévios. No roque, a criança já deve saber mover o rei e a torre. O objetivo da lição é então o porquê de ensiná-la o movimento do roque, a instrução. Aqui começa a aula propriamente dita, onde a criança começa a incorporar um novo conceito. A assimilação se faz, geralmente, através de exercitação e de problemas. Também mediante novos e diferentes problemas e com perguntas, verificamos se o que ensinamos foi entendido pela criança. E, por último, uma avaliação. Nós não aplicamos, em nenhum caso, a clássica prova de xadrez, para dar uma nota à criança. Esta é uma avaliação para saber se temos que nos deter, se temos que começar de novo ou se podemos seguir adiante para um novo tema. O papel do professor é ser um verdadeiro mediador e a aula deve ser compartilhada, a criança participando e se comprometendo. Como já disse no começo, perdemos muitas horas em congressos discutindo que nome receberíamos. Eu me lembro que no começo queríamos pôr nomes que em status superavam até o da diretora da escola, pois é muito frequente a presunção entre os enxadristas, na qual eu me incluo também, e que nos faz muito mal. Quando começamos tudo isso e analisamos as causas do porquê na Argentina haverem reclamações nacionais, descobrimos vários erros, mas fundamentalmente, o enxadrista que ingressava na escola acreditava estar acima dos docentes, acima do diretor. E à medida que formos entendendo isso, será mais fácil. Claro, aquele que segue a carreira docente, segue-a até a sepultura, é algo que se tem incorporado. Por isso digo que comecem devagar, assim todos os obstáculos vão sendo vencidos. Nós tínhamos reuniões com os professores para tratar de todos estes assuntos, e estes, apesar de terem muitos anos de xadrez, arregalavam os olhos, porque quase tudo eram novidades que nem sequer imaginavam. Depois de muito se discutir, chegou-se ao nome que nos habilita ou autoriza o ministério, „docente de xadrez‟. Para ser um docente de xadrez, há duas possibilidades. O enxadrista deve demonstrar sua capacidade em um exame, uma avaliação que tentamos fazer com que o pessoal da Associação Argentina de Xadrez conduza. É uma avaliação que muitos poderiam aplicar, porém, quem melhor do que a Associação que rege o xadrez em cada país para aplicá-la!? No nosso caso, convidamos o pessoal da Federação Argentina para demonstrar a eles, através dos exames, que estamos capacitados. O que dá mais trabalho, por outro lado, é a capacitação pedagógica. Hoje em dia, temos sorte que isso se faça através de um curso de aperfeiçoamento pedagógico que foi projectado pela área de formação profissional do Ministério da Educação. O curso é de 120 horas e está dividido em 4 módulos, 1 por mês, com trabalhos de casa. Bem, foi um trabalho que nos custou muito a desenvolver. Nós lhes passamos a nossa experiência, tentamos fazer com que fosse algo de cunho pedagógico, mas que, na prática, os enxadristas pudessem fazer. Porque eu poderia contar sobre muitas províncias do meu país, e inclusive de outros países, que possuem trabalhos de capacitação pedagógica muito bonitos, porém não podem colocá-los em prática porque se esquecem de que não há enxadristas dispostos a fazer um curso superior de 4 anos, para depois dar melhores aulas. Por exemplo, na província de Salta existe um trabalho muito bonito, um curso superior para docente de xadrez, de dois anos e meio. Mas há um problema: ainda não permitiram o xadrez nas escolas de lá. Em São Jorge, outra localidade, existe algo diferente. Quem faz o curso de docente, de dois anos, completa com uma pós-graduação em didática geral do xadrez, com duração de 3 ou 4 meses, duas horas por dia, e alcançam um bom nível. Tentamos fazer com 12 que seja algo que depois possa ser aplicado na prática. Aqueles que já estiveram em uma sala de aula sabem que estando com crianças todos os dias descobre-se novos recursos, melhora-se muito a metodologia. Bem, agora falta falar do professor regular de 1º e 2º graus que quer ensinar xadrez („maestro de grado‟, no original; o equivalente a professor de 1º e 2º graus - não enxadrista). Estes têm que aprender somente as técnicas do jogo através de cursos especiais e depois passar por avaliações aplicadas, por exemplo, pela Federação Argentina. Os aprovados são classificados como docentes de xadrez, porém em um nível abaixo dos enxadristas. Na classificação que a província elaborou, a prioridade é para o professor de nível superior, com aperfeiçoamento técnico. Apesar de estimularmos a participação dos professores comuns, não chega a 3% a porcentagem dos que ensinam xadrez nas salas de aula. E se alguém me pergunta quem está ensinando melhor, não tenho nenhuma dúvida ao responder que são os enxadristas. Fundamentalmente porque para o professor comum, esta é a sua profissão, que ele leva adiante com esforço e dedicação; para nós, enxadristas, o xadrez faz parte de nossas vidas, é a nossa paixão. E quem melhor para transmitir conhecimentos do que aquele que sente paixão por este jogo, por este esporte? Outro aspecto onde também se nota uma diferença são as atividades extra-escolares. É difícil pedir a um docente que passe os fins de semana fazendo torneios para as crianças, acompanhando-as nos encontros. Nós já estamos acostumados, são poucos os fins de semana que temos para a família. Em geral, os passamos ao redor de alunos. E estamos conscientes de que estes encontros são fundamentais para que as crianças mantenham e até aumentem o seu interesse pelo xadrez. Além do mais, existe a situação legal de trabalho do docente de xadrez. Mais de 80% dos docentes atuais goza de uma situação de interino, o que significa receber o mesmo salário que um professor especial, aquele que tem atividades práticas como educação física, um salário um pouco acima do professor comum. Por isso temos que nos comportar com muito tato na escola, porque mesmo sem o curso de professor, estamos ganhando 16% a mais doque aquele que tem 12 , 15 anos de carreira. Ganhamos um salário de professor especial, gozamos da „hora social‟ para a família; todas as conquistas da categoria como mais um afiliado. E estamos descobrindo dia após dia que isto é fundamental para o crescimento e a consolidação do xadrez. A possibilidade de dedicar-se „full-time‟ ao xadrez, de obter um salário digno, nos permite acreditar no que estamos fazendo, nos permite melhorar, assistir a cursos de capacitação, comprar material, e tantas outras coisas que fazemos devido a essa remuneração. [Comentário de um participante do congresso:] Eu sou o Luís