Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Parte Geral Doutrina A Valoração do Dano Moral ISABELA RIBEIRO DE FIGUEIREDO Especialista em Direito Civil e Processual Civil, Advogada. "Não há na lei tarifação para a grande maioria dos casos de ofensa à honra e aos direitos da personalidade. Compete ao juiz arbitrar com prudência e eqüidade o valor da indenização por dano moral a cada caso concreto. A maior dificuldade está em encontrar o valor adequado ao dano sofrido, que mais se aproxime do justo, levandose em consideração vários fatores, e arbitrandoo com bom senso, a fim de que o instituto não seja desvirtuado de seus reais objetivos." 1. Introdução O ser humano é dotado de atributos e virtudes que o dignificam. São aqueles valores da honradez, do bom nome, da personalidade, dos sentimentos. Enfim, todo um patrimônio moral e espiritual de valia inestimável. A moral, para o direito, consiste na valoração do sentimento de cada ser humano, abrangendo critérios pessoais que fogem ao domínio exclusivo da razão. Tais critérios criam princípios: o direito à vida, liberdade, nome, intimidade, privacidade, honra, imagem. Referidos princípios são amparados pelo direito. Ainda para alguns, a dor moral não tem preço, não podendo ser colocada como uma mercadoria à venda. Todavia, a questão não pode ser vista por esse foco. Com a reparação do dano moral não se está pretendendo vender um bem moral, mas simplesmente sustentando que esse bem, como todos os outros, deve ser respeitado. Quando a vítima pleiteia a reparação pecuniária da sua dor moral, não pede um preço para sua dor, mas pretende atenuar, em parte, as conseqüências da lesão sofrida. O dano moral já vinha sendo contemplado em nosso ordenamento jurídico, inclusive no CC de 1916 em seu art. 159. 1 A reparação do dano moral no direito brasileiro está prevista na CF de 1988 em seu art. 5º, V e X, cessando, pois, a discussão sobre a reparabilidade ou não do dano moral. 52 RDC Nº 10 MarAbr/2001 DOUTRINA Dessa forma, a CF consagrou o dano moral como uma lesão totalmente reparável, podendo ser indenizado cumulativamente com o dano material ou patrimonial, ou isoladamente, conforme Súmula nº 37 do STJ. Entendemos que não se discute mais, aleatoriamente, acerca da reparabilidade do dano moral, pois referido direito indenizatório já é teoria aceita. O instituto tem novos horizontes, e atualmente enfrenta problemas outros que não a velha discussão. Nos dias de hoje, encontrar uma estimativa adequada ao dano moral, talvez seja a maior dificuldade na discussão acerca do assunto, já que o valor a ser estabelecido deve corresponder a uma quantia compensatória e que mais se aproxime do justo, com o intuito de abrandar a dor e servir de lenitivo ao dano sofrido. Não há tarifação na lei para a grande maioria dos casos de ofensa à honra e aos direitos da personalidade. Assim, compete ao juiz arbitrar com prudência e eqüidade o valor da indenização por dano moral. Para isso, através do critério de arbitramento, o juiz fixará o quantum indenizatório, levando em conta as condições das partes, nível social, escolaridade, o prejuízo que sofreu a vítima, o grau de intensidade da culpa e tudo o mais que concorre para a fixação do dano. Essa exata e eqüitativa reparação, que deve aproximarse do justo e razoável, aplicada a cada caso concreto, é que iremos abordar neste trabalho. 2. Conceito de dano moral A lei se eximiu de conceituar o dano moral, por isso devemos buscar sua definição na doutrina, que já se definiu quanto a esse importante tema da atualidade de nosso direito. O dano moral pode ser definido como a lesão ao patrimônio jurídico materialmente não apreciável de uma pessoa. É a violação do sentimento que rege os princípios morais tutelados pelo direito, que podem ser decorrentes de ofensa à honra, ao decoro, à paz interior de cada um, às crenças íntimas, aos sentimentos afetivos de qualquer espécie, à liberdade, à vida e à integridade corporal. Muitos juristas têm tentado aprimorar o conceito do dano moral, e cumprenos citar alguns conceitos: RUI STOCCO, firmandose nas lições de PONTES DE MIRANDA, "Nos danos morais a esfera ética da pessoa é que é ofendida; o dano não patrimonial é o que, só atingindo o devedor como ser humano, não lhe atinge o patrimônio". 