Santos. Não sabia que a Argentina estava tão evoluída. Acho que seria muito importante a existência de documentos legais, decretos e leis para o desenvolvimento do xadrez em outros países, porque é uma experiência que pode ser muito útil para mostrar às instituições dos nossos países que existe um lugar com uma estrutura nacional, decretos e leis sobre o assunto; tanto é que, mesmo para a FIDE, seria muito importante ter estes decretos, Depois, um pormenor: nas 4ª, 5ª, e 6ª séries, qual é a idade inicial? Outra questão que me parece fundamental pela minha experiência: qual é a ligação prática com os clubes, como eles podem dar continuidade a este trabalho? Com relação ás aulas propriamente ditas: foi dito que 73% podem eventualmente não estar interessados; como controlá-los então? Somente com pedagogia? Se eles faltam, estas faltas têm importância a nível escolar ou não? O aproveitamento escolar no xadrez tem influência ou não? É importante para passar de ano ou não? Qual é a porcentagem de participação em torneios e quantos são os torneios escolares? [Eduardo Tomassi:] No que se refere às idades, temos oito e nove anos na 4ª série; nove e dez na 5ª; dez e onze na 6ª. A relação entre escolas e clubes é a seguinte. Depois de um ano e pouco, em 89 e 90, preocupados com a continuação do xadrez, nós percebemos que haveria uma explosão do jogo, como nunca, nunca, eu creio tenha ocorrido desde a idade da pedra. E nós não estávamos preparados. Naquele momento a cidade, que tinha um clube, passou a ter quatro. No lugar onde havia um professor, que às vezes trabalhava gratuitamente ou por quase nada, hoje há quatro ou cinco; hoje há competência, o professor vale mais, e é às vezes convidado por outro clube que paga mais, de modo que posso dizer que é fundamental que se prepare esta estrutura institucional paralela, esta estrutura federada. como o Sesame, porque o número de alunos que procuram os clubes, principalmente rapazes, mas também um pequeno grupo de moças, é muito grande. É o que sempre tínhamos desejado. Os motivos, bem... a possibilidade de conhecer o xadrez, que ele não é só para os excelentes, nem para os génios ou super dotados, qualquer um pode jogar. O fato do 13 xadrez estar nas escolas nos dá um espaço muito mais importante na sociedade, eleva-se o status do xadrez. Deixa de ser este joguinho... Na minha juventude, na minha cidade, era um joguinho, que era jogado pelo garoto de óculos e sei lá o quê! Em uma das aulas, por exemplo, ao introduzir o xadrez nas escolas, teve-se que tirar 2 horas de outra atividade. Quando o papai vê o boletim, ou quando o aluno recebe o caderno de xadrez ou quando o xadrez é o tema da conversa em casa, os pais me procuram com grande satisfação. Um deles uma vez me contou que enquanto não joga duas partidas com o filho, este não o deixa tomar banho. Outro me disse que está conversando como nunca com os filhos, o que antes não podia por causa do trabalho e das preocupações. Agora, entre uma partida e outra, eles podem bater um papo e trocar idéias. Seguramente, o fato de ser uma matéria obrigatória facilita muito isso. No nosso caso, eu diria que possibilitou oito ou dez vezes mais do que tínhamos antes. A imprensa nos dá muito mais espaço e nós estamos aprendendo a utilizá-lo, para falar de todas estas atividades escolares, como os campeonatos e os encontros entre as crianças. Aquelas crianças que têm xadrez na escola, e estão realmente entusiasmadas não se conformam com aulas duas vezes por semana, de 45 minutos cada; elas querem muito mais. Então temos que ter instituições abertas, esperando por estas crianças. De que maneira? Há muitas, mas as mais efetivas são as diretas; por exemplo, aulas gratuitas oferecidas pelos clubes. Somente nos primeiros meses é gratuito para que as crianças experimentem e vejam se o xadrez do clube realmente lhes agrada. Nesta fase, temos um instrutor no clube, que tem que ter paciência para reforçar no aluno os movimentos dos peões, além do professor na escola, que já está ensinando estratégias superiores, ou algo assim. Há instrutores para dois ou três níveis nos clubes. No entanto, onde antes tínhamos 20 garotos, agora temos 80, e temos que parar, porque senão fica difícil manter o clube funcionando. Portanto, este é um trabalho feito criança por criança, pai por pai; fazemos torneios, simultâneas. Muitas vezes acontece da criança não ir ao clube, não se animar. Temos então que quebrar este receio; uma forma é realizar torneios inter colegiais, onde as crianças, em grupo, perdem o medo muito mais rápido do que sozinhas. A rivalidade entre escolas de bairros diferentes também entusiasma e motiva. Os alunos não querem perder para outro colégio. Em uma cidade de 100.000 habitantes, por exemplo, há 4 ou 5 clubes, divididos em zonas geográficas, porque a experiência nos ensinou que o garoto que vai à escola de um bairro a 4 km de distância, não vai continuar por muito tempo em um clube de xadrez tão longe. Então cada clube abrange uma região designada. Eu trabalho com 7 escolas e o clube com outras 3 ou 4, por exemplo. E isso é uma responsabilidade: ter que preparar as equipes para os torneios intercolegiais, que acontecem todos os meses. Se eu tenho 7 escolas, eu tenho que levar pelo menos 7 equipes. E para isso colocamos mãos à obra. As primeiras atividades são simultâneas à escola. Esta é uma forma de ir aproximando o aluno do instrutor do clube, que normalmente não é o professor da escola. Eu vou primeiro à escola, falar sobre xadrez. Levamos Paolo Sarnick, outro dia, além de outros estrangeiros. 20 dias antes dele chegar, já se falava em xadrez. Os alunos levaram toda a família à escola, pais, irmãos. E 20 dias depois, ainda se falava nele. Estas são fórmulas que utilizamos, e continuaremos a inventar outras novas e aprendendo mais. [Comentário de um participante do congresso, Diomar . José Perin:] Eu gostaria de dar um exemplo de como foi formado um clube no Paraguai. O presidente da Federação, do Círculo Paraguaio de Xadrez, possui uma padaria e, atuando como patrocinador, convidou um professor de Cuba e formou um clube. Começou-se fazendo matrículas grátis. Portanto, se um professor desejar começar um clube na sua cidade, é só arrumar um patrocinador, que pagará pelas aulas. É uma maneira de se formar um clube, entre outras. Tem só que ter criatividade. [Resposta de Eduardo Tomassi à pergunta de Vanderlei Melo sobre faltas:] O xadrez normalmente é a terceira ou quarta aula. A criança chega às 8h da manhã, a primeira aula é de matemática, a segunda de língua, a terceira ou quarta, de xadrez. Se o aluno falta, falta a manhã toda; pois, uma vez dentro da sala, ele não pode sair. O que eu ainda não havia dito é que o professor não se retira, ele colabora com o professor de xadrez, trabalham juntos. Quanto a começar na 4ª série e não na 1ª, foi uma decisão tomada no início, seguindo o conselho de um grupo de pedagogos e especialistas em educação. Eles nos disseram que, nesta fase, a criança está terminando de consolidar o pensamento lógico- concreto e pronta para começar com as abstracções. Há também outrosmotivos como, por exemplo, não estarmos capacitados naquele momento a ensinar para a 1ª série e pré-escola. Não é fácil quando a criança 14 não sabe escrever, e não sabe o que é uma diagonal. Para um projeto que se iniciava com tantas lacunas, tantas dúvidas, só uma criança de 8 ou 9 anos poderia nos entender. Além disso, é geralmente a partir desta idade que se começa a trabalhar nos clubes. Em algumas escolas particulares, onde quem manda é o diretor, temos xadrez na 1ª série. Há inclusive algumas experiências com o pré-escolar. [Comentário de Uvêncio Blanco:] Há países que trabalham com pré-escolar e, portanto, têm um desenvolvimento programático propriamente escolarizado, como neste caso. Na Venezuela, nossa proposta é trabalhar com as crianças das 4ª, 5ªe 6ª séries, porque estas pertencem à 2ª etapa da educação básica. Elas têm aproximadamente 9 ou 10 anos de idade, na 4ª série. Há uma série de vantagens, do ponto de vista prático, em se trabalhar com crianças desta idade, devido ao seu conhecimento cognoscitivo já estar bastante adiantado. Porém, o fundamental, e que estou vendo também pela experiência de Tomassi, na Argentina, é o caráter obrigatório das aulas. Nós o fazemos no tempo livre escolar. Por exemplo, nós fundamos um clube de xadrez. Pela manhã as crianças têm as suas horas de aulas, das 7h às 12h, aproximadamente. Temos um currículo muito forte, com muitas matérias. É tarde, no tempo livre delas, organizamos cursos de xadrez, nos quais a participação é voluntária. O resultado é que em torno dos 9, 10, 11 anos as crianças já definiram a sua personalidade com bastante precisão, e podem indicar, elas mesmas, quais os esportes e atividades que gostariam de participar. Temos, então, essa população que vai aos clubes e às aulas por vontade própria, sem se sentirem obrigados. Há ainda outros elementos que nos permitem considerar esta a idade ideal. Em crianças de 9, 10 e 11 anos a concentração no trabalho é maior do que naquelas de 5, 6, ou 7, porque estes últimos têm a atenção mais dispersa - isso é comprovado cientificamente. Isso não implica em negar o trabalho de xadrez pré-escolar, nem o de 2° grau ou universitário. Tomassi está apresentando a sua experiência com 4ª,5ª e 6ª séries e enfatizando que o fator econômico em sua região é preponderante. Em nossa proposta, damos ênfase ao desenvolvimento cognoscitivo. [Pergunta de José Gonçalves Pereira:] Qual a importância que os docentes de seu país dão ao ensinamento das regras básicas de xadrez? Esta pergunta fundamenta-se no fato de que mesmo os enxadristas adultos têm muitas dificuldades em interpretar e aplicar tais regras. Portanto, qual a importância, dentro do seu plano, do ensinamento dos regulamentos e não somente da parte técnica deste jogo. Gostaria que explicasse também o espírito dos boletins de qualificação dos corpos docentes. [Resposta:] Os regulamentos têm uma importância relativa. Eles são básicos, elementares. Mas o objetivo do xadrez escolar não é levar o aluno a um campeonato. Não é importante para nós que ele conheça o regulamento a fundo. Os boletins são fruto do trabalho de uma comissão de cinco ou seis professores, mas que deve ser extinto ou modificado no ano que vem. Atualmente estamos avaliando memória visual, engenho e criatividade, capacidade de concentração, conhecimentos teóricos, execução táctica, planejamento estratégico, espírito auto-crítico, respeito às regras do jogo, conduta e assistência. E há dois quadrados em branco para que cada professor, a seu critério, coloque dois pontos a mais para avaliação. Como estamos cientes de que, dos 150 professores, nenhum está realmente capacitado para qualificar, os conceitos são dados da metade para cima, para evitar desmotivação, e com notas de excelente, muito bom e regular (que é raro). Ruim ninguém recebe. O boletim nasceu como uma necessidade de estimular o aluno que se preocupa, de premiá-lo, para que ele e sua família acompanhem a sua evolução ao longo do ano. Com relação às atividades extra-escolares, estas cumprem um papel decisivo para manter e incrementar o entusiasmo dos alunos. Simultâneas nas praças, maratonas enxadrísticas, certames individuais ou por equipe, concurso de desenho e pintura, jornalismo do xadrez; são algumas das alternativas que os docentes utilizam, geralmente nos fins-de-semana ou feriados, E isso não é pago, nasce daqui. (toca o coração). Temos encontros regionais freqüentes, duas vezes por ano, nas férias de Julho e antes do encerramento das aulas, no fim do ano. Aliás, no próximo fim-de-semana teremos o 2° Encontro Provincial, ao qual irão 600 crianças, o que nos obriga a trabalhar 40 dias antes para agilizar tudo. O 15 encontro começa às 8h da manhã e termina às 18h.E tudo grátis para as crianças, portanto temos que comprar sanduíches, trabalhar nas barracas... mas é um trabalho que fazemos com carinho. Nestes encontros compartilhamos jornadas de camaradagem e fraternidade, de modo que as crianças não se esquecem jamais. Além disso, temos a cobertura da mídia e participação dos diretores e do ministro. Os trabalhos de xadrez ao vivo já existem em muitas escolas, que possuem equipes que vão às praças, festas, cerimônias protocolares da própria escola, exteriorizando o trabalho silencioso da sala de aula. O procedimento nas salas de aula se faz da seguinte maneira: na 1ª aula o professor de xadrez é apresentado pelo professor regular. Ele conhece os alunos, conversa com eles, faz algumas reflexões, explica os objetivos do xadrez e do xadrez nas escolas. Faz também uma pequena resenha histórica do mesmo, suas origens, teorias sobre as origens, sua passagem pela Europa, relacionando-o com a História ou a Geografia. Mostra, além disso, diferentes jogos de xadrez, aproximando-os das crianças para que elas os peguem nas mãos. Esta é a introdução feita nos primeiros 45 minutos da 1ª aula. Já na 2ª aula, é narrada a lenda do jogo, incentivando a participação dos alunos