2 Para WILSON MELO DA SILVA, "danos morais são lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoal natural de direito em seu patrimônio ideal, entendendose por patrimônio ideal, em contraposição ao patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não seja suscetível de valor econômico". 3 RDC Nº 10 MarAbr/2001 DOUTRINA 51 Na lição de WALTER MORAES, "dano moral é, tecnicamente, um nãodano, onde a palavra dano é empregada com sentido translato ou como metáfora: um estrago ou uma lesão (este o termo jurídico genérico), na pessoa mas não no patrimônio". 4 Ensina AGUIAR DIAS, "Quanto ao dano não correspondem as características do dano patrimonial, dizemos que estamos em presença do dano moral. A distinção, ao contrário do que parece, não decorre da natureza do direito, bem ou interesse lesado, mas do efeito da lesão, do caráter da sua repercussão sobre o lesado. De forma que tanto é possível ocorrer dano patrimonial em conseqüência de lesão a um bem não patrimonial como dano moral em resultado de ofensa a bem material". 5 3. A valoração e o arbitramento do dano moral Não resta dúvida de que o problema mais sério suscitado na reparação do dano moral está na valoração e arbitramento do valor econômico a ser oferecido ao ofendido. Sabemos que quando se trata de dano material a apuração do valor se faz com base em informações e dados concretos. Assim, chegarseá exatamente ao desfalque sofrido no patrimônio da vítima e a indenização consistirá no seu exato montante. Mas, no caso do dano moral, a apuração do quantum indenizatório se torna complexa porque o bem lesado (a honra, o sentimento, o nome) não se mede monetariamente, ou seja, não tem dimensão econômica ou patrimonial. Para WALTER MORAES, "o dano moral não se avalia mediante cálculo matemáticoeconômico das repercussões patrimoniais negativas da violação como se tem feito às vezes porque tal cálculo já seria a busca exatamente do minus ou do detrimento patrimonial, ainda que por aproximativa estimação. E tudo isso já está previsto na esfera obrigacional da indenização por dano propriamente dito (CC, art. 1.553)...". 6 "Tratase, então, de uma estimação prudencial, que não dispensa sensibilidade para as coisas da dor e da alegria, para os estados d'alma humana, e que destarte deve ser feita pelo mesmo juiz ou, quando muito, por outro jurista, inútil sempre pôr em ação a calculadora do economista ou de técnico em contas." 7 Há casos em que regra explícita traça diretrizes à valoração do dano moral puro. O art. 51 da L. 5.250/67 (Lei de Imprensa) estabelece uma tarifa para a indenização do dano moral, cujo máximo, para cada escrito, transmissão ou notícia é de dez salários mínimos nos casos de imputação de fato ofensivo à reputação de alguém. E o art. 52 do mesmo diploma aumenta em dez vezes tal importância no caso de responsabilidade civil da empresa que explore o meio de informação ou divulgação. 