para ajudar a contá-la - sempre há 3 ou 4 que a conhecem, através de outras pessoas ou das idas ao clube. A moral da lenda é analisada grupalmente. Se há tempo, pede-se que cada criança faça um desenho da imagem que mais lhe chamou a atenção na história, desenho este que será a capa do seu caderno ou da pasta de xadrez. Na 3ª aula, lhes é apresentado o tabuleiro, mostram-se os caminhos ou trilhas, que são a coluna, a fila e a diagonal, os lados e o posicionamento correto do tabuleiro antes de se iniciar uma partida. Pede-se que as crianças comparem o tabuleiro às coisas da vida cotidiana, e surgem então campos de futebol, campos de batalhas dos exércitos, e assim por diante. Esta divisão das aulas é apenas uma idéia aproximada, mas o importante é que não haja pressa em se ensinar o jogo propriamente dito. O material didático é 100% construído pelas mãos dos professores, às vezes com a ajuda dos professores de trabalhos manuais e da carpintaria da escola. Ao falar do tabuleiro, o professor coloca 4 ou 5 modelos, com casas de várias cores e tamanhos diferentes, ao alcance do aluno. Ao falar das colunas, estas estarão marcadas no tabuleiro com uma flecha vermelha; para as filas, flechas azuis. As diagonais são mostradas em dois tabuleiros: em um setas amarelas para as diagonais claras; no outro, setas laranjas para as diagonais escuras. Usa-se o amarelo para as diagonais comuns e o laranja para as duas diagonais principais. Em um congresso Ibero-Americano realizado em Salta, o projeto de uma professora nos deixou realmente maravilhados. Ela usou um tabuleiro de parede, o esqueleto de um tabuleiro de parede, isto é, quatro linhas com as casas em branco. Os alunos vão então construindo as colunas, diagonais, filas, até formar todoo tabuleiro. Ao contrário do método tradicional, neste diz-se aos alunos: "Construam vocês o tabuleiro!" Para finalizar esta parte com as crianças, pede-se que elas desenhem um tabuleiro com lápis de cor no caderno. (Em escolas humildes usa-se papel jornal ou papel reciclado. Nas demais, papel acetinado). Há dois anos estamos utilizando também um mural, que é colocado em um local privilegiado da escola, um corredor, por exemplo. Neste mural mostra-se ao resto da escola a evolução da disciplina, aula por aula. É um pouco o reflexo do trabalho em sala de aula transferido a este mural. Somente na 4ª aula é apresentada a primeira peça - o peão. Ele aparece de diversas formas - de papelão, de argila, de plástico, de madeira, e também em ilustrações; dos peões usados antes de Cristo, passando pelos árabes, até os que são usados hoje, mostrando a „metamorfose‟ pela qual ele e as outras peças passaram. Começamos com o peão porque talvez seja a mais complexa das peças, por causa da dualidade, move-se de uma maneira e é capturada de outra. É indiscutível que a criança precisa jogar, precisa de prática. Criamos então vários jogos antes de chegar ao xadrez propriamente dito. Um deles é o clássico combate de peões: coloca-se os 8 peões na 2ª fileira, brancos e pretos, para iniciar o combate. Este jogo permite que as crianças consolidem o movimento e a captura do peão. A partir daí, elas começam a descobrir muitas situações surpreendentes. Descobrem que têm que pensar antes de jogar, que o adversário tem interesses diferentes dos seus. E isso não podem lhes ensinar através de uma competição onde não há ganhadores. Mais adiante lhes ensinaremos que, para nós, ganha quem chega à última linha. Porém, durante os primeiros 15 ou 20 dias, não falamos de ganhadores. Ganham os que aprendem a mover e calcular corretamente com o peão. Isto se prolonga por várias aulas, até que estejamos seguros de que o aluno entendeu perfeitamente. Inventamos também diversos contos que são intercalados a estas aulas: „O peão arrogante‟, „O pobre peão‟. Estes contos encantam as crianças, que querem desenhar as histórias. Terminado o peão, passa-se à figura seguinte, a torre, apresentada da mesma maneira que o primeiro. Uma vez aprendido o movimento da torre, faz-se a 16 guerra dos peões com uma torre, depois com duas. A seguir são introduzidos diversos jogos como, por exemplo, a caça ao tesouro ou labirinto. Em vez de uma peça, tem-se o desenho de um doce, o tesouro. Este é fixado no tabuleiro e pergunta-se à turma como alcançá-lo. A princípio, as crianças conseguem em 3 ou 4 movimentos; depois, acabam conseguindo em apenas 2. O caminho ao tesouro começa, então, a ser dificultado com a colocação de obstáculos, ou seja, desenhos de pedras ou barreiras com ímã. O aluno é obrigado a dar a volta para chegar ao doce. Um a um, os alunos vão tentando, sem a interferência do professor, até que o 8° ou 9° acerta. O objetivo é a participação de toda turma. O labirinto é um pouco mais complicado. Nele, há mais obstáculos e o aluno deve esforçar-se para chegar ao final. Quando há o movimento de quase todas as peças, tem-se o „Tatedrez‟, uma variação do „ta-te-ti‟, (Jogo da Velha) englobado pelo xadrez. Em um tabuleiro pequeno, em geral com muito colorido, temos dois alunos, cada um com um bispo, um cavalo e uma torre. Coloca-se, primeiro, uma peça branca. Depois, a segunda e a terceira, e a busca começa. As crianças logo aprendem que colocando o cavalo em uma determinada posição, não há movimento. É um jogo muito divertido, tem definição rápida. Um dos problemas que temos com as crianças é que, às vezes, as partidas se tornam muito demoradas, e o fim da aula chega na metade da partida. O „Tatedrez‟ acaba em 6 ou 7 jogadas e pode ser jogado muitas vezes. As peças não se comem, tem-se que dar voltas e mais voltas. Quando trabalha-se com crianças um pouco maiores, dá-se sempre a possibilidade de passo, ou seja, ganha-se deixando o adversário sem jogada, pois este tem que dizer „passo‟. O jogo das 8 damas é utilizado mais adiante. Inicia-se colocando 5 damas, pois as 8 seriam para os alunos da 5ª série. Estas não podem estar ameaçadas ou amontoadas. Às crianças dizemos que não se pode comer entre elas. Há vinte e tantas posições no tabuleiro em que as damas podem estar. [Pergunta:] Quais as dificuldades encontradas por vocês na implantação do projeto, e se os benefícios hoje adquiridos estão assegurados pelo Decreto Municipal? [Resposta] Tudo isto está na proposta do Ministério da Educação da província de Santa Fé. Foi muito difícil, começamos com 8 escolas, trabalhamos gratuitamente nos primeiros seis meses, só depois veio a nossa habilitação. E os professores vão sendo incorporados de acordo com a dotação orçamentária. É a nossa maior limitação, porque não sabemos se teremos verba para aumentar o número de escolas no ano que vem. Hoje, tudo o que temos é a remuneração dos professores; todo o resto depende do nosso esforço. Para que os alunos possam ir ao encontro de 5 de Novembro, nós professores estamos trabalhando, vendendo frango assado aos domingos, vendendo rifas, tudo para pagar a viagem. Mas estas são coisas que já nos acostumamos, de modo que dos 350 dólares que recebemos no fim do mês, uma parte é reservada para consertar tabuleiros, comprar papel acetinado, cartolina, etc. [Pergunta:] Qual a duração do dia letivo dos professores de xadrez? [Resposta:] Normalmente tem 6 horas, até mais. Vejam, cada escola tem 6 ou 7 séries (as escolas pequenas) com 30 ou 40 alunos; se multiplica isto por 100 escolas, chega-se a 18.000 alunos. O professor tem que dar 2 horas de aula à 4ª série A e mais 2 horas à 4ª série B...dependendo da escola e da quantidade de turmas e séries. Há escolas que têm seis turmas de 4ª série...e bom, não é um único professor. [Pergunta:] Quanto ganha um professor de xadrez em Santa Fé? [Resposta:] 17 Ganha-se por hora, como um professor especial. E isto deve ser tratado com muito cuidado para não criar desavenças com os professores regulares, que por vezes passam 20 anos de suas vidas nesta carreira, e de repente, chega um professor de xadrez que ganha 15 ou 16% a mais do que eles. A hora / aula está mais ou menos em 19 dólares. Em alguns casos, os professores dão ainda algumas aulas à tarde, superando as 30 horas permitidas. Os professores regulares ganham um salário fixo mensal; os professores especiais, como os de educação física, desenho, trabalhos manuais, informática, recebem praticamente como um professor de 2° grau. Luís Santos (Portugal) - O desenvolvimento do xadrez em Portugal [Narrador :] Eu gostaria de apresentar o mestre internacional Luís Santos, de Portugal, autor de vários livros de xadrez e que está desenvolvendo um projeto genial em Loures, próximo a Lisboa. [Luís Santos:] Em 1985, quando iniciei meu plano em Loures, não havia nenhum clube de xadrez. Tampouco, era ele conhecido dos alunos. A primeira coisa que fiz, então, foi passar um questionário entre os alunos para ver até que ponto ia o conhecimento deles sobre o xadrez. Descobri que era quase zero, nem mesmo sabiam o nome das peças. Mas o que mais me interessava era saber do interesse deles em participar de cursos de xadrez. Através do questionário percebi que havia um interesse muito grande dos alunos em participar, sobretudo nas idades de 8 a 11 anos. Em Portugal, o xadrez não é muito conhecido, mas é respeitado. O mais difícil em Loures foi começar. Para minha sorte, o prefeito da cidade era um comunista que esteve preso durante muitos anos, e cuja única maneira de manter o cérebro funcionando era jogando xadrez. Tudo o que aconteceu depois foi com base nos resultados. E isso me parece importanteressaltar: para começar é preciso mostrar resultados. Ninguém vai financiar um projeto sem saber o que oferecemos. E o que temos a oferecer? Milhares de alunos querendo participar. Isso interessa a qualquer prefeito, a qualquer ministro. Além disso, interessa também fazer campeões, porque é o que as pessoas sabem; a gente sabe quem é Kasparov. Como introdução, vou mostrar um mapa de Portugal. A população é de 10 milhões de habitantes, e só na região de Lisboa há I milhão de pessoas. O xadrez em Loures começou em 1985. Hoje, há xadrez em quase todos os outros municípios da região de Lisboa. Os números são mais ou menos estes: em Lisboa, ensina-se por ano mais ou menos 6.000 alunos; em Loures, 2.000; Vila Franca de Chira e Almada já têm um plano de desenvolvimento e ambas ensinam mais de 1.000 por ano. Portanto, pode-se dizer que na área de Lisboa, neste momento, ensinamos cerca de 10.000 alunos. Estes têm aulas nos tempos livres, voluntariamente, e tudo financiado pelo município, o Estado não contribui com um tostão sequer. A coordenação destes planos é feita pelos municípios, mas há um protocolo com a secção distrital de xadrez. A federação divide-se em federação e secção distrital. Nestes planos, o xadrez não está limitado somente à escola. O xadrez nas escolas é essencialmente o princípio de tudo, mas não é a parte mais difícil, porque a escola possui uma estrutura com professores, contínuos, um local certo, os alunos estão divididos por classes. Fora da escola o trabalho é mais difícil e mais importante, representa 80% do trabalho dos técnicos. Em Lisboa, o plano é diferente do de Loures, porque investiu-se mais e procurou-se por resultados mais imediatos. Também lá existiam alguns clubes de xadrez, com jogadores mais velhos, mas que não eram suficientes para apanhar os jogadores saídos da escola. Foram então criados os núcleos núcleos, não clubes. Os municípios criaram estes núcleos para que os jovens pudessem aprender a jogar melhor. Eu acho que é perigoso criar um núcleo. porque ele é directamente financiado. Se por acaso a câmara municipal deixa de financiar. o núcleo desaparece e com ele o xadrez nas escolas. Em Loures isto não acontece. [Pergunta:] Qual o número de alunos beneficiados com o plano. e qual o custo para o município? [Resposta:] 18 10.000 é o número de alunos ensinados, não os que continuam praticantes. Após a escola. o número de praticantes é muito menor. E esses 10.000 são da área metropolitana (não só da cidade) de Lisboa, o que corresponde a cerca de um quinto da população de Portugal. Resumindo: são 10 milhões de habitantes no país. dois ou três milhões nesta área, e 10.000 alunos que aprendem a jogar xadrez por ano, por iniciativa exclusiva dos municípios. Este ano vamos tentar que parte das despesas sejam custeadas pelo Desporto Escolar, ou seja, a nível nacional. A coordenação continuaria a ser de Lisboa e dos municípios, mas parte das despesas, que são muitas, passaria a ser custeada pelo Estado. O município de Lisboa gasta cerca de 100 mil dólares com o plano de xadrez. Em Loures. aproximadamente 50 mi I. Em Almada. Barreira e Vila Franca de Chira é mais ou menos 10 mil para cada município. Estes são números actuais. Para explicar como se chegou a isso, vou relatar Loures em pormenores. Tudo começou com o plano "Vamos Todos Jogar Xadrez". Ainda não era o plano de desenvolvimento, mas apenas uma experiência. Começamos em 1985, com 2 mil dólares por ano. São 340 mil habitantes, cerca de 30 escolas preparatórias e secundárias e mais 100 escolas primárias. Loures é uma cidade muito jovem. Possui um terço do número de habitantes de Lisboa, mas um grande número de jovens. Percebi, após o questionário, que os alunos das escolas preparatórias, que têm entre 9 e 11 anos, tinham um grande interesse em participar do plano. As perguntas eram do tipo: „Se houvesse um curso na escola, gostaria de entrar ou não?