54 RDC Nº 10 MarAbr/2001 DOUTRINA Também na L. 4.117 de 27.08.1962 (Código Brasileiro de Comunicações) existem cálculos reparatórios, valores em salários mínimos a serem utilizados nas indenizações por dano moral. Observamos que a jurisprudência tem utilizado esses critérios para aplicação em alguns casos, mas não é o bastante, e não são suficientes para embasarem a maioria dos casos apresentados, pois o processo a seguir deve ser idôneo, aplicado ao caso concreto e de acordo com o preconizado na doutrina e jurisprudência. Dois são os sistemas que o direito oferece para a reparação dos danos morais: o sistema tarifário e o sistema aberto. Pelo sistema tarifário, há umapredeterminação do valor da indenização. O juiz apenas o aplica a cada caso concreto, observando o limite do valor estabelecido para cada situação. É como se procede nos Estados Unidos da América, por exemplo. Pelo sistema aberto, atribuise ao juiz a competência para fixar o quantum subjetivamente, correspondendo à satisfação da lesão. É o sistema adotado em nosso país. O órgão judiciário deverá levar em conta que a indenização pelo dano moral não visa a um ressarcimento, mas a uma compensação. Segundo CAIO MÁRIO "...quando se cuida de reparar o dano moral, o fulcro do conceito ressarcitório achase deslocado para a convergência de duas forças: 'caráter punitivo' para que o causador do dano, pelo fato da condenação, se veja castigado pela ofensa que praticou; e o 'caráter compensatório' para a vítima, que receberá uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal sofrido". 8 A prudência consistirá em punir moderadamente o ofensor, para que o ilícito não se torne causa de ruína completa. Mas, em nenhuma hipótese, deverá se mostrar complacente com o ofensor que reitera ilícitos análogos. É o caso das empresas bancárias que consignam informações negativas sobre seus clientes em cadastros que vedam o acesso ao crédito e, posteriormente, se justificam com pretexto de erro operacional. Nessas hipóteses, a indenização deverá compensar a vítima pelo vexame e punir, exemplarmente, o autor do ato ilícito, com o intuito de impedir sua reiteração em outras situações. Não sendo o direito ao dano moral passível de uma equivalência material definida, e pela ausência de lei específica, terá o juiz que arbitrar o valor com bom senso, e deverá rejeitar, de plano, pedidos deduzidos por quem não tenha legitimidade. Por isso, o quantum, a ser apurado, estará entregue ao prudente arbítrio dos juízes e à força criativa da doutrina e jurisprudência para formação de critérios e parâmetros que haverão de presidir às indenizações por dano moral, a fim de evitar que o ressarcimento se torne expressão de puro arbítrio, infringindo os princípios básicos do Estado Democrático de Direito, tais como, o princípio da legalidade e o princípio da isonomia. Tomemos, como exemplo, um caso em que a vítima pudesse pleitear indenização desmedida e o juiz acolhesse como bem quisesse, sem condicionamento algum. A indenização por dano moral se transformaria num jogo lotérico, com soluções imprevisíveis e as mais disparatadas. RDC Nº 10 MarAbr/2001 DOUTRINA 55 Além do sistema tarifário e do sistema aberto utilizado pelo nosso ordenamento jurídico, surge ainda uma terceira situação, um entendimento ainda recente e com poucos adeptos, mas outra alternativa lançada ao universo jurídico na busca da melhor solução. Atualmente, a valoração, fixação e arbitramento do dano moral, como já dito, vêm sendo aplicados segundo entendimento subjetivo do magistrado, analisado o caso concreto. Todavia, cumprenos esclarecer que o magistrado não sofreu a dor moral, não passou pelo problema, não vivenciou o grande sofrimento, e, portanto, analisa a situação segundo o seu entendimento particular, sem envolvimento emocional. Podese dizer que a dor moral "dói na alma", e, por isso, devese levar em consideração que a ofensa moral pode ser encarada de diferentes maneiras pelo ser humano. O fato dependerá de um complexo de fatores: sociais, princípios morais do indivíduo, personalidade, e outros que, indiscutivelmente, influenciarão no ponto de vista da ofensa moral. Um fato que traduz ofensa moral a você, não significa que traduziria ofensa moral a mim. Nesse raciocínio, defendese a tese de que, somente a vítima que realmente sofreu a dor moral é que poderia dizer