‟ ; „Se houvesse um campeonato na escola, gostaria de entrar ou não?‟ . Nas escolas secundárias, dos 12 aos 18 anos, houve muitos „não‟. Mandei questionários a todas as escolas e a todos os clubes perguntando se por acaso receberiam os alunos interessados. De 200 clubes, só obtive resposta de 10, sendo que destes 10, apenas dois tinham condições materiais e salas disponíveis. A primeira coisa que eu fiz, então, foi a sensibilização. O plano atual tem 4 áreas fundamentais: a área do xadrez nas escolas, a área das iniciativas (que são muitas, quer do município, da federação, dos próprios clubes), a área de apoio e formação de clubes e dirigentes, e a área da academia, surgida recentemente. Só agora é um plano porque compreende todas as áreas, foi se desenvolvendo devagar. Neste momento temos 14 clubes. Destes 14, 10 possuem dirigentes jovens, de 14 a 17 anos de idade. Também temos muitas iniciativas. As distritais jovens, sempre feitas em Loures, em todos os escalões: 10, sub-10, sub-12, sub-14, ... até sub-20. Temos campeonatos nacionais de jovens - aqui não são apanhados todos os escalões, mas apenas um ou dois, e são as provas mais importantes. Temos festivais de 2 em 2 anos; o primeiro festival foi feito em 1988, e são estes festivais que saem nos jornais, na televisão. Lá são mostrados os trabalhos desenvolvidos, e o que mais interessa é a competição. Arranjar um patrocinador para um festival é fácil, é só dizer que vamos colocar 10.000 jovens em um pavilhão jogando simultâneas, torneios, e fazer exposições. O patrocinador quer saber o número de pessoas que vão estar lá, que tipo de cobertura os jornais vão fazer, se a televisão vai ou não estar lá - normalmente deve-se negociar diretamente ou até mesmo pagar à televisão. É preciso mostrar recortes de jornais dos festivais anteriores; no primeiro foi difícil, mas do segundo em diante foi ficando mais fácil. O festival também é muito importante para os dirigentes dos municípios mostrarem o que fizeram. Há também outras iniciativas, como o "Troféu", que é uma prova entre os clubes, totalmente municipal. Ou os "Jogos da paz", realizados durante um mês por iniciativa dos clubes. A divulgação e a inscrição para tudo isto é feita nas escolas, em ligação com os clubes. Estas iniciativas são, na realidade, muito mais importantes do que o xadrez na escola; mas, é claro, sem o xadrez na escola, não haveria nada disto. Acima de tudo isto está a coordenação do plano. No momento, a coordenação do plano em Loures é feita por mim. Dentro das escolas, há os monitores, que são os que ensinam e organizam torneios escolares. Na academia temos uma rede de treinadores. Esta é a estrutura humana: um coordenador geral, um responsável pelas escolas, monitores e treinadores. Em Loures, temos hoje 15 treinadores e 3 monitores; em Lisboa, 30 treinadores e 40 monitores. O trabalho dos monitores nas escolas é a sensibilização, que sempre precede o curso. Eles chegam em uma escola de 1000 alunos e distribuem 1000 cartilhas com peças de recortar ou descartáveis, recolhem os horários livres dos estudantes e marcam as datas para o curso. Ao contrário da Argentina, em Portugal o curso não dura o ano todo, mas só uma semana. Então, deve-se prestar muita atenção porque é uma oportunidade única de aprendizagem. Em Loures, o curso dura uma semana, seguido de 2 torneios. Já em Lisboa, o curso é de 2 semanas - aprendizagem e aperfeiçoamento - e depois em torneio. Normalmente o primeiro torneio era na semana seguinte ao curso, para que não se esquecesse nada. Nos últimos anos estamos fazendo 2 torneios: um inter-turmas ou inter-classes e um individual. O de inter- classes tem sido um sucesso. Os monitores avisam então á escola quando levarão os papéis de divulgação, que foi ideia de uma professora: um papel que é entregue a cada aluno dizendo onde e quando será19 realizado o curso. As datas são trabalhadas em cima dos horários livres dos estudantes. Marcada a semana, o monitor estará na escola durante 6 horas por dia, de maneira que em 3 dias, todas as turmas terão pelo menos uma aula teórica e uma prática. Dependendo do monitor, diretamente a aula prática, porque, como vamos ver, a aprendizagem não é importante. Na semana em que o monitor vai à escola, ele tem que ter em mãos o seguinte: as folhas de inscrição de cada turma preenchidas, um boletim com as regras, um tabuleiro mural e jogos. A responsabilidade de verificação do preenchimento das folhas de inscrição é do coordenador, que deve estar sempre em contacto com a escola para que nada falhe, senão, o curso só sai no ano seguinte. Portanto, a divulgação tem que ser acompanhada de muitos telefonemas ou idas à escola para ver se tudo está sendo bem feito. Ao contrário da Argentina, achamos que ensinar não é importante, mas sim motivar o jovem. Se ele estiver motivado, estudará as regras em casa. Em uma escola com 1000 alunos, cerca de 150 vão ao curso; destes 150,30 participam do torneio. Isto dá uma média de 2 alunos por turma da escola. Estes 30 são trabalhados no resto do ano. O objectivo principal é o desenvolvimento do xadrez, com o que proporciona-se a ligação destes alunos aos clubes, festivais, torneios, etc. Desse modo, eu trabalho mesmo com 700 alunos, não 2000. Destes 700, só 200 entram nos clubes. Quando estes chegam aos 15, 16 anos, ficamos só com 20, os outros desistem, como em todos os esportes. Além disto, as pessoas não vão mais aos clubes só pela competição, é preciso oferecer viagens, bailes, etc. Principalmente no caso do xadrez, em que se pode jogar em casa, no computador. Na França, por exemplo, 40% dos esportistas não está ligado a nenhuma estrutura. Voltando aos 700 alunos que realmente jogam xadrez, há um torneio por equipe e um individual. É importante dar prémios nos torneios - em média no valor de 100 dólares, medalhas para todos os participantes, livros de xadrez, jogos. Os torneios interescolares são considerados os mais importantes pelos alunos de 10 e 11 anos. Estes torneios possuem 5 provas, realizadas aos sábados e domingos. Os prémios são somente livros de xadrez. Os resultados de todos estes torneios nas escolas são colocados em uma lista com os nomes e classificações dos alunos. Esta lista é dada aos dirigentes