o quanto foi ofendida, e o quanto vale pecuniariamente a sua dor. A situação passaria a ser analisada sobre outro enfoque, ou seja, a valoração do dano moral deixaria de ser arbitrada segundo livre arbítrio e entendimento do juiz, para ser pleiteada e arbitrada segundo o entendimento subjetivo da vítima que realmente sofreu a dor moral e certamente poderia colocar preço no seu sentimento. Todavia, para que as pretensões não se apresentassem absurdas, o poder judiciário poderia valerse do auxílio de prova pericial, através de profissionais da área psicológica, a fim de demonstrar e comprovar o sofrimento moral da vítima, suas proporções, dimensões e conseqüências. Outra alternativa seria a aplicação do sistema tarifário, em que haveria na legislação uma predeterminação do valor da indenização. O juiz, no exercício de suas atribuições, aplicaria o valor predeterminado a cada caso concreto. Com efeito, para cada situação em que envolvesse a ofensa moral, direta ou indiretamente, haveria uma "tabela" para o arbitramento, como sugere o Centro de Estudos Jurídicos Juiz Ronaldo Cunha Campos. Em agosto de 1998, o Centro de Estudos Jurídicos Juiz Ronaldo Cunha Campos, que reúne os membros do TAMG, discutiram em debate amplo e abrangente o tema da reparação do dano moral, e após palestra proferida pelo Juiz Geraldo Augusto, os juízes daquele Tribunal divulgaram as seguintes conclusões a título de sugestão para o arbitramento do dano moral: Inclusão indevida do nome em SPC SERASA Cartório de Protestos até 20 salários mínimos. 56 RDC Nº 10 MarAbr/2001 DOUTRINA Pedido de dano por morte de esposo, esposa, filhos 100 salários mínimos. Outras bases de pedidos até 90 salários mínimos. 4. Critérios a observar no arbitramento Por enquanto, o valor a ser apurado está condicionado ao arbítrio dos juízes e à força criativa da doutrina e jurisprudência para formação de critérios e parâmetros acerca das indenizações por dano moral. Conforme já verificamos, não há possibilidade de medir através do dinheiro um sofrimento moral. Por isso, recomendase a observação minuciosa de duas situações: a punição do infrator como meio de coibilo a não mais praticar aquele ato, e uma compensação satisfatória ao ofendido, pelo dano por ele suportado. Para tanto, fazse necessário considerar as condições econômicas e sociais das partes, bem como a gravidade da lesão ocasionada, utilizando de um critério subjetivo. Isto para que se possa aproximar do justo, como meio de punição e também compensação. Nesse sentido alguns elementos devem ser levados em conta na fixação do reparo, ou seja, a gravidade objetiva do dano, a personalidade da vítima (situação familiar e social, reputação), a gravidade da falta, a personalidade do autor do ilícito. O valor da indenização deve ser expressivo. Não pode ser simbólico, mas deve "pegar no bolso" do ofensor como um fator de desestímulo a fim de que não reincida na ofensa. Mas deve, igualmente, haver bom senso, a fim de que o instituto não seja desvirtuado de seus reais objetivos, nem transformado em fonte de enriquecimento ilícito. Na fixação do valor, o julgador normalmente subordinase a alguns parâmetros procedimentais, considerando a extensão espiritual do dano, a imagem do lesado e a do que lesou, a intenção do autor do dano, como meio de ponderar, o mais objetivamente possível, direitos ligados à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas. A situação patrimonial de quem vai pagar a indenização também costuma ser levada em conta e é muito importante na hipótese em que o acionante é o empregador e o acionado é o empregado. Segundo HUMBERTO THEODORO JÚNIOR, "Impõese rigorosa observância dos padrões adotados pela doutrina e jurisprudência, inclusive dentro da experiência registrada no direito comparado para evitarse que as ações de reparação de dano moral se transformem em expedientes de extorsão ou de espertezas maliciosas e injustificáveis". 