da academia e dos clubes que os chamam para torneios, festivais, etc. Isto é feito somente nas escolas preparatórias, com alunos de 8, 9 e 10 anos. Não fomos ás primárias - crianças de 8 anos para baixo - por uma questão econômica. Existem mais de 100 escolas primárias. E também porque uma semana em uma escola primária não serve para nada. A partir deste ano vamos começar com 4 ou 5 destas escolas, em cursos de 3 ou 4 semanas. [Pergunta:] Como são organizados os torneios escolares? [Resposta:] A organização dos torneios é feita de um modo muito pouco competitivo; há os prémios, mas estes são dados praticamente para todos. Além disso, há a divulgação imediata feita pela academia. Se o aluno quiser aprender mais, pode ir ao clube ou a academia. Agora, em termos de números, é o seguinte: na escola, ensinamos 2000 alunos com 4.000 dólares; na academia, 200 alunos com 10.000 dólares. É verdade que o aluno que aprendeu só na escola não vai ficar bem classificado no torneio, no primeiro ano; mas no ano seguinte, sim. E vai ser incentivado por ter visto outros jogarem, por ter participado. Eu fui à Polónia em 1983 e perguntei como eles conseguiam desenvolver tão bem o xadrez nas escolas. Eles me disseram que não faziam nada, que era uma coisa que acontecia naturalmente. Na Holanda, há um plano semelhante ao nosso, mas é tudo patrocinado por um banco. A parte mais importante, porém, é o xadrez fora da escola. O xadrez nas escolas pode até desaparecer, mas o resto não. O que me impressionou muito foi que o Tomassi disse ontem que uma parte tão importante como as actividades extra-escolares fique ao acaso, de acordo com a vontade dos professores. Isto pode funcionar durante um ano ou dois, mas depois de 3 ou 4, não sei. Porque os monitores também gostam de dinheiro. [Pergunta:] Eu gostaria de saber de quanto tempo vocês dispõem em Portugal para ensinar as regras do jogo e dos torneios. E como vocês prepararam os primeiros árbitros e organizadores? E gostaria de saber se existe em Portugal um plano ou algo escrito que apresente o xadrez como um complemento educacional, para a formação do carácter e da personalidade. 20 [Resposta:] Antes de começar o plano, eu apresentei um projecto à câmara explicando as vantagens educativas do xadrez na escola. Mas nunca expliquei tal coisa a nenhum professor ou escola. Acho até errado que eu, que não sou professor, vá à escola explicar ao professor as vantagens do jogo. Se ele não sabe, não sou eu quem vai explicar. Os monitores também não explicam nada disso, normalmente. Não dizem nem quanto ganham, porque geralmente é mais do que os professores. Um monitor ganha 1200 escudos por hora - aproximadamente 6 dólares. É muito mais do que o salário mínimo. E quem paga isto é a secção de Lisboa; os monitores não são funcionários públicos municipais, são independentes. Já os coordenadores têm contrato com os municípios. Os treinadores chegam a ganhar o dobro. O tempo de ensino das regras é de 4 horas. E se não se ensina as regras, não faz mal. Quanto aos árbitros, dirigentes, formação de dirigentes, etc., isto tem a ver com as iniciativas, clubes e academias. Há duas iniciativas oficiais: os campeonatos distritais e os nacionais. Nós apoiamos os campeonatos distritais, pagando os árbitros, arranjando salas, divulgando; quem organiza é a secção distrital. Os campeonatos nacionais só foram apoiados no passado, com a condição de que fossem abertos para que pudéssemos pegar as listas e dizer: "Venham todos!" Os últimos campeonatos abertos foram em 1992, com mais de 500 participantes. Agora os campeonatos já têm muita gente, são muito difíceis de organizar e raramente os apoiamos, e assim mesmo para manter a tradição dos campeonatos nacionais. Depois, os festivais, onde temos simultâneas; já tivemos Loures versus resto do pais, parecia Rússia versus resto do mundo, e isso antes de surgirem as academias. Em Lisboa ainda há muito mais iniciativas. E raro um fim-de-semana em Lisboa em que o jovem não tenha um torneio para jogar. As próprias autoridades autárquicas - os prefeitos, por exemplo - gostam destas actividades. Em termos de apoio, no entanto, as coisas não andam muito boas. Eu fui ao presidente da câmara de comércio e ele me disse que poderia arranjar 20 ou 30 patrocinadores que me dariam 1.000 dólares cada. Eu disse que não queria. O que eu faço com 1.000 dólares não vale a publicidade de um patrocinador. Quem pode dar mais dinheiro são os bancos, empresas nacionais e multinacionais, mas estes querem propaganda em todo o pais. Para um campeonato nacional, portanto, é fácil arranjar um patrocinador, mas as despesas não são grandes; o que custa muito é o plano. A solução é ter um plano nacional. Basta ver a Holanda. Eu já disse à Federação Portuguesa para entrar em contacto com a Federação Holandesa, já disse ao próprio Palladino e ao Campomanes que a Federação Internacional deveria comprar o plano holandês para a FIDE e depois distribuir para todo o mundo, porque é o melhor plano do mundo. Eles trabalharam 5 anos antes de iniciar qualquer actividade. Os testes escolares são corrigidos por computador. Enquanto eu faço festivais com 700, 800 crianças, eles os fazem com 35.000 - e com anúncios do banco por todo o lado. Com a federação e o banco, é fácil. A mim, me dão mil dólares e está óptimo. Vamosentão aos clubes. O que são os torneios de captação? São provas organizadas pelos clubes quando recebem as listas fornecidas pelos monitores. Este é um primeiro contacto do jovem com o clube. A academia começou em 1992, ainda não possui sede, e é uma rede de mestres municipais. Isto é importante porque o município não pode pagar treinadores aos clubes, caso contrário todas as outras modalidades de esporte também iriam querer o mesmo. Os treinadores das academias vão então aos clubes especificamente para preparar os jovens para as provas que o município apoia. Ou extraordinariamente para os campeonatos mundiais - já tivemos 26 jovens de Loures que participaram de campeonatos mundiais. No momento há 14 clubes. Não havia nenhum, foi preciso um trabalho muito grande para conseguir isto. A cada ano, mandava mais questionários para os clubes, dizendo o que tinha a oferecer: "Querem receber 30 jovens? Se não querem, podem fechar as portas!" Os clubes diziam então: "Aceitamos os 30 jovens, mas não temos ninguém para ensiná-los". Eu disse que arranjaria alguém do plano ou eu mesmo iria ensiná-los, inclusive a se organizar e a formar os seus próprios dirigentes. De 200 clubes, 15 aceitaram. Para escolher os dirigentes, peguei 4 dos 30 jovens que eu achava que poderiam vir a ser bons dirigentes, conversei com eles e expliquei a estrutura. O presidente trata da papelada, tem contactos com o plano e a direcção do clube; o relações públicas faz os contactos, recebe a lista dos monitores, etc.; há também o responsável pelo material e o tesoureiro. O município fornece todo o material aos clubes (peças, biblioteca, etc.) Um jovem que apenas joga o torneio de captação e depois vai muito pouco ou não vai ao clube, mas que o representa nos campeonatos, não deve ser sócio. Deve ser sócio aquele que utiliza frequentemente as instalações do clube e paga por isso. A cota varia de clube para clube, mas é barato. Há clubes que se preocupam mais com um grande número de sócios do que com o dinheiro. Voltando às reuniões com os jovens, a primeira é a coordenação, depois a formação, e, em seguida, a reunião dos 4 jovens com a direcção do clube. Depois marca-se uma reunião geral para explicar o funcionamento, formação de clube, etc., seguido da organização do torneio de captação. Os outros 26 jovens já chegam com tudo pronto e organizado. Mas eu não faço 21 reunião alguma se não houver uma sala própria para o xadrez. Em Loures, se o plano falhar, ainda temos toda a estrutura montada, e esta fica. O que também acontece é que nos escalões sub-14 e sub-16 desaparecem muitos jogadores, porque a escola lhes exige muito neste período, e eles têm que optar. Já os sub-18 e sub-20 normalmente são enxadristas para o resto da vida. Dos 2.000 ficam 5, o que já é muito bom. Algumas vezes aparece um pai querendo ser presidente, tesoureiro ou relações públicas. Eu fico muito triste porque um dos meus objectivos é formar dirigentes. Mas é difícil conter o entusiasmo de alguns pais, que conseguem mais coisas e mais rápido, por isso eu não posso dizer não. A academia surgiu quando o interesse pelo xadrez aumentou e eu não tinha tempo de ensinar em todos os clubes. Foi como uma imposição dos próprios clubes, que queriam os seus jogadores bons aprendendo mais. Mas é muito difícil, de início, convencer o município ou um patrocinador qualquer a montar uma academia sem que tenhamos um fenómeno como um „Fischerzinho‟, um „Kasparovzinho‟. Neste momento, estamos ensinando 200 jogadores na academia, em 4 níveis. Outros clubes mais avançados possuem todos os níveis. Eu peço um relatório aos clubes todos os anos, por que eles passaram a receber um subsídio desde 1991, alegando ter que realizar todas estas actividades, participar de torneios no Porto ou em Coimbra, federar os jogadores, pagar o seguro esportivo obrigatório existente em Portugal e apoiar o plano. O subsídio foi dado com a condição de que os clubes conseguissem com que os seus jogadores participantes de torneios escolares frequentassem as suas instalações. Mas há outros critérios: os que vão a mais provas, os que vão a campeonatos mundiais, etc. O material não está incluído, pois é muito barato em Portugal. Um jogo custa aproximadamente 5 dólares. É muito importante, para quem vai começar um plano, possuir documentos para mostrar aos dirigentes. Mostrar números e resultados. Neste momento nós já temos qualidade, não só números. Por exemplo, entre Maio e Julho a academia funciona só com os jovens que vão ao campeonato mundial. Um treinador nesta fase já ganha muito bem. A academia mandou, só este ano, dois treinadores a Bratislava, com tudo pago. Vamos tentar agora estender isto a todo o país, não só Lisboa. Assim teríamos uma academia nacional, coisa impossível em 1985, por exemplo. A actividade nas escolas foi fundamental para tal realização, e não pode parar. [Pergunta:] Quando se tem um grande mestre, como Fischer nos EUA ou Mequinho aqui no Brasil, o esporte assume uma posição relevante, em termos de publicidade. O que vocês fazem em Portugal para que os grandes enxadristas não fiquem parados, sem se desenvolverem e sem atrair publicidade? Se no Brasil tivéssemos 20 ou 30 grandes mestres, o xadrez estaria numa posição diferente. Eu acho que se deveria trabalhar sobre os bons jogadores, os de destaque, para atrair publicidade. Vocês fazem algo do tipo em Portugal? [Resposta:] Esta é uma pergunta que me toca de modo particular, porque eu também já fui jogador. Em Portugal não há, nem nuca houve, apoio ao jogador; mas há uma possibilidade de se vir a ter. No projecto da academia, se por acaso me aparecer um „Mequinhozinho‟, ele vai ter um treinador só para ele e gastaremos muito dinheiro com ele. Mas isso já é um plano, e não mais um projecto. Eu fui campeão de juniores em 1973, de seniores em 1978 e 79, e nunca tive apoio nem treinador. Mas os jovens de hoje já tem uma perspectiva de apoio. É importante ver que um Fischer sozinho faz mais do que 40 planos. [Pergunta:] Eu gostaria que você falasse um pouco mais sobre os monitores. [Resposta:] O problema dos monitores é um problema grave, principalmente em Lisboa, onde há 40 monitores essenciais. A formação deles é muito importante. Eles fizeram um teste e agora vão receber o salário de acordo com a nota que obtiveram. Nestes testes há perguntas técnicas, como na Argentina, e pedagógicas. Mas a pedagogia é mais especial, por ser mais importante nos torneios do que no próprio curso. A pedagogia do curso é, principalmente, saber motivar o aluno. 22 Jean-Claude Loubatiére (França) - França: do maternal à universidade [Narrador: ] Temos a satisfação de receber Jean-Claude Lobatiére, presidente da Federação Francesa de Xadrez e que há mais de 20 anos trabalha com o ensino de xadrez em Montpellier, sendo responsável pela Ia Secção "Xadrez e Estudo". Actualmente, a França possui xadrez em todos os níveis escolares. [Jean-Claude Lobatiére (tradução de Luís Santos):] Ele vai falar do xadrez nas escolas na França, que considera muito importante, sobretudo porque o xadrez não tem público como os outros esportes. Há três pontos essenciais sobre os quais ele vai se centrar: a qualidade de ensino, as competições escolares e a relação do movimento escolar com os meios sociais em geral. A federação forma os monitores e treinadores para manter a qualidade de ensino através de testes em 4 níveis: monitor de 1° grau, de 2° grau, treinador e mestre treinador. Esses treinadores e monitores também ajudam a resolver um problema social na França: o desemprego. Um dos aspectos fundamentais são as competições escolares. Os jovens gostam de jogar, as competições são regulares, ás 4ª feiras e sábados, dias em
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