9 JOSÉ RAFFAELLI SANTINI, ensina que "o critério de fixação do dano moral não se faz mediante um simples cálculo aritmético. O parecer a que se referem é que sustenta a referida tese. Na verdade, inexistindo critérios previstos por lei a indenização deve ser entregueao livre arbítrio do julgador que, evidentemente, ao apreciar o caso concreto submetido a exame fará a entrega da prestação jurisdicional de forma livre e consciente, à luz das provas que forem produzidas. Verificará as condições das partes, o nível social, o grau de escolaridade, o prejuízo sofrido pela vítima, a intensidade da culpa e os demais fatores concorrentes para a fixação do dano, haja vista que costumeiramente a regra do direito pode se revestir de flexibilidade para dar a cada um o que é seu". 10 RDC Nº 10 MarAbr/2001 DOUTRINA 57 Da mesma forma, esclarece S. J. DE ASSIS NETO: "Em outras palavras, para se saber se concorre ao sujeito o direito à indenização por dano moral, há que se analisar o caso com a delicadeza que a situação exige, principalmente em juízo, para que não se profiram disparates no mundo jurídico". 11 A respeito, em acórdão recente decidiu o STJ: "Dano moral. Indenização. Arbitramento. Possível em tese, rever o valor da indenização em recurso especial. Assim, quando se mostra evidentemente exagerada, distanciandose das finalidades da lei que não deseja o enriquecimento de quem sofreu a ofensa. Possibilidade, ainda, de conhecimento pelo dissídio, cotejandose o valor com o estabelecido para outras hipóteses. Hipótese em que se impunha a redução do valor fixado, tendo em vista que o constrangimento sofrido pelo autor não foi muito significativo". 12 O STF em advertência, também decidiu que: "é de repudiarse a pretensão dos que postulam exorbitâncias inadmissíveis com arrimo no dano moral, que não tem por escopo favorecer o enriquecimento indevido". 13 Não podemos deixar de mencionar a lição ministrada pelo TJPR: "Ao magistrado compete estimar o valor da reparação de ordem moral, adotando os critérios da prudência e do bom senso e levando em estima que o quantum arbitrado representa um valor simbólico que tem por escopo não o pagamento do ultraje a honra não tem preço mas a compensação moral, a reparação satisfativa devida pelo ofensor ao ofendido". 14 Por outro lado, HUMBERTO THEODORO JÚNIOR adverte: "...não se deve impor uma indenização que ultrapasse, evidentemente, a capacidade econômica do agente, levandoo à ruína. Se a função da reparação do dano moral é o restabelecimento do 'equilíbrio nas relações privadas', a meta não seria alcançada, quando a reparação desse consolo espiritual à vítima fosse à custa da desgraça imposta ao agente. Não se pode, como preconiza a sabedoria popular, 'vestir um santo desvestindo outro'". 15 As aberrações recentes, envolvendo o Banco do Brasil e outros bancos no Estado do Maranhão, embora constituam situações atípicas, servem de alerta para que se busquem parâmetros eqüitativos, sob pena de depreciar a finalidade da lei. 58 RDC Nº 10 MarAbr/2001 DOUTRINA 5. Conclusão A lei não traça, expressamente, diretrizes exatas para a fixação do valor da indenização a título de dano moral. Não existem normas legais para esse arbitramento, e, assim, caberá ao judiciário, atentandose à dupla finalidade: compensar a vítima, ou o lesado, e punir o ofensor. Como podemos observar, com relação à questão da fixação do valor na reparação civil por danos morais, há princípios legais, decisões jurisprudências e soluções doutrinárias a serem consideradas, mas deverá atentar o julgador, no caso concreto, para as condições das partes, a gravidade da lesão, sua repercussão e as circunstâncias fáticas. Nesse arbitramento, imposto por determinação legal, deverá o órgão judiciário mostrar prudência e severidade, levandose em conta os recursos do ofensor e a situação econômicosocial do ofendido, de modo a não minimizar a sanção a tal ponto que nada represente para o agente, e não exagerála, para que não se transforme em especulação e enriquecimento da vítima. O bom senso é a regra máxima a ser observada pelos magistrados. Importante ressaltar, por oportuno, que o arbítrio do juiz não é ilimitado. Tem que ser razoável, e deve ser demonstrado indicando as circunstâncias de cada caso. Assim, destacamos um caso abusivo e escandaloso, que foi o do Banco do Brasil perante a Justiça do Maranhão, em que a indenização por um protesto indevido de título de valor pequeno, chegou à condenação do Banco a pagar duzentos e cinqüenta milhões de reais ao ofendido. Concluímos que a fixação do dano moral é complexa, e difícil a aplicação ideal para cada caso, e por essa razão, no que concerne aos critérios para fixar o valor da indenização, não podemos dar respostas precisas e inabaláveis, mas podemos afirmar que os critérios que estão sendo consagrados pela doutrina e jurisprudência tendem a serem seguidos. O importante é que se observe o procedimento moral, valendose de experiência, bom senso, cuidado, zelo e apreciação minuciosa dos fatos, para que se estabeleça a tão esperada justiça e eqüidade. Referências bibliográficas AMARANTE, Aparecida I. Responsabilidade civil por dano à honra. 3. ed., Belo Horizonte: Del Rey, 1996, p. 360. AMENDOLA, Leslie. Dano moral e direito do consumidor no âmbito bancário. Rio de Janeiro, nº 253, nov./1998, p. 149. ASSIS, Araken de. Indenização do dano moral. Rio de Janeiro, nº 236, jun./1997, p. 5. ASSIS Neto, S. J. de. Dano moral e aspectos jurídicos: doutrina, legislação, jurisprudência e prática. Araras: Bestbook, 1998, p. 563. CAHALI, Yussef Said. Dano e indenização. São Paulo: RT, 1980, p. 166. __________________. Dano moral. 2. ed., São Paulo: RT, 1998, p. 720. RDC Nº 10 MarAbr/2001 DOUTRINA 59 DAVID, Fernando Lopes. O dano moral na jurisprudência. São Paulo: Iglu, 1998, p. 551. GARCEZ Neto, Martinho. Prática da responsabilidade civil. 4. ed., São Paulo: Saraiva, 1989, p. 386. MARMITT, Arnaldo. Perdas e danos. Rio de Janeiro: Aide, 1987, p. 400. NUNES, Luiz Antônio Rizzatto; CALDEIRA, Mirella D'Angelo. O dano moral e sua interpretação jurisprudencial. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 1095. OLIVEIRA, Marcius Geraldo Porto de. Dano moral: proteção jurídica da consciência. Leme: Led, 1999, p. 254. PENNA, João Bosco. Dano pessoal e sua indenização: deformidade permanente, avaliação penal e cível. Leme: Led, 1998, p. 541. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. 8. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 350. REIS, Clayton. Avaliação do dano moral. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 222. ____________. Dano moral. 4. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 145. SANTINI, José Raffaelli. Dano moral: doutrina, jurisprudência e prática. São Paulo: Editora de Direito, 1996, p. 638. SANTOS, Antônio Jeová. Dano moral indenizável. 2. ed., São Paulo: Lejus, 1999, p. 551. SANTOS, Ozéias de Jesus dos. Reparação do dano moral: doutrina, jurisprudência, legislação e prática. 2. ed., Campinas: Julex, 1998, p. 542. SILVA, Américo Luís Martins da. O dano moral e a sua reparação civil. São Paulo: RT, 1999, p. 372. STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial: doutrina e jurisprudência. 4. ed., São Paulo: RT, 1999, p. 1348. THEODORO Júnior, Humberto. Dano moral. 2. ed., São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999, p. 222. VARGAS, Glaci de Oliveira Pinto. Reparação do dano moral: controvérsias e perspectivas. 2. ed., Porto Alegre: Síntese, 1997, p. 105. ZENUN, Augusto. Dano moral e sua reparação. 3. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 137.
Compartilhar